Projeto 50 anos do SENAC de São Paulo
Depoimento de João Carlos Gonçalves
Entrevistado por Márcia Ruiz e Carmen Natale
No Estúdio Videosom, Rua Cândido Espinheira, 623
São Paulo, 11 de julho de 1995
Realização: Museu da Pessoa
SENAC_HV007_Edson Valente
Transcrito por Maria Aparecida Lima ...Continuar leitura
Projeto 50 anos do SENAC de São Paulo
Depoimento de João Carlos Gonçalves
Entrevistado por Márcia Ruiz e Carmen Natale
No Estúdio Videosom, Rua Cândido Espinheira, 623
São Paulo, 11 de julho de 1995
Realização: Museu da Pessoa
SENAC_HV007_Edson Valente
Transcrito por Maria Aparecida Lima Abarno
Revisado por Erick Vinicius de Araujo Borges
P/1 - Boa tarde, eu queria que você me falasse primeiramente o seu nome, o local e a data de seu nascimento.
R - Edson Valente, São Paulo, nasci dia 6 de Julho de 1949.
P/1 - Nome dos seus pais e local de nascimento e atividade deles?
R - Meu pai chama-se Luiz Valente, nasceu em São Paulo. Minha mãe Amélia Sica Valente, também nascida em São Paulo é prendas domésticas, nunca trabalhou fora. Meu pai foi gerente da parte mecânica da antiga Duchen que era uma indústria alimentícia.
P/1 - E você nasceu em que bairro aqui em São Paulo?
R - No Sumaré.
P/1 - Você morou sempre no Sumaré ou você mudou de bairro?
R - Não, eu morei até os 20... Acho que 26, 27 anos no Sumaré, na mesma casa onde eu nasci. Aí depois mudei pra Água Branca, morei alguns anos lá, depois fui para as Perdizes, depois Vila Madalena, ou seja, sempre em torno.
P/1 - Você lembra bem dessa casa onde você nasceu? Da rua onde você morava?
R - Lembro, que a casa é a mesma até hoje. Ela sofreu poucas modificações. A rua não, o bairro mudou totalmente. Lembro que ainda a rua era de terra, nós tínhamos liberdade de ficar na rua o tempo todo, não tinha trânsito, brincava, a rua era seu local de diversão.
P/1 - Você tem quantos irmãos?
R - Eu tenho mais quatro.
P/1 - Qual era a brincadeira que vocês faziam? Você me disse que a rua era local de diversão, qual era a brincadeira que vocês tinham?
R - É, lembro que são as brincadeiras características da época. Jogo de taco na rua, nós jogávamos queimada, colocávamos rede de corda, que não era rede para jogar vôlei e brincávamos de guerra, carrinho de rolimã.
P/1 - Me diz uma coisa, como era o cotidiano da sua família? Você lembra do dia-a-dia, como era o dia-a-dia da sua família?
R - Lembro. Bom, de manhã todo mundo para escola. Minha mãe nos acordava, já com o café da manhã pronto. A gente tomava banho, nos arrumávamos e tomávamos um café muito rápido e íamos para a escola. Nós estudávamos a duas quadras de onde morávamos, onde meus pais moram até hoje. Bom, depois voltávamos para almoçar e lembro que a gente sabia que isso era uma coisa que ia acontecer todo dia, mas a gente nunca se precavia contra, quando a gente estava almoçando, a gente via a minha mãe fechar as portas da casa e a minha casa tem grades na janela. Que a minha mãe tinha uma mania que a gente depois do almoço tinha que dormir até as três horas da tarde. Então, quer dizer, ela não nos obrigava a dormir, mas ela nos trancava dentro do quarto. Então, quer dizer, a gente fazia a maior bagunça, mas o cansaço vencia e a gente percebia que três horas ela vinha acordar a gente. Aí nós tínhamos que fazer lição, depois podíamos sair e voltávamos só para janta, em torno de oito horas da noite. Porque uma coisa que meu pai faz questão, até hoje quando estamos lá, é jantar todo mundo no mesmo horário, todo mundo junto.
P/1 - Eu queria que você... Você recordou um pouco da questão da escola, você entrou em que escola? Você falou que era próximo, como era o nome dessa escola?
R - Era Grupo Escolar Portugal. Era uma escola estadual, aonde só tinha na época o primário. Lembro que alternaram o primário e a gente não queria sair de lá, nós não queríamos nos separar daquela escola, nós não queríamos sair de lá. Porque todo mundo em torno, todos os vizinhos, amigos que a gente cresceu juntos, estudavam na mesma escola. E não tinha ginásio lá. Então, de tanto nós pressionarmos a diretoria da própria escola, então eles instituíram o curso de admissão. Aí nós fazíamos à noite a admissão. Só que nós não conseguimos que fizesse o ginásio naquele prédio, porque o prédio era muito precário, ele era muito tomado durante o dia para o primário. Então nós conseguimos junto a Secretaria de Educação, nós fizemos um movimento, foi engraçado que foi um movimento que partiu dos alunos, junto com os pais, porque o governo estava construindo próximo uma escola muito grande, que ficava a algumas quadras. Então de tanto pressionar, lembro que na época o secretário de educação era um padre, a gente aproveitou que tinha uma deputada, acho que Maria da Conceição Tavares, não lembro exatamente, mas acho que deve ser isso, ela estava brigando com o secretário de educação, que era esse padre, acho que padre Godinho, também não tenho certeza, e nós entramos na dela. Entramos em contato com ela e começamos a pressioná-lo junto com ela. Ela por outras questões e nós porque queríamos o prédio. Aí a gente conseguiu, então foi uma coisa legal, porque quando ele nos entregou o prédio, nós fomos junto com os professores arrumar o prédio. Quando as carteiras, todo o mobiliário chegou, nós fomos montar as salas, então a gente se sentia muito dono daquela escola, era uma coisa muito... Porque agora lembrando é um negócio muito legal, porque continua a mesma comunidade, porque foi todo mundo para mesma escola. Ele chama, acho que chama até hoje Escola de Primeiro e Segundo Grau José Cândido de Souza.
P/1 - Você fez, então, na época o ginásio e depois o colégio, seria isso?
R - Não, aí o colégio... Nós... Lá não tinha, só tinha o ginásio. O colégio fui fazer no Rio Branco, Colégio Rio Banco.
