Projeto: Indígenas Pela Terra e Pela Vida
Entrevista de Claudemir Xetá
Entrevistado por Tiago Nhandeva
Entrevista concedida via Zoom (Curitiba / São Jerônimo da Serra), 07/11/2022
Entrevista n.º: ARMIND_HV029
Realizada por Museu da Pessoa
Revisada por Bruna Ghirardello
P/1 − Quero já começ...Continuar leitura
Projeto: Indígenas Pela Terra e Pela Vida
Entrevista de Claudemir Xetá
Entrevistado por Tiago Nhandeva
Entrevista concedida via Zoom (Curitiba / São Jerônimo da Serra), 07/11/2022
Entrevista n.º: ARMIND_HV029
Realizada por Museu da Pessoa
Revisada por Bruna Ghirardello
P/1 − Quero já começar agradecendo o parente Claudemir pela vinda, o parente Dival também por fazer esse meio de campo para a gente poder conversar hoje. Parente, sua entrevista, sua história de vida vai fazer parte das trinta entrevistas junto com mais parentes de todo Brasil, então, para nós, é uma honra poder contar sua história, a história do povo indígena Xetá. E fique muito tranquilo para poder falar o que tiver dentro do coração do senhor. Então, boa tarde! Eu gostaria que o senhor se apresentasse, falasse seu nome em português e o seu nome indígena e seu povo?
R − Boa tarde, parente! O meu nome é Claudemir da Silva, em português e na língua Xetá, Itakã Xetá, que significa Pedra D'Água. E eu sou da comunidade aqui de São Jerônimo da Serra, que tem a etnia Kaingang, Guarani e nós, os povos Xetá.
P/1 − Parente, também gostaria de perguntar. O nosso nascimento é um dia muito especial, e gostaria que o senhor pudesse falar um pouco a respeito do nascimento do senhor, se a mãe do senhor, o pai do senhor, contou como foi esse dia quando o senhor nasceu?
R − Então, o meu nascimento, eu nasci na Terra Indígena do Pinhalzinho, município de Tomazina, e a maioria dos nossos irmãos nasceram todos lá. O meu pai, tinha sete anos de idade quando eles o ‘tiraram do mato’. Na época, era o tempo do SPI e o João Serrano o levou para essa Aldeia do Pinhalzinho, criou ele. E ele conheceu minha mãe lá nessa terra indígena e aí, os dois foram fazer a vida, depois que vieram os filhos. O meu irmão mais velho é o Dival, Dival da Silva, tem a Zenilda, tem o Antônio Carlos, eu, a Benedita, a Sueli, Rosângela da Silva e Júlio César da Silva. O Júlio César nasceu aqui na Terra Indígena de Queimadas, município de Ortigueira, mas o resto dos irmãos, nós nascemos todos lá nessa terra. Então, geralmente, os comentários do meu pai e da minha mãe, era o que todo mundo sabe, que o nascimento de um filho para gente é muito importante, que venha com saúde, a gente fica muito feliz, então, os comentários deles eram só comentários bons, para o filho que tiveram, da vida que a gente teria. Até então, nessa época que a gente nasceu, ele “corria” lá na Terra Indígena do Pinhalzinho, que ele considerava sua terra natal, porque quando tiraram ele do povo dele, o trouxeram direto para ali. Até nós mesmo considerávamos lá como nossa terra natal, porque a gente nasceu lá. Para eles, era um motivo de alegria, cada filho que eles tinham. Então, o meu nascimento não foi diferente, foi uma alegria muito grande para eles. E hoje a gente sente orgulho de ser filho de um índio Xetá, Guarani, para gente, é um orgulho muito grande. E esse é o momento do nascimento dos filhos deles, que eles comentavam com a gente.
P/1 − Parente, o senhor falou do pai do senhor desde o início, eu gostaria que o senhor contasse um pouco sobre ele, o nome dele, um pouco da história dele? Da origem dessa parte da família do pai do senhor?
