Projeto Anglo American – 50 Anos de Brasil
Entrevista de Izanilde Silva da Silva
Entrevistada por Luiz Egypto e Nataniel Torres
São Paulo, 9 de março de 2023
Entrevista número AAMC_HV005
Transcrita por Selma Paiva
R – Meu nome é Izanilde Silva da Silva, eu nasci na data de 21 de março de ...Continuar leitura
Projeto Anglo American – 50 Anos de Brasil
Entrevista de Izanilde Silva da Silva
Entrevistada por Luiz Egypto e Nataniel Torres
São Paulo, 9 de março de 2023
Entrevista número AAMC_HV005
Transcrita por Selma Paiva
R – Meu nome é Izanilde Silva da Silva, eu nasci na data de 21 de março de 1979, em Belém do Pará.
P/1 – O nome dos seus pais, por favor.
R – O nome do meu pai Estelo Cardoso da Silva e o nome da minha mãe Izabel Silva da Silva.
P/1 – Qual era a atividade do seu pai?
R – Meu pai sempre foi motorista de caminhão, carreta e hoje ele trabalha de táxi.
P/1 – Certo. E a sua mãe?
R – A minha mãe sempre foi doméstica.
P/1 – Iza, você conheceu seus avós?
R – Eu conheci a minha avó materna.
P/1 – Sabe o nome dela?
R – Ana Evaristo da Silva.
P/1 – E seu avô materno?
R – Não conheci, ele já havia falecido.
P/1 – Sabe o nome dele?
R – Não recordo. (risos)
P/1 – Da parte do seu pai...
R – Da parte do meu pai eu conheci somente meu avô paterno, mas tive apenas um contato com ele, mas também não recordo o nome e a minha avó paterna também já havia falecido, mas o nome dela eu lembro, é... ô, meu Deus, ‘deu um branco’ agora. (risos) Mas, enfim, eu vou lembrar daqui a pouco. (risos) Mas agora, nesse momento, eu esqueci. (risos)
P/1 – Tá bom. Corriam histórias, na sua família, sobre seus avós? De onde eles vieram, o que eles faziam? Histórias sobre eles, você sabe de alguma informação a esse respeito?
R – Dos meus avós paternos nada. Da minha avó materna eu lembro só que ela comentava que ele era escravo na época que eles se conheceram e tiveram uma vida bem dificultosa, no interior do Pará, mas conseguiram criar seus filhos nas condições reais deles e nada de extraordinário nessa história.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho. Nós somos quatro filhos, portanto eu tenho três irmãos.
P/1 – E você se localiza onde, nessa ‘escadinha’?
R – Terceiro lugar. (risos) Eu tinha um irmão mais velho, hoje ele é falecido e somos três mulheres depois do meu irmão mais velho, eu sou a segunda das mulheres e a terceira dos filhos.
P/1 – Como é que era a sua infância, lá em Belém? Sua casa de infância, como é que era?
R – A minha casa, a princípio, era uma casa de madeira. Na região que eu morava era uma região bastante humilde, bastante simples, não havia recurso, naquela época, há 43 anos, 44 anos e morávamos em ruas de terra, mesmo e aí meu pai construiu uma casa de três compartimentos, de madeira, e depois de alguns anos poucos recursos foram chegando até ao meu bairro, minha rua e meu pai conseguiu guardar uma reservazinha e aí mudou um pouco a condição da nossa casa, construiu uma casa melhorzinha, de alvenaria. E você perguntou sobre a relação minha, da minha família, quando criança, a nossa relação foi extremamente próxima e bem afetiva, não tanto com meu pai, porque ele foi motorista de caminhão e ele vivia viajando, passava muito tempo viajando, a gente o via muito pouco. Por exemplo: ele viajava, ficava uma, duas semanas, aí voltava, ficava uns três dias com a gente, depois tinha que voltar de novo para o serviço e viajar para outros estados. Então, a nossa relação, até os meus 15 anos, posso dizer que foi bem próxima mais com a minha mãe e com meus irmãos e a minha mãe criava a gente com toda atenção, com todo carinho, cuidava de quatro crianças, nós sempre fomos ‘escadinha’, nossas idades foram bem próximas, a diferença, talvez, de menos de dois anos de um filho para o outro. Então, a minha mãe, com bastante dificuldade, criou a gente, mas sempre próxima, sempre observando os filhos, tentando dar o melhor... tentando, não, ela deu o melhor que ela podia para nós, filhos, crianças, na época.
P/1 – Como que era o bairro que você morava? Como chamava o nome do bairro, qual era mesmo?
R – O nome do bairro é Guama. G-u-a-m-a.
P/1 – Ok. E como essa criançada se divertia?
