Entrevista de Jacy Braga
Entrevistado por Luiz Egypto
31/03/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV017
Transcrito por Aponte
Revisado por Luiz Egypto
0:00
P/1 – Por favor, professor eu queria que você começasse dizendo, o seu nome completo, o local e a data do seu nascim...Continuar leitura
Entrevista de Jacy Braga
Entrevistado por Luiz Egypto
31/03/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV017
Transcrito por Aponte
Revisado por Luiz Egypto
0:00
P/1 – Por favor, professor eu queria que você começasse dizendo, o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Bom dia Luiz! O meu nome completo é Jacy Braga Rodrigues, nasci em 16 de maio de 1961, em Taguatinga, Brasília, aqui na capital brasileira.
0:28
P/1 – Qual é a sua ocupação atual professor?
R - Eu sou professor aqui no Distrito Federal e atualmente dirijo uma escola do ensino médio na Asa Sul aqui na capital Brasília.
0:53
P/1 – O nome dos seus pais, por favor?
R – Meu pai era Jacy Braga de Mattos, minha mãe Dercia Rodrigues Braga, ambos já falecidos. Eram pioneiros do Distrito Federal, meus pais chegaram aqui final dos anos 50, 1959 para 1960
1:18
P/1 – Qual era a atividade dos seus pais?
R - Meu pai era comerciante, ele chegou como eletricista da Companhia Construtora Nacional, na construção do que é hoje o Congresso Nacional, mas pouco tempo depois ele partiu para o comércio e foi comerciante a vida toda em Brasília.
1:46
P/1 – Ele veio de onde para Brasília nessa época?
R – Meus pais vieram ambos de Goiânia, mas meu pai já tinha ido de Minas Gerais para o Rio e do Rio para Goiânia, de Goiânia para Brasília. Meu pai é mineiro e minha mãe é goiana de Morrinhos, ali próximo a Caldas Novas, em Goiás.
2:11
P/1 - O senhor tem irmãos?
R – Somos cinco filhos, tenho quatro irmãos, sou o mais velho, todos já ultrapassaram os 50 anos, mas todos nascidos no Distrito Federal.
2:31
P/1 – O senhor conheceu seus avós?
R – Eu conheci apenas as minhas avós maternas, com quem eu tive um convívio até quase a adolescência, faixa de 10 a 12 anos de idade, mas os meus avôs eu não cheguei a conhecer.
2:54
P/1 – O senhor pelo menos sabe o nome deles?
R – Vamos lá, o meu avô paterno era Floro Humberto, a minha avó paterna era Nair, a minha avô materna era Rosalina de Jesus e o meu avô materno era Francisco, os nomes completos eu não me lembro.
3:26
P/1 - Na sua família havia histórias sobre os seus avós? De onde eles eram, de onde vieram? Contava-se coisas sobre os seus avôs?
R – Só história oral, contava-se algumas coisas, muito pouco. A minha avó materna era descendente indígena, casada com um descente de português, que era meu avô, que foi um dos primeiros casamentos civis, em torno de 1904, 1905. Eu tenho primos com mais de 100 anos, primos esperando 100 anos ainda vivos. Da minha avó paterna tem poucas histórias, foi uma pessoa da roça, no interior de Minas, numa cidade chamada Mutum, na zona Contestado Mineiro, ali na divisa com o Espírito Santo, mas tenho poucas histórias sobre eles. O meu avô materno era uma pessoa de bastante engajamento, muita leitura, não era formado nem nada, mas era uma pessoa que gostava muito de ler, e segundo a minha mãe com umas tendências comunistas.
5:11
P/1 – Professor como é que era a sua casa de infância lá em Taguatinga?
R – Isso é uma boa pergunta. Nasci em Taguatinga logo após as primeiras remoções, como a gente chamava aqui, da Vila IAPI, o que a gente conhece como favela, as pessoas que moram aqui em Brasília conhecem como favela, nós aqui nos conhecemos como Barrão, então uma área próxima à Cidade Livre e ao núcleo Bandeirantes, uma cidade pioneira em Brasília, onde moravam os trabalhadores, os candangos e eram constantemente removidos dessa área de invasões para novas, o que eram as novas cidades, principalmente o Gama, Taguatinga e Sobradinho. Então nós fomos removidos para o que hoje é Taguatinga, minha mãe já estava grávida, e nasci nesse barraco lá, onde hoje a gente conhece como Mercado Norte no centro de Taguatinga. E minha casa de infância foi junto ao comércio do meu pai no centro da cidade. Depois eles conseguiram vender lá e comprar um lote comercial, onde vivemos a vida praticamente toda nessa área, até me formar, me casar. Então foi infância, adolescência, juventude, até a vida adulta nesse mesmo lugar. Era uma casa bastante simples, conjugada com uma oficina elétrica de automóveis do meu pai, e a loja de autopeças que ele tinha em Taguatinga.
