PESSOAL IDENTIDADE Nome e nascimento Meu nome é Edilamar Maria Souto Batista, nasci no município de Canápolis no dia 24 de outubro de 1955. FAMÍLIA Pais FAMÍLIA / ORIGENS Os meus pais são do Nordeste. Eles vieram pra Minas em 1949. Vieram de Currais Novos, Rio Grande do Norte. Em...Continuar leitura
PESSOAL IDENTIDADE Nome e nascimento Meu nome é Edilamar Maria Souto Batista, nasci no município de Canápolis no dia 24 de outubro de 1955.
FAMÍLIA Pais FAMÍLIA / ORIGENS Os meus pais são do Nordeste. Eles vieram pra Minas em 1949. Vieram de Currais Novos,
Rio Grande do Norte. Em busca de melhorias, entre Minas e São Paulo. Todos
os nordestinos vem para cá em busca de uma vida melhor. Minha mãe é Maria Dolores de Almeida e meu pai, Moisés
de Almeida Souto. Quando meu pai estava no Nordeste, ele era sapateiro. Depois quando veio para Minas, trabalhou algum tempo na lavoura e depois nós mudamos para Uberlândia e ele voltou à atividade de sapateiro. Minha mãe é doméstica, do lar. E costurava.
Avós Não conheci nenhum dos meus avós. Do lado de meu pai, minha avó é Maria José do Carmo. O pai dele Francisco, tinha o apelido de Francisco Abelha. Era conhecido como Francisco Abelha. E de minha mãe, Francisco Borges Macedo e minha avó Maria das Dores Macedo. Minha mãe falava de meus avós. Meu pai fala muito pouco. Meu pai é mais reservado, mais fechado. Não fala muito.
Minha mãe fala muito. Quando eu nasci, meus avós maternos já haviam falecido e os paternos... meu avô morreu cedo também e minha avó faleceu em 1977, em
novembro. Mas eu não os conheci. Só por fotografia.
Irmãos De irmãos, nós somos em oito. Quando nós viemos para cá, éramos sete. Aliás, éramos cinco. Porque tem dois temporões. E tem uma prima que foi morar conosco; ela tinha um ano e seis
meses.
Porque a irmã da minha mãe faleceu e deixou quatro filhas, uma, inclusive, com 13 dias de nascida. Cada tia tomou conta de uma e a minha mãe ficou com a Mara Lúcia que na época tinha um ano e oito meses por aí.
Primeira infância Canápolis é muito pequena. Enquanto na infância mesmo eu não lembro de lá não. Porque a gente morava
na fazenda, não era município, era fazenda. Eu nasci na fazenda e fiquei na fazenda até por volta de seis ou sete anos.
Aí a família mudou para Uberlândia, para gente estudar, porque tinha mais irmãos. Então nós viemos para cá para estudar.
O nome da fazenda
era até engraçado. Era Fazenda Quebra Coco. Era município de Canápolis. Era uma região, até pouco tempo atrás, de algodão e agropecuária. Mas na época, quando a gente morava lá, quando os meus pais vieram, vieram a minha mãe, meu pai e os pais da minha mãe, veio a família junto, lá era a fazenda onde foi feita derrubada, barranco de toco. Lá foi feita a preparação mesmo para a lavoura, onde nós
moramos durante alguns anos. Aí meu pai saiu de lá para mudar para cá, para Uberlândia.
Casa de infância Lá era uma rotina meio complicada, porque na casa já não tinha meus avós que tinham falecido há muitos anos. Eram todos solteiros, com exceção de uma tia minha, que é a irmã mais velha de minha mãe, que era viúva. Ela ficou viúva no nordeste, meus tios foram lá buscá-la, e ela tinha três filhos. Então era... deixa lembrar... os tios solteiro: tio Jeová, tio José, tia Letizia, tia Corinha, que era essa viúva e a mais velha da turma, tio Noese, tio Borja. Eram seis irmãos, mais os três sobrinhos que eram
o Cleudes, o João e o Wilson. Aí veio minha mãe e mais cinco. Então a gente ficava apertadinho, mas durante três meses passou. A casa era muito grande. Porque a casa, antes dos meus tios morarem lá era uma pensão. Então dava para acomodar todo mundo.
A primeira casa que a gente morou aqui em Uberlândia fica na
Floriano Peixoto, entre a rua Itumbiara e a rua Prata. Hoje lá já está tudo mudado, tudo diferente, tem prédios. Me parece que tem uma garagem de venda de automóveis. Nós moramos lá em torno de uns dois anos. Me lembro bem da casa, na frente era uma loja. Aí tinha um corredor e a gente entrava na sala. Da sala tinha outro corredor que entrava
para o quarto da minha mãe.
Aí tinha uma cozinha, e da cozinha saía para o nosso quarto. No quarto dormiam todos juntos os irmãos. Um quarto enorme, a gente dormia todos lá.
De lá nós mudamos para Av. Mato Grosso, se não me falha a memória, no número 1589. Esse número ficou muito bem gravado não sei porque. Tem coisas que a gente grava e não esquece. Até hoje a casa está lá, teve algumas reformas, mas está do mesmo jeito. Lá nós moramos um bom tempo. Lá nasceram os dois outros irmãos. Eu já tinha 11 anos quando nasceu a minha irmã e depois já estava com 13 quando nasceu meu irmão mais novo.
Antigamente era bom, muito bom. À noite, quando a gente morava com os tios, como tinha mais primos, era aquela turma. A avenida, que a casa fica na avenida João Pinheiro, devido a
Mogiana era fechada, tinha um muro, não tinha passagem de carro, e então a rua era nossa. E ali a gente brincava à vontade. De pique de esconder, era de roda, de barra manteiga, de um punhado de coisas que hoje em dia você não ouve falar mais. Antigamente a gente se divertia a valer. Hoje
a criançada fica só na frente do
micro, apertar botãozinho. Não tem nem contato com as outras crianças. E antigamente não. A gente tinha uma... Saudosismo mas era uma coisa assim
muito boa, muito gostosa. A gente tinha uma infância que valia a pena.
