D. Maria Luiza de França ou D. Maria Luiza Leite ou somente D. Luiza ou Tia Luiza ou Vó Luiza, dia 1º de junho de 2004 completará 87 Carnavais, tão lúcida quanto no Carnaval do ano em que Getúlio tocou fogo no café em praça pública. Católica, apostólica, romana, praticante, gosta d...Continuar leitura
D. Maria Luiza
de França ou D. Maria Luiza Leite ou somente D. Luiza ou Tia Luiza ou Vó Luiza, dia 1º de junho de 2004 completará 87 Carnavais, tão lúcida quanto no Carnaval do ano em que Getúlio tocou fogo no café em praça pública.
Católica, apostólica, romana, praticante, gosta do "Zé Pagodinho" do "Nerson" Gonçalves, Altemar Dutra, Alceu Valença (La Belle de Jour).
Peça viva da história testemunhou os horrores das duas grandes guerras mundiais, além de ter feito parte como observadora, as vezes integrante, de toda a rica história do nosso país no século passado, contadas, toda manhã daquela época, pelo saudoso repórter Esso.
Nascida em Nossa Senhora do Ó de Ipojuca, um vilarejo praiano do interior de Pernambuco, cresceu criada pela avó, mãe de seu pai. Criança levada, vivia
subindo nos "pés de cajueiro" da praia e , para desespero de sua avó, lá de cima ,literalmente, cagava nos porcos que passavam embaixo da árvore.
-Eu não era gente - diz, em meio a altas gargalhadas.
É obvio que estas artes lhe rendiam uma boa sova e, quando sua avó já não podia mais com ela, pois, apanhar de chinelo já não adiantava, o pai era chamado e a cinta comia solta.
Não tinha medo dágua - Eu era muito afoita para água - gostava muito de nadar, atravessar braços de rio, e
até um tempo atrás, uns 05 anos, vivia nadando por estas piscinas por aí afora, como a lembrar dos tempos de menina.
Com 12 anos, começou a trabalhar em casa de família. Trabalhou em casa de brasileiros e em duas casas de alemães, justamente na época em que o Zepelim viajava para o Brasil.
-Em Recife tem o campo do Zepelim, campo de Juquiá, conta D. Luiza.
Seu patrão tinha uma fábrica de salsicha e negociava com o Zepelim.
-Era uma nuvem que vinha pelo mundo - fala D. Luiza do Zepelim Ele fazia uh, uh, uh. Era enorme. Era muito grande.
-Para decolar precisava da ajuda dos bombeiros que, usando cordas, iam puxando devagarzinho para ajudar na decolagem.
Com 26 anos, em 1943, sai de Pernambuco e vai direto para São Paulo. Época do retrato feito por um retratista na capital paulista. Chegando
lá, continuou a trabalhar em casa de família, aliás, a família que a trouxe do norte.
Esta mesma família mudou-se para o Rio
de Janeiro, levando-a junto. Nesta época, no Rio, D. Luiza casa-se pela primeira vez com o Seu
Nicanor e tem um filho, Nelson, em novembro de 1944.
O 1º casamento não deu certo, D. Luiza volta para São Paulo, para trabalhar, agora com um filho de 2 anos. Casa-se pela 2º vez quando seu filho completava 4 anos, agora com o Seu Dacio.
Dessa união nasce uma
"filha mulher", Neide, em novembro de
1952. Nesta época, com dificuldades para criar o primogênito, manda-o para o pai, no Rio de Janeiro. Nelson volta para São Paulo com 13 anos.
Gosta muito de Francisco Alves e Orlando Silva - qual dos dois morreu na estrada? - pergunta ela.
Por intermédio de sua comadre Rafaela consegue um emprego para o garoto como vendedor de jóias, mas, logo percebe que é muita responsabilidade para o menino e, Alcides, filho de sua comadre,
consegue um emprego para ele no Banco Moreira Sales, emprego este que o filho permaneceu até casar.
Nelson casou-se com a Cida e teve 3 filhos: Nelson, Marcelo e João Paulo. Nesta época ele já era professor.
Morou na rua Diana, na Pompéia, e depois, conseguiu comprar uma casinha na Vila Souza, bairro
ao pé da serra da Cantareira, local onde mora até hoje.
Era um quarto, cozinha, banheiro fora e poço, cercada por arame farpado, sem luz, ou melhor, alumiada por lampião a gás. A única distração era o rádio de pilha verde, pilha grande como o rádio.