R – Ai, Luiz, tempos bons, viu? (risos) Naquela época a gente brincava muito em casa. A minha mãe sempre sentiu aquele medo de deixar os filhos brincar na rua. Então, até os seis, sete anos a maior parte do nosso tempo era dentro de casa, brincando entre nós, irmãos, principalmente as meninas brincavam com alguns brinquedos que às vezes nós mesmas... às vezes não, nós mesmas fabricávamos em casa. Por exemplo: papelão a gente confeccionava alguma coisa, caixa de fósforo fazia brinquedinhos, palito de fósforo. Enfim, nós inventávamos. Brincava de bonequinha. Geralmente as nossas bonequinhas eram de papel, mesmo, que a gente confeccionava e fazia roupinha de papel. Colocávamos... desenhávamos as pecinhas e fazíamos algo para fechar por trás, uma abazinha de papel, para fechar por trás. Eu lembro perfeitamente. Enfim, todos nossos brinquedinhos eram confeccionados por nós mesmos e depois de um certo tempo a minha mãe foi liberando a gente, aos poucos, para brincar com outras crianças da rua, a princípio somente na frente de casa, com outras coleguinhas. A gente brincava, como a rua era de terra, fazia desenhos na terra, brincávamos aquelas brincadeiras de criança, cirandinha, enfim e depois a gente foi ganhando confiança da nossa mãe e ela permitia que... e a gente foi também crescendo, criando mais... entendendo mais das coisas e a gente começou a brincar com mais outras crianças, nós brincávamos de... na minha região a gente chama de cemitério; aqui em Goiás eles chamam de queimada. Então, nós brincávamos de cemitério, que é um pouco diferente da queimada aqui em Goiás. Nós brincávamos de pular corda, de uma brincadeira que a gente chamava de latinha. Antigamente tinha aquelas latas de óleo, então a gente brincava com aquelas latas de óleo e fazia duas equipes e tentava derrubar a equipe adversária, tentava derrubar a latinha da outra equipe com uma bola, brincávamos de pique-esconde e assim foi uma infância deliciosa. Brincadeira com os colegas, com os irmãos. Foi um tempo maravilhoso.
P/1 – E a sua primeira escola, Iza, qual foi?
R – A minha primeira escola foi bem próxima de casa, eu acredito que eu tinha uns seis anos, na época. Uma escola bem simples, também de madeira, na época algumas crianças de várias idades, eu lembro, um pouquinho mais criança que eu, mais novas que eu e também tinha crianças um pouquinho mais velhas. Então, era tudo misturado ali, naquela sala de aula. A professora conseguia atender todas as crianças. Algumas, normal, tinham um pouco mais de dificuldade, outras menos e eu me enquadrava naquelas meio a meio. Ora com muita dificuldade, ora com menos, mas eu lembro que eu gostava de estar na sala de aula, de estudar, de aprender um pouco.
P/1 – Alguma professora ou professor que tivesse marcado a sua memória?
R – Sim, eu tenho duas professoras que me marcaram, tanto no sentido bom, como no sentido um pouco ruim, digamos assim. Eu tinha uma professora que o nome dela... eu não sei se ela ainda é viva, mas chamava Maria de Jesus. Eu lembro que foi depois que eu troquei de escola, eu tive oportunidade de trabalhar com essa professora. Então, ela era uma professora muito atenciosa, muito carinhosa com todos os alunos e foi a minha primeira experiência num ambiente mais adequado para a minha idade, eu acredito que eu tinha em torno de oito anos na época e eu sentia que ela tinha um carinho especial por mim e onde eu a via, na rua, eu corria para abraçá-la e a recíproca também eu sentia que era verdadeira. Onde ela me encontrava também me abraçava, não era só no ambiente escolar, era fora também. E aquilo marca na criança. Em mim marcou até hoje. Até hoje eu lembro do rostinho dela, dos carinhos dela e da excelente professora que ela era na sala de aula. E da outra professora, que marcou um pouco de forma negativa, eu acho que eu estava com uns dez anos, na época, eu queria ser a melhor aluna daquela turma e aí eu falei para minha mãe: “Mãe, eu vou falar com a minha professora, para que ela passe dever de casa pra mim. Eu vou lá com ela, eu vou conversar, talvez ela faça isso” e aí eu cheguei com meu caderno de dever de casa, meu mesmo, que a escola não tinha esse programa, digamos, de fazer tarefas no caderno especial, de levar para casa, não tinha. Aí eu cheguei com ela e perguntei: “Professora, a senhora pode passar uma tarefinha, pra que eu possa resolver em casa?” e tal. Aí ela olhou para mim, fixo assim nos meus olhos, perguntou: “Por que eu tenho que passar tarefa para você levar pra casa? Se eu tivesse que passar alguma coisa para você, eu teria também que passar para todo mundo, entendeu?” E aquilo... ela não estava errada, mas aquilo, talvez da forma que ela falou, eu ‘murchei’ na hora e a partir daquele momento eu fiquei bem retraída com aquela professora, porque eu tive aquela professora anteriormente, que eu comentei, que era um amor de pessoa, atenciosa, dava espaço para conversar com os alunos e aí eu, de repente, deparei com um outro tipo de professora, aí eu fiquei com medo e calada, a partir de então fiquei bem encolhidinha, na minha, acho que na aula toda, porque a professora, também, em todas as outras situações, era mais ‘pulso firme’, sabe?
P/1 – Rígida, né? Está certo.
R – Rígida.
P/1 – E como é que você continuou seus estudos? Você disse que mudou de escola? Como é que foi essa trajetória?