6:51
P/1 – As crianças, você, os irmãos tinham obrigações que a sua mãe passava para os filhos, tinham tarefas domesticas a cumprir?
R – A gente brinca na família, minha mãe tentou cinco vezes ter uma filha, e só veio filhos, filhos homens, somos cinco rapazes. Os cinco tiveram que aprender os afazeres de casa, todos compartilhavam, aprendemos a cozinhar, lavar, passar, somos prendados, porque minha mãe tinha a necessidade da ajuda, porque a casa era muito grande, bastante cheia de parentes. Uma boa lembrança que a gente tem da mãe, lavar, passar, temos aprendido com ela, é uma boa lembrança que temos dela. Os afazeres eram divididos com os homens, já que ela não tinha nenhuma filha mulher. A minha mãe era de uma família extremamente tradicional onde as mulheres iam para a cozinha e os homens para a roça, mas no nosso caso a gente foi para a cozinha também.
8:08
P/1 – E como é que a criançada se divertia na época, como é que eram as brincadeiras de vocês?
R – As brincadeiras da nossa infância, completamente diferente
tem nada a ver, então as nossas brincadeiras eram no período da construção de Brasília, era nas obras de Brasília, de Taguatinga, o barro vermelho da cidade, que é aqui é bem característico de Brasília. As brincadeiras nossas era futebol com certeza, finca, bolinha de gude, eram as brincadeiras tradicionais que a gente já não vê, a gente tinha em função das brincadeiras a obrigação de viver em comunidade, junto com os outros colegas, meninos da nossa rua, das nossas quadras e brincávamos até nove, dez horas da noite, até os pais botarem a gente dentro de casa para dormir. Mas eram brincadeiras sadias, no começo de Brasília não tinha aquelas coisas que eram consideras mais modernas, as brincadeiras, os brinquedos mais modernos não tinham, demoravam muito para chegar aqui na capital. Eu nos anos 70 eu tinha 10 anos de idade, quando foi a Copa de 70 inclusive eu tinha 10 anos, me lembro muito da Copa. Televisão era uma coisa rara, televisão você não assistia, primeiro que era muito caro ligar a televisão, a energia da época, depois ela demorava muito para ligar, porque ela tinha que aquecer. Então menino não tinha negócio com televisão, a gente brincava mesmo. Televisão era para o futebol, para o jornal e para a novela, para os pais e para a vizinhança, porque a única televisão numa quadra que tinha 20 vizinhos morando era uma única televisão, então nas janelas os vizinhos iam ver as novelas, os jornais, levavam os filhos, a gente se juntava e ia brincar de futebol, boneca, era o que tinha, que nos apetecia naquele momento era brincar. Então foi uma infância bastante proveitosa nesse ponto de vista, essa coisa de não ter acesso a essas coisas novas, modernas.
10:45
P/1 – E a sua primeira escola professor, qual foi?
R – A minha primeira escola, naquele período do começo, final dos anos 60, 68, 69, por aí, praticamente não tínhamos escolas públicas, então a primeira escola foi uma escola ligada à igreja católica, no centro de Taguatinga, que hoje é um colégio, um colégio privado, mas na época chamava Escola Paroquial Coração de Maria, era uma escola de freiras que atendia ali os filhos da peãozada, praticamente todo mundo estudou naquela escola. Logo em seguida apareceu a primeira escola pública, a Escola Classe 17, que hoje coincidência minha neta estuda nessa escola, que é no centro de Taguatinga. Passei então todo o período em escola pública até entrar na universidade.
11:55
P/1 – Como é que se deu essa trajetória educacional, o que esse garoto queria ser quando crescesse?
R – Na fase da nossa adolescência a minha ideia era ser engenheiro elétrico, pouco pela influência da profissão do meu pai. Mas eu termino o ensino médio no Elefante Branco, uma escola pública. Fiz dois vestibulares, fiz um para Engenharia Elétrica, não passei, e fiz outro vestibular para Geologia e Geografia, passei para Geografia, ia ser geógrafo, não professor de Geografia, queria trabalhar na Petrobras, trabalhar com área científica da Geografia, mas acabei virando professor, não me arrependo, são 40 anos, esse ano eu comemoro 40 anos de magistério. Eu comecei a dar aula em 81 para 82, no final da minha faculdade já dava aulas. Não me arrependo, a minha trajetória profissional foi levada pela conjuntura daquele momento. Primeiro em não tinha condições de cursar, de fazer a Universidade de Brasília, uma universidade pública, até por conta de dinheiro, precisava trabalhar também, meus pais não tinham recursos, e acabou que fui me encontrar no magistério e não me arrependo jamais disso, foi uma escolha extremamente certa, casou com que era esperado.
