Projeto Anglo American – 50 Anos de Brasil
Entrevista de Geisa Rodrigues
Entrevistada por Luiz Egypto (P/1) e Nataniel Torres (P/2)
São Paulo, 8 de março de 2023
Entrevista AAMC_HV006
Transcrita por Selma Paiva
R – Geisa Aparecida Rodrigues, eu nasci aqui em Belo Horizonte, no dia 26 de novem...Continuar leitura
Projeto Anglo American – 50 Anos de Brasil
Entrevista de Geisa Rodrigues
Entrevistada por Luiz Egypto (P/1) e Nataniel Torres (P/2)
São Paulo, 8 de março de 2023
Entrevista AAMC_HV006
Transcrita por Selma Paiva
R – Geisa Aparecida Rodrigues, eu nasci aqui em Belo Horizonte, no dia 26 de novembro de 1985.
P/1 - O nome dos seus pais, por favor.
R – Minha mãe Márcia Edméia de Mesquita Rodrigues e meu pai Geraldo Batista Rodrigues.
P/1 – Qual a atividade do seu pai?
R – O meu pai era vendedor, hoje ele é aposentado.
P/1 – Vendedor de quê?
R – Ih! De eletrodomésticos: Casa Eletro, Casas Bahia...
P/1 – Trabalhando sempre em lojas, assim?
R – Sempre em lojas, é. E nos últimos anos ele foi corretor de imóveis, mas hoje ele está em casa, mesmo, aposentado.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe foi, uma época, professora, mas depois que a gente nasceu, eu e meu irmão, ela ficou só por conta da casa mesmo, do lar mesmo e dos filhos.
P/1 – Você conheceu seus avós?
R – Sim. Por parte de pai eu conheci meu avô, minha avó faleceu quando meu pai era criança. Por parte de mãe eu conheci minha avó e meu avô.
P/1 – Você sabe o nome deles?
R – Sim. O pai da minha mãe é Sebastião e a mãe é Maria Rita e o pai do meu pai é... nossa! Ele morreu eu era tão novinha! Agora não vou lembrar o nome. (risos) Desculpa, ele morreu eu era nova. (risos) Esqueci. (risos)
P/1 – E a mãe? E a sua avó?
R – Aí a mãe do meu pai eu não conheci, também. Eu sei, eu acho que ela era Aparecida. Tanto que eu tenho Aparecida, por causa dela.
P/1 – Sei. Corria na família histórias dos seus avós? De onde eles vieram, histórias sobre eles, vocês comentavam alguma coisa a esse respeito?
R – O meu vô de parte de pai trabalhava em roça, mesmo. Ele era trabalhador rural, mesmo. O pai da minha mãe, antes dele morrer, mexia com doce, fazia doce de leite, pé-de-moleque, essas coisas e vendia lá onde ele morava, em Goiânia. E a minha avó só do lar, mesmo. Não lembro de falarem o que ela era, não. Sempre assim, desde que eu conheci, foi em casa, mesmo.
P/1 – Quem da família primeiro chegou em Belo Horizonte?
R – Foi... meu pai e minha mãe?
P/1 – Sim.
R – Foram os dois. Na verdade meu pai veio pra trabalhar e trouxe minha mãe, que lá eles já eram casados.
P/1 – E eles vinham de onde?
R – Eles moravam em Catas Altas.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho um irmão.
P/1 – Mais velho, ou mais novo?
R – Mais velho.
P/1 – Certo. E como era a relação dentro de casa? Vocês tinham alguma obrigação em casa, pra ajudar a mãe etc?
R - Não. Só depois que a gente fica moça, que a gente começa a ajudar a mãe a arrumar a cozinha, a limpar a casa, mas nada de obrigação, mesmo, não. Graças a Deus a gente ficou... meu pai deixou a gente bem focada nos estudos, mesmo.
P/1 – Ótimo! E como era sua casa, a casa da sua infância?
R – Olha, eu morei, que eu lembro, que meu pai falava, quando a gente era novinha, a gente morava lá no interior. Era Passos, a gente morava em Passos, uma época. Eu não lembro.
P/1 – Passos?
R – Passo, é. Nós moramos uma época em Passos, quando eu era novinha, não lembro. Aí ele conta que a casa, um dia eles chegaram do trabalho e tinha sido roubada. Aí minha mãe ficou com muito medo de lá e acabaram... meu pai conseguiu arrumar um trabalho aqui em Belo Horizonte e vieram para cá, depois disso, desse assalto. Aí a gente morou em apartamento muitos anos, até uns 15 anos foi em um apartamento. Tive uma infância ótima na rua, brincando o tempo inteiro com os amigos e depois desses 15 anos a gente mudou para uma casa, aqui também, em Belo Horizonte e ficamos até quase eu casar lá, nessa casa.