R − Então, que nem eu falei para você, na época da década de 1940, 1950, foram descobertos os Xetá na região de Umuarama. Dalí de Umuarama, Serra dos Dourados, Douradina, ali era o local do Povo Xetá. Então na época do governo ________, que a terra era muito boa, demais, os colonos diziam que era uma terra muito fértil e começaram a vender as terras para plantio de café, para nossa infelicidade. O povo começou a marcar os pedaços, foram comprando e desmatando. E, devido a isso, o povo Xetá foi entrando e correndo, correndo e chegou um ponto que não tinha para onde correr mais. E aí um inspetor veio para Curitiba na época, segundo relato do meu pai, e levou [a informação] para lá de que tinha encontrado umas turmas peladas no meio do mato, não falou que eram os indígenas, falou que tinha encontrado umas turmas que não usavam roupas no meio das terras e que ia dar problema para eles, para os caras que estavam desmatando. E veio a ordem, lá de cima, que podiam acabar com essas turmas, para eles poderem demarcar os pedaços que estavam vendendo para as pessoas, para os plantadores, para os colonos, porque, na época, veio gente de fora do Brasil para ocupar aquele pedaço, tem até uma colônia japonesa lá também, em cima das nossas terras. E aí, na época, inventou-se uma proteção para os povos Xetá, Antônio Lustosa foi uma das pessoas responsáveis pelo desmatamento. Na sede dele, na época, ele fez um tipo de uma casa fechada de tábua e coqueiro rachado no meio, coberto com folha do próprio coqueiro. E daí trouxe um pouco dos índios, só que meu pai quis ficar lá uns três quatro dias e voltar para o mato de novo. Aí que entrou o povo do SPI na época, para ver o que estava acontecendo, para ter o primeiro contato com esse ‘povo pelado’, como eles falavam. E era nosso povo dos Xetá. Eles começaram a tirar os índios, o nosso povo era de 2800 pessoas, mataram muitos, tanto é que sobrou só dez indígenas de todo esse povo, que eu estou falando pra você. Na época, o João Serrano trouxe o meu pai, o pai dele e um irmão do meu pai, três Xetá, para essa terra do Pinhalzinho que eu estou falando para você. Ali ele cuidava, como se fosse um filho dele, ficou dentro da casa dele. Esse meu avô morreu, ele não conseguiu falar o português, só nossa língua só. Deu uma pneumonia no meu avô, pai do meu pai, ele veio a falecer. Meu tio também, irmão dele, o irmão do meu pai, morreu nesta terra do Pinhalzinho. O João Serrano levou meu tio para o hospital, correu tudo certinho, mas devido ele não guardar a dieta, porque não era igual aos povos não indígenas, que se cuidam muito bem. Sabe que nós indígenas, temos um ritmo totalmente diferente. Aí inflamou por dentro, naquele lugar que foi feita a cirurgia nele, ele não aguentou, veio a falecer. E o meu pai era criança, na época, ele foi se formando, e foi onde ele, com dezessete anos, conheceu a minha mãe. Esse João Serrano e o Cacique pegaram e fizeram o casamento dos dois. Então, é por isso que hoje nós estamos aqui. Foi assim a vinda do meu pai para essa Terra Indígena do Pinhalzinho. Foi, mais ou menos, isso o que aconteceu, que ele contava para nós.
P/1 − Muito bem! E o senhor também falou da mãe do senhor, desse arranjo de casamento. Se o senhor pudesse contar também um pouco da história dela, quem foi ela? Essa parte da família dela?
R − Então, a minha avó era Guarani e o meu avô era mineiro, ele não era indígena. Daí, devido a cidadezinha ser pequena, foram se conhecendo, vai dali, vem daqui e resolveram a vida a dois. Só que eles saíram da terra indígena, não ficaram, ficaram na cidadezinha aqui perto, para frente de Conselheiro Mairinck, aqui no Paraná mesmo. Ele comprou um pedacinho de terra, um sitiozinho, e ali, ele começou a fazer a vida dele junto com a minha avó. Na época, ela era uma menina ainda, de uns treze, quatorze anos. Até que ela teve a minha mãe, os meus tios, todos, sempre naqueles arredores ali. E aí, a minha mãe se casou, o primeiro casamento dela foi com um Guarani, ela voltou para a Terra Indígena, no primeiro casamento dela. Mas como, infelizmente, tudo quanto é coisa chega ao fim, o primeiro casamento não deu certo. E foi onde ela ficou dentro da Aldeia e esse Guarani que era o esposo dela foi embora para Laranjinha, na Terra Indígena no município de Santa Amélia ali, não deu certo mais deles voltarem. Na época, eles não aceitavam que as mulheres ficassem sozinhas dentro da terra indígena. E o meu pai se interessou pela minha mãe, conversou com o João Serrano e foi onde o João Serrano conversou com o Cacique. Na época, eles não falavam ‘cacique’, eles chamavam de inspetor. Conversou com ele e eles falaram para minha mãe: “se ela não queria fazer a vida com Tikuein…”. O nome do meu pai na língua indígena era Tikuein. Daí ela resolveu: “vou dar uma chance para ele, vamos tentar”. Foi onde eles fizeram a vida e viveram 45 anos juntos, só se separaram, porque infelizmente Deus o retirou, se não eles estavam até hoje. Minha mãe veio a falecer também agora, esses tempos, faz dois anos que ela faleceu também. Então, o motivo da separação deles, foi esse. Foi isso que aconteceu com a nossa família.
P/1 − Eu também gostaria de perguntar, tanto o pai do senhor, teve uma história muito bonita, sofrida, mas também de vitórias, assim como a mãe do senhor, toda essa luta. Durante todo esse momento, quais conhecimentos eles passaram para o senhor? Quando o senhor era criança, para os irmãos do senhor, o que eles ensinaram da parte da cultura? O que vocês aprenderam com eles?
