Entrevista de José Antonio Gomes Coelho
Entrevistada por Luiz Egypto
29/03/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV015
Transcrito por Aponte
Revisado por Luiz Egypto
0:00
P/1 - Boa noite professor! Muito obrigado por ter aceitado nosso convite! Eu queria começar pedindo par...Continuar leitura
Entrevista de José Antonio Gomes Coelho
Entrevistada por Luiz Egypto
29/03/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV015
Transcrito por Aponte
Revisado por Luiz Egypto
0:00
P/1 - Boa noite professor! Muito obrigado por ter aceitado nosso convite! Eu queria começar pedindo para que o senhor dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R –José Antônio Gomes Coelho, natural de Cristalândia, Tocantins, antes era Goiás, mas o estado foi dividido ao meio com a Constituição de 1988, e para lá virou
Tocantins; então, eu sou tocantinense, goiano tocantinense.
0:50
P/1 - E a data do seu nascimento?
R – 23/03/1953
1:01
P/1 - O nome dos seus pais, por favor?
R - Nelson Coelho dos Santos e Margarida Gomes dos Santos.
1:13
P/1 - Qual era a atividade dos seus pais?
R - Meu pai, ele foi pequeno comerciante, depois servidor público, vigia da Caixa Econômica Federal.
1:29
P/1 - Sua mãe?
R - Minha mãe era professora primária do Estado de Goiás.
1:39
P/1 –O senhor tem irmãos?
R - Só 10, além de mim.
1:47
P/1 – E qual é a sua posição nessa escadinha aí?
R - Eu sou o oitavo, tem três mais novos do que eu.
2:00
P/1 - Como é que era a sua casa lá em Cristalândia? Como é que era a cidade? Como é que era sua rua?
R – A cidade em primeiro lugar, quando meus pais mudaram para lá, lá era um garimpo de cristal, meus pais estavam vindo, primeiro começaram no Maranhão, desceram para Tocantinópolis, depois para Miracema, de Miracema pularam para Cristalândia. Então a viagem foi assim, aí nasceu uma irmã minha, a Socorro Gomes, que foi deputada federal, vocês devem ter visto falar, um ano mais velha do que eu, nasceu eu, nasceu o outro irmão Francisco, o Jessé e o mais novo foi gerado lá, e foi o único que nasceu na capital, ele nasceu em Goiânia. Porque naquela época uma mãe com 40 anos de idade era arriscado demais dar à luz lá em Cristalândia.
2:58
P/1 – O senhor conheceu os seus avós?
R – Por parte de mãe eu conheci a minha avó, por parte de pai eu conheci avô e avó, quer dizer, avô, avó não, avó só por fotografia.
3:17
P/1 – O senhor se lembra do nome deles?
R - Sim, o avô pai do meu pai era Hildebrando, a mãe do meu pai era Josefa e da minha mãe eu sei que o pai dela era Manoel e a mãe Amância.
3:50
P/1 - Havia histórias na família sobre seus avós, de onde vieram, para onde vinham?
R – Sim, meus avós paternos eles eram do Maranhão, na região ali de Carolina, Riachão aquela região, e minha avó era de, aí deixa eu lembrar aqui, atravessando o Rio Tocantins ali no, Porto Franco, pronto! Porto Franco e do outro lado é Tocantinópolis. Porto Franco é Maranhão e Tocantinópolis é Tocantins.
4:33
P/1 - Vamos voltar para Cristalândia e pensar na sua rua, na sua casa, como é que era sua casa?
R – Era uma casa pequena, com a varanda grande, de tijolo, aqueles adobe feito de barro, aí depois que meu pai foi ampliado, chão batido.
5:02
P/1 – Como era a divisão interna dela?
R – Tinha dois quartos, e a varanda. Os filhos dormiam nas redes e o casal dormia na cama, resto tudo era em rede.
5:20
P/1 - Os filhos tinham obrigações domésticas em casa, coisas que a mãe pedia para fazer?
R – Minha mãe punha todo mundo para fazer alguma coisa, eu inclusive ajudei muito a lavar vasilha, fazer comida, quando os mais velhos já tinham saído, isso tudo eu fazia. Agora quando menor era buscar lenha, que lá era fogão a lenha, antigamente, a gente ia para a roça também, porque meu pai tinha uma terrinha lá que ele plantava, os mais velhos iam, e aí depois que mudou de Cristalândia para Porto Nacional, eu já ia também.
6:03
P/1 - E a sua primeira escola onde foi?
R – Foi lá em Cristalândia.
6:11
P/1 - Lembra o nome da escola?
R - Acho que é Grupo Escolar Tiradentes, se não me falha a memória, aí depois eu fui estudar na Escola Paroquial, que era a escola dos padres franciscanos e das freiras.
6:28
P/1 - E como é que essa garotada se divertia, quais eram as brincadeiras que vocês gostavam?
R – Brincadeira lá na Cristalândia era muito boa, a gente cortava os galhos de pau, folhas, fazia um feixe de folhas, amarrava e descia ladeira abaixo nos manchão, vez em quando rasgava os fundos das calças, sempre fazia muito. Era pescar, buscar fruta no cerrado, mangaba, pequi, caju.
7:04
P/1 - E quando mudaram para a cidade, como é que ficou a situação?
R –A gente morava na cidade, pequena cidade, mas depois nós mudamos de Cristalândia, porque Cristalândia era cidade pequena, tinha apenas o primário, aí que meu pai e minha mãe queriam botar os filhos para estudar, mandava para Porto Nacional, aí quando eu fui fazer... Ainda no primário, quarto ano primário, eu já fui para Porto Nacional. Aí lá a gente ficou dois anos, eu ia fazer o terceiro, era o terceiro quando eu fui para Porto Nacional, o 3º ano primário, eu fiz o terceiro, quarto, e aí quando foi para fazer o admissão, que naquela época tinha o admissão, aí eu já vim para Goiânia.
7:54
P/1 - Sozinho ou com a família?
