Projeto Memórias nos Bairros
Depoimento de Seiro Takayama
Entrevistado por Stella e Marina D’Andréa
São Paulo, 05 de outubro de 2000
No Metrô Liberdade
Realização Museu da Pessoa
Transcritora Marina D’ Andréa
P/1 – Por favor, diga seu nome, data e local de nascimento.
R – Seiro Takayama. Nasci no “Japon”, em Yamagata. Ken.
P/1 – Que ano? Quando que nasceu?
R – Nasci em 1918.
P/1 – Que dia?
R – Dia 15 de setembro. (risos)
P/1 – Então o sr. fez aniversário agora...
R – (Risos)
P/1 – Quantos anos o sr. fez agora?
R – 82 anos. Quando vem... ah, já passou, né?
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – Meu pai é... Soekeitchi Takayama.
P/1 – E a mamãe?
R – Kikutse Takayama. he!
P/1 – Que que eles faziam lá no Japão?
R –
Fazia...um comerciante... ãn, tecidos, né?
P/1 –
E a mamãe?
R – Mamãe, ãn, doméstica, he.
P/1 – Como era a cidade, Yamagata?
R – Sakata.
P/ 1 –
Como?
R – Bairro Sakata.
P/1 – Como era lá? Era bonito, lá?
R – Sakata, Sakata, é… como aquele Santos, perto do mar, né.
P/1 – Era grande?
R – Grande, grande, é mais ou menos. 80 mil habitantes, né, mais ou menos.
P/1 – Yamagata, ou em Sakata?
R – Yamagata é aquele do Estado, Sakata é cidade, né?
P/1 – O sr. se lembra como era a sua casa?
R – Lembro, sim.
P/1 – Como era?
R – Até 17 anos moramos lá, né? (risos)
P/2 – Como era a casa?
R – Ih!... (risos)
Filho:
Era feita de madeira?
R – (Fala com o filho em japonês).
Filho: Na frente tinha comércio, né, e no fundo tinha a casa. Tinha segundo andar e estudava em cima. Estudava em casa, na parte de cima.
P/1 – E o seu pai trabalhava com tecidos, vendia?
R – É, vende... aqueles panos, guarda– chuva também.
P/1 – Como era a sua família? Como era seu pai e sua mãe?
R – Oh.... meu pai era bravo. Bravo mesmo. (risos)
No… Grupo Escolar, só tinha... (fala em japonês)
Filho: Quando ele estava no Grupo Escolar, o pai obrigava a trabalhar na roça.
P/1 – Era comum, as crianças faziam isso?
R – (Fala em japonês)
Filho:
ele era o mais velho, né.
P/1 – E por que vieram para o Brasil?
R – (Fala em japonês)
Filho: porque no Japão estava ruim, né? Como meu avô tinha ido duas vezes para os Estados Unidos e como o comércio não estava bom no Japão, então decidiu vir pro Brasil trabalhar.
R: 25 alqueires no Pereira Barreto. (risos)
P/1 –Que cidade que o seu pai foi?
R – Pereira Barreto. Tinha três colônias. Novo Oriente...(fala em japonês)
Filho: Estavam vendendo lotes de 25 alqueires em Pereira Barreto.
Antigamente não era Pereira Barreto, era Tietê, Colônia Tietê. Então, dentro de Colônia Tietê, tinha Novo Oriente, Nova Floresta, São José...
P/2 – Essas terras, quem comprou? O seu pai ou foi o Governo japonês que comprou?
R – (Fala em japonês). Colonização japonesa tinha aqui, né? Brataki. Fundador do Banco América do Sul... (fala em japonês).
Filho: foi o pessoal do Banco América do Sul que chamava o pessoal de lá. O antigo, né.
E aí mandava os japoneses colonizar essas terras. Naquelas imediações tinha outras cidades, Nova Floresta, Novo Oriente, São José.
R: Nós entramos Bela Floresta. Aqui tinha... rio Tietê. Ao lado de rio Tietê, essa colonização tinha, né.
P/2 – Vocês é que foram procurar o governo japonês pra vir pra cá, ou o governo é que
ofereceu?
