Projeto Anglo American – 50 Anos de Brasil
Entrevista de Karlla Souza Matos
Entrevistada por Luiz Egypto e Nataniel Torres
São Paulo, 10 de março de 2023
Entrevista número AAMC_HV003
Transcrita por Selma Paiva
R – Bom dia! Karlla Souza Matos, eu nasci em Goiás, na cidade de Uruaçu, no d...Continuar leitura
Projeto Anglo American – 50 Anos de Brasil
Entrevista de Karlla Souza Matos
Entrevistada por Luiz Egypto e Nataniel Torres
São Paulo, 10 de março de 2023
Entrevista número AAMC_HV003
Transcrita por Selma Paiva
R – Bom dia! Karlla Souza Matos, eu nasci em Goiás, na cidade de Uruaçu, no dia 27 de dezembro de 1982.
P/1 – O nome dos seus pais, por favor.
R – João Eurípedes de Matos e Lurdes do Carmo Souza Matos.
P/1 – Qual era a atividade do seu pai?
R – Meu pai era operador, numa indústria também de mineração.
P/1 – Mineração, então, está no DNA da família?
R – Está, sim. (risos)
P/1 – E a sua mãe?
R – Minha mãe foi professora, do lar, comerciante. Enfim, ela diversificou a jornada dela aí, por um tempo, mas hoje ela é aposentada. Não sei o que fica melhor, para deixar registrado.
P/1 – Você conheceu seus avós?
R – Conheci os meus avós maternos, meu vô Martim e minha vó faleceram depois que eu já era, enfim, pré-adolescente, vamos dizer assim e por parte de pai eu só conheci minha vó materna. O pai do meu pai faleceu quando meu pai ainda era muito jovem, aí eu não cheguei a conhecer.
P/1 – Os seus pais falavam sobre seus avós, contavam histórias deles, de onde vieram, se era da região mesmo?
R – Sim, muitas histórias.
P/1 – Que histórias eram?
R – O meu vô materno veio da Bahia pra região aqui de Goiás e minha mãe sempre contava histórias que eles contavam para ela também, da época quando ele era adolescente, que saiu de casa sozinho, enfim, sem direção, saiu no mundo. Ele saiu da casa dos pais, eu não me lembro o porquê ele saiu, mas aí ele foi desbravando o mundo e veio parar aqui em Goiás, onde ele conheceu minha avó, na região de Pirenópolis aqui, que é linda e aí foi construindo a família. Uma família enorme, de 14 irmãos, (risos) uma família bem grande. O meu convívio maior acabou sendo com a família da minha mãe, porque todos são aqui da região de Goiás, de onde eu estou próxima hoje. O meu pai é do sul de Goiás, de Catalão e a família dele algumas pessoas estavam em Catalão e meu pai faleceu eu tinha acabado de fazer 15 anos e quando ele faleceu a gente distanciou demais da família dele. Na verdade, a família distanciou de mim e das minhas irmãs e da minha mãe. Então, eu perdi um pouco esse contato da adolescência pra cá e não me lembro muito de coisas da infância, desse contato com a família do meu pai. Mais a referência que eu tenho é materna, mesmo.
P/1 – Certo. Você tem irmãos?
R – Eu tenho duas irmãs e aí eu vou até pedir licença, que às vezes eu vou me emocionar em alguns momentos, contando a minha história. (choro) Eu tenho duas irmãs. (choro) A minha irmã mais velha faleceu tem dois anos, de Covid. Ainda é bem difícil para mim, por isso que eu acabo me emocionando, quando eu trago isso. (choro) Minha irmã mais velha, dois anos e três meses de diferença nossa idade. Minha amiga, pessoa que estava muito próxima de mim e tem dois anos que eu estou sem ela aqui. E eu tenho uma irmã mais nova, que nasceu eu tinha 14 anos de idade e que a trato como se fosse a minha filha. Então, eu tenho um vínculo muito forte com ela e hoje somos duas vivas, mas eu tenho até uma tatuagem, representando nós três, eu sou a do meio, aqui. Mas eu tenho, sim. (risos)
P/1 – Aceite a nossa solidariedade, Karlla.
R – Obrigada! Eu sou assim, muito emotiva. Já falando de mim vocês vão ver que eu vou me emocionar muito, mas é isso: essa sou eu, essa é a minha história e faz parte. Eu ainda tenho esses momentos de emoção, de tudo que eu vivi ao longo desses quarenta anos de vida aí.
P/1 – Claro! Sim. Como era a Uruaçu da sua infância?
R – Eu nasci na cidade de Uruaçu, mas meus pais moravam em Niquelândia, que é a cidade próxima, onde a gente tem uma unidade da Anglo American, que é a que a gente chama de Codemin, então eu só fui em Uruaçu para nascer, porque lá em Niquelândia não tinha hospitais, na época, com recurso, então minha mãe fez esse deslocamento, mas eu vivi toda a minha infância na cidade de Niquelândia. Até os seis anos eu morava em uma fazenda. Meu pai era o cuidador da fazenda e quando eles casaram meu pai era empresário, na época e aí acabou perdendo a empresa dele e eles foram morar nessa fazenda, para cuidar e tentando recomeçar a vida deles também. Então, eu nasci em Uruaçu, mas eu fui criada até os seis anos na fazenda. Nesse período que eu fui criada na fazenda a minha irmã mais velha estudava, em um povoado próximo que tinha, então ela ia a cavalo estudar. Até me lembro que nessas idas a cavalo ela caiu e quebrou o braço e ela sempre reclamava dessa dor no braço, ao longo da vida dela e eu ficava na fazenda, junto com minha mãe. Ela cuidava da casa, fazia a comida do pessoal que ia lá trabalhar na fazenda e durante esse período minha mãe me ensinava... já tinha sido professora, na adolescência, então ela me ensinou muitas coisas. Eu aprendi a ler e escrever com minha mãe, nesse período que eu morava na fazenda. Quando eu entrei na escola eu já entrei direto na primeira série, não precisei passar por aquela ‘escadinha’, porque eu já sabia ler e escrever, que minha mãe tinha me ensinado em casa, mesmo. A gente mudou para a cidade de Niquelândia, vamos dizer assim, a zona urbana, acho que em... eu nasci em 1982... 1989. Para lembrar das datas e dos tempos... mas, enfim, eu fui pra cidade, eu já estava aí com seis anos.
P/1 – E como é que era essa casa da fazenda? Descreva-a, por favor.
R – Nossa, eu não vou conseguir lembrar tanto. Eu posso te chamar de Luiz?
P/1 – Claro!
R – Eu não lembro tanto, Luiz. Algumas imagens que eu tenho era uma casa grande, que era feita no alto do morro e ela tinha uma calçada muito grande, não vou lembrar quantos degraus, mas eram uns 15 degraus, até você descer para o piso da propriedade, ali e quando chovia eu gostava muito de ficar nessa escada, segurando a chuva que caía ali e eu lembro muito dessa imagem, eu era criança ainda. E outra coisa que eu lembro é da porteira, que era grande, onde eu e minha irmã subíamos, ficávamos em pé ali na porteira, esperando quando meu pai estava chegando do campo, essas coisas assim. São duas imagens que me marcam muito. Nessa época era fogão a lenha, minha mãe conta, vamos dizer assim, dos períodos de dificuldade, chovia bastante, dava enchente, a casa era muito perto do rio, tinha frutas. Eu lembro de comer amora, que era uma das frutas que tinha lá na fazenda, então sempre tinha laranja, mas amora é uma coisa que eu amo, até hoje e eu lembro de eu comer amora lá na fazenda. Então, algumas coisas vêm na minha memória, mas eu não tenho tantas lembranças gravadas assim, não. Eu não lembro do espaço interno da casa, isso eu não consigo lembrar.
P/1 – As meninas tinham algumas obrigações domésticas, para ajudar a mãe?