R – Não, primeiro a vinda era progressiva, veio a mais velha, começou a estudar, aí depois ela trouxe outro irmão, outra irmã, aí foi vindo. Porque ela começou a fazer serviço social em Goiânia, e aí a outra irmã veio, o outro irmão veio, Nerivaldo, começou a fazer contabilidade, aí veio a outra, a Nilma, fez curso normal, veio a Ana, fez curso normal, veio o Pedro, fez científico, o Manoel Pedro, e aí depois do Manoel Pedro, veio eu a Socorro, veio eu e o Francisco, e a Socorro veio depois junto com a minha mãe, já em 1966. De 1965 para 1966 a gente veio para Goiânia, meus pais já mudaram para Goiânia, começo de 1966, eu vim em 1965, eu e o Francisco, e os outros já estavam lá.
9:09
P/1 – Família mudou inteira, então?
R - Aí quando foi... Primeiro veio minha irmã mais velha, depois veio os outros dois, depois mais dois, o segundo mais velho estava no seminário em Anápolis, depois foi para Agudos, aí quando ele voltou já terminando o clássico, lá em Goiânia no Pedro Gomes, aí já voltou para a “república” lá, tinha um barracão alugado, a gente morava todo mundo junto lá. Aí meu pai mudou com a minha mãe e com os dois menores, em 1966, fevereiro de 1966 para Goiânia.
9:43
P/1 - O que o garoto José Antônio queria ser quando crescesse?
R – Ah, eu pensava ser médico. Cheguei a pensar, cheguei a fazer vestibular lá em Recife para ser médico, mas não passei. Aí a vida mudou, porque eu engravidei a ex-esposa, aí volte para casar, mudou os planos todos.
10:11
P/1 - Voltou para onde mesmo, para Goiânia?
R – Voltei para Goiânia, porque eu saí de Goiânia, minha irmã na época da clandestinidade, a Socorro, que era mais velha que eu um ano, estava morando em Recife, e aí eu fui para lá, eu ia fazer científico, cheguei a fazer o cursinho no colégio Radier,, mas aí quando estava lá uns três meses, aí recebo a notícia que a namorada tinha ficado grávida, eu voltei e desisti de tudo e casei, e mudei de opinião, fui acabar sendo professor de Educação Física. Fazer Educação Física que dava para conciliar o trabalho e a família.
10:53
P/1 - Voltando um pouquinho, que clandestinidade é essa, o senhor era clandestino?
R – Foi na época da ditadura, como todo militante tem problema, minha família nós tivemos, todo mundo perseguido na época da ditadura, minha irmã mais velha teve que sair fugida de Goiânia, senão a Polícia Federal matava. A Socorro teve que cair na clandestinidade em 1968 com 16 anos, e as outras duas irmãs foram presas, sendo diretoras do DA de História e a outra de Ciências Sociais, lá em Goiânia na Universidade Federal. Aí foram presas aqui no PIC [Pelotão de Investigações Criminais] em Brasília, e a gente sempre militante, lá nossa turma era uma turma que... Eu era um dos mais novos, mas sofria as consequências também.
11:45
P/1 - Da onde veio esse ímpeto militante na sua família?
R - A minha irmã mais velha começou a militar, ela esteve na AP [Ação Popular], lá em Goiânia mesmo, e aí naquela época concomitante já tinha aquele processo da reforma agrária lá no Formoso das provas, e ela entrou naquele esquema na AP. E aí todo mundo que era da AP naquela época, a Polícia Federal baixou em cima, tá certo? E aí ela teve que cair na clandestinidade. Aí depois a minha irmã mais nova, que é um ano mais velha que eu, também, ela foi em 1967 sumiu, ninguém sabe onde estava, minha irmã mais velha e 1968 no movimento estudantil de 68 ela era do grêmio estudantil do Liceu de Goiânia, com 16 anos teve que cair na clandestinidade.
13:30
P/1 - E no seu caso, como é que deu esse envolvimento com a militância política?
R – Quando eu estava lá na própria faculdade, lá em Goiânia, a gente já fazia os protestos, já tinha professor que era... Professora que o diretor da escola, que era dedo-duro mesmo, era informante, era da turma do Irapuã Costa Júnior. E aí já viu né, era tudo dedo-duro, e aí a gente resistia, lutava da forma que era possível, inclusive chegamos a protestar contra uma professora de Didática que era dedo-duro também, que a gente sabia, ela era informante também, e nisso a gente foi conhecendo o movimento. Aí depois eu fui trabalhar nos Correios, ajudando os vendedores ambulantes da rodoviária antiga de Goiânia, e a polícia em cima, a gente pegava, eu era servidor do correio, e botava os ambulantes para guardar as mercadorias dentro do correio e não deixava a polícia entrar, “só com mandado, você não pode invadir uma repartição pública sem autorização”. E isso gerou conflito, eu tive que... Um dia a polícia chegou, o comando da polícia, eu tive que chamar o comando dos Correios, o gerente de operações postais para me garantir lá, senão eu tinha sido arrancado de dentro dos Correios.
15:00
P/1 - Então que dizer... Desistiu-se da medicina em Recife, voltou-se para Goiânia, casou...
R – E aí fui fazer Educação Física, trabalhando nos Correios eu fazia Educação Física de manhã e trabalhava tarde e noite nos Correios.
15:19
P/1 - Nos correios era concursado?
R - Naquela época era selecionado, que não tinha concurso, fazia uma prova, era uma espécie de concurso, mas seleção desse jeito, inclusive não queriam nem me contratar, porque eu era estudante universitário, porque naquela época, quando estava retomando os movimentos contra a ditadura, eles não queriam universitário, mas eu consegui ser chamado.
15:51
P/1 – E a faculdade foi até quando? Quando o senhor se formou?