R – (Fala em japonês)
Filho: Brataki. Eles compravam a terra e vendiam pra japonesada.
R: Japão vendia, né? Cada lote 25 alqueires. Então, essas pessoas quase e... nom... (fala em japonês)
Filho: não conheciam nada de Brasil.
P/2 – Em que ano foi isso?
R – (Fala em japonês).
1935. (Fala em japonês).
Filho: 15 anos antes de ele vir pra cá já estava vendendo, né.
P/2–
Insisto. Não era o governo?
R – Não, não. Governo não, colonização.
P/2 – Não era pra criar outro Japão na América?
R – O governo do Japão ajudou passagem de navio...O Japão tava ruim naquele tempo.
P/1 – O sr. lembra?
R – Eu não lembro, porque eu pequeno, né? (risos) Papai que...
Filho: como o comércio estava muito ruim lá, então o pai dele resolveu vir pro Brasil.
P/1 – Deixa eu perguntar, o sr. pode responder em japonês, e seu Mário traduz. Como foi a viagem de navio? Em 1935. Como foi a viagem?
R – 1935. Navio, pequena, né.
Filho: Como ele tinha só 17 anos, foi uma maravilha, né? 45 dias, piscina, cinema...
P/1 – É, tudo isso?
R – 45 dias precisava pra Brasil. (risos)
P/1 – Como era o quarto onde dormia?
R – Era tudo junto.
P/1 – Tudo junto?
R – He. Muitas famílias. Acho que 1500 pessoas mais ou menos. (risos) Não é pra Pereira Barreto, né?
Espalhado no Brasil, né?
P/1 – Onde vocês chegaram aqui?
R – Aqui? Santos. E depois com o trem, direto pra Pereira Barreto.
P/2 – O sr. se lembra se vieram pra depois retornar ao Japão?
R – Filho: Não, eles vieram pra ficar mesmo. Com 25 alqueires (fala em japonês), café, algodão, água, tinha uma poço (risos), né?
Filho: Era plantação de algodão, e eles cavaram um poço bem fundo, e tinha água vermelha, e não tinha sal. E então mudaram pra Bela Floresta. (Fala em japonês)
P/2 – Seu Mário, eu queria sugerir... dá pra fazer uma tradução mais simultânea? Porque ele está falando muito e a gente não está entendendo nada....
P/1 – Fala um pouquinho, traduz um pouquinho.
R – Português, ah... (fala em japonês) (risos)
japonês.
P/1 – Mas, então, o que ele estava contando de Bela Floresta e de Pereira Barreto?
R – Filho: Como essa água estava ruim, foram pra Bela Floresta, e aí tinha o Burataki, né? Aí tinha bastante loja também, e ajudava. Aí patrimônio tinha comércio, né? Bela Floresta, Novo Oriente e São José, tudo aquele patrimônio tinha aquela.... filial de Burataki, né? E lojas também...
P/1 – São José é São José do Rio Preto?
R – Não, não. Era Colônia, né.
P/1 – Aí o sr. ajudava lá. Ajudava a vender?
R – Ajudava a cortar arroz, tirar o grão... Papai ficou com malária, né? Então não podia trabalhar mais. Então eu comecei a tirar fotografia. Naquele tempo era amador. Mas esta fotografia, não era muito boa, mas todo o mundo gostava. Porque essas pessoas, 25 alqueires, tudo comprando no “Japon”, vem pra cá, né? Então precisava informar para “Japon”, para parentes, então estes fotografias, tirado, ãn, frente da casa, frente da bananeira, algodão, né? Então esta fotografia, junto com carta, mandava pro “Japon”. E todo o mundo gostava. Pagavam, né? E eu carregava...máquina, este comprada no “Japon” mesmo, máquina grande. Não é filme, era aquele vidro, chapa de vidro. E esse lado para trocar, trocar o… tirar fotografia, todo aquele chassi só entrava seis chapas, tirado, e precisava trocar (risos) Tirava sempre e trocava, dentro daquele pano, preto, pano preto, né? Dentro assim, e troca a chapa, e outra vez tirar... fotografia. E seis chapas já acabado, outra vez. (risos) Pessoas gostavam muito, muito, né?