13:49
P/1 – E como é que foi essa opção pela sala de aula, como foi o seu primeiro dia de aula?
R – No curso de Geografia eu parti logo para a licenciatura, logo em seguida começaram a aparecer algumas oportunidades, para professor de educação de jovens e adultos, naquela época chamava ensino supletivo, e eu peguei as minhas primeiras turmas em Taguatinga Norte, no noturno. Eu trabalhava durante o dia numa loja de parafusos, ferramentas, etc... E à noite eu dava aula duas vezes por semana para supletivo do primeiro grau, eram pessoas pré-alfabetizadas, semialfabetizadas, que precisavam completar o primeiro grau para procurar emprego. Ganhávamos muito mal, mas foi uma porta de entrada e a partir disso eu comecei a conhecer outras pessoas e acabei logo em seguida, por conta de dar aula para o supletivo numa escola pequena, depois fui para uma escola maior e a partir dali fui trabalhar com o ensino médio, como professor de cursinho preparatório para vestibular. Só em 1986 que eu entro na Secretária de Educação.
15:35
P/1 – E como é que o senhor se aproximou do SINPRO? Como é que se deu essa aproximação?
R – Bom, o SINPRO são vários momentos, primeiro na minha fase de adolescência, de ensino médio, o Sindicato dos Professores ajudava os movimentos sociais em Taguatinga, trabalhava com as questões culturais, muitas vezes a sede do SINPRO, não era o SINPRO ainda, Associação dos Professores aqui do Distrito Federal (APDF). Mais tarde em 79, na greve de 79 eu era um militante incipiente, mas militante da política, já militava de uma forma clandestina. Tinha os militantes do Partidão e a gente já tinha uma militância estudantil iniciada quando da greve de 1979, onde vários professores foram demitidos, já tínhamos ali uma nova aproximação no Sindicato. Depois como eu já militava politicamente, já tinha uma militância no movimento popular, na regularização de uma invasão em Taguatinga, isso com 16, 17 anos. A gente foi se aproximando dos sindicatos, o SINPRO em 79 ele já era sindicato, tinha carta sindical e essa aproximação veio por conta desses movimentos populares: ir nas reuniões do Sindicato para ver como funcionava, já tinha aí uma aproximação. Depois, como professor de escola particular, antes da Secretaria, o SINPRO ainda naquela época organizava a rede pública e a rede privada, então também teve algumas aproximações como professor na época das escolas particulares, antes de ter uma aproximação, digamos mais profissional depois da carreira no magistério a partir de 1986.
18:25
P/1 – Voltando um pouquinho atrás, como é que se deu essa vinculação a militância partidária? Como é que começou lá anteriormente a sua militância clandestina?
R – Eu falo clandestina porque a gente já estava ali nos estertores da ditadura. Já estávamos começando a viver a anistia. Mas mesmo assim a gente ainda viveu aí 1978, 79, 80, a gente ainda corria os perigos da ditadura, os aparatos militares e policiais eles ainda estavam muito voltados para isso. Então a gente acabava detido por alguma situação, ficava bastante complicado, mas nunca fomos enquadrados na Lei de Segurança Nacional, porque essas coisas estavam sendo um pouco mais dissuadidas. Mas a partir do movimento popular, da luta por moradia, de algumas populações no Distrito Federal, em Taguatinga, em Ceilândia, a gente acaba se envolvendo no movimento político, daí vem o partido vem o sindicato, o partido um pouco mais tarde, 83, 84, e o sindicato já vem essa ligação desde adolescência, mais inicial. Mas a militância política foi muito nas questões do movimento popular e da luta por moradia no Distrito Federal. Tínhamos muito engajamento, porque o Distrito Federal era uma cidade com muita invasão, muita favela e muita necessidade de regularização e isso acabava nos empurrando, apesar de eu não estar necessariamente no centro de moradia, mas a gente trabalhava com os movimentos populares ajudando nisso. Daí o envolvimento com o sindicato, com o partido, tive essa satisfação de conviver com bons companheiros no Partidão, que faziam um processo ainda clandestino, reunião com código para entrar, mas a gente já estava ali no finalzinho da ditadura 84, 85.
21:05
P/1 – Nessa época em 1979 quando é reconhecido como Sindicato foi sobre a liderança do Olímpio Gonçalves Mendes, o senhor o conheceu?
R – Conheci, ele o Libério, um ex professor meu, Aquiles, pessoas que a gente conhecia na comunidade, eles são um pouco mais velhos que a gente, um pouco não, bastante mais velho que a gente na militância, eles nos apoiavam, nos ajudavam nessas questões da militância politica, na necessidade de organização, com os espaços de reunião, a gente acabou conhecendo essas pessoas. Me lembro muito bem do Olímpio, bastante do Libério, Aquiles não, Aurélio Cristino, era o meu professor, foi meu professor e era diretor do sindicato, o professor Adolfo Cabral foi meu professor também, ele era professor de Matemática e era também militante da APDF, do sindicato naquele momento, isso eu acho que eles faziam parte da diretoria quando recebeu a carta sindical lá em 1979.
