Entrevista de Aurélio Anchises Ribeiro de Souza
Entrevistada por Luiz Egypto
30/03/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV018
Transcrito por Aponte
Revisado por Luiz Egypto
0:00
P/1 - Boa tarde! Professor Aurélio, muito obrigado por ter aceitado o nosso convite.
R – Boa tarde! É uma honra para mim Luiz, falar dessa grande coisa que foi o sindicato que nós fundamos e que ainda continua sendo até hoje um grande defensor da classe trabalhadora e principalmente da educação.
0:26
P/1 – Eu gostaria que o senhor começasse dizendo o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento?
R – Meu nome completo é Aurélio Anchises Ribeiro de Souza, é um palavrão, eu nasci no dia 13 de maio de 1943, na grande cidade de Jerônimo Monteiro, no estado do Espírito Santo.
1:00
P/1 – O nome dos seus pais?
R – Meu pai era Anchises Berçote de Souza e a minha mãe era Aurélia da Penha Ribeiro de Souza.
1:27
P/1 - O que faziam os seus pais professor Aurélio?
R - Meu pai no início da vida dele foi muito difícil, ele era bastante pobre, trabalhava com o tio, mas depois ele conseguiu ficar bem na vida, passou a ser fazendeiro, ele e minha mãe, fazendeiro de café lá no Espírito Santo.
1:54
P/1 - Onde era a Fazenda?
R - Lá em Jerônimo Monteiro no Espírito Santo.
2:00
P/1 – O senhor conheceu os seus avós?
R – Conheci meus avós maternos, o casal, minha avó e meu avô, e no caso do meu avô paterno, só o meu avô paterno, porque nem o meu pai conheceu a mãe dele direito, ela faleceu de parto, ele tinha menos de seis anos.
2:30
P/1 - A família comentava a respeito dos avós, de onde eles vieram, de onde eles vinham, qual era a origem deles? Tinha histórias a esse respeito?
R - Eu sei de bastante coisa, mas que eu aprendi depois de adulto, porque eu gosto de história, então me interessei pela história dos meus avós. Meu avô, se eu fosse um bom escritor eu faria um livro sobre ele, porque ele era um cara fora do comum, para você ter uma ideia, ele nasceu em 1800 e qualquer coisa, e naquela época ele já era, ele era antes monarquista, ele era republicano, antiescravagista e uma série de coisa, era um cara super progressista. Mas aí é uma história a parte, não dá para contar tudo. Ele dá uma história perfeita. Agora a minha avó que faleceu ela era oriunda dos suíços que vieram para Nova Friburgo, pela colonização do Dom Pedro II, para branquear a raça, mas ela faleceu ainda nova, meu pai nem a conheceu direito, porque ele era muito garoto. E o meu avô paterno era da região de Nova Friburgo também, ele morou muito tempo em Conceição do Macacu, num distrito que era chamado de, agora eu me esqueci o nome, que hoje já é município também. Então a história da família é mais ou menos isso. Do lado do meu pai, eles eram calvinistas expulsos da Suíça, eram então protestantes. E do lado do meu avô materno, eles eram todos católicos, e foi aonde eu fui doutrinado, pelo catolicismo.
4:43
P/1 – O senhor tem irmãos professor?
R – Tenho! Minha mãe morreu eu tinha nove anos, depois meu pai teve outra família, teve outros irmãos, mas os irmãos do pai e da minha mãe, nós somos seis. Desses só três estão vivos, outros três já faleceram. A minha irmã mais nova, que mora aqui perto, mora em Goiânia e tenho um irmão que mora aqui em Brasília, que já está com 90 anos, já está meio gágá, para usar a palavra mais simples.
5:24
P/1 – Como é que era a sua casa lá em Jerônimo Monteiro? Como é que era a casa, como é que ela se distribuía?
R – Inicialmente era fazenda, casa de fazenda, era distante 12 km da cidade, depois para efeito de melhorias e de estudar também, meus pais mudaram para cidade, comprou uma chácara que era do meu avô, a terra que era do meu avô ele fez uma chácara, fez uma casa também e era classe média-alta, vamos dizer assim, a origem de fazenda. Meu pai era fazendeiro, não era milionário, mas tinha uma boa vida.
6:12
P/1 – E como é que o garoto Aurélio se divertia? Quais eram as brincadeiras que o Aurélizinho fazia?
R – Totalmente de roça, andar a cavalo, eu aprendi andar a cavalo, já nasci carregado pela minha mãe no colo, em cima do cavalo, era o único meio de transporte. E aí com três anos, quando nasceu minha irmã mais nova, aí eu já comecei a andar sozinho no cavalo. Então foi andar a cavalo e brincar na roça, ajudar no cafezal, recolher café, transportar aquelas coisas, meu pai tinha máquina para debulhar o café, essas coisas, até os 6, 7 anos foi aí. Depois que eu mudei para cidade, aí entrou a escola, naquela época a gente entrava na escola com 8 anos, foi a escola, aí passei ter também as brincadeiras de rua com meus amigos, meus primos e aquelas coisas de moleque de rua mesmo, comum na época, que era possível fazer na época. Jogar bola de meia e outras coisitas. Bolinha de gude, tampinha, pião e aquelas brincadeiras, apesar, que eu nunca gostei muito, mas a gente chamava de papagaio, empinar papagaio, que era pandorga, pipa como é chamado hoje.