R − Então, na verdade, eu aprendi muita coisa com o meu pai, porque que nem hoje acontece muito, muitas pessoas perguntam para nós, “por que que os Xetá não se casaram com Xetá?” Daí a gente dá uma parada e fala, “pô, já te explico já, o motivo!” Como é que a gente vai se casar com a irmã da gente, vai se casar com a sobrinha? Deus o livre! Nem bicho faz isso, você sabe disso. Então, a gente se casou com Guarani, com Kaingang, não indígena. Vou explicar para você agora, a gente optou mais pelo lado Xetá, com todo respeito às outras etnias, porque a gente não está desmerecendo ninguém, mas a gente somente acompanha os passos dos pais da gente, você sabe disso. Se o pai da gente era boa coisa, boa coisa é um traço da gente também, alguma coisa, a gente se espelha nos nossos pais. Então, o que eu aprendi com meu pai foi nossa língua, do Povo Xetá, porque ele era falante, muitas histórias que ele contava para nós, que hoje contamos para os nossos netos, para os nossos sobrinhos… com a realidade que ele viveu, sabe? Porque ele viveu a vida dele durante todo esse tempo, até ele vir para essa Terra Indígena do Pinhalzinho. Então, a gente aprendeu muita coisa, história do sol, da lua, da chuva, como foi construído de novo o mundo, que foi terminado em água, que todas as nossas etnias têm a narração dessas histórias, você sabe muito bem disso. Então, tinha várias histórias que ele fazia questão de sentar conosco e falar para nós, “vocês guardem isso na cabeça, porque eu não vou estar para sempre com vocês!” Não foi diferente, veio acontecer mesmo. Mesmo que a gente fale hoje, nós temos aqui nossos professores, na Terra Indígena de São Jerônimo, Xetá, e eu sou o último falante, desse povo novo nosso, só eu sei falar na nossa língua, então, eu estou sempre pegando no pé deles também. E o meu pai distribuiu assim, como se diz, as possibilidades para cada um de nós. Você vê, pra mim, ele ensinou a falar na nossa língua, com sete anos de idade, me preparou para ser líder do nosso povo, tanto é que aqui nessa Terra Indígena São Jerônimo da Serra, eu fui vice Cacique por doze anos, trabalhei muito de liderança com os Guarani também, fiz parte da presidência da associação dos moradores. Então, não é de hoje que eu venho lutando, não só pelo o povo, como por todos. Na época, eu saía, viajava, participei de muitas ações defendendo a terra indígena de São Jerônimo da Serra, nessa época, nós estávamos no comando dos povos Kaingang, só que infelizmente chegou um ponto que a gente decidiu, nós temos que andar com a nossas próprias pernas e chega dos outros estarem puxando a gente pelas mãos, porque eu sempre falava nos depoimentos, a gente era considerado criança, quando o pai tem que pegar na mão para dar os primeiros passinhos, então a gente era considerado assim. Graças a Deus, hoje nós começamos a andar com as nossas próprias pernas, a gente está avançando cada vez mais. Então chega um momento que a gente… volto a dizer, no bom sentido, não desmerecendo os outros, porque vocês sabem muito bem, os Guarani, os Kaingang, as demais etnias, bem ou mal, eles têm o território deles, tem sua terra, pode manter dentro do padrão. Nós em São Jerônimo não. Às vezes, a gente tinha que ter autorização dos Guarani, do Cacique Kaingang, eles coordenavam o que nós podíamos fazer e o que não podíamos. Daí a gente decidiu que nós íamos formar um Cacique e um vice Cacique da etnia. Não foi bem lançado, mas o nosso presidente já tá vendo, em breve, vai ser legalizado lá no Ministério Público, porque para a gente ter um Cacique, tem que tá tudo certinho para não dar problema. Então, nós estamos nesse pé hoje. E voltando ao assunto, respondendo o que você perguntou, foram essas coisas que eu falei para você que eu aprendi com meu pai. E aí cada um dos meus irmãos, o Dival virou um Historiador muito bom, não é porque ele é meu irmão, que estou fazendo um altarzinho para ele não, mas da nossa Cultura, da nossa história, porque não adianta a gente querer contar uma história de outra etnia, que nós não sabemos. Então da nossa etnia, a gente conta a história, eu falo a língua, sou falante da língua. Então várias coisas, nós ainda falamos, fazemos a comida típica do nosso povo, da cultura Xetá. Hoje nós estamos vivendo tudo isso, que eles viveram no passado, estamos realizando hoje no futuro, estamos trazendo esse sentimento para os sobrinhos, para os netos. Hoje, graças a Deus, as coisas estão bem evoluídas, digamos assim, há tempos, a gente teve muitas decepções, reportaram que não existia mais povo Xetá, que tinham dizimado todos. Muitas vezes, eu tive que bater de frente e responder coisas que não devia, porque você sabe que nós indígenas somos muito educados, mas quando _________, a gente não mede as consequências. Então, é isso que está acontecendo conosco.
P/1 − Parente Claudemir, esses conhecimentos que nós indígenas acabamos recebendo desde criança, que é lutar pelo seu território, pelo seu povo, sempre ouvindo nossos mais velhos, então isso é uma aprendizado. E eu gostaria de perguntar como foi seu tempo de escola, como foi seus estudos, onde o senhor estudou? Até que ponto o senhor estudou? Se o senhor pudesse contar como foi?
