Nossa depoente Mariza Baroni Bernardinetti é consagrada a “Mãe da Educação no Jardim Morada do Sol”, pois acompanhou o crescimento do bairro desde 1981, através dos desafios concebidos pela Delegacia de Ensino de Capivari e Governador do Estado. Recebendo os migrantes do Paraná e oferecend...Continuar leitura
Nossa depoente Mariza Baroni Bernardinetti é consagrada a “Mãe da Educação no Jardim Morada do Sol”, pois acompanhou o crescimento do bairro desde 1981, através dos desafios concebidos pela Delegacia de Ensino de Capivari e Governador do Estado. Recebendo os migrantes do Paraná e oferecendo-lhes acolhimento e educação de qualidade.
A primeira escola funcionou num Casarão, sede da Fazenda Engenho dágua. Nesta época o bairro não tinha asfalto, rede de esgoto, nem energia elétrica. Era mato para todo lado. Em volta do casarão havia as casas dos colonos e a igreja Santo Antônio.
A escola não tinha mobiliário adequado, mas isso não foi motivo de desânimo. Pois houve arrecadação de carteiras e cadeiras velhas, improviso de lousa e a contratação de três professoras: Maria Aparecida Silvestre, Maria Inês Dercoli e Laudelina. Segue abaixo três comentários da D. Mariza:
“Tínhamos 90 alunos e três salas de aulas. Nossos alunos merendavam embaixo das árvores que rodeavam o Casarão”.
“Na minha escola a gente ensinava o bê-á-bá. Não era como hoje toda essa tecnologia”.
“Os alunos da minha escola nos ajudavam a lavar e encerar a escola aos sábados. Nosso chão brilhava”.
No entanto o tempo foi passando e não parava de chegar migrantes de Moreira Sales e Goioerê. A população de 120 passou a triplicar, pois os parentes diziam:
- Venham para Indaiatuba, é uma cidade próspera. Aqui não falta serviço
Mariza comenta que os migrantes ao descerem do ônibus na Rodoviária, localizada entre a rua 24 de maio e avenida Presidente Vargas, eram recebidos por representantes da empresa Têxtil Judith e Yanmar do Brasil para fazerem cadastro e se apresentarem no dia seguinte ao emprego. Naquele tempo não era exigida qualificação. O importante era querer trabalhar e o serviço seria aprendido. Surgiam então os operários de Indaiatuba.
Com o aumento da população no Jardim Morada do Sol, foi necessário um prédio maior – surge então a EEPSG Antônio de Pádua Prado, isso aconteceu em 1985. A migração continuava, então houve a solicitação da 3ª escola, que entre os anos de 1988 e 1992 foi dirigida pela nossa depoente, a escola Annunziatta Leonilda Virginelli Prado. E a última escola fundada e administrada por dona Mariza foi a EEPSG Profª Suzana Benedicta Gigo Ayres, entre os anos 1993 e 2008. Durante toda sua administração ensinou aos seus alunos que a preservação patrimonial era essencial para o bom funcionamento da escola. Um fato relevante a destacar é a autonomia e respeito que esta diretora estadual exercia na comunidade desde 1981. Uma de suas falas era:
- Senhores pais, a escola que entrego hoje aos seus filhos, a quero de volta no dia 23 de dezembro (final do período letivo).
E então levava os mesmos a visitarem as dependências da escola, assim como a sala de aula de seus filhos.
A infância de Dona Mariza
A caçula da família Baroni era falante e muito ativa. Filha de Dona Maria Conceição Baroni e Donato Baroni era a quinta filha do casal. Suas irmãs eram Margarida, Lourdes, Tereza (falecida ainda criança) e Alzira.
Nascida em 16 de novembro de 1944, na cidade de Itu, mal esperava que seu destino fosse cheio de tantas vitorias e desafios, assim como perdas nas quais só Deus pode confortar seu coração.
Mariza retrata com muita emoção a casa grande com quintal cheio de árvores frutíferas, onde as irmãs se divertiam, subindo nas árvores do pomar para pegar jabuticaba, cajá, manga, brincando nas suas sombras, balançando na rede.
As tardes eram maravilhosas, pois as mães saiam aos portões por volta das 18h para olhar seus filhos brincarem na rua de pega-pega, pula-corda, roda, passa-anel e pula saco.
Brincavam na rua mesmo, pois naquela época não havia violência e nem carros que pudessem oferecer perigo. Enquanto observavam, as mães trocavam receitas e faziam crochê até as 19h. Momento em que cada família entrava em sua respectiva casa, onde era o momento de se banhar e de se preparar para o jantar.
A mãe naquela época não precisava trabalhar fora, dedicava seu tempo aos filhos e aos cuidados da casa. O pai de Mariza trabalhava com transporte de café para o Porto de Santos.
