Meu nome é Maria José Matos Cunha, nasci em Medina, Minas Gerais, no dia 13 de abril de 1932, e assim, com a Graça de Deus e com a ajuda de tantas pessoas, tenho 90 anos. Minha mãe foi Isaura Matos Santos, teve nove filhos, vindo a falecer no parto do meu irmão Isaudino, que era chamado de Nem ...Continuar leitura
Meu nome é Maria José Matos Cunha, nasci em Medina, Minas Gerais, no dia 13 de abril de 1932, e assim, com a Graça de Deus e com a ajuda de tantas pessoas, tenho 90 anos. Minha mãe foi Isaura Matos Santos, teve nove filhos, vindo a falecer no parto do meu irmão Isaudino, que era chamado de Nem pela família e por pessoas amigas. Ela faleceu jovem, e eu, a mais velha, não tinha 15 anos, pelo que, de certa forma, logo me tornei mãe dos irmãos e irmãs, com a ajuda das tias e avós e vizinhas na mesma rua em Medina, no Vale do Rio Jequitinhonha. Meu pai foi Ascendino Gonçalves dos Santos, Dino - traumatizado, nunca mais teve uma companheira. Era alfaiate, e tocava clarineta na Banda de Música. Minha tia Manuelita, irmã de pai, era alguém assim como a moçada de hoje chamaria: Uma FIGURA, com seus chinelos e aqueles cigarrinhos de palha preparados por ela.
Casei-me pouco antes dos 18 anos com Elviro Ferreira Cunha, que trabalhou e se aposentou como chefe de agência no IBGE, por quase quarenta anos, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ele faleceu no dia 26 de agosto de 2012, quatro meses antes dos 90 anos - vítima de Alzheimer. Foram 63 anos de casados sempre exemplares, uma pessoa simples, de inteligência fora do normal, gostava de ler, assim como o nosso filho Darlan, que escreveu e publicou vários livros em papel. Ele nunca levantou a voz para mim, e isto é fundamental na criação dos filhos, porque assim não se veem abalados, ou arredios e tristes, sem conversas abertas ou de mão dupla, porque isso tem consequências pessoais que com certeza determinarão em parte seu futuro.
Creio que posso falar sobre este assunto, tenho uma bagagem de 10 filhos e filhas, de 14 netas e netos, de 15 bisnetas e bisnetos e 2 trinetas. Perdi três filhos e duas filhas - sendo que dois deles afogados, outro por complicação da diabetes descoberta aos 29 anos - Heber, o nosso segundo filho, que faleceu aos 33 anos; e Telma, a filha mais velha, que se sentiu mal nos EUA, onde residia, falecendo aos 51 anos, mãe de três filhas, ela nunca antes com nenhum problema de saúde. Antes de todos estes e todas estas que citei, perdi Maria Talma, com poucos dias de nascida, mas tive forças, com Elviro, e continuamos a Vida.
Após alguns anos em Joaíma, fomos morar na bela, asseada e arejada cidade histórica de nome Santa Bárbara, a 110 km de Belo Horizonte, cidade de um dos primeiros presidentes do Brasil - Afonso Pena -, cujo mausoléu está no quintal de sua casa que se tornou naturalmente um centro cultural. Morávamos na maior casa da cidade, uma casa mais que centenária, um quintal enorme, com pés de jabuticaba - fruta que é um sinônimo de Minas Gerais, assim como, por exemplo, o queijo -, mamoeiro e mangueira e, no fim do quintal, a linha do trem de ferro, levando minérios dia e noite para o Espírito Santo, embarcados para o mundo. A uns 25 km está o Santuário ou Colégio Caraça, escondido na serra de mesmo nome, lá em Catas Altas. Nós a víamos sempre, era só recostar-se numa das grandes janelas da cozinha, e lá estava a serra azulada, comprida.
Anos depois, a transferência para a jovem capital Belo Horizonte [em 2023, 126 anos], onde parte da família reside. Grande parte da família está nos EUA, há quase 30 anos. Dão-se muito bem com todos, e por todos são muito queridos, legalizados, muitos nasceram e formaram-se lá mesmo.