R − Então, que nem eu falei para você, a gente nasceu na terra indígena Pinhalzinho, na época era um pouco meio difícil, a gente, às vezes, estudava um pouquinho, bem pouco, porque é meio complicado, eu nem sei explicar direito a complicação porque, nessa época, a gente não entendia direito, porque o negócio da gente, a gente brincando e estando com a barriga cheia, criança, sabe como que é, não tem tempo ruim! Aí a gente veio embora para Ortigueira, para Queimadas, Aldeia de Queimadas, que é no município de Ortigueira. Dali, a gente ficou um ano, ali a gente estudou, porque a coisa estava mais civilizada, estudamos normal, dentro da Aldeia mesmo. Aí, com um ano, a gente se mudou para cá, para a Terra Indígena São Jerônimo, quando eu cheguei aqui, quando nós chegamos para morar, eu estava passando do seis para os sete anos de idade. E a gente ficou aqui até hoje. Daqui o estudo foi normal, tudo tranquilinho, dentro da terra indígena mesmo. O meu estudo eu fiz até o oitavo grau, essa é a minha escolaridade, mas foi tudo aqui mesmo dentro da Terra Indígena de São Jerônimo da Serra, nunca estudei fora.
P/1 − Hoje mudou bastante, parente, porque nós temos a educação escolar indígena. E como foi essa mudança, como o senhor vê no tempo do senhor e como é hoje? Essa comparação, se o senhor puder falar também?
R − Então, no meu tempo que eu estudei, as coisas eram bem mais complicadas, as coisas eram difíceis, digamos assim, não vamos ficar inventando moda para falar, as coisas eram bem difíceis, difícil mesmo! Então, a gente teve um pouco de dificuldade. Hoje não, hoje a coisa ficou tão moderna, hoje só não estuda o jovem que não quer, a pessoa que não quer. Porque hoje o ônibus passa na porta da casa da gente, pode estar sol ou chuva, a pessoa não vai para a escola se não quiser. Outra coisa, aqui dentro da nossa terra indígena, a escola não dá, se der 1 km é muito longe de casa, porque o pessoal mora praticamente em volta da escola. Então, hoje eu vejo com a visão que hoje modernizou, estão bem mais fáceis as coisas, está ‘facinho’ para estudar, não está difícil. Que nem eu acabei de falar, só não estuda quem não quer mesmo e quem não tem vontade, porque hoje, vou puxar o ditado do meu pai, que hoje está com a faca e o queijo na mão, só não come, se não quiser. Então, a minha vida hoje é que a coisa modernizou e está bem mais fácil para estudar.
P/1 − Nós, os indígenas, a gente amadurece muito cedo, começa a assumir responsabilidades desde jovem. E como foi isso para o senhor, a mocidade do senhor, jovem, teve amigos? Como era esse momento? Como foi a vida do senhor, na mocidade?
R − Na época de adolescente, foi muito bom! Tenho bons amigos até hoje, não interferiu em nada, a gente, como diz, na hora de falar sério, era falar sério, que nem eu falei para você… Só que eu sempre me dediquei mais à política indígena, de participar de liderança, ficar discutindo uma coisinha aqui, outra ali. Até hoje, eu me interesso muito, hoje eu penso comigo assim, que a gente tem um povo que depende de nós. Você sabe como é, porque você é um líder também, você sabe do que eu estou falando. Lógico que a gente tira assim uns momentos de lazer, a gente tem que tirar, porque isso é o nosso direito, só que mesmo eu estando no lazer, eu estou focado no que eu vou mexer amanhã, depois, para ter o futuro para o nosso povo. Então, não afetou em nada, eu tive uma adolescência muito boa, hoje, eu estou com 46 anos de idade, graças a Deus, ainda estou bem tranquilo, tenho boas amizades. Hoje estou bem ‘conhecidinho’, porque eu desde os meus sete anos de idade, eu rodei esse mundão junto com meu pai, a gente foi para até lá para Recife a fora, fazer trabalho, eu com meu pai, na época. Então, eu tive uma adolescência muito boa, não tenho do que reclamar não, foi muito boa, e bem proveitosa. Eu viajei muito, conheci coisas estranhas, muito bom! Não tenho do que reclamar não. Diferente desses adolescentes de hoje, que a diversão deles hoje... Até o dia que eu estava em Curitiba eu falei, que eu tenho uma grande preocupação com os nossos jovens, devido, eu não tenho rodeio para falar, eu vou direto ao ponto, hoje nós nos preocupamos com bebida alcoólicas, drogas e várias coisas que você sabe que hoje afetam as terras indígenas, não só São Jerônimo, como todos os locais. Então, hoje a preocupação da gente, com os jovens, a maioria, nós temos esse problema aqui dentro de São Jerônimo, não adianta a gente querer falar que as terras da gente são um céu, que a gente estaria mentindo, a gente tem que ser realista. Então, nós temos esse problema, hoje eu vejo como uma grande preocupação, os nossos jovens de hoje. E no passado eu nunca vi falar de bebida, era uma novidade muito grande. E hoje para os nossos jovens é uma coisa comum, então, eu digo, devido a minha idade, é muito preocupante para a população indígena, não só os Xetá, mas quando afeta o indígena está afetando todos nós que nós somos um povo só, independente da etnia que seja, Guarani, Kaingang, Xokleng, várias etnias. Então são um povo só, então essa é minha preocupação de hoje.