P/1 - Me diz uma coisa, depois que você fez o colégio, você fez faculdade e qual foi a opção que você fez e por que você acabou escolhendo, para onde você direcionou a sua área profissional?
R - Bom em casa sempre foi uma coisa muito tranquila quanto ao estudo, porque, gozado, meus pais nunca pressionou nenhum de nós para que realmente estudasse, até para terminar o primeiro grau e ginásio sim, mas a partir daí foi uma coisa muito livre de escolha realmente pessoal. Tanto que meus irmãos todos pararam por aí mesmo, todos eles foram seguir carreiras, trabalhar com meu pai, na parte mecânica, é o que eles entendem muito e o que eles gostam muito. Agora, eu não, nunca fui muito dado pra essa parte de mecânica, tal, aí eu... Estudando no Colégio Rio Branco e eu comecei a ver os trabalhos que se fazia lá dentro, lá tinha muito teste vocacional, tinham grupos de psicólogos, um colégio que na época já era muito conceituado. Então achei que deveria partir para áreas mais criativas, tal. Fui fazer publicidade, que era uma coisa que também gostava, mas foi muito de impulso mesmo, não foi com muito referencial, não.
P/1 - Você fez publicidade aonde?
R - Na Escola Superior de Propaganda, que na época era na 7 de Abril.
P/1 - E qual foi seu primeiro emprego? Nessa época você já trabalhava ou você começou a trabalhar depois disso?
R - Trabalhava. Porque comecei a trabalhar eu acho que tinha uns 18 anos. Fui trabalhar também por escolha pessoal, porque ninguém pensou em casa para que eu fosse trabalhar não. Ainda mais que era o único da minha casa que estudava, meu pai achava que tudo bem, que podia ficar na mesada. Mas queria mais do que ele podia me dar, então também comecei a procurar emprego e achei. Na mesma rua que morava instalou-se uma indústria de galvanização, uma coisa assim, beneficiamento de alumínio, aí fui trabalhar na parte de escritório. Eu trabalhei um ano lá.
P/1 - E depois que você fez a Escola Superior de Propaganda e Marketing, você fez algum outro curso, algum curso de especialização?
R - Não, aí entrei na Faculdade de Turismo, que foi assim, em termos de faculdade, foi para curtir, foi a que mais gostei. Mas não terminei, fui até o terceiro ano.
P/1 - Você foi fazer o curso de turismo por quê? Você já tinha uma especialidade, tinha uma formação e foi para área de turismo por que você estava trabalhando na área ou por algum outro motivo?
R - Não, em nenhum momento eu trabalhei na área de publicidade. Nessa época eu estava trabalhando sempre na área administrativa, na parte ligada a contabilidade, em algumas empresas, mas não gostava de ficar sem estudar à noite. Eu achava legal, tinha amigos também que prestaram vestibular, entraram e aí resolvi fazer também. Mas não tinha muito referencial também do que seria esse curso de turismo.
P/1 - E, me diz uma coisa, você começou a trabalhar quando no SENAC?
R - Em 15 de junho de 1976.
P/1 - E você já tinha ouvido falar a respeito do SENAC?
R - Não. Inclusive o SENAC, isso acontece até hoje, na maioria das vezes, eles fazem anúncio fechado. Eu tinha morado um ano antes em Salvador e achei que lá era um lugar que iria ficar o resto da minha vida. Mas quem conhece uma cidade turística no período de alta estação tem um referencial, quando você continua nessa cidade depois que passa a alta estação é que você realmente vai ver qual é o dia-a-dia da cidade; nem sempre é aquilo que você queria. Aí fiquei um tempo e voltei para São Paulo. Só que aí estava precisando trabalhar de novo, porque já não estava mais querendo morar com meus pais, estava querendo morar sozinho. Estávamos um domingo, aqueles famosos domingos de desempregados que junta o grupo, porque sempre tive uma turma, tenho até hoje muitos amigos e estava lá vendo o Estadão. Vi um anúncio que me parecia interessante, mas não sabia quem é que estava recrutando, de que empresa que era por ser um anúncio fechado. Era exatamente em frente a esse apartamento que estava de um amigo meu. Então naquele dia dormi lá mesmo, quer dizer, fui até em casa, avisei meu pai que ia dormir lá, me arrumei e tal, cedinho fui, atravessei a rua e fui nesse endereço. Não era nada a ver com SENAC, não tinha placa e na época não era muito ligado, não sabia muito o que era SENAC. Fui fazer os testes, as primeiras entrevistas, também não falaram de que empresa era. Só quando percebi que fui aprovado na primeira fase, que seria essa primeira entrevista, foi até uma entrevista bastante elaborada, demorada, é que para sequência da seleção eles falaram que era o SENAC.
P/1 - Eles estavam recrutando pra que área?
R - Eles estavam recrutando pessoas com experiência em diversas áreas, no meu caso na área administrativa, que conhecesse contabilidade, conhecesse arquivo, ou seja, conhecesse as rotinas administrativas de um escritório, para ser Docente. Que na época não era assim que se chamava, era orientador, entendeu? Achei que era pra ministrar cursos e que o treinamento pedagógico, isso eles nos dariam, não era pré-requisito que você já tivesse dado aula, porque nós passaríamos por um treinamento, que realmente aconteceu, de um mês, só discutindo questões pedagógicas mesmo, planos de ensino, planos de aula, formatação de programa, de cursos e que iria ser no Interior, para dar aula no Interior.
P/1 - Quando você foi aprovado por essa seleção você foi trabalhar, dentro do SENAC, numa área específica. Que área foi essa, Edson?
R - Na área de Escritório e foi assim, quando nós fomos admitidos, fomos conhecer as instalações do SENAC, fomos apresentados a toda a hierarquia dentro do SENAC, do Diretor Regional até a sua chefia mais imediata. Foi quando nós fomos conhecer o regulamento do SENAC, quais os direitos, os benefícios também por conta de estarmos entrando na entidade teriam esse direito. Passamos por um treinamento de um mês. Quando terminou esse treinamento de um mês, nós já estávamos muito amigos, esse grupo tinha se tornado muito amigo, nós almoçávamos juntos, todo dia, quer dizer, sabe quando você se acostuma com aquele grupo, de repente: "Bom, hoje é o último dia, amanhã a partir de tal hora vocês...", eles deram a escala, que equipe nós iríamos, em que regiões. Aí é que deu um frio na barriga. Até então... Desagregava tudo de novo.