7:53
P/1 - Eu queria que o senhor falasse um pouco da sua primeira escola, como é que foi a sua primeira escola? Seu início dos estudos?
R – Eu tive dois momentos no início, a primeira alfabetização, as primeiras letras de aprender escrever, foi minha mãe que me ensinou, como eu disse ela faleceu eu tinha 9 anos, aí depois eu entrei no grupo escolar, quando eu já estava nessa idade, e aí alfabetização pelo grupo escolar. Quando foi em 1953, meu pai mudou para Goiás, minha mãe já tinha falecido, aí foi um tal muda de lugar, cada ano era num lugar. Aí eu estudei em vários, vários lugares, os que mais me marcaram foi o Colégio Couto Magalhães, em Anápolis, onde eu estudei como interno. Aí depois eu voltei para o Espírito Santo e lá eu conclui o meu ginásio. E depois eu fui fazer o meu curso de técnico agrícola, já no estado do Rio também, fiquei internado lá também, era escola agrícola. E depois vim para Goiás é aqui em Goiânia eu fiz o meu primeiro vestibular, passei na Universidade Federal, no curso de Geografia e História, e em 1967 eu vim para Brasília, fiz o vestibular na UnB e passei também, e acabei me formando em Sociologia, bacharel.
9:46
P/1 - Voltando um pouquinho atrás, o que motivou a primeira vinda do seu pai para Goiás?
R -
Ah foi porque o café estava em decadência naquela época e praticamente não tinha grandes perspectivas. Aí é uma história que vai esticar um pouquinho, mas eu vou detalhar ela. Eles foram, ele e meu cunhado que é casado com a minha irmã mais velha, e o meu tio que é irmão da minha mãe, porque eles mexiam com café, gostava de café, eles iam para Londrina, para aquela região de Londrina para comprar terra para plantar café, quando chegaram em São Paulo, coincidentemente, um amigo de infância e de colégio do meu cunhado, que morava em Goiás, falou: “não, vocês não vão para o Paraná, vocês vão para Goiás, lá em Goiás que é bom e tal”. E na época, coincidentemente, o vice-governador de Goiás, que até um cara conhecidíssimo em Anápolis, que é o Jonas Duarte, que era nosso conterrâneo, e é conhecido do meu cunhado e desse amigo dele. E aí o Jonas Duarte abriu as portas para o meu pai, para ele comprar terra, cuidar de coisa aqui, mas acabou que esse não foi um passo que o meu pai seguiu mesmo, ele acabou desistindo disso, comprou as terras, mas era muita terra e que não valia nada praticamente. E a inflação da época, tornou ele novamente um pobre como ele era lá no início da juventude dele. E aí ele voltou para o Espírito Santo, fez um monte de coisas, é muito longo para detalhar, e levou a gente de volta.
11:55
P/1 – De todo modo professor, todas essas peripécias, essas idas e vindas, levaram o garoto Aurélio junto estudando sem parar, trocando de escola todo tempo?
R - Estudando assim, meio na marra, porque eu era da roça, pra mim coisa boa era mexer com coisa de roça, sentar no banco de escola era um castigo terrível. E depois eu virei professor, ver só como é que são as ironias do mundo.
12:35
P/1 – O que esse garoto queria ser quando crescesse?
R – Queria ser, para mexer com roça, ser veterinário, mais para veterinário do que para agrônomo. Fiz o curso de técnico agrícola, já pensando nisso.
12:56
P/1 – E em que momento, em que circunstâncias o senhor se transforma num professor?
R – É aquelas coisas, ironias do destino. Em 1966, depois que eu terminei o colégio agrícola, eu cheguei a trabalhar um pouco com técnico agrícola, numa região da Bahia, depois eu acabei aconselhado pelos meus amigos, e pelo pessoal, para vir para Goiânia, porque meu irmão, esse meu irmão que ainda está vivo, ele morava em Goiânia. E eu fui para lá, para ver se eu fazia até veterinária lá, na universidade que estava recém-criada, Universidade Federal de Goiás, a parte de agronomia e veterinária. Ia ser inclusive, segunda ou terceira turma, para prestar vestibular, mas nesse meio tempo, para tapar buraco e até para resolver um problema de jovem, porque lá na Goiânia tinha o DCE, que tinha os famosos bailes do sábado, mas só podia entrar nesse baile homem se fosse universitário, e as mulheres, as meninas, podia entrar quem quisesse. Aí é lógico que, “ah vou fazer vestibular para passar, para ir para o DCE”. Aí fiz história e geografia, que são matérias de que eu sempre gostei, sempre foi do meu diletantismo estudar história e geografia, aí fiz o vestibular, passei. E acabou para poder fazer alguma coisa que valesse a pena, eu tinha uns empreguinhos, bico, ganhava mixaria. Aí alguém me chamou um dia para dar aula no lugar dele, porque ele precisava de uma pessoa para substitui-lo por alguns dias, aí fui eu lá, e acabou... Como dava para ganhar um dinheirinho, para manter a universidade. Aí eu resolvi vir para Brasília, porque eu estive aqui na Universidade de Brasília, logo no início, quando ainda estava estudando na Universidade Federal de Goiás, e vi que aqui a universidade era muito melhor, “vou para Brasília”. Aí para vir para Brasília e ter como me manter, eu fiz um concurso, que na época permitiam fazer aquele registro D, que era um registro provisório, que fazia um cursinho rápido. Eu fiz e passei nesse concurso e fui trabalhar na Fundação Educacional aqui, já com um salário bem melhor e fiz concurso para a UnB, passei também. Quer dizer, pra me manter na universidade, eu acabei sendo professor.
