Projeto ADC Eletropaulo
Entrevistado por Rosali Henriques e Arnaldo Jubelini
Depoimento de Antônio Carlos dos Reis (Salim)
São Paulo, 22/07/1999
Realização Museu da Pessoa
ADC_HV021_Antonio Carlos dos Reis
Transcrito por Marina D’Andréa
Revisado por Amanda Caroline Ferreira
P/1 – Qual o seu nome completo, local e data do nascimento?
R – Meu nome é Antônio Carlos dos Reis, todos me conhecem por Salim, nasci no dia 1o de março de 1950 na cidade de Álvares Florence, estado de São Paulo.
P/1 – Essa cidade é pequenininha? Como ela é?
R –
É uma cidade voltada à agricultura e fica próxima à cidade de Votuporanga. É uma cidade pequena, de quatro mil habitantes.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Meu pai se chamava João Balbino dos Reis, e minha mãe Anunciata Azinari dos Reis.
P/1 – Você sabe qual a origem deles?
R – O meu pai tem uma origem indígena, já que o pai do meu avô, meu bisavô, era indígena, caboclos do Mato Grosso do Sul, por aí, Mato Grosso, na época, e a minha mãe é filha de italianos.
P/1 – E você chegou a conhecer seus avós italianos?
R – Sim, conheci. Eu só não conheci minha avó paterna. Mas meu avô paterno e os avós italianos eu conheci.
P/1 – Em que parte da Itália eles nasceram?
R – Eram da Calábria, calabreses.
P/1 – E eles vieram direto para o interior de São Paulo ou moraram em outros lugares?
R – Os meus avós vieram muito jovens, o meu avô veio com 16 anos, a minha avó com 10 anos e vieram aqui pra região de Araraquara. E aí foram progredindo na lavoura, nas plantações.
P/1 – E seus pais nasceram também nesta região?
R – A minha mãe nasceu em Matão, também cidade do interior de São Paulo, e meu pai nasceu em Jales, próximo dali.
P/1 – E como é que houve esse encontro, assim de repente... como é que se conheceram. Você sabe essa história?
R – O encontro foi ali na região de Matão mesmo. Houve alguma coisa, meu pai passando por aquela cidade, conheceu e então houve o envolvimento. Detalhes, pormenores, infelizmente eu não conheço, porque perdi meu pai eu era muito jovem, muito garoto.
P/1 – Qual era a atividade do seu pai?
R – Ele era alfaiate. Era o responsável por fazer os ternos das pessoas ali em Álvares Florence. Aliás, uma coisa muito interessante... na época se usava muito terno de linho, aí os fazendeiros e políticos iam em casa e tinham que usar o quarto, porque eles colocavam o terno de linho branco, mas depois precisava de uma cama para amarrotar o terno. E aí iam na cama no quarto dos meus pais e rolavam na cama para sair amarrotado, que era o chique, o elegante na época [risos].
P/1 – Então você se lembra bem do seu pai. Como é que ele era?
R - Eu me lembro bem porque na realidade eu tenho ainda muitas fotos. Na realidade ele tinha uma aparência assim meio igual à minha. Ele era uma pessoa magra, alta... hoje sou gordo, né, mas ele era magro, alto, de bigode, tudo, moreno, assim mais ou menos com a minha fachada, vamos dizer assim.
P/2 – Mas o que você lembra como uma característica que marcou no teu pai?
R – O meu pai era uma pessoa muito dada, ele se voltava muito para a coletividade, tanto que foi vereador numa cidadezinha pequena. Ele foi Juiz de Paz, ele foi delegado suplente, então ele tinha uma vida voltada pra sociedade. Apesar de ser em uma cidade pequena, ele era voltado para a sociedade.
P/1 – Quando ele faleceu você tinha quantos anos?
R – Tinha oito anos. Ele faleceu em maio de 1958.
P/1 – Que tipo de problema ele teve?
R – Ele teve câncer. Ficou 45 dias internado...
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Na sua casa viviam quantos irmãos?
R – Na realidade, nós somos em seis filhos, né. Tenho cinco irmãos. Mas duas irmãs eu não conheci porque faleceram muito jovens, bem antes de eu nascer. Aliás, nenhum dos irmãos que sobreviveram conheceram as irmãs. Aí, depois é que nasceram os outros irmãos, e que inclusive hoje já tem um falecido também.
P/1 – Quais os nomes deles?
R – O irmão mais velho, falecido, se chamava José Otávio dos Reis, hoje tem o João Carlos dos Reis, tem o Nelson dos Reis, e eu... pela ordem de nascimento. Eu sou o caçulinha [risos].
P/1 – E a sua mãe, como ela era?
R – Era uma mulher muito participativa também, muito religiosa, vivia dentro da igreja... cidade pequena, a maioria das atividades é religiosa. Era muito católica, então tinha uma atividade religiosa. E era também uma pessoa voltada para a comunidade. Então ela participava de todas as festas da cidade, fazendo comida, doces, salgados, todas essas coisas. Toda a festa que tinha ela estava lá, participando, de uma maneira ou de outra. Ou na organização, ou trabalhando, fazendo a comida.
P/1 – Como é que foi a sua infância lá em Álvares Florence? Você se lembra da casa?
R – Lembro. Nós tínhamos uma casa antiga, modelo bem antigo, e na frente era a alfaiataria do meu pai, e tinha lá dois quartos, um quintal onde tinha um poço, a cisterna, né, para minha mãe lavar roupa, que não era tanque, era aquela tábua, tinha um pé de amora no fundo do quintal, tudo...
P/1 –
E desse pé de amora você tem uma lembrança especial?
R – [risos] tem uma lembrancinha... que eu não passei por isso porque era muito jovem. Mas esse pé de amora meu pai, quando queria castigar os irmãos mais velhos, mandava buscar um galho de amora, limpar, para que com ele batesse nos irmãos.
P/2 – Tinha que buscar o objeto?
R – É, na realidade, muitas vezes o castigo maior era aquele temor de ir buscar. Porque quando chegava com a vara na mão, já não apanhava mais. Algumas vezes chegavam a apanhar, e aí era terrível né?
P/2 – Mas dava para escolher a...
R – [risos] Quem conhece amoreira, ela é fininha, bem flexível, e uma batida na bunda é bem ardida, né [risos]. E nesse momento eu sempre me escondia, eu era bem pequenininho e me escondia porque não gostava nem de ver. E algumas vezes os irmãos eram perdoados, simplesmente pelo fato de ir buscar essa vara [risos].
P/1 – E a escola? Vocês frequentavam a escola na cidade?
R – Sim, eu lá em Álvares Florence cursei até o 3o ano primário, né. E a gente lá tinha as professoras, professora Hortência, professor Rubens... e a gente cursava a escola lá da cidade mesmo.
P/1 – E você tem alguma recordação interessante para contar sobre esse período da escola?
R – Não, nada que me marcou, assim... o que poderia ter marcado é que essa professora Hortência, por exemplo, a gente tinha uma relação boa, porque inclusive eu era garoto, né, de... de sete, oito anos, eu já trabalhava na casa dela. Eu cuidava, brincava com um filho dela bem pequenininho, mas, quer dizer, eu ia lá brincar com o filho dela para ter uma atividade, mas assim algo mais marcante não teve não. Tinha uma coisa que a gente brincava muito com o servente da escola, né, que ele tinha um apelido muito gozado, mas ele ficava muito irritado quando a gente chamava ele de urubu. Então a gente chamava Urubu, Urubu, aí tinha outras brincadeiras, uns palavrões que a gente colocava no meio e ele ficava muito irritado com isso, né. Mas... só isso. Não teve nada mais marcante não.
P/1 – E as brincadeiras de infância? Que tipo de brincadeiras?
R – Olha, brincadeira em cidade pequena... você não tem muita opção de lazer. Mas a minha opção era o futebol, jogava uma bolinha, uma peladazinha com outros companheiros e ir nadar no rio. Tinha lá um local que a gente chamava de tancão, essas coisas, só. Na cidade não tinha cinema. Ir na missa, ir na quermesse, quando tinha na época junina, jogar bola e ir para o rio nadar. E o lazer hoje lá é praticamente isso também, porque a cidade continua pequena.
P/1 – Mas ela tem hoje quantos habitantes?
R – Hoje ela tem de quatro mil a quatro mil e quinhentos habitantes, contando toda a área rural, de fazendas, sítios e chácaras que tem em volta.
P/1 – Vocês moravam na parte urbana mesmo.
R – Sim, sim. Nós morávamos dentro da cidade, na região central da cidade, que tinha umas cinco ruas transversais [risos]. Então nós morávamos ao lado da igreja, ao lado da praça central.
P/1 – E seus irmãos brincavam com você...
R – Sim, sim, porque apesar que a diferença de idade ser um pouquinho... relativamente grande, né, por exemplo, meu irmão mais velho tinha nove anos a mais do que eu, então as brincadeiras já
eram um pouco diferenciadas... mas a gente brincava junto, que era o futebol, mesmo quando eles iam jogar com aqueles garotos maiores, a gente sempre estava participando também, então as brincadeiras eram participativas, a gente estava sempre junto, principalmente com o logo acima, o Nelson, que aí sim a gente tinha o mesmo círculo de amizade. E ia pescar junto, caçar junto, era fazer o estilingue, era...
P/2 – O time era misturado ou era...o Álvares Florence contra o...
