Entrevista de José Firmino da Silva
Entrevistada por Luiz Egypto
07/04/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV021
Transcrito por Aponte
Revisado por Luiz Egypto
0:00
P/1 - Bom dia senhor José!
R - Bom dia!
0:07
P/1 - Muito obrigado por ter aceitado nosso convite, eu queria que o senhor começasse, por favor, dizendo o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento?
R – José Firmino da Silva, dia 10 de 60, e eu moro em Bananeiras.
0:36
P/1 – Desculpa! Eu não entendi o local onde o senhor nasceu, a cidade onde o senhor nasceu?
R – Bananeiras, Paraíba.
0:46
P/1 - Em que data mesmo?
R – 10/06/1960
0:52
P/1 – Perfeito! Senhor José, qual o nome dos seus pais?
R – Firmino Joaquim de Oliveira e Maria do Carmo da Conceição.
1:05
P/1 – Qual era a atividade dos seus pais?
R – Meu pai era lavrador e minha mãe dona de casa.
1:18
P/1 - Em Bananeiras?
R - Em Bananeiras.
1:22
P/1 – O senhor tem irmãos?
R - Tenho sete irmãos.
1:30
P/1 – Onde é que o senhor se coloca nesse sete, aí, nessa escadinha?
R - Eu sou o mais velho.
1:41
P/1 – Senhor José, o senhor conheceu os seus avós?
R – Conheci!
1:50
P/1 – O senhor podia falar um pouco sobre eles? Os nomes deles, por favor?
R - Eu não recordo o nome deles, faz muito tempo que eles faleceram, e eu era muito pequeno. Só me lembro que a minha avó se chamava Rosa e meu avô chamava Luís.
2:11
P/1 - Na sua casa tinha histórias dos avós, os seus pais comentavam sobre os seus avós? De onde vinham, para onde vieram?
R – Não, até que essas coisas lá no Nordeste... Eu não lembro, não me recordo se eles falavam essas coisas não.
2:33
P/1 - E como é que era sua casa? O senhor primogênito né, como é que era a sua casa lá em Bananeiras?
R – Minha casa era de pau a pique, coberta com palha de coqueiro.
2:48
P/1 - Como é que era a divisão interna dela?
R - A divisão era quarto, cozinha, sala e banheiro.
3:02
P/1 – Sua mãe e o seu pai davam mandados para as crianças, vocês tinham obrigações dentro de casa?
R – Sim, sim, nós tínhamos obrigação. Na época não existia fogão a gás, então era para carregar água, outro para carregar lenha, outro para varrer a casa, outro para pastorar um bicho, eram essas tarefas que a gente tinha e estudar.
3:36
P/1 - Como é que essa criançada brincava, como é que ela se divertia?
R – Na época a gente não tinha esse negócio, o negócio era trabalhar, me pai não deixava a gente brincar, era só trabalhar.
3:53
P/1 - Qual era a agricultura que seu pai tratava o que ele plantava mais?
R - Ele trabalhava no engenho e plantava cana.
4:06
P/1 - Ele era empregado do engenho, é isso?
R – Era empregado do engenho.
4:14
P/1 - Só cana que ele plantava, não plantava agricultura de subsistência?
R - Plantava feijão, milho e mandioca.
4:27
P/1 – O senhor falou que além das obrigações de casa tinha os estudos. Qual foi a sua primeira escola?
R – A minha primeira escola... Inclusive eu aprendi vendo os meus outros irmãos e eu comecei fazer estudando devagarzinho e consegui aprender um pouco que eu sei, eu aprendi assim com a minha boa vontade.
4:58
P/1 – O senhor chegou a frequentar escola?
R – Depois que eu cheguei aqui na chácara do SINPRO eu estudei no Colégio Maria Regina.
5:23
P/1 – Colégio Maria Regina a noite?
R – É, à noite.
5:29
P/1 – Como é que se deu a saída de Bananeiras para o DF?
R – A gente saiu do Nordeste para ver se a gente arruma alguma coisa na vida. Subir na vida. Comer melhor, dar educação melhor para os filhos, que lá não é essas coisas tudo, é mais fraco. Cheguei aqui há 36 anos, morei 5 anos em uma outra chácara e 31 aqui.