P/1 - E na verdade então você estaria, você estava entrando para, vamos dizer assim, para o que seria o UNIFORT. Seria isso?
R - Isso. É UNIFORT que seria Unidade de Formação e Treinamento, era o nome dessa unidade na época.
P/1 - Qual era o objetivo dessa unidade, quais eram assim os objetivos do SENAC com essa unidade?
R - Olha, essa unidade foi instituída e estruturada dentro do SENAC para cobrir áreas de atuação que as unidades fixas não estavam dando conta. Então, por exemplo, você tinha uma unidade do interior que é uma cidade sede, que a gente chamava, tipo Ribeirão Preto, e você tinha as cidades em torno: Sertãozinho, São Joaquim da Barra, Orlândia e que eles não conseguiam atender. Então, uma equipe da UNIFORT era solicitada para que fossem cobrir algumas regiões que eram de bastante interesse da direção da unidade sede, no caso, continuando com o exemplo Ribeirão Preto, porque o Gerente ou o Diretor na época, ele era muito pressionado por lideranças dessas comunidades em torno, para que fossem desenvolver programas do SENAC lá. Então uma forma de cobrir isso era ter a UNIFORT, que eram equipes móveis.
P/1 - Vocês desenvolviam cursos, então? Esses cursos, eles eram solicitados para cidade, era uma necessidade, vamos dizer assim, de mercado, da cidade? E eram cursos cobrados pela comunidade ou por empresas ligadas a área do comércio?
R - Não, normalmente eram por lideranças. Quem tinha força política de levar uma equipe da UNIFORT, de pressionar, eram as lideranças, porque essas lideranças pressionavam, como eu disse, o Diretor da unidade sede. Aí nós íamos pra lá fazer reuniões com eles. Então ia sempre o representante da unidade sede, mais a equipe da UNIFORT, íamos pra essas cidades, fazíamos reuniões com essas lideranças até para poder saber questões como instalações físicas, quem iria nos hospedar, no sentido de hospedar para desenvolver o trabalho, o tipo de apoio que nós teríamos na divulgação, como seria a formatação dessa divulgação, quais os instrumentos que a gente iria utilizar e a programação mesmo.
P/1 - Eu queria que você falasse um pouco, Edson, por exemplo, como é que era esse dia-a-dia dentro dessas cidades. Quando vocês chegavam na cidade, desde a fase inicial, quando, por exemplo, o coordenador técnico, ele ia e conversava com essas lideranças, quem eram essas lideranças, onde vocês ficavam alocados para dar esses cursos? Eu queria que você falasse um pouquinho a respeito disso.
R - A rotina normalmente era assim: nós chegávamos na cidade, antes de nos apresentarmos ou procurarmos qualquer pessoa, nós tínhamos um veículo, cada equipe tinha um veículo, nós dávamos um passeio pela cidade toda. O que normalmente era num curto espaço de tempo, você conhecia a cidade toda. Então nós dávamos um passeio para tentar ver como é que era essa cidade geograficamente, o que ela tinha de recursos, como é que era a sua rede hoteleira, tal. Já escolhíamos o hotel que a gente ia ficar. Então nós íamos saber preço do hotel, como é que conhecia as instalações, porque normalmente a gente ficaria no mínimo três meses lá. Bom, quando nós já estávamos instalados, nós normalmente íamos pra Associação Comercial. Invariavelmente era outra entidade que sempre estava ligada com o SENAC e que normalmente nos sediava administrativamente. Então nós procurávamos contatar quem era o gerente da Associação Comercial local e ele junto nos dizia quais eram as outras lideranças que nós deveríamos contatar pra começar a fazer as reuniões. Nessa época nós trabalhávamos de manhã, de tarde e de noite, porque, como nós estávamos na cidade nós estávamos à disposição dessa liderança. E normalmente a reunião maior mesmo, a reunião principal, ela acontecia à noite. E nessa reunião ficava decidido os tipos de apoio. Então alguém representante da delegacia de ensino ou de uma determinada escola falava das salas ociosas que eles teriam e quais os horários que essas salas estariam ociosas. Nós definíamos que os cursos iam acontecer lá. A Associação Comercial chamava alguns lojistas de maior expressão para patrocinar os folhetos, as faixas, os cartazes. O padre vinha para nos auxiliar na divulgação na missa, também para ceder o salão paroquial, caso houvesse, e era um apoio na divulgação da gente, para o nosso trabalho. E aí começávamos a fazer a divulgação, normalmente a equipe era quem coordenava essa divulgação. Porque normalmente, das equipes que participei, das poucas vezes que a gente deixou a divulgação nas mãos de outras pessoas, nós não tivemos um retorno tão satisfatório, então nós preferíamos nós mesmos fazermos essa divulgação.
P/1 - E, me diz uma coisa. Eu queria que você me colocasse, falasse um pouquinho assim sobre esses cursos. Eles eram elaborados, que cursos vocês realmente faziam na UNIFORT? Eram da área de Saúde, área de Escritório, que tipo de curso vocês davam mais?
R - As equipes eram formadas de o que nós chamávamos de equipes multiprofissionais. Então nós tínhamos a área de Escritório, área de Beleza, área de Hotelaria. Nós tínhamos área de Saúde ou Propaganda normalmente, o completo seriam essas cinco áreas. Bom, então cada profissional que compunha equipe em determinada área, ele tinha um leque de programas, um leque de cursos bastante grande. Então, quer dizer, quando nós íamos para as comunidades, a gente oferecia e discutia junto com a liderança dentro do leque que a gente poderia desenvolver, de conhecimento daquela equipe. Raramente acontecia de ter uma área que compunha, alguém de uma determinada área que compunha equipe e que ali não tinha oferta. Não dava para desenvolver programa, não dava para desenvolver algum curso, pelo menos uma etapa dava.
P/1 E, pelo que você nos falou, parece que eram várias equipes, e quando você tinha alguém, por exemplo, que poderia estar administrando algum trabalho numa determinada área e não se encontrava na sua equipe, ela tinha a possibilidade de mudar de equipe? Se deslocar de uma localidade pra outra. Isso era possível?