P/1 – Só o senhor tirava foto lá?
R – É, não tinha outro... Hum!(risos) Sorte.
P/2 – Onde o sr. comprava o material?
R – Ah..... este era difícil. Eu fui Araçatuba. Araçatuba, né? Então, três horas partia o trem, aquele fumaça, “rhu, rhu, rhu” (risos), e comprava no... Pereira Barreto, Araçatuba, e voltava.
P/2 – E o sr. conseguia ganhar o dinheiro, com a fotografia? Que o seu pai estava doente.
R – E papai também podia trabalhar, um ano e meio depois, né, algodão...era colheita. Este janeiro, levei tudo eu, meu trabalho e do papai também, aquele da algodoeira... vendia este algodão. E janeiro levei tudo... (risos)
P/1 – E os irmãos, não ajudavam?
R – Irmãos… pequenos, he.
P/1 – Tinha escola pros irmãos pequenos?
R – Tinha. Bela Floresta também tinha. Aqui tem. Fotografia, né? Mas muito tarde, né, mostrando este foto...
P/1 – Tinha médico?
R – Também Colônia Brataki, né. Também tinha hospital. Mas Novo Oriente tinha hospital, aí Bela Floresta farmácia, só. E São José também só farmácia.
P/1 – E pro seu pai se cuidar?
R – Então aí… malária tava forte, não podia, perdeu memória dois dias, né? Então São Paulo, no... malária. (fala em japonês) Aí médico, Takaoka, né, veio pra Pereira Barreto, é sorte, né, ele vinha na minha casa, (fala em japonês) e papai estava sem memória (fala em japonês). Com o dinheiro da fotografia e do algodão, eu fui pro Japão. (risos)
P/1 – Em que ano o sr. foi pro Japão?
R – 1938.
P/1 – O sr. conheceu sua mulher lá?
R – Conhecia.
P/1 – Já conhecia de onde?
R – Do mesmo lugar, né?
P/1 – Como é que ela chama?
R – Yokia. (fala em japonês) (risos)
Filho: Que se ela não quisesse vir pro Brasil o pai dele ia arranjar outra aqui no Brasil. (risos)
P/1 – Então o sr. não foi lá ver coisa de fotografia, né? Foi lá buscar a mulher. (risos)
R
–
Estudou fotografia lá no Japão?
R –
Escola de fotografia Tókio. Câmera de vidro mesmo. Naquele tempo era tudo vidro. Tudo vidro. E eu... tinha usado aquele filme rígido, chama... aquele vidro pouquinho grosso, filme rígido tamanho 18x24, aquele... usava, depois veio mudança de São Paulo. Então, Pereira Barreto usava tudo vidro, né? (risos)
P/1 – E o sr. retocava a foto?
R – Então, retocava. Naquele tempo, na chapa mesmo. Naquele tempo não tinha colorido.
Só preto e branco, né? Colorido entrava aqui em São Paulo em 1960, mais ou menos. Em 1964 aprendi no Kodak. Kodak era na Brigadeiro Luiz Antônio, antigamente. Perto. Não era grande, uma casa. (risos)
P/1 – Quem era o dono?
R – Dono era aquele... Estados Unidos.
P/1 – Tinha curso?
R – Tinha, sim. Fotografia colorida.
P/2 –
Mas, voltando um pouco atrás, o sr. só tirava fotos de japoneses, lá no interior?
R – Colônia, aquela do Brataki, né? Colonização Brataki, tuuuudo japonês.
P/1 – Não tinha brasileiros?
R – Não. Por isso eu
não aprendi português. (risos) Quando, no começo, no Brasil, entrava no... só brasileiro... aí aprendi português. (risos)
P/2 – Bom, aí o sr. foi fazer um curso e encontrou a sua esposa, casou no Japão ou aqui?
R – Ah, (fala em japonês). Ah, registro é Japão. O casamento. (fala em japonês).