R – Não, não, tinha... o time era só da cidade mesmo. Tinha o time da cidade que ia jogar contra outra cidade, mas eu não fazia parte desse time porque eu era muito garoto, né... eu vim pra São Paulo pequeno, eu vim pra São Paulo com 10 anos. E os irmãos mais velhos é que faziam parte desse time, mas aí jogava cidade contra cidade porque não tinha dois times na cidade. Não dava... [risos]. Mas sim, a rivalidade entre cidades era uma coisa muito séria, como até hoje deve ter.
P/1 – Mas tinha um nome especial esse time?
R – Não, não. Era o nome da cidade. Associação Atlética Álvares Florence [risos].
P/1 – Quantos anos você tinha quando veio pra São Paulo?
R – Eu tinha, eu vim pra São Paulo em janeiro de 1960. Eu então iria fazer 10 anos em seguida. Bem garoto. Ainda para cursar aqui a 4a série, o primário, né, acabar com o curso primário, como era dito naquela época. E acabei esse curso primário aqui em São Paulo.
P/2 – E a motivação para vir pra São Paulo?
R – Olha, na realidade, eu não tinha muita vontade de vir pra São Paulo, não. Eu preferia ficar morando lá, porque a cidade grande me assustava. Então, nós tínhamos conseguido algumas coisas na cidade que nós nunca tínhamos. Por exemplo, depois que papai faleceu, nós conseguimos ter uma casa própria, tudo, porque até então a gente pagava aluguel, então eu não queria me desfazer daquela propriedade, que foi a primeira casa que a família teve, apesar de um passado até razoável, mas foi a primeira casa. E eu não queria vir pra São Paulo. Mas aí o irmão mais velho quis vir pra São Paulo tentar a sorte aqui, mamãe também achou que era viável, e viemos tentar a sorte na cidade grande. Foi bom.
P/1 – E como foi essa mudança? Onde vocês vieram morar? Casa de quem? Vocês tinham parentes aqui?
R – Nós tínhamos conhecidos aqui, pessoas que também moraram lá e que já estavam aqui. Mas foi uma situação meio traumática porque nós vendemos uma casa lá, de três quartos, sala, copa, cozinha, área de serviço, um quintal maravilhoso onde tinha todo o tipo de fruta, goiaba, laranja, abacate, mexerica, pés de café e tudo, para trocar por uma casinha de três cômodos, e ainda dividir o quintal com uma outra família. E todo aquele dinheiro da venda da casa, nós compramos aqui em São Paulo um fogão, uma mesa, um armário, um guarda-roupa e uma cama de casal. Quer dizer, o dinheiro de uma propriedade foi usado para comprar os móveis aqui em São Paulo, e não tão confortáveis. E aí chegamos em São Paulo e fomos para uma casa de uma família conhecida, mas não pudemos dormir naquela casa porque não tinha acomodações para todos. E aí fomos para essa casa que nós alugamos, mas nessa casa também não tinha colchão, mesa, fogão, cama, tivemos que nos virar. E não tinha cobertas. Fomos comprar depois, nos dias seguintes, e aí nós nos emprestaram alguns colchões, e a coberta era a roupa. Foi um início difícil na cidade grande.
P/1 – Mas vocês não trouxeram nada de lá?
R – Trouxemos a roupa do corpo. Porque ficava muito caro também o transporte desses utensílios, naquela época, para cá. E com o dinheiro do transporte, praticamente a gente comprava tudo aqui. Então preferimos comprar aqui. A família, né, porque naquela época eu não podia opinar muito porque eu era um garotinho [risos].
P/1 – E onde vocês foram morar?
R – Fomos morar numa rua que, na época, se chamava Cintra, no bairro do Tucuruvi, hoje Rua Ministro Kelly.
P/1-
E como é que foi esse seu primeiro contato com São Paulo, o que você sentiu?
R – É, realmente foi uma coisa assim assustadora, né, a gente sair de uma cidade que na época tinha dois mil, dois mil e quinhentos habitantes, e chegar aqui na Estação da Luz, desembarcar do trem, que viemos de trem, e ficar olhando para aquele movimento todo, aquela loucura que já era em São Paulo naquela época, olhar os prédios, pegar o ônibus, pegar um táxi para ir para a cidade, tudo era novidade, mas muito assustador. A gente tinha uma ideia do que era a capital, mas é diferente, né. Você imagina uma coisa e chega aqui e vê uma outra realidade. Foi meio complicado, para mim, especialmente, foi meio complicado o conhecimento da cidade de São Paulo.
P/1 – E como é que foi, seus irmãos foram arrumar emprego....
R – É, na realidade o meu irmão mais velho já tinha vindo na frente e já estava trabalhando. E aí os outros foram à procura de emprego, né. O José Otávio já estava trabalhando numa empresa aqui e já ganhava um salariozinho, já dava pra gente se manter, sobrou uns trocados no bolso na época para que a gente se mantivesse nos primeiros meses, e aí os outros foram arrumando emprego e eu indo pra escola. Mas, naquela época já trabalhava também. Trabalhava durante a semana, ia pra escola, almoçava e ia para o emprego, e aquele emprego é que me dava o dinheiro para ir na matinê no domingo assistir a uns filmes, uns seriados que passavam na época.
P/2 – Qual era o seu trabalho, a sua ocupação?
R – Eu trabalhava numa sapataria. Eu batia sola, engraxava sapatos, essas coisas pequenas, né, porque não dava para mexer com máquina, com faca, essas coisas. Mas era basicamente engraxar os sapatos.
P/2 – Isso com que idade?
R – Dez anos.
P/1 – Foi lá no Tucuruvi mesmo?
R – Foi no Tucuruvi mesmo. Na avenida Maestro Villa Lobos.
P/1 – E em que escola você estudava?
R – No Grupo Escolar Silva Jardim, na Avenida Tucuruvi, ainda existe até hoje. O Metrô passa por baixo dela.
P/1 – E na escola você chegou e fez a 4a série...
R – Foi.
P/1 – E como é que foi o relacionamento com as outras crianças da escola, você chegou já no final do curso...
R – É, o relacionamento foi complicado porque eu era aquele menino caipira do interior, né, e aqui muita gente tirava um sarro... até pelas minhas roupas, pela minha maneira de ser, com aquela convivência interiorana, de caipira, e chega aqui encontra toda essa garotada já na capital, com mais conhecimentos, mais vivência. Foi um relacionamento meio complicado no início, com muitas brigas, muitas discussões, porque eles queriam tirar sarro e eu não aceitava. E aí então, muitas vezes, partiram pra agressão física. Então tinha dia que dava um tapa, tinha dia que tinha de sair correndo, porque era mais gente para bater em mim do que ... [risos]. Mas aí depois fui me habituando, a gente foi se adaptando à situação, conhecendo, e terminamos bem.
P/1 – E você estudou só até a 4a série?
R – Só até a 4a série.
P/1 – E você ficou nesse emprego até quando?
R – Aí foi uma série de pequenos bicos que eu fui fazendo, primeiro nessa sapataria, depois fui trabalhar noutro empreendimento, para distribuir folhetim, propaganda na rua... depois fui trabalhar nas Casas Pernambucanas, para fazer pacotes, também para fazer publicidade, distribuir folhetos na feira, essas coisas todas. Até que, com 13 anos, com a autorização do Juizado de Menores, essa coisa toda que exigiam, arrumei um emprego registrado que fiquei um pouquinho mais de tempo.
P/1 – Que emprego era esse?
R – Era office-boy de uma empresa, Companhia Litográfica Ipiranga. Que ficava ali na Avenida Rio Branco, esquina com Rua dos Gusmões, no centro da cidade de São Paulo.
P/1 – E essa empresa faz o que?
R – É uma empresa que na época, basicamente, ela fazia duas revistas. A revista Seleções e a revista Visão, que existiam na época, não sei se existe ainda hoje a revista Visão. A Seleções continua sendo editada. A Visão parece que acabou. E fazia também publicidade, rótulos de bebida, fazia embalagem, enfim, tudo relacionado a papel, né. Era uma empresa de impressão, vamos dizer.
P/1 – E aí você foi trabalhar como office boy?
R – Office boy
P/1 – Como era o cotidiano do seu trabalho?
R – Eu era basicamente um office boy interno. E então era pegar...eu trabalhava no departamento de compras, era office boy desse departamento e eu passava as requisições, pedidos, essas coisas. Eu passava nos setores pegando essas requisições, para fazer compras e depois voltava dizendo, levando um documento, dizendo que a compra já tinha sido efetuada, essas coisas. E algum serviço bancário, fora, mas que a gente fazia assim, normalmente, tranquilamente, foi uma experiência boa, que me deu algum conhecimento.
P/1 – E quanto tempo você ficou nessa empresa?
R – Um ano, mais ou menos.
P/1 – E nessa época de seus 14, 15 anos... que vocês faziam aqui para o seu lazer?
R – Olha, era basicamente, nessa idade de 10 a 14 anos, no domingo ia à matinê assistir aos seriados Roy Rogers, Batman, Zorro, tudo, e também tinha uma coisa que eu gostava muito de fazer que era visitar o Horto Florestal. Lá tinha muita diversão, né, muita garota e a gente gostava muito de ir lá. E... futebol. Futebol era uma coisa que... a gente fazia as peladas, num campinho perto de casa. Isso era uma coisa que era praticamente o lazer que nós tínhamos. Mesmo porque família muito pobre, você não tinha a opção de um clube, uma coisa assim nesse sentido de poder ir nos fins de semana a outro lugar, porque sempre envolvia gastos de condução, de lanche, essas coisas. Então, a gente tinha que fazer o lazer, aquele que podia, sem gastar nada. A matinê era a única opção de gasto que a gente poderia ter naquela época.