R - Era, porque nós normalmente dividíamos o nosso trabalho em duas etapas. Quando nós percebíamos que uma determinada área, numa etapa só ela já cumpria, ela já atendia a todos os interessados e que numa segunda etapa nós íamos ter programas com muito pouca frequência ou às vezes até quase ninguém inscrito, então nós, no desenvolvimento da primeira etapa, nós já nos articulávamos com outra equipe, que estava acontecendo o mesmo problema com outra área e fazíamos a troca. Então era possível.
P/1 - E, Edson, com relação aos alunos. Como é que eles eram selecionados, vamos dizer assim, as pessoas que estavam interessadas em fazer esses cursos que vocês estavam oferecendo na comunidade. Eles eram selecionados como, e como se inscreviam nesses cursos?
R - É, uma das preocupações que nós tínhamos e que nós nos reuníamos muito e as nossas reuniões eram bastante informais, por conta de ficarmos o dia inteiro juntos, então era de que a gente, como um dos critérios seria por projeto de vida da pessoa, aquelas pessoas que iriam fazer aqueles programas para realmente querer trabalhar e não apenas por diletantismo. Porque quando nós chegávamos numa cidade do Interior, nós virávamos notícia, nós éramos constantemente entrevistados, nós éramos uma coisa nova na cidade e que vinha de São Paulo. Então a gente virava meio autoridade e também circulávamos pela cidade, durante o período de divulgação, com as lideranças da cidade. Então neguinho olhava para gente e falava: "Ih, é importante", aí todo mundo queria vir fazer. Então nós tínhamos que ter essa preocupação de tentar, através de uma entrevista, nós usávamos dois instrumentos, o primeiro instrumento que ele preenchesse o porquê que estava querendo fazer aquele programa, com todos os seus dados, e depois uma entrevista, para tentar ver se não era só diletantismo.
P/1 - Existia uma preocupação do SENAC na formação dessas pessoas em colocá-las no mercado de trabalho, apesar de serem cursos extremamente rápidos que vocês estariam três meses lá, mais ou menos, então eram cursos muito rápidos. Ele tinha uma preocupação de: informação e formação, indo um pouquinho mais além, tinha uma preocupação de colocá-lo no mercado de trabalho, por exemplo, da cidade?
R - Olha, era muito complicado você tentar colocar no mercado de trabalho todas as pessoas que você formava. Agora tinha alguns programas, que a gente fazia contato prévio, até por conta daquela primeira reunião, de repente o gerente ou o dono de determinada empresa era parceiro naquele trabalho e abria campo de estágio. Nós tínhamos um período que nós levávamos nossos alunos para lá, para que eles fizessem a parte prática numa vivência real de trabalho e não só simulada. Agora, tinham muitas pessoas que já estavam empregadas e vinham no sentido de tentar melhorar, se aperfeiçoar. Tinham pessoas também que eram um número até expressivo, estavam numa fase de segundo grau, bom. na época não era segundo grau, fazendo algum curso técnico, ou clássico, ou o científico, e que sabia que a partir daí ele ia ter que trabalhar. Então ele já estava começando a tentar se instrumentalizar, até porque não tinha experiência nenhuma.
P/1 - Me diz uma coisa, Edson, nessa fase que vocês... logo depois você assumiu a coordenação pelo que você nos falou. Você trabalha como organizador dessas...
R - Orientador de unidade móvel.
P/1 - Aí depois você passou para o cargo de coordenador dessas equipes.
R - É, porque as equipes, elas sempre tinham um coordenador que na realidade ele era a ponte direta de ligação entre o trabalho de campo, a equipe e a gerência, através dos supervisores da sede. Aí passei para coordenador. Quando passei para coordenador de equipe eu já vim para São Paulo, então eu não coordenei nenhuma equipe no Interior, mas sim só em São Paulo.
P/1 - E existia alguma diferença de trabalho dessas equipes que atuavam no Interior com essas equipes que atuavam aqui em São Paulo?
R - Olha, não muito. A não ser que no Interior era muito mais fácil de trabalhar, no Interior você tinha os espaços mais rápidos, os apoios eram mais fortes e mais frequentes, o acompanhamento era muito de perto. Porque em São Paulo a característica já era totalmente outra. Você não consegue ir num determinado bairro, reunir todas as principais lideranças daquele bairro numa mesa. Você às vezes tem que fazer reuniões individualizadas e ficar juntando o que eles falam, os apoios por conta dos compromissos, o ritmo de vida totalmente outro. Então aqui era mais difícil você instalar um trabalho. Em São Paulo era mais difícil também você conseguir os apoios, os patrocínios, não era uma coisa tão rápida, tão simples, que se decidia numa única reunião, você tinha que batalhar mais. Era metodologia da UNIFORT que todos os espaços físicos e todo o material de divulgação fossem bancados pela comunidade que nos chamou. Não era uma questão do SENAC não ter dinheiro para isso, mas era parte da metodologia, para termos como parceiros e para que soubessem que eram nossos parceiros naquele trabalho.
P/1 - E, me diz uma coisa, me parece que a UNIFORT, por uma questão interna do próprio SENAC, por uma mudança interna do SENAC, ela passou a ter o papel que ela tinha e passou a ter outro papel, que hoje ela tem muito mais uma ação comunitária. Eu queria que você explicasse, que você falasse um pouquinho disso, dessa transformação, por que dessa transformação e qual é o papel hoje da ação comunitária?