16:04
P/1 - E qual foi a primeira escola que o senhor assumiu?
R - Aqui em Brasília?
16:09
P/1 – Isso! E quando foi isso?
R – Em 1968, dia 23 de março de 1968, eu fui dar aula nos maiores colégios de Brasília, que era colégio CENAB aqui de Taguatinga, onde eu moro hoje, era o segundo grande colégio. Era o Centro de Ensino Elefante Branco e o Centro de Ensino Ave Branca, era o CENEB e o CENAB, era os dois grandes colégios de segundo grau aqui de Brasília na época. Aí eu comecei minha jornada em Brasília, mas eu dei aula num colégio em Goiânia, para substituir esse amigo meu que ele precisava fazer um concurso, ele era bancário do banco Estado de São Paulo, e ele tinha que ir para São Paulo fazer um curso lá, para melhorar a vida dele no banco, aí eu dei aula lá nesse colégio também, que eu nem lembro mais o nome e nem existe mais.
17:11
P/1 - Apenas confirmando as datas, o senhor assumiu a escola em Brasília em 1978, não é isso?
R – Não, é 68.
17:32
P/1 – E daí como é que foi a sua trajetória? Continua dando aula, não deixou mais o magistério?
R – Nesse paralelo eu era estudante da UnB e professor da Fundação Educacional. As duras penas eu conseguia fazer as duas coisas, porque incialmente trabalhava só um turno, depois eu casei e tinha que trabalhar mais de um turno. A UnB naquela época não tinha curso noturno, só tinha curso pela manhã, nem a tarde, não tinha, alguns cursos já tinham na parte da tarde, mas a minha aula era de manhã. Então eu estudava de manhã na UnB e dava aula a tarde e à noite, isso durante um bom tempo.
18:23
P/1 – O senhor participou da fundação da Associação dos Professores de Brasília?
R – Aí tem um outro parêntesis, em 1973, na verdade em 72, já foi em dezembro de 72, por eu pertencer ao Partido Comunista Brasileiro, na época estudante da UnB, eu fui demitido, fui preso e demitido como todo o pessoal daquela época, que era da esquerda, tinha vários grupos de esquerda, muitos colegas meus foram presos, morreram e tal. E eu nessa época perdi o emprego da Fundação Educacional, fui mandado embora, demitido. E aí eu tive que fazer outros bicos por aí para poder sobreviver, até na anistia, quando eu voltei novamente.
19:30
P/1 - E essa militância começou como, como é que se deu a sua aproximação com o movimento?
R – Essa militância começou com a Juventude Comunista, lá em Goiânia ainda, em 67 que eu passei na universidade lá, eu já tinha conhecido um grupo de jovens, rapazes, lembra da história do DCE que eu te contei né? Aí eu já conheci alguns caras, lá do DCE, colegas também de classe, de turma, e aí eu conheci um companheiro que ele era da Juventude Comunista lá de Goiânia, e lá eu dei os meus primeiros passos. Depois eu e esse amigo nosso, nós viemos para Brasília, porque a gente queria estudar numa universidade com mais recursos, professores melhores e tal. E nós viemos juntos para cá, só que ele pegou o [decreto-lei] 477, numa invasão lá na UnB e eu como era secretário da base, eu ficava mais recuado, não tomava essas linhas de frente, por causa de segurança, e ele pegou o 477 foi embora, as últimas vezes que eu ouvi notícia dele, ele tinha ido para São Paulo, e era professor lá em São Paulo inclusive, acabou o curso dele lá, ele fez a PUC, eu não sei exatamente os detalhes, porque eu perdi o contato com ele, nunca mais nós nos vimos mais, não sei nem onde ele anda mais.
21:10
P/1 - Em Brasília o senhor manteve esse contato orgânico com o partido?
R – Sim, sim, mesmo depois de preso, eu cumpri um ano de prisão, e aí mantive inclusive na Fundação do Sindicato. Você me perguntou da Associação... Na época da Associação eu não podia participar, porque eu era queimado, corria-se o risco de usar isso para intervir na Associação. Aí eu ficava por fora, minha esposa na época ajudava lá também, e alguns amigos que eu conhecia e a gente conversava, mas sem eu ter uma participação efetiva, apenas como observador, e eu nem dava aula nessa época também, porque eu estava impedido de dar aula em qualquer lugar.
22:19
P/1 - Depois que a associação foi formada, ela foi reconhecida como sindicato e logo após esse reconhecimento, meses depois o sindicato sofre uma intervenção, por conta de uma greve. O senhor estava próximo do sindicato nessa época?