Filho: Ele falou que, depois de três anos no Brasil, precisava voltar pro Japão. Então, aproveitou pra estudar fotografia lá.
P/1 – Por que precisava voltar pro Japão?
R –
(fala em japonês)
Filho: precisava chamar, chamar a querida. (fala em japonês)
P/2 – O sr. casou no Japão?
R –
Não, dentro de navio. (risos)
P/1 – Por que?
R – Não, aquele... Mãe e pai da esposa, não deixava, né? Ela tinha glaucoma, e não podia vir pro Brasil. Estava em tratamento.
P/2 – Mas sarou?
R – Sarou.
P/1 – E vieram pra São Paulo?
R – Direto de Santos pra Pereira Barreto.
P/1 – Não passava aqui em São Paulo? Era direto o trem de Santos para Pereira Barreto?
R – Direto.
P/2 – O sr. continuou tirando fotografia?
R – Fotografia era bom... naquele tempo. Todo o mundo gostava.
P/1 – Os filhos nasceram lá no interior?
R – Em Pereira Barreto.
P/1 –
Quantos filhos o sr. tem?
R –
Quatro.
P/1 – Os nomes deles?
R – Yoko, primeira filha, segundo, Haruo, terceiro, Kikuko, e Shinoko. Parecido, né?
P/1 – Todos nasceram na Colônia?
R – Colônia. Tudo Pereira Barreto.
P/2–
Tinha escola pra mandar os filhos?
R – Tinha Grupo Escolar. Dentro da Colônia.
Ali na Novo Oriente, Nova Floresta, São José, tudo tinha escola.
P/1 – Quem dava aula, era professora japonesa?
R – Era a professora que tinha a fotografia dela. (mostrando álbum)
Escola aí,
Grupo Escolar.
P/1 – Ah, 1937, aqui, colonização Tietê… E por que o sr. saiu de lá, veio pra São Paulo?
R – Eu gostaria de trabalhar em São Paulo. Mas... (fala em japonês) eu gostava São Paulo. De vez em quando, depois de voltar do Japão, vinha de vez em quando pra comprar material. São Paulo eu gostava.
P/1 – O sr. já vinha pra Liberdade? Comprava material?
R – Não, comprava na São Bento. São Bento tinha... Fotóptica. Agora não, mas antigamente tinha. São Bento, né? Aí...
P/1 – Onde o sr. ficava quando vinha pra São Paulo comprar material?
R – Pensão... japonês tinha.
P/1 –
Onde era?
R – (Rua) Conde de Sarzedas.
P/1 Como era a pensão? Era boa?
R – (risos)
P/1 – Era ruim?
R – Naquele tempo eu não tinha muito dinheiro, então procurava mais barato, né?
(risos)
P/1 – E dormia lá, era um quarto só pro senhor?
R – Não. Três, quatro pessoas, juntas... Aquele ... segundo andar em cima de cama, beliche....
P/1 – E aí o sr. ficou com vontade de vir pra São Paulo?
R – Tinha 20 e poucos anos, ainda novo, né, então eu gostaria de trabalhar em São Paulo...
P/1 – E quando o sr. veio pra cá?
R – Depois de 13 anos.... então 1948.
Depois da guerra. Durante a guerra, aí sofria colônia tudo, né, delegado era brabo! Mandava soldado de casa a casa, né? Então revistava Japão, pegava tudo. Duas, três pessoas falando na rua, aí prende tudo, pra cadeia, né?
P/1 – Algum amigo seu foi preso?
R – Ah, tinha. Eu também, uma vez chamava o delegado, né? Conhece Penápolis? Delegado me mandou pra Penápolis com soldado, né,
então deixou na cadeia só um dia.
Existia aqueles puxa, né, puxa saco, de delegado, e caguetava assim, só pra fazer maldade, né? He. Mas... (fala em japonês) como eu tinha voltado uma vez pro Japão, falaram que eu era espião. (fala em japonês). Tinha, aí... todo o mundo precisava salvo– conduta, identidade, então, fotografia precisava, né? Então, aí não tinha fotógrafo e eu não podia
(risos) ficar na cadeia. Então, dia seguinte mandou pra ir embora. (risos)
P/1 – Nossa. O senhor saiu da cadeia porque precisavam que o senhor fosse tirar fotografia? É isso?