P/1 − O senhor me falou que aproveitou bastante a adolescência, tem essa visão de hoje também. Tem muitas coisas que a gente acaba pensando a respeito dos jovens de hoje. E um deles é o trabalho. Eu gostaria que o senhor contasse como foi o primeiro trabalho do senhor? Além de ser liderança fez outras coisas, outro tipo de trabalho? Como é isso? Como o senhor começou a trabalhar? E hoje o senhor trabalha fazendo o quê?
R − Então, como eu falei para você, a gente na adolescência, que nem eu acabei de falar para você, era difícil, hoje as coisas estão bem mais fáceis. Toda a vida, nós trabalhamos na roça com meu pai, toda vida, a gente não teve outra profissão, tanto é que a gente não tem mesmo, hoje para a gente ter uma profissão é muito disputado, o meu caso, você sabe disso. Hoje penso que tem que ter um bom estudo. Então toda vida eu trabalhei na roça. Hoje eu não consigo trabalhar mais, que eu sofri um acidente, fiquei deficiente, mas toda vida, nosso trabalho foi roça junto com meu pai, fazia a plantação para nós, trabalhava para os outros também por dia, para sobreviver. Durante a minha vida foi desse jeito, eu nunca tive uma profissão.
P/1 − Falando em roça, eu sei como é esse trabalho na roça, geralmente acordar cedo, aí vai para a roça. Como era esse dia a dia quando o senhor ia para a roça com o pai do senhor? Os irmãos iam junto, a mãe, como era?
R − Para nós, era a maior alegria, porque todos os dias estávamos junto com o pai, com a mãe, os irmãos, então, como se diz, era sofrido, mas ao mesmo tempo, para nós, era um momento mesmo de passar com a família. Muita gente fala hoje que sofreu, é sofrido trabalhar na roça, não é fácil, mas só que hoje eu sinto saudade, sempre comento com a minha esposa e com os meus filhos, que é como diz aquela música do Amado Batista, se voltasse aquele tempo, que não volta mais, eu gostaria, porque era sofrido, era! Mas a coisa era bem animada! Você sabe que, hoje, o ano passa muito depressa e antigamente não, quando a gente ficava naquela ansiedade para essa data que nós estamos hoje, de dezembro. Na época do meu pai, nós começávamos uma semana antes o festejo, fazendo faxina em volta da casa, limpando o terreiro, lixo, sabe, caprichando para aquela grande data. E hoje não! Hoje, pelo menos para minha pessoa, é uma tristeza muito grande, hoje eu não tenho aquelas pessoas queridas que a gente tinha no passado. Que nós nos reuníamos todos na casa do meu pai, eram filhos, netos, sobrinhos, tudo! A família em peso, comia tudo na casa do meu pai. Uma semana antes, nós começávamos a fazer a limpeza, ali, já assando uma carninha, tomando um velhinho, uma cervejinha, até chegar o grande dia, 25. Então, hoje, o Natal para mim é um dia qualquer, eu não tenho felicidade mais, eu nem festejo, para falar a verdade para você! Porque aí vem aquela tristeza do passado, que a gente perdeu os entes queridos da gente, hoje eu não tenho mais pai, não tenho mãe, meus avós, não tenho nenhum mais. Hoje, para a gente é uma tristeza muito grande. Então, como diz, se voltasse aquele tempo que muitas pessoas reclamam, eu gostaria que voltasse. Mas infelizmente não volta! Foi assim para a gente, eu via aquilo, para mim, como uma grande alegria. A gente passava o dia inteirinho juntos, brincando, judiando um do outro. Nosso pai era muito bonzinho também, ele brincava conosco, sabe, a maior alegria do mundo. Hoje as pessoas pensam muita maldade um para o outro, os olhos grandes, se vê uma pessoa prosperando, já quer derrubar. Outros já falam: fulano lá deve estar roubando, tá traficando, que subiu demais na vida…. Então, é uma preocupação! Lamentavelmente, acontece isso no próprio povo da gente, você sabe disso. Então, a nossa vida de trabalho, da nossa família, foi assim, do jeito que eu estou falando para você. Eu sinto saudades, até hoje!
P/1 − A família da gente é muito importante, essas perdas sempre vão ficar uma marca, vai ficar uma cicatriz, que é difícil sarar, e ficam as boas lembranças. E com certeza não vai ser como é. Mas o senhor formou família, o senhor falou que tem esposa, tem filho, filha. Eu gostaria que o senhor contasse, quantas vezes o senhor se casou? Se é a única esposa? Quantos filhos o senhor tem? Contasse um pouco do casamento do senhor?