Casamento Quando o Sr. Alexandrino não estava mais na ativa, eu não trabalhava mais na diretoria. Porque eu trabalhei como secretária dele, na diretoria,
por três anos e pouco. Na época, quando se casava, não permanecia. A gente brincava assim: quando a gente entregava o convite de casamento assinava a rescisão. E é verdade, assinava-se mesmo, quando entregava o convite de casamento, quando marcava o casamento, automaticamente você já avisava e já se fazia todo o processo de dispensa. Cumpria-se o aviso e tal e depois saía. Ele pensava da seguinte forma, inclusive até uma vez ele chegou a comentar comigo. Ele achava que a mulher quando era solteira tudo bem não tinha problema nenhum de trabalhar porque precisava trabalhar, mas quando casava ele achava que quem tinha que ter o controle da família, de despesas e tudo mais era o homem. Então a mulher não tinha que trabalhar, ela tinha que ficar em casa cuidando da casa dela e da educação dos filhos, porque os filhos precisavam da mãe. Ele achava inadmissível a mãe largar os filhos em casa para trabalhar. E que ele achava muito estranho uma mulher grávida numa firma com os colegas homens todos juntos, que era muito incômodo para ela; ele não aceitava aquilo; aliás, ele entendia que aquilo era uma coisa assim... que não era normal. Eu imagino que ele devia pensar que a mulher se sentia desconfortável naquele papel.
Mas quando eu fui me casar... inclusive eu fiquei noiva depois que eu estava trabalhando com ele, e ele me ajudou muito porque a gente já tinha comprado terreno e estava construindo, ficava muito caro, não estava tendo dinheiro. Um dia, eu conversando com ele... porque ele sempre perguntava da vida particular da gente, sempre mantinha um estreitamento com quem trabalhava com ele, e não tratava só profissionalmente. Ele sempre perguntava "Como está sua mãe, como está seu pai, como você está, como é que está isso, como está aquilo?" Então eu conversando com ele, que eu estava pensando em casar, que a gente tinha comprado um terreno, mas que a gente estava com dificuldade para construir, ele falou assim: "Eu vou fazer uma coisa pra você, você vai conversar com o Sr. Wilson
e vai pedir para ele fazer uma rescisão sua, você vai pegar seu fundo de garantia e vai construir sua casa, porque quem casa tem que ter uma casa para morar e você vai fazer a rescisão só para pegar o fundo de garantia e a gente te admite de imediato". E assim foi feito, eu peguei o dinheiro, construí a casa, e sempre perguntando como estava o casamento, como estava os preparativos e tudo mais.
Um dia virou para mim e falou assim: "Você vai casar, mas você pretende ter filho logo?"
Falei: "Não Sr. Alexandrino, eu não pretendo ter filho logo, primeiro porque quando a gente casa é difícil, não é? Então eu não pretendo ter filho logo, pretendo dar uma equilibrada para depois a gente pensar nisso". Ele falou: "Quando a gente casa é difícil mesmo, a gente tem muita despesa, tem muita coisa. Mas eu vou fazer uma coisa: já que você não pretende ter filho logo, então você vai ficar seis meses. Você fica aqui seis meses, se você arrumar filho aí você sai; senão você fica esses seis meses e depois a gente vê; se você não for arrumar filho nós vamos ver como vai fazer". "Uai, para mim tudo bem , ótimo". Aquilo era uma novidade, eu nem imaginava, pensava: "Eu vou casar e vou sair".
Aí eu me casei, só que aí fez o seguinte, como ele não admitia... ele achava que a mulher tinha que ficar mais em casa depois que casasse, então ele falou: "Nós vamos fazer uma coisa diferente". Na diretoria era difícil porque não tinha um horário muito certo de ir embora. Ele falou assim:
"Fica muito estranho você, casada, ficar aqui depois da hora. Vamos fazer o seguinte: Eu vou conversar com o Sr. Wilson, ele vai ver uma outra forma e você continua na empresa aqui e a gente vê como vai fazer depois". Aí, o
Sr. Wilson me chamou, conversou comigo, nós acertamos, e ele falou: "Olha, tem muitas secretárias...". Cada departamento tinha uma secretária. "Você vai fazer para mim um serviço de secretária, você vai substituir e ao mesmo tempo que você vai substituindo você vai me dando um feed-back de como está o andamento nos departamentos na empresa, como secretária você tem uma visão maior. E eu fiquei fazendo isso um ano, fiquei como secretária.
Nesse um ano, como eu não tive filho, eu continuei fazendo papel de secretária. Aí abriu um departamento, que hoje na empresa foi sempre compartilhado, está voltando praticamente ao que era há 10, 11 anos atrás, porque nesse período, o financeiro era um só, a contabilidade era uma só. Era uma sala enorme, então era feita a contabilidade da CTBC e as outras empresas que foram abrindo, eram feitas todas lá. E a parte de contas a pagar, que fazia parte do financeiro também. Então foi criado um departamento que se chamava DCF - Departamento de Controle e Finanças. Então a parte de contas a pagar era tudo feito lá. Nessa época já tinha ABC Norte, a Tropical, a Inco, a Ipê, a CTBC e várias outras, e era tudo feito ali. E eu fui para lá como secretária, e fiquei quase dois anos. Aí nessa época eu engravidei. Quando eu saí de licença, eu saí assim: terminava o período de licença maternidade eu ia desligar. Eles iam contratar uma outra secretária para ficar no lugar, eu dei o treinamento para ela e tudo e saí. Quando estava terminando a última semana de licença o departamento pessoal da empresa me ligou que era para eu comparecer na empresa, que eu não ia fazer o desligamento e que eu ia voltar a fazer substituição novamente. Inclusive, eu ia substituir lá no Consórcio Nacional ABC. Na véspera do dia de voltar, eles me ligaram novamente: "Você não vai para o Consórcio Nacional, você volta, você vem aqui que nós precisamos conversar com você". Eu fui pensando assim: "vai decidir, vai resolver me desligar". Aí quando eu cheguei na empresa, cedo,
fui conversar com o gerente do departamento pessoal, que na época era o Sr. Walter Fonseca, aí ele me disse: "Olha, o José Leonardo, o gerente do almoxarifado, está precisando uma pessoa como secretária para poder organizar uma documentação, papéis e tudo mais e como você está voltando, se você quiser trabalhar com ele, ele gostaria que você fosse para lá".
Não fui a primeira mulher casada a permanecer na empresa. Quando fez a implantação das máquinas da IBM, que montou o CPD na CTBC, teve o primeiro grupo, se não me engano, foi o primeiro grupo de pessoas contratadas. Tinha, tem até hoje, desconheço que ela tenha sido desligada do grupo, a Regina Dubles Correa. Ela casou-se com o Luciano Belo Pereira, piloto do táxi aéreo. Ela casou e continuou devido a competência dela na parte de CPD e tudo mais. Ela casou e continuou. Mas não teve filhos. Eu casei um pouco depois dela, mas o primeiro filho nascido no emprego e que permaneceu foi a minha filha. Inclusive, quando ela nasceu, eu fui lá na empresa mostrar para o Sr. Alexandrino, apresentá-la e o Sr. Alexandrino disse: "Engraçado, é a neta da CTBC. A primeira netinha da CTBC". Enquanto ele estava na empresa, de vez em quando eu levava para ele ver. Ele já bem velhinho, e ela já estava com uns dois anos mais ou menos, foi a última vez que ele a viu. Ele ainda brincava: "Essa aqui é a netinha da CTBC". Até hoje ela lembra. De vez em quando, quando toca assim no assunto ela diz:
"Mamãe, eu lembro o dia que ele falou para mim que eu era a neta da CTBC". Hoje ela tem 16 anos.