R – Nessa época da fazenda, Luiz, não, mas quando a gente veio para a cidade eu aprendi muito com a minha mãe a responsabilidade da casa, de cuidar, então eu sempre ajudei minha mãe. Até no período que meus avós adoeceram, tanto a mãe dela, quanto o pai dela, eu tinha 13 anos, por aí, ela ia para cuidar dos pais e eu ia junto com ela, para ajudá-la e aí, quando ela estava em casa, que ela ia lavar roupa, quem a ajudava a lavar roupa era eu. Então, a gente ia lavar aquelas cobertas – nessa época não tinha máquina de lavar – enormes de algodão, minha mãe pegava de um lado, eu pegava do outro, para ajudar minha mãe torcer, eu sempre estava presente. Aprendi... hoje eu não faço pela falta de tempo, mas minha mãe é uma pessoa que gosta muito de fazer bolo, biscoito, doces e eu sempre estava com ela nesses momentos, ajudando e aí minha mãe, depois que meu pai faleceu, ia trabalhar e aí ficava eu e minha irmã. A minha irmã cuidava da comida, cozinhar e eu cuidava da casa. Então, eu limpava a casa, lavava vasilha e ajudava nessas responsabilidades, assim.
P/1 – Você foi alfabetizada pela sua mãe, mas como foi a mudança pra Niquelândia? Vocês vivendo na zona rural o tempo todo, aquela garota descobre-se numa cidade. Como era isso?
R – Eu tive, vamos dizer assim, uma dificuldade de adaptar na escola, Luiz. Até hoje eu tenho duas filhas, aí eu lembro disso. Minha mãe conta também. Quando eu cheguei na cidade e a gente veio porque meu pai entendeu que era hora da gente vir para a cidade, porque eu estava crescendo, a minha irmã também já, precisava buscar um estudo melhor e aí foi por isso que a gente mudou para a cidade e foi quando ele entrou numa mineradora lá em Niquelândia, que era uma concorrente aí da Anglo American e começou a trabalhar, aí eu vim e fui estudar e eu tinha muita dificuldade em ficar na escola, na sala de aula, tanto que minha mãe tinha que ir comigo, entrar, sentar na sala de aula e ficar lá no fundo, enquanto eu estava. Eu chorei por muitos dias, não queria ficar na escola, porque eu achava que minha mãe sabia e podia ir me orientando, não precisava ir para a escola, mas acho que foi só o período de adaptação, por estar nesse ambiente e eu sempre fui muito estudiosa, uma excelente aluna, sempre fui aluna nota dez, nunca tive dificuldade. Na adolescência fui professora particular, porque eu tinha muita facilidade com Matemática. Então, as mães dos meus coleguinhas pediram para que eu fosse dar aula para eles, para ajudar na dificuldade que eles tinham e foi quando, 14, 15 anos, sei lá, eu comecei a receber um dinheirinho, porque eu dava aula particular para os meus colegas de sala. Pela minha habilidade, facilidade que eu tinha. Então, sempre gostei muito de estudar e nunca tive dificuldade de passar nos anos, ser uma pessoa que não tivesse essa disponibilidade para estudo. Nunca gostei muito de matérias teóricas, de ter que decorar, memorizar, isso nunca foi meu forte. Com cálculo eu tenho muita facilidade, graças a Deus, então isso me ajudou muito no início da minha jornada profissional também.
P/1 – Como chamava essa primeira escola?
R – Colégio Paulo Francisco da Silva, lá em Niquelândia.
P/1 – Alguma professora, ou professor que tivesse marcado o seu período nessa escola?
R – Eu fiz da primeira à quarta série nessa escola, na quinta até eu concluir o ensino médio eu fui para escola... a gente chamava de Colégio Polivalente. Agora eu não vou lembrar o nome dele correto, mas a gente chamava de Polivalente e eu lembro mais das professoras desse período. Do início, que a gente falava ensino primário, não, mas eu lembro da nossa professora de Biologia, Elma, que ela chamava. Enfim, era uma mulher negra, muito inteligente, ela dava aula de Ciências também, mas me marcou muito Biologia, que foi que ela ensinou. Eu não sei se por alguma característica eu me conectei muito com ela e é uma pessoa que eu conheço, que eu sigo até hoje, que eu tenho contato e é da cidade. Enfim, interior a gente acaba convivendo muito. Eu lembro dela. Estou tentando aqui ver se vem outras professoras na mente. Eu não fiz nenhum exercício prévio para a entrevista. Eu achei que ia ser um foco maior talvez na minha história aqui dentro da Anglo e eu não me conectei e eu tenho hoje uma dificuldade de lembrar de muitas coisas...não vou dizer da adolescência, infância, mas eu não lembro de nome da professora. Agora, perdão, só um minutinho. Mas as professoras de Matemática que eu acho que... ah, lembrei: o professor de Física. Quando eu terminei o ensino médio meu pai já tinha falecido e aí minha mãe, com toda dificuldade financeira, estava com a criança pequena, porque minha irmã mais nova nasceu eu estava com 14 anos. Ela nasceu em julho, meu pai adoeceu em setembro, em dezembro ele fez uma cirurgia, que ele estava com um tumor no cérebro, ele faleceu em janeiro. Então, a minha irmã mais nova tinha cinco meses de idade e eu fiz 15 anos no dia 27 de dezembro. Isso me marca muito também. Eu estava no hospital com meu pai. E lembra que eu falei que eu sempre ajudei minha mãe? Aí, o que aconteceu? A gente era de Niquelândia, meu pai teve que ir pra Anápolis, onde ele fez todos os exames e ficou internado, minha mãe com a bebezinha de cinco meses. A minha irmã mais velha ficou em casa, para cuidar de casa e eu fui com minha mãe para Anápolis e a bebezinha mais nova, para ajudar minha mãe cuidar dela, enquanto ela ia dar o suporte para o meu pai, no hospital. Então, eu estive com ela, presente também nesse período crítico do hospital. E aí meus 15 anos eu fiz, meu pai estava internado. Eu me perdi o que eu estava falando. As coisas vêm assim.
P/1 – Você estava lembrando das suas professoras.
R – Isso, das minhas professoras. Voltando, então meu pai faleceu nessa época e aí eu terminei meu ensino médio e minha mãe, com toda dificuldade, com a pensão que ela tinha, ela conseguiu administrar a casa com as três filhas, as duas mais velhas e a bebezinha e ainda assim ela conseguiu pagar um curso técnico para mim e para minha irmã mais velha. Então, esse curso técnico que eu fiz foi em Química e que me ‘abriu portas’ para entrar na Anglo American, que eu comecei a estagiar na Anglo American, em razão desse curso técnico em Química. Então, a atuação da minha mãe na minha vida também, como eu falei lá atrás, ela me ensinou a ler e escrever e para eu também dar seguimento na carreira, foi primordial o esforço que ela fez, para que eu pudesse fazer essa formação técnica e é por isso que eu estou aqui, até hoje.
P/1 – Independentemente dessa circunstância, o que aquela garotinha queria ser, quando crescesse?
R – Nossa, que pergunta, viu? (risos) Uma coisa que eu não tinha em mente... eu queria muito ser referência talvez profissional. Eu não sei se por eu olhar minhas professoras, agora eu não consigo conectar, mas eu não sonhava em ser a dona de casa, não sonhava em casar, não sonhava em ter filhos. Eu sonhava em ter uma carreira, uma profissão. Nessa época que eu comecei, enfim, a sair do ensino médio, eu queria muito ser engenheira química. Quando eu fiz o curso técnico de Química foi porque eu também tive muita facilidade e aí eu fui falar do curso, porque eu ia lembrar do meu professor (risos) Ezequias, que era um professor de Química, ele dava todas as matérias do curso de Química, então cálculo muito difícil, coisa que era três, quatro folhas e eu sempre tive muita facilidade, então, quando eu fiz o curso, eu criei essa expectativa e isso eu estava com 17 anos, que eu queria ser uma engenheira e eu pensava muito nessa questão de ser referência, uma profissional. Não sonhava no contexto da mulher, mãe, dona de casa. (risos) Esse não era o meu foco e o que me projetava. Nunca foi. Aconteceu por acaso. Acho que por Deus na minha vida também. (risos)
P/1 – E a partir desse curso técnico de Química como se deu a sua aproximação com a Anglo American? Como a Anglo apareceu na sua vida?