R – Não, eu nessa época eu ainda estava na fase de ex-preso político, eu já tinha saído da prisão. Mas aí eu participei, ia no grupo, ia nas reuniões do pessoal, mas ficava caladinho lá, sentado, só observando, para fazer também alguns relatos para o Partidão na época. Mas sem a participação efetiva, de fazer discurso, de subir e pedir a palavra. Algumas vezes, por algumas coisas, até os meus colegas mesmo por saber que eu estava lá, me perguntavam assim, mas eu participava meio de surdina. E o Olímpio que também foi preso político, que eu fiquei conhecendo, um dos fundadores da Associação, ele batia muito papo comigo, a gente trocava algumas ideias, ele mais ou menos sabia da minha situação.
23:38
P/1 - Eu queria que o senhor falasse um pouco do Olímpio Gonçalves Mendes, quem era essa pessoa? Como é que ele era? Como era conviver com ele?
R – Quando eu conheci o Olímpio, o que eu pude saber assim dele, porque nós ainda estávamos na fase da ditadura e você sabe como é que era a repressão, ninguém se abria demais para um para o outro, você falava aquilo que era conveniente para você. Eu sei que ele participou de um grupo desses de contestação à ditadura, não chegou a ser o pessoal da luta armada, era uma luta política, mas eu não sei exatamente qual era o grupo, se era da AP, eu sei que ele não era trotskista, mas era o pessoal ligado a AP, ou alguma coisa de dissidente do PCdoB, que já existiam algumas dissidências naquela época. Então ele participou disso, ele inclusive foi até preso, mas ele só passou por uma fase de interrogado e logo, logo, soltaram, ele não foi condenado na Justiça Militar como foi meu caso.
25:02
P/1 – E a pessoa do Olímpio, ele enquanto pessoa, o senhor podia descrever?
R - Eu só tenho para dizer do Olímpio referências boas para dizer dele, eu sei que ele teve um drama muito grande na vida, porque a esposa dele, que também militava junto com ele, não sei porque motivo, e até hoje eu também não me interessei, ela teve um fim trágico, não sei se tem relatos aí, ela era inclusive irmã da Lúcia Carvalho que também depois vem a participar do sindicato, ela acha que se suicidou, qualquer coisa. E aí desbaratou muito a vida do Olímpico como militante, mas ele continuou na frente do grupo que montou a Associação. E na época que houve aquela famosa, a greve, que no meu entender foi à primeira greve na época da ditadura, porque ela foi anterior aquela greve dos Metalúrgicos do ABC. E aí ele, o Olímpio, o professor Marcio Baiochi e a professora Evelyn Fracari, foram demitidos da Fundação, então ele não tinha nem como mais participar da associação, e quando já houve a intervenção daquele grupo lá dos três, do triunvirato, porque o ministro da época, o ministro do Trabalho, ele já tinha uma carta pedindo a passagem de associação civil para associação pré-sindical, aí ele deu a carta sindical e fizeram essa intervenção com esse triunvirato lá. Aí o Olímpio já não tinha como participar mais, foi aí que nós pegamos o grupo da associação que tinha sobrado e montamos uma chapa para concorrer à eleição, quando foi deflagrada a eleição. Essa história, ela minuciosamente contada, ela é bem ampla, eu não sei se valeria a pena, se vocês têm interesse.
27:29
P/1 - Claro que temos interesse professor!
R – É, então é o seguinte: nessa greve se criou o pano de fundo para a gente fazer um trabalho político, tanto do partido, do meu partido [PC], eu era o único da chapa que tinha uma militância política de esquerda, os outros eram todos professores progressistas e tal, mas que estavam lutando só pela causa mesmo do salário e da profissão. Mas pessoas que tinham uma visão antiditadura, pelo menos, todos eram antiditadura. E aí foi possível a gente montar um grupo e começar a intercambiar ideias e montar essa chapa. Foi uma coisa difícil. E nós contamos com a dissidência dentro da ditadura também, porque havia, eu não lembro mais o nome dele, eu teria que estar com o histórico aqui na mão para poder a memória me ajudar, mas havia o diretor daqueles órgãos que existiam do ministério em cada cidade, em cada estado, que era, agora vai ser difícil eu lembrar esse nome assim.
29:12
P/1 – Delegacia Regional?
R – Isso, Delegacia Regional do Trabalho. O delegado daqui, era do grupo do Sarney, era indicação do Sarney, e o ministro era gaúcho, aí havia aquela brigazinha de dentro da ditadura lá para o cargo. E esse cara para poder sacanear o ministro, ele deu todo o apoio para nós, contra a junta interventiva, a junta tinha um nome mais técnico, mas eu não estou lembrando agora.
29:50
P/1 – Junta Governativa.
R – Isso, Junta Governativa. Aí o ministro apoiava essa junta e eles eram contra, por exemplo, meu caso, que eu tenho plena certeza, eu fui à Polícia Federal e ao SNI, provavelmente também. Queriam impugnar a minha candidatura à chapa, e ele segurou a barra, ele é a turma do Sarney, então foi uma coisa assim importante para a gente para poder deflagar isso. Aí nesse meio tempo já tinha vários grupos de esquerda, trotskistas, antitrotskistas e tal, estudantes da UnB também, que davam aula, muitos davam aula também, aí começamos a criar o grupo para fortalecer e criar essa chapa, e torná-la mais eclética possível. E fizemos essa chapa e concorremos com a chapa da junta, e ganhamos disparado. E com um grande apoio, muitos, muitos, votaram e a gente conseguiu fazer muita gente ser sócio também nesse tempo, tanto da associação, quanto depois transformado para o sindicato, todos os que eram associados da Associação puderam votar nessa eleição, mesmo ainda não sendo sócio do sindicato propriamente, porque era uma passagem né. E a junta nunca fez nada para aumentar a quantidade de sócios do sindicato. Praticamente começamos do zero, começou do zero, a nossa chapa foi aqui deu vida ao Sindicato mesmo. Esse é o detalhe antes da eleição, depois da eleição.