22:41
P/1 – No mesmo ano de 79 é convocada uma greve e subsequentemente o governo interveio no sindicato, né?
R – Exatamente
22:54
P/1 – E aí depois a junta governativa houve uma eleição em que o sindicato foi retomado, o senhor participou desse processo?
R – Não, nesse processo ainda não. Vou participar bem mais tarde, 84, 85, mas nesse processo de 79, 80 da junta governativa. A gente era militante do movimento estudantil, bastante incipiente, sabíamos o que estava acontecendo, mas não nos alcançava dessa forma, alcançava mais os líderes sindicais. Naquela época a própria APDF já tinha um movimento de oposição, liderado lá pela Lúcia Carvalho, Lúcia Iwanow, bom, outros companheiros que agora não sei se compete aqui. Já tinha uma liderança de oposição na categoria, inclusive oposição ao Olímpio, ao Libério, essa turma toda, inclusive teve se eu não me engano, esse processo da retomada da junta governativa. Alguns foram demitidos, Lúcia Iwanow foi demitida na greve de 79, o Márcio Baiocchi foi demitido na greve de 79. Eles eram as lideranças que não eram diretoria da PDF, não eram diretores do sindicato em 79, mas tinham um papel importante junto à categoria, como movimento de oposição e como liderança da base da categoria.
24:31
P/1 – E quando se dá sua inserção orgânica, digamos assim, na estrutura da direção do sindicato?
R – Entrei na carreira magistério em agosto de 1986, já vinha da militância, já conhecia algumas pessoas do sindicato, logo no ano seguinte eu já era delegado sindical na minha escola, em Ceilândia, já era delegado sindical daquela região e aí isso foi mais ou menos uma via natural. Quando foi 89 a gente disputa a eleição, em 85, ganha essa linha mais próxima a CUT hoje, o Partido dos Trabalhadores, ganha as eleições com a Lúcia Carvalho como presidente do Sindicato e m 85, por um mandato, em 89 seria a renovação desse mandato, aí eu já estava nessa chapa na área de assuntos educacionais, formando a diretoria de 89 a 92, são três anos de mandato. Então eu tinha entrando como professor magistério em 86, três anos depois eu já era diretor do sindicato em 89 a 92.
26:16
P/1 – Nessa época houve uma mudança estatutária que transformou a estrutura presidencialista da direção do sindicato num colegiado, como que se deu esse processo?
R – Quando a Lúcia Carvalho ganha a eleição como presidente do sindicato em 1985, na verdade é uma coincidência com grupos nossos que também não esperavam, não se esperava ganhar aquelas eleições. Eu era do grupo político da Lúcia Carvalho, do Antonio Lisboa, um grupo político chamado Vertente Socialista, que na CUT chamava CUT Pela Base, os amarelinhos, e nós defendíamos o colegiado, nós defendíamos as estruturas colegiadas para as organizações sindicais. Quando a gente se elegeu em 1989, claro que já tinha um processo ali, nós não somos todos cordeirinhos da mesma força política, então nós tínhamos várias forças políticas, cutistas, petistas dentro do Sindicato dos Professores. Então existia uma disputa, natural até, política, e aí fomos levados ao colegiado. Eu digo que nós mordemos a própria língua, morremos com o próprio veneno. Que foi a defesa pela petição que era a articulação, não defendiam abertamente o colegiado, mas passaram a defender, uma forma de não manter o presidente do sindicato
Mas a verdade é que essa estrutura passou a ser colegiada, a direção de 84 já é um direção colegiada, se não me engano com 9 secretárias, sem presidente, já não temos mais o presidente e a estrutura que praticamente está hoje. Claro que a estrutura vai se modernizando, criaram novas secretárias. Para se ter uma ideia, em 1989 não existia uma grande preocupação com a pessoa aposentada, criaram a secretária do aposentado que é importantíssima e outras que acabaram sendo estruturadas, hoje se eu não me engano agora são 13 secretárias, se eu não estiver muito desatualizado. Mas o colegiado foi isso, houve uma disputa política, nós defendíamos o colegiado por acreditar, por princípio político. Acabamos levando a essa estrutura não pelos princípios, mas pela necessidade política do momento, pela projeção, presidente se projeta muito mais, ficava muito difícil. Ganha o sindicato da estrutura anterior do Libério, do Olímpio e tal em 85, numa estrutura presidencialista, com destaque muito grande para uma pessoa que era a Lúcia Carvalho. Era necessário dar uma reviravolta e a reviravolta que foi dada política foi criar a estrutura colegiada, eu hoje tenho as minha críticas.