R – Meu pai faleceu, eu fazia o ensino médio, depois fui fazer esse curso técnico em Química. Nesse período minha mãe era pensionista, eu comecei a trabalhar. Comentei também que eu dava aula particular, antes do meu pai falecer, até, para ter uma rendinha, começar a ajudar e contribuir um pouco mais e aí, quando meu pai faleceu, eu fui procurar emprego e comecei a trabalhar numa clínica de endoscopia, que faz exames do estômago, lá na cidade, num hospital e aí eu estudava à noite e trabalhava de dia, nessa clínica e aí, atendendo um paciente nessa clínica, ele falou que trabalhava na Anglo American, na área de laboratório e ele era, na época, o supervisor lá da área, aí eu comentando, enquanto a gente estava no processo de preparação do paciente para ir para o exame, eu comentei que eu estava fazendo curso em Química e aí eu lembro até hoje, ele falou: “Nossa, você comunica tão bem, parece ser uma aluna tão dedicada, por que você não faz inscrição no processo seletivo?” Eu falei: “Ah” – e naquela época era muito difícil, não dá, Anglo American. A gente chamava, ainda, nessa época, de Codemin – “muito difícil entrar na Codemin” e ele falou: “Não, vamos”. E aí esse paciente tinha uma proximidade com o médico, que é com quem eu trabalhava e eles conversando, ele falou: “Não, vai dar certo”. Enfim, eu não sei como aconteceu, eu me inscrevi, participei do processo de seleção e fui estagiar na Anglo American. Aí eu saí do meu emprego, até negociei isso com o médico, para eu poder sair e conseguir conciliar e preparar outra pessoa para assumir minha função lá, porque eu era administradora, que resolvia questões do banco e também auxiliava lá nos exames, cuidava da limpeza da clínica, fazia de tudo. E aí eu fui estagiar na Anglo American, foi quando eu estagiei por seis meses. Eu entrei lá em 2002. Nossa, é tanto tempo, gente! (risos)
P/1 – Como foi a sua primeira impressão da companhia?
R – Eu me assustei. A indústria era muito grande, era tudo muito diferente do que eu conhecia. Eu morava na fazenda, depois eu vim para cidade, eu estava ali no escopo de um hospital que era, vamos dizer assim, uma instituição mais comum. Entrar na indústria, eu lembro quando eu fui fazer o processo seletivo, me assustou. Era distante da cidade, ainda é distante. Meu tio até que me levou, na época, para participar da entrevista. E você ver aquela coisa gigante, um monte de equipamentos me causou um susto, aí eu falei: “Nossa, como é trabalhar aqui?” Mas o período, a forma como a empresa conduziu a integração, era um grupo de estagiários bem grande, foi a adaptação acontecendo. Acho que me assustou por ser uma indústria, mas depois eu me incluí ali nesse processo, tinha alguns outros estagiários junto comigo na área de laboratório, tinha as atividades separadas, a gente era acompanhada e foi uma experiência muito boa, de sair de um ambiente conhecido, com pessoas que eu já convivia e ir para um local onde eu não conhecia ninguém e eu sempre fui muito reservada, muito tímida, é uma característica minha, então acho que foi o primeiro momento de eu desbravar um pouco isso, de ir para um lugar onde eu ia viver tudo novo, com pessoas novas e que eu tive que construir esse convívio com eles lá, também.
P/1 – Você disse que era distante a Codemin da cidade. Que distância é?
R – Trinta e cinco quilômetros, mais ou menos. Eu descia a pé para ir para o trabalho, aí eu passei a ir de ônibus pro trabalho todo dia, o período de estágio. Isso aqui, para nós, é longe, viu? (risos)
P/1 – E como é que se deu a sua incorporação a Anglo American? Como é que você, a partir do estágio, continuou sua trajetória na companhia?
R – Eu fiz o estágio em 2002, foram seis meses de estágio, nessa época não tinha vaga, eu fiz um bom estágio, recebi um feedback muito bom do gestor, na época, mas enfim, não tinha vaga, a gente encerrou o estágio e eu saí da organização. Eu terminei o estágio acho que em janeiro, se eu não me engano. Depois eu posso confirmar, se for o caso de precisar de uma informação mais verídica. Eu não me lembro agora. Mas eu saí e aí eu tentei participar de processos seletivos pra posições de técnico em Química, na indústria que meu pai trabalhou até quando ele faleceu, que era na Votorantim Metais. Participei desse processo, eu cheguei na fase final do processo e eu só não avancei, porque eles queriam um homem para ir pra frente de campo e naquela época eles entendiam que eu, como mulher, não estaria preparada e habilitada. Então, a psicóloga, na época, me desclassificou, porque eu era mulher. Eu lembro disso hoje com um grande incômodo, mas eu sei que a minha vida seria na Anglo American. Isso foi bom ter acontecido, porque eu estou aqui até hoje, então tudo tem seu propósito e aí eu não consegui passar, eu queria muito fazer Engenharia Química, aí eu fiz processos seletivos para vestibular, na verdade fiz vestibular para tentar passar no curso, eu queria ir embora da cidade, estudar, crescer em carreira, como eu falei, aí eu não consegui Engenharia Química, tentei Farmácia, não consegui e lembra que eu falei que eu era excelente aluna? Parece que não era para dar certo, gente. (risos) Eu não consegui passar nos vestibulares. E aí, o que aconteceu? Nesse meio termo aí de cinco meses o Projeto Barro Alto, para a expansão da unidade aqui em Barro Alto, foi aprovado pela Anglo American. Iria começar as pesquisas do minério aqui de Barro Alto e eles precisavam aumentar o headcount de lá de Codemin, para que pudesse fazer essas pesquisas no laboratório. Aí, com essa aprovação do projeto eles abriram as vagas e como eu tinha feito um estágio muito bom, eles me chamaram para poder ocupar essa vaga. Na verdade, foi um processo seletivo entre algumas pessoas dos melhores lá e aí eu passei e fui selecionada para a vaga de analista de laboratório, que era para analisar as amostras daqui de Barro Alto, que o projeto tinha sido aprovado. A gente ia fazer os testes, as pesquisas e construir a planta e é onde eu estou trabalhando hoje. Então, começou em razão desse projeto ter sido aprovado e aumentou o quadro de vagas e eu fui efetivada para o laboratório em agosto de 2023.
P/1 – 2003.
R – 2003, isso, corrigindo. (risos) 13 de agosto de 2003.
P/1 – Certo. E quais foram as suas primeiras responsabilidades?
R – Eu era responsável por fazer a análise das amostras que a gente recebia do processo produtivo. Então, analisava o minério, em si, para saber teor. Analisava o minério fundido, já na área do refino, por exemplo, para avaliar o metal já... enfim, hoje a gente tem um produto diferente, mas naquela época a gente avaliava o teor de carbono, enxofre, então tinha os equipamentos. Não vou lembrar de todos os nomes, mas a gente usava também um raio X, para fazer análise desses compostos químicos do material dos insumos, que era utilizado na planta como um todo. Então, cal, carvão, o próprio minério. Enfim, a gente fazia análises químicas de colocar substâncias para poder analisar. Eu fazia pesagem, porque para a gente poder executar uma análise, você tinha que ter a quantidade de gramas pra cada tipo de insumo ali, de composto químico, aí eu fazia essas pesagens e as análises no raio X. Em resumo, seria mais ou menos isso. Tem muito tempo. (risos)
P/1 – Mas um trabalho dirigido especificamente para uma pessoa que tinha uma aproximação com a química grande, como você tinha.