R − Então, do meu primeiro casamento eu tenho cinco filhos, tenho quatro meninas, só que já são todas casadas também. A primeira esposa minha era uma Kaingang, daí infelizmente, como eu falei para você, que tudo tem um começo e tem um fim, chegou o final do nosso casamento. Hoje eu convivo com uma índia Guarani, que é a minha esposa hoje, atual. Só que, com ela, eu não tenho nenhum filho, no primeiro casamento dela, ela teve os filhos dela e houve complicação durante a gravidez dela, não pode ter mais filhos. Então, a minha esposa de hoje é uma Guarani. Eu tenho neto também, que os meus filhos, só tenho uma filha solteira, o resto são todas casadas. Eu tenho seis netos. Tem um filho meu que mora aqui em Curitiba. Igual eu falei para você, que hoje a coisa está difícil também, em questão de emprego, tem que ter um bom estudo para você competir com os outros lá de fora. Então, trabalha em Curitiba, tem dois anos que ele mora lá. Infelizmente, aqui não tem emprego, ele teve que se ausentar. Mas o resto, eu tenho uma filha que mora em Rolândia, aqui em Londrina, trabalha no frigorífico de frango. E o resto dos outros filhos estão aqui dentro da terra indígena aqui, são casados, uma com Guarani e outra com Kaingang. Daí eles moram aqui mesmo, na aldeia, aqui comigo, na mesma terra.
P/1 − Parabéns pelos filhos, muita saúde para eles! Tem que continuar lutando mesmo! E falando em luta, a gente ainda está numa pandemia, parente, e nesses últimos dois anos, a gente tem lidado com ela, tentando vencer ela, para a gente continuar vivendo, pela nossa vida, lutando pela nossa vida. E eu gostaria de perguntar, como foi, tá sendo esse momento de pandemia? Como vocês fizeram para combater a pandemia? Se teve alguma perda na família ou na comunidade? Se o senhor pudesse contar, como foi essa luta?
R − Então, a primeira pandemia que deu foi bem complicado, tivemos que nos isolar, todos os indígenas, não podíamos sair, até a gente passou um pouco de dificuldade, devido a alimentação, não que não tivesse, a gente tinha o dinheiro para comprar e não tinha muito como sair para cidade e a cidadezinha nossa é pequena, não é grandona. Aí foi limitado o tanto de coisas que você poderia comprar, você não podia comprar, digamos assim, dois pacotes de arroz, dois litros de óleo. Cada objeto que você fosse comprar era uma unidade só, que você poderia comprar. Então vai passando… Nós perdemos sim, um tio nosso com a Covid. Aqui dentro da terra indígena foi só esse tio que foi perdido, mas nas aldeias vizinhas nossas aqui, morreu bastante gente. E aí, graças a Deus, foi passando, passando, logo chegou a vacina, o pessoal começou a tomar certinho e deu uma controlada boa. Lógico, que a gente, até hoje, quando sai, ainda se cuida, quando a gente vai para a capital a gente usa máscara, passando álcool em gel na mão, como é recomendado. E, infelizmente, foi isso que aconteceu conosco aqui. Parece que está voltando de novo, na aldeia vizinha nossa aqui, tem oito casos dessa coisa de novo. Então, a gente está se cuidando, não está saindo muito e, quando sai, se cuida também. Cada um tem que fazer a sua parte, porque geralmente, vamos ter que nos acostumar com essa doença, porque não vai parar por aí não. Então, não podemos cruzar os braços e ficar quietos no canto, você sabe que a luta continua, então nós temos que nos acostumar e nos proteger, digamos assim, tem que acostumar e se proteger também, porque não é porque a gente sai em vários locais e que aí gente vai relaxar também, porque pode complicar a vida da gente. Então, é isso, no meu ponto de vista, eu vejo assim a pandemia, no início foi um susto muito grande, mas agora virou uma coisa comum, nós temos que tocar a vida para frente, se cuidando, claro! E tocar nossa vida, nossa luta e ver o que vamos fazer. Vejo por aí!
P/1 − Essa luta pela vida a gente também luta primeiramente pelo nosso território, também pela vida junto. E eu gostaria de perguntar para o parente, hoje, depois de toda essa história que o senhor me contou, dos pais, dos irmãos e a história do senhor que nós estamos gravando aqui hoje. Hoje quais são as coisas mais importantes pro senhor? Eu poderia falar que para os Xetá conseguir o território, né? Então, se o senhor pudesse falar também de como está essa luta pelo território de vocês? E o que o senhor considera importante hoje para o senhor?