31:58
P/1 – Mas na eleição seguinte o senhor também participou da chapa que foi eleita não é isso?
R – Sim, o mandato era de 3 anos, então no fim do terceiro ano nós já fizemos outra eleição e nós concorremos, quase todos novamente, trocou um ali, outro aqui, mas a maioria continuou. Eu na época da primeira eu era o secretário, na segunda eu fui vice-presidente e acabei no fim sendo presidente, porque o Libério, que era o nosso presidente, ele quis candidatar a deputado por Brasília, já havia eleição em Brasília. Foi um pacto que nós tínhamos feito que ninguém ia misturar o sindicato com o partidos políticos já existente na época, o MDB, a Arena, ninguém podia participar desses partidos políticos. Então a condição foi essa, e o Libério para poder se candidatar ele teve que renunciar à presidência. E eu acabei assumindo como vice. Aí já estava Nova República, aí a coisa já estava bem mais aberta.
33:17
P/1 – Mas o senhor nesse momento era filiado a um partido político também, embora clandestino.
R – Sim, e nessa época, o próprio PCB já estava numa fase bem crítica. E aí eu já não estava mais no PCB, porque quando o pessoal do Roberto Freire e companhia limitada, já tinham inventado aquele tal de Pepsi Cola lá, que a gente chama de Pepsi Cola, PPS que é um troço horrível, eu fiquei fora desse, já na época a gente tinha militante, nós tivemos aquele congresso lá da Praia Grande, que foi o CONCLAT, acho que ele teve o nome de CONCLAT, primeiro CONCLAT, que estava todo mundo já, o PT já estava bem evoluído naquela época, o Lula era o grande líder e nós fomos para aquele congresso já rachado, e o nosso grupo ficou chamado de “prestistas” na época, contra o pessoal do Roberto Freire e companhia limitada. Mas aí aqui tínhamos também o Augusto Carvalho, que inclusive foi companheiro nosso na época e depois ele passou para o lado desse racha aí, ficou com o pessoal do tal do Coutinho, e tinha aquela dissidência dele lá, praticamente de direita e depois juntou, ouve um racha dentro do Partidão, o Prestes foi até expulso e tal. Aí depois, dentro disso aí teve um outro, que nós acabamos montando o grupo do Gregório Bezerra. E aí eu já não tinha militância do partido mais, eu já estava fora desde essa época do Ministro da Nova República, praticamente.
35:31
P/1 - Depois das chapas que o senhor compôs, ajudou a compor, o senhor continuou vinculado ao SINPRO? E que tipo de mobilização o senhor fazia a época?
R - Eu apoiei várias chapas, mas aqui não tinha assim, grandes forças políticas nossa, como comunista, tinha alguns membros, a gente infiltrava um ou outro cara, mas assim, não houve mais aquela militância. E o próprio movimento de esquerda teve uma queda muito grande, enfraqueceu muito, muitos rompimentos. E a minha militância também diminuiu muito aí nesse período, aí eu fiquei somente como professor mesmo e não participei mais da luta sindical. Eu ia nas reuniões, nas assembleias, mas assim, não tinha mais aquele parte ativa.
36:44
P/1 – O senhor permaneceu no magistério até quando?
R - A minha aposentadoria foi em 1996, aí eu parei a militância de escola também, fui cuidar de outras coisas da vida, e aí me afastei totalmente da luta sindical. Ia a algumas assembleias, tinha muitos amigos que continuavam na militância, e eu ia com o apoio deles. Participei de várias reuniões do PCB, mas mais como ouvinte do que propriamente como militante e também ao ver algumas dissidência. Houve também um movimento para criar nova central sindical, que eu participei, inclusive em oposição, não que eu fosse a favor da CUT também, mas eu achava que não era o caso criar outra CUT, era o fato de tomar a CUT e não entregar como acabou, e aí é uma dissidência que eu nunca fui petista, apesar de ter boa convivência e bom armistício com eles, eu era amigo de muitos deles, mas nunca concordei com a forma como eles levaram a luta, principalmente quando resolveram entrar para a luta política de Presidente. Porque aí eu já vi uma dissidência e ela só foi crescendo, e aí dentro do PT, eu não vou entrar nesse detalhe, até porque eu não sei muitos detalhes. Mas a gente sabe que havia os grupos trotskistas que entraram para o PT, que era o pessoal de militância mais de esquerda dentro do PT e que gradativamente foi chutado. Aí vem a Convergência Socialista, veio PCBR, essas coisas que todo mundo é conhecido hoje aí, quem tem alguma militância política sabe disso. Mas eu sempre tive olhando e longe daquilo, nunca entrei nessa questão aí, eu apoiei vários candidatos a deputado distrital e alguns até do PT, alguns eu fiz militância política por eles mesmo, mas assim, pela amizade as pessoas, não pelo partido.
