Eu estava em um helicóptero com mais duas pessoas, e uma delas me empurrou lá de cima. Lá embaixo era uma praia e eu caí no meio do mar. No mar tinha muitos turistas que aproveitavam as ondas. Até esse momento, o único pertence que eu tinha comigo era meu celular. Assim que caí no mar, pensei...Continuar leitura
Eu estava em um helicóptero com mais duas pessoas, e uma delas me empurrou lá de cima. Lá embaixo era uma praia e eu caí no meio do mar. No mar tinha muitos turistas que aproveitavam as ondas. Até esse momento, o único pertence que eu tinha comigo era meu celular. Assim que caí no mar, pensei que a onda ia me levar, enquanto eu observava as outras pessoas pulando as ondas tranquilamente. Logo que eu pensei isso, um tsunami surgiu do nada e levou todo mundo que estava na água para dentro da praia e muito além, atingindo montanhas que estavam distantes dali. Lembro de tudo que eu vi e senti enquanto fui arrastada: a visão borrada, a falta de controle sob meu corpo, o gosto salgado da água que entrava com tudo na minha garganta, a falta de ar, corpos de pessoas esbarrando em mim pela força da onda e que estavam sendo tão levadas por ela quanto eu. Tudo girou várias vezes dentro do meu campo de visão. Quando finalmente tudo parou de girar, bati de frente nas pedras da encosta da montanha. Também senti com força esse impacto no meu corpo inteiro, acabando com falta de ar quando caí de costas no chão de pedras de uma encosta da montanha. Levei um bom tempo para levantar, porque ainda estava com dor depois de tudo que tinha acontecido. Assim que me recuperei um pouco, consegui levantar e andei à minha esquerda. Eu já não estava carregando mais nada comigo. Após alguns passos, encontrei uma casinha que funcionava como um hotel. Essa casinha tinha poucos cômodos e era para pessoas que estavam se hospedando sozinhas ou um casal. Tinha uma fachada esculpida em pedra da própria montanha e ia formando uma caverna rústica conforme você ia descendo. Depois da porta da frente, que era da sala, vinha um corredor estreito, que descia e dava no quarto. Tinha um ou dois banheiros. A função desse hotel era dar um ponto de vista privilegiado a turistas e preservar a natureza ao redor, ao mesmo tempo. Dentro do hotel já havia um casal hospedado, minha mãe e meu padrasto, que me deixaram entrar por me conhecerem. A porta da frente também estava aberta quando cheguei. Depois que entrei no hotel para ver como era, saí, e virei à esquerda do hotel, que ficava exatamente em cima de uma esquina na montanha. Eu vi uma rampa que descia e parecia estar a alguns passos de mim, mas que eu não conseguia acessar por ali, pois a casinha parecia estar bem em cima do limite da rampa, o que me impossibilitava de chegar até lá. O único jeito de chegar até a rampa era entrando na casa de novo, acessando o pequeno jardim dos fundos, seguindo o caminho do jardim pela direita até virar à esquerda de novo, o que dava a volta na casa pelos fundos e possibilitava chegar na rampa. Não fiz esse caminho, só pensei enquanto olhava a rampa.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
Sempre associei ondas e mar a coisas que não estão no meu controle. Eu ter caído de um helicóptero no meio do mar mostra a mudança repentina que aconteceu na minha vida e que, novamente, estava fora do meu controle, sendo causado por influências externas fora da minha visão, representadas pelo empurrão. Também penso que o helicóptero mostra que eu estava em um ponto alto da minha vida e caí de repente. Eu tenho medo do oceano e frequentemente o mar aparece como um elemento negativo nos meus sonhos, então eu afogar neste não é surpresa. Ver os turistas pulando as ondas e brincando na água me remete à ideia que tenho de que os outros estão lidando com a situação da pandemia como se fosse nada relevante. Estar com o celular na mão me mostra que eu tinha pelo menos um recurso, caso tudo desse errado, como deu no sonho, até perdê-lo. Como as ondas estavam muito fortes nesse sonho, o que gerou um tsunami, acredito que representa a ideia de que tenho dos outros, novamente, de que eles conseguem ver as coisas boas nas piores situações, e eu não consigo. O fato de que todos fomos arrastados pelo tsunami tem relação com o meu medo de que todos seremos afetados igualmente por essa pandemia, e acabaremos em pontos diferentes, como a eu do sonho acabou batendo contra uma montanha, mas achou uma casa lá em cima. O tsunami também representa o pior dos meus medos, que é tudo que penso que pode acontecer de ruim tornar-se realidade. Toda a dor física que senti no sonho representa a dor que estou sentindo de todas as mudanças e sustos que a pandemia trouxe. Tinha muitos planos para esse ano e interrompi quase todos, adiando alguns e cancelando outros até não sei quando. Também vejo a casa pequena como um pequeno refúgio, um respiro no meio de tanta perda e tanta dor seguida. Vejo minha mãe e meu padrasto lá em cima como uma forma de dizer que eles me apoiam, não importa a dificuldade que eu tenha, não importa se não trago nada comigo. Ir descobrindo, aos poucos, um caminho para percorrer na montanha, e uma rampa que desce, mostra que eu estou inquieta onde estou e que quero estar em outro lugar, por mais que o lugar onde estou seja um refúgio. Até mesmo a casa ser apenas para um casal mostra que não me cabe mais a situação em que me encontro. Ter que passar por dentro dela me mostra que não posso ignorar o papel que esse refúgio tem na minha vida, prestando atenção no que me rodeia na casa, mas também o motivo de eu ter que sair. Não descer a rampa ao final do sonho me leva a pensar que estou indecisa quanto à minha situação, se pretendo ficar na montanha, segura, mas sem espaço para mim, ou se desço a rampa, que leva a algum lugar que não sei e que não tenho como saber se irá me dar recursos para sobreviver, já que não trouxe nada. Não vejo esse sair da casinha como um sair de casa físico, mas como um mudar de situação atual, de pessoa que é levada pela onda a pessoa que segue em frente, apesar das dificuldades.Recolher