PESSOAL Nome e nascimento Meu nome é Eurípedes Rocha Pereira. Eu nasci em Tupaciguara e minha data de nascimento é 20 de agosto de 1950. FAMÍLIA Pais Meu pai é Joaquim Rocha Machado e minha mãe é Sebastiana Lima Pereira. Meu pai era lavrador, e minha mãe, dona-de-casa. Meu pai traba...Continuar leitura
PESSOAL Nome e nascimento
Meu nome é Eurípedes Rocha Pereira. Eu nasci em Tupaciguara e minha data de nascimento é 20 de agosto de 1950.
FAMÍLIA Pais
Meu pai é Joaquim Rocha Machado e minha mãe é Sebastiana Lima Pereira. Meu pai era lavrador, e minha mãe, dona-de-casa. Meu pai trabalhava em fazendas, como lavrador, mexia com roças de arroz, feijão, milho, essas coisas, mas não era proprietário. Minha mãe trabalhava de lavadeira. Ela lavava roupa para fora para ajudar meu pai. Nós morávamos em Tupaciguara. Na cidade mesmo. Éramos uma família bem unida
Avós Eu conheci apenas os meus avós maternos. Eles eram de Coromandel. Fica perto de Abadia dos Dourados, Minas Gerais. Eles também trabalhavam na terra. Os meus avós paternos morreram quando eu era muito pequena. Não conheci.
Irmãos Nós éramos em oito filhos.
Casamento Eu não fui casada no papel. Eu tive um relacionamento de muitos anos e tive meus filhos. Hoje eu sou sozinha, crio os meus dois filhos sozinha.
Filhos Matheus com 12 anos e a Thalita com 8. O Matheus, com 1 ano e 7 meses, teve meningite. Ele ficou com deficiência auditiva, por isso eu tenho um trabalho maior com ele. Foram 4 anos com fonoaudiologia todos os dias. Eu tinha que levar, antes eles ficavam em hotelzinho e tal. E a empresa me ajudou muito nessa época, foi a época em que ele ficou hospitalizado muitos dias e eu tive que ficar com ele, porque ele começou do zero de novo. Na época, eles me deram esses dias de licença para eu pagar com hora extra depois. Eles me deram uma ajuda muito grande nesse sentido.
Casa de Infância Era uma casa muito simples, nós éramos muito pobres. Tinha cozinha, sala e um quarto. Na sala tinha um banco de madeira, na cozinha tinha um fogão de lenha e uma prateleira e, no quarto, tinham quatro camas. Era um quarto apenas.
Primeira infância A gente brincava muito. Eu gostava muito de brincar com as crianças, eu andava de bicicleta, eu subia nas árvores, vivia caindo das árvores. Eu apanhei muito da minha mãe, porque eu era muito levada, muito capeta, eu fugia de casa, uma infância assim bem da pá virada. Nós viemos de Tupaciguara para Uberlândia quando eu tinha 8 anos de idade, porque o meu avô materno morava aqui. O motivo da mudança foi a falta de recursos mesmo. Meu pai adoeceu, ele teve problema de cabeça, ficou meio maluco. Não é... para falar a verdade, ele sumiu, desapareceu. Foi quando minha mãe veio para Uberlândia, porque aqui estava meu avô, o pai dela. E eles ajudaram a criar a gente. Meu avô morava em um sítio no bairro Saraiva. No início a gente morava lá, depois nós fomos morar em outra casa.
Eu fui morar com a minha tia, porque minha mãe não tinha muitas condições. Com 10 anos minha mãe me doou para uma família, que morava ali na Machado de Assis. Ela era diretora de escola, a dona Edna, e o marido dela era motorista de caminhão. Minha mãe não tinha condições de cuidar da gente, então ela me levou até a casa da dona Edna e falou: "Olha, a senhora toma conta dela." Aí eu fui morar com essa senhora para estudar e para ficar aqui na cidade. Eu já tinha 10 anos, quer dizer, eu tinha que estudar, era eu e minha outra irmã. Foi lá que eu passei o restante da minha infância, da minha adolescência e a mocidade, praticamente. Ali eu estudava, mas também trabalhava, tomava conta da casa. Minha mãe voltou a morar na roça. Ela tinha mais três filhos pequenos e um que já estava bem mocinho. Ele foi tomar conta da fazenda e minha mãe foi morar com ele, Eu via a minha mãe de vez em quando, de seis em seis meses.