P/1 – Vocês iam ao cinema lá no Tucuruvi mesmo?
R – Ah, sim, naquela época tinha o Cine Fidalgo, lá na Avenida Guapira, tinha o Cine Tucuruvi, na Avenida Tucuruvi e depois inaugurou a maior sala de projeção da América do Sul que era o Cine Valparaíso, com 3.500 lugares. Hoje não existe nem o prédio. Mas foi um acontecimento na época, que era uma sala enorme, e aí a gente costumava ir lá nas matinês também... e teve uma época em que eu e o irmão não trabalhávamos, teve uma época que a gente ia ao cinema durante a semana também, porque tinha matinê também terças e quintas. Era uma época muito boa, muito gostosa, boas recordações.
P/1 – E esses filmes eram seriados, quer dizer, você via numa semana, e depois via a continuação noutra semana, é isso?
R – É, no domingo, sim, tinha o seriado. Aí tinha um seriado, e depois passava um filme. O seriado... muitas vezes a gente ia no cinema só para ver o capítulo do seriado e não assistia o filme principal. Porque o filme principal nós planejávamos outras coisas. Então, íamos para ver o seriado, principalmente. Mas de terça e quinta não. Era filme. Normais. Aí a gente escolhia o que a gente mais gostava, e quando o bolso dava, também...
P/1 – E os namoros daquela época. Tinha namorinhos?
R – Ah, sem dúvida, a gente tinha. Mas como eu era um garoto do interior, eu era, e até hoje sou muito tímido, apesar das aparências, dá a impressão que não, mas sou muito tímido e tinha muita dificuldade em chegar nas garotas. Mas as garotas chegavam a mim e [risos] tinha aqueles namorinhos, aqueles abraços apertados, assim, escondido, tudo, porque mamãe não gostava de alguma coisa, a mãe da menina não gostava de outra, mas a gente sempre dava um jeitinho de namorar um pouquinho. Ainda vem a imagem de algumas garotas daquela época, apesar de não ter mais contato com essas pessoas.
P/1 – Você lembra qual foi sua primeira namorada?
R – Ah, me lembro. Minha primeira namorada em São Paulo foi uma moça, inclusive um pouquinho mais velha que eu, na época eu tinha 12 anos, assim, e a gente teve um envolvimento muito bom. Se chamava Rosa. Uma moça que eu achava bonita, lógico, mas não era muito aceita pela minha família. Mas, namoramos aí um tempinho, foi gostoso. Passava ali uma linha de trem, perto de casa, que saía aqui perto do Mercado Municipal, que era uma estrada de ferro que ia pra Guarulhos, aos subúrbios, tudo, e a gente ficava ali perto da linha do trem, num cantinho, escondidinho ali, namorando um pouco [risos], que era o lugarzinho mais escuro que tinha [risos]. Foi uma época gostosa. Aí de vez em quando passava o trem, e a gente levava aquele susto, que era um barulhão danado, mas foi uma época boa.
P/1 – Depois dessa Cia. Litográfica Ypiranga, onde você foi trabalhar?
R – Aí, saí dessa empresa e trabalhei em várias empresas. Mas sempre pequenos espaços de tempo, porque aí também veio uma fase muito difícil da minha vida que foi o falecimento da minha mãe. Com o falecimento dela eu comecei a ter que, como era também muito jovem, né, quando minha mãe faleceu eu ia fazer 15 anos, e aí eu tinha uma relação com os irmãos não muito boa, sabe, porque eu era uma pessoa meio diferente deles. Tinha outros pensamentos que não eram os tradicionais da família, talvez até por isso que eu seja hoje o que sou. Então tinha uma maneira de ver e aí eu tinha um relacionamento muito ruim com os irmãos. E aí fui morar na casa de pessoas, primeiro na casa de um irmão, depois na casa de uma tia, que também não deu certo, que era muito conservadora, não me permitia fazer certas coisas, me trazia muito... uma rigidez muito ... e voltei pra casa de outro irmão, enfim, e aí os empregos também foram assim muito... de espaços pequenos por causa dessas dificuldades familiares que eu tive. Mas trabalhei em várias empresas, né, de tecelagem, de escritório, trabalhei na feira... até servi ao exército. Enfim, fiz algumas coisas aí...
P/2 -
Eu queria interromper um pouco... [pausa]
P/1 – Salim, como é que foi essas passagens pelo exército?
R – Olha, a minha entrada no exército foi uma coisa... naquela época todo o mundo queria ficar livre do exército, né, porque era um ano perdido. E eu, na realidade, pedia para todos que eu queria servir ao exército, porque a minha ideia, por não ter mais a família, vamos dizer assim, por eu não ter uma convivência muito boa com os irmãos, porque os irmãos já começaram a se casar, e tudo, então a relação entre irmão que mora na casa do irmão, com a cunhada, tudo começa a ser incômodo. Então, eu queria servir o exército para seguir carreira mesmo. E morar dentro do quartel, porque para mim seria uma coisa muito boa. Porque dentro do quartel eu tinha comida, roupa, cama, tinha lavanderia, tinha tudo. A lavanderia seria eu mesmo, lavando a minha roupa. Mas eu teria condições de uma sobrevivência boa, né, porque passei por momentos muito ruins antes de servir o exército. Então, para mim foi uma coisa que eu tinha como uma tábua de salvação, de ter um lar. O quartel do exército para mim seria o lar que eu não tinha.
P/2 – Você serviu onde?
R – Eu servi no Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri.
P/2 – Era melhor ou pior do que Quitaúna?
R – Era melhor. Na realidade na época era melhor, mais maneiro. Porque o Arsenal de Guerra era uma fábrica de pequenos canhões que o exército tinha. Era uma fábrica, uma indústria. Então nós trabalhávamos muito lá dentro, e não tinha muita ordem-unida, aquelas atividades de campo, de fazer treinamento pra guerra, essas coisas... era mais maneiro porque mais desenvolvido para o lado da fábrica que tinha. E o exército prestava serviço para algumas empresas da Grande São Paulo, tipo Brown Bovery, Cobrasma, que fazia peças lá. Era uma metalúrgica. E então era, como rigidez de disciplina, era mais tranquilo. Então para nós era melhor. Apesar que o exército é o exército e uma época muito ruim, que foi a época da recessão, 69, estava servindo, e aquela época era brava mesmo, né. Foi uma época onde havia atentados contra o exército, de terroristas, aquele pessoal que, porque havia o regime militar que era recessivo, e as pessoas queriam liberdade então vinham aqueles grupos revolucionários que queriam essa liberdade... a gente sofria muito no exército porque passava muitos dias dentro dos quartéis e guarda, era uma pressão psicológica dos comandantes militares muito grande, em cima dos soldados. Isso foi uma coisa bem forte.
P/1 – E o que você fazia lá no exército?
R – Eu, na realidade, não era metalúrgico, não tinha nada com a metalurgia. Então eu trabalhava na parte burocrática do quartel. Eu tratava, eu trabalhava com o sargenteante, que a gente chamava. O sargenteante é aquela pessoa que desenvolve os trabalhos de guarda, de ordem-unida, de disciplina do quartel. Então fazia as escalas dos soldados que iam ficar fazendo a guarda divididos em pequenos grupos, para naquele dia.… então fazia a escala de trabalho. De vez em quando eu tinha que me colocar na escala também (risos) para dar guarda.
P/1 - Quanto tempo você ficou no exército?
R – Eu entrei no exército para servir, mas eu já me mostrei uma pessoa meio rebelde no quartel e aí notei que não tinha nenhuma condição de seguir aquela disciplina. Aí então fiquei no quartel com aquilo que o pessoal chamava de NB [Núcleo Base], que ficava até o final, até entrar uma nova turma. Então eu fiquei um ano, um mês e um dia no exército. Então eu era um mau elemento para o exército. Foi bom. Senão eu era sargento hoje e não seria nada bom para mim. E eu ainda estou melhor hoje como sindicalista.
P/2 – Teve cana ou não?
R – Tive, tive cana, tive muita cana porque a gente sempre queria dar aquelas escapadelas, aquelas coisinhas que não obedeciam bem à disciplina do militar, dava umas fugidas, e aí de vez em quando a patrulha pegava e trazia pro xadrez, detenção, vários fins de semana dentro do quartel, mas isso foi uma rotina. E por isso fui Núcleo Base. Se não tivesse a cana, teria saído na primeira dispensa que normalmente acontece em novembro, né?
P/1 – E aí, você saiu do exército e que foi fazer depois?
R – Saí do exército e fui em busca de trabalho, né. Aí fiz vários bicos na vida. Fui ser ajudante de eletricista, de encanador, enfim, essas coisas, até arrumar um serviço efetivo. Trabalhei uma época num supermercado, e depois entrei na Light e aí desenvolvi até hoje.
P/1 – Só voltando um pouquinho, você saiu do exército foi morar onde, com quem?
R – Nessa época eu estava no exército e já tinha um relacionamento com uma família. Aliás, com duas famílias. Então fui pra casa dessa família que eu tenho muito carinho, muito respeito por essas pessoas, mas aí tinha os envolvimentos também familiares, então eu saía de uma casa e ia para outra, e quando tinha problema naquela outra voltava para essa, até o casamento. E aí construí a minha família toda, né. Mas foi alguns anos, 10 anos, vivendo dessa maneira. E aí numa família a gente arrumava namorada, que era da família também, e aí criava problema com os irmãos, com o pai, e aí tinha que sair da casa, mas... passei a maior parte do tempo com uma família, que eu tenho muito carinho e respeito, e saí dessa casa para a igreja para casar, e aí construí a minha família.