6:13
P/1 - Como é que foi a viagem de Bananeiras para Brasília?
R – Minha cunhada arrumou uma chácara aqui para o meu sogro, lá em Alexânia e eles não quiseram deixar a gente para trás, eu não queria vir, mas eles falaram: não, vamos levar, que só tem minha filha aqui, vai ficar sozinha aqui, vai ficar fazendo o que sozinha. Então tudo bem, então a gente veio, e graças a Deus, quando a gente melhorou de vida um pouquinho.
6:48
P/1 – O senhor se lembra como é que foi essa viagem de lá para cá?
R – A gente veio de ônibus, ficamos três dias na estrada, dormindo dentro de ônibus, fazendo aqueles lanches daqueles terminais, que deus me livre e desembarcamos ali na rodoferroviária.
7:18
P/1 – Desembarcaram lá e foram para onde?
R – Em Alexânia.
7:27
P/1 – Como era Alexânia para aquele garoto que viveu a vida inteira lá em Bananeiras?
R – Olha, eu vou falar uma coisa para você. Quando eu cheguei logo aqui, meu sogro veio com o emprego dele arrumando, eu vim aventurar, e eu fiquei uns três meses desempregado, mas depois, graças a Deus, Deus abriu uma porta e eu consegui arrumar um emprego, onde eu trabalhei cinco anos nessa chácara.
7:54
P/1 – Fazendo o que o senhor Zé, caseiro?
R – Trabalhava de caseiro, fazia de tudo! Caseiro, vaqueiro, tudo, tudo que tinha na chácara a gente tinha que fazer, era obrigação a fazer.
8:11
P/1 - Depois desse tempo lá, como é que o senhor se aproximou do SINPRO?
R – Eu me aproximei do SINPRO pelo... Na época em 90, o SINPRO estava precisando de um caseiro, e eu tinha um primo que era da Polícia Federal, que era amigo de um diretor do SINPRO, do professor
Saulo,
e ele comentando com ele, falou: eu tenho um primo que mora aqui em Alexânia, vou ver se eu descubro ele, vou ver se eu trago ele pra cá. Aí conversa vai, conversa vai, um dia eu saí, fui na cidade e quando eu cheguei em casa ele estava me esperando. Me lembro que nem hoje, era na época dos fusquinhas, a viatura da polícia era fusquinha. Aí ele falou: Zé, eu arrumei uma chácara para você. Eu falei: homem, eu não estou mais aguentando trabalhar de chácara não, vou arrumar um serviço de vaqueiro. E ele falou: não, não faz isso não! O rapaz lá é gente boa, o sindicato é muito bom de se trabalhar. “Então vamos lá, vamos dar uma olhada lá”. Aí eu vim. Ele me trouxe, cheguei aqui no dia 7 de outubro de 1990. Eu falei: não Souza, eu não vou ficar, a chácara está muito suja, a chácara não tem ninguém, não tem luz, não tem água. Falou: não Zé, segura um pouquinho que tudo vai resolver. Aí eu cheguei falei: oh, eu vou ficar, eu não vou mais nem voltar lá na chácara que eu estava, você faz isso, pega o carro e vai lá pegar as coisas. Nós não tinha nada, posso dizer o que a gente não tinha?
10:07
P/1 – Claro, o senhor pode dizer o que quiser.
R- Pois é! A gente não tinha nada! A nossa roupa, isso aí para mim não é vergonha não, para mim isso é dignidade. Quando chegou minhas roupas aqui, as coisas dos meninos, das crianças, chegou num saco desses de aniagem. A única coisa que a gente tinha era uma cama sem colchão. E hoje graças a Deus, eu peço felicidade a Deus, primeiramente a Deus, segundo o SINPRO, que tudo que eu tinha eu arrumei aqui, tudo que eu tenho eu arrumei aqui.
10:46
P/1 – Quais foram as primeiras providências que o senhor tomou, já que estava tudo tão sujo, sem luz, abandonado?