40:06
P/1 – Com essa sua história toda na luta sindical, que avaliação o senhor faz hoje do papel do SINPRO?
R – No momento eu não posso falar muito, por esse momento, porque essa pandemia realmente atingiu todo o processo político, mas anterior a isso, mesmo eu votando, eu votei nessa chapa que é atual diretoria, mas eu tenho vários senões contra eles. Primeiro, transformar o sindicato num braço do PT, o que é um grande erro, porque quem não era petista começou a se afastar da luta sindical, criou-se um gueto de petistas, apesar de o PT também não ser algo monolítico, existe muito racha lá dentro, mas aquilo ali, sectarizou muito a questão e a luta sindical perdeu o sentido, inclusive com a coisa da CUT também ter virado braço do PT e apoiadores do governo Lula e tal, não havia críticas nem nada. Isso aí foi para mim a grande decepção, inclusive alguns senões que eu tenho, muito grave contra ele, a começar até pela deturpação histórica do próprio sindicato. Para você ter uma ideia, quando nós fizemos 25 anos de sindicato houve uma comemoração e o Olímpio, que ele estava vivo, hoje já faleceu infelizmente, ele estava vivo e estava lá, e nem tinha sido convidado, estava lá e não foi convidado para a mesa. O Olímpio foi um cara que tem que ser respeitado por tudo que ele fez na luta pelo sindicato, é um cara que não podia ter ficado de fora. E pessoas que eram contra, porque na época que nós fundamos o sindicato, tinha um grupo de esquerdinhas, que chamava a gente de pelego, que aquilo ali era atrelar a ditadura, aquelas conversas, que não sei se vale a pena colocar aqui, porque já é histórico, chamar de peleguismo e achar que iam fazer grandes revoluções de radicalismo, anti, e acabou que depois eles acabaram entrando na nossa, e viram que nós fizemos, criamos sindicato que eu mesmo me surpreendi pelo que nós fizemos, que não foi pouca coisa. Nós criamos uma sede do sindicato no centro de Brasília, a pouco mais de 100 metros da Rodoviária que é o central de Brasília. Nós compramos uma sede ali, e pagamos ela, foi financiada pela Caixa. Nós compramos uma chácara, que hoje é um uma área de lazer e até de reeducação política lá do sindicato. Nós conseguimos convocar na época mais de 8.000 sócios, pagantes. E naquela época nós tínhamos um detalhe: como era tudo celetista em Brasília, os professores da UnB eram do sindicato, os professores das escolas particulares eram do sindicato e os professores da rede pública eram do sindicato, então o nosso sindicato era altamente abrangente. Eu participei de muitas lutas com o pessoal da ADUnB [Associação dos Docentes da UnB] lá na UnB, inclusive colocamos o Garrafa na nossa chapa para poder o reitor, que na época era o Azevedo, que ia demiti-lo, ele não foi demitido porque ele era da nossa chapa do sindicato e várias coisas que nós fizemos que atingimos uma área imensa. A escola particular, nós fizemos uma greve na escola particular, que o diretor lá, inclusive muitos eram ex colegas meus de dar aula, porque eu dei aula em cursinho aí no começo de Brasília, quando eu estava num misere danado, e conhecia vários deles, alguns eram, eram não são meus amigos até hoje, como o caso do Aloísio, por exemplo, foi presidente do Sindicato das escolas particulares, nós fizemos uma greve na escola particular, que eu acho que ninguém nunca fez no Brasil, porque na escola particular eu nunca ouvi falar nenhuma que fazia greve. Então que dizer, a gente conseguiu vários avanços assim, que apagou aquela história babaca deles lá de pelego, é verdade que a maioria dos companheiros nossos de sindicato, eles não tinham vínculos com os grupos de esquerda, mas eram pessoas progressistas como demostraram ser, e fizemos coisas. Eu vou dizer uma coisa aqui que historicamente eu fui saber depois, nós fomos o primeiro sindicato no Brasil que usamos a televisão comercial, para convocar assembleias, a gente pagava comercial na TV, convocando o pessoal para ir para Assembleia, foi o primeiro sindicato do Brasil que fez isso, para você ver como era politicamente correto o nosso sindicado. A gente enfrentou a ditadura, enfrentamos Newton Cruz, fizemos panelaço, praticamente fizemos união com outro sindicato, dos bancários, dos comerciários e outros sindicatos menores, até sindicato dos psicólogos, dos médicos, que é a Maninha, dos jornalistas, do Hélio Doyle, foi tudo companheiro nosso também na época da UnB, companheiro eu digo de luta estudantil, não de facção política. A gente até tinha oposições, mas nesse ponto a gente se juntava para fazer essa luta e depois fomos fazer a mesma coisa no sindical, o jornalista, os bancários e várias outras áreas, inclusive a OAB nós tínhamos bastantes pessoas lá que acabamos ganhando, na época do Maurício Corrêa que ele era o presidente da OAB aqui em Brasília, nós tínhamos o apoio todinho, da Associação Comercial com o Lindberg Cury, que foi um cara espetacular para o avanço progressivo de Brasília, inclusive para representação política. O nosso sindicato foi à primeira assembleia constituinte de Brasília para criar a representação política, transformar Brasília, deixar de ser município para ser um estado. Os primeiros Senadores, Pompeu de Souza e tal, eram pessoas ligadas a gente, nós tínhamos toda a força lá.
