Entre 2018 e 2022, o projeto de pesquisa intitulado “Dados À Prova D’Água” mobilizou pesquisadores e profissionais de diversas áreas, como defesa civil, educação, tecnologia da informação, gestão de desastres e políticas públicas, atuaram junto a comunidades d...Continuar leitura
Entre 2018 e 2022, o projeto de pesquisa intitulado “Dados À Prova D’Água” mobilizou pesquisadores e profissionais de diversas áreas, como defesa civil, educação, tecnologia da informação, gestão de desastres e políticas públicas, atuaram junto a comunidades das capitais São Paulo e Rio Branco para melhor compreender seu papel na governança de inundações/alagações e outros problemas relacionados às chuvas. A mostra "Dados À Prova D'Água: Memória, ciência e informação" é parte desse longo processo de estudo e desenvolvimento. Para esse espaço — a Paróquia Santa Edwiges e São Miguel Arcanjo, que desempenhou papel chave para as atividades do projeto — , as histórias selecionadas para ilustrar o processo de pesquisa durante esse período são as do Padre José Hercílio Pessoa de Oliveira, morador da comunidade desde os anos 90 e Luís Carlos Gonçalves de Oliveira, morador de M’boi Mirim, vítima de um dos alagamentos na região.
Luís Carlos Gonçalves de Oliveira teve sua casa atingida gravemente em uma das ocasiões de enchente na região; a água entrou no imóvel, estourando a porta da garagem. Quando a chuva acabou, o resultado foi de perplexidade ante a destruição, porém a comoção tomou conta de seu Luís ao notar que sua imagem de Nossa Senhora permanecera intacta. Seu Luís fez de sua crença e devoção fonte de alento e esperança, demonstrando o papel da fé enquanto mobilizador social em tempos de destruição.
Nesse sentido, tomando a fé e o ensejo popular como possível ponto de partida para a mobilização prática, destaca-se a figura do Padre Hercílio, morador do bairro desde os anos 90, e que com o decorrer dos anos tem notado o aumento do nível das enchentes, principalmente após as construções de moradias no local, chamando a atenção para questões de (falta de) planejamento urbano e descaso das autoridade e órgãos de fiscalização. Uma das providências tomadas pelo líder religioso ao se deparar com a insalubridade crescente das enchentes afetando o cotidiano das famílias locais, foi de mobilizar a comunidade a partir de sua autoridade religiosa e papel social, por meio de abaixo assinado, reunião com a Defensoria Pública e até mesmo protestos, chamando a atenção da imprensa e das autoridades para a questão. Após esse movimento, o poder público coordenou um processo de canalização na região, amenizando o nível das enchentes no local, demonstrando o papel fundamental da mobilização popular em torno das demandas coletivas e na organização para enfrentamento de problemas sociais em diversos âmbitos.
“Então, a gente pensou em mobilizar a comunidade com um abaixo assinado e com uma ida à Defensoria Pública, e o defensor público começou a atender a comunidade” - José Hercílio Pessoa de OliveiraRecolher