Nunca estive internada assim de semanas, durante meses e até anos, como algumas pessoas amigas que a gente apoia sem meias medidas. Eu não tenho diabetes, não uso bengala nem andador. Já fiz tantos trabalhos em crochê e tricô que não dá para contar, apesar de que durante anos meu filho mais velho teima em documentar e fotografar os trabalhos que eu quase sempre dou para a família e para as pessoas amigas. Às vezes, vendo algo. Meu marido sempre dizia: Maria José, pelo menos assine suas telas, e escreva suas iniciais nos tecidos que você pinta e borda. Fiz o que a Família sugeria. Pinto telas a óleo, pinto e bordo panos de prato, telhas, teço sapatinhos para bebês, gosto de cozinhar, sempre canto, e os filhos acompanham, tocando e cantando, assim vamos nós na grande estrada de todos e todas.
Muitas lembranças dos 29 anos nos quais moramos na mesma casa de dois andares, no bairro Floresta, em Bêagá, um bairro central e ao mesmo tempo calmo. Ia-se ou vai-se a pé até o coração da capital mineira, a Praça Sete, talvez o único bairro a não ter linha de ônibus específica: Bairro Floresta - Bairro Tal, de tão central e ao mesmo tempo ainda calmo àquela época.
Lembro-me com carinho das amigas de infância e de juventude, que já não vejo ou não via havia muito tempo: Oldenísia Botelho, Generinda, e aquela muito jovem que seria a madrinha do meu primeiro filho, sim, a comadre Fany Reis, Adalgisa Peixoto, Dona Dativa, muitas outras. Aqui, em Belo Horizonte, o atencioso casal Edna e Moisés, todos assíduos comigo na Igreja Quadrangular, além das mais jovens, constantes em sua atenção comigo: Neusa Fróis, Dênia Senna e sua família também de Medina, a Aurinha, o casal Davi e Aglaé, o casal Jane e Fábio, o casal Graça e Zé Pedro, a jovem vizinha Gabrielle, e a minha grande amiga e ex-vizinha no mesmo prédio, Marli Fagundes, a jovem Luana que é amiga de longa data de minhas netas Cris e Flaví; a enfermeira Mara Araújo, Neuza - também do bairro Buritis, Norma do bairro Floresta, seo Pedro Bastos, que pintou o nosso apartamento, Rutinha, Rosilda é a síndica do prédio no qual moramos 23 anos, Stela, no bairro Cidade Nova, Vânia, amiga de minha filha Ione e da Família, Vera, jovem e atenciosa esposa do síndico do prédio, enfim, pessoas com as quais contar, mais gente boa.
Minhas netas e netos, e filhos e filhas gostam de me ouvir dizer que Eu queria que o dia tivesse 25 horas. Minha cor preferida é a cor verde, e meus pratos preferidos são carne de panela, e quiabo com carne moída e angu. Doce de leite.
Sou uma pessoa modesta, de pouco estudo, mas quase toda a minha família, a não ser os idosos, são bem estudados, sejam eles e elas filhos e filhas, sobrinhas e sobrinhos, netas e netos, todos e todas são dados aos estudos: engenharia, enfermagem, tornearia mecânica, medicina, informática, música, direito, relações internacionais, letras, e entendem idiomas, etc.
A neta Nancy me presenteou e me levou numa viagem deveras inesquecível, há uns oito anos, sem que eu soubesse, quando eu estava nos EUA, arranjaram uma viagem à Jordânia, onde me banhei no Rio Jordão; fomos para Israel, e também até Dubai, de onde Nancy me levou para uma excursão no deserto, com guias autorizados, furgões moderníssimos, ela me levou para passear, quem sabe, até andar de camelo, Jesus Cristo, nunca tive tanto medo, e ao mesmo tempo, a Vovó nunca riu tanto; inventaram um passeio nas dunas naqueles carrinhos malucos.
Há alguns anos, levaram-me até a fronteira com o Canadá, fui até às Cataratas do Niágara. E não me deixam fazer nada. VÓ, fique tranquila, melhor, fique ligada, porque nós vamos passear. Sim, há muitas coisas bonitas no mundo, mas é preciso acabar com tanta tristeza, e as pessoas desta família cuidam disso, há anos. Se não, não se pode dormir com alguma paz.
Minhas irmãs e irmãos, alguns já falecidos, as irmãs Aurenice, Adair, Lígia e Edinete; e os irmãos Renato, Antônio, Gilvan e Isaudino.
Muito obrigada pela visita a essa página com um pouco de mim.
Maria José Matos Cunha
*****Recolher