P/1 – E como é que eram essas brincadeiras de infância?
R – Era pular corda, elástico, correr, bicicleta, patins. A gente, depois da escola, ficava lá, (risos) o tempo inteiro na rua, brincando.
P/1 – Que bairro que era essa rua?
R – É Nova Pampulha, lá perto do zoológico.
P/1 – E a sua primeira escola?
R – Minha primeira escola foi o Santos Anjos, que era ali no Caiçara e foi até uma época que minha mãe ajudou um pouco lá, ela foi monitora lá, um pouco e então era bom, que ia eu, ela e meu irmão juntos, minha mãe trabalhou lá um pouco e depois ela só ficou mesmo, realmente, cuidando da gente.
P/1 – Tem alguma professora, ou algum professor que tivessem marcado a sua infância, nesse momento?
R – Nessa época do Santos Anjos tem a professora Marta, que era de Português. A gente ficou até muito tempo depois que eu saí dessa escola, manteve contato, sim.
P/1 – O que ela tinha de tão especial?
R – Não sei. Eu acho que a gente teve uma conexão. Minha mãe também era amiga dela, então acabou que a gente ficou próxima por isso.
P/1 – Certo. E como é que você continuou seus estudos?
R – Depois disso eu fui pra uma escola que chama Madre Carmelita, que era ali perto do zoológico também e fiquei lá até formar. E hoje carrego vários amigos de lá, até hoje, que são padrinhos do meu casamento, eu sou madrinha de casamento deles e a gente é amigo até hoje.
P/1 – Certo. E o que aquela menina queria ser, quando crescesse?
R – Olha, eu queria ser professora, naquela época. (risos) Acho que podia ser pela minha mãe, também, ter tido uma parte de professora. Eu queria ser professora, mas depois que eu formei os caminhos foram outros. Eu preferi o administrativo, mesmo, de empresa.
P/1 – Você não foi nessa trajetória. Descreve essa trajetória.
R – De quê? De chegar aqui como...
P/1 – De continuar os estudos, optar por Administração de Empresas. É isso que eu entendi?
R – Foi isso mesmo. Depois que eu saí da escola, na época que eu me formei
eu vi que eu queria era trabalhar dentro de empresa e comecei, então... na verdade, eu comecei a faculdade quando eu entrei no meu primeiro emprego, que foi no Hospital Mário Penna. Eu trabalhava lá, na recepção. Aí, de lá, eu vi que eu tinha que fazer alguma coisa e optei por Administração de Empresas, para eu poder trabalhar nessa área administrativa mesmo.
P/1 – E aí você prestou vestibular onde?
R – Na Faculdade Arnaldo.
P/1 – Como é que transcorreu esse curso?
R – O bom é que essa faculdade era super perto do meu serviço, lá no Mário Penna e então eu consegui fazer quatro anos, sem interromper e formar com sucesso, graças a Deus.
P/1 – E o dia da sua formatura?
R – Nossa, muito feliz, principalmente que eu estava com as pessoas que me deram total apoio, que era meu namorado, que hoje é meu marido, meus pais e meus amigos, meu irmão, então com certeza foi uma vitória, né? E eu me formei até antes do meu irmão, que é mais velho que eu. (risos) Então, foi uma alegria muito grande lá em casa. (risos)
P/1 – E o seu trabalho seguinte, como é que... você saiu da faculdade e foi trabalhar em quê?
R – Até antes mesmo de eu terminar a faculdade eu fui para a Unimed, trabalhar lá, no setor de projetos. Só que eu fiquei bem pouco lá, não foi nem um ano e quando eu tive a oportunidade de vir para cá. Foi em 2010, que eu tive oportunidade de vir para cá, que um professor meu me indicou, que tinha uma vaga aberta e eu consegui passar e estou aqui até hoje, desde 2010.
P/1 – Como é que foi esse processo? Conta um pouco, mais detalhadamente. O seu professor te sugeriu para uma vaga. Que vaga era essa? Como é que você fez todo o trâmite, para chegar nessa vaga?
R – Ele disse que aqui na Anglo eles estavam com processo seletivo para PcD e se eu tinha o interesse de vir para cá. Então, eu fiquei muito feliz, por ser uma empresa multinacional, conhecida, eu vim para cá e continuo nessa mesma área, desde 2010, que na época era o Sandro Faria meu gerente, participei de algumas entrevistas com ele e com o RH e fui selecionada, graças a Deus!
P/1 – Certo. E como é que você foi recebida?
R – O pessoal daqui da área super receptivo. Tem uns que até hoje eu trabalho com eles aqui, na gestão fundiária, outros já saíram, mudaram de área, mas acabamos virando até amigos, mas fui muito bem recebida.