R – Eu terminei em 1979, dezembro 1979, foi na época da greve dos professores, a primeira grande greve, eu estava inscrito no concurso quando eu vi que era para chamar no período da greve, eu falei: eu não assumo! Se chamar no período da greve eu não assumo. Aí o que aconteceu: houve um atraso, eu não apresentei nenhum certificado, além do de conclusão do curso para não ter pontuação, eu tinha pouco, não apresentei, falei: vou esperar. Eu tinha passado até bem, como eu não apresentei os cursinhos que eu tinha, aí eu fiquei numa classificação mais embaixo, não me chamaram de imediato. Foi quando a greve acabou, eles começaram a chamar a partir de janeiro de 1980. Dia 12 de janeiro a gente fez a prova, aí atrasou por causa da greve, aí acabou que a gente veio ser chamado já em 1982, quando eu assumi. Fiquei trabalhando nos Correios, conflitando lá com a polícia e protegendo os ambulantes.
17:02
P/1 - Essa greve da qual nós estamos falando e a greve do SINTAEGO ou era já em Brasília?
R – Não, eu já estava em Brasília, a de 79 foi a greve dos professores, antes de eu chegar, a primeira grande greve. Tá certo? Agora dos Correios eu não participei de greve não, porque naquela época nos correios só foi ter greve bem depois, que lá era tudo militar, aí era difícil fazer greve naquela época.
17:30
P/1 - O que o motivou a ir para Brasília?
R – O concurso, como professor, porque em Goiás o concurso praticamente não existia, salário baixo, e o concurso de Brasília naquela época, nos anos 1970 e 80, era o melhor concurso no Brasil. Então vinha gente do Brasil inteiro, eu vim nessa gleba.
17:54
P/1 - Essa greve de 79 ocorreu logo após a fundação do sindicato, correto?
R - Dos professores aqui, é verdade! Foi quando transformou a associação em sindicato.
18:15
P/1 – O senhor se recusa a assumir o lugar de grevista?
R - Se eu fosse chamado, eu não fui! Eu não iria, já tinha feito, inclusive, minha ex-cunhada era professora, falei: se chamar perto da greve eu não vou não! Aí atrasou, começou a chamar a partir de 80, aí ficou melhor, aí já tinha terminado a greve.
18:37
P/1 - E qual foi a primeira escola que o senhor assumiu?
R – Foi o CEF 4 do Gama, na época era Centro de Ensino 4, em frente à SABE antiga, hoje é feira dos goianos aqui. Assumi lá, e aí 20 dias depois assumi no noturno no Centro Educacional 4. Aí no mesmo ano eu assumi 40 horas, só que uma era carga excedente que eles chamavam, aí no ano seguinte a dona Eurides Brito queria me tirar essas 40 horas, não queria me apresentar mais as 40 horas para ficar em cima daqueles protegidos, aí a gente conseguiu, eu já era filiado ao sindicato, no primeiro dia que eu entrei na secretaria eu me filiei ao SINPRO e a CABE, que antes era a CABE, depois virou ASEF.
19:42
P/1 - O que quer dizer CABE? O que quer dizer ASEF?
R - A caixa beneficente, o nome da CABE antigamente, da educação, Caixa Beneficente da Educação, e o Sindicato dos Professores, eu filei aos dois no mesmo dia, e a ASEF é Associação dos Servidores da Educação, que mudou, dos servidores da educação, da educacional. Que CABE tinha da polícia, tinha duas CABE, e aí a ACABE no caso da educação, passou a ser ASEF.
20:17
P/1 - A sua militância sindical nesse momento era pela base ou já tinha alguma influência entre as lideranças?
R – Quando eu entrei no SINPRO comecei a ser delegado sindical, os primeiros delegados sindicais por escola, eu já entrei, e fui o primeiro diretor, o primeiro delegado sindical do Gama, da parte leste do Gama, um único delegado por complexo, eu fui o primeiro, eleito pelos professores. Foi quando a gente conseguiu um delegado sindical por cada região, aqui no Gama nós éramos dois complexos que já tinha fundido o B com o C, ficou só A e B. Eu fiquei diretor, delegado sindical pelo complexo A, e teve um outro delegado pelo complexo B.
21:17
P/1 – Descreva, por favor, quais eram as responsabilidades de um delegado sindical?
R – Naquela época era sem dúvida alguma, percorrer no tempo disponível em escolas e divulgar o trabalho do SINPRO, e está representando os professores daquela região nas reuniões do SINPRO, porque estava tentando articular e a gente ia para as reuniões lá no Plano Piloto na época que era no Setor Comercial Sul. Então quando tinha o movimento organizativo, os delegados representavam aquela região e mobilizava para levar mais pessoas para assembleia.
22:00
P/1 - Isso está na origem de uma profunda inserção do sindicato na sua base, né?
R – Sem dúvida, naquela época isso foi o fator fundamental, aí depois de conseguir um delegado por complexo, a gente lutou e conseguiu um por cada escola, representante nas escolas.
22:23
P/1 - Que significava assembleias cada vez mais massivas.
R – Sem dúvida alguma, a mobilização era maior, mais rápido. E aí quando tinha um movimento paredista, aí gente tirava o comando de greve, representantes de cada regional dentro desses... Normalmente era dentro daqueles militantes que estavam na condição de delegado sindical e participavam mais, e conseguiam se projetar como liderança e eram escolhidos, pela Assembleia inclusive, regional.
23:00
P/1 - Quais foram as grandes mobilizações desse período que o senhor se recorda?
R – Nós tivemos muitas mobilizações, inclusive naquele período que eu entrei no SINPRO, o Distrito Federal não tinha representação política, porque aqui não existia eleições, aqui nós tínhamos a comissão do Distrito Federal no Senado, eram 5 senadores que respondiam pelo Distrito Federal. E a gente tinha que procurar esses senadores para lutar por verbas para educação, para poder reajustar salário, para poder melhorar as condições de trabalho, tudo era via o Congresso Nacional e a gente articulava enquanto militância, direção do SINPRO, na época ainda era o Libério, depois é que entrou a turma... Quando foi feito a entrada do PT na direção, quando o PT foi criado, aí acho que foi em 83 a primeira eleição que o PT teve, ou foi 86, agora me falhou a memória, foi 83 ou 86 que o PT entrou pela primeira vez na direção do SINPRO. Eu não estava nela, eu sou militante do PCdoB desde criancinha, como diz o outro, sou militante identificado como PCdoB, fui dirigente aqui no Distrito Federal, era presidente do PCdoB aqui no Gama, mas sempre que a gente estava na direção do SINPRO era em parceria, era uma chapa que compunha a maioria dos diretores eram do PT.