Meu marido, Eurípedes, não tem vinculação com a Companhia. Só eu mesma. Ele é pedreiro. Eu creio que o fato de ter sido a primeira mãe a permancer na companhia mostra que o Sr. Alexandrino estava revendo um pouco aqueles
padrões que os pais dele ainda trouxeram de Portugal. Aqueles padrões rígidos, que lugar de mulher é em casa. Já era uma abertura.
EDUCAÇÃO Primeira escola Antigamente era o primário, de primeira à quarta. Eu fiz no Grupo Escolar 13 de Maio. Ele fica, ficava porque depois mudou, na
Cesário Alvim esquina com a rua Itumbiara. Hoje ainda tem lá um casarão com umas portas altíssimas. Aquela construção bem antiga. A escola era bem modesta, funcionava provisório; depois o Estado construiu na Monsenhor Eduardo, nas imediações da Itumbiara com a Prata, por ali. Quando eu mudei eu fiz o primeiro e o segundo ano. O pré a gente fazia em 6 meses, depois passava para o primeiro ano no final do segundo semestre e quando você terminava, sendo aprovada, você já passava para o segundo ano. Então fazia o pré e o primeiro em um ano só. Quando terminou o segundo ano, a escola mudou. Aí era bom, escola novinha, cheirozinha, toda pintadinha. Aí eu terminei lá o terceiro e quarto ano, depois fiz o exame de admissão. Antigamente tinha exame de admissão, que a gente fazia em três dias. Fazia as provas, se não passasse em três dias aí você fazia um mini intensivo. Depois de 30 dias você prestava
os exames de novo para você poder passar para o que hoje é 5ª série.
Professoras Tem duas professoras que me marcaram. Tem a minha professora do terceiro ano, a Lindomar Cardoso e a do quarto ano, Elenir Gonçalves. A Lindomar Cardoso já era uma professora assim mais madura. Era loira, alta, forte. Tinha uma pele clara, mas assim com erupções, marcada. Me lembro dela como se ela estivesse na minha frente. Era uma professora que muita gente tinha medo da autoridade dela. Era uma pessoa que impunha, tinha uma personalidade forte. Mas eu não tive problema porque eu me relacionei muito bem com ela.
A gente tinha assim um estreitamento de amizade grande com ela. Então eu não tinha dificuldade, e não sei se marcou por causa disso. Todo mundo tinha receio dela, eu não tinha.
E a
Elenir foi porque era o contrário. Era
uma recém formada e assumiu a quarta série. Era uma professora novinha. A gente admirava ela porque era muito bonitinha de cabelo comprido. Era uma gracinha, muito doce. Então marcava por isso. Ela era um pouco mais velha que a gente, mas ao mesmo tempo ela conseguia manter um relacionamento com a turma que era gostoso.
A gente chegava a fazer visitas na casa dela. Mesmo depois que a gente terminou o ano letivo, a gente ia fazer visita na casa dela, ia passear,
sentava, conversava. Há alguns anos atrás eu a encontrei, é aquela mesma. O tempo parece que não passou muito para ela.
Encontrei com ela alguns anos atrás e era praticamente a mesma doçura. Os anos passaram, é lógico, mas ela permaneceu assim, conservou
aquela doçura. Um jeito de falar manso, uma voz suave. Isso me marcou.
CORPORATIVO TRABALHO
Primeiro emprego Todos trabalhavam porque a família dependia do que cada um ganhava. Meu pai sozinho não dava
conta de sustentar. Quando a gente foi crescendo tendo condição de trabalhar, cada um foi procurando sua subsistência para ajudar na despesa da casa. Não era muito comum as mulheres trabalharem. Mas eu comecei a trabalhar com 17 anos. Não tinha ainda completado os 18 anos. Trabalhar assim em empresa, registrada, como funcionária. Mas antes, nos 12 e 13 anos, a gente queria alguma coisa a mais e então eu ajudava uma vizinha, limpava a casa, fazia uma coisa e outra. Ganhava meu dinheirinho e comprava algumas coisas, porque o pai não tinha condições de dar.
Eu tinha atividades em casa também para ajudar minha mãe. Minha mãe toda vida foi muito severa. Ela era assim... na época era só eu e minha irmã mais velha, a Maria das Dores. Mais velha do que eu, porque tem duas. Minha mãe dividia a tarefa da casa. Minha mãe lavava a roupa e cozinhava.
E a gente dividia a tarefa: minha irmã uma semana
limpava a casa e eu arrumava a cozinha. Na outra semana era trocado. A gente gosta de fazer uma coisa e não gosta de fazer outra. Para não ter briga, para não ter confusão, minha mãe dividia o serviço. Uma semana uma fazia, outra semana outra fazia. E passava as roupinhas ali e a gente ia trocando e ia
fazendo assim.
Nós moramos aqui em Uberlândia determinado tempo, depois meu pai passou por uma dificuldade financeira muito grande e nós mudamos para Goiás. Então permaneceram aqui na cidade só meus dois irmãos mais velhos, o Cleanto e o Santelmo.
Nós fomos para Goiás. Fomos morar ali em uma fazenda que é de um tio nosso também. Nós fomos em maio de 1970. E lá eu fiquei quase três anos. Quando foi em janeiro de 1973 eu voltei,
a minha irmã mais velha do que eu casou lá e eu voltei para estudar. Eu não aceitava de jeito nenhum morar lá e ficar sem estudar. Eu queria outra coisa, não queria aquilo lá. O Santelmo foi para o casamento de minha irmã, foi fotografar e conseguiu convencer meu pai e minha mãe e me trazer para cá. E aqui, eu cheguei em janeiro e morei um ano e meio com uma prima minha, a Javanisa, que tinha ficado viúva com duas crianças pequenas. Então eu vim fazer companhia a ela, aproveitava e estudava. O Santelmo me ajudava durante esse tempo que eu estudei aqui. Eu morava com ela,
não tinha despesa, mas o resto de despesa de escola, de material e tudo, foi ele que me sustentou durante esse tempo.
Ingresso na CTBC Esse primeiro emprego foi conquistado... O meu irmão, o segundo depois do
mais velho, ele prestava serviço para CTBC. Eu precisava de começar a trabalhar e, por intermédio do conhecimento que ele tinha com o pessoal da CTBC, conseguiu com que eu fizesse uma ficha, fiz inscrição e ficava aguardando ser chamada para fazer os testes. Isso era em 1973. Eu precisava trabalhar, porque eu tinha que fazer a minha independência. Aí eu fiz a inscrição na CTBC, aguardei um tempo, eles me chamaram para fazer as provas. Na época era tipo de um vestibular. Juntava aquele tanto de inscrição, separava duas, três salas cheias de gente e você fazia as provas todas e depois eles te davam o resultado.