R – Aí eu estudei, a primeira escola foi próxima à minha casa, eu acho que era alfabetização, na época e depois eu fui fazer, talvez com sete, oito anos eu fui para uma outra escola, seguindo todo o protocolo de idade. Enfim, aí eu fui para uma outra escola muito boa também. Todas as escolas que eu estudei foram públicas e próximas ali, à minha casa. Próximas que eu falo num raio de até cinco, dez quilômetros. Dez, não, mas de sete para menos. E sempre andando a pé, mesmo. E fui para a escola, eu acredito que eu fiquei nessa escola uns dois anos e depois eu fui para uma escola estadual, na época, que foi onde eu me deparei com essa professora, que era um pouco mais rígida e ali eu fiquei, eu acredito que do primeiro ano até o quarto ano, na época. Depois eu já fui para uma outra escola, municipal, onde foi uma escola muito boa, eu aprendi muitas coisas legais e era bem melhor do que a escola estadual, na época. Então, era uma escola municipal. Eu acredito que, por ser escola municipal, conseguia trabalhar, fazer um trabalho melhor na escola dentro da capital, mesmo. Então, tinha um pouco mais de recursos, professores mais capacitados. Enfim, depois que eu saí da escola que a gente fala do primeiro grau eu já fui para o segundo grau, numa outra escola estadual e o meu segundo grau foi técnico, eu fiz Patologia Clínica na época e acho que eram três anos, naquela época. Depois que eu terminei esse segundo grau, concomitante, que a gente fala, em Patologia Clínica, eu fiquei um período sem estudar, acho que dois anos, mais ou menos, depois eu fui fazer Escola Técnica Federal do Pará, me inscrevi num curso técnico de Metalurgia e concluí, acho que um ano e meio, dois anos, mais ou menos e depois eu fiquei um tempão aí sem estudar, após a conclusão desse curso técnico, eu acho que mais de dez, quinze anos. Aí depois eu prestei vestibular pra Universidade Estadual de Goiás, em Administração, e consegui passar. Na época eu me inscrevi com aquele programa de cotas para negros e aí eu consegui passar. Mas eu pensei (risos) que, na época havia passado com os meus conhecimentos, eu achei tão engraçado, aí no dia que eu fui ver a minha matrícula, eu estava com essa dúvida, eu fiquei me perguntando: “Será que eu passei pelos meus conhecimentos, mais de 15 anos sem estudar, ou será que eu passei pelo programa de cotas?” E aí eu perguntei lá na faculdade e o rapaz me respondeu: “Não, você passou pelo programa de cotas”. (risos) Mas tudo bem, eu me senti feliz do mesmo jeito. Aí estudei lá os quatro anos e o que eu achei legal é que o meu conhecimento em relação às pessoas, os alunos que haviam saído do segundo grau, que estavam na faixa etária ali de vinte a vinte e cinco anos, lá estava eu ali, com meus 37, 38 anos, mas o que eu achei legal é que o meu conhecimento estava bem próximo dos meus colegas de faculdade. Graças a Deus não fiquei devendo nenhuma disciplina. Nenhuma, nenhuma, nenhuma. Eu tirava notas boas. Não eram notas excelentes, um dez, quem dera! Algumas disciplinas sim, mas poucas. Mas, enfim, eu ficava ali, entre o oito e meio, nove e meio, oito, nove e eu pensei: “Nossa, o meu conhecimento ainda está ativo, graças a Deus” e nos aprendizados a gente foi dando conta de terminar a faculdade, com esforço.
P/1 – Esse perfil técnico que você ‘abraçou’ já se manifestava na sua meninice, quando você tinha seus 15 anos? O que você queria ser, quando crescesse?
R – Olha, eu queria ser enfermeira, na época, aos 15 anos. Eu sempre, na verdade, achava que tinha vocação para a área de saúde, então eu queria ser enfermeira padrão e aí eu pensei: “Não, para ser enfermeira tem que ter um curso superior e me dedicar um pouco mais, estudar um pouco mais, porque eu queria cuidar das pessoas, da dor, do ferimento das pessoas, e aí eu fiz um curso também de enfermagem, técnico, na minha região, só que ao terminar, ao concluir o curso, eu fui para a prática, para estágios e aí eu me deparei que talvez não era aquilo que eu queria, mas quando eu fui para a prática, logo alguns meses de estágio, no começo, ali, eu gostava do que eu fazia e aí eu fui também tentar vestibular. Fazia o estágio, mas também fazia o curso preparatório para vestibular pra Enfermagem e aí eu fui tentando dois anos, mais ou menos, que eu tentei no mesmo curso, Enfermagem, não consegui a pontuação, aí eu disse: “Eu não vou mais tentar”. Até porque eu tive uma desilusão nessa área da saúde: eu estagiei num hospital grande, de referência lá na minha região, federal, chamado Barros Barretos e ali eu estava em uma ala de paciente infectocontagiosos e aí eu peguei, fui infectada com tuberculose e aí eu fiquei acho que seis meses tentando tratar dessa doença, tuberculose e aí eu tive essa desilusão com a tuberculose, eu pensei: “Não, acho que talvez isso não seja para mim agora, nesse momento” e aí foi que eu tentei os dois anos, igual eu comentei e depois eu desisti dessa área de saúde, eu fiquei bem mais desanimada e daí eu fui querendo trabalhar, ter o meu próprio sustento, as minhas coisinhas e aí eu pensei em, talvez, sair da minha região, cidade, pra ir para um outro estado, tentar uma outra coisa, porque o meu pai tem a descendência... descendência, não, meu pai é maranhense, então o cunhado dele tinha conhecimento numa indústria lá no Maranhão, uma indústria bem grande, uma empresa renomada, então aí eu falei com meu pai: “Pai, se der certo será que o senhor deixaria eu trabalhar em tal empresa, na cidade tal?” Aí meu pai falou: “Não, porque eu te dou o maior apoio, eu vou conversar com o seu tio” e aí eu fiquei tão animada que o meu pai concordou com a minha ideia e ia permitir que eu fosse trabalhar e aí eu comecei a pesquisar sobre a empresa, essa área de indústria e aí eles comentaram, falaram para mim: “Olha, se você quiser entrar nessa empresa, num cargo até um pouquinho melhor, não muito ‘lá embaixo’, você tem que ter um curso técnico” e aí eu pesquisei que curso seria esse e cheguei ao curso de técnico em metalurgia e aí, como tinha na minha região, na escola técnica, eu fiz o processo seletivo e passei. E aí eu fui estudando as disciplinas e as achei muito interessantes. Laboratório também curso técnico demanda muito, porque você vai estar ali, na prática, com a realidade, na verdade. Não 100%, igual é em outras empresas, mas você começa a ter contato com o que realmente, em pequena proporção, vai ter contato em pequena proporção com o que você vai ter lá fora e eu comecei a me interessar nessa área e aí foi que deu tudo certo: fiz o curso técnico...
