Esta é a história de vida de minha tia Jacilda Oliveira D\'anunciaçõo, ou D.Cildinha, nascida em 12 de janeiro de 1942, em Salvador, Ba, atualmente com 81 anos, linda e lúcida. Filha de Ranulfo Borges de Oliveira e Regina Borges de Oliveira. Segunda filha, do casal de nove filhos, aos 17 anos...Continuar leitura
Esta é a história de vida de minha tia Jacilda Oliveira D\'anunciaçõo, ou D.Cildinha, nascida em 12 de janeiro de 1942, em Salvador, Ba,
atualmente com 81 anos, linda e lúcida.
Filha de Ranulfo Borges de Oliveira e Regina Borges de Oliveira. Segunda filha, do casal de nove filhos, aos 17 anos se casou-se com um rapaz do próprio bairro. Engravidou aos 18 anos, apanhava,
passava fome e foi muito maltrada por ele. Numa sociedade extremamente machista e conservadora, não permitia-se a separação, principalmente por iniciativa da mulher.
\"Se o casamento não ia bem, a culpa com certeza seria dela\", diz Tia Cilda.
Ela fugiu algumas vezes para casa dos pais, mas ele ia busca-la e era aconselhada
por todos a retornar pra casa. Até que quando a filha completou 3 anos, ela voltou em definitivo para casa dos pais. Um dia ele pediu para levar a filha para a mãe dele ver e não retornou com a menina. E ainda a ameaçou de morte, caso ela se aproximasse da filha.
Neste mesmo período sua vem falecer e ela fica com a responsabilidade de criar os irmãos. Inclusive, amamenta o irmão caçula ainda bebê. Com muita dificuldade, porque a familia de origem humilde e sem instrução, ela conseguiu uma audiência para a posse de guarda da filha, mas foi muito humilhada e inferiorizada durante a audiência. O ex-marido alegou que ela não tinha condições de criar a filha.
Tia Cilda diz que conviveu por anos com a dor da injustiça. Enquanto a filha crescia ouvindo a versão do pai, de que a mãe a teria abandonado. Foram inúmeras tentativas de reaproximação da filha, que sempre resistia pois crescera magoada acreditando que a mãe a havia abandonado. Com 23 anos, Tia Cilda, encontra seu
novo companheiro, Raphael, um homem amável e cuidadoso. Ela deixa a casa do pai com o irmão mais novo que decide criar, já que o pai entrega-se ao alcoolismo. Aos 25 anos tem sua iniciação no candomblé, de onde ela assegura vir toda a força e maturidade para aguentar os momentos difíceis.
Quando a filha fez 18 anos, engravidou e o pai a colocou para fora de casa. Sem ter para onde ir, ela faz contato com a mãe que lhe dá abrigo.
E assume a guarda do neto que na adolescência desenvolve a dependência química. Foram anos de luta.
17 anos depois,
ela cria também a bisneta. Sua segunda maior dor, foi o falecimento do neto. A superaçao veio com o nascimento da tataraneta que ela cria também. Com toda luta,
dificuldades e tristeza que enfrentou durante a vida, Tia Cilda se considera uma pessoa vitoriosa.
Pois foi abrigo para filha quando ela mais precisou, criou o neto, a bisneta e hoje ajuda a criar a tataraneta.
\"Para todo sofrimento tem que haver perdão\", diz ela. E foi o que fez no leito de morte de seu primeiro marido. Ela o perdoou e isso a fez superar toda dor. Ela sorriu e disse que se sentiu feliz e leve em fazer este relato. Quando chegar minha hora, estarei em paz, pois aceitei minha missão.
Salvador, 22 de novembro de 2022.Recolher