24:46
P/1 – Como era o cotidiano do militante, do profissional da sala de aula e do pai de família?
R – Muito difícil, sem dúvida alguma, eu inclusive digo, o militante normalmente ele perde muita convivência em casa. Eu tenho três filhos, todos os três foram muito apegados a mim, até eles terminarem a oitava série, que eu levava para escola eu buscava, mesmo militante, eu morando aqui no Gama eu levava os três para escola onde eu trabalhava, iam comigo e voltavam comigo, era a hora que eu tinha, quando eles saiam da escola eu levava, aí depois eu ia para militância. Era desse jeito, então o convívio era complicado, mas tinha que ser, não tinha como abrir a mão, tinha que fazer as duas coisas.
25:45
P/1 - E quando é que assume um cargo de direção no SINPRO? Foi ainda no esquema presidencialista ou já na direção colegiada?
R – Não! Eu entrei na direção colegiada, a última direção presidencialista foi da Lúcia Carvalho, quando eu entrei já era colegiada, eu entrei na direção de 1992, a primeira direção que eu assumi como diretor do SINPRO foi em 92 a 95, aí de 1995 a 98, 1998 a 2001, esses três mandatos eu fiz em sequência, aí saí por opção, falei: não vou descansar, está bravo eu prefiro afastar, não me coloquei. Fiquei três anos fora, ai depois não teve jeito, o povo me puxou de novo, eu fui, fiquei mais um tempo, eu fiquei cinco mandatos no SINPRO. Terrível, tem que renovar!
26:49
P/1 – Esses cinco mandatos sempre com as mesmas atribuições ou circulou entre as responsabilidades?
R - Eu normalmente... Atuei na cultura, depois fui coordenador do jurídico do SINPRO, acho que foi isso, cultura e jurídico do SINPRO, se não me falha a memória, acho que eu não fui em outra direção não. Que era as que me identificava muito, fui muito tempo membro da comissão de negociação, e eu, como diz o outro, era um dos que dominava essa coisa do jogo político aí, a gente tinha boa articulação com os militantes da comissão de negociação, que eram todos, exceto a mim, eram do PT, eu o único que era da comissão de negociação e era do PCdoB. Agora sempre nas assembleias, eu era um dos que falava em todas as assembleias, em função do domínio das questões, dos enfrentamentos, de ter mais experiência, essa coisa toda. Sempre fui um dos que estava na linha de frente ali.
28:13 –
P/1 - Participando das comissões de negociação, como é que se deu, como é que se deram as negociações, especialmente nos momentos em que o governo do Distrito Federal estava ocupado por aliados, caso Cristovam, caso Agnelo Queiroz?
R – Olha, no Agnelo eu não estava na direção, eu me afastei exatamente no período do Agnelo, foi 2010 eu saí da direção do SINPRO, concorri a mandato parlamentar, eu não estava na direção do SINPRO quando o Agnelo assumiu em 2011, eu não estava, então do Agnelo não posso falar. Agora na gestão do Cristovam eu estava, e foi dificílima, porque o Cristovam ele teve uma postura de indiretamente defender o Cheque Educação, esse embate a gente travou, porque eu era do SINPRO e era também líder comunitário aqui, porque eu era do Conselho do Orçamento Participativo. Então eu ia para as reuniões no Buriti, pelo orçamento participativo, nós éramos três aqui do Gama e eu era um dos três, aí depois passou a ser cinco, éramos três é depois cinco, e eu era sempre dessa militância. E lá eu vi quando Cristovam chegou a pontuar que iria ao invés de construir escolas, iria comprar vaga nas escolas particulares. Cheguei ao ponto de ter a voz cortada em uma plenária do orçamento participativo porque me contrapus a essa política dele, aí eu mesmo sem microfone gritei, “O Izalci Lucas está arrumando um grande aliado”, e o Izalci Lucas na época era presidente do SINEP - Sindicato dos Proprietários de Escolas Particulares. Então Cristovam teve esse equívoco, ele queria isso, não conseguiu graças ao enfretamento nosso, que nós não permitimos. Mas ele queria comprar as vagas nas escolas particulares para matricular, ao invés de construir escolas, postura equivocada, aí nós não aceitamos, e eu estava na linha de frente, porque estava no orçamento participativo e na da direção do SINPRO, aí pontuamos essa discussão e tivemos enfrentamento. Então houve um certo desgaste, mas não foi tanto o ataque, e sem dúvida alguma o grande equívoco do Cristóvão foi tentar se contrapor aos professores na época, ele chegou ao ponto de dizer que não precisava de professor para ser reeleito. Aí foi a derrota colocada para ele, que tivemos uma greve que ele dificultou, e o enfrentamento acirrou, tivemos um período em que naquele período tivemos a categoria dividida como nunca a gente viu, chegando a ter uma assembleia que apartou, cortou para um lado e para o outro assim, no meio da assembleia, uma coisa mais esquisita, chegando ao ponto de expulsarmos, nós não, eu era contra, mas o SINPRO expulsou diretores que eram tidos como militantes próximos ao Cristovam, foi o maior equívoco da história do SINPRO, isso se olhar nos anais tem. Um equívoco, inclusive encabeçado pelo cidadão chamado Marcos Pato, que foi, depois passado esse período, ele foi assumir o gabinete da filha do Roriz, Jaqueline Roriz, então foi doído esse período. Período de crises dentro do SINPRO, enfrentamentos, queriam privatizar os serviços no SINPRO, criando uma empresa para gerenciar o SINPRO, coisa esquisita, e a gente teve que contrapor a isso. E aí conseguimos depois neutralizar essa ação, graças a união de todos os militantes do PT com a gente, na base da categoria, a gente colocou essa coisa, então foi terrível, foi uma briga interna muito grande na época, maior desgaste da categoria foi nesse período, foi difícil fazer a luta. E queriam inclusive, criar um plano de saúde privado para SINPRO, para os professores, e nós não concordamos, houve grandes embates contra essa postura.