P/1 – Depois a gente vai voltar nessa parte do casamento, mas eu queria começar já com essa história da Light, é.… você entrou quando na Light?
R – Eu comecei a trabalhar na Light em outubro de 71. No dia 25 de outubro de 71. Uma segunda-feira, e entrei como trabalhador braçal.
P/1 – O que é que o trabalhador braçal fazia?
R – Na realidade, era um ajudante de eletricista de rede. Ë que na época não se entrava na empresa com um título profissional maior. Que era para entrar com um salário inicial, que naquele tempo... e numa empresa privada, não tinha um plano de carreira. Então você entrava ganhando um salário mínimo e aí você ia trabalhar, ajudar a levantar poste, ajudar a fazer equipamento de poste, colocar transformadores, colocar cruzetas, cabos, trocar cabos, essas coisas todas que se faz até hoje, mas que tinha que passar um ano, mais ou menos um período para você aprender e familiarizar e depois virar um eletricista.
P/2 - Em que setor da Light você trabalhava?
R – Eu trabalhava na distribuição, né, e era na Seção Santana, na Avenida Nova Cantareira, no 248, ali em Tucuruvi.
P/1 – Como era a Light naquele tempo? Tinha muitos funcionários? O que significava trabalhar na Light?
R – Ah, era uma coisa muito importante. O funcionário da Light era respeitado, funcionário da Light tinha, quando você falava para alguém de seu conhecimento que você trabalhava na Light, todo o mundo dizia: “você trabalha numa grande empresa, essa é uma grande empresa, você está bem. Segue carreira, procure ficar lá sempre”. Era uma coisa muito boa. E as turmas, tinham várias turmas. Nós trabalhávamos bastante, né, era muito rígido a questão de fazer tarefas. Mas tinha uma equipe boa, tal, que era diferente de hoje. Hoje você tem uma equipe muito pequena. Mas naquela época cheguei a trabalhar numa equipe dentro de um caminhão onde tinha 15, 16 pessoas trabalhando naquela equipe para fazer os vários serviços que tinham que ser feitos. Era abrir buraco para implantar postes, fazer redes, e naquela época já o crescimento demográfico de São Paulo fazia com que a gente fizesse muitas redes, então era normal, naquela época, saímos com uma equipe para colocar 20, 30 postes na mesma rua.
P/2 – Fazer um trabalho de eletricitário mesmo... qual o pior trabalho, você que passou por todos eles?
R – Olha, na parte elétrica mesmo, eu digo que é essa parte de colocar postes, viu, porque é um trabalho que, além de ser perigoso, ele é um trabalho braçal mesmo, que em muitas situações você tem que abrir um buraco de 1,80 metro de profundidade na mão, e muitas vezes você encontra obstáculos para fazer o buraco naquele local. Encontra pedras, canos de água, esgoto, enfim, e que você tem que ter muito cuidado. É cansativo. Porque você tem terrenos que são pedregosos, e para você abrir um buraco num terreno desses... eu já passei um dia inteiro para abrir um buraco só, porque eram só pedras. E também tinha muitos locais que o caminhão, a broca, o guincho que levantava esse poste, não entrava em determinadas ruas. E aí você tinha que levantar no braço. Aí juntava toda essa equipe de 10, 12, 14 pessoas, que sempre tem umas duas que você tem que ficar administrando, né, então você juntava todas aquelas pessoas para você levantar no braço mesmo.
E não era fácil não. Era terrível. Era muito cansativo. Hoje está mais fácil devido ao equipamento, tudo, mas naquela época era muito ruim esse trabalho.
P/1 – E como foi a sua evolução a partir desse começo? Você começou com trabalhador braçal e depois? Passou a eletricista?
R – É, aí naquela época você tinha uma carreira que era muito longa até você chegar a eletricista. Que não era eletricista, era oficial. Você passava por ajudante, ajudante isso, ajudante aquilo, aquilo lá, para depois você ser meio oficial, depois oficial, tudo, e aí a gente foi progredindo dentro dessa carreira até mudar todo o plano de carreira da empresa.
P/1 – Mas essas funções todas, tinha alguma mudança no tipo de trabalho que você fazia, ou era só mesmo uma questão de...
R – Não, era uma sequência. Eu comecei, por exemplo, abrindo buraco para colocar o poste. Aí você já carregava escada, ajudava a levantar uma escada, depois você ajudava a mandar o material pro oficial que estava em cima, e se você queria progredir dentro da carreira você também já era obrigado a começar a subir nas escadas para fazer pequenas tarefas lá em cima já na rede, para demonstrar que você tinha competência para fazer as outras tarefas, realmente. E foi numa dessas tarefas que eu sofri um acidente, inclusive.
P/1 – Conta pra gente esse acidente.
R – Este acidente, eu estava executando uma tarefa, nós estávamos fazendo o que nós chamamos de reforço de rede, onde tinham umas pequenas fábricas, e nós precisávamos trocar uns cabos, um cabo mais fino por um mais grosso, que tem mais potência e trocar um transformador também. E nós estávamos fazendo esse trabalho inicial de trocar os cabos, mas a rede estava ligada, energizada, e, quando eu terminei de fazer esse trabalho, que eu ia descer, eu levei um choque e caí de uma altura de sete metros e meio, mais ou menos. Sorte que, graças a Deus, caí em pé, e aí eu tive uma fratura no pé, que moeu praticamente, e quebrei a mão também, tive problema de coluna e tudo, mas o grande problema que ficou mesmo foi o pé, que fraturou em vários lugares. Aí fui atendido, tudo, fui pro hospital, cirurgia, fiquei afastado muito tempo, né, e tenho sequelas até hoje.
P/1 – Quanto tempo você ficou afastado?
R – Inicialmente fiquei afastado quatro meses. Porque tive que fazer uma cirurgia, colocar pino de platina no pé, todas essas coisas, para juntar... problema clínico, né, e aí teve... depois de tirado o gesso, fisioterapia, e tudo, para poder caminhar normalmente. É que aí, infelizmente, a cirurgia teve sequelas, eu tive que fazer novas cirurgias ao longo do tempo, para poder colocar o pé mais ou menos em ordem, que nunca mais ficou. Um acidente sempre é traumático, sempre causa problema pro resto da vida de qualquer pessoa.
P/2 -
O choque, em si, qual é a sensação física que dá?
R – O choque é uma coisa interessante, ela é gozada, porque você não sente dor, mas o choque te puxa todos os nervos, te encolhe todo, né. E eu devo ter gritado muito, mas ninguém ouviu... não sei se as pessoas ouvem ou não, porque a sensação é que eu estava gritando muito. E aquele tremor todo do choque que mexe com o físico todo, foi um negócio assim muito ruim, né, e principalmente depois que eu me livrei do choque, ter a sensação que a terra está subindo para te buscar lá em cima. Você não tem a sensação que está caindo. Você tem a sensação que o solo está indo te buscar aí no alto, e aí você leva o impacto com o solo que te deixa adormecido. Aquela dor é tão forte, quando há fratura, que fica adormecido.
P/1 – Na empresa vocês usavam equipamento de segurança? Que tipo de equipamento usavam?
R – Existiam e existem equipamentos de segurança. Mas naquele momento, como eu estava em fase final do trabalho naquele local, eu já tinha tirado todo o equipamento de segurança. O que eu não estava usando na época, que era necessário, era uma manga no braço, porque eu levei o choque no braço. Então se eu estivesse usando aquela manga, eu não teria levado choque. Foi uma falha pessoal de não estar usando os equipamentos individuais adequados. Nós usávamos normalmente, sim, tinha esses equipamentos. Era luva, capacete, mangote, que a gente chama de mangote, que é uma peça de borracha que você cobre todo o braço e as mãos. Que tem a luva, que cobre a mão, e o mangote, que cobre todo o braço, e aí você tem mobilidade junto aos cabos, quando está energizado, para não levar choque. Mas naquele dia não usei o mangote por achar que não havia necessidade porque a gente estava querendo terminar o serviço mais rapidamente.
P/1 – E depois desse acidente, isso foi mais ou menos...
R – Eu tinha um ano mais ou menos de empresa. O acidente aconteceu... eu entrei no dia 25 de outubro de 1971, como disse, e o acidente aconteceu no dia 1o de novembro de 72. Praticamente um ano, né... um ano e alguns dias.
P/1 – E como foi a sua evolução depois do acidente? Por quais cargos você passou?
R – Quando eu voltei do acidente, que você tem uma alta provisória, vamos dizer assim, você também não pode voltar para sua atividade normal. Aí fui para uma atividade burocrática, trabalhar no escritório, ajudar nas atividades escriturárias. E fiquei um tempo, fui me desenvolvendo bem, mas a mudança de gerências me fez voltar novamente, outra vez, à turma. E aí voltei já como ajudante, né. Fazendo os trabalhos normais de eletricista.
P/1 – Depois do acidente você voltou para aqueles serviços que fazia antes?
R – Sim, trabalhei normalmente, da mesma maneira.
P/1- Mas não teve um trauma? Você subia normalmente?
R – Não, subia normalmente. Ë lógico que o trauma sempre fica no subconsciente, acho que é uma coisa que você não consegue tirar. Mas... eu continuei fazendo o serviço normalmente, com mais segurança, procurando usar os equipamentos, fazendo a coisa com a realidade de segurança mais adequada.
P/2 – Mas a empresa não procurou uma readequação funcional para você?
R – No início, quando tive a alta provisória, aí então fui fazer esse serviço burocrático, que durou uns quatro ou cinco meses. Mas aí depois, não. Naquele tempo não existia isso não. A gente tinha que ir pro tranco mesmo.