R - Bom, aí já é parte de uma reestruturação global do SENAC. O SENAC é uma entidade hoje que tem uma visão muito mais empresarial do seu trabalho, que tenta e está tentando e conseguindo apagar aquela imagem de que no SENAC é apenas para quem não conseguiu uma formação via educação formal e que precisa ter cursinhos. No SENAC não tem mais cursinhos, a não ser programas de curta duração em termos de carga horária, mas esse cursinho também era pejorativo em termos de qualidade. Ele tinha uma conotação de baixa qualidade. Então, quer dizer, em busca de mudar toda essa imagem o SENAC se reestruturou em ter unidades especializadas, que tem como missão fazer uma prospecção de mercado, ver além do hoje no mercado e sim o que ele vai precisar naquela área determinada pelo menos uma década na frente. Ter espaço para testar novos produtos ou novos cursos, testar novas tecnologias, novas metodologias, para depois poder jogar na rede. O que é a rede? São as unidades polivalentes. Então nós temos as unidades especializadas, que cada área tem a sua unidade especializada, e temos unidades polivalentes que são as unidades que atuam com todas as áreas em que o SENAC se dispõe a desenvolver os seus produtos, os seus serviços. E a UNIFORT achou-se por bem dela se transformar numa unidade especializada. Então o primeiro passo foi mudar de nome, por conta de que todas as unidades especializadas do SENAC os nomes começam com "Centro" de alguma coisa. Então nós passamos a nos chamar Centro de Educação e Ação Comunitária para o Trabalho. E aí qual seria a nossa especialização? Porque nós tínhamos uma característica bastante diferente das especializadas, porque nós não poderíamos nos especializar numa área afim que o SENAC desenvolvia. Então nós nos especializamos na metodologia e nós tínhamos, por conta do trabalho da UNIFORT, desde a inauguração em 73, uma experiência acumulada muito grande em ação comunitária, porque nós sempre desenvolvemos nosso trabalho nos espaços dos outros e sempre em busca de parceiro. Então nós nos especializamos nessa metodologia que é educação comunitária e da ação comunitária. Então hoje nós desenvolvemos uma educação, uma ação profissionalizante, mas muito ligada à ação comunitária.
P/1 - Eu queria que você falasse um pouquinho desses cursos que vocês estão desenvolvendo hoje na ação comunitária. Como é que ele é feito, como é o dia-a-dia dele, qual o material que vocês dão, quais os subsídios que vocês dão? E como são selecionadas hoje as pessoas? Eu queria que você falasse um pouquinho mais a respeito disso, do dia-a- dia mesmo.
R - Aí, bom, existe um problema. Eu hoje não estou mais no Centro de Educação e Ação Comunitária para o Trabalho e esse Centro hoje tem uma nova proposta da qual eu não participei, tá? Posso contar da última que estava participando. Então, o Centro de Educação, tem como proposta trabalhar com populações de baixo poder aquisitivo. Então, agora sim, o SENAC assumiu que ele seria um trabalho totalmente gratuito para esta população, um trabalho que visaria a profissionalização dele, mas visando o seu ingresso no mercado, seja no mercado formal de trabalho ou mesmo que fosse no mercado informal. Instrumentalizar a pessoa para que ela possa ganhar dinheiro. Então hoje, quer dizer, hoje não, mas até essa penúltima proposta do Centro de Educação era no sentido de você profissionalizar a pessoa. Você desenvolve o programa, acompanha ela no curso, seu desenvolvimento e também na montagem do seu pequeno negócio. Se ele por acaso decidia que estava fazendo esse programa conosco para poder montar, trabalhar por conta própria, então nós dávamos a assessoria, nós dávamos o acompanhamento ao espaço, conhecer o espaço físico, o acompanhamento na instalação desse espaço físico, então a assessoria era completa. Tínhamos um plantão de assessoria todas às segundas-feiras, as pessoas que passaram por programas conosco, que passaram por essa assessoria, poderiam continuar tendo. Porque acontece muito problema. Quando a equipe saía da comunidade, e agora estou falando só de São Paulo, porque aí o Centro de Educação não atuou mais no Interior, só em São Paulo e Grande São Paulo, eles se sentiam meio órfãos, e continuavam muito a procurar o Docente dele, para que questões... Já montou seu pequeno negócio, mas qualquer problema eles voltavam a procurá-lo. E aí nós achamos por bem então montar esse plantão. Então, nessa penúltima proposta o trabalho, a nossa preocupação com o aluno não era só enquanto ele se desenvolvia no curso e o quanto ele se desenvolvia bem, tinha frequência, tinha um bom aproveitamento, mas sim o que ele ia fazer com isso depois. Ele tinha que ter esse projeto, para gente isso tinha que ser muito claro, que ele tivesse esse projeto e fosse a curto prazo. Esse foi o grande diferencial. Então, por conta disso nós remodelamos toda a programação. Todos os nossos programas você tinha uma carga horária X, por exemplo, aonde você desenvolvia as técnicas; depois você passava uma carga horária aonde ele ia aprender a discutir, aprender as questões de administração de um pequeno negócio; depois, num terceiro momento, ele ia aplicar aquilo numa situação, mas ainda fictícia dentro da sua própria sala de aula. Então, por exemplo, na área de Beleza, ele aprendia, ele fazia o curso de Técnicas Básicas de Cabeleireiro, X carga horária; depois ele passava pelas questões administrativas de como ser um administrador de um salão de beleza; depois aquela sala de aula se transformava num salão de beleza, aonde eles teriam que fazer toda a divulgação, ou seja, eles teriam que ter clientes. Então, de que forma seria feita a divulgação, quais os instrumentos que eles iriam utilizar? E nós íamos começar a cobrar. Só que a cobrança seria um valor supersimbólico, só pra ele poder, o mais perto da prática possível, ele aprender, aplicar o que aprendeu nos dois módulos anteriores, tanto a parte técnica, como a parte administrativa. Ele tem que escriturar livro caixa, controlar estoque, fazer compras e administrar, que aquilo virou um salão dele, do grupo. A partir daí, aqueles que iam montar imediatamente seu próprio negócio, nós acompanhávamos. Então, quer dizer, teve esse diferencial, não era mais o curso com uma preocupação só enquanto curso, mas sim com toda essa sequência.
P/1 - Me diz uma coisa, Edson, queria que você me falasse um pouco dessa relação da unidade especializada com a rede. Qual é o elo? Queria que você falasse um pouquinho mais a respeito disso.