47:50
P/1 – Professor, vamos imaginar uma situação hipotética que é o seguinte: estão distantes do senhor um rapaz e uma moça que resolveram serem professores, o que o senhor diria para eles?
R – Hoje tem duas coisas na história de professor que eu gostaria de colocar aí, não sei se vai ser tão ligada a questão sindical, mas é muito ligada à profissão de professor, as escolas formadoras de professores, os cursos formadores de professores no Brasil inteiro são muito fracos, em Brasília por incrível que pareça, foi onde teve mais avanço nisso aí, a UnB, a Faculdade de Educação da UnB é muito boa, mas isso agora, mais recente, porque na época da ditadura aquilo lá era um cabide de emprego, que os bons professores foram todos mandados embora. Quando eu terminei meu curso de sociologia na UnB era uma vergonha, só tinha porcaria lá dentro, alguns professores, que nós não podemos generalizar, alguns sobreviventes ainda ficaram lá, que salvava o curso, por exemplo, eu fiz um curso de sociologia na UnB que não me serviu de nada, mas eu fiz um curso de monitoria que valeu muito, foi o melhor curso que eu tive na UnB, foi o que eu fiz para a monitoria, eu infelizmente esqueci o nome da minha professora agora, hoje já deve tá aposentada, mas ela passou no concurso para ser assessora do Senado, mas era um excelente, o resto. E as faculdades de Educação naquela época da ditadura eram terríveis, ai com a Nova República.
51:07
P/1 – Um jovem ou para uma jovem que decidissem serem professores
R – Eu estava falando das faculdades de educação, que casualmente a de Brasília passou a ser uma das melhores faculdades de educação, com um corpo docente muito bom, inclusive a professora Eva Waisros, que é esposa de um amigão nosso, que também ajudou no sindicato, mas ele era advogado trabalhista, era não, é, que é o Zé Oscar, e dessa parte da Faculdade de educação a melhoria foi muito grande. Então hoje os professores, os jovens que vão ser formar para serem professores, fazer a licenciatura para poder ser professor, aqui em Brasília eles tem um apoio muito bom, uma formação muito boa. Mas aqui é aquele caso, que Brasília é quase que uma ilha nesse caso, tanto para o magistério como profissão, porque o nosso salário é muito melhor do que todos os outros do Brasil, e isso também foi uma grande conquista nossa, do nosso sindicato. Então aqui vale a pena ser professora ainda, ainda, não sei até quando, mas aí eu digo, se a pessoa tem vocação e gosta, e quer ser professor, aí eu aconselho que ele se prepare na Universidade de Brasília para serem professores, não faça o mesmo para todas as outras faculdades existentes aqui em Brasília e em outros lugares do Brasil. Eu posso estar cometendo alguma precipitação em colocá-las todas no mesmo saco, não sei se existem outras faculdades de educação fora de Brasília que estão com o nível da de Brasília.
53:53
P/1 – Professor, sem lhe pedir nenhuma bola de cristal, mas como o senhor avalia o futuro da educação no Brasil?
R – Olha, o futuro da educação do Brasil está ligado diretamente ao futuro do Brasil, que é uma coisa que você, até no momento eu acho tremendamente obscuro, e complicado, ainda mais agora, nesse momento que nós estamos passando, não só da, porque a própria pandemia nos tirou o norte da vida, você não pode fazer grandes especulações de futuro, se você nem sabe se você vai conseguir passar por essa pandemia terrível que tá aí, principalmente nós que já passamos dos 77, como é o meu caso, você tem que ficar no resguardo total, numa quarentena absoluta, tem mais de dois anos que eu estou nessa quarentena, e não vejo horizontes, e não sei como é que vai ser essa passagem aí do Bolsonaro, que eu espero que termine no fim do governo dele, pelo menos, se não houver algum golpe antes. Mas eu não vejo assim no momento com bons olhos o futuro, nem do Brasil e muito menos da educação que sempre foi objeto de segundo plano, em todos os governos que eu vivi desde eu ter consciência da vida, lá pelos anos 50, foi fim da ditadura getuliana, começo de Dutra e aquelas coisas por aí. Que a educação era sempre um motivo de discurso, mais nunca de atitudes.
56:04
P/1 – Vamos voltar um pouquinho para o plano pessoal, o senhor é casado? Tem filhos?
R - A minha primeira esposa, ela faleceu em 1985, ela teve um câncer terrível, foi fulminantes, e com ela eu tive três filhos, inclusive o meu mais velho é professor até hoje, os outros não quiseram ser professor não. E a minha segunda esposa que também é professora, já aposentada, eu tenho uma filha também com ela.
57:47
P/1 – Professor, eu acho que o senhor respondeu tudo, contou histórias boas, eu já estou razoavelmente satisfeito, eu queria saber se tem alguma coisa, algum assunto, algum tema, que o senhor gostaria de ter dito e não disse, por eu não ter estimulado o senhor a dizer?