P/1 – E aí você ficou quanto tempo fazendo esse trabalho?
R – De eletricista?
P/1 – É.
R – Aí foi praticamente a vida toda depois. Até me tornar sindicalista, foi direto. Eu fui para o sindicato eu tinha 17 anos de empresa, já. Apesar de que nesse período eu fiz algumas cirurgias onde foi necessário tomar um... eu tinha problemas, tinha dores, tudo, porque a cirurgia não foi a cirurgia adequada, a primeira, então eu tive que fazer outras cirurgias para colocar o pezinho numa condição boa novamente.
P/1 – Quantas cirurgias você fez?
R – No total, até agora, já fiz 10 cirurgias no pé. Cirurgias terríveis, numa das cirurgias, por exemplo, foi feito raspagem óssea, implante de músculo, enxerto de pele, e implante de veias e artérias. Quer dizer foram quatro cirurgias em uma só. Foram 13 horas dentro do centro cirúrgico. Foi uma cirurgia complicada esta. E entrei para essa cirurgia autorizando o médico para amputar a minha perna, se caso não tivesse condições de fazer a cirurgia poderia ser amputada a minha perna. Graças a Deus não precisou.
P/1 – Quando você se sindicalizou?
R – Eu me sindicalizei de pronto. Quando eu entrei na empresa já pedi a minha filiação ao sindicato, que já era uma coisa normal, todos faziam isso na época. Tinha já dentro da empresa um trabalho sindical onde todos se sindicalizavam, só que demorava um tempo, né, porque tinha que fazer análise se deveria aceitar, a diretoria do sindicato se reunia para fazer a afiliação. Uma análise, vamos falar assim, do associado. E a minha afiliação é de janeiro de 1972.
P/1 – E como era o seu contato com o sindicato nessa época?
R – Não tinha contato nenhum, não estava interessado, era jovem ainda, quando entrei na empresa tinha 21 anos, não tinha preocupações políticas... A minha preocupação era trabalhar e receber salário no fim do mês. Então não tinha envolvimento com o sindicato nenhum.
Eu fui me envolver bem mais tarde, já com muitos anos de empresa, talvez depois do casamento, tudo, que aí fui tendo mais contato, mais necessidade dessas...mas no início não.
P/1 – Antes de falar no seu envolvimento na diretoria do sindicato, vamos voltar um pouco para falar do casamento... como conheceu sua esposa?
R – É uma coisa interessante, sabe. Foi num baile. Eu fui num baile, lá na... ali na vila onde morava, onde eu moro até hoje, inclusive, e tinha um salãozinho da igreja, e tinha um baile, e eu estava fugindo de uma namorada, encontrei ela e comecei a namorar. Isso, a gente teve um namoro difícil, porque eu era uma pessoa já meio rebelde, então a família não entendia muito e não queria muito o namoro, né? Então namoramos quatro anos com muitos problemas. Até que tomamos a decisão de vamos casar, e vamos casar. Sem problema.
P/1 – Você tinha quantos anos quando se casou?
R – Eu tinha 27 anos. Uma idade que eu acho boa.
P/1 – E se casou na igreja?
R – Sim, casei na igreja lá em Carapicuíba, na igreja de Santo Estevão, civil, tudo, tranquilo, bonitinho, terninho, a noiva de vestido de noiva, certinho. Convidados, festa, tudo normal...
P/1 – Vocês foram morar em Carapicuíba mesmo?
R – Continuamos morando em Carapicuíba. Sempre, desde a época de quartel, de 16, 17 anos, eu moro lá. Nunca mudamos. Alugamos uma casinha, que depois ficou pequena porque vieram os filhos, alugamos uma outra, e depois fomos já morar em casa própria porque fomos morar num apartamento da Cohab [Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo] onde... adquiri um apartamento da Cohab, naquele tempo tinha que esperar o sorteio e fomos morar lá.
P/1 – Quantos filhos?
R – Nós temos três filhos. O Marco Aurélio dos Reis, que é o mais velho, a Leandra Shirlei dos Reis e o Sandro Augusto dos Reis.
P/1 – Algum chegou a entrar pra Eletropaulo?
R – Não, não. Por enquanto nenhum trabalha lá. Eu entendo que talvez a gente possa até, um dia, indicar para trabalhar na Eletropaulo porque entendo ainda uma grande empresa. E.…acredito que poderiam fazer carreira numa empresa como a Eletropaulo. Hoje. Mas ainda não trabalham não.
P/1 – Então, vamos voltar na parte do sindicato.... Como começou a se envolver com o sindicato, com essas lutas...
R – Na realidade, eu sempre fui uma pessoa que me preocupei com o próximo.
E eu dentro da empresa via algumas injustiças, algumas coisas que eu não concordava na época. E uma dessas coisas era a segurança no trabalho. E aí eu comecei a questionar, até talvez pelo anterior do acidente, tal, de viver essa situação de acidentado, eu me preocupava muito com segurança no trabalho. Então eu passei a fazer um trabalho de segurança para conscientizar os companheiros, os outros trabalhadores da empresa, a utilizar os equipamentos de segurança. E se não tivesse esses equipamentos, não executava a tarefa. Então eu questionava a empresa muito nessa questão. E aí eu fui indo, fui participar de Cipa [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes], ser “cipeiro”, e com essa coisa toda de questionar a empresa, os próprios companheiros acharam que eu deveria ser o representante sindical daquele setor. E eu não queria, não queria envolvimento com sindicato, porque eu não pensava numa carreira sindical, o meu sonho era ter a carreira dentro da empresa, chegar. Eu era eletricista, na época, chegar a encarregado, coordenador, e encerrar aí minha carreira, que é o mais alto cargo da minha carreira. Esse era o meu objetivo. Mas aí por essa vivência de questionamento, de procurar a melhor condição de trabalho para os companheiros, aí eu já fui automaticamente sendo o representante sindical. Aí eu comecei a ir ao sindicato, participar de reuniões, o diretor do sindicato começou a me procurar para que a gente pudesse fazer um trabalho na base lá do setor e aí é que eu fui me envolvendo com o sindicato.
[pausa]
P/2 – Qual foi a maior injustiça que você sofreu na empresa?
R – Olha, eu vejo que eu sofri muitas injustiças na empresa. Eu fui uma pessoa acidentada e que na realidade na época não tive o tratamento clínico adequado. Eu fiquei com deficiência por esse acidente. E entendo que a empresa deveria ter dado um tratamento médico, clínico mais adequado. E depois, por ter esse problema relacionado ao acidente, eu tinha uma certa dificuldade no trabalho. E aí não é a empresa, mas já é o imediato, o gerente imediato, que como você não dava a produtividade que ele queria, em determinados períodos da minha vida, principalmente no pós-operatório, pós – tratamento dessas cirurgias, onde a gente fazia muita fisioterapia, essas coisas... eu não tinha a atenção do gerente. E aí também eu me tornei uma pessoa revoltada. Por essa injustiça, que eu considero uma injustiça, do gerente não saber me tratar e reconhecer em mim uma pessoa com problemas físicos, eu me considerei muito injustiçado, e aí também eu passei a ser uma pessoa revoltada, e sendo uma pessoa revoltada eu passei, aí sim, a ter um atrito pessoal entre o trabalhador Salim e o gerente local. Que hoje é um grande amigo meu.
P/2 – Seu apelido Salim, vem antes ou depois da Eletropaulo?
R – Vem de Light. Vem de Light. O Salim é uma coisa interessante. Quando eu entrei na Light, nessas turmas grandes, todos tinham um apelido. Cada um tinha um apelido. Tinha o Mussum, tinha o Pokan, tinha, enfim, cada um tinha um apelido. E, falaram que eu tinha que ter um apelido também. Que não iam me chamar de Toninho, isso aquilo, eu era um cara grande, não iam me chamar de Carlinhos, nem de Antonio Carlos, que era uma coisa assim... Eu tinha que ter um apelido. E aí foram inventando alguns, mas não, não pegavam esses apelidos. Que também eu já me posicionei de que eu não deveria achar ruim. E quando você não acha ruim, acha uma coisa normal, as pessoas vão..., mas um dia um companheiro lá disse olha, você tem uma cara de turco, rapaz, você é Salim. E aí ficou o Salim. Aí todo o mundo me chamou de Salim. Aí, mais pra frente, eu tive também alguma coisa, aí já dentro do sindicato, mais alguma coisa que fortalecia esse apelido. Mas esse apelido já tem 28 anos.
P/1 – Salim, como é que foi para o eletricitário essa passagem da Light pra Eletropaulo? De empresa privada pra estatal.
R – Olha, foi uma experiência boa. Mas, no início, eu tinha, sem o meu envolvimento com o meu sindicato, eu tinha as minhas preocupações. Porque eu entendia que a empresa, passando a ser do estado, poderia nos transformar em funcionários públicos, então uma coisa que não fosse muito produtiva, que nós não teríamos condições de fazer o melhor para a sociedade, que eu já tinha essa preocupação naquela época. De prestar um bom serviço para a população. Então eu tinha essa preocupação. Mas ela foi boa pros trabalhadores em geral, porque vieram avanços sociais muito grandes na época, com muitas conquistas, com muitas coisas que nós fomos adquirindo. Por exemplo, quando eu entrei na Light, eu precisava comprar meu próprio uniforme. Eu precisava comprar os macacões, botinas para trabalhar. Se eu quisesse ter uma roupa adequada. E aí, quando passou para o estado, aí então já começou essa coisa de ter o uniforme e mais equipamentos. E isso já foi um grande passo para nós na época. Fora as outras conquistas que foram se desenvolvendo, né?