R - Bom, com a rede no começo a ligação era muito difícil, porque as unidades polivalentes tinham outros interesses, outras necessidades, elas têm de ir em busca da auto sustentabilidade. Uma aprendizagem com mais autonomia, mas visando financeiramente a sua auto sustentabilidade. E aí é um contraponto, o Centro de Educação e Ação Comunitária para o Trabalho faz um trabalho totalmente gratuito, mas o que nós estávamos pensando em jogar para rede seriam alguns produtos na linha de ação chamada Educação Comunitária e para isso nós fizemos parceria com a USP. Então era assim: nós formatávamos uma série de seminários, que embasassem as pessoas que iriam trabalhar em educação comunitária e estávamos formatando também um curso em nível de pós-graduação, para egresso da área de social da área de sociologia. Então, quem fez? Assistente social, sociologia, para fazer essa especialização, porque iriam trabalhar junto com educação comunitária, iam trabalhar dentro de entidades que tinham como objetivo o atendimento a populações de baixo poder aquisitivo. Então, essa era outra linha de ação que o Centro de Educação estava formatando e era uma pretensão de se jogar pra rede. Então, nós fizemos alguns seminários, com grandes nomes da área, fizemos uma jornada de educação comunitária, que era uma coisa que não tinha acontecido ainda, pelo menos não era do nosso conhecimento, que a ideia era trazer todas as pessoas que atuavam em educação comunitária, diretamente, e as que atuavam indiretamente via... Por meio acadêmico, fazê-los se encontrarem. Então, de manhã eram grandes palestras, falando sobre o cenário mundial de trabalhos em educação comunitária e, à tarde, oficinas onde as pessoas podiam se encontrar e podiam trocar experiências mais diretamente, mais próximas e até ali formatar novas parcerias. Esse era o sentido da jornada, que era uma coisa ampla que pode acontecer e podia acontecer em qualquer cidade que tem esses trabalhos, que teria esse interesse.
P/1 - Você disse que assim a questão com a rede era uma coisa mais complicada. Hoje ela absorveu melhor essa proposta, a coisa está trabalhando de uma forma mais fácil, você acha que a coisa está mais fluída?
R - Hoje eles devem, está se formatando novamente essa proposta. Eu acho que está tentando torná-la mais clara para rede, porque acho que não ficou muito claro isso, nós tivemos algumas unidades do Interior que quiseram trabalhar com o Centro de Educação, fizemos alguns trabalhos até bastante significativos, mas não está muito claro pra rede como um todo. Eu acho que a proposta atual é você trabalhar de uma forma com parcerias mais consequentes. O que eu posso perceber são parcerias de grandes empresas. Por exemplo, você conseguir essas parcerias com grandes empresas, parcerias bastante consequentes a nível internacional, esses organismos que financiam projetos voltados à população de baixa renda, mas uma parceria financeira mesmo, às vezes uma parceria logística ou uma parceria de material e também o apoio e a retaguarda dos meios acadêmicos. Eu acho que o Centro de Educação e Ação Comunitária para o Trabalho está caminhando por aí.
P/1 - Em relação a isso que você colocou, como é que você vê as perspectivas de crescimento e modernização do SENAC hoje para o futuro?
R - Bom, o SENAC hoje é uma entidade extremamente competitiva nas áreas aonde ele atua. Eu acho que esse é um dos grandes caminhos, porque ser administrado empresarialmente, com uma visão empresarial, ir a busca da auto sustentabilidade, eu acho que esse é um caminho que nós não podemos ficar muito dependente da receita compulsória, porque você não tem controle sobre ela, você não tem controle nem sobre o montante, nem sobre o quanto você vai receber. A receita operacional você tem controle diretamente sobre ela, para que ela seja consequente, você tem que ter produtos competitivos no mercado, produtos de ponta. O SENAC tem um nome hoje no Brasil inteiro, um nome forte, um nome bastante conhecido por conta dos seus 50 anos de existência. Hoje já não tem mais aquela imagem de ser, que o SENAC vem pra preencher uma lacuna que o ensino formal não conseguiu desenvolver, e sim cursos de ponta mesmo, cursos com alta tecnologia, com uma metodologia adequada, com instalações físicas adequadas, é muito difícil você ver nesse país alguma, mesmo nas instituições privadas, que se propõem a fazer desenvolvimento, profissionalização, com instalações tão bem definidas, tão bem equipadas como tem o SENAC. Então hoje o SENAC tem esse respeito do público.
P/1 - E você falou dos convênios internacionais, quais são os convênios internacionais que o SENAC hoje mantém?
R - Olha, nós temos os convênios, por exemplo, com a Esmod, mas aí é na área de Moda, então o SENAC está fazendo curso, um curso de terceiro grau, a nível de terceiro grau na área de Moda, então se associou a quem? À escola mais famosa, à escola mais bem conceituada do mundo, que é a Esmod em Paris. Nós temos, isso já vem, é uma experiência já antiga que o SENAC Hotelaria fez com a... Acho que é, Cornell, eu não sei bem o nome, nos Estados Unidos. Então o caminho do SENAC é esse, se ele vai se instituir no sentido de ter programas de terceiro grau, ter parceiros respeitáveis no mundo inteiro.
P/1 - Edson, hoje sua atividade dentro do SENAC qual é?
R - Bom, eu continuo sendo técnico de desenvolvimento profissional, só que hoje eu estou numa unidade polivalente, hoje eu desenvolvo, atuo no SENAC do Tatuapé. E lá estou cuidando dos programas das áreas de Comunicação e Artes, das áreas de Moda e Decoração, das áreas de Administração, Vendas e Informática.
P/1 - E o seu dia-a-dia como é que é? Como é que você faz o seu dia-a-dia dentro dessa unidade?
R - Hoje? Bom, é bastante atribulado. Porque hoje você tem que definir uma programação que o mercado aceite, tem que formatar essa programação, caso você já não tenha da especializada, que, o que está sendo muito legal no SENAC é que essa especializada te dá esse suporte. Você tem que contratar Docentes, você tem que acompanhar a programação, você tem que acompanhar a avaliação dessa programação, tem que ver o superávit desta programação, a taxa de retorno, tem que planejar a sua unidade sempre com uns seis meses à frente. Então quando está planejando alguma coisa, você já está fazendo para seis meses na frente, que é o nosso curto prazo é um dia-a-dia bastante atribulado.
P/1 - E dentro dessa mudança, saindo de uma unidade especializada pra uma unidade polivalente, você acha que, você viu a mudança do perfil, que hoje vocês chamam de cliente, que é o ex-aluno, você percebe uma mudança desse cliente do SENAC?