Eu tomava conta da casa porque lá a senhora trabalhava o dia todo. Então eu arrumava a casa, eu cozinhava, eu só não lavava roupa, mas o restante eu fazia tudo. Na casa só tinha uma menina de 12 anos, a mesma idade que eu. Eu acordava às 6:00 horas. Me acostumei, porque hoje eu levanto 5:30. Não reclamo.
Eu acho que tem certos momentos na vida da gente em que a gente não tem escolha, não é? Então, eu aceitei, porque o meu objetivo era estudar, ser alguém. E se eu fosse morar na roça, por exemplo, talvez eu não teria estudado o que eu estudei, não teria sido o que eu sou hoje.
EDUCAÇÃO Primeira escola
Em Tupaciguara, eu estudava em uma escola pública, chamada Maria Conceição. Eu não me lembro muito bem das passagens na escola, porque eu estudei lá acho que foi um ano só. Depois eu mudei para Uberlândia.
Formação escolar Eu fui estudar no Bueno Brandão, uma escola pública, em Uberlândia. No início, eu estudava de manhã e, à tardezinha, em casa. Depois que eu comecei a trabalhar nessa casa, aos 12 anos, eu comecei a estudar à noite. Sempre estudei no Bueno Brandão. Eu chegava e estudava, geralmente eu estudava até 1:30, 2:00 horas da manhã. Era o meu horário de estudar. Depois eu fui para o Museu, que era uma escola estadual também, e estudei lá até o 3º colegial. Eu sempre tive uma perspectiva muito boa para a minha vida. Eu sempre pensei em estudar, porque eu sempre gostei de estudar. E eu pensava que a única forma de eu sair daquela vida, e ter uma vida melhor, era através do estudo. Então, eu me preocupei muito com isso.
CORPORATIVO Ingresso na CTBC
Entrei na CTBC quando eu tinha 20 anos. Foi o meu primeiro emprego. Olha, foi uma emoção muito grande, porque trabalhar era uma coisa com a qual eu sonhava. Uma amiga minha, que trabalhava no setor de digitação, arrumou esse emprego para mim. Era 1973. Eu comecei a trabalhar no dia 22 de abril e eu fui registrada no dia 2 de maio. Foi como se eu tivesse ganhado na loteria praticamente, não é? Porque eu começava uma nova vida ali, e eu me dei totalmente para isso.
CTBC Digitação
A digitação funcionava na rua Machado de Assis, esquina com a João Pinheiro, 620. Na digitação eu trabalhava 6 horas, então eu tinha tempo de cuidar da casa também. Eu fazia tudo. A gente digitava os interurbanos, porque era o serviço medido. Era o seguinte: as telefonistas faziam as ligações e havia os bilhetes. A gente fazia a digitação desses bilhetes para a cobrança na conta telefônica. Nesses bilhetes constavam o número do telefone, os minutos falados e o local para onde foi feito o interurbano. O cálculo já vinha feito, porque havia outras pessoas que faziam. Era um ambiente de trabalho muito gostoso. Só tinha mulher e as máquinas, tipo uma máquina de escrever quase, hoje a gente acha até esquisito. E o nosso chefe, porque na época era chefe, era homem. E a gente tinha um ambiente muito familiar, nós éramos muito unidas. Só que eu trabalhei nesse setor praticamente 15 dias só.
Faturamento Eu fui substituir uma colega de trabalho no setor de faturamento, para mexer com contratos de assinantes. Antigamente chamam-se assinantes. Então a gente fazia o controle desses contratos para as ações, porque vendiam os telefones e o assinante tinha direito a ações, então a gente fazia esse controle. Eu trabalhei durante um ano no faturamento. Eu estava fazendo o colegial e pretendia fazer uma faculdade, só que eu pensava em fazer odontologia. Aquele trabalho era apenas para eu conseguir um emprego melhor, e eu pensava em fazer odontologia. Prestei o vestibular uma vez, mas não consegui passar. O curso era muito caro e eu não tinha condições. Então, eu nem tentei novamente e fiz Administração de Empresas. Quando eu trabalhava no faturamento, a sala do nosso presidente hoje, o Dr. Luiz Alberto Garcia, ficava ao lado, separada por uma divisória de vidro. Então, como ele não tinha secretária, eu é que comecei a atendê-lo e passei a ser secretária dele. Logo depois, nós mudamos lá para a Algar, no Bairro Industrial, e eu já fui junto com ele, como secretária. Eu fui a primeira secretária dele e trabalhamos juntos durante três anos.