P/1 – Como se deu a sua evolução dentro do sindicato?
R –Como eu disse, eu me envolvia na defesa dos companheiros nos locais de trabalho. Eu não admitia que eles fossem ...que levassem uma bronca que não fosse adequada, que não tivessem o equipamento, que não tivessem... isso foi me levando... até que um dia um diretor do sindicato decidiu que naquele setor teria que ter um representante sindical. E eu não queria, porque o meu objetivo não era ser sindicalista. O meu objetivo era ser um bom profissional na empresa. Desenvolver minha carreira dentro da empresa. Mas por essa minha maneira de ser, as pessoas, todo o mundo foram direcionando que o representante do sindicato naquele setor teria de ser eu. E aí foi uma votação, houve uma eleição com uma votação quase que unânime, que queriam que eu fosse o representante sindical. Tanto é que foi uma carreira de representante sindical até curta, apesar de que eu tive um mandato de três anos, de representante sindical local ela foi curta, que eu fui eleito representante sindical em 86, em novembro, logo após a posse da nova diretoria, que também empossou-se, que foi o último mandato do companheiro Magri, e eu já fui ser o representante sindical em novembro, e já no mês de julho eu já estava liberado pela empresa para ser o assessor sindical, que a gente chama de assessor sindical, mas a gente colaborava, era representante, mas já liberado, aí já não era mais eletricista, eu era um sindicalista, já, só ficava sediado no sindicato, para percorrer as bases e conversar com os trabalhadores.
P/1 – Então, a partir dessa época você já fica direto no sindicato.
R – Já fico direto no sindicato a partir de junho, julho de 87. Aí já fui liberado totalmente pro sindicato.
P/2 – Agora, fazer parte da diretoria mesmo foi a partir de 89, é isso?
R – É. Aí em 89, na formação da chapa, onde o companheiro Magri não concorre mais pra eleição como presidente do sindicato, e aí concorre o companheiro Enir, e eu faço parte dessa chapa, ganhamos a eleição, uma eleição muito concorrida, e eu passo a ser, dentro da diretoria do sindicato, o tesoureiro do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo.
P/2 – E aí o Salim se fortaleceu?
R – Eu...na realidade, naquela época, eu não sabia, mas politicamente eu já era forte, porque...
P/2 – Não, falei o apelido Salim.
R – Ah...sim, o apelido Salim se fortaleceu e muito. Aliás, na campanha muitas pessoas diziam assim “não, ele vai ser o tesoureiro porque tem o apelido de Salim” e aí a gente tinha que dizer apesar de não ter estrutura, escolaridade suficiente, não era nenhum economista, nenhum contador, era um eletricista... mas a gente tinha que explicar, porque que a gente estava naquele cargo de tesoureiro. E aí o apelido Salim... eu acredito que a relação nome/pessoa influi muito na personalidade. Porque eu, a partir do momento que me colocaram o apelido Salim, e aí todo o mundo começava a contar piadas de Salim, essas coisas todas, Salim, alguém bate na porta, e fala:
uma esmolinha pelo amor de Deus e aí coloca debaixo da porta, essas piadas, que está no cotidiano, eu passei a ser uma pessoa mais, vamos dizer, mais adaptada à questão financeira, que eu controlava melhor essas finanças, não só... as do sindicato depois. Mas o meu pessoal mesmo. Porque eu fui sabendo como lidar com o dinheiro. Porque aí eu me tornei um pouco assim, não vamos dizer pão-duro, mas mais controlado (risos). .
P/2 – Agora, da mesma forma que nós perguntamos o que é pior no trabalho de eletricitário, no sindicato você passou, está passando por todos os cargos, no sindicato, qual é a pior função?
R – Tesoureiro... Tesoureiro. Eu inclusive fiquei um mandato só como tesoureiro justamente por isso. Porque o tesoureiro é a pior pessoa que tem dentro do sindicato. É malvista, é a pessoa que tem que dizer os nãos. E dentro de uma entidade como o sindicato, e como qualquer uma outra, uma associação, enfim, o tesoureiro ele tem que conviver com aquilo que ...o que pode gastar, e o que não pode gastar. E o restante da diretoria, são pessoas políticas e que tudo o que envolve política, envolve dinheiro, tem que gastar porque tem que fazer uma coisa, tem que fazer outra e aí o tesoureiro tem que controlar essas coisas. Então, é muito difícil. Para mim, principalmente, que tinha essa visão também, que nós tínhamos que fazer muitas manifestações, seminários, tudo, mas eu também tinha que ver o caixa como estava, como estava a reserva do sindicato. Então, em muitas situações eu tinha que dizer não, sabendo que era necessário fazer aquilo, mas não autorizava, porque senão eu não passaria o meu período financeiro, que era um ano, né, com aquele volume de dinheiro não daria para passar o ano. Para mim foi o pior cargo, a pior época da minha vida, apesar de que me fortaleceu politicamente muito, porque fiz uma boa administração, como tesoureiro, com fatos muito importantes para a categoria eletricitária, mas para mim foi muito ruim porque eu tinha que falar não para os companheiros em muitas situações.
P/2 – E mesmo falando não, você veio a ser o vice-presidente posteriormente, na outra eleição, né?
R – Sim, sim, sim...aí foi uma decisão pessoal que eu não seria mais tesoureiro, porque o companheiro Enir, que era o presidente, queria que eu continuasse como tesoureiro, mas eu entendi que por causa dessa relação que tinha, eu não deveria ser mais o tesoureiro. Eu queria ter uma visão e um trabalho mais amplo, que eu pudesse realmente estar fazendo aquela coisa do cotidiano do sindicalismo, e como tesoureiro eu ficava muito preso dentro do sindicato, administrando as finanças e administrando o sindicato, né, porque, na realidade, o administrador do sindicato, o nosso sindicato é um sindicato grande, que tem uma estrutura grande, eu também era o administrador do sindicato. Não tem como ser diferente, porque quem tem o dinheiro é que tem que administrar.
P/2 – Entre administrar e ir na base, qual a tua preferência?
R – Na base. Eu me realizo, fico muito à vontade quando estou conversando com os trabalhadores. Eu muitas vezes e até hoje, eu vou para a base conversar com os trabalhadores e eu esqueço que tenho outros compromissos e fico discutindo, discutindo de uma maneira amigável, tudo, porque muitas vezes eu sou questionado por muitas decisões, por muitas atitudes que o sindicato tem que tomar, por questões que envolvem tudo, até a política nacional, mas eu gosto disso, gosto de ter esse contato com os companheiros da base. Então, se fosse possível escolher, eu não ficava dentro do sindicato, ficava nos setores, conversando com os trabalhadores. Para mim isso é maravilhoso, me dá muita experiência, muita garra, me dá muita vontade, me dá muito... saber. Eu aprendo sempre com os trabalhadores nessa conversa que eu tenho com eles. Isso para mim é muito importante.
P/1 – E como foi essa decisão? Você falou que não queria mais ficar como tesoureiro... E como você virou vice-presidente? Como foi?
R – Aí é uma história, né, porque também muito...é uma relação ruim, essa coisa de ser tesoureiro. Eu decidi que não ia ser tesoureiro. Mas tinha muita gente também que não me queria mais como tesoureiro, né. Então eu precisei conviver com essa situação. Por causa dos nãos que eu falava para muita gente, achavam que não tinham que ter um Salim como tesoureiro. Achavam que eu era muito seguro. Mas foi necessário para nós construirmos o que construímos nesse período. E então precisava também ter um cargo onde o Salim, que era uma pessoa politicamente forte na época, tivesse um cargo que pudesse premiá-lo, colocá-lo. E qual seria esse cargo? Só tinha o de vice-presidente, porque eu não poderia ter um outro cargo. Presidente eu não pensava, porque era o companheiro Enir, que era uma pessoa muito competente e que entendíamos que tinha muito a fazer ainda. Mas também pra baixo, para procurar um outro cargo, poderia me desmerecer, fazer com que eu não tivesse vontade de participar mais. Então, o Enir teve que, na realidade, compor com toda a diretoria, e me colocou como vice-presidente. Aliás, a melhor coisa que aconteceu na minha vida foi o espaço onde fui vice-presidente.
P/1 – Quando você começou?
R –Assumi como vice-presidente em início de 1995, na realidade. Porque nós tivemos a eleição em 1992, mas por problemas jurídicos, algumas pessoas questionaram nossa eleição, e isso ficou sub judice durante quase três anos, e eu assumi como vice-presidente, efetivamente, em fevereiro de 1995, e fiquei até agosto de 1998.
P/1 – Por que você falou que foi a melhor fase? O que você fazia?
R –Porque o vice-presidente não tem a responsabilidade de estar, a obrigação de estar fazendo as grandes conquistas dos trabalhadores, você tem facilidade, mas eu tinha condições políticas de fazer o meu trabalho. Então, eu não tinha tanta responsabilidade nos ombros, que era a questão financeira e nem a questão política. Então eu vivia mais solto. Mas eu, pela minha maneira de ser, eu tinha muitas funções dentro do sindicato. Eu tinha mais liberdade de ação. E isso dá mais prazer para você quando você tem liberdade de ação. Então eu podia ir em todos os setores da empresa, conversar, trabalhar, discutir, mas apresentar as minhas propostas também. E aí cabia ao presidente decidir se faz ou se não faz. E aí você não tem esta responsabilidade. Você fica mais solto, você fica mais à vontade em fazer esse trabalho. Foi uma época maravilhosa, pela minha maneira de ser. Não é que é o melhor para todos os vice-presidentes não. Pela minha maneira de ser, pela autoridade que eu tinha dentro da categoria, dentro do sindicato, eu... foi uma fase muito boa. Mas não é todos que têm a felicidade de ter. De ter o que eu tive, a maneira como eu estive encarando tudo isso e também de ter o presidente que eu tive, que me dava esta liberdade também. Porque sabia que eu era uma pessoa responsável, que era uma pessoa que procurava fazer o melhor. Tanto pra entidade como para a categoria.