P/1 – E as suas principais responsabilidades, quais eram, quais foram, nesse primeiro momento?
R – Eu entrei aqui para ajudar minha xará, chama Geisa também, com questões de contratos do mineroduto. Então, eu cheguei aqui para isso, eu a ajudava coisas bem administrativas, mesmo, na época. Eu a ajudava colher assinatura de gerente. Era mais isso. Alguma coisa de xerox, de impressão, de escanear documentos, essas coisas. Então, no início foi bem isso, bem esse administrativo mesmo.
P/1 – E daí como é que foi evoluindo isso?
R – Eu tive... acabou que eu me aproximei de uma menina que fazia pagamentos aqui na área e eu fui falando com ela que eu queria aprender coisas novas, não só ficar naquilo ali, naquele administrativo ali e ela foi me inserindo na atividade dela, me ensinando e então, a partir daí, alguns anos depois ela até mudou de área e eu assumi esse processo de pagamento da área.
P/1 – Ficou trabalhando com pagamentos?
R – Isso. Pagamentos de contratos de aquisições de terras, de aluguéis.
P/1 – Isso no momento em que estava sendo construído o mineroduto?
R – Isso mesmo.
P/1 – E como era esse ‘clima’? Conta um pouco como que um projeto daquele tamanho, centralizado e você ali, no meio?
R – Era até emocionante em estar trabalhando em uma multinacional, com uma responsabilidade tão grande e tudo era muito novo para mim, eu vim de um hospital, então tudo aqui foi muito novo, então a cada etapa que a gente... aqui tinha umas metas, eu acho que você já deve ter ouvido isso, para o primeiro embarque, então a cada meta que a Anglo ia batendo a gente comemorava com um sino que tinha aqui, o sino tocava quando a gente batia meta, então foi muito emocionante poder estar aqui desde o início e até hoje.
P/1 – E vocês cumpriram todas as metas?
R – Sim, cumprimos todas as metas.
P/1 – Na verdade o mineroduto estava sendo construído, mas o objetivo final era a data do primeiro embarque?
R – Isso. Para o porto no Rio. Itaipuaçu.
P/1 – Fora esses momentos de celebração e comemoração houve também momentos tensos.
R – Sim. (risos) De...
P/1 – Tem situação que você pode...
R – Tem uma situação aqui dentro da minha área, que o pessoal não deve ter falado, mas foi de uma casa, no trajeto, que pegou fogo. Então, como a gente faz o processo de aquisição, o pagamento, então teve essa história dessa casa que pegou fogo, então era uma coisa nova na nossa área, então desceu o gerente lá para Conceição [do Mato Dentro], todo mundo para Conceição, para amparar a família e o que me marcou foi o cuidado da Anglo com a família, em arrumar um outro lugar rápido para ela morar, comprou roupa, coisas de casa, amparou essa pessoa de todas as formas, mesmo nem antes de saber o que aconteceu, o incêndio, o que ocorreu para o incêndio acontecer. Então, o que me marca aqui na Anglo é isso: o cuidado que eles têm com as pessoas.
P/1 – (16:48) que você falasse um pouco sobre exatamente esse ponto da Anglo American, que é a atenção dada ao relacionamento com as comunidades. Como é que isso aparece, para você?
R – Como eu fico aqui, em BH, eu não tenho muito contato lá em Conceição, mas pelo que eu vejo é que eles têm o cuidado de ser transparentes em tudo e fazer, realmente, o que é certo. Mas de lá, de relacionamento com eles lá eu, sinceramente, não tenho muito contato.
P/1 – Ok. Mas no seu trabalho que você disse, administrando essas compras de terrenos, desapropriações e tudo o mais, como é que você se relacionava com as pessoas que estavam sujeitas a esses...
R -
É porque igual: na minha área tem o pessoal de Conceição, que fica na frente, que faz a negociação e eu, aqui em Belo Horizonte, já recebo o contrato pronto, só para pagar. Eu não tenho contato com pessoas, com eles. Eu só recebo o contrato, para fazer o pagamento. Aquele relacionamento de negociação existe dentro da minha área, mas eu não participo. Entendeu?
P/1 – Sei, mas você conhece esse processo?
R – Sim, mas não participo, não tenho nenhum... não participo da negociação, não.
P/1 – As coisas, quando chegam na sua mão, já chegam ‘mastigadas’? É isso?
R – Sim, já. Já chega um contrato assinado pelas pessoas e pela diretoria aqui da Anglo, então eu só faço o processo.
P/2 – Lá no começo, quando você falou que entrou na Anglo, você falou que a vaga era pra PcD.
R – Isso.