30:35
P/1 – Nesse período que o senhor está entre os diretores do sindicato, quais foram às mobilizações mais importantes que houve e quais o senhor destacaria?
R – No período de 89 até 94
até 1989, 90 nós tínhamos uma estrutura celetista, nós éramos trabalhadores celetistas, carteira assinada, não tínhamos o estatuto de servidor público. Então uma das mudanças, uma das conquistas, foi essa mudança de celetista para estatutário, o que nos possibilitou até um acordo coletivo. Nós éramos celetistas, regidos pela CLT, nós tínhamos tabelas salariais, um acordo coletivo que dava as regras, que seria uma carreira, mas nós não tínhamos uma carreira. Quando nos passamos ao estatuto, abriu-se então a possibilidade de termos uma carreira do magistério. Foi uma das discussões mais ricas nessa categoria, foi a discussão de 1989, a 1992, do estabelecimento e aprovação do plano de carreira. Foi uma discussão coordenada pela diretoria, mas a pessoa da professora Lúcia Iwanow foi fundamental, muito importante na coordenação desse trabalho e nós tivemos finalmente o primeiro plano de carreira. Que deu naquele momento, além de dar toda uma série de garantias funcionais, de carreira, também nos agregaram um reajuste muito grande de salário – se formos olhar ao longo da história, acho que um dos maiores. Conseguimos o estatuto, tivemos outras conquistas como os processos de remoção e replanejamento da carreira. matriz do plano de carreira, ela perdura até hoje, claro que vem se atualizando é uma conquista desse período. As outras conquistas foram a liberação do fundo de garantia de todo mundo, foi uma luta grande, porque como nós éramos celetistas até 90, passamos a estatutário, nós vimos até 89, 90 contribuindo para o fundo de garantia.
35:03
P/1 – Professor, depois de todas essas mobilizações, essas conquistas os governos cumpriram o prometido, cumpriram o pactuado?
R – Bom Luiz, aí nós tivemos vários momentos, tivemos momentos que tivemos que fazer greve pelo cumprimento do plano de carreira. Em 1990, 92, 93, em vários momentos tivemos mobilizações lideradas pelo sindicato na busca da garantia dessas conquistas. Era tabela de plano de carreira que não era paga, era gratificação que não era implementada. Então em vários momentos precisamos mobilizar pelas conquistas que tivemos naqueles períodos. O plano de carreira foi um desses, depois o fundo de garantia, depois a implementação das várias gratificações, como a gratificação de tempo integral. Tivemos várias outras conquistas depois, que foram trabalhadas pelo sindicato: a modernização da carreira ao longo desses períodos todos, as várias gestões dos governos, a busca de melhoria, a implementação da coordenação pedagógica, acho que uma das maiores conquistas depois do plano de carreira é espaço garantido na carga horária do professor para coordenação pedagógica. Talvez sejamos um dos únicos estados que tem isso garantido dessa forma, mas hoje o professor da área de atividades, da área alfabetização ele tem 30% da sua carga horária destinada para a coordenação. Então numa carga de 40 horas semanais, 12 horas ele pode se dedicar a coordenação pedagógica da área dele, em conjunto, em conjunto com a escola, com todas as partes, e da área das disciplinas específicas, fundamental I e II, no ensino médio, essa carga chega a quase 34% da carga horária do professor, destinada a coordenação. Isso é fundamental para várias coisas, temos uma carreira hoje das mais bem formadas no Brasil, não só a formação inicial de concurso, vamos dizer assim, como a todas as formações que o espaço da coordenação pode proporcionar, várias especializações, extensões. Depois o plano de carreira também dá essa perspectiva, porque você tem conjugado com a formação, com a coordenação, o plano de carreira ele te projeta no ponto de vista vertical pelo seu tempo de serviço e te projeta do ponto de vista de formação de forma horizontal. Então você entra numa tabela seca e vai agregando ali especializações, mestrado, doutorado, você caminha na carreira tanto de forma horizontal, como de forma vertical, por suas formações. E isso vem muito da exigência que a coordenação pedagógica acaba trazendo a qualificação.
38:43
P/1 – Muito bem professor! Eu queria aqui uma reflexão sua, sobre o seguinte: como se da o embate sindical, a luta sindical, quando está se tratando de governos aliados, digamos assim, como foi o caso do governo Cristovam Buarque de um lado e governo Agnelo Queiroz de outro, como é que se dá a luta sindical nesses momentos?