Eram provas de conhecimentos gerais. Tinha Português, tinha Matemática. Era bem puxado. E
nós fizemos essas provas e ficamos aguardando. Mais ou menos em torno de quase um mês eles me avisaram que eu tinha passado, tinha sido aprovada e que eu ficasse aguardando só a chamada, se aparecesse alguma vaga. Graças a Deus que apareceu a vaga, me chamaram na empresa, eu fui admitida e comecei a trabalhar na digitação, como digitadora.
CTBC Cobrança
TRABALHO / PARA DEPOIS DE TARIFAS
O departamento de cobrança trabalhava na base de assinantes que ficavam inadimplentes. E dentro dessa bilhetagem, dessa parte de interurbano tinha o assinante normal, pessoa física e pessoa jurídica, que não era de Estado. Agora não me lembro como eles tratavam o nome. Tinha a parte que era Prefeitura, Estadual e Federal, que não era emitida conta de telefone, era emitida fatura.
Então isso tudo era feito dentro do departamento de cobrança.
Tinha que verificar aquela fatura, e essa parte que não é de empresa privada era
feito separado, em fatura. Tinha um departamento de cobrança que cuidava tanto dessa parte de fatura quanto da parte de bilhetagem. Era parte de cobrança mesmo. Contas a
receber da empresa. Só que para o departamento de cobrança eu fui como secretária, atendente. Despachava o documento que o assinante recebe, ajudava o pessoal também nas conferências, nos fechamentos de tudo ali. Eu fiquei um tempo trabalhando e de lá eu fui para diretoria.
Secretaria
Foi um pulo assim muito grande. Porque eu trabalhava mais na parte operacional. Não tinha ligação com a diretoria. Isso aconteceu
pelo seguinte: O Dr.
Raul Costa era o financeiro da empresa. Ele havia se desligado da
CTBC, tinha passado
para outra empresa, a ABC Inco. E veio de Ribeirão Preto o Sr. Wilson Luiz da Costa para Uberlândia e assumiu a parte financeira no lugar do Dr. Raul. E quando ele entrou para a empresa, lá em cima, no prédio, na Cidade Industrial, a forma de ir para empresa e voltar era muito difícil, era ônibus e o ônibus demorava demais a passar. Não é essa beleza que é
hoje, tudo integrado, que vai rapidinho. Era muito difícil e a gente pegava carona. E Sr.
Wilson tinha vindo de Ribeirão Preto tinha pouco tempo. Ele sempre foi uma pessoa que não era dada, vamos dizer assim,
a muito fricote, muita coisa assim. Ele era mais do povão mesmo. Então ele sempre dava carona para gente descer.
Eu estava descendo e ele: "Oh, estou descendo. Quer ir?" Então eu sempre vinha com ele.
A gente sempre descia com ele e a gente vinha conversando. Ele puxava conversa e criou, assim, um conhecimento. Ele tinha uma secretária, o nome dela era Ângela, se não me engano, Ângela de Souza. Ela trabalhava na diretoria. Naquele tempo ainda, quando casava não se permanecia na empresa. Então a Ângela entrou de férias, casou e quando voltou de férias, ela deu um cartãozinho convidando para ir visitá-la na sua nova casa. Mas infelizmente não teve jeito, o Sr. Alexandrino na época não aceitava. Dentro da empresa tinha uma norma:
mulher casada não trabalhava lá. Então ela foi desligada.
E nesse meio tempo foi um rapaz, que inclusive trabalhava na cobrança junto comigo, o nome dele é Jacques, agora a assinatura dele eu não recordo. O Sr. Wilson, lá em Ribeirão Preto, tratava também dessa parte de faturas, e a gente tinha uma certa ligação com ele, via telefone. Então ele convidou o Jacques para ir trabalhar com ele. Mas o Jacques não se adaptou com a parte de secretariar, de assessorar e tudo mais. Então ele voltou para o departamento e o Sr. Wilson me convidou para trabalhar com ele. E eu aceitei. Eu vi naquilo ali uma chance de eu ter uma melhora. Aí eu comecei a trabalhar. Fui para a diretoria. Na época que eu fui para lá, trabalhava o Celso Machado e a Magda.
Agora não me recordo a assinatura dela também. Ela tinha ficado substituindo a Ângela que saiu. Depois a Magda saiu, porque tinha entrado só para substituir e entrou a Marise Cury. E nós trabalhávamos os três, eu, o Celso e a Marise. O Celso estava mais no assessoramento dos diretores e eu e a Marise mais na parte de secretariar mesmo. Atender telefone, cartas, porque era tudo datilografado. Atendia ao Sr. Alexandrino e ao Dr. Luiz, ao Sr. Wilson, os três.
O ambiente de trabalho era tranqüilo. Nós três que trabalhávamos no secretariado, a gente se entendia muito bem. Então era um clima de amizade mesmo. Inclusive os dois são meus padrinhos de casamento. Era bem assim, de camaradagem mesmo.
E a sala tinha a porta e tinha um corredor, um corredorzinho assim que entrava para uma sala ampla. Eu ficava
na mesa da frente, a Marise ficava numa mesa logo atrás de mim e o Celso do meu lado.
Depois fizeram uma reforma, mudaram alguma coisa. E nas nossas costas ficava a sala do Sr. Wilson. Do lado esquerdo a sala do Dr. Luiz e na frente a sala do Sr. Alexandrino.
Com o tempo, o problema de visão do Sr. Alexandrino foi agravando e então ele não conseguia mais ler documentos. E naquela época os cheques eram todos assinados. Assinavam o Sr. Wilson e o Sr. Alexandrino. A tesouraria
fazia emitir o cheque, datilografava todos e passava para nós secretárias. Nós pegávamos a assinatura do Sr. Wilson primeiro, e depois levava para o Sr. Alexandrino. Mas Sr. Wilson, como era o financeiro, ele fazia toda uma triagem dos pagamentos e levava para o Sr. Alexandrino. Com o tempo, ele já não conseguia mais assinar o cheque no lugar correto. Já não conseguia mais ler os documentos que chegavam para ele.
E fez uma certa divisão no atendimento das secretárias. A Marise
não gostava de ler. Ela dizia: "Eu não me sinto bem de sentar na frente dele e ficar lendo coisas para ele". Eu falava: "Eu não me importo. Tanto faz estar atendendo ou estar lendo um documento para ele. É a mesma coisa, não tem diferença". Então ela ficava mais com o outro serviço, com a parte mais do Sr. Wilson e eu fiquei mais com a parte do Sr. Alexandrino. Eu ficava mais diretamente ligada a ele. Talvez por isso eu tenha tido mais contato com ele do que com o Dr. Luiz mesmo. Com o Dr. Luiz eu tinha contato, mas era menos.