P/1 – É isso que eu não tinha entendido muito bem. Você é uma pessoa com deficiência, ou você entrou pra criar um programa para pessoas...
R – Não, eu sou.
P/2 – Ah, entendi! Desculpa, é isso que eu não tinha entendido. Qual a sua deficiência?
R – Eu não tenho a mão esquerda.
P/2 – Ah, entendi. E por causa desse programa é que você entrou na Anglo?
R – Que eu entrei, isso.
P/2 – Ah, era isso que eu não tinha entendido. Desculpa. E como é esse programa dentro da empresa? Pra gente voltar e falar também um pouquinho sobre isso.
R – Hoje em dia o Programa Incluir é muito mais amplo do que era na época, que hoje em dia tem o pessoal com Síndrome de Down, tem autistas. Então, hoje o projeto Incluir é muito maior. Então, é maravilhoso. Você se sentir incluída é muito bom. E uma coisa que aqui na Anglo, das outras empresas eu não senti que eu vim para cá para cumprir essa cota e pronto, tipo assim: me ‘jogou’ lá na área, não preciso fazer nada, é só para cumprir a cota. Não. Eu vejo que eles se preocupam em desenvolver a gente e também crescimento profissional, que é o que eu quero. Eu não quero ser vista apenas como uma deficiente, cumprindo cota. Eu quero crescer, ‘subir’. (risos) É isso. Então, o programa é muito bom.
P/1 – Ele é um programa permanente, o Incluir?
R – Sim.
P/1 – Importante isso, né?
R – É. E o bom é que é igual eu estou te falando: que a gente é reconhecido não só pela deficiência e sim como um profissional. Igual: eu estudei, eu fiz graduação, pós-graduação e tento, cada vez mais, buscar mais conhecimento, para ter reconhecimento aqui dentro a empresa.
P/2 – Você contou que, quando você entrou, ainda não era esse programa?
R – Não era o Programa Incluir. Só tinha essas vagas para deficientes, mas o programa Incluir foi depois.
P/1 – Aí você viu o programa Incluir se desenvolvendo no tempo que você estava aí? Como é que foi esse processo?
R – Isso. Eu fico bastante feliz em ver que tem pessoas qualificadas, com certeza, assim como eu qualifiquei também, para estar no mercado de trabalho e ser reconhecida e não apenas estar aqui, cumprindo uma cota que a empresa tem que cumprir. E eu vejo que a Anglo se preocupa com isso: incluir a gente e fazer a gente sentir que realmente a gente está incluído.
P/1 – A partir da implantação do Incluir na empresa o que, na sua visão, mudou, de mais substancial?
R – Olha, além da gente ver a diversidade aqui, poder trabalhar com pessoas como o pessoal de Síndrome de Down, que é totalmente diferente do nosso dia a dia. Então, é muito bom, até para as pessoas terem mais, criarem mais aquele carinho e respeito com as pessoas diferentes. É muito gratificante. É uma empresa que é preocupada em, realmente, incluir todo mundo. Não só deficientes, inclusão de tudo, diversidade. A Anglo preocupa muito com isso.
P/1 – E como é que isso se reflete no dia a dia do trabalho?
R – Eu acho que, para mim, o mais importante é ser vista como uma profissional, mesmo e não igual eu falei com o Nataniel, de estar aqui só para cumprir cota. Realmente eu sou deficiente, mas me preparei para o mercado de trabalho, assim como qualquer outra pessoa. E eu vejo que eles não fazem essa distinção, sabe? Não me tratam diferente, nem nada. Eu me sinto realmente incluída.
P/1 – Você conhece exemplos semelhantes a esse, fora da Anglo?
R – Fora?
P/1 – É.
R – Eu te falo de experiência profissional minha. O que eu sentia na Unimed, que foi antes de vir para cá, que eu estava lá mesmo porque precisava. Eles não me davam serviço, eu ficava a maior parte do meu dia muito ociosa e eu via que as outras pessoas estavam trabalhando naquele pique todo de um projeto, era até uma implantação no hospital. Então, quando veio essa oportunidade de vir pra cá eu me agarrei totalmente, com ‘unhas e dentes’, pra sair de lá, porque eu não estava me sentindo reconhecida.
P/2 – Quando foi que você entrou na Anglo? Que período foi esse, da sua vida?
R – Eu entrei aqui em 2010. Eu tinha me formado em dezembro de 2009 e entrei aqui em maio de 2010.
P/2 - E ainda dentro desse contexto, mas aí falando um pouco de vida pessoal e eu sei que é próximo dessa época, porque você contou que, na formatura, você estava com seu namorado, que hoje é seu marido. Então, para falar um pouquinho de vida pessoal também, como foi esse encontro, onde você o conheceu, como é que foi isso?