R – Sim. A gente tinha dois escopos. A análise química era o que eu era responsável e tinha uma parte mais de preparação do material, que é física, que aí era mais os colegas que faziam, que tinham mais experiência e também por ser uma atividade que demandava esforço físico maior e aí eu, no caso, como analista, ficava dentro do laboratório, para fazer análise no raio X, nos equipamentos que a gente tinha. É porque eu não lembro os nomes, Luiz. Essa fase já está muito distante. E trabalhei no laboratório por um ano e meio somente, quando eu entrei na Anglo American, porque eu sempre gostei de estudar, então quando eu entrei na Anglo American para área de laboratório eu comecei a buscar estudo. Aí eu fui estudar um curso de Administração. Era o que tinha de oferta na minha cidade, na época porque, para fazer Engenharia Química, eu teria que sair da cidade, ir para a capital aqui, que é Goiânia, mais perto. Então, eu falei: “Vou fazer o que eu tenho aqui na cidade”, que era Administração. Até comecei, era uma faculdade de mentira, deu calote em mim e em vários outros colegas e aí, depois, mesmo assim, eu querendo estudar, busquei uma outra instituição, foi quando eu fiz formação em Administração, ainda em Niquelândia. Nesse período eu fiquei lá um ano e meio, no laboratório e aí surgiu uma vaga na área administrativa, que era na área de Departamento Pessoal, que a gente chamava o antigo RH do passado. Aquela área que faz cálculo de folha de pagamento, demissão, rescisão, calcula férias, esse tipo de atividade, ponto e aí eu fui pra participar de um processo seletivo pra uma vaga de assistente nessa área, então eu saí do laboratório, porque eu também participei do processo e fui aprovada e foi quando eu entrei e comecei a minha carreira na área de RH, administrativa, que é a área que eu estou atuando até hoje. Isso foi em 2005.
P/1 – Como é que essa vocação surgiu?
R - (risos) Eu lembro de um gerente muito marcante aqui na nossa empresa, Sebastião Elias, na época ele até me questionou, falou: “Mas lá no laboratório é tão fácil o seu trabalho, você mexe com terra, com minério, você resolve rápido. Aqui no RH você vai mexer com gente. Por que você fez essa mudança?” E parece que eu queria muito crescer, fazer coisas diferentes. Depois que eu conheci um pouco mais da Anglo American, talvez tomei conta da magnitude do que era a empresa, talvez as opções de trabalho, eu queria muito sair daquela área, vamos dizer assim, manual. Eu queria pensar mais, colocar mais minha cabeça para refletir e eu vi uma possibilidade de crescer, de mudar de área, de aprender coisas novas e fui. Todo mundo falava: “Você é doida, Karlla. Nossa, lá você tem um trabalho...”. Não, na verdade eles falavam assim: “Lá você tem um emprego, você vem, trabalha, vai embora para a sua casa e faz sua atividade. Aqui você vai ter trabalho, mesmo”. Eu falei: “Mas eu quero é trabalho, quero trabalhar, ter aprendizado que me faça crescer”. Então, foi aí que eu comecei minha jornada. Onde eu mais cresci aqui dentro da Anglo American acho que foi depois que eu dei esse passo, mesmo, de sair da área de operação e vir para o RH. E um ponto importante, que eu acho que é um destaque, que eu tenho muito orgulho de falar isso hoje, na Anglo American: a gente hoje tem a frente de diversidade, inclusão de mulheres, de todas as diversidades que a gente tem muito forte e eu tenho um orgulho tão grande, porque a gente tem um livro, que chama História da Codemin, que é o livro que conta a história da nossa unidade de Codemin, lá em Niquelândia e nesse livro eu estou nele e eu sou mencionada por ser, naquela época que eu fui contratada, a primeira mulher a estar numa área mais operacional, que era a área de laboratório. Eu dava suporte pra operação, fazia atividades mais operacionais mesmo, mas eu era a única mulher que estava de uniforme operacional. Todas as outras mulheres da organização eram do administrativo, de sainha de escritório, salto alto, que naquela época ainda podia usar. Então, eu entrei, nessa época, sendo a primeira e a única mulher a estar nessa área operacional, lá na Codemin. Tenho também muito orgulho disso. Posso dizer que a gente desbravou frentes, para estar hoje em um ambiente onde tem muito mais mulheres na nossa organização.
P/1 – Reflita um pouco sobre essa postura da companhia com relação a diversidade e inclusão. Como é que você avalia o comportamento da empresa, nesse particular?
R – Nossa, eu estou aqui há tantos anos, a empresa cresceu tanto. O estilo de gestão, a valorização do ser humano, acho que é uma transição cultural que, lógico que o que aconteceu no mercado aconteceu no mundo como um todo, mas eu vejo a Anglo com um grande diferencial. A gente não... tem muitos anos. Quando eu entrei era assim: a pessoa que está ali para executar, é um recurso mesmo para a entrega. Hoje a Anglo fala: “Não, é a Karlla, o Luiz, o Manoel”. É um cuidado pelo ser humano que está aqui dentro, que tem uma vida, que tem dificuldades, que tem família. Então, tem um cuidado adicional. Para nós, mulheres, era muito desafiador lá atrás. Na área que eu trabalhava, no laboratório, não tinha banheiro. Às vezes, quando eu estava menstruada, quando eu tinha um piriri, eu tinha que caminhar dois quarteirões, não sei em metragem, para correr e ir ao banheiro, porque na área que eu estava não tinha. Então, hoje a gente tem um espaço físico muito mais cuidadoso para receber mulheres, por exemplo, um ambiente muito mais respeitoso. Eu não me recordo de eu ter sido maltratada, ou ter tido uma situação crítica de assédio, por ser mulher, porque eu sempre tive uma postura muito séria, muito ética. Isso é outra coisa que é muito forte da minha personalidade, então eu não tive dificuldades. Eu me impunha, por ser mais reservada eu não dava espaço pra brincadeiras, para esse tipo de situação, mas olhando um pouco da empresa, nossa, hoje eu tenho muita satisfação, muito orgulho, por isso que eu falo que quando eu entrei foi desafiador, acho, ser a primeira, eu não tinha noção do que era isso. Hoje, olhando para trás, eu vejo a importância e o quanto a empresa evoluiu e hoje a gestão, a forma de trabalho, o quanto a gente estimula, incentiva, valoriza, reconhece, não só a mulher, toda e qualquer diversidade que a gente tem aqui. É muito lindo ver a empresa, hoje, muito mais humanizada, muito mais respeitosa para com as pessoas que estão aqui, gerando os resultados. Não são recursos, não são operadores só de execução, não. São pessoas que têm uma contribuição muito significativa, para a gente garantir a nossa entrega.
P/1 – Um outro fator que é notável no trabalho da Anglo American tem a ver com o relacionamento com as comunidades, que é um ponto forte do jeito de ser da companhia. Como é que você avalia isso, do posto de observação que você tem hoje?
R – Acho que a gente vem, cada vez mais crescendo, evoluindo, mudando as nossas práticas. Eu, na minha atuação, hoje, como coordenadora de RH, busco estimular e criar esses espaços, mas eu, lá atrás, fui admitida sendo uma pessoa da comunidade de Niquelândia, então sempre existiu essa valorização da comunidade, no meu entendimento. Hoje ela está mais forte e hoje a comunidade acho que já tem uma leitura de cobrar um pouco mais isso das instituições, mas em Niquelândia isso era muito forte, por ter, talvez, a unidade dentro de um único munícipio. Já aqui em Barro Alto, onde eu estou trabalhando hoje, a empresa fica no munícipio de Barro Alto e eu, por exemplo, optei por moram em Goianésia. Então, eu, mesmo morando em Goianésia, dentro das minhas ações o meu foco é Barro Alto, porque é onde nossa empresa está instalada e onde a gente precisa prover recursos, desenvolver a comunidade. Então, os projetos sociais que a gente faz são muito cuidadosos. Eu, por exemplo, como área de treinamento e RH, a gente faz formação e captação para a comunidade, para estarem preparadas para as oportunidades, seja na Anglo, ou em outras organizações. Enfim, acho que a empresa vem evoluindo, o mercado vem cobrando, mas a Anglo é muito coerente nas ações sociais que ela faz, na comunidade onde está inserida.