32:56
P/1 - Essa proposta do plano de saúde, por exemplo, veio de quem?
R – Era do Marcos Pato na época, Marcos Rogério, mas é Marcos Pato, todo mundo conhece como Marcos Pato, ele era o líder dessa ala que era interna do PT, que houve a ruptura. E aí dele surgiu, dentro desse grupo, tem inclusive um aí que é um traste, que é o presidente do Sindicato dos Professores
Conselho de Educação Física, que é o Rogério Lúcio, Lúcio Rogério, um nome assim, esse cara era da turma do Marcos Pato, é Lúcio Rogério. Então era os pau mandado do Marcos Pato e outros mais.
33:47
P/1 - Depois do governo Agnelo, as reivindicações que foram aceitas durante o governo Agnelo, foram transferidas para outra gestão e isso provocou uma greve importante em 2012, não é? O senhor se lembra desse episódio?
R - A greve que aconteceu no governo do Agnelo?
34:13
P/1 – Não, foi depois do governo Agnelo.
R – Foi depois do Agnelo, com o Rollemberg.
Rollemberg foi eleito em 2014 e assumiu em 2015, e a greve que ocorreu foi pelo não cumprimento do acordo. O Agnelo tinha feito pagar em etapas, inclusive agora na justiça o SINPRO garantiu que deva ser pago a terceira parcela retroativa a 2015.
35:07
P/1 – O que configura uma vitória?
R -
Sem duvida! Essa foi na justiça agora, foi recente essa decisão. Eu sai da direção do SINPRO em 2010, e de lá em 2011 eu assumi a Regional de Ensino do Gama e fiquei até 2014, e aposentei 27 de julho 2014.
35:34
P/1 - Quais o senhor considera os principais desafios do SINPRO hoje?
R – Primeira coisa é conseguir dentro dessa questão da dinâmica hoje que é tudo digital, tentar incluir o professor nesse debate digital, porque não é fácil, não é fácil colocar a pessoa que não conhece a militância, fazer militância por internet, eu acho que é um grande desafio, porque a grande militância que o SINPRO conseguiu, era aquela presencial, dentro de casa escola, isso hoje está inviável, dentro do quadro da pandemia, e anteriormente o SINPRO teve dificuldades, não sei por que, mas houve um certo distanciamento da presença do diretor do SINPRO na sala de aula, isso eu ouvi de muitos professores, dizendo que o SINPRO estava deixando de visitar as escola, porque, por quais dificuldades eu não sei, de 2010 para cá eu não sei. Mas sei que hoje a luta não é fácil, é muito mais difícil fazer luta pela internet do que presencial, e para ter presencial, para ser presencial, se faz necessário ter militância, se não tiver militância, se não tiver debate em cada escola para convencer o professor a assumir a militância, fica aquela coisa de falar para poucos, e o SINPRO, ele sempre foi uma entidade de um grande número de filiados, e tem caído muito o quantitativo de filiados ao SINPRO, por que eu não sei. Eu sei que eu tenho ouvido de muitas pessoas, dizer que hoje não se filia tanto como se filiava antigamente, nós fomos informatizar o SINPRO uma época, ai a gente começou a diagnosticar, as regiões que mais filiavam, quem mais filiavam, o Jorge Capellani que foi da direção do SINPRO, se não me falha a memória, até 2001 ou 2004, ele que foi o grande mentor da informatização do SINPRO, ele fazia levantamentos, naquele período ele falou: olha, eu quero aqui mapiar. Aí falou, os diretores que filiavam. Eu tive a felicidade de ser o diretor que mais filiava pessoas no SINPRO naquela época, mas era aquela coisa, a gente rodava escola, eu fui delegado sindical rodando de bicicleta de marcha, para rodar as 40 e poucas escolas do Gama, naquela época. Aí depois como diretor eu rodei um mandato todo num carro particular meu, porque o SINPRO naquela época não tinha carro suficiente, e quando tinha, não tinha timbre, eu me recusei a andar em carro sem timbre, foi quando inclusive eu criei a ideia de pôr em assembleia para aprovar que os carros fossem timbrados. E aqui na regional do Gama, foi a primeira regional que a gente aprovou e depois levamos para geral, assembleia geral, foi quando se criou o timbre do SINPRO e a logomarca do SINPRO, aquela logomarca foi feito uma pesquisa, um concurso no SINPRO para poder ter aquele lápis, aquilo lá foi tudo debatido em assembleia geral. Então a história do SINPRO é uma história de luta, de muita luta.
39:24
P/1 - Que papel o senhor atribui nesse processo de luta ao Jornal Quadro Negro?