R – Primeira providencia, eu comecei a fazer limpeza, capinar, juntar mato, entendeu? Queimar, juntava, limpava, fazia os montinhos e queimava, nisso aí mais ou menos uns 6 meses, eu já tinha feito 60% da limpeza da chácara. E aí eu comecei a trabalhar, comecei a trabalhar e abrir a chácara, um pouquinho ali, um pouquinho ali, uma benfeitoria acolá, e fizemos uma bica. Onde está aí a chamada da categoria, aí eu descobri uma mina, fiz uma bica com cano, forrei com madeira e nisso aí começou. Aí começou, o pessoal vinha, acampava, ficava 2, 3 dias, que eles gostam de mais disso daqui. E outra coisa também, nossa casa, era de adobe, aqui na chácara,
era uma casinha simples de adobe, onde deu morei 11 anos, não tinha água, não tinha luz, a gente... Nordestino sempre inventa alguma coisa, eu fazia aquelas luzinhas, pegava lâmpada de energia, de iluminação, cortava o bocal e fazia uma lâmpada a gás, a querosene, e nisso nós ficamos um ano mais ou menos sem energia.
12:42
P/1 – O senhor quando passou a morar aí, estava sozinho ou estava com a família?
R - Estava com a família, tinha trazido três filhos, posso falar o nome deles? Era Euda, o Éder e o Erivânio.
13:09
P/1 – E o que mais o senhor fez na chácara? Que tipo de benfeitoria foi preciso para que ela ficasse mais habitável?
R – Aí como ela ficou mais habitável, pois na época, a direção, Zaldo, professor Franco, Ari, que eu não recordo mais o nome, porque já faz muito tempo, o nome dos outros diretores, deram o pontapé inicial, dia 5 de julho de 1995, começou as obras aqui. Aí foi feito churrasqueira, banheiro bom, porque não tinha, piscina que não tinha, e nisso aí, a categoria ama essa chácara, categoria gosta dessa chácara.
14:17
P/1 - Que tamanho tem, qual é a área da chácara?
R - 66 hectares.
14:33
P/1 - O senhor toma conta disso sozinho?
R – Não, ai trabalha, eu, o Erivânio e o Felipe, agora somos nós três, mas antigamente era eu sozinho.
14:47
P/1 – Conta um pouco mais, descreve um pouco melhor essa construção que foi feita lá em 95?
R – Essa construção em 95, começou numa brincadeira, a gente brincava muito com esse diretor, ele falou: Zé eu vou fazer aqui umas churrasqueiras. Eu falei: “pelo amor de Deus, os caras já estão acostumados com o que tem. “Zé eu vou te mostrar o que nós vamos fazer”.
Isso aí começou, isso ele estava aqui jogando bola num domingo, quando foi na segunda-feira começou a chegar material, e nessa brincadeira começou um paraíso. Aí nós temos aqui, 10 churrasqueiras cobertas, churrasqueira, pia, ponto de energia, bancada, mesa. Aonde o pessoal circula é tudo calçado com pedra Perinópolis, tudo arrumadinho, muito bom! Aí depois que fez essas churrasqueiras, aí fez um salão de festas, que hoje chama [Centro de Convivência] Caliandra
por ai começou as obras, depois não parou mais.
16:11
P/1 – O senhor disse, como é o nome do salão de festas mesmo que o senhor disse?
R - Calhandra.
16:20
P/1 – Desculpa, eu não entendi.
R – Calhandra
16:27
P/1 - Q que é isso?
R - É o salão de festas, o nome do salão.
16:33
P/1 - Aí tem um Centro de Formação também, o que mais tem?
R - É onde eu estou aqui, [E também tem] o Centro de Formação Chico Mendes.
16:44
P/1 – Como é esse centro?
P/1 – Aqui o Centro de Formação, é onde a gente recebe alunos da rede pública, professor, onde a direção faz reunião, os aposentados faz reunião, aqui sempre quando está funcionando, sempre tem professor aqui. É uma obra muito bonita,
17:16
P/1 - Qual a capacidade que esse Centro de Formação tem, quantas pessoas ele pode abrigar?
R - O salão, segundo o arquiteto, o salão para 400 pessoas sentadas.
17:32
P/1 - E mais o quê, que tipo de equipamento tem para suportar, e dar suporte a essas pessoas todas?
R – Aí quando tem evento, o SINPRO, aluga cadeira, mesa, essas coisas.