P/1 – Quais foram os principais projetos e desafios que você encarou, nessa sua trajetória, até chegar ao ponto em que você chegou?
R – Você fala da minha atuação mesmo como profissional, não no ambiente social, no aspecto social?
P/1 – Profissional.
R – Nossa, foram (risos) muuuuuitos desafios. Eu me lembro quando eu comecei a minha jornada na área de Departamento Pessoal, lá atrás, a gente veio com implantação de novos sistemas, então eu comecei em Departamento Pessoal, depois eu fiz outro processo seletivo, passei também, para a área de Cargos e Salários, que hoje a gente chama de área de Remuneração. Então, nessa época a gente implantou programa de participação em lucros e resultados, que a gente não tinha e eu era analista responsável por fazer toda a tratativa e entendo que é um projeto significativo. A gente passou a ter gestão de performance, que a gente não tinha algo estruturado e que também foi feito dentro dessa posição, na área de Remuneração. A gente passou por um período de integração dos negócios de níquel, que é onde eu estou hoje. Vocês estão olhando a Anglo American Brasil, que é minério de ferro e tem níquel, onde eu estou hoje, mas antes da a gente estar com essa junção, minério de ferro e níquel, nós tivemos um período que era níquel, nióbio e fosfato. Não sei se vocês conhecem um pouco dessa história da Anglo American, mas a gente fez uma fusão com os negócios que também eram da Anglo American, de nióbio e fosfato, que ficava em Catalão, Ouvidor e Cubatão. Então, nesse período, também, eu tive muitos projetos, mas eu trago a NNB, que é o que a gente chamava, a sigla, de um período sem referência na área de Remuneração, para as analistas dessas operações, a gente fez implantação de sistemas novos, sistema SAP, por exemplo. Eu participei de estudos, por exemplo, de primarização lá em nióbio, mesmo estando aqui no níquel. Nossa, são tantos projetos! Eu estou até na dúvida do que eu trago, qual é a expectativa de vocês, mas depois de níquel, nióbio e fosfato aqui a gente juntou com minério de ferro. Nessa época eu fui promovida a coordenadora. Como coordenadora eu geria todo time de RH e a gente teve muitos desafios aqui. Um deles foi fechar um acordo coletivo de 0%, que a gente não teve aumento numa negociação de acordo coletivo, que eu fui parte importante, junto com a minha gestora. Então, eu tenho isso como uma conquista muito grande. Naquele momento a empresa tinha uma necessidade e nós negociando, cuidando do ambiente, fazendo toda a gestão, fechou esse acordo coletivo aqui. A gente fez propostas do modelo de programa de remuneração variável nesse período e o meu desafio mais atual, se me permite eu já compartilhar também: essa função de coordenadora de RHBP. Eu a assumi em 2021.
P/1 – BP?
R – É. BP, que é Business Partner. Até 2020 nós aqui, no negócio níquel, trabalhávamos com um modelo de atendimento dos clientes de forma centralizada. Então, dentro da estrutura do RH eu tenho a pessoa à frente de remuneração, à frente de desenvolvimento, à frente de treinamento e aí eu tinha uma pessoa especialista para cada uma dessas atividades. O modelo de Business Partner traz um modelo mais generalista. Eu tenho uma analista que conhece do todo e atende o cliente nesse todo e a gente nunca tinha trabalhado dessa forma e quando eu assumi essa posição meu desafio foi implantar esse modelo de Business Partner, de capacitar equipe, de fazer com que todos conhecessem todos e que a gente estruturasse essa forma de atendimento com os clientes. Então, hoje eu posso considerar que a gente tem uma estrutura consolidada e eu que fiquei responsável por isso aqui. Lógico que com a minha gerente também, mas eu como coordenadora, a responsável principal. Então, acho que o desafio mais recente que eu tive e que eu tenho muito orgulho de ter implantado esse modelo, a gente tem colhido muitos frutos, temos ainda oportunidade, mas enfim, hoje, quando a gente fala de Business Partner todo mundo sabe quem é o BP da sua respectiva área e o escopo de atendimento dessa pessoa. Então, foi algo que eu fiz aí, ao longo desses últimos dois anos e que, enfim, me orgulho muito também de já ter chegado num patamar consolidado. Só comentar mais um desafio: eu não sei como vocês vão construir a minha história, mas acho que é uma outra conquista muito importante para mim, na minha carreira. Quando você me perguntou lá atrás o que a Karlla pensava, na carreira dela, o que ela queria ser. Quando eu entrei na Anglo American eu queria trabalhar, aprender, crescer, enfim e ao longo da minha jornada em RH eu sempre fiz uma boa entrega, sempre fui muito bem avaliada, reconhecida, tive promoção, aumento, pelo potencial e a entrega que eu sempre fiz aqui, mas eu sempre tive muita dificuldade de reconhecer isso. Sempre uma autocrítica, uma exigência muito forte e aí o Carlos Hilário, que é um dos nossos... nosso penúltimo diretor, num processo de desenvolvimento comigo, me fez perceber a minha capacidade e esse potencial que eu tenho de fazer entregas, de conseguir evoluir e crescer. Eu não acreditava que eu era capaz. E na gestão dele a minha gestora, que é a gerente, saiu de licença-maternidade e ele me permitiu ser responsável pela área, durante a licença-maternidade dela. Então, eu fiquei sete meses interina como gerente aqui do site e que foi uma conquista pessoal muito grande de eu ter conseguido exercer esse cargo e com uma qualidade, que tanto o próprio diretor de RH, o Hilário e o diretor da época, que era o Cobo, me trouxeram feedbacks, falaram: “Nossa, Karlla, você fez um bom trabalho, parabéns por isso, é importante” e eu jamais imaginei que eu poderia fazer, então eu sempre me coloquei muito ‘pra baixo’ e quando eu olho a minha história e é uma coisa importante eu olhar pra trás, desde quando eu consegui aprendi a ler e escrever só com a influência da minha mãe, do curso técnico que eu fiz, das coisas que eu fui desbravando, então eu tenho, sim, capacidade, só às vezes não acredito em mim e aí que o Hilário me faz, hoje, enxergar para mim com muito mais amor, compaixão e de me colocar como uma pessoa que tem suas potencialidades, uma pessoa capaz, uma pessoa importante para a organização. Eu estou aqui esses anos todos. Se eu somar o período de estágio com o período efetivo eu já tenho vinte anos de Anglo American. Então, se eu estou aqui há vinte anos é porque eu também tenho feito um bom trabalho, para permanecer aqui até hoje. Então, acho que o que mais me orgulha é isso: uma carreira de vinte anos que eu cresci em termos de cargo, vamos dizer assim, mas eu cresci muito em aprendizado e no caráter pessoal também o quanto eu passei a ser uma pessoa diferente, por estar aqui dentro da Anglo American, sendo orientada, entendendo mais sobre diversidade, entendendo as questões sociais que são relevantes pra comunidade onde eu convivo. Enfim, é uma trajetória muito linda e eu acho que, desde quando eu comecei, eu tenho construído um caminho muito lindo e a Anglo American, enfim, dos meus quarenta anos de vida, é metade disso, né? (risos)
P/1 – Certo. Qual você diria que seria, ou que seja o grande diferencial da Anglo American, no mercado de mineração? O que a faz tão diferente assim?