E com o Sr. Alexandrino, na época que eu trabalhei diretamente com ele, foi na época que estavam fazendo grandes contratações, foi quando o grupo se expandiu muito, que comprou muitas empresas. Então eu lia todos aqueles contratos para ele. Tudo o que ele assinava, eu tinha que ler. O cheque tinha que ler para ele. Para quem estava pagando, o valor do cheque que ele estava assinando, e a gente indicava onde ele ia assinar. Aí ele fazia a assinatura.
E todos os contratos eram lidos.
Eu creio que quando era alguma coisa muito confidencial, tinha determinadas vezes que eu estava lendo contratos com ele, o Dr. Luiz chegava de algumas viagens que fechava alguns contratos, fechava alguns acordos, o Dr. Luiz mesmo que acertava com ele, contratava com ele ali, acertava, acabava de ler. Falavam assim para mim: "A senhora pode ir, a senhora está dispensada, pode deixar que eu termino, eu preciso conversar com ele". Provavelmente o que era de muita confidencialidade ele tratava junto. Mas nunca foi pedido que eu guardasse segredo do que eu estava lendo, dos números que ele estava assinando, assim não.
Almoxarifado Aí, depois da licença maternidade, eu trabalhei com o José Leonardo. Comecei como secretária, fiquei uns dois meses. Junto com o almoxarifado tinha a parte de depósito, distribuição de materiais, compras, tudo era lá, era tudo centralizado, se tivesse uma caneta, você mandava daqui. E dois meses, a menina que fazia compra, inclusive, da parte de material de escritório, dia 1o
de maio ela foi para o Caça e Pesca
e infelizmente ela teve um problema com a moto; caiu e a moto caiu em cima da perna dela. Ela ficou uns três meses afastada. Como ficou desfalcado, aí eu passei de secretária e comecei a fazer compras. Foi sempre assim minha vida dentro da empresa, as mudanças foram sempre assim. Quando acontecia alguma coisa eu ia e ia ficando, e foram todas feitas dessa forma. Eu fiquei em compras, trabalhei em compras três anos e pouco.
Depois, quando eu tive meu segundo filho, aí eu já estava no almoxarifado, quando eu voltei da licença maternidade, eles já tinham posto outra pessoa para fazer compras. Aí eu fiquei fazendo a parte de cadastro de fornecedores. Trabalhei na parte de cadastro de fornecedores e depois eu fui para a parte de faturamento. Quando tinha que mandar mercadorias para fora, aí tinha que tirar notas fiscais e eu fui fazer tudo isso, até setembro de 1990, quando foi feita toda a mudança. Nessa época já estava estruturando tudo, inclusive, no almoxarifado. O José Leonardo já havia saído, quem era o gerente nessa época era o Ciro Silva, que hoje é o superintendente do Consórcio Nacional ABC. E já estavam preparando para fazer aquela mudança toda, em que foram desmembradas as empresas.
Gestão financeira REESTRUTURAÇÃO
Foi a época que desmembrou a contabilidade para cada empresa, o financeiro. Foi sob a gestão do sr. Mário Grossi.. Nessa época nós trabalhávamos em 45 pessoas no almoxarifado. E cada um saiu
procurando onde poderia encaixar, onde podia ir. A gente sabia que
ia ser feito reestruturação, ia desmembrar, ia ter
dispensa, um punhado de coisa. E eu já tinha visto com o Departamento Financeiro, pois já tinha trabalhado uma época com a parte financeira. Eu já tinha conversado com a Fátima, aí ela me fez o convite e eu fui trabalhar no financeiro. No dia 4 de setembro de 1990 eu passei para o financeiro.
Aí eu já fui trabalhar com uma coisa completamente diferente. Era com a parte de mútuo.O mútuo é um tipo de caixa único. Todo o dinheiro do grupo tem um controle. Por exemplo, se a
Algar tem um recebimento, para esse dinheiro não ficar parado no banco ou fazer uma aplicação separada, então repassa para aquela empresa que tem o mútuo, naquela época era a CTBC, então era feito o caixa único. O que sobrava das empresas enviava para a CTBC, e o que faltava, precisava de partes de suprimento, então era repassado aqui. Daquilo tem um juro, correção. É como um empréstimo mesmo. Era como se fosse um banco. Ali era um banco que vai emprestar e receber empréstimo internamente, ali do grupo. Então, eu trabalhei um ano e pouco, dois anos. E do mútuo eu saí e fui para o contas a pagar.
E aí nessa parte de contas a pagar eu estou até hoje. Até então eu era funcionária da CTBC. No dia 11 de dezembro de 1991, essa parte de mútuo, essa parte financeira, de controle já do grupo passou para a holding Algar. O mútuo foi um dos serviços que foi passado para
a Algar, e eu fui transferida
para a Algar por esse motivo. Na Algar eu fiquei até 1998. Aí eu já estava fazendo o contas a pagar, que foi passado para outro departamento, por comodidade de recebimento de notas, da tramitação de documentos; foi para o CRA. E o CRA em março de 1999 abriu uma empresa prestadora de serviço, que hoje é a Space Tecnologia, e assumiu a parte de todo o serviço que era prestado pelo CRA, era o serviço de apoio.
CRA quer dizer Centro de Resultado de Apoio. A parte de administração do prédio, quem cuida da parte de manutenção, de pagamento, era tudo no CRA. Então esse CRA se transformou numa empresa, hoje é a Space Tecnologia e continua prestando esses serviços. E eu como era do contas a pagar eu continuei na Space fazendo o serviço de Contas a Pagar.
Por um determinado tempo eu saí do contas a pagar e fui fazer o faturamento da Space, fui trabalhar para a Space especificamente, mais ou menos um ano, depois voltei para compras de novo. Fiquei um tempo em compras e a pessoa que trabalhava em contas a pagar da Algar tinha que sair de férias, era uma pessoa só e não tinha como outra substituir. E a parte de tesouraria também, aí eu fui chamada para prestar serviço novamente na Algar. Eu fui substituir a Idalma na tesouraria e depois eu fiquei substituindo no contas a pagar. Fiquei quatro meses nessa substituição. Depois eu voltei na
Engeredes; a moça
que trabalhava lá saiu e o contas a pagar estava meio tumultuado. Eles contrataram o serviço e eu fiquei cinco meses organizando o contas a pagar. Agora em dezembro, eu retornei, voltei
para substituir de novo as férias da moça da tesouraria. Agora, com esse projeto que está acontecendo na parte de Centro Compartilhado, foram deslocadas algumas pessoas das empresas e pessoas-chave de departamentos para poder fazer essa transição, montar todo o processo para poder fazer essa mudança. E o rapaz de contas a pagar foi para esse projeto e eu fiquei no lugar dele.