Mariza afirma que eram muito felizes, lembrando das travessuras que fazia com as irmãs e de quando a mãe corria atrás de todas com uma cinta na mão. Ela pulava a janela que dava para a calçada e se escondia atrás da porta da vizinha.
Um ritual muito importante: todos os domingos as irmãs iam à missa vestidas com vestidinho branco, sapatinho de verniz e lacinho no cabelo. Depois passavam para pedir a benção aos seus avós. A avó as esperava com bolachinhas e suco. E o avó dava três moedinhas para cada uma.
Essas moedinhas tinham um destino bem gostoso. As irmãs levantavam bem cedo e iam até a casa da Dona Mariquinha, a qual tinha uma cabra que ordenava seu leite todas as manhãs. As irmãs Baroni levavam suas xícaras com chocolate e pagavam pela saborear o leite da vaca de Dona Mariquinha. E não pensem que para por aí, como a escola daquela época não fornecia todos os tipos de merenda de graça (algumas tinham que ser pagas), Mariza guardava as moedinhas que sobravam para comprar um prato de sagu na escola.
As irmãs Baroni estudaram da pré-escola até a quarta série no Colégio Convenção em Itu, no centro da cidade. O ginásio, elas cursaram no Colégio de Freiras, Irmãs de São José, em Itu.
No período de preparação de seus conhecimentos houve várias histórias que marcaram época, mas duas merecem ser destacadas: o passeio a Guarujá e a 1ª comunhão.
Os farofeiros
Há 60 anos, o meio de transporte mais comum entre as famílias era a Kombi, por serem maiores. Certo dia o Sr. Donato fez uma lotação para a cidade do Guarujá, para apresentar o mar pela primeira vez às suas filhas. Nesta época as famílias levavam panelões de arroz, farofa e frango assado para comerem após a diversão na praia. E então a Kombi servia tanto como meio de transporte, quanto de refeitório. Todos achavam divertidíssimo. Mariza ao ver o mar pela primeira vez sentiu muito medo das ondas e de tanta água. Ela e suas irmãs agarraram nas pernas do pai e temiam que um grande monstro pudesse sair daquela imensidão de água.
O fogo no véu na primeira Comunhão
Outro fato marcante foi a primeira Comunhão, pois Mariza é católica. Ela e sua irmã Alzira estavam de vestido branco, sapatinho de verniz branco e véu branco na cabeça. E numa das mãos trazia uma vela acesa com a qual deveria entrar na igreja, da porta até ao altar, onde estava o padre.
Num instante a irmã Alzira se distraiu e encostou a vela no véu branco de Mariza. O espanto foi tão grande que até o padre desceu do altar para apagar o fogo no véu que cobria a cabeça de Mariza.
O presente de Natal
No Natal, ela e as irmãs, recebiam dos pais um vestido branco e um sapatinho de verniz e em comum tinham uma bicicleta, que usavam se revezando conforme cronograma estabelecido pelo pai. Com a condição de que, se houvesse briga ele penduraria no gancho até que aprendessem a ser obedientes.
Desde muito cedo, o pai as ensinou a repartir o que tinham, e isso foi algo que todas aprenderam.
A adolescência
O Colegial foi cursado no Instituto de Educação. A Faculdade no Colégio Nossa Senhora do Patrocínio.
Mariza retrata que devido suas boas notas ganhou uma “cadeira”, de seu diretor, e sua primeira classe foi numa escola rural na cidade de Sorocaba. Ela ia de ônibus e ao chegar à cidade um aluno a esperava com uma charrete para levá-la até a escolinha da fazenda.
Na escola, além de lecionar, tinha que preparar a merenda. Um dos pratos mais realizados era a sopa. Pois deixava os legumes cozinhando e ia dar aula e depois era só servir a merenda para as crianças.
A mudança para Indaiatuba
Mariza era muito festeira e aos domingos ia à missa das 10h, missa dos jovens com suas irmãs e depois se dirigiam para o Clube Ituano. Lá elas paqueraram e dançavam muito. Porém, um lugar muito frequentado pelas irmãs Baroni era a praça da cidade. Havia um coreto que tocava as músicas da época e os garotos e garotas passavam de um lado para outro se observando e, num dado momento, paravam para conversar. Num certo dia chegou um moço de Indaiatuba, gordo, alto, moreno e muito lindo, que se tornaria seu marido, João Antônio Bernardinetti.
Aos 22 anos Mariza se casa com seu amado João Antônio e vai morar em Indaiatuba, exatamente na Rua Vinte e Quatro de Maio, no centro. Desta união nasceram dois filhos: Marcelo e Maurício.
Marcelo e Maurício foram alunos de dona Mariza no Casarão no Jardim Morada do Sol, ela se recorda que iam todos para o bairro estudar, de fusquinha branco.