Expansão A gente tentava fazer tudo ao mesmo tempo, não tinha muitas condições para isso, não tinha tecnologia, era tudo por telefone, então, era muito difícil. Mas, ao mesmo tempo, eles davam muita segurança para a gente, no sentido de que "amanhã vai acontecer coisa melhor, amanhã...". A gente tinha muita confiança na empresa, muita confiança na capacidade deles, porque eles tinham uma visão fantástica.
Ambiente de trabalho Antigamente, a CTBC era uma empresa muito fechada. Por exemplo, nós tínhamos horário de entrada às 7:30 da manhã em ponto. Se atrasasse um minuto, você não entrava. Nós tínhamos uniforme: saia preta e blusa branca. Se a blusa tivesse uma florzinha de outra cor, você não entrava. O sapato tinha que ser preto e nada mais. Havia os porteiros, não é? O Sr. Arcelino era um ditador. A gente nem podia ir na porta da empresa com namorado. Se chegasse com namorado de carro tinha que se despedir sem dar beijinhos. Mas quem controlava tudo, na realidade, quem fazia as normas da empresa, era a dona Ophélia, esposa do Dr. Luiz Garcia. Ela é quem impunha os uniformes, a cor. A gente tinha que usar saia abaixo do joelho e tal. Havia normas assim, que era ela quem ditava. Eram normas super-rígidas, que a gente chegou num ponto de começar a confrontar tudo isso. O ambiente de trabalho tinha a mesma rigidez. Os chefes tinham as exigências deles e não tinha aquele diálogo, aquela liberdade. Tudo era muito corrido. Antes, os diretores não tinham tanto tempo para dar atenção para gente. A gente entrava na sala, falava o que tinha para falar e pronto. Depois, só tinha o retorno. Eles também não ficavam dentro do escritório, eles ficavam só fora, olhando a mão-de-obra nas plantas mesmo, na rua. Então, a gente tinha contato só de manhã e à tarde, praticamente. E todo o trabalho do escritório era a gente quem fazia. Por exemplo, nós tivemos uma época em que a gente tinha um papelzinho no qual o chefe anotava o horário de você ir no banheiro e o horário de voltar. Você não podia demorar mais do que certos minutos. Então, você não tinha liberdade, na realidade. A gente suportava, porque precisava do emprego, é lógico. Mas a convivência não era muito agradável não, eu prefiro mil vezes hoje do que naquela época. Mas eu acho que é tudo a época mesmo, não é? Eu acho que naqueles tempos exigia esse tipo de coisa. Foi quando eu resolvi mudar.
Saída da CTBC Eu fui para o almoxarifado, fiquei lá no controle de notas fiscais durante um mês, aí eu pedi demissão. Eu saí da CTBC muito satisfeita. Na época eu estava um pouco magoada com essas coisas que tinham acontecido. Era uma mudança que eu queria fazer e eu acho que toda mudança é benéfica. Mas não ficou nenhum ressentimento. Eu fui chamada para trabalhar no Instituto Vallée, que é uma indústria de produtos veterinários, como secretária, no departamento de vendas. Trabalhei lá por cinco anos. Foi uma experiência muito boa, porque o Vallée era o contrário de administração da CTBC. Era uma empresa muito aberta, que tinha tudo lá dentro: assistente social (que na CTBC não tinha), dentista, médico, restaurante. E os nossos chefes eram muito abertos, você tinha total liberdade lá dentro da empresa. E foi um choque de pensamento, porque eu saí de uma empresa totalmente fechada e fui para uma empresa que era o contrário. Então, para mim, foi ótimo, foi uma experiência fantástica. Mas, depois, o Vallé fechou aqui em Uberlândia e foi para Montes Claros.
Volta à CTBC Eu saí do Vallée dia 30 de outubro de 1983 e comecei a distribuir meus currículos novamente. Nessa época eu já estava fazendo faculdade, e mandei meu currículo para a CTBC novamente. Eu tinha um cunhado que trabalhava no almoxarifado com o José Leonardo. Ele entregou o meu currículo para o José Leonardo e, como ele me conhecia, ele me chamou para trabalhar com ele novamente no departamento de compras da CTBC.