R – Boa pergunta! Nesses dois momentos eu estava no governo. No governo do Cristovam Buarque, eu fui diretor executivo da extinta Fundação Educacional, era um braço da execução da política educacional da rede pública, tinha o secretário de Educação que era o professor Antonio Ibañez, que cuidava da política de normalização da rede publica e privada, e tinha embaixo do secretário o que era a Fundação Educacional, depois foi extinta e virou tudo Secretaria de Educação. Mas ali no governo Cristovam felizmente ou infelizmente, eu ex-dirigente sindical, professor da carreira, estava frente a frente com o processo de negociação com o sindicato. Então aquele foi um momento bastante ruim, muito difícil, para todos nós. Porque foi um momento em que a nossa oposição interna, estou falando de companheiros da mesma ideologia, mesmo partido, membros da CUT. Só que parte desses companheiros, trava uma guerra fraticida. Era mais ou menos assim: “Ah, chegamos ao poder, então agora temos que ter tudo o que foi negado por todos os governos e vocês que estão aí agora são obrigados a nos dar tudo”. E a gente, do outro lado, a gente sabia que a gente não tinha o poder, estava no governo, não tinha esse poder todo. Nós vivíamos, além de tudo, uma guerra com o PSDB que era o governo federal, que era o Fernando Henrique, e Brasília até aquele momento vivia de uma coisa que a Constituição permitia chamada “transferências voluntárias”. Nós tínhamos a capital, tinham recursos que viriam para a capital por meio dessas transferências voluntárias. Como elas eram voluntárias, o ministro da Economia da época podia simplesmente dizer: “Olha, não sobrou dinheiro para isso”. Todas as nossas negociações passavam pelo governo federal, obrigatoriamente. Se o governo Cristovam, o nosso governo do PT, queria dar 10% de reajuste para os professores, da onde vinha o dinheiro para pagar os professores? Grande parte dele vinha das transferências voluntárias. E quem era o ministro? Pedro Malan. O Malan chegou para o Cristovam várias vezes e dizendo “se você quiser dar reajuste, vê com o seu [orçamento, porque eu] não pagarei”. Então a gente enfrentava uma negociação muito dura com o governo federal e uma oposição fraticida do próprio sindicato. Isso levou a uma racha enorme do sindicato, levou a uma prática abominável que foi a expulsão de companheiros valorosíssimos da diretoria do sindicato, como a Reuza, Lúcia Iwanow: foram nove companheiros que foram expulsos do sindicato nesse momento, porque chamavam um pouco à razão nesse confronto que parte da diretoria queria fazer com o sindicato.
43:09
P/1 – Professor o senhor fazia uma critica a luta fraticida que ocorreu no sindicato em razão da assunção de alguns dos seus integrantes em postos do governo Cristovam. Qual foi o balanço disso? No que isso resultou?
R – Bom, o balanço que eu faço disso, primeiro foi uma ação irresponsável, já tivemos oportunidade de expiar esse processo com companheiros daquela época, fizemos a nossa paz política. Mas a avaliação é que aquele momento foi muito mal conduzido. Primeiro pela elevação do nível de expectativa a um patamar que era impossível o governo cumprisse; segundo, não reconheceu os avanços que a gente estava trazendo naquele momento, avanços inclusive na área educacional. E o resultado disso, foi um sindicato desestruturado, rachado em 300 pedaços. Que veio a contribuir para a gente perder a reeleição no projeto do PT em 1998. Perdemos as eleições [distritais] em 1998 e credito e acredito muita coisa a nesse processo. Felizmente essas pessoas não comandam mais o sindicato, várias outras já fizeram mea culpa. O sindicato já reconheceu que o processo de expulsão de vários quadros valorosos que a gente tinha foi ilegítimo. Então foi um momento muito ruim para o sindicato, o sindicato levou muito tempo para se reorganizar, por esse esfacelamento político que aconteceu em 97, 98 principalmente.
45:25
P/1 – Depois desse episódio o senhor deixa o sindicato?
R – Não, eu já estava fora
Mas a minha militância no SINPRO foi até 94, quando eu pedi licença do sindicato para ir para o governo. Então minha militância como dirigente foi de 89 a 94. Depois de 95 até 98 eu estava, no governo do Distrito Federal, no governo PT. Depois eu sai, aí fui para outras coisas, me afastei do magistério, fui trabalhar fora do Brasil, fui trabalhar com projetos na África. Aí eu voltei em 2007, mas nunca deixei de estar próximo do sindicato. Esse grupo político que está hoje dirigindo o sindicato é a raiz do grupo de 1985 – então esse grupo está lá o que, há 37 anos. Então eu acho que tem tira esse período do governo Cristovam com bastante cuidado. Mesmo no governo do Agnelo eu estava à frente das negociações com todas as categorias, porque eu era o secretário adjunto de Administração Pública nesse período. Eu participei da reformulação de carreiras do Distrito Federal, participei ativamente do processo de negociação enquanto governo Agnelo. Depois fui secretário adjunto de Educação
Tive uma relação extremamente honesta com o sindicato nos 4 anos
uma ação política madura, que trouxe ganhos para a categoria, que o governo conseguiu ir até onde podia
Logo que o governador Roriz viu a vitória do Lula em 2002, ele correu junto ao Temer
Foi um projeto muito importante para o Distrito Federal, só existem em alguns lugares
A diferença lá do governo Cristovam do PT para o governo Agnelo, que a gente sabe que o governo Agnelo ainda tinha uns limites
forma negociações maduras, negociações feitas nos marcos democráticos
49:51
P/1 – Quais são na sua avaliação os grandes desafios do SINPRO atualmente?