17:59
P/1 - E o salão, o Centro de Formação é bastante utilizado, o pessoal vai com frequência aí?
R – Sim, sim, quando tá funcionando. Agora não, porque tá fechado modo esse pandemia, mas sempre, todo dia tem professor aqui, tem aluno, sempre, todo dia.
18:19
P/1 - É uma espécie de laboratório seu Zé?
R - É uma espécie de receber aluno para dar curso, curso sobre planta, agro floresta, essas coisas.
18:43
P/1 - E antes da pandemia era bem frequentado?
R – Bem frequentado, aqui tinha dia... Porque a gente fecha a chácara na terça, aí vai de quarta a domingo, nesse período aí ninguém mais tem sossego, todo dia tem professor, a categoria está todo dia aqui.
19:03
P/1 – Se os professores quiserem pousar aí, podem pousar?
R – Não, por enquanto o SINPRO não autorizou, antigamente sim, agora não. Porque é muito perigoso, aqui nos moramos na BR, então fica muito perto de cidade, é perigoso ladrão, que nem eu já fui assaltado aqui uma vez, ai eles preferiram funcionar só até às 17h.
19:32
P/1 – Das 17h em diante, toda a área fica sobre a sua responsabilidade?
R – Toda área fica na minha responsabilidade, porque os outros meninos, os outros funcionários, trabalham de segunda à sexta, e eu trabalho de quarta a domingo. Então eu fico lá é cá.
19:49
P/1 – O senhor disse que trabalha de quarta a domingo?
R – Quarta a domingo
19:54
P/1 - E nos outros dias?
R – Segunda e terça e folga, porque eu trabalho sábado e domingo, pra trocar por segunda e terça.
20:03
P/1 - Não acontece nada na segunda e terça ai?
R – Não, não acontece porque fica fechado.
20:14
P/1 - Que município fica localizada essa Chácara?
R – Brazlândia.
20:22
P/1 - O nome dela?
R - Chácara do Sindicato dos Professores.
20:39
P/1 – Como é que o senhor avalia o trabalho que o SINPRO vem desenvolvendo aí na chácara?
R – O trabalho que o SINPRO está desenvolvendo aqui, nota 1.000, porque eu vou dizer uma coisa, eles trabalham direitinho, dão todo o suporte para nós aqui, tudo que a gente pede, quando está faltando alguma coisa, eles mandam imediatamente. Então para mim não está faltando nada, está tudo nota 1.000.
21:08
P/1 - Os seus filhos nasceram aí na chácara?
R – Nasceu aqui na chácara Elaine, Rafaela e o Bruno.
21:27
P/1 – E onde os seus filhos estudaram, estudam aí mesmo?
R – Eles terminaram os estudos no Colégio Maria Regina, todos, todos 7.
21:42
P/1 - O mesmo colégio que o senhor havia estudado?
R – Sim, o mesmo colégio.
21:49
P/1 - E fica aonde?
R – Aqui próximo à chácara, aqui no Roteador, fica a 1.500m.
21:55
P/1 – O senhor tem alguma professora ou professor que tivesse marcado a sua lembrança?
R – Sim, professor Evandro.
22:07
P/1 – Por que, hein?
R – Porque era um professor que ensinava a gente, tinha um amor de ensinar a gente, era pessoa amiga, irmão, era essa pessoa que a gente trazia no peito, e uma pessoa que eu não tenho nem palavra para falar dele.
22:36
P/1 - Como é que o senhor se identifica, como é que o senhor se aproximou dos movimentos sociais, dos quais o SINPRO participou?
R – Eu me aproximei assim quando eu cheguei aqui.
22:54
P/1 - Quando chegou e na sequência também?
R - Quando eu cheguei, foi que nem eu falei, me aproximei por esse meu primo que é da Policia Federal, ele me trouxe para conhecer a chácara, e nesse conhecer eu peguei um amor pela chácara, e fiquei e estou aqui até hoje. E sobre o SINPRO, as atividades, as assembleias, essa coisas tudo a gente participa.
23:29
P/1 – E como o senhor avalia a atuação do SINPRO? Tanto tempo de vivência com o sindicato, como é que o senhor avalia a atuação que o SINPRO desenvolve hoje?