P/1 – Como era o Enir como presidente?
R – O Enir era uma pessoa maravilhosa, mas tinha um coração muito grande. O coração dele atrapalhava. Ele era muito bondoso, ele não sabia falar não, não falava não para ninguém, ele procurava ajudar a todos, isso eu acredito que politicamente atrapalhou ele um pouco, em algumas questões. Mas era uma pessoa inteligente, era uma pessoa que perseguia, e quando tinha um objetivo ele ia em busca daquele objetivo, e nós devemos muito a ele, a categoria eletricitária deve muito a ele, por todas as conquistas que ele teve dentro da categoria. Ou por todas as conquistas que nós não perdemos. Porque ele tinha muita habilidade negocial. E isso, ele com isso, conseguiu fazer muitos amigos. Aliás, ele só fez amigos, mas eu poderia dizer, e disse isso já em várias oportunidades, ele tinha um coração muito grande, ele atendia a todos, na política, quando você atende a todos, você desagrada a muitos.
P/1 – E como foi que você virou presidente?
R – Eu virei presidente pelo falecimento do Enir. Infelizmente ele faleceu, o Enir travou uma luta de saúde a vida toda, ele passou 15 anos travando uma luta de saúde, que ele tinha um problema, onde ele tinha, os médicos tinham dado um prazo de vida para ele, ele suplantou esse prazo de uma maneira heroica, de uma maneira espetacular, porque acredito que o trabalho foi o grande medicamento dele. Ele se entregou tanto ao movimento sindical e tanto ao trabalho sindical, que acredito que esse foi o grande medicamento. Ele tinha leucemia e ele tinha dois anos de vida. Só que esses dois anos de vida durou 15 anos. E ele faleceu tendo um derrame cerebral. Quer dizer..., mas foi o grande... o sindicato foi o grande medicamento que ele teve para ficar 15 anos com essa doença, sofrendo e tendo ...terrível. Nós que vivíamos com ele lado a lado sabíamos o quanto ele sofria com isso. E que ele procurava esconder da maioria das pessoas para que não soubessem que ele tinha essa doença. E aí, com o falecimento dele, eu, que era vice-presidente, assumi o sindicato em setembro de 1998.
P/2 – Agora, numa época de tantas mudanças, que foi em 1998, né, com a globalização, com a Eletropaulo sofrendo um processo de privatização, e a morte do Enir, uma morte inesperada, que é que você sentiu naquele momento, que você dormiu vice-presidente e acordou presidente de repente?
R – Eu só não posso dizer que dormi, né, porque eu fui, quando ele teve o derrame eu fui para o hospital... que ele faleceu em Belo Horizonte, eu estava em São Paulo, eu fui pra Belo Horizonte para acompanhar, para encaminhar tudo aquilo que tinha que ser encaminhado, então eu não dormi. Eu fiquei acordado a noite toda também, ao lado dele. Mas foi uma experiência muito ruim já, porque o meu projeto de vida não era ser presidente do sindicato. O meu projeto de vida era terminar o meu mandato de vice-presidente, concorrer à eleição, talvez até como vice-presidente mesmo, ou num outro cargo, para depois ir preparando já outras pessoas para que pudessem assumir o meu papel, sabe. Porque eu acredito muito nas mudanças. As mudanças têm que haver, tem que vir pessoas mais jovens para continuar esse trabalho nosso. Agora, foi traumático. Foi traumático. Porque eu falei assim: “E agora? Que que eu faço? Será que eu tenho competência? Será que eu tenho bagagem para ser o presidente?” E aí eu tive que demonstrar isso já no primeiro dia, que eu tinha que ter pulso, que eu tinha que ter bagagem para fazer isso. Porque tive problema já no primeiro dia do mandato. Aliás, nós tivemos problemas, já, com ele ainda...
no velório, mas, graças a Deus, tive o coleguismo, companheirismo de muitas pessoas da diretoria, que estiveram ao meu lado e que confiaram em mim, e me deram condições de tocar e de mostrar para as pessoas que eu tinha condições de ser presidente do sindicato. Apesar de que o Enir era ...uma outra pessoa. Ele tinha uma outra... uma outra maneira de fazer sindicalismo. E eu... sou diferente. E aliás, eu utilizei na minha primeira reunião, logo no início... o Enir foi internado no domingo, e eu na segunda-feira fiz uma reunião de diretoria, e as pessoas perguntavam para mim “E aí Salim? Como vai ser? ” já que eu era uma pessoa mais explosiva, uma pessoa mais... de luta, que queria já, no primeiro momento, chutar o balde. E aí era uma coisa complicada, né. E aí eu usei uma frase inútil, mas que pegou bem na época. Eu dizia o seguinte: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. O que eu quis dizer era que ser vice-presidente é uma coisa. E ser presidente é outra. E eu tenho que tomar agora atitudes diferentes das que eu tomava. Então eu não poderia ser a mesma, a... politicamente, eu não poderia fazer as mesmas coisas. Como vice-presidente eu poderia cometer erros. Então, eu me atirava mais no trabalho, nas questões, e depois o Enir consertava quando eu errava. Agora eu não posso cometer erros. Então, eu tenho que ser menos afoito, tenho que ir com mais tranquilidade, eu tenho que pensar um pouquinho mais, quando for tomar uma atitude, e a gente está conduzindo dessa maneira. Algumas pessoas até me perguntam: “Cadê o Salim antigo?” E eu digo: “Ele está aqui”. Aquilo que eu sinto, aquilo que eu tenho convicção, continua dentro de mim, mas preciso tomar cuidado porque quando eu for tomar uma posição eu posso magoar alguém, e a hora que eu magoar alguém, posso prejudicar toda a categoria. E eu não tenho... não posso fazer isso.
P/2 – Como é que você analisa... em 1995 a Eletropaulo, uma das maiores empresas do setor elétrico mundial, começou a passar por uma transformação violenta, saindo das mãos do estado, culminando com a privatização de duas... da cisão, né, de quatro empresas. Como é que você avaliou esse processo todo?
R – Olha...eu sempre tive essa preocupação. Como eu disse, lá atrás, eu tinha preocupação quando passou de ser... uma empresa privada para ser uma empresa estatal, porque entendíamos que a qualidade do serviço seria prejudicada. Quando começou esse processo, aí, sim, eu já tinha uma outra visão, que eu diria... que a sociedade seria prejudicada com essa ... com a privatização. Eu não concordo com a privatização até hoje, principalmente da maneira como ela foi feita. A privatização da Eletropaulo se deu, fazendo a cisão em quatro empresas, onde algumas são deficitárias. Quer dizer, principalmente uma empresa, que é a EMAE hoje [Empresa Metropolitana de Águas e Energia], é deficitária, porque ela cuida do controle das cheias da capital... é uma empresa que gasta e não tem receita. Então, seria prejudicial. Nós entendíamos isso.
E quem fosse trabalhar nessa empresa poderia até correr riscos, porque como é que vai trabalhar numa empresa que não tem receita nem para pagar as despesas normais? Outra empresa, a IPTE também, que é empresa estratégica e que poderia ser privatizada parte dela, metade dela praticamente. Então, entendíamos que é meio complicado. E a distribuição, que foi feito duas empresas, a Empresa Bandeirante de Eletricidade, e a Eletropaulo, que ficou com o nome Eletropaulo, nós entendíamos que poderia cair a qualidade e o relacionamento trabalho/capital. Então, nós tínhamos muita preocupação e entendíamos que não seria muito boa. Nem para a sociedade e nem para os trabalhadores dessas empresas. Por isso nós éramos contra a privatização. E veio a se confirmar tudo aquilo que a gente tinha falado já anteriormente.
P/2 – Você poderia quantificar, em termos de resultados dessa questão? Houve desemprego, ou não, houve melhora no atendimento à população, ou não? Quer dizer, estamos em 1999, né, já se pode fazer uma avaliação?
R – Olha, eu diria hoje que a sociedade perdeu muito. Principalmente a sociedade. E eu digo isso com muita convicção, até lendo as notícias dos jornais. Que antes eu não via tantas reclamações nos jornais. E olha que quem tem acesso às reclamações dos jornais, na rádio, são poucas pessoas... eu nunca vi tantas reclamações dos serviços prestados pela empresa. Então,
eu digo que para a sociedade piorou. Piorou por que? Porque deixou de dar o mesmo atendimento. Fechou postos de atendimento ao consumidor. Diminuiu o número de trabalhadores, de equipes que davam esse atendimento. Quer dizer, para os trabalhadores houve desemprego, houve uma grande quantidade de trabalhadores que saiu da empresa. Por PDIs [Plano de Demissão Incentivada], e também por demissões truculentas, como aconteceu na Eletropaulo, que se mandou 1.084 trabalhadores embora, sem nenhum motivo, já que nós tínhamos um acordo coletivo. Então, para trabalhadores de uma maneira geral foi ruim, porque houve desemprego, pelos vários motivos. E para a sociedade também, que hoje o serviço não é bom... apesar de toda a competência do trabalhador houve uma queda na qualidade de serviços. Por que? Nós tínhamos uma equipe que já estava sincronizada. Ela tinha tudo já nos computadores naturais das pessoas, que era a sua cabeça. Então, quando havia algum problema de algum defeito na rede, tinha pessoas que já sabiam onde era, e ia direto naquele local porque sabia das deficiências. Hoje, essa memória técnica da empresa não está mais aí à disposição. Então a sociedade perdeu muito com isso. E os trabalhadores, só da Eletropaulo, que quando privatizou tinha 10.500 trabalhadores, hoje está com sete mil. Quer dizer, se perdeu 3.500 postos de trabalho só na Eletropaulo.