R – Eu acho que um desafio grande é cuidar de uma massa cada vez maior
aposentados.
contratação de professores em algum momento
nos anos 70 já estão aposentados, depois nos anos 80 um crescimento muito grande da rede, como contratante muita gente, esse carinho que o sindicato tem que ter e o cuidado com os aposentados é um desafio. Desafio com as novas tecnologias, da categoria com as novas tecnologias. A questão salarial é inerente ao papel que sindicato tem que fazer. Mas a modernidade, a questão das novas tecnologias, a questão da precarização do serviço, da uberização da educação, é preciso estar bastante atento, porque nesses governos liberais a tendência é terceirizar e quartelizar boa parte da educação, porque vai uberizar de uma certa forma. Então os projetos autônomos, todo mundo tem uma solução mágica para alfabetizar, para o ensino médio, e acabam esquecendo que as escolas são feitas principalmente das carreiras que a acompanham, principalmente da carreira do magistério. Então esses desafios para o SINPRO são bastante grandes nesse momento.
52:22
P/1 – Professor o senhor estava falando sobre os desafios do SINPRO, os desafios presentes do SINPRO. Vamos finalizar essa resposta, por favor.
R – Vamos! Então Luiz, como eu estava falando, eu coloco ai alguns desafios. Eu acho que o SINPRO, os sindicatos como um todo, já tem ali o seu arroz com feijão a cumprir, as lutas salariais com melhorias de condições de trabalho. Mas algumas preocupações devem estar mais presentes, no meu entendimento. Uma questão os aposentados, que acaba virando uma grande massa que demanda por orientações e por atenção do sindicato;
a segunda, as questões das novas tecnologias, as questões das necessidades que a carreira tem frente às novas tecnologias, todas essas demandas em função das aulas mediadas por tecnologia que todos nós estamos passando, o Brasil inteiro em função da pandemia. A outra questão é a uberização, a precarização do trabalho do magistério, da educação, eu acho que isso tem que ter uma atenção bastante própria, o sindicato tem que começar a se preocupar bastante com essa situação, dos projetos milagrosos, da terceirização, da quarteirização das nossas funções do magistério, que está aí no Brasil inteiro e aqui no Distrito Federal isso não é diferente. E a última questão que eu ia colocar quando as coisas caíram aqui, é a questão, no caso nosso no Distrito Federal, o sindicato já tem feito isso, que são duas atenções especiais, não por eu estar hoje como diretor de escola, mas uma relação mais próxima com os gestores, porque todos os gestores hoje das escolas do Distrito Federal eles são da carreira do magistério, ou seja, eles são trabalhadores da educação. O sindicato já avançou com a criação do coletivo e outro coletivo
[Outro problema é] a questão dos professores contratados temporariamente, que é uma forma de precarização dos serviços, que eles são contratados apenas pelas aulas e pelo período que estão nas escolas, o que a gente chama de contrato temporário, mas é um contrato intermitente muito ruim, porque hoje ele já chegou a praticamente mais de um terço da força de trabalho nas escolas do Distrito Federal. Então além de ter a preocupação no trato com essa franja da categoria, que são os temporários, tem que ter o cuidado no combate para que haja concurso, para que haja contratação. Então para mim são esses quatro grandes desafios, além de tudo aquilo que o sindicato tem que fazer, se comunicar melhor, lutar por melhores salários, melhores condições de trabalho, salário digno e tal, então tem esses quatro desafios, na minha opinião, que ele precisam centrar, fazer um foco maior para isso.
56:02
P/1 – Me diga uma coisa! Vamos imaginar uma situação que está diante do senhor uma jovem ou um jovem, uma rapaz ou uma moça que resolveram serem professores, o que o senhor diria para eles?