R – Sem dúvida alguma era o grande informativo que o SINPRO tinha em outras épocas, antes de ter a informática, antes de ter a página [na web]. Chegaram ao ponto de fazer críticas recentemente, pelo nome né, Quadro Negro, mas o quadro, a lousa, era negra né? Não é verdade? Então não tem nada a ver com essa coisa da discriminação, a gente inclusive colocava, “olha poderia mudar”, mas era uma história, a história a gente não pode negar a história, então o SINPRO, naquela época já tinha o Quadro Negro, e se constituiu, fez foi implementar, abrir mais o leque e dentro da página do SINPRO ainda teve muito tempo que se tinha o tal do Quadro Negro, é um jornal muito bom, que trazia relatos de todas as regionais, de todas as lutas e tem um histórico do SINPRO, inclusive nós tivemos um período em que as matérias do SINPRO eram mais políticas, a gente de discutia. E eu quero aqui resgatar uma edição do Quadro Negro, se você pesquisar aí nos anais do SINPRO, tem um jornal que saiu, “América Latina, um continente em ebulição”, foi quando houve as vitórias progressistas, a gente soltou um jornal contendo essas matérias, ou seja, politizando o debate, não ficar só na questão corporativa. Então isso é fundamental, a gente trazia textos muito bons dentro do Quadro Negro, isso é importante. Há, eu tive também na imprensa do SINPRO, aqui estou falando do Quadro Negro, eu tive também na imprensa do SINPRO, tive na cultura, na imprensa e depois no jurídico. Tive um período na imprensa, inclusive nós tínhamos um quadro na televisão que era no Brasília Urgente, tinha o espaço do SINPRO, a gente ia para lá, toda semana a gente tinha um espaço no Brasília Urgente, um programa ao vivo, e que a gente levava as nossas demandas para lá, a diretoria, eu fui muitas vezes, o Lisboa, outros mais foram. Era um espaço que a gente tinha, que a gente pagava aquele espaço, mas construía o debate e fazer o enfrentamento na TV aberta. Que sindicato nesse país não consegue TV né, é difícil!
42:25
P/1 – Qual emissora que era?
R - Era a TV Brasília, aí depois passou para outra TV, mas era a TV Brasília que era ligada à Rede Manchete, depois passou para o Paulo Otávio, mas eles continuam mantendo.
42:45
P/1 - Vamos imaginar a seguinte situação, o senhor está diante de uma jovem ou de um jovem que decidiu ser professor na vida, o que o senhor diria para eles?
R – Eu digo que é fundamental nós termos jovens que tenham a coragem de assumir essa profissão, que talvez seja a profissão mais digna, porque essa profissão apesar dos salários não serem dos melhores, mas é quem trabalha com gente, muita gente, e que pode contribuir para formar pessoas críticas, porque o Brasil só vai para frente se a gente conseguir fazer uma educação crítica. Não dá para ser essa educação meramente formadora de mão de obra que interessa ao capital, a gente tem que ter criticidade, e o professor ele tem que ser crítico, o professor tem que ter formação continuada o tempo inteiro, tem que interagir, tem que militar, tem que inserir-se na sociedade. O SINPRO jogou um papel muito grande na nossa cidade no período da ditadura militar, o SINPRO era o polo aglutinador dos movimentos, da carestia, da anistia internacional, aquele período em que o Newton Cruz saía com cajado batendo em carro, o debate era feito primeiro no SINPRO no Setor Comercial Sul, depois ia para rua. Era, o SINPRO sempre foi polo aglutinador, e o SINPRO quando veio a abertura, ele ajudou muito o movimento dos excluídos, ajudou sem-teto, sem-terra, para você ter uma ideia, aquela marcha dos sem-terra, naquele período eu era diretor do SINPRO, eu fiquei 31 dias à disposição dos sem-terra, tem até um documentário que a gente conseguiu fazer, que é, “Cinco Séculos de Luta pela Reforma Agrária”, o SINPRO
tem aí filmagens, naquele período nós fizemos debates nas escolas, a gente levava os sem-terra, a equipe de divulgação, para debater com crianças, com professores, com trabalhadores da educação, a gente levava para dentro da escola, a gente dava proteção, o SINPRO ajudou muito naquela marcha. Eu acompanhei de Cristalina até Brasília, acompanhei de Goiânia até Brasília a marcha, todo dia eu estava na marcha, chegou ao ponto de quererem me expulsar do SINPRO, porque eu estava assumindo a luta que naquele momento para mim, eu acho que era a luta, e para muitos dos nossos militantes dentro do SINPRO, era talvez a mais importante. Então o SINPRO sempre foi isso, nós compramos lonas para os sem-teto lá em Brasilândia naquela época, nós fizemos debate, nós comprávamos cestas básicas, ajudava, eu quero agora parabenizar o SINPRO nesse momento de crise que voltou, estou sabendo que esta voltando para cestas básicas, para distribuir para essa comunidade tão carente, se tem condições vamos ajudar, porque se faz necessário, o assistencialismo não é solução, mas no momento de crise também não é negativo ajudar, é positivo. Então o SINPRO é isso, o SINPRO ele transcende a categoria dos professores e toda vez que ele se estreita, é o momento de conflito, porque o SINPRO não é estreito, a história do SINPRO ela é muito ampla, então não pode ter diretores limitados, o SINPRO tem que ter diretores políticos, politizados e inseridos na sociedade, interagir. O SINPRO é muito mais importante, talvez para o Distrito Federal do que para a própria categoria dos professores, pela tradição, pelas condições que o SINPRO tem, o SINPRO era a décima primeira entidade do Brasil em termos de organização, não sei se ainda ué. Mas o SINPRO é isso, é uma história rica, o SINPRO é maravilhoso, agora tem que renovar a militância, tem que fazer com que... Olha, eu já tenho os meus 68 anos, não dá para eu ficar... O médico me disse: você tem que pensar o que você quer. Porque eu tive um problema de saúde, falou: você distensione, ou então o seu saldo é curto. Foi quando eu resolvi de fato afastar, eu tirei 80 cm do intestino, muita gente não sabe por que, mas é por isso, eu não sou fénix que ressurge das cinzas, eu luto enquanto eu posso. Então chegou num momento que a saúde falou mais alto, eu tive que afastar, mas eu não esqueço da luta, eu sempre, quando eu posso eu vou nas assembleias, eu vejo o material do SINPRO, eu discuto com diretores do SINPRO que me procuram. O SINPRO eu ajudei a construir, eu quero que essa entidade seja perene, que ela perdure, e que ela sempre seja vanguarda, ela não pode ser entregue a essa direita conservadora, a esse sindicalismo pelego, a gente não pode permitir, então a gente tem que ter cuidado.
48:51
P/1 - Isso faz parte dos desafios que se colocam para o sindicato, não é verdade?