P/2 – No sindicato, ao todo, quantos se perderam?
R – O sindicato, ao todo, deixou ... nós perdemos entre 10 e 12 mil trabalhadores. Nós tínhamos 28, 29 mil trabalhadores, antes dessa cisão, em 1994, por aí... e hoje nós estamos aí com... 16, 17 mil trabalhadores, com tendência de cair mais.
P/2 – Agora, Salim, além de presidente do sindicato você veio também, com o tempo, se transformando em presidente da Central Geral dos Trabalhadores, a CGT [Confederação Geral dos Trabalhadores].
R – Não, na Confederação Geral dos Trabalhadores.
P/2 – Antiga Central né?
R – Exatamente.
P/2 – Então, como é que se deu essa passagem?
R – Pois é, aí é uma outra questão, também, que envolve a política, né. Eu, sinceramente, digo que eu não pretendia ser presidente do sindicato. Não era esse o meu projeto. Mas, a fatalidade fez com que eu me tornasse presidente do sindicato. E aí, em seguida, tivemos uma eleição, e fui eleito novamente presidente do sindicato, o que era uma coisa natural. E aí o movimento sindical tinha um compromisso de o Sindicato dos Eletricitários, ter um presidente da Confederação Geral dos Trabalhadores. E quando passei a ser presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, por esse compromisso com a Direção Nacional da CGT, eu também passei a ser o presidente da CGT. Eu no início relutei um pouco, porque entendia que não estava ainda preparado para um tão importante cargo, mas aí as condições dos outros sindicatos que compõem a Direção Nacional da CGT, entendeu que eu seria a melhor opção para ocupar a presidência da CGT. E nós estamos aí em busca, acreditando muito nisso, e encarando mais um desafio, já que a minha vida toda foi um eterno desafio.
P/1 - Qual o desafio para o Sindicato dos Eletricitários, para o eletricitário hoje?
R – Eu não diria para o Sindicato dos Eletricitários, eu diria para o movimento sindical... o movimento sindical está passando por uma transformação tão radical, tão grandiosa, que nós precisamos ser muito criativos e termos muita vontade, para que a gente possa manter os sindicatos em pé, na luta, em favor dos trabalhadores. Hoje existe, com a globalização, uma tendência a fazer com que os sindicatos desapareçam do mundo do trabalho. E para que as empresas possam ter mais liberdade. Flexibilizar mais esses trabalhadores, para que eles possam, é lógico, obter maior lucro. Então eu digo hoje que o movimento sindical precisa ter uma grande unidade nacional, para se manter vivo. Mas, infelizmente, nós ainda não conseguimos essa grande unidade nacional. O ego está falando mais alto dentro dos sindicalistas e nós precisamos abaixar um pouco esse ego, nós precisamos discutir mais essa questão, nos unirmos mais, para que a gente possa desenvolver um trabalho em prol das classes trabalhadoras.
Da maneira como está indo, eu digo que vamos perder, perder, perder... porque a globalização, infelizmente, país nenhum do mundo está preparado para a globalização, e ela vai engolir todo esse movimento sindical para que possa ficar o poder na mão de poucos, no mundo. Não só no Brasil, mas no mundo.
P/1 – Mais especificamente, qual a luta de vocês neste momento no Sindicato dos Eletricitários?
R – A luta do trabalhador no Sindicato dos Eletricitários é manter, no seu quadro, esse número de trabalhadores. É manter o emprego nas empresas de eletricidade do estado de São Paulo. É manter as vagas necessárias para prestar um bom serviço à população. Porque o nosso maior interesse visa a sociedade, porque estamos no contato direto e permanente com a sociedade. Seja a hora que ela busca algum serviço dentro da empresa, ou seja quando estamos efetuando esse serviço, já que o dia a dia é estar com a população. Então nós pretendemos manter esse quadro de trabalhadores para prestar um bom serviço. Porque se nós não mantivermos o trabalho hoje, com o desemprego que tem aí, é muito ruim. E fantasma do desemprego é muito grande, em todo o mundo. Todo o mundo tem muito medo desse desemprego. Nós vivemos hoje só na região metropolitana de São Paulo, com um milhão e oitocentas mil pessoas desempregadas. É número muito alto e as pessoas têm muito medo. Então o meu maior desafio hoje é manter o número de vagas no setor elétrico.
P/1 – Nesse período em que foi presidente do sindicato, qual foram as maiores conquistas?
R – A nossa maior conquista foi manter as conquistas. Porque como estou dizendo, a globalização ela veio para acabar com o movimento sindical, para tirar todos os benefícios que construímos ao longo desse tempo. Então eu diria que não tive uma grande conquista. A minha maior conquista e que, acredito, é a maior das conquistas, é manter os benefícios que conseguimos ao longo do tempo. Manter o emprego, procurar manter o emprego, procurar manter a categoria eletricitária ainda unida em busca de um caminho melhor, que acredito virá daqui a pouco.
P/2- Como um dos principais líderes sindicais, na medida em que você preside uma Confederação, qual é a seu ver o pior inimigo do trabalhador hoje?
R – É a globalização. Como eu disse, o mundo não está preparado para a globalização. Eu digo que nós não temos um grande líder no mundo que possa fazer um trabalho social. Nós precisamos de alguém, algum chefe de governo que tenha visão social. E hoje não vejo nenhum líder de nenhuma nação deste planeta que tenha essa visão social. Nós estamos vivendo este período de globalização, onde as pessoas estão convergindo sempre para um poder central, e nós estamos até vivendo, por exemplo no Brasil, um social democrata, um sociólogo e que não tem nenhuma preocupação com o social. Com a taxa de desemprego alta, com a miséria elevadíssima, com pessoas passando necessidades alimentares terríveis, e que não busca um caminho, mas busca dar melhorias de condições para os grandes empresários. Então, e vendo isso no mundo como um todo, nós estamos também vivendo isso. Na Inglaterra um trabalhista está no governo, mas este trabalhista não tem políticas sociais para o povo inglês e para o povo do mundo, já que é um grande líder mundial. Você olha pra Alemanha, que um social democrata está no governo, mas aplicando políticas neoliberais. E assim por diante. Todos os países do mundo, nós estamos vivendo isso hoje. Então nós não temos um grande líder. A minha maior esperança é que surja esse novo líder, em qualquer potência, numa Inglaterra, numa França, num Brasil, num Japão, que possa direcionar essa questão, que possa dar políticas sociais para o nosso povo. Não só ao povo brasileiro, mas ao mundo. Porque nós estamos vivendo miserabilidade em todas as partes do mundo. Haja vista a África, a Ásia, ali na Índia, na América Central, do Sul, onde as pessoas estão vivendo de maneira terrível e que isso me causa uma profunda preocupação. Porque eu gostaria de resolver os problemas, mas um simples presidente de sindicato, um simples presidente de uma Confederação Geral dos Trabalhadores não têm condições de fazer. E aí e por isso eu digo, precisamos construir uma grande unidade nacional, no movimento sindical, no movimento de trabalhadores, para expandir essa grande unidade nacional para outros países, pra gente globalizar também o movimento sindical e os movimentos sociais.
P/1 – Salim, a gente já vai encerrar o nosso depoimento, vamos concluir e antes de a gente entrar em perguntas mais de fechamento, eu queria saber se você teria mais alguma coisa a falar sobre o sindicalismo, alguma mensagem, alguma...
R – Olha, eu queria dizer uma coisa. Eu disse uma frase aqui, agora há pouco, que a minha vida foi feita de desafios. E eu digo isso, e eu até gostaria de colocar. Eu digo que foi desafios, porque eu perdi o meu pai com oito anos de idade. E a minha mãe com 15. E dos 15 anos aos 27, quando casei [pausa] eu passei por dificuldades terríveis. Fui uma pessoa que dormi na sarjeta, passei fome, tive todo o tipo de discriminação [soluço/pausa]. Mas também fui um vitorioso [suspiro]. Construí uma família, ocupo cargo hoje que reputo de importante dentro da classe trabalhadora. E tenho mais alguns desafios para suplantar. E com a força e com o companheirismo de toda uma sociedade, nós conseguiremos levar isso adiante. Agora...o movimento sindical necessita de pessoas que não tenham o orgulho, que não tenham ... vaidades. Nós precisamos, dentro do nosso país de pessoas que tenham objetivos, que procurem encaminhar as questões do movimento sindical, as questões dos trabalhadores, para fazer uma grande política de alianças, onde nós possamos suplantar tudo, todos os problemas, se não hoje, nós temos hoje talvez 30 milhões de pessoas passando fome, eu acredito que logo... se não houver essa grande unidade nacional do movimento sindical e até com o movimento político, a tendência é crescer o número de brasileiros passando fome. Então, esse é o grande desafio que eu encaro, e que tentarei levar isso adiante com as outras forças para que a gente possa dar um Brasil melhor para os meus filhos, para os meus netos.