R - Eu o conheci lá no Mário Penna, que a gente trabalhava junto e como a nossa área era até uma área de interesse, acabou que a gente ficou até um ano namorando escondido, lá. (risos) Aí ele saiu de lá primeiro que eu e a gente abriu, as pessoas ficaram até assim: “Gente, vocês namoravam, não acredito”. (risos) Aí foi isso: ele saiu primeiro que eu e depois eu saí de lá.
P/2 – Aí vocês se casaram quando?
R – Nós casamos em 2011. Entrei na Unimed...
P/2 – E você tem filhos?
R – Tenho uma filha de quatro anos.
P/2 – Muito bem. Aí a gente estava falando sobre o primeiro embarque, que o Luiz estava seguindo como lógica. Teve alguma situação no primeiro embarque? Por que teve toda a construção do mineroduto, para poder chegar até o primeiro embarque e aí, como foi esse momento do primeiro embarque? Como é que foi dentro da empresa, essa movimentação?
R – Foi uma festa. Todo mundo ficou muito feliz, porque a gente está vendo que o nosso trabalho realizou. Que tudo, ali, que passou naquele tempo de implantação foi realizado. Então, uma realização profissional para todo mundo a gente falar que a gente participou do primeiro embarque na Anglo, né? A gente estava aqui para ver esse momento, não lá, mas participando daqui. (risos) Maravilhoso! Nossa!
P/2 – E como foi aqui? Porque estava acontecendo lá no Rio e aí, como é que chegou, pra vocês, essas informações? Como é que vocês ficaram sabendo o que estava acontecendo lá no Rio?
R – Nossa, minha memória é péssima sobre algumas coisas, mas eu acho, não lembro se a gente viu. Nossa, não lembro mesmo. (risos)
P/2 – Tranquilo. Mas aí vocês ficaram sabendo, de alguma forma, o que estava acontecendo lá no Rio?
R – Sim, a gente já sabia que dia ia ser, o que ia acontecer, a gente viu fotos, vídeos, mas foi bem gratificante, com certeza.
P/1 – O sino badalou, que foi uma glória, né?
R – É. Ainda mais que cada sininho que tocava era dinheiro no bolso que entrava. Foi ótimo! (risos)
P/1 – O quê?
R – O sino para o primeiro embarque, igual eu te falei, tiveram algumas metas para a gente cumprir e cada meta que a gente cumpria era um valor em dinheiro que a gente recebia, (risos) então cada sininho que tocava era, além da meta ser cumprida, dinheirinho que entrava. (risos)
P/1 – Está certo. E nos momentos difíceis, críticos? Por exemplo: quando houve o incidente do mineroduto, como isso se refletiu no seu trabalho em BH?
R – Meu trabalho, na verdade, igual eu te falo, pagamentos, para mim o que deu é que chegou um monte de contrato para a gente indenizar, para a gente pagar as pessoas que foram afetadas. Então, igual eu te falo: como eu fico aqui, não tenho muito contato lá, mas o que chegou para mim foi que aumentou o número de contratos para a gente pagar, indenizar essas pessoas.
P/1 – Embora vocês não estivessem lá, na ‘linha de frente’, como essa situação se refletia no ambiente de trabalho de vocês, em Belo Horizonte?
R – Todo mundo ficou bem tenso, até com medo de acontecer alguma coisa pior. Então, ficou todo mundo assim, apesar da gente não estar lá, na ‘linha de frente’, mas a gente estava aqui, pronto também para ajudar no que fosse possível. Que a gente está aqui no administrativo, mas no que fosse possível.
P/1 – E como é que foi, pra vocês, a ‘volta por cima’ que a Anglo deu, nessa situação? Acabou se saindo bem.
R – Acaba que a gente sempre tem essa esperança, de que tudo vai dar certo, principalmente que aqui tem ótimos profissionais. Então, eu acho que a gente não tinha dúvidas de que o final seria bom. Principalmente pelos profissionais capacitados que a gente tem. Os gerentes ficavam lá quase full time, para tudo se resolver. Então, as pessoas ‘entraram de cabeça’, para tudo ser resolvido.
P/1 – E na sua área você disse que aumentou o número de contratos. Significa que houve uma assistência imediata?
R – Isso. Tem processo de pagamento aqui da Anglo que é um pouquinho demorado, burocrático. Nessa situação tudo se arruma um jeito. Não para fazer nada errado, mas um ‘jeitinho’ para as pessoas receberem mais rápido. Então, foi uma força-tarefa muito grande, para tudo acontecer de forma rápida, para as pessoas.
P/1 – Você diria que acabou-se fazendo ‘do limão, uma limonada’?