Departamento de compras Eu fui trabalhar no departamento de compras. Eu comprava para todas as empresas do grupo na época. Tinha a ABC Oliveira, tinha a empresa lá em São Paulo de aviões, tinha o Consórcio Nacional ABC, ABC Inco. A gente tinha um mapa que tinha que cotar com oito fornecedores, tudo por telefone. Eu ficava no telefone o dia inteiro, e a gente tinha que dar conta, nós tínhamos que dar conta de fazer todas as compras em um período. Nós tínhamos as requisições e a data para entregar aquele material. Nós tínhamos aqueles fornecedores que a gente geralmente cotava, cada produto tinha os seus fornecedores específicos. Chegava a requisição da empresa, via malote, e a gente preenchia o mapa de cotação com o produto solicitado. Por exemplo, para a ABC Oliveira eu comprava chapas de Aço, chapas para construir mesas, portas, janelas, ferragens, ferros. Eles solicitavam com as especificações que eles necessitavam, e a gente preenchia um mapa com os produtos e fornecedores. A gente ligava para os fornecedores e via os preços. Depois, nós passávamos para o Augusto, que, na época, analisava as cotações e as repassava para o José Leonardo (o nosso chefe) vistar, para dar o ok das compras. No final, a gente ligava novamente para o fornecedor confirmando o pedido e ele entregava no local solicitado. Às vezes tinha problema de prazo de entrega, que não tinha material. Tinha época, por exemplo, que o fornecedor não tinha estoque de ferro. Tinha que esperar, e, às vezes, isso causava problema, reclamação. Mas eram coisas que nós não tínhamos como evitar. E a gente fazia todo o tipo de material, tanto para esmagadora de óleo de soja, quanto para empresa de telefonia. Material de construção também, porque a CTBC, o grupo, estava sempre construindo em algum lugar, então, o material de construção todinho era a gente que comprava. Os engenheiros mandavam as especificações e a gente comprava o material. Tudo pelo mesmo procedimento, porque na época não tinha computador, não tinha nada, era tudo na mão. Tudo funcionava nas dependências do almoxarifado lá na Algar, no industrial, onde é o arquivo hoje, a Space, o arquivo Cedoc - era naquele local onde a gente trabalhava. Era um almoxarifado central para todas empresas do grupo. Aliás, o almoxarifado em si era só da CTBC, porque o material era entregue na própria empresa. Mas o almoxarifado da CTBC era para a CTBC como um todo, para as regionais, porque a gente comprava também para as regionais. Era tudo centralizado. As compras também.
Controle patrimonial Eu saí em 1991 do almoxarifado, antes da informatização. A empresa, até então, ela não tinha um controle patrimonial, quer dizer, a empresa não sabia o que tinha na realidade de mobilizado, de imóveis, de tudo. Então nós formamos uma equipe, com um novo coordenador, o Cid Silva, e fizemos o projeto do controle patrimonial, ou seja, os levantamentos do que a empresa tinha. O processo levou uns 5 anos, entre levantamentos, concretização do projeto e emplaquetar tudo. Foi um trabalho muito interessante. Um trabalho que ninguém conhecia. Ninguém sabia o que era um controle patrimonial, nós não tivemos treinamento. Nós visitamos todas as empresas aqui de Uberlândia, Rezende, Universidade, para ver como eles tinham feito o trabalho deles. Foi por aí que nós montamos o nosso trabalho, mas de uma forma diferente. Foi uma oportunidade que nós tivemos, eu e os meus companheiros, de novidade, de um trabalho novo, de um crescimento profissional. Porque eu acho que tudo que a gente faz, a gente tem que visar o nosso crescimento profissional, o nosso conhecimento, porque é uma coisa que ninguém tira da gente. E, como era um trabalho novo, as pessoas valorizavam mais também, elas tinham uma expectativa muito grande. Demorou 4 ou 5 anos, por aí. Foi um trabalho muito grande. A empresa tem 273 localidades, tinha torres. É um ativo muito grande que a empresa tinha, e ela não tinha conhecimento de nada. Teve que levantar até cadeira, mesa, os imóveis, torres, centrais telefônicas, tudo, tudo. O resultado foi usado assim: por exemplo, havia muito imóveis da CTBC que ela não sabia que tinha, e que depois foram sendo utilizados para construir centrais telefônicas, torres hoje de celular. Outras centrais analógicas, que muito velhas, depois foram sendo trocadas, digitalizadas. Foi utilizado também para fins de seguro. Porque os imobilizados da empresa, as centrais telefônicas, não tinham seguro. A partir daí a gente começou a fazer o seguro. Se acontecia algum sinistro, a gente tinha como avaliá-lo e saber aonde tinha sido, como tinha sido, quantas linhas tinham. Na realidade, isso serviu como uma ferramenta de gestão.