Dona Mariza era considerada além de diretora, uma mestre. Mestre nesta época era uma designação muito importante porque era aquela que dava carinho, aconselhava, acompanhava o desenvolvimento nos estudos e na vida, enfim ensinava valores.
A vida de dona Mariza era corrida, pela manhã lecionava numa escola municipal próxima ao Fórum de Indaiatuba, junto com as professoras Jane Shirley Escodro, Sueli Giovani de Sá, Francisca Bueno (falecida) e sua irmã Alzira Baroni Busch. Nos períodos seguintes, das 14h até 23h era diretora da escola municipal no Jardim Morada do Sol.
Foi diante de seu empreendedorismo que ela obteve tantas conquistas. Suas intervenções para o crescimento do bairro Jardim Morada do Sol foram imensas. Desde as precárias instalações iniciais, gradativamente o bairro foi se estruturando, comércios foram surgindo e pessoas otimistas foram levando alegria e esperança para o mesmo. E hoje o bairro é considerado uma cidade à parte, como se fosse um distrito do município de Indaiatuba. No bairro há grande número populacional, há várias escolas municipais, creches e as mesmas escolas estaduais que foram anteriormente dirigidas por dona Mariza. Há comércio, hospital, centro de saúde, Faculdade, entidades assistências e posto policial. Há até uma estátua de um Cristo de braços abertos, como se estivesse abençoando todas as conquistas alcançadas.
Seus filhos cresceram e seguiram seus estudos. O Maurício sempre gostou de esportes e Marcelo de cavalos. A família Bernardinetti prestigiava todas as romarias da cidade. No entanto a Romaria de 1986 seria a última de seu filho Marcelo. Em 20 de dezembro de 1986 dona Mariza recebeu um telefonema durante a madrugada, no qual um policial anunciava um acidente de trânsito com vítimas, sendo uma delas fatal. Seu filho Marcelo falecera, vindo de uma festa, um de seus amigos perdeu a direção do carro na altura do bairro Morro Torto, e Marcelo foi arremessado do carro caindo desacordado numa poça dágua, morrendo asfixiado com apenas 18 anos.
“Meu filho Deus me deu. Chegou uma hora que Deus disse: - Eu o quero de volta para mim. Eu tive que entregá-lo para Deus. Eu tive muita dor no coração, mas o entreguei para Deus.” (Mariza Baroni)
Mariza através dos anos sempre buscou superação e depositou em seu filho Maurício muita fé, coragem e perseverança. Por ele dedicou-se, fazendo-o chegar ao terceiro mandato como vereador na cidade de Indaiatuba. Atualmente seu filho Maurício Baroni Bernardinetti é casado com Ana Cristina Baroni S. Bitencourt Bernadinetti. É pai de dois filhos: Ana Clara C. Bernardinetti e Maurício Bitencourt Baroni Bernardinetti.
Ela aposentou-se em 19 de janeiro de 2008 como diretora na rede Estadual de ensino. E na festa de aposentadoria estava o prefeito Reinaldo Nogueira Lopes Cruz que conhecendo sua trajetória de vida e seu empreendedorismo a convidou para se apresentar no dia 20 de janeiro de 2008 na Prefeitura Municipal de Indaiatuba para atuar como diretora da Nutriplus, empresa encarregada de oferecer alimentação balanceada a todas as crianças de creches e escolas municipais e estaduais de Indaiatuba.
Mariza é uma senhora muito ativa, entre outras coisas, adora dançar (inclusive marcando presença no Carnaval de Marchinhas), participa de vários eventos culturais e educacionais, é membro da Colônia Italiana no município, pratica hidroginástica e musculação, incentiva o desenvolvimento profissional do filho, vive cercada pelos amigos, viaja com os netos, promove festas familiares e atua como voluntária de entidades assistenciais como APAE e Pastoral da Criança na Igreja São João Batista do bairro Jardim Morada do Sol.
Em 1 de julho de 2005, a senhora Mariza Baroni Bernardinetti, recebeu o título de Cidadã Indaiatubana, pelos relevantes serviços prestados ao Município. Nesta época seu filho era presidente da Câmara de Vereadores do Município.
Neste dia toda a família foi prestigiá-la, e dentre todas as pessoas, a mais importante era dona Maria Conceição Donato e então Mariza entrega um ramalhete de flores à pessoa que lhe concedeu a vida, e acrescenta em seu depoimento que o maior legado que seus pais lhe deixaram foi a humildade e honestidade.
Tudo que a gente faz na vida, a gente não perde. As pessoas guardam na memória. Chega um dia que as pessoas reconhecem e nos homenageiam.
(Mariza Baroni)
EMEB “Prof. João Baptista de Macedo” - Indaiatuba/SP
Professora: Silvia Cristina Bandolin Busch (4º ano B)
P. Coordenadora: Cristiane de Almeida FincoRecolher