Trajetória na CTBC Hoje olho para trás e vejo a empresa com uma satisfação muito grande, porque quando eu entrei, eu era adolescente. Eu tive minha maturidade dentro da empresa, meu casamento dentro da empresa e meus filhos lá dentro. E estou até hoje. Eu vejo assim: não consigo enxergar a minha vida se eu não tivesse trabalhado na empresa. Foi meu primeiro emprego. Eu não sei como é trabalhar noutro lugar. Nunca tive a experiência de trabalhar noutro lugar. Passei por várias mudanças na empresa, o que foi um aprendizado constante. A minha vida profissional dentro da empresa não teve uma rotina. Ela foi constantemente tendo uma forma, como um coringa. Era jogada em determinado lugar ali, e de repente sem estar planejando aquilo eu tinha que me virar para conseguir fazer aquilo. Era um aprendizado constante.
Eu não tenho escolaridade assim de formação. Tenho segundo grau completo. Fiz Magistério. Completamente diferente... mas tem alguma coisa a ver com a empresa é lógico, porque tem alguma coisa de magistério que você aplica no trabalho, mas a minha formação não era acadêmica, na forma que eu trabalho. Então, a minha escola, a minha faculdade, o meu curso acadêmico, foi a empresa.
O que eu sei, o que eu desenvolvi, o que eu aprendi, tudo, a minha vida, o produto de hoje do meu serviço foi a empresa que me ensinou, foi a empresa que me deu. Eu não consigo... se for
para parar assim e imaginar como seria a minha vida fora, se eu não tivesse trabalhado na empresa, eu não sei.
TECNOLOGIA Digitação Permaneci por 1 ano mais ou menos na digitação. Esse trabalho era o seguinte: tinha os interurbanos que eram feitos e então a telefonista preenchia na época o formulário; o código da localidade daqui, para onde era a chamada, o telefone que estava sendo chamado, contato integral do interurbano para gente saber de qual região era. Tinha o valor, a quantidade de minutos, tudo registrado. O que acontecia no interurbano era registrado naquela papeleta. A mão. Era uma fichinha amarela. Então preenchia aquilo ali, aí ia aqueles pacotes, separava por dia de interurbano. Classificava aquele pacote na bilhetagem e passava para a perfuração.
A gente trabalhava três horas, tinha intervalo de almoço e depois voltava, trabalhava mais três horas. Era umas máquinas bem barulhentas. As máquinas eram daquele sistema Roof, Maquinas de
perfuração Roof. Ela perfurava uma fita, você digitava. Como se fosse uma máquina de somar. Você ia digitando, aquela fitinha ia perfurando e aí
fazia aquela fita; o rolo ia depois para o CPD. Ali eles mandavam para IBM. A empresa ainda não tinha um banco de dados, um departamento de informática.
Então passava pelo escritório da IBM que tinha aqui em Uberlândia,
e eles passavam para cartões para poder fazer a leitura no computador. Um ano, um ano e pouco mais ou menos depois, começaram a implantar a parte de sistemas na empresa. Aí a
IBM colocou máquinas de digitação. Já não era perfuração, era
diferente.
As máquinas enormes, hoje seriam pequeninhas.
Então eram umas máquinas enormes, pareciam uma mesona de escritório, teclado
e digitava. Eram duas máquinas que trabalhavam eu e mais uma pessoa. Uma ficava de cá e outra de cá.
Numa bancada daquela trabalhavam duas pessoas. Fiquei mais ou menos uns três meses
e aí eu saí.
Bilhetagem No sistema de bilhetagem... passava para aqueles cartões e saía e ia para conta dos assinantes. E como tudo é manual, está sujeito a erro. E acontecia erro e o acionista
reclamava. Reclamava que era muito tempo, ou que
não tinha feito aquela quantidade de ligação, ou que não tinha ligado para aquele determinado número, que ele não conhecia.
Então ele preenchia um formulário que chamava-se RQ. Aqueles formulários de Reclamação... Agora
o Q eu não consigo lembrar o que era, o RQ. Lá vinha registrado o assinante, o telefone e tudo, e a reclamação dele, da conta de telefone. Aí a gente tinha que verificar, ir lá naquela bilhetagem, que aqueles bilhetes depois eram todos guardados em pacotes, separados por data e por localidade e guardados todos em prateleiras.
A gente tinha que ir lá, pegar aqueles
pacotes, procurar qual era o daquele assinante através de telefone e tudo. A gente tinha que fazer uma checagem. Aí conferia se era realmente aquele telefone, se não tinha sido alguma inversão de digitação, alguma coisa. Fazia uma verificação. Se estivesse errado fazia anotação do que devia ser devolvido, valor e tudo mais que tinha sido devolvido. Se não, a justificativa que estava tudo certo, tudo correto e devolvia aquilo. Isso era centralizado aqui em Uberlândia. Apesar de ter as outras regionais, era tudo centralizado aqui. Nas regionais, no atendimento, eles pegavam todas as reclamações,
mandavam tudo através de malotes para Uberlândia, a gente fazia a checagem e devolvia para eles.
Tudo era feito aqui, em Uberlândia. Os cálculos de todas as regionais eram feitos aqui também, ou só vinham os bilhetes depois de prontos para cá. Esses bilhetes vinham prontos das regionais para cá. Aqui a gente codificava. Eles preenchiam
o bilhete, a hora, o telefone e mandavam para cá e aqui a gente codificava. Cada localidade tinha um código alfabético e quando chegava aqui a gente colocava o código numérico. Eu fiquei nessa parte de reclamação, que era o setor de bilhetagem, que estava junto; aí eu permaneci um tempo. Dessa parte de perfuração eu fui para o departamento de cobrança.
COMUNIDADES PESSOAS
Alexandrino Garcia A primeira vez que eu vi o Sr. Alexandrino, foi logo que eu comecei a trabalhar na empresa. Porque a empresa era pequena, era
tudo aqui na João Pinheiro com a Machado de Assis. É o prédio que hoje é a 235. Reduzia-se ali.
Então todos trabalhavam ali. Todo mundo via todo mundo. Na hora de entrar tinha que fazer a filinha para bater o ponto. Todo mundo entrava. Na hora de sair descia aquela escadaria e todo mundo fazia fila para bater o ponto. Era todo mundo junto. A diretoria era ali embaixo. Quando a gente estava chegando, eles também estavam chegando. A gente tinha contato visual. A gente podia não ter assim contato de estar junto, de conversar e tal. Mas todo mundo conhecia todo mundo. E no final do ano sempre promovia festa de integração dos funcionários. Então eles participavam das festas. O Sr.