R – Com certeza. Eu tenho certeza que as pessoas tiraram, principalmente quem estava na ‘linha de frente’, um aprendizado muito grande disso.
P/1 – Como é na Anglo o seu relacionamento com os colegas PcD? Existe uma... vocês falam sobre o trabalho de vocês? Existe alguma reivindicação que vocês encaminham?
R – Agora tem uns grupos que tem aqui, na Anglo, de interesses e tem um grupo de pessoas com deficiência, mas não só de pessoas com deficiência, que trabalham para a melhoria do nosso dia a dia. Assim: uma pessoa que está vendo que o trabalho dela seria melhor se tivesse uma tela diferente, para ajudar, uma rampa, qualquer tipo de acesso. Então, está tendo esses grupos, pra melhorar mesmo o acesso e a vida de nós, deficientes, aqui da empresa.
P/1 – E são encontros periódicos?
R – Isso.
P/1 – Importante isso, porque amplia a visão.
R – Eu acho que até hoje ia ter. Não, amanhã vai ter o nosso grupo. Chama Grupo de Afinidades. Vai ter, amanhã tem reunião nossa. (risos)
P/1 – Esses grupos de afinidades encaminham demandas para a direção? É assim que funciona?
R – Isso. Porque tudo eles têm que aprovar. Então, temos a ideia e ela é levada para a diretoria, para aprovar.
P/1 – Como é que tem sido a taxa de êxito dessas reivindicações?
R – Eu sei que tinha alguns projetos em andamento, mas eu entrei em férias, então eu não sei. Eu sei que está ‘andando’, mas não sei como está, de fato, se a gente já conseguiu alguma coisa recente, sabe? Eu estou no subgrupo de acessibilidade, tinha algumas propostas, eu estava vendo aqui, mas eu não sei se ainda foram aprovadas. Não tem aqui falando.
P/1 – O importante é que o mecanismo existe e funciona.
R – Existe. Isso mesmo. Assim como tem outros grupos também, de mulheres, de várias outras coisas.
P/1 – São chamados Grupos de Afinidades?
R – Grupos de Afinidades.
P/1 – Qual é a sua principal atividade, hoje?
R – Eu cuido do processo de pagamentos e contratos da área e também orçamento de níquel. Eu sou responsável pelo orçamento de níquel e esses pagamentos de contrato, aluguel, servidão, para gestão fundiária.
P/1 – Analista fundiária?
R – Isso, eu sou analista fundiária.
P/1 – E você se referiu a níquel, desculpa, eu não entendi.
R – Porque temos a (35:08), que é o minério de ferro e níquel. E eu cuido do orçamento de níquel.
P/1 – E o seu dia a dia, como é?
R – Nós trabalhamos de forma híbrida agora, depois da pandemia, hoje eu estou aqui, no escritório, três vezes na semana. Uma semana a gente está três vezes no escritório; a outra semana a gente está duas vezes. E acabou que, querendo ou não, essa parte aí que a pandemia deixou para a gente foi positiva. Eu trabalho um pouco longe aqui da empresa e a logística de ficar em casa, de ficar mais perto de buscar a criança na escola, te confesso que foi, está sendo muito boa. (risos)
P/1 – O que você faz nos seus horários de lazer?
R – Meus horários de lazer é mais, agora, com a pequena, porque acaba que ela precisa ficar integral na escola e à noite sempre é muito corrido: a gente chega, a busca e é muito corrido e final de semana mais é para ela. A gente vai no clube, no teatro, parquinho. Então, eu te digo que hoje em dia o meu lazer é mais pra ela, mesmo.
P/1 – Você falou do seu marido, qual é o nome dele?
R – Tiago.
P/1 – O que o Tiago faz?
R – Ele é contador. Ele é coordenador de contabilidade numa empresa de construção civil.
P/1 – As contas da sua casa devem ser muito bem organizadas.
R – Isso. Organizado, imposto de renda tudo com ele, não preciso nem me preocupar. (risos)
P/1 – E os pagamentos com você.
R – Isso. (risos) E acaba que é isso mesmo: eu que faço os pagamentos do mês aqui, só passo a conta para dividir, para ele. (risos)
P/1 – Só mais um detalhe a respeito do projeto Incluir: ele é um projeto permanente? Continua em atividade?
R – Continua em atividade, sim.
P/1 – É um projeto permanente da companhia, então?
R – Sim. Eu só não lembro a data que ele foi implementado. Mas às vezes a Clarissa, depois, pode te falar. Eu não lembro o ano que ele foi implementado, mas ele é contínuo, sim.
P/1 – Quais foram os aprendizados mais importantes que você obteve nessa sua trajetória na Anglo American?