Reestruturação Isso já era o momento em que o grupo passava por uma reestruturação muito grande. Foi a época em que o Dr. Luiz trouxe o Mário Grossi. Para mim foi a maior mudança que a CTBC teve até hoje. Porque, até então, a CTBC era uma empresa muito familiar, com toda a família envolvida, tanto por parte dos Garcia quanto por parte da dona Ophélia. E, através dessa reestruturação, acabaram com as mordomias. Por exemplo, havia muitas empresas que a CTBC financiava a permanência delas no mercado. E chegou em um ponto que a CTBC não agüentava mais isso. Ela tinha que tomar uma postura senão era ela que não ficaria no mercado. Foi nesse momento que aconteceram essas mudanças, como o fechamento de algumas empresas que estavam dando prejuízo. O Sr. Mário Grossi fez toda a mudança, quer dizer, foi uma reestruturação muito forte na empresa. Muita gente foi demitida e a empresa ficou realmente mais enxuta, uma empresa mais voltada para o próprio negócio dela.
Qualidade Aí a gente começou a mexer com normas internas, nós começamos a descrever as normas internas da empresa. Eu fui para o financeiro trabalhar em contas a pagar, controle de notas, várias atividades no financeiro. E a partir daí começou já o objetivo da ISO 9002 e eu fui convidada para trabalhar nesse projeto. Eu comecei como monitora da qualidade dentro do meu centro de resultados, descrevendo normas e instruções de trabalho de cada atividade, porque tinha "n" atividades. A gente não sabia o que as pessoas faziam realmente, não tinha como o coordenador gestionar. Então começamos a descrever. Eu fazia as minhas atividades dentro do centro de resultados e, ao mesmo tempo, eu trabalha como monitora da qualidade. Foi a primeira vez que empresa enfrentou esse desafio da qualidade. Ela começou a sentir a necessidade de ter o processo de qualidade em si, de começar a aculturar as pessoas, a fazer certo da primeira vez para não ter retrabalho, porque isso também é uma forma de diminuir custo. O trabalho foi muito árduo. A gente trabalhou muito descrevendo todas as atividades das áreas e, a partir daí, nós começamos a escrever as normas para cada atividade, as instruções de trabalho. Começamos também a estudar a norma ISO 9002, cada item da norma, a fazer os treinamentos e a treinar as pessoas. Dentro de cada item da norma havia um procedimento que a gente tinha que escrever dentro da realidade da CTBC, além de fazer o manual da qualidade. Tudo isso demorou, foi um trabalho muito grande e, ao mesmo tempo, muito bom, muito gratificante, foi um aprendizado excepcional. Quando veio a notícia da certificação foi o dever cumprido. Aquela sensação de que você conseguiu o seu objetivo, conseguiu realizar aquela meta que a gente tanto esperava. Foi uma sensação muito gostosa, muito boa mesmo, foi um alívio. Hoje as pessoas dão mais valor a esse tipo de coisa. No início foi muito difícil, as pessoas não davam valor a normas, elas queriam fazer da forma que elas achavam que deveriam fazer. E o aculturamento é o mais difícil, a gente colocar na cabeça das pessoas que elas têm que fazer de acordo com o que a empresa está solicitando, e não porque ela acha que está certo fazer. Então, esse foi o trabalho mais difícil que a gente teve. Hoje as pessoas já estão mais aculturadas, aceitando mais, parece que elas já estão mais engajadas nisso. Com essas mudanças, as pessoas que não conseguiram se adaptar, automaticamente saíram da empresa. Hoje essa cultura já está mais arraigada nas pessoas.
Fluxo de caixa O controle de mútuo é um fluxo de caixa do grupo. Por exemplo, se a Space vai pagar alguma coisa para a CTBC, ela paga através do mútuo. Seria como um banco entre as empresas que é controlado pela Algar. Porém, cada empresa tem o seu controle. Havia várias despesas que eram trocadas através apenas de um documento, você pagava uma empresa do grupo através de um documento e era debitado ou creditado na Algar. É como se fosse uma caixa de compensação.
Apoio administrativo Em 1999 ou 2000 eu fui para a área de apoio administrativo, que é onde a gente administra todos os contratos de prestação de serviço da empresa, como limpeza, recepção, vigilância, o pool de veículos e administração de infra-estrutura dos prédios. Eu e o Marcílio trabalhamos lá. É o que a gente faz agora.
O meu trabalho o dia todo é administrar as pessoas, então tem diversos conflitos, diversos problemas. Tem a vida pessoal também. Eu tenho dois filhos hoje. Às vezes eu tenho que sair para levar em médico, para ir na escola e tal, mas a gente tem essa liberdade, esse jogo de cintura. A gente trabalha 8 horas diárias e eu chego na empresa 7:00 da manhã. Saio 11:30 para buscar meu filho na escola, talvez até antes, e à 1:00 hora eu estou de volta. Saio novamente às 5:30, às vezes a gente sai mais tarde também, dependendo da necessidade. Lá na CTBC a gente fala assim: nós mudamos hoje de manhã, à tarde você está mudando tudo de novo. É uma mudança contínua, de layout. A gente não sabe amanhã o que a gente vai fazer, onde a gente vai estar. É essa expectativa constante.