R – Eu tive que fazer isso recentemente, com um rapaz e com uma moça, a moça minha filha e o rapaz é meu sobrinho, todos dois optaram pela carreira do magistério, e o que eu disso para eles, eu falei assim: olha, o magistério é tão importante na minha vida que eu acho que eu aconselharia todo mundo a ser professor um pouco na vida. Até brinquei, quando eu me aposentar vou escrever um texto, dizendo assim: o que a educação me deu, ela me deu família, me deu salário, me deu todos os prazeres que eu tive na minha vida ao longo de 40 anos. Então eu acho que a opção de vocês é uma opção correta, será com certeza uma profissão de sacrifícios, não é uma profissão fácil, é uma profissão que vai exigir de vocês estarem constantemente atualizados, modernizados, mas com certeza será uma profissão que vai lhes dar prazer, ter sido uma opção consciente de vocês. Então assim, acho que para nenhuma profissão, tem que ser consciente, saber do desafio que a gente pode encontrar pela frente, seja um engenheiro, um médico, ou seja, um professor ou uma professora. Os dois são professores há pouco tempo, a menos de dois anos, estão absolutamente satisfeitos com a profissão que começaram agora, ainda não são do magistério publico, são de escolas particulares.
1:00:15
P/1 – Vamos voltar um pouquinho para o lado pessoal, o senhor é casado? Tem filhos?
R – Três casamentos, quatro filhos. Estou 22 anos casado com a Sulamita, tive uma filha e do meu primeiro casamento tenho três filhos. E tenho 4 netos, tenho um netinho que nasceu agora em outubro, tá ai com 4, 6 meses, já plantei uma arvore, já escrevi dois livros, então estou bem satisfeito na vida.
1:02:19
P/1 – Alguma coisa que o senhor gostaria de ter dito e eu não lhe estimulei a dizer?
R - Não Luiz! Estou bastante satisfeito com a forma que você conduziu. Queria só fazer uma observação ali atrás. Na questão lá na época das negociações no SINPRO, no governo Cristovam, a posição foi tão fraticida que na vontade de derrotar alguns companheiros que estavam no governo, acabaram derrotando um projeto, que foi um projeto de governo popular. No governo Agnelo, a gente teve todos os problemas que tem num governo, todas suas limitações, mas nos estamos em 2021 e nos estamos a sete anos sem nenhum tipo de reajuste, alias nos estamos brigando pela ultima parcela de uma reajuste que o Agnelo deu, governo PTista em 2014. O sindicato tem procurado ser extremamente maduro nos processos de negociação, mas a categoria também tem que começar a reconhecer quando ela consegue alguns, no governo Agnelo não seu deu valor aos avanços que nos estávamos fazendo ali, porque foram dois anos sem reajuste
depois ao longo de 4 anos e a ultima parcela não foi paga. Nós tivemos o governo do Rollemberg, agora o governo do Ibanes e nada, agora recentemente
. Era só para fazer esse paralelozinho, mas foi muito bom, o sindicato é uma ferramenta democrática extremamente necessária, tenho muito orgulho na minha vida inteira de ter participado no SINPRO em duas gestões, e de ainda manter uma ligação politica com a direção, ajudei na ultima eleição, fui coordenador da ultima eleição dessa diretoria, que tá ai presente, poucas diretorias passam, mas essa diretoria tem um grande valor estratégico para a nossa categoria nesse momento. Desejo ai uns bons 42 anos e que venham mais 42 anos, continuando a guerrilha, na independência do governo, continuar lutando pela sua categoria, e que a categoria consiga valorizar mais ainda o seu sindicato.
1:05:17
P/1 – Para fechar eu gostaria que o senhor nos dissesse quais são os seus sonhos?
R – Os meus sonhos já envelheceram Luiz, os meus sonhos estão ai, segui a carreira que eu queria, devo me aposentar no próximo ano. Então o meu sonho agora e que os sonhos dos meus netos, dos meus filhos sejam realizados, acho que é muito por ai. Estou satisfeito pessoal e profissionalmente, eu brinco até, brinquei com os companheiros do SINPRO. Eu entrei no magistério publico em 86, percorri vários lugares, fui coordenador local, central, intermediário, fui delegado sindical, fui dirigente no SINPRO, estive em vários cargos na estrutura da Secretária de Educação, fui secretário de educação, diretor executivo da secretária e agora estou finalizando esse ultimo sonho que é ser diretor de escola. Eu falo assim, estou fazendo uma volta de 360 graus, dei uma volta completa e quero me aposentar com chave de ouro sendo diretor, espero meu reconhecimento dos meus parceiros de escola e tal, e assim, que seja um bom diretor nesse final da minha carreira. Os outros sonhos é aprender fazer cerveja própria, para fazer a minha própria, me preparar para aposentar daqui para a frente.
1:07:03
P/1 – Muito bem professor! Apesar dos percalços, eu queria agradecer muitíssimo a sua disponibilidade, o seu tempo, foi muito bom ouvi-lo.
R – Estou a disposição, se precisar regravar alguma coisa pode me chamar, não tem problema nenhumRecolher