R - Completamente, porque, por exemplo, no Centro de Educação e Ação Comunitária para o Trabalho a gente estava acostumado com um cliente mais passivo, um cliente mais receptivo no sentido de que tudo que vier é lucro. Na unidade polivalente não, nem na especializada também isso não acontece, você tem um cliente muito exigente, por quê? Você tem um cliente que está pagando por aquele produto e te avalia constantemente. Ele te avalia diariamente, te avalia desde o atendimento como é que foi feito, da limpeza do prédio, do material didático, da instalação física aonde você o colocou, do Docente, dos recursos que vai utilizar, então é uma avaliação constante e você tem que dar satisfações para esse cliente, diariamente.
P/1 - E que tipo de material hoje vocês trabalham? Que suporte você está dando a esse cliente? Hoje o SENAC ele trabalha com alta tecnologia?
R - Bom, por exemplo, a nível metodológico aquilo que o Docente solicitar, e que normalmente são Docentes já cadastrados dentro do SENAC e que já desenvolveram uma série de programas e, 90% das vezes, são indicados pela especializada. Então, por exemplo, nós trabalhamos com retroprojetor, com televisão, com vídeo, com projetor de slides, com telão, quadro magnético, com filmes, com todo o material apostilado, uma apostila que tem que ser bem formatada, bem digitada, entendeu? Quer dizer, nós trabalhamos com os recursos que o mercado exige para que você consiga fazer um curso atualizado.
P/1 - E você enquanto funcionário, vamos dizer assim, fazendo parte dessa entidade, você acabou usufruindo desses cursos que o próprio SENAC desenvolve pra esses clientes? Em algum momento você foi cliente do próprio SENAC?
R - Em muitos momentos. Dentro da própria unidade, em outras unidades, em vários momentos.
P/1 - E isso é uma coisa que é solicitada para entidade junto aos seus funcionários ou é uma coisa que parte muito... É uma escolha pessoal?
R - Existem as duas coisas, né? Existem programas que a entidade lhe dá uma dica ou às vezes até sugere que você o faça. Tem outros que pode ser por escolha pessoal. Agora, é sempre muito bom que na própria unidade do SENAC você faça alguns programas, você participe como cliente, até por questões de você poder avaliar melhor aquele produto. Você estando na sala de aula, no dia-a-dia, você tem uma condição de avaliar melhor, porque você só entrevistando Docente e só acompanhando uma avaliação do aluno e indo de vez em quando acompanhar como é que está o desenvolvimento desse programa, você não tem essa condição. Agora, você participando como aluno você avalia muito bem.
P/1 - Eu queria que você me falasse alguma coisa hoje com relação, o que você faz nas suas horas de lazer?
R - Bom, se essas horas de lazer derem pelo menos três dias consecutivos eu vou pra minha casa de praia.
P/1 - E onde fica essa casa de praia?
R - Em Arraial do Cabo.
P/1 - E o que é que você faz lá?
R - Lá, eu fico de pé no chão, eu subo morro, desço morro, vou a praias desertas, conheço todo mundo, converso com vizinhos, jogo conversa fora, vou para as lanchonetes, para os botecos tomar cerveja, conversar com os pescadores, ou seja, exatamente tudo o que eu não faço aqui.
P/1 - Você tem um dia-a-dia muito atribulado? Como é que é seu dia-a-dia? Você não tem nenhuma atividade de lazer aqui em São Paulo?
R - Olha, atualmente, fim de semana está dando para dormir só. Porque, para você ter uma ideia, por exemplo, no SENAC, sou de uma unidade que tem um movimento muito grande, nós temos uma média de 500, 600 pessoas por dia transitando naquele prédio dentro dos nossos programas. Então, tem dias que chego, começo a trabalhar, olho para fora, eu sei que está de dia, daí quando olho de novo lá para fora já é noite, eu não percebi o dia passar. Eu acho que é assim, é um trabalho que só fica quem gosta. Você tem que gostar porque senão você não acompanha o pique. Você tem que resolver muitas coisas ao mesmo tempo. Fora os incêndios que você tem que apagar porque às vezes não era esperado, por conta de você trabalhar com muitos profissionais externos à unidade, por mais que você tenha conversado com eles, tenha mostrado a filosofia, mas eles... Tem uns que têm um nível de comprometimento muito maior, mas tem outros que não, e que você fica sabendo depois de uma primeira experiência. Aí já é o caso de não renovar esse contrato com esse colaborador externo, mas você tem que estar muito atento, para coisas que vão acontecer e que você de imediato tem que resolver. Porque senão você tem 25, 30 pessoas te cobrando, te esperando lá na sala de aula a sequência daquilo.
P/1 - E você colocou uma coisa que é importante, que eu queria até entender, esse Docente, assim, ele mudou também durante esse tempo que você está dentro do SENAC. Por exemplo, o Docente que acompanhava, tinha dentro da UNIFORT, eram exatamente as pessoas que tinham que ser multidisciplinares e que depois foram para as unidades, das unidades especializadas e das unidades polivalentes, ele tem um perfil muito diferente ou não, esse Docente?
R - Eu acho que da especializada e da polivalente não deve ser muito, não acredito que tenha um perfil muito diferente. Agora do que era a UNIFORT para hoje, aonde estou, é completamente diferente. Primeiro que nós fazíamos um quadro, onde nós compúnhamos um quadro de funcionários do SENAC. Então, a nossa dedicação maior era para o SENAC, em termos profissionais. Hoje não, hoje a parte de Docente nós trabalhamos, quase que, sei lá eu, quase que 70%, 80% com colaboradores externos. Isso tem uma vantagem que é de você estar com pessoas constantemente atualizadas, você busca no mercado as pessoas mais atualizadas, para poderem vir desenvolver programas com você, mas tem uma desvantagem, que muitos não se comprometem, sabe, não tem um nível de comprometimento muito forte, às vezes vem só por conta de receber aquele dinheiro, muitos... Então aí é meio complicado, você tem que estar muito atento, muito atento.
P/1 - É um processo, na verdade é um processo de terceirização e esse processo de terceirização ele, se é assim que a gente pode chamar, ele... Como é que você seleciona esse pessoal, você vai ao mercado e tem alguns pré-requisitos que existem dentro do SENAC?