R – Bom, tem muita coisa para dizer, eu nunca fui professor de história pelo incrível que pareça, mas eu adoro a história, e não era professor de história, porque na ditadura, geografia já era difícil você falar, mas história era praticamente impossível, você tinha que ficar dando aula de história de carochinha e eu não parti para essa ai, preferi continuar com geografia. E depois, por incrível que pareça, as coisas da educação no Brasil, com o advento da democratização no país, foi criado às matérias de sociologia e filosofia, eu como disse para você, não sou licenciado em sociologia, mas eu sou bacharel de sociologia pela UnB. E quando eu cheguei na escola, numa escola de segundo grau aqui de Brasília, os alunos não tinham aula nem de sociologia e nem de filosofia, porque não tinham professor, e a diretora quase arrancando o cabelo, inclusive, concidentemente ela era, católica, militante de igreja católica, mas era do PT, foi inclusive candidata a vice-governadora aqui em Brasília pelo PT, a Katia, e ela estava maluca, não sabia o que fazer, eu falei: olha Katia, eu não tenho licenciatura nem em filosófica e nem em sociologia, mas se você disse que os alunos estão sem aula. E era uma aula por semana para cada turma, então era uma coisa só para dizer que tinha, ela: vem dá aula pra mim e tal. Aí eu comecei uma nova carreira na minha vida de professor, deixei a geografia de lado e fui dar aula de sociologia e filosofia. Não tinha programa, não tinha livros, não tinha nada, nem apostila nem nada, era terrível, você ai contar história parra os meninos na sala, conversar sobre o que era uma sociologia e ai aproveitava e colocava um pouco de sociologia politica para eles, filosofia, alguma coisa mais na abertura do conhecimento, mas assim uma coisa, eu mesmo como aluno me reprovaria como professor (risos), mas foi um quebra galho.
1:00:46
P/1 – Como é que o senhor se sentiu participando dessa entrevista, como é que foi essa experiência para o senhor?
R – Ah eu acho ótimo, porque nós estamos falando de história, a minha história e uma historieta, não é nem uma história assim, mas eu estava vendo outro dia, conversando ai, vendo aqueles programas que eles fazem sobre Brasília. E eu como participante, como vivente em Brasília, eu tenho 50 e tanto anos de Brasília, estou aqui desde 67, então eu participei de uma história imensa, criação da Ceilândia, está fazendo 50 anos agora, eu me lembro perfeitamente quando foi criada a Ceilândia, eu dava aula no núcleo Bandeirantes, meus alunos foram levados para a Ceilândia, os alunos que estudavam comigo no núcleo Bandeirantes foram ser os primeiros moradores da Ceilândia. Então eu participei dessas histórias. A criação da politica em Brasília, Brasília era uma cidade que não tinha, os prefeitos eram nomeados, não tinha uma assembleia legislativa, que alias foi terrível, foi pior que, no rio tinha uma que chamavam lá de gaiola não sei das quantas lá, e a daqui não sei o que dizer, porque é péssima, a esquerda nunca conseguiu eleger um ou outro deputado lá, mas não durou muito tempo, e nós não conseguimos fazer nada com isso aí. Mas participei ativamente dessa fase da construção de Brasília, a parte política de Brasília, do sindicato que para mim foi a grande honra que eu tenho pessoal, de ter podido fazer alguma coisa politicamente, porque na época que eu fiz a minha militância de esquerda, a gente fazia era fugir da polícia, não conseguia fazer nada, não criamos muita coisa. E o nosso grupo, teve assim uma participação excelente, porque foi o Doutor José Oscar, como eu te falei, que era advogado do nosso sindicato, Professor Fábio Bruno, que acabou sendo secretário de educação na época da Nova República, era amigo do Zé Aparecido e do Pompeu, e nós começamos a esse movimento aí em favor da associação e do sindicato. O Fábio Bruno, inclusive foi o presidente da primeira Associação de Professores lá antes de 60, logo no começo de Brasília, o pessoal do CASEB, a primeira Associação de Professores o Fábio Bruno era o presidente, então ele mesmo nunca sendo candidato a nada dentro do sindicato, mas ele foi um dos caras que nos ajudou muito, muito, por sua experiência e com seu carisma, que ele quando fazia um discurso, ele era imbatível, então ajudou muita gente, mesmo depois como secretário também, e acabou dando assim algumas grandes colheres de chá para a categoria, e para o sindicato também, ajudou muitos o sindicato.
1:04:27
P/1 – Muito bem professor! Para encerrar eu queria que o senhor dissesse para nós, quais são os seus sonhos?
R – Agora? Bom, eu vou dizer a vocês, nunca deixei de ser comunista, mesmo não tendo mais partido, porque os partidos comunistas infelizmente, o PCdoB foi por uma linha que eu jamais iria, é uma social democracia meio, sei lá, eu não vou entrar em detalhes, o Partidão perdeu muito, agora que está aparecendo uma garotada aí, parece que está começando a crescer novamente, vamos fazer forças que cresça. E evidentemente que o meu sonho, é que esse país, e esse mundo, virassem socialista, é um sonho ainda meio, quase que delirante, é uma utopia que eu gosto de cultivar.
1:05:34
P/1 – Professor, muito obrigado! Pelo seu tempo, pelas histórias que o senhor contou, pode ter certeza que foi muito rico esse depoimento. Só tenho a agradecer o senhor essa disponibilidade, seu tempo, enfim, para falar conosco. Muito obrigado!