R – Issooo! Durante a guerra, tinha investigador, precisava, né? Então ele vem só assinar, e ganhava algum dinheiro. (risos)
P/1 – O investigador ia lá, assinar...
R – Isso, naquele época, durante guerra.
P/1 – Aí o senhor veio pra cá depois, em 1948.
R – Depois de guerra.
P/1 – Onde o senhor foi morar?
R – São Paulo, primeira casa, morava no Indianópolis. Aquele bonde passava na Liberdade, e ia pra Santo Amaro. E no caminho tinha Indianópolis, ali aluguei uma casa. Depois de uns anos, porque Avenida Ipiranga, rua Tabatinguera, também estava ruim, e terceira loja aqui na Liberdade.
P/1 – Terceira loja. Ai, que linda...
R – Aqui, já não tem mais aqui. É Avenida Liberdade, aqui no fundo já tem a Radial Leste, aqui derrubou e construiu novo, né.
P/1 – Que que fizeram lá?
R – Clube Japonês. Ao lado de viaduto.
P/1 – O senhor gostava da Liberdade, era bom aqui?
R – Ah, gostava (risos)
P/1 – Por que? Que é que tinha aqui?
R – Tinha bastante serviço. (risos)
P/1 – Quem ia lá tirar foto?
R – Colônia, escola, quando a formatura, né, chamava escola, formatura.
P/1 – O senhor ia na escola?
R – Ia. Levava aquela máquina grande, aquela do pano. (risos)
P/1 – Eram escolas da Liberdade?
R – Escola Pioneiro. Conhece? Aquela escola grande, que era na Vergueiro, naquela época tinha na Vergueiro. Agora tem uma pizzaria. Rua Castro Alves tinha também escola Nippak, né? Quando tinha formatura, chamava eu.
P/1 – E nas outras escolas? Não tinha o Colégio São José? O senhor tirava foto também?
R – São José? Não me lembro. Era só escola japonesa.
P/1 – Onde o senhor morava com a sua esposa e seus filhos?
R – Primeiro era ali na Indianópolis, depois muda pra Liberdade, pra esta. Primeiro andar, estúdio, segundo andar, loja, e quinto andar, moradia. Era na Avenida Liberdade. Tinha bastante serviço.
P/1 – Que horas começava o serviço?
R – Sete, até 10 horas. Mais ou menos. E tinha bastante aprendiz. Então segundo andar, laboratório e dormiam aquelas pessoas aprendizes. Eram japoneses.
P/1 – E os filhos, aprenderam com o senhor?
R – É, também...
P/1 – O senhor tinha paciência pra ensinar?
R – Agora não tem (risos)
P/1 – E na época?
R – Ah, tinha (risos) Aqui (mostrando foto de 1964) eram os fotógrafos que foram fotografar a formatura do CPOR. No Ibirapuera, no Ginásio. Todos os japoneses eram alunos. O curso eles faziam só indo trabalhar, escola não tinha. Mas eles aprendem quatro anos trabalhando junto, né, junto comigo, então eles aprendem. Vendo, trabalhando... Eu dava aula teórica, tudo, depois praticava.
P/1 – Como era o bairro quando o sr. mudou pra cá? Que é que tinha aqui?
R – Ah... agora progrediu bastante, era diferente, ali na Galvão Bueno. Tinha cinema, Cine Niterói, quase tudo era casa residencial, não era comércio, né, e na calçada tinha árvore plantada, árvore grande. Luz tinha. Residencial.
P/1 – E o chão, como era na rua?
R – Pedra. Depois ficou calçada.
P/1 – O sr. ia assistir filme japonês no Cine Niterói?
R – Ia. Porque não tinha naquela época televisão, tinha rádio, né, mas televisão não tinha ainda. Então cinema era único divertimento pra esses pessoas.