R – Hoje o SINPRO desenvolve coisa maravilhosa, desenvolveu muitas coisas que a gente fica até... Quando a gente vê o SINPRO fazer as coisas, a gente fica abismado, “gente, mas o SINPRO”. Graças a Deus está evoluindo e isso para nós é bom de mais, não só para nós como para o Brasil.
24:08
P/1 – Por que hein, seu Zé?
R - Porque o SINPRO ele trabalha para categoria, eu trato o SINPRO que nem uma família, que acolhe todo mundo. Chega no SINPRO, “eu estou precisando disso”, a direção resolve imediatamente.
24:33
P/1 – O senhor mora ai com a família desde quando chegou então?
R - Eu moro aqui na chácara desde 91, desde 90 quero dizer.
24:48
P/1 - E seus filhos cresceram aí, continuam trabalhando junto com o senhor, o Erivânio, mais quem?
R – Só ele, porque os outros casaram, um mora em Uruaçu, duas moram em Luziânia, a outra mora num condomínio aqui perto da chácara do SINPRO, o outro que é do exercito ele mora em Vicente Pires, é o Bruno.
25:27
P/1 – Senhor Firmino, o senhor falou que vivendo ai sozinho, com a família e tudo mais, qual foi o maior sufoco que o senhor já passou aí na chácara?
R – Da vez que eu fui assaltado, eu estava dentro do colégio, eu, o Erivânio e o Bruno. O Bruno tinha 5 anos de idade e os bandidos me pegou lá no portão lá, esse foi um sufoco, estava começando aqui a obra do Chico Mendes, eles me pegaram lá em cima, levaram meu carro, me amarraram, me bateram, graças a Deus só no judiaram com a minha família.
26:11
P/1 - Nunca mais ouvi outro episódio desses?
R – Não, nunca mais, graças a Deus nunca mais.
26:20
P/1 - E as maiores alegrias?
R – É trabalhar para o SINPRO e cuidar da minha família, é a alegria maior do mundo que eu tenho.
26:41
P/1 – Qual que o senhor considera que são os maiores desafios, mais importantes que o SINPRO tem que encarar aí nesses próximos tempos?
R – Vai ter muito viu, vai ter muito, vai ter muitos, se pegar outros governos que nem o que está aí, vai ser um desafio e tanto, vai ser muito desafio. [Como enfrentar?]
27:07
P/1 - O que o senhor pensa da capacidade do SINPRO de enfrentar tudo isso?
R – Eu acho que vai ter que ter muita paciência, que nem essa direção tem e correr atrás dos objetivos do SINPRO. Começa já por aqui, estamos passando por essa pandemia malvada, que aí o SINPRO está agoniado, perdendo muitos professores, muitos amigos, por aí já está passando uma dificuldade muito grande.
27:51
P/1 – Como é que era estar no SINPRO durante as grandes mobilizações que o sindicato patrocinou. O senhor na chácara, mas enfim, o pessoal na luta, greves, como é que era conviver com isso?
R – É o pessoal na luta e a gente trabalhando o tempo inteiro, teve uma época aí, que eu não recordo a data, o SINPRO ficou 101 dias em greve, e a gente lá trabalhando, e isso e aquilo, correndo para um lado, correndo para o outro. O SINPRO fez muitas greves e a gente participou de todas.
28:37
P/1 – Que tipo de apoio o senhor conseguia dar dai da chácara para as greves?
R – Eu trabalhava na greve também, eles me pegavam aqui, o SINPRO mandava me buscar aqui, o motorista, a gente ia trabalhar. Então quando terminava a assembleia, a gente estava botando água nas
botando documento em mesa, pegando assinatura do professor, entendeu? E quando terminava a assembleia a gente fazia limpeza daquele local que o SINPRO fez o evento.
29:19
P/1 – Isso o senhor e seus filhos?
R – Não, só eu e os outros funcionários, meus filhos ficavam lá na chácara.
29:30
P/1 – E o senhor assistia as assembleias, participava das assembleias?
R – Sim a gente assistia, porque a gente estava trabalhando sempre a gente assisti.
29:43
P/1 – E como é que o senhor avalia e define a capacidade de luta do SINPRO?