Clientes Antigamente era assinante, era aquele que comprava. Como a empresa era um monopólio, então ele comprava o telefone, a gente prestava o serviço para ele e pronto. Hoje não, hoje a visão que a gente tem de cliente é que nós estamos aqui para servi-lo. Nós não estamos aqui apenas para resolver o problema dele, nós estamos aqui para descobrir o que ele quer. Além de resolver o problema que ele possa ter, procurar soluções para ele, dar soluções para o nosso cliente e descobrir coisas que ele vai precisar talvez no futuro, que vai resolver o problema dele no futuro também. O Dr. Luiz sempre fala nas reuniões que o nosso cliente é um Deus, que nós temos que vê-lo como Deus, e nós temos que tratá-lo assim. Nós não respeitamos Deus? Nós não amamos a Deus? Então, nós temos que ter essa mesma postura com o nosso cliente, porque ele é quem paga o nosso salário. Ele é quem faz a sobrevivência da empresa. Nós temos que ter essa postura para com o nosso cliente. Nós temos que respeitá-lo e procurar ajudá-lo no que for possível, e não fazer tudo isso por obrigação, mas com prazer e com amor acima de tudo. E eu acredito que o cliente reconhece isso de algum modo. Nós temos muitos feedbacks positivos, mas sempre tem aqueles clientes não satisfeitos também. Mas eu acredito que a maioria dos clientes não sairia da CTBC por nada, que realmente são fidelizados. E a nossa empresa visa muito a comunidade. Ela tem muitos trabalhos com crianças, como o Projeto Criança. Hoje em dia o mercado visa muito a empresa cidadã e o cliente está olhando isso. E a CTBC é uma empresa cidadã. É uma troca, não é? É a responsabilidade social. Eu acredito que hoje as pessoas estão mais humanizadas e isso encanta realmente. Tem muito cliente que prefere a CTBC e às vezes falam assim: "A CTBC é uma empresa regional, é lógico que eu vou valorizar uma empresa regional, uma empresa que ajuda a nossa sociedade". Eu acredito que além do serviço que a CTBC presta, a tecnologia, o cliente vê isso na CTBC.
Associados O que eu diria para um associado que está chegando agora na empresa é que é muito trabalho, muita responsabilidade e, principalmente, comprometimento. Eu acho que isso é fundamental para o sucesso na empresa e para galgar um lugar melhor na empresa, porque algumas pessoas tem oportunidade e outras não. Eu acho que, dependendo do lugar onde você está trabalhando, você tem as oportunidades. Eu acho que é fundamental o comprometimento, porque através dele você vai procurar fazer um trabalho melhor, você vai procurar vislumbrar a empresa de uma forma diferente, vai ter mais amor pela empresa. Eu acho que nós que trabalhamos desde o início, o amor que a gente tem pela empresa é muito grande e a gente, às vezes, verifica que as pessoas hoje não têm esse amor, eles vão ali para ganhar o dinheiro deles e pronto. E não é isso. Eu acho que faz parte da vida da gente, afinal de contas, o maior tempo da vida da gente é dentro da empresa. Então, a gente tem que procurar fazer o melhor possível para o crescimento da empresa e, automaticamente, o crescimento da pessoa que está ali. Eu desejo muito boa sorte para essas pessoas, e o que eu digo para elas é que realmente elas estão trabalhando na melhor empresa aqui de Uberlândia.
COMUNIDADES Alexandrino Garcia
O Sr. Alexandrino não ficava muito na empresa, ele ficava mais nas obras, na rua, olhando os empregados na rua, andando de caminhão, instalando telefone, ele não ficava muito na empresa. Então, o contato que a gente tinha era só de manhã, às vezes, à tarde. O Sr. Alexandrino não gostava de ver ninguém parado. Se ele chegasse e visse a gente conversando com alguém ele já perguntava: "Você não tem o que fazer?". E o pessoal o via e saía correndo. Era uma pessoa assim, dinâmica, uma pessoa que não parava, e que não conseguia ver ninguém parado também. Todo mundo morria de medo dele. Justamente por ele ser uma pessoa assim, ele chamava atenção de quem fosse. No entanto, naquele episódio chato com o Dr. Luiz, o Sr. Alexandrino chegou para ele e falou assim: "Eu acho que antes de você tomar qualquer atitude você tem que saber realmente o que está acontecendo". E eu achei que ele foi muito sensato, ele foi muito humano. Em várias outras ocasiões ele teve algumas atitudes assim, muito bonitas, muito humanas. O Sr. Alexandrino nos ensinou a enxergar, ele sempre enxergou muito longe, ele sempre viu as coisas acontecerem, ele vislumbrava o futuro. E isso era uma coisa que ele passava para a gente também.