P/1 – O sr. ia no cinema e depois ia comer alguma coisa?
R – Cine Niterói aí era o hotel, em cima hotel Niterói. O hotel, o dono era Tanaka, tem bronze ali na Galvão Bueno, no jardim. Tinha jardim, aquele bronze.
P/1 – E o hotel Banri?
R – Naquele época não existia. E rua... Conselheiro Furtado tinha também mais um cinema, na Santa Luzia. Cine Nipon, aquele dono também tem bronze ali na Praça da Liberdade, aquele...
P/1 – O senhor chegou a ver carnaval aqui?
R – Naquele época… 1948, 1950, naquele época, crianças fantasiadas, tudo na rua, lança perfume... e na festa, tirei bastante foto de fantasia. Colocava bexiga como enfeite. Carnaval tirava bastante fotografia, das crianças...
P/1 – Os japoneses se fantasiavam?
R – Japonês também fantasiava. Brasileiro, quase brasileiro tirava bastante, crianças.
P/1 – E os adultos?
R – Gente grande também, os moços, fantasiava.
P/1 – E o senhor gostava também do carnaval?
R – Não. Eu só tirava fotografia.
P/1 – O senhor nunca foi no carnaval?
R – Carnaval, naquele época tinha clube aí perto de ãn...mercado. Em baixo, perto daquele mercado tinha clube, japonês nunca… ali tinha, sim, tinha festa de carnaval.
P/1 – Tinha festa japonesa aqui no bairro?
R –Eu fazia só fotografia (risos)
P/1 – E o senhor não fotografava festa japonesa?
R –
Naquele época não tinha... nada.
P/1 – E a decoração do bairro?
R – Bem depois.
P/1 – O senhor lembra quando colocaram?
R – Lembro, sim. Depois que inaugurou aqui a Radial Leste, e... naquele época, tinha na Liberdade, tinha circo. Ao lado daquele do... Praça de Pólvora. Tinha aquele lugar grande, onde agora é prédio. Tinha circo.
P/1 – Que é que tinha lá?
R – Eu não fui lá (risos)
P/1 –
O senhor passava na frente?
R – É... passava (risos)
P/1 – Lembra do nome do circo?
R – (risos) Eu não sei… he. Só trabalhava. Só trabalhava pra viver, né? (risos) Só trabalhar...
P/1 – Vamos dar uma olhada nas suas fotos. Essas aqui são do CPOR...
R – (Fala em japonês) Este....
P/1 – O senhor que tirou?
R – He, essa é esposa do Shinobu? Mas esta já fiz grande, bem antes eu tirava fotografia.
P/1 – Onde é esta rua?
R – Galvão Bueno. Aqui na Praça Liberdade.
P/1 – Por que esses enfeites?
R – (Fala em japonês).
Filho: Mas é do Japão?
R – Não! (Fala em japonês).
Filho: Associações, né?
P/1 – O senhor que tirou?
R – He, bem antes... (fala em japonês).
Filho: Estava na faculdade esse menino aqui.
P/1 – Quem é essa mulher?
R –
A esposa do Shinobu.
P/1 Ah, é a nora do senhor. Como ela chama?
R – Kimiko. E são minhas netinhas.
P/1 – Como essa aqui chama?
R – Esta Miki Sayori(?)
P/1 – E as associações é que fizeram essa decoração linda?
R – É.
P/1 – Fujinkai? Aqui tem as Fujinkai?
R – É, tem bastante, tudo São Paulo, né?
P/1 – O sr. lembra quando foi, que ano?
R – Este é bem antes, 15 anos antes, atrás. Mais de 15 anos.
P/1 – Era uma festa?
R – Tanabata. A das estrelas. Agora, tá continuando, né? he. (risos)
P/1 – O que significa essa festa, seu Seiro?
R – (Fala em japonês).
Filho: Esse negócio já vem de muito tempo atrás no Japão, né? Significa saúde, felicidade das pessoas, famílias.
P/1 – Que dia que acontece?
R – Na Japão, eh....também, mesmo julho, dia não sei, este todo o ano, já faz muitos anos. Continuando, né? Agora mesma coisa, né.