R – Muito boa, viu! Foi um sindicato que eu trabalhei, acho que foi o primeiro e único. Que eu vejo uma capacidade imensa no SINPRO.
30:11
P/1 – O senhor teria... Diga?
R – Eu posso falar... Meus filhos foram criados aqui, graças a Deus nos somos evangélicos, casou todo mundo lá no Caliandra, todos eles. Nasceram, se criaram e casaram aqui na chácara mesmo.
30:35
P/1 – O senhor tem neto já?
R – Só 14 (rs...). Tenho 14 netos.
30:46
P/1 - Eles frequentam a chácara?
R – Agora por causa da pandemia, só os de Erivânio, que mora aqui em casa, sempre eles estão aqui, os outros, enquanto não passar essa doença ai, não der uma maneirada, para eles conseguirem vir de novo na nossa casa.
31:11
P/1 – Eu sei que mudou muita coisa depois da pandemia, mas eu quero perguntar isso para o senhor. Quais foram as grandes mudanças que houve depois da pandemia?
R - Pra mim aqui ficou meio complicado, porque você está vendo sua família se distanciar, você não pode dar um abraço num amigo seu, você não pode mais conversar com ninguém. Assim que começou, com uns dois meses, eu passei por uma situação meio critica, mas graça a Deus, recuperei. Eu passei pelo psicólogo, passei pelo psiquiatra, eu estava com muita ansiedade, mas graças a Deus fiz o tratamento direitinho, me cuidei, o médico passou os remédios, eu estou tomando, graças a Deus agora eu estou recuperando.
32:09
P/1 - Bacana seu José! O senhor é casado né, como é o nome da sua senhora?
R - Ana Maria Santos da Silva.
32:24
P/1 - E são quantos filhos mesmo?
R - São 8 filhos.
32:39
P/1 – O senhor poderia dizer o nome dos filhos?
R - O nome dos filhos, é Eder Santos da Silva, Euda Maria Santos da Silva, Erivânio Santos da Silva, Elaine Santos da Silva, Érica Santos da Silva, Rafaela Santos da Silva e Bruno Santos da Silva.
33:09
P/1 – Como é o nome da sua esposa mesmo?
R – Ana Maria Santos da Silva.
33:13
P/1 – Como é que o senhor a conheceu?
R – Isso é coisa de criança, foi na época de criança, a gente indo para festinha, para terço, para reza, essas coisas. Então eu conheci ela ai, eu tinha 15 anos e ela tinha 12. E nisso ai o pai dela não queria que eu casasse com ela, e lá vai, aquela confusão, aí noivei, e fui marcar a data do casamento, quando chegou lá não teve como não casar. Tinha que pagar uma multa, me lembro que nem hoje, 80 “merreis” para casar, ai paguei a multa, casei, estou a 40 anos casado, graças a Deus.
34:04
P/1 – O casamento foi lá em Bananeiras?
R – Foi lá em Bananeiras.
34:10
P/1 – Como é que foi a festa?
R – Foi uma festa boa! No nordeste o senhor sabe como é, ninguém tinha dinheiro para fazer festa grande, então fizemos uma festinha básica, umas galinhazinha, peru, essas coisas.
34:32
P/1 – Seu Zé, o senhor teria alguma coisa que o senhor gostaria de dizer que eu não lhe perguntei?
R – Sim! Vou agradecer o SINPRO, essa direção que está hoje, que é um pessoal muito gente boa, é um pessoal nota 1.000, essa direção, todas que eu trabalhei com eles eu não tenho o que falar, é um pessoal muito humilde, é um pessoal que dá muito apoio para a gente. Quando eu recebi essa notícia que ia participar desse evento, eu fiquei muito grato, muito ansioso, eu saí do Nordeste e fazer parte do SINPRO, isso para mim é o maior orgulho do mundo. Eu acho que ninguém faz isso com ninguém
não, só o SINPRO, e essa categoria está de parabéns, a direção do SINPRO, está de parabéns! Vou só falar o que eu tenho de falar por eles, são pessoas nota 1.000, esse pessoal do SINPRO, essa direção.
36:01
P/1 – O senhor passou por várias gestões né, e como é que foi a transição de uma para outra, como é que se deu essa passagem?