Alexandrino com a família, o Dr. Luiz, todos os funcionários. Não tinha separação de nível hierárquico, era todo mundo junto. Fazia aquela grande família. Ali celebrava uma missa, porque costumava ter celebração. Sempre tinha uma celebração.
Depois tinha música, tinha comida, bebida e os funcionários se divertiam.
As vezes que eu participei foi na Machado de Assis. Eu mesma não cheguei a ir, mas o pessoal ia lá na Granja Marileuza. Ele costumava fazer durante o dia a festa de confraternização lá na granja. Eu mesma não cheguei a participar. Participei aqui na cidade. Mas o pessoal que era mais antigo do que eu, comentava que ele fazia festas muito boas lá.
Pelo menos o que eu via dele era uma pessoa comum.
Ele não tinha nada que o distinguisse assim: "Esse é o dono".
Ou chegasse na porta e dissesse : "Esse aqui é dono e este aqui é o empregado".
Ele se mantinha assim de uma forma bem natural, de uma forma de uma pessoa bem comum. Não tinha nada assim de especial visualmente, que chamasse a atenção, que fosse assim uma pessoa imponente, que chegasse em determinado lugar e a pessoa já sabia: "Aquele ali é uma pessoa...". Ele era bem simples.
O Sr. Alexandrino era uma pessoa fácil de conviver. Ele era transparente. Quando ele chegava, aliás não precisava nem da gente ver. Quando ele vinha se aproximando a gente já sabia. Se ele estava bem ou se ele não estava bem. Porque o andar dele, a gente sabia que era ele que estava chegando. Ele tinha um jeitinho de andar assim que ele arrastava o pé, porque ele já estava uma pessoa mais idosa. Inclusive, hoje o Dr. Luiz me lembra muito ele. Quando eu vejo o Dr. Luiz andando no corredor, para mim só falta a cabecinha branquinha, é muitíssimo parecido com ele. Quando ele vinha chegando no corredor, a gente ouvia os passos dele e já sabia que ele estava chegando. E ele tinha um pigarreado na garganta um "hum, hum". Então, conforme o jeito do "hum, hum", que ele fazia, a gente já sabia como estava o estado de espírito dele. A gente já acostumava.
E ele era assim: ele chegava na sala e jamais entrava que não desse um bom dia.
Podia ele estar bem ou não, mas aquele bom dia... Ele chegava... e já estava de cabelo calvo, cabelo branquinho. Ele usava um boné, às vezes ele variava o boné. Quando ele ia viajar, ia participar de algum evento, alguma coisa, o bonezinho era diferente. Quando não, ele tinha um tradicional que ele usava. Ele gostava muito de usar
e usava sempre uma manga cumprida, sempre uma
jaqueta assim por cima. Não terno, uma jaqueta mesmo. Sempre andava assim. E ele entrava: "Bom Dia", passava pela sala e ia para sala dele.
Quando ele viajava... passava alguns dias longe da empresa, que era raro... geralmente ele viajava, mas ia hoje e voltava amanhã. As vezes gente estava esperando ele chegar daí a dois ou três dias. Nada, ele chegava rapidinho. Quando chegava cumprimentava pessoalmente. Chegava, pegava na mão. E a gente já tinha o cuidado de não deixar anel na mão. Porque era uma característica dele o aperto de mão. Ele dava um aperto de mão muito forte. Então eu me lembro que quando eu estava noiva, a aliança ficava marcadinha
nos meus dedos. A aliança não tinha jeito de eu trocar de mão. A gente não usava anel na mão direita. Usava na esquerda. Mas a aliança não tinha jeito. Quando ele chegava e dava o aperto de mão, os dedos da gente ficavam marcados. Era um aperto de mão forte. Forte mesmo. Ele transmitia bem a característica dele, a personalidade dele naquele aperto de mão.
Ele sabia tudo o que se passava. Não tinha micro, não tinha sofisticação de equipamentos e de nada , mas ele conseguia enxergar tudo o que estava se passando. Ele tinha uma visão muito grande, muito ampla de tudo aquilo... E ele mantinha um relacionamento com os funcionários muito grande. Se inteirava de tudo. Ele não tinha preguiça de andar, visitava todas as obras que estavam sendo feitas antes de ir para o serviço. Porque tinha muita construção, muita reforma, estavam construindo o prédio da 236 e ele subia nos andaimes, verificava a obra,
e largava todo mundo em polvorosa, porque onde ele passava ele sabia o que estava errado. E mandava desmanchar se não estivesse certo. E discutia com engenheiro, não tinha jeito. O pessoal morria de medo porque ele já estava
com a visão deficiente e tinha medo dele despencar lá de cima. Mas ele ia, subia nos andaimes e olhava mesmo. E era bobagem alguém querer impedir de ele ir em determinado lugar. Porque se ele botava na cabeça: "Eu vou ali, eu vou". E ele ia. Quem tivesse medo dele cair que acompanhasse, porque ele ia lá mesmo.
E quando ele ia para a empresa, ele já tinha feito a via sacra nas empresas, nos lugares onde ele achava que era ponto imprescindível conhecer. E o escritório dele era aberto para
qualquer um que quisesse conversar com ele. Ele nunca barrou ninguém, que falasse com a secretária:
"Oh, eu não vou atender fulano. Ou "eu não quero atender ligação de quem quer que seja". Ele estava sempre pronto a atender quem chegasse, que fosse funcionário, que tivesse qualquer problema particular ou da empresa, ele sempre atendeu todo mundo. O escritório dele era sempre aberto.
E o interessante é que enquanto eu estava lendo os contratos para ele, ele tinha uma mania. Por causa do problema dele de visão, tinha uma luminária bem em cima. Para ele não podia ter claridade. A claridade tinha que ser luz amarela. Quebrada a luminosidade. Por baixo, na mesa dele, tinha um papel pardo e a luminária com uma lâmpada amarela. E eu
começava ler para ele, e lia contratos e ficava horas lendo. E ele botava a mão assim e ficava quietinho, cochilando eu imaginava, mas continuava.
Ele ficava quietinho. Eu
lia, lia, lia, depois parava. Aí ele ia comentar comigo coisas que eu tinha lido e que eu já não estava mais me lembrando direito daquilo que eu tinha lido, porque eu tinha lido tanta coisa, que eu não conseguia mais lembrar daquilo tudo.
E ele virava e dizia assim: "Aquele item assim assim que está no contrato, lê de novo para mim".
E eu ficava:
"Puxa vida. Eu estava achando que ele estava cochilando e ele estava é muito acordado.