(Fala em japonês).
Filho: Todos os desejos, essas coisas, né, escreve no papel e pendura. Pedidos.
(Fala em japonês).
Pai:Coloca estes no bambu. Pendurado. Baixinho. Escreve escondido. Ano que vem... No Japão, depois esse bambu se joga no rio. Aqui acho que não joga no rio. Não tem rio perto. (risos)
P/1 – E aqui, é a loja do senhor? Largo 7 de Setembro.
R –
Este é o Largo 7 de Setembro, aqui começa a Rua da Liberdade, e aqui a Praça 7 de Setembro, o Tribunal aqui, aqui a João Mendes.
P/1 – Mas o endereço da Foto, Takayama era na Praça 7 de Setembro, em 1934?
R – É.
O/1 – Mas agora não é mais, né?
R – Já saiu já fazem uns dois anos.
P/1 – Que ano que é essa foto?
R – Muito tempo. Aqui, então, afundava Metrô. Metrô passou aqui. No frente desta foto, só calçada, pra cá tudo Metrô, abria… fundo, bem fundo, né? E construía o Metrô. (Fala em japonês) Barulho muito grande.... quase não podia trabalhar (risos)
P/1 – Isso depois que o Metrô já estava pronto?
R – Durante a construção. Abria o buraco, né? Acho que bem fundo.
P/1 – E o senhor mudou por causa disso?
R – Não, fiquei lá. Trabalhava.
Esta foto...
P/1 – Depois que o Metrô ficou pronto, mudou muita coisa no bairro?
R – Hummm. Frente não tem mudado. Só este, praça, que mudou , né? Praça era bonita, bastante planta, né, mas mudou só aqui.
P/1 – Que que fizeram com essa Praça?
R – Esta também, aqui João Mendes, ficou bonito agora.
P/1 – É seu o prédio?
R – Não,
aqui só o segundo andar. Vendi este ano. Vendi...
P/1 – Não lembra o ano disso aqui?
R – Este foi tirado.... bastante tempo. Mais de 15 anos... (Fala em japonês).
P/1 – Que é esta aqui?
R – Este é a minha família. Primeiro carro eu comprei, Aero Willys.
P/1 – É de 1961 essa foto? Onde vocês estão aqui?
R – Aqui é meu apartamento. Rua Castro Alves. É minha mulher. Cabelo ainda preto...
P/1 – Onde estavam indo nesse dia?
R – Acho que só tirar fotografia, né?
P/1 – E aqui, onde era?
R – Aqui, Liberdade… Quando veio artista de cantor, né? Murishiiti. Ainda está cantando. No aeroporto. Este é Mizumoto, esta é casa do Mizumoto. Faleceu. Estátua tem ali na Liberdade, na entrada do Metrô.
P/1 – Esta foto de cima, quem é esta essa pessoa que está do lado esquerdo?
R – Este veio junto com ele, acho que ajudante, né.
P/1 – Este aqui é o cantor?
R – É, esta também veio, cantora. Japonesa. Esse quando chegava em Viracopos.
P/1 – Esse senhor é...
R – Mizumoto. Mizumoto, tinha ali no cinema, ãn... na Santa Luzia, então, ele cantava na Santa Luzia. Cinema. Muitas pessoas chegavam na Liberdade, aqui. Na Praça mesmo. Ainda não tinha Metrô.
P/1 – Que ano foi isso?
R – Não sei... não sei...
P/1 – Seu Seiro, ele é famoso, o cantor?
R – Bem famoso no Japão, Ainda vivo, né. Ainda famoso.
P/1 – Ia só japonês assistir?
R – (risos)
P/1 – Aqui tinha polícia tomando conta?
R – Polícia, né? (risos)
P/1 – Lembra mais ou menos a década?
R – Final de 70. Década de 70. Ainda vivo no Japão. Televisão aparece, sempre.
P/1 – E aqui ele está no cinema?
R – Cinema não, só cantar.
P/1 – E ele não se apresentava aqui, na Rua Santa Luzia?