P/1 – Que empresa é essa que você se candidatou?
R – Eu não havia me candidatado ainda, não. Eu havia só conversado com meu pai e com meu tio, aí eles concordaram, mas era da Vale, lá no Maranhão. E aí, como meu tio, naquela época, nesse tempo atrás, as coisas eram muito através de ‘QI’, então meu tio tinha um conhecimento lá, enfim, aí eu fiz o curso técnico e concluí. Ao concluir já apareceu uma outra oportunidade para eu trabalhar como estagiária numa cidade próxima a minha, em torno de noventa kms da minha cidade. Aí eu ‘coloquei na balança’: “Nossa, eu vou para cá, que está mais próxima da minha família e tal” e foi aí que eu comecei a minha vida profissional.
P/1 – Onde?
R – Em Barcarena, na cidade de Barcarena, no Pará e a empresa, o nome era Usipar, Usina Siderúrgica do Pará, de grupo familiar.
P/1 – Quais eram as suas atividades lá, nessa empresa?
R – Eu comecei lá como estagiária. Não só eu, como outros colegas meus, inclusive que fizeram curso técnico comigo, começamos lá como estagiários e o que era interessante ali é que nós começamos quase que do zero, ali naquela empresa. Era uma empresa que ainda ia ‘estartar’, dar partida no seu início de produção e aí nós conseguimos acompanhar muitas coisas ali, do zero. Isso que foi legal. E a gente tinha esse contato com a prática, ali, um pouco com teoria e o responsável pelo nosso contrato, por nós, era também uma pessoa de grande conhecimento técnico e pessoal também e ele dava todo o suporte para a gente, todo conhecimento técnico, teórico, para a gente estar aprendendo a como as coisas funcionavam, a parte técnica, enfim e daí eu fiquei quase que um ano, acho que foi um ano mais ou menos, eu e meus colegas. Só que o contrato para estágio tem um período e no término desse período a gente não sabia qual era o nosso destino, se nós tínhamos agradado os gestores daquela empresa, ou não, mas graças a Deus com o tempo veio a resposta que todos nós queríamos: acho que é recontrato a palavra certa.
P/1 – Renovaram.
R – Renovaram, exatamente, o nosso contrato e ficou aberto: quem quisesse desistir, podia, mas quem quisesse continuar, todos nós estávamos, tínhamos sido convidados a continuar e a maioria de nós continuou ali, fazendo estágio, acompanhamento em campo, a montagem dos equipamentos, enfim. Depois do término do segundo contrato eles efetivaram a gente, contrataram todos nós como operadores de sala de controle e assim foi. A gente foi acompanhando cada evolução da obra e o bacana, legal é que nós conseguimos ali ‘estartar’ aquela primeira planta, que era uma usina siderúrgica. A gente, na época, produzia ferro gusa. Então, cada momento ali, de start up, coisas que davam certo, coisas que não davam certo, um reaprendizado, foi muito legal, uma escola ali, para mim. Então, eu fui contratada como operadora de sala de controle, na época.
P/1 – Nesse momento em que você vai consolidando a sua trajetória profissional, as coisas vão acontecendo, mas você está fora da sua casa, está morando numa cidade relativamente distante, está vivendo sozinha. Como era essa relação individual, pessoal, afetiva até, em um certo sentido, com a relação profissional? Como é que se dava isso?
R – No começo não foi fácil, porque eu acredito que eu tinha, na época, uns vinte e três anos. Então, para uma pessoa, uma mulher que vivia... nunca tinha saído de casa, ir para fora, numa outra cidade, por mais que fosse relativamente próximo, noventa quilômetros, mas para mim, naquela época, era extremamente longe e aí eu lembro que foi muito difícil, dolorido, eu confesso que algumas vezes, no começo, eu pensei até em desistir, que a saudade era demais, da minha mãe, dos meus irmãos. Naquela época não tinha telefone celular, enfim. (risos) Assim: podia até ter, mas não era a nossa realidade, principalmente para o estagiário. (risos) Aí, todo final de semana eu ia, voltava para minha casa. Eu ia para outra cidade no domingo à tarde, ou na segunda-feira de manhã beeeeem cedinho, lá pelas cinco horas e tal e aí eu retornava na sexta-feira e aí eu recarregava as energias com a minha família, meu pais, minha mãe, meus irmãos e a minha mãe sempre dando força, os meus irmãos também, falando que aquilo ali podia ser o meu futuro, que a realidade é essa, a gente tinha que procurar o melhor para a gente naquele momento, para desenvolver, crescer na vida, então sempre me dando força e aquilo, na segunda-feira a gente já ia carregada e, chegando lá no local, igual eu falei: o ambiente era gostoso também, favorável para a gente estar ali, trabalhando e aquilo foi dando certo. Tanto o ambiente de trabalho, quanto o apoio da minha família, aquilo acho que foi o principal para a gente dar continuidade na luta do dia a dia.
P/1 – Iza, qual foi a primeira vez que você ouviu falar em Anglo American?
R – Foi em 2009, após a crise que tivemos aí. 2008, 2009. Um colega meu chegou comigo e falou que uma empresa de grande porte estava precisando de pessoas profissionais para ‘estartar’ a sua planta aqui em Goiás, em Barro Alto e tal. E aí eu entrei na internet, fiz uma pesquisa sobre a empresa e aí eu me deparei que era uma empresa multinacional, totalmente diferente da empresa lá que eu trabalhava, que era familiar e estava aquele ambiente de estabilidade também, na época, devido a crise, a gente estava com a nossa planta parada e aí o meu colega falou: “Estão chamando profissionais, você vai querer ir?” Aí eu pensei, fiquei pensando, até que eu disse o meu sim.