R – Eu não vivenciei outras experiências fora a Anglo American, estar em outras mineradoras, mas pelo trabalho que eu faço, pelo que eu acompanho, é o que eu já mencionei lá atrás: a característica da nossa organização hoje ser uma organização muito mais humanizada, muito mais cuidadosa com cada ser humano que está aqui dentro, fazendo seu trabalho. Então, acho que isso, para mim, é o que é mais valoroso. A Anglo tem práticas, políticas muito consistentes, alinhadas com o mercado, mas dessa forma mais humanizada, mais cuidadosa com o ser humano, que eu acho que é o que a diferencia. Nós temos empregados que trabalham aqui com a gente, saem daqui, vão para outras concorrentes, por exemplo, a Vale, que é uma outra empresa muito grande e depois querem voltar e voltam pra cá com essa sensação: “Nossa, aqui é muito valoroso trabalhar, porque eu sou respeitada, eu posso ser eu mesmo, sou reconhecido, tenho uma forma de trabalhar mais com vínculo humano mesmo, do que ser tratado só como uma pessoa... como um recurso, um operador”, sei lá como a gente fala, mais. Até não cabe no discurso atual, hoje, isso. Então, acho que o diferencial é isso: ser uma empresa cada vez mais humanizada, que cuida do empregado que está aqui, cuida da família da gente também, então estende para além de eu estar aqui na minha jornada, impacta a minha família, em casa.
P/1 – Na verdade, é uma responsabilidade social que se aplica fora e dentro da empresa.
R – Sim, exato.
P/1 – No seu caso_______ um pouco artífice disso, porque trata diretamente com pessoas.
R – Sim. A minha função é parte disso, hoje, mas acho que é importante mencionar, Luiz, eu estou há muito tempo na empresa, como eu mencionei, já vi várias fases da Anglo American, costumo dizer que a empresa cresceu muito, a gente evoluiu muito. Hoje, olhando quando eu entrei, a gente tem um ambiente muito mais prazeroso para se trabalhar, com os vínculos, com o perfil das pessoas que estão aqui. Então, acho que a empresa só melhorou. Que, se a empresa também não tivesse evoluído, eu não estaria aqui esse tempo todo.
P/1 – Você é casada?
R – Sou casada, meu esposo é de Niquelândia, também. Eu trabalhei por oito anos na unidade Niquelândia e vim transferida aqui, para Barro Alto, em 2011. Nessa época meu esposo – ele é bombeiro militar – trabalhava em Niquelândia e pediu transferência, pra vir me acompanhar aqui, pra cidade de Goianésia. Então, nós éramos noivos quando eu recebi o convite pra vir pra Barro Alto, aí a gente noivou em dezembro de 2011... mentira, dezembro de 2010, quando foi em março de 2011 eu fui convidada pra vir pra cá e aí a gente casou, em setembro de 2011. Foi bem rápido. A gente resolveu casar, porque a gente vinha mudar de cidade juntos.
P/1 – Qual é o nome dele?
R – Bruno.
P/1 – Como é que vocês se conheceram?
R – Nós nos conhecemos no estágio (risos) da Anglo American.
P/1 – Tem filhos?
R – Temos duas filhas: Bianca, que tem dez anos e a Carol, que tem três anos.
P/1 – Certo. E como é que é o dia a dia de vocês?
R – É uma dinâmica, vamos dizer, intensa, porque o trabalho aqui faz com que eu esteja presente na empresa. Hoje a gente tem essa flexibilidade do home office, de ter um modelo de trabalho mais flexível, mas ao longo de todo tempo, desde quando minha filha nasceu, eu tive muito apoio, é uma troca, uma parceria. Ele me dá suporte muito grande em casa, com as crianças, quando eu estou aqui. Eu sempre viajei muito em razão do trabalho, da função que eu exerço aqui e ele sempre foi um ponto de apoio importante. A gente tem uma dinâmica de ficar ausente durante o dia, ele trabalha de turno, tem um revezamento, escala de trabalho diferente também, mas quando eu estou ausente ele está com as meninas e quando ele não está com as meninas, eu estou e a gente tem muitos momentos juntos também, principalmente aos finais de semana, quando a gente consegue conciliar, ou à noite e é uma parceria. Eu trabalhei, ele conseguiu estudar em alguns períodos e eu fiquei responsável, cuidando só das crianças, para que ele pudesse fazer uma formação, ele é bombeiro, mas depois que a gente mudou pra Goianésia ele fez uma graduação em Engenharia Civil. Então, hoje ele, além de bombeiro, que ele cumpre a jornada dele, ele tem também atuação como engenheiro civil, de forma autônoma e aí ele trabalha em casa, mais presente com as meninas, enfim e aí a gente faz essa troca no ambiente familiar, para manter o equilíbrio, mas enfim, uma pessoa muito importante na minha vida, sempre me estimulou, pai super presente, muito amoroso. Enfim, uma dinâmica bem leve, que eu posso dizer, que a gente tem. Eu não gostava de cachorro, ele me fez (risos) mudar isso, depois que minhas filhas nasceram, então hoje a gente tem três cachorros que, por ele, me abriu, vamos dizer, essa possibilidade de enxergar uma vivência diferente. Eu e ele, a gente é muito diferente em termos de perfil: eu mais reservada, ele mais expansivo, mas a gente se complementa bem na nossa dinâmica como casal, como pais também. Então, funciona bem, no meu ponto de vista. Já tem 12 anos, vai para 12. Estou ruim de conta, gente, mas 12 anos de casados, aí. Mas eu namorei com ele quatro anos, antes de casar, também, então tem... e o conheci desde quando eu entrei na Anglo American, então há vinte anos que eu o conheço. (risos) A gente era amigo, depois que, enfim, a gente se tornou um casal, aí.
P/1 – O que vocês gostam de fazer, nas horas de lazer?
R - Eu gosto muito de viajar. Já estou aqui pegando feriado, para a gente poder ir para uma fazenda. Aqui tem região de lagos, que é coisa que a gente, em conjunto, gosta muito. Eu gosto muito de praia. Mas no nosso dia a dia, em casa, com as crianças, é assistir filme juntos, que a gente faz muito, arrebenta pipoca e senta, juntos. A gente gosta muito de levar as meninas aqui, onde tem espaços de brinquedos, pra que elas possam divertir, enquanto eu e ele temos nosso momento de conversar um pouquinho, também. Eu gosto muito de cozinhar, de cuidar de casa. Então, eu sou apaixonada em mesa posta, então procuro ter momentos em casa, que aí as minhas meninas me ajudam a colocar mesa, faço comida, ele também cozinha maravilhosamente bem, então a gente faz dinâmicas mais, em casa. Com a pandemia a gente ficou muito restrito de sair, então a gente fortaleceu muito a nossa dinâmica em casa, o que a gente pode fazer em conjunto. Então, assim: essa questão de pôr a mesa, de fazer um almoço, de almoçar juntos, isso é uma coisa prazerosa, que a gente gosta muito de fazer e hoje as meninas, mesmo a Carolzinha, com três anos, é algo que ela já participa, sabe? É interessante, para manter esse vínculo da família, da gente estar juntos ali.
P/1 – ‘Puxando’ o talento da avó, né?
R – Da avó, exatamente. (risos) É isso aí.
P/1 – Uma coisa: “Reimaginar a mineração, para melhorar a vida das pessoas”, o que significa isso?