Luiz Alberto Garcia Ele sempre teve muito respeito pelas pessoas, era uma convivência muito boa. Mas teve uma passagem quando eu era secretária do Dr. Luiz. Todas as regionais passavam informações para gente através de telefone, sobre todos os serviços medidos nas regionais. Então a gente pegava os números desse serviço medido e passava. O Dr. Luiz fazia todo o controle, o Sr. Alexandrino também, através dessas informações por telefone. Uma vez, o técnico de Ituiutaba me passou uma informação que não estava correta. Eu liguei para ele para confirmar. Ele me disse que estava correta, e eu passei para o Dr. Luiz. Aí, o Dr. Luiz achou aquilo muito esquisito, o número e tal, e ligou lá. Só que o técnico deu um outro número para ele. Aí ele veio me chamar a atenção, me chamou de burra e eu fiquei assim... Porque se há uma coisa que eu não admito é a pessoa me chamar atenção, gritar comigo e me chamar de burra. E aí eu tive uma atitude assim, não muito correta com ele. Eu fiquei nervosa também, me justifiquei, só que o técnico não admitiu o erro dele, e o Dr. Luiz queria me mandar embora de qualquer forma.
Valdomiro Reis Havia na época o diretor administrativo, o Dr. Raul Paulo Costa, e o assessor Valmiro dos Reis, que até faleceu dentro da própria empresa, de um infarto. Eu me reportava ao Valmiro e ao Dr. Luiz, porque eu era secretária dele. Aí o Sr. Alexandrino foi lá para a Industrial e eu comecei a atender o Sr. Alexandrino também. Só que o Sr. Alexandrino ficava só meio período, na parte da tarde. A gente tinha uma ligação maior com o Valmiro e ele era uma pessoa muito humana, muito boa também.
Walter Garcia Eu o conheci, mas ele ia muito pouco lá na CTBC. Ele não trabalhava direto na CTBC, ele trabalhava na Intermáquinas, então eu o conheci de vista apenas. Não cheguei a ter um contato maior com ele, porque logo ele já faleceu também, não é?
Arcelino Pereira dos Santos O Sr. Arcelino era uma figura folclórica. Ele era parente da dona Ophélia, então ele se sentia assim o dono, o todo poderoso da recepção. E com ele não tinha diálogo. A gente chegava, e se ele visse qualquer coisa anormal, dentro dos padrões daquela época, ele falava: "Você pode voltar para casa". A gente tentava argumentar, mas ele não aceitava. Ele era uma figura assim: baixinho, carequinha, não muito simpático. Então, muitas vezes para não discutir, como ele não aceitava as argumentações, a gente ia embora e descontava no salário. É lógico, não é? Ele estava sempre de olho em tudo. E, se ele visse qualquer coisa, ele te chamava a atenção perto de qualquer pessoa.
Mário Grossi Eu o defino como o salvador da pátria. Engraçado porque ele é um senhor bem pequenininho, franzininho e que enfrentou tudo. O Dr. Luiz deu carta branca para ele, é lógico, e ele enfrentou todas as adversidades. Ele conseguiu tirar pessoas que tinham um poder fortíssimo dentro da empresa e criar nova forma de gestão. Foi uma gestão mais concentrada em objetivos. Eu acho que foi a porta aberta para o que somos hoje. Ele abriu essa porta para a CTBC de hoje.
LOCALIDADES Tupaciguara
A cidade era muito pequenininha, muito, assim, familiar. Era uma cidade com poucos habitantes, mas eu tive uma infância muito boa lá. A rua não tinha asfalto na época.