P/1 – Como é que deu o seu ingresso? Como é que você conquistou uma posição dentro da companhia?
R – Igual eu falei, a gente estava numa situação estável lá na época, em função da crise, a empresa tinha parado a produção e nós estávamos no Senai há alguns meses, fazendo treinamento e tal e aí, ao voltar para a empresa, ficou aquele clima: “Será que vai dar certo? Será que não vai dar?” E quando o meu colega chegou comigo e falou da Anglo American e tal, eu me interessei, fiz o meu contato, eles analisaram meu currículo, gostaram e foram fazer entrevista comigo lá na minha região, em Belém do Pará. E a equipe que foi fazer entrevista comigo foram uns profissionais excelentes e eles começaram (risos) a falar muito bem da empresa, da cidade e aquilo foi ministrando em mim e eu comecei a imaginar coisas e tal, ver mais para frente, para o futuro e aí eu topei, disse meu sim pra empresa, depois que eles me chamaram, confirmaram o convite e aí eu vim trabalhar aqui na empresa, no cargo de técnica de sala de controle.
P/1 – Onde?
R - Isso, eu trabalhei em cargo técnico, na sala de controle.
P/1 – Em que localidade, onde?
R – Em Barro Alto, em Goiás, isso.
P/1 – Que fica a que distância de Belém?
R – Luiz, fica aproximadamente dois kms de Belém.
P/1 – Dois quilômetros apenas?
R – Dois mil kms.
P/1 – Dois mil quilômetros! (risos) E aí você se afastou mais ainda das suas origens?
R – Mais ainda. E aí eu pensei, naquele primeiro momento que eu tive ao me separar, me distanciar da família, bem antes, que foi a minha ida para Barcarena e aí o mesmo sentimento que eu tive na época eu sabia que eu ia sentir nesse momento da partida, da distância, mas aí eu pensei: “Não, poxa, vai dar certo. Já passei por isso lá atrás, então alguns quilômetros atrás, talvez não seja o ‘fim do mundo’, vamos tentar”. Até porque, igual eu falei, lá o ambiente estava muito estável, então era a minha oportunidade de continuar no ramo da indústria, fazendo o que eu gostava de fazer lá na antiga empresa, que eu gostava muito, muito, muito. Então, foi isso que me encorajou. Meus pais novamente me deram força, falaram que eu tinha que fazer aquilo que o meu coração queria naquele momento e aí foi o que deu certo, Luiz.
P/1 – E o seu primeiro dia de trabalho, você se lembra como é que foi, em Barro Alto?
R – Eu lembro, sim. Nós saímos aí de madrugada, coisa que eu não estava acostumada, a levantar de madrugada, inclusive era até período de mudança de horário, em Goiás era uma hora a menos do que lá na minha região, então se tornava mais cedo ainda. Então, lá pelas quatro e pouquinho da manhã, o equivalente a três e pouquinho da manhã em Belém, eu me deparei para me arrumar e tal, pegar o ônibus, enfim e, ao chegar ali na empresa, eu vi aquela coisa grandiosa, aqueles equipamentos todos superdimensionados em relação ao que eu havia conhecido e aí eu fiquei deslumbrada com aquilo tudo e disse: “Nossa, mas que empresa extremamente grande!” Enfim, aquilo me chamou muito a atenção. Eu fui no primeiro dia, assim como nos outros também, mas no primeiro dia, muito bem recepcionada pelos responsáveis por mim, na minha área, na área da produção. Todo o cuidado, a questão da segurança, da ambientação, aquilo eu me senti acolhida, aconchegada, porque no primeiro momento você está longe ali da sua família e muito longe. Então, você vai meio que insegura: “Será que vai dar certo? Será que eu vou gostar? Será que as pessoas vão gostar de mim? Será que não vão me olhar com ‘olho torto’ por eu ser de um outro lugar, uma outra região, por eu ter menos experiência em tais coisas?” Mas foi totalmente ao contrário: fui muito bem recepcionada e eu acho que isso que é importante naquele primeiro momento que você tem com as pessoas, com a empresa, aí você pensa: “Poxa, até aqui eu tenho certeza que eu fiz a escolha certa, a decisão certa”. E assim fui, Luiz, por vários e vários dias, vários e vários anos, tirando o ‘sobe e desce’ da vida, eu me senti muito bem.
P/1 – Onde você morava, nesse primeiro momento?
R – Eu morava, passava a maior parte do tempo em Barcarena e depois de Barcarena eu fui pra Belém, fiquei alguns dias, meses, eu pedi desligamento da empresa onde eu trabalhava e fiquei alguns meses, dois, três meses em Belém, até eu ser chamada pra Anglo, aqui no Barro Alto.
P/1 – Estando em Barro Alto, você morava onde?
R – Morava em Goianésia... na verdade, quando eu cheguei lá, Luiz, eu fiquei hospedada uma semana em um hotel e depois desse momento a ideia do programa, do projeto era estagiar na cidade chamada Niquelândia, que é uma outra empresa da Anglo e lá eu ia ficar acho que talvez uns seis meses naquela cidade e naquela outra empresa, que é do mesmo grupo, tendo contato com a operação técnica, operação com as pessoas. Enfim, aprendendo como a gente iria trabalhar em Barro Alto. E foi assim que aconteceu: o primeiro momento eu fiquei lá seis meses, em Niquelândia e após isso eu voltei para Barro Alto, morando em Goianésia.
P/1 – Em Barro Alto quais eram as suas responsabilidades?