R − Então, você tocou no ponto certo, porque hoje a maior importância para nós, não só a importância, como uma necessidade também, que nem eu falei para você no início, você notou que eu falei, que os Guarani, os Kaingang e as demais a etnias, tudo tem o seu território. Então, hoje eu vejo como uma prioridade Xetá é que venha acontecer a demarcação de terra e que nós consigamos conquistar o nosso território, uma prioridade, um sonho que vem lá de longas datas atrás, então, a gente está focado nisso, tanto é que já está com quinze anos que meu pai faleceu, dezoito anos, então até agora. A gente tá tocando para a frente, de um lugar para o outro, a gente está lutando em cima dessa demarcação de terra, que eu vejo como uma prioridade, não só prioridade, ao mesmo tempo uma necessidade também. Porque a minha vontade, meu sonho, eu peço para Deus, porque eu sei que nós somos passageiros nessa terra, ninguém nasceu para semente, mas eu peço muito para Deus, todo dia. Eu não gostaria de partir dessa terra ainda, nesse momento, sem o meu povo em cima do território que era dos nossos pais, dos nossos tios. Então, isso para a gente é uma expectativa muito grande, a gente está focado nisso hoje. Lógico, que a gente luta por outras coisas, por uma saúde melhor, uma educação, tudo é prioridade para todos nós indígenas, digamos assim, porque quando se trata dessa parte, não é só do nosso povo, é em geral! Então, hoje a gente está, mais ou menos, nesse pé da coisa, nós temos que ter a nossa terra, tanto é que a gente, alguns tempos atrás, pensou em entrar meio na marra lá, sabe, porque você sabe que a justiça é muito lenta demais, até hoje ainda tem uns parentes, os Guarani, várias etnias: “Assim que vocês decidirem entrar lá, nós estamos com vocês!” Só que, por enquanto, a gente está tentando levar a coisa certa! Lógico, que a gente entrar no que é da gente também, não é errado! Quando digo “uma coisa certa”, é ganha na justiça. Mas eu acredito que agora a coisa vai melhorar, porque mudaram os comandantes, você sabe disso porque, no passado, falar de terra deu zueira, era um perigo danado. Hoje não, hoje a gente vê um caminho aberto, digamos assim, as porteiras, janela e porta todas abertas. Então a gente está confiando muito! Espero que agora corra tudo para o bem, dê certo para todos nós, não só para os Xetá, como para os demais, claro! Porque tem parente também que está na retomada, que nem aqui os vizinhos nossos aqui, o pessoal do Posto Velho mesmo, também estão com o mesmo problema que o nosso, esperando a demarcação. Só que eles estão com mais vantagem, que eles estão em cima da terra. Então, eu vejo por aí essa questão.
P/1 − Além desse sonho de ter o território dos Xetá demarcado, que é um sonho coletivo e, também, pessoal. O senhor tem algum outro sonho mais particular, familiar que o senhor que vê realizado? E, também, o legado que o senhor quer deixar para a família, para o povo Xetá, para o povo indígena? Se o senhor pudesse falar um pouco mais sobre isso?
R − Então, o meu maior sonho, particularmente, esse é particularmente, o que eu penso comigo, que eu tenho vontade de realizar, eu peço todo dia a Deus, que eu não quero partir antes de fazer isso. O meu maior sonho é estar nessa terra nossa lá, porque lá a gente… Eu quero assim, que Deus abençoe, o meu sonho é curtir a minha velhice lá, porque nós já estamos preparando os jovens para lutar pela gente, porque sabe que a gente vai ficando de idade, com o tempo, não consegue fazer mais nada. Tanto é que hoje mesmo eu tenho dificuldade, eu viajei porque preciso, depois do acidente, eu tenho muita dificuldade, mas nem por isso eu cruzo os braços e fico chorando no canto. O lugar que eles me chamam, eu estou indo, o meu pessoal e os outros parentes. Então, esse é o maior sonho que eu tenho na vida. E ver o meu povo desfrutando da luta que vem de muitos anos atrás, cada um estando ali, fazendo as coisas que gostam, a gente dando mais apoio para nossa cultura, porque uma vez dentro da terra da gente, sabe como que é, não tem nem como se expressar. Então, esse é o meu sonho que eu tenho hoje, o meu maior sonho.
P/1 − Muito bem, parente! Acho que a gente vai conseguir ver isso ainda, nós vamos, de alguma forma, lutar para que isso cada vez mais aconteça. Parente, eu fiz várias perguntas, seguindo aqui um roteiro de perguntas, mas também quero deixar aqui nesse espaço… O senhor gostaria de acrescentar mais alguma história? Como esse vídeo vai ficar lá para muita gente assistir no Brasil, fora do Brasil, vai estar num acervo de um museu, algo para as pessoas assistirem depois. Então, se o senhor quiser acrescentar mais alguma história, mais alguma coisa que eu não perguntei, o senhor pode falar.