R - É, a seleção em nível de colaboradores externos, Docentes é assim, normalmente a grande fonte nossa desses recursos humanos, elas estão nas especializadas. Eles têm um cadastro, até por conta que eles contatam esses colaboradores mais assiduamente para este trabalho de prospecção que eles são obrigados a fazer, quer dizer, programas que hoje não estão na rede, programas que hoje não estão acontecendo, mas que com certeza daqui a cinco anos, quatro anos, dez anos, sei lá eu, eles vão ter que estar no mercado, por uma exigência do próprio mercado. Então, a especializada conta com um grupo de assessoria muito grande e que esses Assessores depois eles normalmente se tornam Docentes de determinados programas, a especializada tem como objetivo e como obrigação para com a polivalente de repassar esses Docentes, esse cadastro. Então, a nossa grande fonte é lá, e às vezes o próprio Docente, que é essa pessoa especializada, não pode desenvolver, indica uma pessoa que possa. A gente pede o aval da especializada, pra saber se conhece alguma coisa e temos as reuniões com eles. Para ver a parte mais metodológica, que é o que preocupa muito.
P/1 - Então vocês, o controle da parte metodológica ela é feita pelo SENAC?
R - Isso, nós discutimos muito com os Docentes, seja individualmente, seja em grupo, na discussão desses planos de ensino, do plano de aula. Determinados recursos que ele vai utilizar em sala de aula, de que maneira ele vai utilizar. Porque tem muitos que pedem uma parafernália de coisas e que você percebe que ele está dando aula que se tivesse uma lousa lá e um giz era a mesma coisa, era o suficiente, porque ele não usou nada, ou se usou, tem muitos que usam de maneira inadequada, usam tudo ao mesmo tempo, quer dizer, a tecnologia dentro do ensino ela tem que ser usada com muita calma, ela tem que ser usada com muito cuidado pra não confundir o aluno, senão de repente ele está olhando para cá porque aconteceu uma coisa aqui, agora é ali, agora é lá, entendeu? E no final você vai tentar saber o que ficou de conhecimento, o que ficou registrado ali é muito pouco. O que ficou registrado mais foi a parafernália que foi utilizada e não o conteúdo, então aí é meio problemático.
P/1 - Eu queria, nós já estamos quase finalizando, eu queria fazer algumas perguntas para você. Eu queria saber se você, dentro da sua trajetória de vida, se você mudaria alguma coisa, Edson?
R - Acho que mudaria, eu acho que mudaria. Nem tudo que eu fiz ou que fizeram comigo é uma coisa que eu acho que foi legal tudo. Algumas coisas eu acho que mudaria.
P/1 - O que você mudaria?
R - Algumas deixam ver, a maneira de eu ter me relacionado com algumas pessoas, seja no nível pessoal, no nível profissional, acho que eu mudaria, que o resultado seria melhor. Porque é o tal negócio, você, acho que você paga um preço pela experiência, sabe, e esse preço é a decadência do corpo, é alguns sofrimentos que você teve que passar pra poder aprender, entendeu? Então acho que dizer que faria tudo igualzinho, não.
P/1 - E o que é que você gostaria ainda de estar realizando?
R - Continuar o meu trabalho, que é um trabalho que eu gosto. Eu gostava muito de trabalhar na UNIFORT, gostava muito de trabalhar no Centro de Educação e Ação Comunitária para o Trabalho e estou gostando muito de trabalhar no SENAC Tatuapé. Eu acho que nesse ponto o SENAC me propiciou assim trabalhar em lugares que eu gostei, que eu me adaptei legal, eu convivo muito bem com as pessoas, a gente desenvolve um trabalho bastante harmônico. Nunca trabalhei num lugar tão atribulado como esse que estou agora, mas até isso estou gostando. Você perguntou o que eu...
P/1 - O que você ainda gostaria de realizar?
R - Então, continuar o meu trabalho, ter uma aposentadoria digna, que acho que isso é uma coisa, não gostaria de ser uma pessoa que me aposentasse e ter que ficar trabalhando, fazendo bico, uma série de coisas pra ter pelo menos uma vida digna. Se continuar tendo a minha vida, estou falando agora no sentido financeiro, na minha velhice como eu tenho hoje, perfeito, está ótimo, nunca almejei ser rico também, o que queria ter eu tenho.
P/1 - Qual é o seu maior sonho, assim, qual é um sonho que você ainda gostaria de realizar ou um sonho que você tinha e não realizou ainda. Qual seria esse sonho?
R - Ah! Terminar a vida do lado de uma pessoa muito especial.
P/1 - E eu queria que você falasse um pouquinho do que está sendo essa experiência de estar aqui com a gente, de ter contado sua história de vida, e a sua trajetória dentro do SENAC, o que significou pra você dar esse depoimento pra gente?
R - Bom, esse depoimento foi mais tranquilo do que eu imaginava, né? Apesar de que, olha, depois de uns anos, acho depois de um tempo que você trabalha no SENAC, pelo menos as experiências que eu passei, não me aperto mais pra muita coisa não, não tem coisa assim que tenha que fazer que me aflija muito não, porque já passei, já me vi em cada situação nesses 19 anos do SENAC, achei que eu jamais poderia fazer e fiz, não me sai tão mal, tanto que estou lá até hoje. Então, não tenho mais problemas de falar em público, de conversar a respeito não, mas é novo, e tudo que é novo eu acho que te dá uma certa apreensão, até por conta de ser desconhecido. Eu acho que quando você sabe começo, meio e fim das coisas, quando você já conhece, você tem mais tranquilidade, aquilo que você não conhece é natural, então estava com aquela preocupação natural, de uma coisa desconhecida, que não saberia como é que seria exatamente, mas foi melhor, foi legal, foi tranquilo, só tá um calor. (risos)
P/1 - Me diz uma coisa: A questão de você ter falado um pouco da sua vida, como é que foi isso?
R - Tranquilo também, sem problemas.
P/1 - Então tá, a gente queria agradecer a sua presença, foi ótimo tê-lo aqui e acho que é isso.
R - É, eu queria acrescentar só uma coisinha. No fundo, no fundo me senti meio orgulhoso de fazer parte dessas 20 pessoas na tentativa de resgatar a memória do SENAC, porque o SENAC foi muito importante pra mim, é, está sendo, é a minha vida profissional. Todos os outros lugares que trabalho, tem lugares que não lembro nem mais o nome, e o SENAC com certeza é um lugar que não vou esquecer. Minha vida toda estou lá dentro.
P/1 - Então está bom, obrigada.Recolher