R – A gente trabalhava na sala de controle, então basicamente eu tinha que saber todas as minhas atribuições no painel. A gente ia trabalhar, eu trabalhava com painéis, monitorando as operações, todas as variáveis do forno, de equipamento. Então, basicamente era isso. Nós éramos responsáveis por tomar conta da operação dos fornos via on line, computador.
P/1 – Um resumo do que se faz em Barro Alto. O que se faz? O que acontece ali?
R – Resumindo, eu trabalho na área da calcinação e a gente tem a parte da mina da usina e a outra parte da mina. Então, são duas partes: da usina e da mina. Eu trabalhava na usina e podemos dizer que ela se divide em quatro áreas, olhando o fluxo do processo do produto final. Então, a gente tem a área da preparação de carga, da calcinação, da redução e do refino. Todas as áreas são interligadas e uma é cliente da outra. E eu trabalhava na segunda área, que era a calcinação. Então, nós recebemos o material pelo minério da preparação de carga e ele é enfornado dentro do calcinador e a minha área tem vários equipamentos: motores, sensores, instrumentos e esses instrumentos, motores vão mostrando para a sala de controle como está a situação do equipamento, do seu processo. Então, a gente monitorava isso: a situação real do equipamento, do processo e qualquer alteração que aparecia ali a gente informava para a pessoa responsável, para checagem e possível intervenção de manutenção. Basicamente é isso, Luiz.
P/1 – Quais foram os principais projetos que você acompanhou, lá em Barro Alto?
R – O primeiro e principal que eu comentei, projeto, foi startup do forno calcinador na primeira etapa, nós tivemos duas etapas lá, tivemos startup do calcinador I, em novembro, dezembro de 2011 e no ano seguinte, talvez em maio, junho, julho, tivemos startup do calcinador II, da linha II e projeto mega hiper grande, tivemos muito aprendizado, muitos erros, mas também alguns acertos, principalmente para trabalhar na linha II, na segunda linha e isso já trazia uma segurança maior para a gente. Participei também do startup de outra área, que é a pelotização, que é uma área digamos que micro, mas que faz parte da área da calcinação. O projeto da pelotização e o projeto da planta de pulverização de carvão que, digamos, é a ‘menina dos olhos’ talvez da empresa toda, ou da minha área. Então, a gente participou desse projeto grandioso e outros projetos pequenos também, relacionados a equipe, de melhoria contínua, que a gente vai, junto com a equipe, desenvolvendo projetos pequenos e eles vão acontecendo.
P/1 – Qual você considera que seja o diferencial da Anglo American, no mercado de mineração?
R – Eu acredito que a empresa, por ter uma certa experiência de mercado e ter leques de produtos que ela trabalha, eu acredito que cada produto ela coloca um ‘tchan’ especial. Por exemplo: o nosso níquel, que é o nosso produto final aqui na empresa, a gente sabe que o níquel, a liga é de consumo mega importante em várias áreas: aviação, náutica, enfim, então eu acho que, pelo fato dela ter experiência em outros produtos, para ela não foi muito difícil trabalhar com esse produto de ferro níquel e eu acredito que algo que dá muito certo para a gente, para a empresa, é o foco que a empresa tem nas pessoas, em preservar a segurança, a vida e o bem-estar da pessoa. Eu acho que também na questão ambiental, a gente não pode esquecer e questão também de valorizar a comunidade. Então, a gente vê que, juntando tudo isso, a empresa tende a ter sucesso, cada vez mais, focando nesses principais... como eu posso dizer? Nessas principais pontes.
P/1 – Vamos nos apegar a uma delas, que é o relacionamento com as comunidades. Que avaliação você faz do papel da companhia nesse tipo de relação com as comunidades das cidades onde ela está hospedada?
R – Luiz, uma das coisas que eu acho tremendas da empresa é que ela dá oportunidade para contratar as pessoas que são de lá daquela região. Ela tem um programa, um acordo, que ela dá prioridade para contratar as pessoas daquela região... como é que eu posso dizer uma palavra mais assertiva?... para nível operacional, que não exige algo muito especificado, um cargo bem especificado, ela dá oportunidade para aquelas pessoas se desenvolverem, crescerem, investirem na sua própria região. Então, a maioria das pessoas que a gente tem ali, eu não sei te falar nível de proporção, mas a nível operacional, trabalham em Barro Alto. Por exemplo: na minha equipe mesmo nós somos 12, três apenas moram na região de Goianésia, mas o restante mora em Barro Alto. Então, eu vejo que ela dá essa atenção maior para as pessoas se desenvolverem e tem muitos projetos que a empresa trabalha para fazer investimento ali. Por exemplo: curso técnico a empresa já forneceu, já contribuiu com a formação de muitas pessoas ali. A questão da comunidade, mesmo, faz investimento. As pessoas conseguem fazer cursos - pessoas que não trabalham na empresa, outras pessoas daquela região - profissionalizantes. A gente vê mesmo, por exemplo, aquele programa Menor Aprendiz. A empresa também dá oportunidade para os alunos daquela região. Então, isso é muito bom, muito legal, muito gratificante.
P/1 – Reimaginar a mineração, pra melhorar a vida das pessoas, o que quer dizer isso?
R – Eu acho que é basicamente isso que a gente comentou. É você olhar para as pessoas ao seu redor e ver projetando para o futuro que a vida dela pode melhorar ali dentro da empresa e que também você pode contribuir para que as coisas melhorem. Você pode contribuir para aquelas coisas que você tem ali, na empresa, mudarem. Você tem um recurso que você pode melhorá-lo. Você tem as pessoas que você pode melhorar um pouco mais. Então, você tem a condição de melhorar o cenário da situação, a vida das pessoas, com o que você já tem ali. Por exemplo: você tem projetos, programas, recursos que ela fornece, para que a vida das pessoas possa melhorar, que a gente possa reimaginar o que a gente já tem, que a gente possa reintegrar, melhorar o que a gente já tem, para algo melhor. Eu vejo dessa forma. O que a gente tem a gente pode melhorar, visando a melhoria, o crescimento das pessoas, tanto profissional, como pessoal.