R − Então, eu acho que hoje também a gente luta muito, e eu sinto muita tristeza que a gente vê os nossos povos Xetá todos espalhados, sabe, digamos assim, hoje a maioria aqui na Terra Indígena de São Jerônimo da Serra, mas nós temos parentes ali em Curitiba, que nem eu falei para você, o meu filho está pra lá, para mim uma tristeza muito grande, ver o filho da gente ausente, mas como se diz, se eu não tenho como ajudar, eu não posso segurar também. E ele tem a família dele também, ele tem que zelar. Então, a única coisa que a gente faz é pedir a Deus, para seguir os passos dele, o lugar que ele estiver trabalhando, que Deus o proteja. Tem as minhas primas que moram em Curitiba, acho que você já foi visitar ali, a Aldeinha ali do Kakané Porã, você já foi ali ou não? Então, eles moram ali naquela aldeinha. E daí tem o outro tio meu que tá lá na aldeia das Marrecas. E tem outro filho meu que mora lá perto de Chapecó também. Então, é uma tristeza grande ver o povo da gente todo espalhado, a gente sente saudade. A gente se encontra uma vez no ano, às vezes, ficamos até dois anos sem nos ver. Então, isso é uma coisa que deixa a gente triste, além de preocupação, triste, porque você vê aqui dentro da terra indígena, as outras etnias todas unidas, os parentes, até mesmo, assim, que não são de sangue, na maior alegria, se divertindo. Então a gente vê isso, não é uma inveja, é uma tristeza para gente, porque a gente sabe que os outros povos estão todos reunidos e a gente todo espalhado, eu vejo como uma tristeza muito grande. Por isso que eu falei para você, que o meu maior sonho é ver esse povo todo ali no território, se divertindo, todos juntos. Tudo que a gente viveu aqui, nunca fomos, assim, incriminado por ninguém dos outros parentes, mas, vamos supor, você tem uma casa, por mais que você seja bem tratado, você quer estar dentro da sua casa, você quer estar dentro da sua casa, a liberdade ali. Assim, não que as pessoas estão maltratando, você entende o que estou dizendo. Então, eu vejo a coisa nesse pé, eu gostaria que nós estivéssemos todos juntinhos, fazendo o que deve fazer, o bem para os outros, para a gente mesmo… é isso que eu tenho para acrescentar mais a sua pergunta.
P/1 − Parente, bom, essa história que o senhor me contou, toda essa trajetória que o senhor me contou, vai ser muito importante para todo mundo. E gostaria de perguntar, como foi contar a história do senhor? Como foi contar sua história para a gente?
R − Eu vejo assim que é muito interessante a gente contar a história, que nem eu falo, hoje é uma história, mas é o que a gente viveu. Ao mesmo tempo que é gratificante, a gente estar passando a vida da gente para os outros, já bate uma tristeza, eu falei para você, a gente viveu feliz com o povo da gente, do pai e da mãe, tô falando da família, assim, nossa, do Tikuein. Então, ao mesmo tempo que é gratificante, bate uma tristeza também, porque hoje eles não estão mais com a gente. A gente fica feliz de poder compartilhar um pouquinho com os outros, que nem eu estou contando para você, a gente fica muito feliz por estar contando um pouco do passado da gente para vocês. E vocês conhecendo como é que foi a caminhada da família do Tikuein, que é do Xetá. Então, eu fico muito feliz também de passar para vocês.
P/1 − Parente, eu também quero agradecer, dizer…. eu tinha até dito para o irmão do senhor, que eu vi falar muito do Tikuein, minha avó contava muito. Minha avó viveu ali onde é o Posto Velho, que é lá na aldeia do Neco, do pessoal lá do Posto Antigo, depois eles subiram para o Laranjinha, então eu sempre ouvia falar do Tikuein, aí o irmão do senhor me falou: olha, eu sou filho do Tikuein. Poxa, eu já ouvi falar muito dele. Mas eu gostaria que o senhor me falasse o nome da mãe? Eu fiquei curioso do nome da mãe do senhor, que o senhor falou dela, mas não falou do nome.
R − Conceição.
P/1 − Ela era da família de quem? Era do Laranjinha?
R − Não, ali do Pinhalzinho mesmo. Era dali mesmo! Só que eu não me aprofundei muito na história dela, que nem eu falei para você, eu aprofundei mais na história do meu pai, a gente se interessou, até hoje eu sou meio assim, eu sou meio curioso, quando eu vejo uma coisa que eu não sei… às vezes, a gente leva até patada, porque tem pessoas que são meio rudes com a gente. Eu era muito curioso, eu fazia muitas perguntas para o meu pai, uma hora ele respondia, uma hora ele ficava meio bravo, e assim foi. Então, foi mais ou menos isso que aconteceu.
P/1 − Parente, eu quero agradecer a disponibilidade do senhor ter vindo aqui conversar com a gente, de ter aceitado. E agradecer também ao irmão do senhor e a toda comunidade, o André que deu o apoio aí. E com certeza a história do senhor vai enriquecer, junto com os outros parentes que também deram esse depoimento. Então, agradeço, desejo um bom final de ano que, com certeza, a família que o senhor tem aí, mas que lembre das pessoas que não estão mais… A gente precisa tocar, como o senhor falou, a gente continua. Então desejo ao senhor boas festas, um bom final de ano e agradecer novamente e deixar um abraço para todos vocês.
R − Muito obrigado! Eu que agradeço de você estar fazendo esse trabalho com a gente, a gente fica muito feliz, que destaca mais a história do povo Xetá. Eu que tenho a agradecer vocês por confiar na história da gente. E que vocês também tenham um final de ano muito feliz, que Deus abençoe cada um de vocês e proteja a vida de cada um. Nós seguimos nossa luta em frente, se Deus quiser!
[Fim da Entrevista]Recolher