R – Eu acho que sem dúvida nenhuma é a segurança. Como o principal valor da Anglo é segurança, então eu acho que o que mais fica na minha cabeça é a segurança, como eles falam: voltar para casa seguro e em casa ser seguro. Tem uma coisa que acaba que quando você vem aqui para Anglo fica mais claro na sua cabeça, uma coisa simples, que a gente não dá tanto valor: é atravessar na faixa de segurança. Como isso é importante. Hoje eu vejo as pessoas na rua, dá vontade de sair gritando no carro: “Vai atravessar na faixa”. Principalmente quando é um idoso, ou alguma mulher com uma criança, atravessando fora da faixa. Nossa, eu fico (risos) injuriada! Outra coisa é saída de segurança. Se acontecer alguma coisa eu sempre me preocupo em ver como eu vou poder sair, se acontecer alguma coisa, quando eu vou no cinema. Você não tem maldade: se acontecer alguma coisa aqui, o que eu faço? Então, depois que eu vim aqui para a Anglo eu acho que preocupação com segurança ficou o principal valor para mim também, hoje em dia. Na minha casa, simples guardar uma faca direito, para eu não machucar, nem minha filha machucar, tudo. Então, eu acho que eu tiro de vida na Anglo é a segurança, com certeza.
P/1 – Certo. Isso reflete no dia a dia, né?
R – Sim. Você vê uma pessoa fazendo alguma coisa errada, não só aqui, mas também fora, você tem a preocupação em falar, tipo assim: “Ah, não, o deixa fazer o que ele quiser, não sou eu”. Uma coisa que aconteceu comigo recente: foi um pintor, lá em casa, eu moro numa cobertura, aí ele tinha que pintar a escada que dá para cobertura e ele queria fazer uma gambiarra lá, para subir numa outra escada na escada, para pintar lá em cima. Aí eu falei com ele que, se fosse pra fazer gambiarra, nem precisava pintar, que a gente contratava outra pessoa. Então, a segurança, de eu me preocupar com a segurança das outras pessoas também, não só minha.
P/1 – Claro! Fica um preocupação permanente.
R – Sim. Eu acho que o que mais eu falo de valor que eu levo para mim, mesmo, é com certeza a segurança.
P/1 – O que, para você, significa o fato de a Anglo estar há cinquenta anos no Brasil? O que esse marco significa pra você?
R – Só mostra como a Anglo é uma empresa séria, competente e acho que merecedora de tudo isso. As pessoas que estão aqui, envolvidas no dia a dia, todo mundo vem aqui, realmente dedicam a nossa vida mesmo, para que o nosso trabalho seja feito corretamente. E com segurança, né? (risos)
P/1 – O que você imagina que pode estar reservado para a Anglo American no mercado global de mineração? O que essa companhia tem, de diferente?
R – Olha, eu acho que é a preocupação com as pessoas. Eu acho que o que faz a Anglo, hoje, ser diferente e ter um caminho longo aí eu acho que ela se preocupa com a gente, né? Preocupa com os funcionários, com a comunidade. Então, por isso que eu acho que ela está aí há cinquenta anos e vai estar muito mais. Igual quando fala ‘Reimaginar a mineração para melhorar a vida das pessoas’, que é slogan da Anglo, então, ela sempre preocupada com as pessoas.
P/1 – O que significa isso, pra você?
R – Eu fico muito feliz em trabalhar, em ter a oportunidade em estar aqui há tantos anos, numa empresa dessa, que não canso de falar, está preocupada em melhorar a vida dos funcionários e também da comunidade.
P/1 – Que futuro você antevê pra Anglo? Qual futuro dela?
R – Eu acho que, com certeza, é crescer ainda mais, muitos e muitos anos de mineração, extraindo muito minério (risos) e continuando transformando a vida das pessoas.
P/1 – Tem alguma coisa que você gostaria de ter dito e a gente não te provocou a dizer?
R – Não. Acho que eu vim no intuito de falar isso, de como a Anglo preocupa com a diversidade e a inclusão. E eu acho muito bacana aqui na empresa, como realmente eles se preocupam com as pessoas.
P/1 – Isso não é apenas uma figura de retórica, é uma prática?
R – Isso, é uma prática. Eles realmente preocupam pelo nosso bem-estar e também da comunidade. É o que me deixa mais feliz e orgulhosa de estar aqui e não querer sair daqui, querer continuar aqui por muitos anos, igual tem muita gente de níquel que trabalha quarenta anos aqui, ou mais, então eu quero fazer parte disso, de muitos anos aqui ainda, quem sabe minha filha também, né? (risos) Como tem pessoas que têm filhos aqui. Então, é isso que eu quero.
P/1 – Você se dá conta que você também é um pouco responsável pela abertura e pela solução da diversidade que a companhia tem? Você também é parte disso.