P/1 – Na sua trajetória profissional hoje é supervisora de produção, certo?
R – Certo.
P/1 – É a primeira mulher a ocupar esse cargo, em Barro Alto?
R – Sim, Luiz. Eu sou a primeira mulher a conquistar, ocupar esse cargo na área da produção. Como eu falei anteriormente, nós temos duas áreas macro, que é a mina e a operação. Então, na mina já havia acho que uma mulher, se eu não estou enganada e na área da operação, mesmo, da produção, eu fui a primeira mulher a receber essa honra, esse cargo, a primeira mulher supervisora.
P/1 – Como é que você avalia essa ocupação paulatina de cargos, por parte das mulheres?
R – Bem, eu percebo que a empresa está dando essa oportunidade para que as mulheres exerçam cargos de liderança na empresa. Então, algo que eu já havia percebido muito tempo atrás de eu ganhar essa oportunidade. Então, a gente percebe que a empresa tem esse pensamento de um ambiente mais igualitário. Então, como eu já havia percebido isso, eu pensei comigo: “Eu estou nessa função aqui, se eu quiser ‘subir’ um pouco mais, o que eu tenho que fazer para eu conseguir essa oportunidade?” Então, ali a gente vai colocando metas, para você atingir aquele objetivo e o que é legal é que a empresa observa isso. Ela não quer colocar pessoas ali, mulheres, digamos assim, só porque ela é mulher. Ela faz a parte dela, mas o que é legal é que nós, mulheres, também que temos que fazer a nossa parte, para que tenha esse ‘casamento’ perfeito. Então, ela já deixou isso bem claro e eu vejo que outras mulheres também estão se preparando mais, para crescimento dentro da empresa.
P/1 – Você é casada?
R – Sim, Luiz. Eu sou casada, eu tenho uma filha de dez anos. Eu sou casada há aproximadamente 12 anos.
P/1 – Como é o nome do seu marido?
R – O nome do meu marido é Dimas Cardoso.
P/1 – O que ele faz?
R – Hoje ele é autônomo, trabalha com instalações de segurança residencial e predial também.
P/1 – Como é que é o seu dia a dia, Iza?
R – Eu trabalho de turno na empresa, quatro dias e folga quatro dias. Quando eu estou de folga os quatro dias, eu acordo entre seis e sete da manhã, levanto, já tomo meu café, tenho o meu momento ali com Deus, momento de reflexão e depois eu parto para a organização da casa, a parte da alimentação e vou resolver alguns probleminhas, alguns compromissos que eu tenho que resolver fora de casa e é assim o meu dia a dia. Também eu estou fazendo outra graduação, Engenharia de Produção, então meu tempo é dividido entre casa, um pouco a parte do apoio de mãe com a minha filha, ela estuda pela parte da tarde, então pela manhã também eu sempre estou ajudando-a com os conteúdos da escola. Tem a parte que eu dedico para os estudos e tem a parte também do entretenimento, do lazer com a família. Nós somos pessoas que não têm uma atividade muito grande fora de casa, nós somos muito caseiros e a parte de lazer e entretenimento, quando a gente faz é entre nós mesmos: às vezes a gente passeia de bicicleta, minha filha e meu esposo gostam muito de passear de bicicleta. Quando não é aqui dentro de casa, vendo um filme, algum programa, algo interessante na televisão. Enfim, é esse meu dia a dia.
P/1 – Na sua trajetória na Anglo American quais foram os principais aprendizados que você recolheu nesse período, que você levou para a sua vida pessoal?
R – Luiz, uma das coisas que... eu sou uma pessoa um pouco tímida, (risos) observadora e muito calada e eu gosto muito de observar - no sentido de admiração – comportamentos das pessoas e aquilo, na minha cabeça, eu penso em extrair o melhor das pessoas e como a gente tem contato ali com várias pessoas, a gente acaba tendo uma troca de experiência, de conhecimento e aí eu consigo, algumas vezes, ‘puxar’ o melhor daquela pessoa para mim, sabe? É isso que eu gosto. Aprendi a desenvolver mais respeito pelas pessoas, a desenvolver a audição, escutar ali as pessoas, as histórias, o desabafo. Enfim, eu acho que o gostoso dali é a gente estar, para mim... ter um contato, um relacionamento com as pessoas, porque em tudo você aprende um pouquinho, sabe? Às vezes... não, a gente não sabe tudo. Então, independente do cargo, da função, a pessoa sempre tem uma coisa para te ensinar e vice-versa, você tem sempre alguma coisa para ensinar para aquela pessoa e ali vai formando, vai contribuindo para a sua maturidade, para o seu desenvolvimento, tanto profissional, por mais que as coisas não sejam ligadas a algo técnico, mas você consegue melhorar e trabalhar e que possa contribuir, sim, pra algo técnico também. O que eu gosto é isso.
P/1 – O que significam cinquenta anos de Anglo American no Brasil? O que significa isso?