R - Não tenho dúvida!
49:00
P/1 – Professor, sem lhe pedir nenhuma bola de cristal, nenhum exercício de futurologia, mas como é que o senhor enxerga o futuro da educação no Brasil?
R – Olha, eu não vejo só a educação, eu falo o futuro no Brasil, se a gente não tiver uma reviravolta, para que a gente possa colocar quem de fato preocupa com o povo brasileiro, com educação de qualidade, porque o governo que mais propiciou avanços na educação, foi o governo de esquerda, o governo comprometido com as lutas também dos trabalhadores, e com pobre, que foi a era Lula, Dilma, a gente não pode esquecer disso, tem gente que acha que é possível esquecer, isso aí não pode, se nós fizermos assim uma volta ao passado e olharmos como era o quadro do pobre na universidade? Quando foi que o pobre teve acesso de falta a universidade? Quando foi que nós tivemos Educação de qualidade mais acessível ao pobre? Quando foi que o negro chegou à universidade pública de qualidade? Uma quantidade significativa. Quando foi que no Brasil inteiro se teve construção de centros de educação profissional, as escolas técnicas federais? No governo Lula foram mais de 214 escolas técnicas federais construídas, foi mais do que os cinco séculos de Brasil. E aí querem apagar a memória. Quando se imaginou o filho do pobre estudar com o filho do milionário na UnB? Era exceção, defendiam a meritocracia, como é que você vai defender meritocracia sem igualdade de oportunidade? Como é que o filho do pobre vai concorrer no vestibular, sem ele ter tido uma educação de qualidade, porque a primeira coisa que esses caras fazem, é atacar a escola de qualidade desde o ensino fundamental, ensino médio, para que o pobre não possa concorrer com filho do rico, que está aí nos objetivos, que está aí nas escolas
ngulos da vida, nos cursinhos, ou seja, e que tem o próprio pai e mãe que permitem recursos em casa para que a pessoa vá além do que a escola oferece, ou seja, sem igualdade de oportunidade você não pode tratar o que é desigual da mesma forma. Então tem que oportunizar, e foi quando se criou a política de cotas, tanto para negro quanto para pobre, tudo isso, educação de qualidade é isso, é inclusão com qualidade, é permitir que as famílias dos pobres possam ter condições de melhorar de vida através da educação. Porque mão de obra barata, ela não tira o Brasil das condições de subdesenvolvido, tem que investir em educação para ter uma mão de obra de qualidade, para ter visão de mundo, para inclusive permitir que tenha compreensão, de que a nossa pátria sempre foi escravizada. E o que esses caras estão fazendo hoje, é entregando a alternativa que se tinha, de ter um país de qualidade através dos recursos do Petróleo. Os recursos do pré-sal, essa foi a questão do golpe, o ponto chave no golpe, foi para fazer o que fizeram aqui, tentaram fazer na Venezuela, deram o golpe, aquele primeiro golpe do Carmona, que era
para as mãos das elites da Venezuela, e o povo venezuelano não desfrutar dos recursos provenientes do petróleo, que a terceira reserva de petróleo que tinha, era na Venezuela, e o Brasil hoje tem uma grande reserva que foi descoberto o pré-sal. E é o país que tem tecnologia para pesquisar, perfurar em águas profundas. E aí? Estão entregando tudo. Aí o militante não faz esse debate, como é que ele ganha militância para filiar ao SINPRO? Fica difícil! Tem que ser convencido para filiar, para ter a página na internet tem que ter debate político, tem que formar politicamente, não é só informar as questões inerentes à categoria, tem que fazer um quadro mais geral, tem que ser crítico, e entidade tem que ser política sim! Não só política sindical tem que ter esse debate, que o SINPRO, ele é fundamental para o Distrito Federal e para o país também, eu chego ao ponto de dizer que para o país também. Porque o debate político rola aqui em Brasília, se nós não tivermos condições de ter uma militância para fazer o enfrentamento aqui, até as caravanas chegarem, muitas vezes não dá tempo, então é isso. Tem hora que dá vontade de falar assim: eu vou lá! Mas eu, do jeito que está, está bravo, tá esquisito.
55:26
P/1 – Vou voltar um pouco para o plano pessoal. O senhor é casado, tem filhos?
R - Eu sou divorciado e convivo com a esposa desde 2002, a nova esposa, eu fiquei casado durante 27 anos, separei e convivo com uma professora que também é aposentada. Ela também tem três fez filhos, eu tenho três, e ela três, já temos netos.
55:58
P/1 – Professor eu estou satisfeito, eu queria saber se tem alguma coisa que o senhor gostaria de ter dito, e eu não estimulei a dizer?