R – Também sou parte, né? É.
P/1 – Ajudou a ‘abrir portas’. Muito bem.
R – Verdade. Fico muito feliz (risos) por estar aqui, por ter sido chamada pra poder estar aqui com vocês. Apesar de eu ser muito tímida, eu achei: “Nossa, Deus!” Já me deu até dor de barriga hoje de manhã, de tanta preocupação. (risos) Mas fico muito feliz de poder estar aqui, com vocês.
P/1 – E como é que você se sentiu, dando essa entrevista para nós?
R – Nossa! Quando eu recebi o e-mail, eu fiquei muito feliz. Ainda mais que eu estou aqui já tem quase 13 anos e participar de um evento grande como esse, nossa, me deixou muito feliz. Meu marido está todo orgulhoso, já até mandou mensagem aqui, perguntando como foi. (risos) Então, acaba que as pessoas que a gente tem mais contato ficam orgulhosas da gente e eu também, muito feliz por meu nome ter sido citado, em tantos nomes que poderiam ter sido citados, o meu ter sido um deles, então eu acho que eu estou fazendo a coisa certa, estou dando o meu melhor aqui dentro e o reconhecimento está chegando. (risos) Sempre.
P/1 – Que bom! E quais são os seus sonhos?
R – Aqui dentro, ou não?
P/1 – Seus sonhos no geral.
R – Igual eu já falei um pouco: eu pretendo ainda ficar muitos e muitos anos aqui e ser reconhecida, mais ainda, de ter um crescimento profissional aqui dentro e poder estar aí, com saúde, cuidando da minha família, da minha filha e do meu marido, estamos juntos aí e ter ainda... eu já te falei, aquele dia, que eu não tenho mais minha mãe, ela faleceu tem pouco tempo, mas cuidar do meu pai agora. Então, eu acho que o meu sonho é esse: ficar mais pertinho dele, aproveitar bastante dele, que ele também está passando por uma situação de saúde complicada. Então, é isso que eu quero: meu sonho é ficar com a minha família e muitos e muitos anos por aqui.
P/2 – Dá pra perceber que você é bastante ligada à família e a bebezinha agora é sua vida. Você contou essa história do seu pai, mas sua filhinha é sua vida, então fora da empresa sua vida é com ela, pelo que eu estou percebendo.
R – Totalmente.
P/2 – Vamos falar um pouquinho dela. Qual o nome dela?
R – Ana Luiza.
P/2 – Quando ela nasceu?
R – Ela nasceu em 2019 e eu acho que eu vou até chorar, mas eu fiquei um ano tentando engravidar e era o sonho da minha vida, sabe? Eu só não engravidei antes, porque meu marido não queria. Ele queria trabalhar, estudar, e depois ter tempo, né? Então, eu fiquei um ano para tentar engravidar e eu queria muito que ela tivesse nascido enquanto minha mãe estava viva, (choro) mas ela nasceu e minha mãe tinha acabado de falecer. (choro) Minha mãe faleceu em 2018 e ela nasceu em 2019. (choro) Então, eu falo que era o maior sonho da minha vida, mas infelizmente minha mãe não estava aqui, pra viver isso tudo comigo, sabe? (choro) Então, as pessoas falam que ela parece muito com ela. Então, ela é um docinho, (choro) minha mãe era também. Então, é a maior realização da minha vida minha filha, com certeza. (choro)
P/2 – Dá para perceber toda sua dedicação. Eu vi quando você fala dela, seu olhinho brilha. Então, ela é um anjinho na sua vida.
R – Ela foi muito sonhada. E depois, ainda mais quando as pessoas falando que ela parece com a minha mãe. Nossa, foi a melhor coisa da minha vida. (risos)
P/2 – E como vocês escolheram o nomezinho dela? Como é que foi?
R – Para você ver: eu sempre quis, como o meu nome é diferente, não é comum, então eu falava para o meu marido que eu queria um nome pra que a criança pudesse ter um apelido bonitinho, aí ele falou assim: “Eu gosto de Ana”, eu falei: “Nossa, Aninha!” E a gente está falando que o apelido dela é Aninha, sem a gente influenciar em nada, ela pequetitinha assim, toda... (risos) fica meiguinha também, assim. Então, foi mais isso: eu queria um nome que desse pra ter um apelidinho bonitinho e acabou sendo esse. (risos) Foi assim que escolhemos.
P/1 – Está certo. Sua mãe deve estar orgulhosa.
R – Eu espero. (risos)
P/1 – Geisa, muito obrigado pela sua entrevista, pelo tempo que você nos dedicou. Foi muito bom te ouvir.
R – Obrigada você. Eu que agradeço.Recolher