R – Significa que a empresa está no caminho certo, porque cinquenta anos significa algo de muita experiência, de muita dedicação, investimentos que você vai fazendo, que a empresa vai fazendo, programas que ela vai fazendo e vai dando certo. A gente pode relacionar com uma pessoa, que chega aos cinquenta anos e está bem fisicamente, mentalmente, provavelmente ela vai chegar mais à frente ainda, então a Anglo American é a mesma coisa. Imagino que no início da trajetória dela com certeza não foi fácil as questões de recursos, tanto humanos, financeiros, alguns controles, questão ambiental, mas eu imagino que tudo que ela faz é algo programado, planejado e com isso eu vejo que, olhando para trás, a maioria das coisas que ela fez, programou, projetou, deu certo, está dando certo e vai continuar dando certo. Eu vejo também a parte de beneficiar muitas cidades, desenvolver. Eu vejo que por onde ela passa ela desenvolve a sociedade, pessoas, projetos e ali ela vai melhorando a vida das pessoas, do negócio.
MUDO de 01:03:34 a 01:03:44
R – Luiz, eu acredito que não. (risos) Tem só um detalhe que eu queria ter comentado lá atrás, mas eu não sei, cabe falar aqui? Eu vejo que hoje nós temos muita facilidade com as coisas. Tem muitas coisas que estão ali na nossa mão, que é fácil da gente pegar, mas a gente não enxerga isso, sabe? Por que eu falo isso? Você me perguntando sobre a minha trajetória escolar eu lembro que a gente não passou fome, mas quase tudo na nossa vida era limitado, regrado. Eu lembro que os meus pais não tinham condições de comprar mochila para a gente, para nós irmos para a escola e eu lembro que a gente guardava nosso caderno dentro de sacola de supermercado e a gente fazia aquilo de mochila. Então, nós íamos para a escola com um caderno apenas, um lápis apenas e se a gente conseguisse borracha era uma coisa extraordinária. A gente tinha que apagar as coisas com o quê? Não sei se os meninos que estão aqui, as pessoas que vão ver lembram disso. Nós que não tínhamos muitas oportunidades, apagava com dedinho algum erro com lápis. Colocava o dedinho na ponta da língua e apagava. Eu conto isso para minha filha, para ela entender que as coisas que a gente tem estão disponíveis ali, mas existe um caminho para a gente poder alcançar aquelas coisas e para gente poder alcançar aquelas coisas é necessário darmos valor em tudo, todas as etapas: nos materiais, às pessoas. Reconhecer, respeitar, não ultrapassar nenhuma etapa da vida, sabe? Eu acho que a gente tendo essa consciência, a gente consegue alcançar aquela coisa no tempo certo e no momento certo. Hoje, igual eu falei, a gente tem muitas coisas ali, fáceis e a gente extrapola o tempo, quer antecipar as coisas, ou retardar as coisas e por isso que às vezes, na cabeça, talvez, da juventude é algo tão confuso, que não é claro. Enfim, eu gosto muito de valorizar as pequenas coisas em um determinado tempo, em um determinado momento. Era isso.
P/1 – O que você diria pra uma pessoa que fosse começar a trabalhar amanhã na Anglo American?
R – Eu sempre... talvez eu falaria para ela como a empresa é uma excelente empresa para trabalhar, mas todos nós temos o nosso papel, deveres e obrigações. Então, se nós trabalharmos fazendo as nossas obrigações, os nossos deveres, o caminho que a gente vai andar é brilhante. Eu sempre falo para as pessoas tudo que elas têm que fazer e qualquer dúvida que elas tenham que fazer, para não fazer, sempre perguntar, sempre dialogar com as pessoas. A gente tenta deixá-las se sentirem à vontade no ambiente, mas sempre dentro daquele limite. Então, trabalhar hoje na Anglo American é algo muito prazeroso para mim, então eu tento passar isso para as pessoas. Às vezes a pessoa pensa que lá pode ser um ambiente de pressão, talvez de difícil relacionamento. Não. A gente tenta colocar as pessoas bem à vontade, a gente mostra para elas os seus deveres, tanto na parte de segurança, de produção, de processo, ambiental, então a gente tenta mostrar tudo e tenta mostrar o caminho para elas seguirem.
P/1 – Como você se sentiu, dando essa entrevista pra nós?
R – A princípio, Luiz, a gente fica um pouco insegura, nervosa, porque a gente não sabe o que vai ser perguntado, mas eu gostei, vocês deixam a gente bem à vontade, pra gente expressar, falar o que a gente sente e isso é bacana. Você ser tão natural, tão transparente, nada de superficial, então eu sinto isso, eu me senti bem tranquila, falei e tudo que eu falei foi verdadeiro, vocês proporcionam isso pra gente e é isso.
P/1 – Quais são seus sonhos?
R – O meu sonho na parte profissional eu sempre desejo melhorar, sempre e aí eu tento olhar para dentro de mim e tento ver que área eu posso melhorar mais, qual é a minha urgência nesse momento, de melhorar mais, mas o meu sonho mesmo é melhorar na questão de relação interpessoal. Eu tenho vontade de deixar as pessoas, de ensinar às pessoas coisas que eu aprendi, que podem dar certo pra elas. Enfim, eu tento, o meu objetivo de vida hoje é contribuir para melhorar a vida de pessoas: profissional, pessoal. Então, eu tenho essa vontade de investir mais nesse sentido de recursos humanos, relacionamento. E como sonho pessoal eu tenho vontade de também melhorar. A gente sempre pensa que talvez a gente não tem que melhorar, porque a gente é boa nisso, naquilo. Na verdade, não. Eu também sonho em aprender mais com pessoas e melhorar como esposa, como filha, como mãe e esse é o meu projeto de vida. Eu não busco algo material, porque eu acredito que, se você tem, chega em um nível que você acha... se você pensa que pode melhorar, contribuir para a vida das pessoas, isso eu acredito que traz uma satisfação muito grande para a gente, para as pessoas. Por isso que eu não foco em questão de coisas materiais. Eu foco mais em questão de pessoas, mesmo, de relacionamento.Recolher