13 de outubro de 2002, São Paulo. O mundo dava boas-vindas a mais um ansioso viciado em café. Bom, na época ainda não era. Era apenas filho de Mara Lígia e Daniel , irmão mais novo de Gabriel , palmeirense roxo e sul-caetanense convicto. Os próximos 3 anos não existiram para mim e passaria...Continuar leitura
13 de outubro de 2002, São Paulo. O mundo dava boas-vindas a mais um ansioso viciado em café. Bom, na época ainda não era. Era apenas filho de Mara Lígia e Daniel , irmão mais novo de Gabriel , palmeirense roxo e sul-caetanense
convicto. Os próximos
3 anos não existiram para mim e passariam completamente desapercebidos , se não fosse a separação dos meus pais. Coisa chatinha e sem data exata, mas que trouxe inúmeros efeitos em quem sou hoje e no que acredito
O negócio só volta a ficar legal quando tinha 4 anos. Primeiras memórias sobre escola. Fase 4 (nome criativo ,inclusive). Gritos, palavras impossíveis de entender, crianças se socando, outras comendo massinha e uma grande maioria chorando, aos berros.
Bons tempos. Mas eu era exceção.
Chato desde aquele tempo, sempre fui tranquilo. Não aprontava, era bom aluno ( não comia os papéis e aparecia nas aulas , suficiente). Dos dois anos que estudei neste colégio, só guardo memórias boas e amigos
que tem papel crucial em minha vida.
Prestes a ir para o primeiro ano ( “prézinho”, chame como quiser), meus pais decidiram me mudar de colégio. Anos depois entenderia o lugar como uma casa, meu lugar favorito no mundo, porém não foi um começo fácil.
Com uma proposta muito mais exigente, tive que correr atrás de todo o tempo perdido. Sabia escrever poucas palavras e meus colegas já escreviam em letra cursiva. Sem conhecer ninguém. À duras penas, fui bem nos testes que tive e a adaptação continuou evoluindo. Novamente, o cenário era aquele caótico de escolas. Crianças um pouco maiores correndo, gritando, completamente sujas e , ainda que não comessem mais massinha, tinham um repertório absurdo de besteiras que costumavam fazer. Meu contexto também era igual.
Tentando ser o garoto exemplar, seguia louco pelos estudos, mas me tornava cada vez mais sociável. Os anos do fundamental 1 não possuem nenhuma história incrível, mas tiveram muitas funções. Meu vínculo com o esporte, pessoas incríveis, a leitura, a escrita e muitas risadas estão presentes neste capítulo . Não foram tempos fáceis, mas foram felizes como poucos outros.
A partir do sexto ano, as coisas complicam. Comecei a desenvolver mais consciência, entender minhas necessidades e ideais. Além disso, mudei de período. Saí da tarde, onde conhecia todo mundo e fui para manhã. Não conhecia ninguém, não sabia de nada. De novo, atrasado. Agora, não era sobre saber letra cursiva (e quem dera se fosse) , e sim sobre como ser descolado e interessante.
Para amigos e para meninas. Aqui começa o drama que me acompanharia até , bom, hoje. Me considerar gordinho ,na época, foi uma grande dor de cabeça.
Emagreci. Eu consegui. A que custo?
Desmaios, dores no corpo todo, cansaço e uma insegurança crescente. De novo, anos difíceis e divertidos. De novo, salvos por ter pessoas fantásticas de meu lado. Aqui, fecha-se um capítulo de minha vida. A partir daqui, tudo mudaria. Nem pra melhor, nem pra pior.
Para o colegial, mudei de escola novamente. Achei que seria bom sair da zona de conforto , e eu estava certo. Apesar de ter sofrido muito com saudade do lugar e das pessoas, vivi uma vida próxima de um sonho. O primeiro ano foi essa coisa High School Musical: o
bom estava tão bom
que eu via nenhum problema. Ô alegria que eu estava. Alegria assim dura pouco. O meu segundo ano
foi o oposto. Ver tudo que você ama ruindo, tudo que você acredita se esvaindo e sem poder fazer nada. Maldita hora que eu pensei que não poderia ficar pior.
Ficou. Pandemia. Tudo ruindo, se esvaindo e eu não podendo fazer nada. Ansiedade. Mesmos monstros.
Acontecerammais coisas no meio do caminho, mas nada que vença minha preguiça ou que valha a pena o esforço. Essa história, o esporte, o cinema, minha família e escrever
me trouxeram até aqui. Avenida Paulista 900, Cásper
Líbero. E se você chegou até aqui ( sempre quis
dizer isso), você entendeu meu funcionamento. Falar muito e ,mesmo assim, falar pouco. Todos estes perrengues acarretaram num medo brutal de não ser aceito e , assim, fizeram com que eu me escondesse atrás de uma personalidade nova, sem mostrar o que realmente está rolando. As pessoas não precisam saber quem eu sou, o que sinto. Apenas o que eu acho que elas vão gostar.
Também aprendi ( na terapia, talvez) que a nossa história que importa está rolando agora. O passado já não tem muito a agregar. Eu sei que o contexto necessário para o protagonista do meu filme é a história de hoje. Onde ele está, com quem ele está , por quem
e para quê ele se esforça.
É, é por aí.Recolher