R – Normal, para mim foi normal, sempre eu continuo no mesmo serviço, não tem esse negócio de mudança, “olha Zé, você agora passou disso para fazer isso”, não. Aqui eu trabalho em serviços gerais, eu faço limpeza, eu trabalho, quando eu estou fazendo limpeza, estou fazendo limpeza, depois vou ser operador de máquina, faço tudo, aqui na chácara de tudo eu faço um pouco.
36:51
P/1 – O senhor disse operador de máquina, o SINPRO tem uma máquina aí?
R – SINPRO tem várias, antigamente a gente fazia tudo braçal, e eles compraram as máquinas para a gente trabalhar, é trator, é micro trator, é roçadeira elétrica, é tudo, tudo a gente tem aqui, serviço braçal a gente faz muito pouco agora.
37:15
P/1 – A área tem uma reserva, uma APP, não tem?
R – Tem 14 hectares.
37:26
P/1 – E o que tem nessa área?
R – Essa área é uma mata fechada, essa área eu não deixo ninguém entrar nela. Porque começa, se a gente abre a mão, aí leva é copo, é garrafa, é fazer o que não presta, e aí vai deixando a sujeira para trás, eu sou rigoroso nessas coisas aí.
37:52
P/1 – Que tipo de vegetação tem nessa área?
R – Tem eucalipto, tem tudo! Tem açaí, tem bastante coisa dentro dessa mata, muita água, muita mina.
30:15
P/1 – A chácara e autossuficiente no abastecimento de água?
R – É!
38:24
P/1 – Água de boa qualidade?
R – Água de boa qualidade, água muito boa.
39:35
P/1 – Essa água que alimente a piscina?
R – É natural, água corrente.
38:50
P/1 – Seu Zé, acho que estou satisfeito, alguma coisa que o senhor queira acrescentar a respeito da chácara? Que a gente não tenha definido.
R – Eu queria falar que eu fiquei muito honrado de ter participado desse evento, estou muito feliz com a direção do SINPRO, com o SINPRO, porque pra mim, aonde eu consegui minhas coisas hoje, foi primeiramente Deus, segundo o SINPRO e meu trabalho. Hoje eu tenho um carro que custa R$70.000,00, não comprei minha casa ainda, porque minha esposa não decidiu o lugar para a gente comprar, mas se Deus quiser em breve nós estamos comprando. E eu peço a Deus que o SINPRO esteja por muitos e muito anos, pra gente estar junto na luta. Eu agradeço a oportunidade, muito obrigada! E bom dia!
39:50 – Tem muito que lutar, né Senhor Firmino? Tem muita luta pela frente.
R – Tem muita luta pela frente, e nos tem que abraçar, com amor e paz.
40:05
P/1 – Para finalizar, quais são os seus sonhos?
R - O meu sonho é ainda trabalhar uns 10 anos para o SINPRO ainda, para depois ir descansar e preparar um dos meus filhos para deixar no meu lugar, inclusive o Erivânio, que ele já é funcionário do SINPRO, quero preparar ele para deixar no meu lugar, para manter sempre o que eu mantinha.
40:37
P/1 – O que o senhor diria para um jovem ou uma jovem que resolvesse ser professor ou professora?
R – O que eu diria para eles, é isso, estude, seja um professor, seja humilde, seja uma boa pessoa e faça seu trabalho com amor. E outra coisa também, sindicalizar é uma coisa importante para o professor que está entrando hoje. Seja um professor e não esqueça do nosso cantinho, do nosso paraíso, que a gente tem aqui na chácara do SINPRO, no Roteador.
41:25
P/1 – Não esqueça de que senhor José Firmino? Embolou aqui o som.
R – Não esqueça de um cantinho que nos temos aqui na chácara, o cantinho do paraíso, que nos temos na chácara aqui, para visitar quando tiver funcionando, para ver nossas benfeitorias. Aquele professor que nunca veio aqui, que ele venha, para participar, para ver o que o SINPRO fez, que a gente chama, um cantinho do paraíso.
41:59
P/1 – Muito bem senhor José Firmino, agradeço muitíssimo a sua atenção, o seu tempo, muito obrigado pela sua entrevista.
R – Eu que agradeço! E precisando nós estamos aí.