E bota
acordado nisso. Ele tinha uma mente privilegiada porque ele pedia determinadas coisas, ou ele comentava alguma coisa, a gente ficava: "Gente o que será isso que ele está falando?" Era a gente puxar pela memória e lembrar daquilo que era coisa que tinha passado e ele estava lembrando daquilo. A gente imaginava que ele nem lembrava daquilo mais, que ele já tinha esquecido. Ele tinha uma cabeça muito boa. Privilegiada mesmo.
Luiz Alberto Garcia Na empresa dessa época, o Sr. Alexandrino era mais presença física. O Dr. Luiz não. Ele já viajava mais, ficava mais fora, negociando, vendo contratos. Ele não era tão presente quanto o Sr. Alexandrino. Mas o sistema dele era o mesmo que o do Sr. Alexandrino. Ele recebia também todos, também tinha uma... Só que com o Sr.
Alexandrino eu tinha um contato maior, com Sr. Wilson
e com Sr. Alexandrino. A parte do Dr. Luiz era mais o Celso Machado quem cuidava. A gente ia, levava documento para ele assinar, atendia telefone, fazia reservas, coisas assim. Mas quem assessorava mais o Dr. Luiz era o Celso.
LOCALIDADES Uberlândia Uberlândia era completamente diferente do que é hoje. Muito diferente. A Praça Sérgio Pacheco tinha armazéns. Ali era a Mogiana. Hoje é a Fepasa, no alto da cidade lá é o Tibery. Bem no alto, o Tibery. Ela era aqui no centro da cidade, na João Pessoa. Então, ali tinha um viaduto e por baixo passava os trens de ferro, tinha toda a linha de ferro. A Fepasa era ali. Tinha os trens de carga, descarga e de passageiro. Era tudo ali na Praça Sérgio Pacheco. Eu me lembro bem disso daí. Inclusive os meus tios... quando nós viemos da fazenda para cá nós moramos junto com os tios durante três meses, e a casa era onde é a New Color. A New Color é na esquina da João Pinheiro com a praça Sérgio Pacheco, em frente ao hospital do Triângulo. Então eles moravam ali. Era uma casa grande, enorme e nós ficamos com eles três meses, até a gente alugar casa, estabelecer e a gente mudar. Então nós ficamos lá três meses. Eu lembro bem que à noite a gente dormia, acordava quando o trem passava. As vidraças, eram aquelas vidraças grande, hoje já reformou a casa, e quando passava o trem, sacudia tudo. Era um barulhão, aquela coisa toda. A gente sabia direitinho a hora que o trem passava. A hora que não. A casa ficava bem do lado do muro.
MEMÓRIA Futuro Pelo menos o que eu espero é que ela cada vez mais siga exatamente o que é a logomarca dela que é a seta rumando para o infinito. Que ela vá cada vez mais, que ela brilhe mais, que para mim é um motivo de satisfação muito grande quando eu abro um jornal, uma revista, ou quando eu vejo na televisão uma reportagem falando das conquistas, não só da CTBC, mas como de qualquer outra empresa do grupo. Porque se existe uma outra empresa do grupo é porque primeiramente existiu a CTBC. Ela é a mãe de todas.
Eu não consigo ver um futuro, que ela não seja uma vitoriosa. Quando eu entrei na empresa, ela era pequenininha. Era bem modesta. Hoje a gente vê. Hoje tem
27 anos dessa trajetória e se a gente parar para pensar friamente o desenvolvimento que teve, da época que eu entrei, 1977 para hoje, 2001, é uma coisa assim vertiginosa.
Uma coisa que se parar ali para pensar mesmo como foi, a gente fica assim até meio de boca aberta. Pensar como cresceu tanto, desenvolveu tanto, chegou ao nível de tecnologia. Porque quando eu entrei na empresa era tudo mecânico, a central, a telefonia toda. Hoje não se faz mais bilhete manual. Acho que o pessoal que está
trabalhando hoje nessa área, se falar nisso vão dizer "o que é isso?". Não conhecem mais. Hoje é tudo transmissão de dados, a gente recebe uma conta hoje, já tem o interurbano que você fez no mês passado; antes não, você levava meses para receber. Tanto que originava muita reclamação por isso, o cara já tinha esquecido que ele tinha feito aquela ligação, ele tinha esquecido que ele tinha feito aquilo, aí você tinha que provar para ele, o bilhete está aqui. A ligação está aqui, o registro está aqui. Hoje não, é tudo rapidinho.
Eu costumo dizer hoje na empresa que eu trabalho, e sempre falei, que sempre
quando entra uma pessoa nova na empresa eles costumam apresentar, mostrar a empresa. Eu costumo dizer sempre: "Sejam muito bem-vindos e boa sorte". Boa sorte, porque naquele momento estou desejando a ela boa sorte de descobrir tudo que eu descobri e que ela aproveite as oportunidades da forma que eu aproveitei e que ela trabalhe cada vez mais. É o que eu diria se fosse para falar assim abertamente, seria o seguinte: "Seja honesto consigo mesmo e com a empresa, aproveite tudo que ela está te oferecendo e aproveite sua capacidade". Porque eu acho que fora isso...
Centro de Memória Com certeza foi uma oportunidade eu poder de alguma forma agradecer o que eu recebi. Porque eu sempre conto a história, a trajetória da empresa. Tem alguns funcionários novos que tem interesse de saber, alguns não. Mas ainda tem alguns que quando entram na empresa às vezes comentando assim, eu falo: "Não, eu já tenho muito tempo".
"Mas que tempo você está aqui ?". "Tenho 27".
"Puxa vida, uma vida. Como era a empresa, como você está aqui até hoje? O que aconteceu?". Tem curiosidade de perguntar. Aí eu conto a história, eu nunca tive preguiça de contar, as vezes eu sento na hora do cafezinho, na hora do almoço. Aí eles sentam e começam a conversar ali e eu gosto de contar a história, ainda bem que o Dr. Luiz teve a idéia, a brilhante idéia de registrar, porque eu acho que é muito triste uma pessoa passar pela vida ou alguma coisa acontecer e que ela não tenha um registro do seu passado. Porque o presente só é o presente porque existiu um passado, e a gente é hoje,
o presente hoje é o espelho do passado. Se foi um passado ruim, vai ser um presente ruim. Se foi um passado bom, vai ser um presente bom. Então hoje, o meu presente é ótimo, eu só tenho a agradecer esse tempo de vida que eu passei dentro da empresa, do tempo de trabalho. Trabalho duro, porque teve época que foi bem duro, muito exigido, mas eu acho que valeu a pena, porque o carro só canta quando ele é pesado. Se ele está ali sem carga nenhuma ele roda normal. Eu acho que são as provações que vêm na nossa vida, as dificuldades que vêm na nossa vida que fazem a gente crescer, tanto profissionalmente como pessoa.Recolher