-Não eram
tempos difíceis , diz D. Luiza - Eu sempre trabalhei, não tenho vergonha em dizer, lavava roupa pra fora, o ônibus pegava lá na Santa Maria (uns 5 quilômetros do local cheio de morro e lama no caminho)
E com uma trouxa de
cheia de roupas nas costas. Levava a roupa limpa e trazia a suja.
-E tinha bastante freguesia, gente de posição, pessoal da Ordem Política e Social, General do Exército, gente do INPS - Presidente, parece, gente de posição - frisa D. Luiza.
Fã de Jânio Quadros, na verdade foi seu cabo eleitoral, e teve oportunidade de vê-lo de perto. Era presidente da Associação dos Amigos de Bairro, posição que lhe rendia visitas ao palácio para conversar com o homem da vassourinha e com sua esposa Heloá
-Varre, varre vassourinha, varre varre a bandalheira, o povo, já ta cansado, de ladrão e roubalheira... canta um trecho da marchinha eleitoral de seu político preferido.
Foi cabo eleitoral também do brigadeiro Faria Lima
- prefeito de São Paulo, Carvalho Pinto - governador de São Paulo, e de Jânio para vereador, para deputado federal, prefeito de São Paulo, governador e presidente da república.
-Ano que ele foi direto. Ele foi obrigado a renunciar. Ele falou que era preferível um covarde vivo, do que um herói morto, relata D. Luiza.
Sua filha
Neide casa-se em 1974, com Roberto. No mesmo ano perde seu companheiro Dácio. Tem três filhos: Roberto, Ricardo e Patrícia, os quais foram praticamente criados por D. Luiza, que saia com os pequenos embaixo do braço e continuava a trabalhar em casa de família para ajudar nas despesas domésticas.
Hoje, deitada tranqüilamente em sua cama, um pouco cansada daquele monte de trouxas de roupas que teve que carregar, ainda arruma tempo e paciência para os 8 bisnetos que arrumaram para ela, sempre chamando pela "Dinha" apelido carinhoso dado à filha, com quem viveu e vive, sempre em harmonia.
De Nelson, Rafael, de Marcelo, Vitória, de Roberto, Bruno, Ricardo e Felipe, de Ricardo, Isabela e Gustavo e de Patrícia, a Julia.
Dia 24 de agosto de 1954 morreu o Getúlio (Vargas).
-Morreu nada, foi morto. Deve ter sido o capanga dele. Eu gostava do Getúlio, ele que fez as leis trabalhistas. Já imaginou o que era trabalhar 20, 30 anos, ser mandado embora sem direito a nada. Ele que formou a aposentadoria.
E o Juscelino? - Morreu de desastre - Sabe a estrada que ele morreu? - Não.
"Feito sanefa" - teias de aranha, ou excesso de poeira que ficam nos cantos da casa e formam um "babado".
"Bichinho que afurveia" - Menino, você parece que têm o bichinho que afurveia
- falado sempre para os netos quando não paravam quietos.
Macarrão à Marinheiro - tomate, cebola, alho (pouquinho), óleo (azeite), caldo Knorr - de galinha
- Cozinhe o macarrão e quando o molhinho tá pronto, mistura no macarrão. Uma delícia.
Morou um tempo na Casa Verde, e era comum a macarronada da D. Luiza aos domingos, com direito a suculentas bracholas. O pessoal da Vila Souza, afilhados e sobrinhos (fictícios) se deslocavam até o outro bairro para filar a
bóia da D. Luiza e do Seu Dácio.
-O café foi queimado aqui em São Paulo e os Paulistas se revoltaram contra ele (Getúlio). Na praça Marechal Deodoro da Fonseca, não foi?
Refogado de pé de galinha é um de seus pratos favoritos - Bom
para as cadeiras, reanima.
Fez parte também, durante muito tempo da comunidade da igreja, quase beata, ajudava a enfeitar a igreja e não perdia uma missa de domingo. Gostava também das inúmeras excursões que participou à Aparecida do Norte. Ia na igreja velha quando não tinha nem a basílica nova. Ia para excursões também à Pirapora do Bom Jesus, sempre em romaria.
Vivia assustando seu filho Nelson, no auge dos seus 60 anos, atravessando, a braçadas, o mar de Paraty.
-Mãe, onde você vai mão, dizia o "Nerso".
Ela ia la no rio (mar) e nadava, nadava - só no braço. Quando cansava, ficava quietinha, boiando, até as forças voltarem.
Quando veio morar na Vila Souza criava porco, galinha, pato, galinha dangola - aquela que fala tô fraco, reforça.
-As galinha ia por no mato, a gente ia procurar e quando achava, era pintinho pra todo lado. As patas também, no quintal dos vizinhos, e quando voltavam, cheias de patinhos.