R – Nossa, esse propósito é encantador e depois que eu consegui, talvez, entender um pouco mais do que eu, como pessoa, posso contribuir, das minhas capacidades, eu vinculo muito o propósito da Anglo com o meu hoje. “Reimaginar a mineração para melhorar a vida das pessoas” é fazer com que o nosso trabalho aqui, no dia a dia, seja para que as pessoas sejam mais felizes, estejam melhores, então eu faço uma mudança... talvez eu não estou sabendo materializar isso, mas tudo que eu faço hoje, como RH e como profissional aqui dentro da Anglo American é para impactar o outro, para fazê-lo ser um gestor melhor, para ele ser um empregado melhor, para ele olhar a questão de segurança que a gente coloca aqui todo dia e levar para casa dele na hora de cuidar do filho. Então, é para mudar, mesmo, a reflexão, a forma de ver das pessoas. Então, não só num contexto de mineração, indústria, mas principalmente na relação humana. O que a gente propõe aqui de convívio, de forma de trabalhar, de respeito, de ser humano, de ajudar o outro, de dar a mão, de corrigir uma rota é que eu quero que as pessoas saiam daqui e levem para dentro das suas casas, façam com suas mães, seus pais, esposos, filhos, nas escolas. Então, pra melhorar é isso: a gente trazer conhecimento, informação e tornar as pessoas com a mente mais colaborativa, compartilhar com o outro.
P/1 – Nessa trajetória sua na Anglo American quais foram os principais aprendizados que você levou para sua vida pessoal?
R – Acho que segurança é um deles, muito forte na nossa empresa, então as questões de segurança que eu aprendi, ao longo desses anos aqui, hoje, em casa, eu sou muito mais cuidadosa, principalmente depois que a gente tem filhos, então eu fico muito mais alerta às questões de segurança de risco, é uma coisa constante. Acho que isso que eu acabei de falar, da gente mudar a vida das pessoas, então o quanto eu posso trazer de conhecimento e aprendizado para dentro da minha casa, para o grupo de pessoas que eu convivo... como que eu posso dizer? Estão me faltando as palavras agora. O que eu aprendo aqui, que eu posso compartilhar, que não fica só comigo. Então, eu aprendi muito aqui questões, igual eu comentei, de diversidade, questões sociais, de práticas, humanitárias mesmo, de respeito, como você... é importante dar um bom dia para o outro. Quando eu vou para um ambiente onde eu não tenho eu faço reflexões sobre isso, tento trazer isso para as pessoas, do cuidado, valores que são muito fortes aqui dentro da empresa e que é muito meu. Por exemplo: eu sou uma pessoa que sou muito colaborativa, eu gosto muito de ajudar, eu não consigo ver uma pessoa passando por alguma situação e não conseguir fazer nada. Ontem eu estava em uma consulta, a pessoa que está lá chegou, mudou todo sistema de senha, aí todo mundo olha, a pessoa está lá com dificuldade, ninguém levanta para ir... eu sou a primeira pessoa que vou lá, ajudar, sabe? Então, o que eu vejo aqui, dos valores da Anglo, eu aprendi, eu reforço isso hoje na minha vida fora daqui também.
P/1 – O que significa, pra você, cinquenta anos de presença da Anglo no Brasil? O que significa isso?
R – Cinquenta anos da Anglo aqui eu acho que cinquenta anos de crescimento, de mudança, de oferta de emprego, de valorização da mineração, do que a gente faz, porque acho que a mineração veio se transformando e cinquenta anos da Anglo American aqui... nossa, é difícil colocar isso em frases, Luiz. Nossa, eu acho que são cinquenta anos de transformação, de mudança na vida das pessoas, principalmente onde a gente está. É colocar o propósito dela aí. Se a gente pegar a mineração lá atrás, que era só... como é que é? A gente falava de - eu já nem sei mais os termos – exploração, impactos ambientais, hoje é o contrário. Cinquenta anos que a gente explorou, mas que a gente trouxe muitos recursos e melhorias para o mundo. Cinquenta anos de produção da Anglo American são recursos de infraestrutura, qualidade de vida e que a gente conseguiu oferecer para todo mundo, direta, ou indiretamente, seja quem está empregado, ou para as pessoas da comunidade, que estão usufruindo disso.
P/1 – Qual o futuro que você antevê pra Anglo American?
R – Aqui no Brasil?
P/1 – Sim.
R – O que eu prevejo é o que eu gostaria muito de ver, antes de sair da organização: dela ser a mineradora mais reconhecida, aqui no Brasil, porque a gente ainda tem a Vale muito forte no mercado e eu vejo que a Anglo, por tudo que a gente faz, precisa se fortalecer e ser essa referência, aqui no Brasil. A mineradora, a única mineradora, a melhor mineradora. A gente ainda tem espaço e eu quero enxergar isso. (risos)
P/1 – O que você diria para uma pessoa que vai amanhã começar a trabalhar na Anglo American?
R – O que eu diria pra uma pessoa que vai começar a trabalhar?
P/1 – Amanhã, na Anglo American.
R – Eu costumo fazer isso, já, no meu dia a dia de trabalho, porque a gente tem os novos admitidos aqui, que a gente faz contato: “Viva a experiência de estar aqui. Faça o seu melhor, da forma mais prazerosa que você consiga fazer o seu trabalho, sem medo faça e traga sugestões, melhorias”, porque a empresa só vai crescer se as pessoas que estão chegando trouxerem o que elas têm de lá de fora e virem compartilhar aqui, com a gente, mas para que as pessoas vivam isso daqui, estejam aqui, conheçam os nossos valores, a nossa dinâmica de trabalho e façam disso aqui aquilo que elas têm de mais prazeroso da vida. É o que eu falo para a turma que vem começar aqui, conosco: os estagiários, os novos contratados. Enfim, é um prazer receber todo mundo, mas pra que eles vivam isso aqui, desfrutem dessa experiência, aproveitem, compartilhem, escutem quem está com a gente há mais tempo, porque a gente tem tanta coisa linda dentro dessa organização e que as pessoas não podem vir aqui pensando, talvez, só na remuneração no final do mês. Pra viver isso aqui com gosto, com vontade.
P/1 – Tem alguma coisa que você gostaria de ter dito e eu não te estimulei a dizer?
R – Ai, Luiz, deixa eu dar uma olhadinha aqui, porque eu fiquei um pouco na dúvida, não tinha noção do que seria o roteiro. Não sei se vocês já fizeram com todas as pessoas. Vocês estão me ouvindo?
P/1 – Sim.
R – Tá. É que travou aqui, um pouquinho, para mim. Não sei se vocês fizeram já com a maioria das pessoas, ou se a dinâmica é essa, mesmo, para pensar na melhor forma de trazer toda a história. Ano passado eu construí um vídeo de dez minutos, onde eu contei um pouco da minha história dessa jornada, no contexto pessoal e profissional, falo um pouco dessas vivências e eu queria só resgatar, pra ver se alguma que eu mencionei, quando eu escrevi, não ficou passado aqui, enquanto a gente foi conversando. Ou até se eu pudesse mostrar o vídeo, alguma coisa assim, para vocês. Talvez eu possa te mandar no zap, não sei o que é melhor, que ele é quase dez minutos. Deixa eu só ver aqui. E tem várias fotos, talvez seja alguma dessas fotos que eu vou escolher pra mandar pra vocês.
P/2 – Deixa eu te aproveitar e te perguntar: esse vídeo foi para onde? Para a empresa, mesmo?
R – Foi, na verdade, uma dinâmica que nós fizemos, eu me apresentando para nossa nova diretora, que ela queria conhecer um pouco mais da minha história. Então, em dez minutos eu contei a minha história com vídeos, com fotos. É um powerpoint, onde eu vou mostrando as fotos e a minha fala, o meu áudio, eu narrando um poema que eu fiz. (risos) Um poema, não, uma rima que eu fiz, com a minha história. De repente pode ser importante pra vocês na hora de escrever, não sei.
P/2 – Sim. Eu acho que, quando eu for conversar com você sobre as fotos que vai precisar enviar, você me envia também, porque eu acho que isso vai ser legal ficar lá na sua história, no site do Museu. Tá bom?