Uberlândia Uberlândia nessa época era muito bom. Eu me diverti muito. Nós tínhamos uma turma muito boa, porque eu morava em um local bem privilegiado, no centro da cidade. As minhas amigas e os meus amigos eram todos vizinhos e a gente passeava muito. A gente tinha cinema no domingo, soirée no Uberlândia Clube, e assim, eu freqüentava ótimos lugares. Por exemplo, domingo nós tínhamos a sessão das 5:00, 5:30, os namoradinhos que sentavam com a gente. A gente reservava lugar e, na hora que a luz apagava, eles vinham e sentavam. Na hora que a luz acendia, eles já iam todos embora para ninguém ver. Depois, tinha um barzinho ali perto de onde é o Bristol hoje para onde todo mundo ia. Aí, depois, a gente ia para a soirée no Uberlândia Clube e ficava até 11:00 horas. Então era assim: no sábado, geralmente todo o sábado, tinha uma brincadeira, que era chamada antigamente de "dança na casa de um amigo". Então, cada sábado juntava todo mundo para dançar na casa de um. Era muito gostoso, era muito sadio. Eu tinha 15, 16 anos e foi assim até os 22, 23 anos.
MEMÓRIA Futuro
Olha, eu vejo o futuro da empresa, eu vislumbro a empresa em lugar muito bom, em termos mercado, porque ela está sempre na frente, ela visa sempre o futuro, ela pensa mais no futuro do que no presente. Então, a gente está na empresa hoje já vislumbrando daqui a 5, 10 anos. E hoje a nossa empresa sempre é pioneira. Então, eu vejo a CTBC muito bem. Apesar de que ela é muito pequenininha diante das outras, ela é um peixinho diante de tanto tubarão por aí, mas ela é um peixinho que sabe nadar melhor do que esses tubarões. Eu vejo a CTBC assim, ela nada mais rápido, ela tem uma visão melhor do que as outras. Na verdade ela tem uma tradição. Tem porque o Sr. Alexandrino sempre falava: "A nossa empresa vai crescer tanto...". O Sr. Alexandrino enxergava 100 anos na frente. E eu acho que foi através dessa visão dele que a empresa chegou onde está hoje e seguirá em frente também. O Dr. Luiz, que hoje está lá, tem a mesma visão do pai dele, ele teve essa convivência, criação e tudo mais. O pai dele deixou isso para ele. Eu acho que a empresa vai crescendo e agente vai crescendo junto com ela, é o que a gente quer. Realmente parece que está no sangue da gente. A empresa tem uma visão muito diferente de todas as outras. Eu vejo a CTBC naquela época em que a gente tinha que usar uniforme, tinha horário para entrar. Hoje não. Hoje nós somos diferentes de todas as empresas, porque hoje nós não temos horário para entrar, nós temos horário móvel, nós trabalhamos por objetivo, nós não temos cobrança, hoje nós somos associados, e não empregados. Hoje nós somos extremamente respeitados como profissionais, e a liberdade que a gente tem na empresa de falar o que pensa, o que a gente quer realmente, é muito importante. A abertura que a gente tem dos nossos coordenadores - hoje nem é chefe, é coordenador - dos nossos diretores, a gente pode chegar até eles e conversar com eles normalmente como um associado comum. E o sistema em si da empresa nos dá a garantia de que o crescimento dela vai ser cada vez maior. Porque é a forma dela trabalhar, essa liberdade de criatividade, de dar sugestões.
Sonhos Olha, eu tenho um projeto de vida, que é montar uma pousada em uma praia do Nordeste. Se Deus quiser, eu vou realizar, porque eu já tenho 29 anos de trabalho e eu adoro praia. Apesar de eu não morar no litoral, todas as férias que eu tenho a oportunidade e o dinheiro, eu vou curtir o mar. E o meu sonho, o meu objetivo de vida, é esse: montar uma pousada e ter uma qualidade de vida melhor, porque aqui hoje a gente não tem. Não tem tempo para nada, nem para cuidar da gente mesmo. Tem Fortaleza, tem Natal, Porto Seguro, tem alguns lugares que eu gosto muito, mas ainda não escolhi não. Eu acho que Deus vai escolher por mim.
Centro de Memória Foi muito bom dar o depoimento. Parece que foi um desabafo, é como um filme que passa da sua vida, desde a infância, coisa que hoje a gente não tem tempo nem de fazer. Parece que foi um retrospecto que foi feito da minha vida. Talvez a gente passa a analisar algumas coisas que a gente não fez, a gente começa até pensar mais sobre algumas atitudes, algumas coisas que fez ou deixou de fazer. Eu sempre digo que eu nunca me arrependo do que eu faço. Eu me arrependi, às vezes, de alguma coisa que eu deixei de fazer. Tudo que eu fiz até hoje foi assim com muito amor, sabe? E eu não me arrependo de nada, eu sou uma pessoa feliz. O que eu posso dizer para vocês é que, mesmo com todos os problemas e com todas as dificuldades, eu posso dizer de coração que eu sou uma pessoa muito feliz, muito mesmo.Recolher