-As patinhas ficavam "cuspindo" na porta, uma sujeira danada.
Os amigos do científico do filho Nelson vinham para comer, e a D. Luiza ficava com medo quando ia matar os porcos.
-Eu não gostava não, tinha medo, me deitava e tapava os ouvidos embaixo do travesseiro.
-O chiqueiro dos porcos era lavado com creolina, tinha areia, tinha assoalho, os porco era tudo limpinho. O chiqueiro era mais limpo que muito banheiro por aí.
-A comida ele (Seu Dácio) trazia da cidade, lata de 20 litros, aquelas latas de tinta. Ele trazia nas costas. Um dia ele, de fogo, foi atravessar o riacho, caiu, e a enxurrada levou a lavagem, as maçãs e biscoito de polvilho da filha, tudo embora .
Seu Dácio era lanterninha no cine Marabá.
-Ele trabalhou 9 anos no cine Marabá e depois 3 anos no Marrocos, mas ele já não estava bom, e foi mandado embora.
-Era com que nóis vivia, filho - referindo-se às caixinhas recebidas no cinema. O ordenado era pro aluguel e a prestação do terreno.
A comida era feita com banha de porco.
-O falecido seu bento, pai da comadre Dirce, ele que matava o porco, fazia churiço, e fritava toda a carne de lombo, temperava e punha dentro da gordura.
-Não tinha geladeira, pegava um pedacinho e deixava o resto pra depois. Não punha o garfo na boca pra não estragar.
-A lata era tampada, bem tampada, do jeito de tinta, tampava e deixava a carne lá.
Comadre Dirce, comadre Maria, compadre João, compadre Osório, comadre Joaquina, era tudo comadre e compadre.
-Meu avô tinha cavalo e eu gostava muito de andar a cavalo. Meu avô tinha uma égua e eu ia dar água pra ela.
-Meu pai era pescador, filha de pescador, pescador de agulha em alto mar, rede de agulha.
-Minha mãe tinha sítio, era roceira, ela tinha uns empregados pra plantar roça, era sertaneja, do sertão.
-Tinha uma irmã, Antonia, mais de 50 anos que não a vejo.
As Heroínas de Tijicupapo (Pra lá de 1800)
Os holandeses vinham vindo para tomar a praia de Tijicupapo . Os maridos viram de longe que eles (Holandeses) estavam chegando de barco e os maridos chamaram suas mulheres e mandaram elas cortar lenha. Eles fizeram fogo, puseram latas de água para ferver e receberam os holandeses com água quente, fervendo. A maior parte dos 800 holandeses ficou cega. No final, eles não conseguiram tomar a praia.
Esta praia de Tijicupapo fica próxima a praia de Tapissuma.
Almoço com Lampião
O Lampião reuniu a turma dele, os capangas dele, para um almoço numa casa. Depois que todo mundo se fartou, comeu e bebeu à vontade, Lampião chegou para um dos seus capangas e perguntou como é que estava a comida:
-Insosa
- disse o capanga.
Lampião chamou
outro capanga, o mais chegado, e mandou que ele fosse na cidade e comprasse
um saco de 01 quilo de sal. Ao chegar o sal o Lampião falou para o capanga que reclamou da comida:
-Eu comi e não reclamei. Agora você vai comer 01 quilo de sal para nunca mais reclamar de comida nenhuma. E que isto sirva de exemplo para todos.
Visita de Lampião
Lampião chegou em uma casa e bateu palmas.
Ao ser atendido pela dona da casa pediu um copo dágua. Eles começaram a prosear e logo depois, lampião perguntou para a Dona:
-Minha senhora, se o Lampião aparecesse por aqui agora, o que a senhora diria pra ele?
-Ave Maria meu Senhor Aquele homem é um bandido, é um ladrão, um assassino, ele faz muito mal pros outros, pra todo mundo
-A senhora sabe com quem está falando?
-Não sei, não senhor.
-Eu sou o Lampião - naquele instante a mulher já tinha perdido a cor – Pra senhora nunca mais falar mal de ninguém,sem conhecer a pessoa, a senhora suba nesse pé de Macaibeira agora e
depois desça.
Ela subiu, mas, não desceu.
Pé de Macaibeira - É como um pé de coqueiro, mas, só que tem barriga. Embaixo fino, no meio barriga
e em cima fino, cheio de espinhos.
Esses casos de Lampião são verdadeiros e aconteceram no interior de Pernambuco, em corrente, perto de Garanhuns.Recolher