R – Tá bom. Só repassando aqui, até para eu ver o que eu já mencionei com vocês e que talvez seria importante: eu sou formada em Administração, mas estando na Anglo American eu comecei minha carreira na área de Química, depois eu vim para o Departamento Pessoal, depois eu fui para a área de Remuneração, que eu comentei com vocês e depois eu fui para a área de Desenvolvimento Humano Organizacional. Ao longo dessa minha jornada eu tive que estudar, buscar conhecimento, para saber também o que eu estava fazendo, me capacitar e eu sempre fui uma pessoa assim: eu preciso me sentir preparada. Então, quando eu assumi a função de especialista em Desenvolvimento Organizacional eu fui estudar e o que eu falo para todo mundo: “Gente, não adianta um diploma único, entrou aqui, está garantido, não. Tem que estudar, tem que continuar, não tem tempo pra parar de estudar. Você nunca sabe nada”. Então, ao longo dessa jornada eu fiz a graduação, fiz uma pós-graduação em Gestão de Pessoas, mesmo antes de eu ocupar uma posição de gestão eu fui promovida, depois, a coordenadora e quando eu assumi a área de Desenvolvimento Humano Organizacional eu voltei para a escola, pra fazer uma pós-graduação em Psicologia Positiva e Desenvolvimento Humano Organizacional, pra eu entender as práticas, as tendências de mercado, para que eu pudesse vir fazer um bom trabalho aqui na Anglo American. Então, acho importante eu comentar que nesse período todo de vinte anos eu também cresci na carreira aqui, mas porque também eu estudei, eu não fiquei paralisada, eu busquei. Em paralelo eu estudo inglês, busco também, enfim, melhorar cada vez mais a minha fluência, porque isso é importante também para a organização e para a função que eu estou também e se eu quiser crescer um pouco mais. Eu sempre fui muito de estudar, então é importante eu reforçar isso aqui, com vocês.
P/1 – Ótimo! Estudar não é um projeto, é uma função.
R – É, exatamente. É que eu comentei do período que eu trabalhei em níquel, nióbio e fosfato, nessa época era uma gestão remota, a gente também teve muitos aprendizados nesse período. Eu atuei nas duas outras operações, fui até as duas outras operações também. Acho que era isso, olhando o que está aqui. As minhas duas filhas nasceram eu estava trabalhando na Anglo American, eu tive as minhas duas licenças-maternidade, então é outro espaço da gente ser mãe aqui dentro da empresa, ser bem cuidada, bem recebida no retorno da maternidade, não só porque eu estou no RH, mas é Anglo American que eu estou falando. Então, eu criei as minhas duas filhas, as minhas duas gestações foram aqui, construí minha vida toda aqui dentro dessa empresa, então é um vínculo muito forte.
P/1 – Como é que você se sentiu, dando esse depoimento pra nós?
R – Eu fiquei honrada com o convite deles identificarem meu nome aí, para contar um pouco da minha história. Eu gostei de estar trazendo, me emocionei, me resgata quem é a Karlla, a criança que você trouxe, a que começou lá em 2002. Então, sempre fazer esse regresso e olhar a sua história te faz valorizar o que você viveu, te faz reconhecer, então esse é um assunto que, para mim, tem muito valor, então todo momento que eu paro para olhar, resgatar e contar a minha história eu me sinto muito mais feliz, muito mais realizada e me sinto uma profissional competente e capaz de fazer o que eu faço hoje aqui, na organização. Então, é muito bom parar para poder olhar e contar a minha história. Talvez a forma como a gente contou ficou confusa... não, são vários aspectos, aí eu queria muito, depois eu vou compartilhar o vídeo com vocês, que eu fiz mesmo a linha do tempo, vamos dizer assim, uma lógica, talvez, do que aconteceu ao longo dessa jornada, mas que é uma jornada linda, são vinte anos aqui dentro, crescendo profissionalmente, como pessoa, criando a minha família, construindo meu patrimônio pessoal, intelectual, financeiro aí, mas é muito bom trabalhar aqui. Nossa, o grupo, hoje, de trabalho, a equipe de trabalho que eu estou, principalmente acho que a pandemia foi um dos momentos mais difíceis que eu vivi aqui, na Anglo American, de estar trabalhando em casa, remoto. Foi nesse período que eu perdi minha irmã e que tem um peso muito forte, então foi o momento mais desafiador, mas pós-pandemia eu, com meu grupo de trabalho, a gente se fortaleceu tanto! Hoje tem uma forma de trabalhar muito mais integrada, muito mais unida, pós-pandemia. Eu falo pelo meu grupo e por todos os colegas que estão aqui: a pandemia ensinou muito para a gente como ser humano e isso refletiu também aqui dentro da Anglo American. Então, a Anglo deu todo apoio, mas nós, como seres humanos, eu entendo que grande parte de nós voltou para a organização com algo de diferente. Então, a gente tem experiências boas, ruins, mas quando eu olho, é uma trajetória só de crescimento, de aprendizado, de conquistas, enfim e de evolução.
P/1 – Diga, por favor, quais são seus sonhos.
R – Os meus sonhos? Pessoais, profissionais?
P/1 – Pessoais e profissionais.
R – Nossa, meu sonho e meu pedido à Deus todos os dias: que eu consiga ver minhas filhas crescerem e fazer com que elas tenham, no mínimo, autonomia para seguir a vida delas e eu poder estar junto com elas. Isso é muito forte, porque eu perdi a minha irmã e eu sei o quanto a ausência dela na vida do meu sobrinho, do meu afilhado é difícil. Então, é um sonho, um desejo, um medo, sei lá, mas que eu consiga vê-las crescerem e conseguir desfrutarem da vida: passear, viajar. Eu quero levá-las na Disney, para realizar um sonho que é meu, mas que vai ser delas também (risos) muito em breve. E acho que aqui, olhando muito o âmbito pessoal, eu sonho em estar velhinha com meu marido, curtindo a nossa aposentadoria também (risos) e vendo nossas filhas seguirem a fase que a gente está agora, então peço a Deus que me dê essa oportunidade. E aqui no trabalho eu ainda tenho um sonho de ocupar posições mais complexas do que eu estou hoje, crescer ainda na carreira, mas eu acho que o meu sonho é continuar esse legado que eu tenho construído, de ajudar, impactar, desenvolver as pessoas, contribuir de uma forma mais cuidadosa, mais humana, mais respeitosa com tudo que a gente faz aqui. Então, pode ser que eu esteja na mesma função, mas o meu sonho é continuar tendo esse espaço, para fazer de forma mais transparente, mais humanizada, muito mais respeitosa. Eu, quando estou em um ambiente onde tem ainda pessoas que gritam, desrespeitam, não dão bom dia, me incomoda muito. Então, eu quero, cada vez mais... o meu sonho é que esse caminho eu consiga alcançar, onde a gente não tenha esse tipo de comportamento, ou de ambiente difícil de trabalhar, sabe? Lidar com ambiente desrespeitoso, porque ainda tem. A empresa é linda, eu gosto muito, mas a gente ainda tem. E aí o meu sonho é que, enfim, a gente ainda consiga evoluir nisso e o sonho de ver a Anglo American em destaque, sendo a primeira e única mineradora referência no Brasil. Vamos ver. (risos)
P/1 – Perfeito. Karlla, muito obrigado pelo seu depoimento, pela disponibilidade do seu tempo, foi muito bom te ouvir e vamos em frente, né?
R – Vamos! Eu que agradeço aí o espaço, a oportunidade, a escuta. Peço desculpas que às vezes me emociono, confunde. Não é tão simples ser entrevistada e o que eu comentei: às vezes falar da gente não é tão simples e eu tive muita dificuldade em reconhecer a minha história, por um tempo. Então, ainda é difícil trazer tudo à tona com leveza, com uma transparência muito... não transparência, com uma forma muito natural, mas acho que fluiu bem. Agradecer você aí pelo cuidado e paciência também, em me ouvir. Vocês, tá bom?Recolher