R – Olha, o pessoal tem até medo de me procurar, porque normalmente eu sou quase que uma metralhadora. Quando eu estava na direção do SINPRO os repórteres da Globo ficavam loucos comigo, porque eles tentavam me enquadrar e não conseguiam, eu falava: olha, se for para gravar eu não vou, só vou se for ao vivo! Quando é gravação, “vai sair?”, não vai, então não dou entrevista. Eu falava, e ela tinha as tomadas, quando eram tomadas com a gente, eles queriam fazer 6 horas da manhã na Esplanada. Porra é sacanagem, mas era assim, tinha que ocupar o espaço, então ia! A luta, ela é necessária, agora tem que ter rejuvenescimento, tem que ter, tem que dar injeção de ânimo, não digo que o jovem é solução para tudo, mas tem que formar o jovem para ele se inteirar, para ele perceber com os que já são mais experientes, que se faz necessário a luta, travar o debate para valer. Porque essa coisa do militante, do diretor só de levantar crachá na assembleia, isso é complicado! Tem que ter visão política, criticidade, e engajamento mesmo, e a entidade, ela não pode permitir que o diretor seja maior do que a entidade. O diretor ele é militante, então por isso que eu acho que tem que ter renovação, porque senão, vai aparecendo figuras que se perpetuam, e se julgam donos da entidade, isso aconteceu, com o sindicato do Brasil dos pelegos. Agora nós de esquerda vamos permitir isso? A gente tem que fazer a crítica, eu digo claro, tem que militar, mas também tem que rejuvenescer, porque se não vai chegar ao ponto de ir morrendo militante e a entidade ir acabando, é! É complicado! A gente tem que rejuvenescer a entidade, a gente tem que travar o debate, a gente tem que ir para o enfrentamento. Hoje enfrentamento com esse governo, eu sei que a pandemia está atrapalhando, mas praticamente não existe, pelo menos a gente não tem conhecimento, não é fácil não! Nós botávamos uns carros de som em tudo quanto é regional, Roriz tinha medo da gente, que a gente botava, era carro de som rodando Distrito Federal todinho, era diretor em cima do caminhão de som, e garganta. Eu vou te falar, já passei foi dias e dias em cima que tinha que fazer gargarejo quando chegava em casa, com sucupira para poder no outro dia aguentar falar, em assembleias, em carreatas, em passeatas, isso é a história do SINPRO. O SINPRO já teve que jogar bolinhas de gude para os cavalos abrir as patas para não atropelar, para não passar por cima de manifestante, não sei se já te falaram isso. O SINPRO é isso, o SINPRO é luta, o SINPRO já invadiu o Congresso Nacional, já invadiu Secretaria de Educação, já invadiu até onde foi necessário, até igreja o SINPRO já invadiu para terminar uma greve, greve de fome já foi feito pelo SINPRO. Eu sempre disse: não faço greve de fome. Primeiro que eu nunca tive vocação para mártires. Eu tenho vocação para fazer o debate, agora mártir nunca, não acho que ninguém tem que se martirizar, eu acho que aquilo é o último dos últimos, é melhor o debate, o enfrentamento, e ir para cima e encarar. Mas foi um momento que a gente teve que fazer, alguns militantes se predispuseram e a gente deu cobertura. Invadir congresso, saí de lá, eu me lembro em 1993, quando o centrão, estava que estava terrível, primeira reforma da Constituição que eles queriam fazer, reforma trabalhista. Eu fui tirado de lá o, jogado lá fora, estava invadindo lá, arrastaram... Aí um cara veio me pegar, um pegando aqui nos meus ombros e o outro nas pernas, eu peguei, professor de Educação Física, estava em forma, juntei os dois pés, meti no peito do segurança, ele capotou para lá. Aí o Índio, que era o segurança do Congresso, aquele patola, chamou mais outros lá, pegaram e me carregaram lá em cima assim, saiu até na capa da Veja, eu sendo jogado fora. Era no período dos enfrentamentos nossos. Aí passado uns dias tivemos militantes nossos, de esquerda, Deputado, falar que aquilo era um bando de baderneiro. Aí a gente teve que comprar briga, não vou citar o nome não porque é chato, mas era deputado da bancada de esquerda, dizendo que nós que estávamos protestando dentro do Congresso, era um bando de baderneiro, e aí não deu certo. No julgamento da dívida externa, na praça pública do Setor Comercial Sul, a gente foi para cima do digníssimo Deputado de então, e enfrentamos, e colocamos claro, não dá para aceitar um militante de esquerda, um parlamentar, chamar sindicalista, diretor do SINPRO, de bando de baderneiros, é terrível! Mas isso acontece, são incompreensões, mas faz parte da luta, agora luta ela é do cotidiano, todo dia tem que ser travar, porque não tem jeito, o capital não vai ceder nunca para o trabalho. Então a gente tem que estar sempre com essa compreensão, que eles estão de lá e nós estamos de cá, e a luta tem que ser travada. Eu era tido como diretor “cricri”, contar uma historinha aqui que os diretores do SINPRO sabem disso. Nós íamos para as negociações do Buriti, chegava lá eles vinham com um banquete, eu falava: eu não como, eu não pactuo com esse tipo de coisa, aqui eu não como, eu não sou desse time, o máximo que eu posso tomar e um cafezinho e uma água, pão de queijo, bolo, comigo não! Aqui vocês podem servir, eu não como, “não tem nada”, “tem, isso faz parte da cooptação, eu não entro nisso! Tomo água, tomo um cafezinho, que é o praxe a gente ter isso, eu fazia isso, fiz isso muito! Nunca comi um pãozinho de queijo em mesa de negociação, nunca, pode perguntar à todos ex diretores que conviveram comigo nesse período, se não era assim. Mas na hora do enfrentamento lá na assembleia, qualquer um, a gente discutiu na direção do SINPRO, a gente levava o que tinha sido discutido, não tem esse negócio de rachar com a direção. Era pauleira mesmo!
1:03:43
P/1 - Muito bem professor! Eu queria saber como é que o senhor se sentiu dando esse depoimento para nós?
R – Olha, eu me sinto feliz e honrado em ser reconhecido, não por ser do embate, mas por ter lutado, sempre lutei, e nunca quis o papel de, o capa, o sabe tudo, não, eu interagia, discutia e dominava dentro da área, a gente dominava, orçamento, a gente dominava essas coisas, a gente acompanhou muito. Eu, o Lisboa, a Regiane, eu mais o Lisboa, a gente ia em tudo que era negociação, na época da criação do fundo constitucional, rapaz, foi bravo! A gente teve muitas reuniões, os caras queriam detonar com o Distrito Federal, e a gente encarava esse debate, nas lutas dos planos de carreira, sempre desse jeito, sempre nos enfrentamentos. E o SINPRO é isso, essa é a história do SINPRO, então eu faço parte dessa história, e eu quero sempre dizer, o SINPRO tem que ter diretores que entenda o papel da entidade, e que honrem essa entidade. SINPRO é maior do que todos nós! E necessário a todos nós, e a população do Distrito Federal.
1:05:27
P/1 – Eu queria para fechar, que o senhor me dissesse, por favor, quais são os seus sonhos?
R - Meus sonhos, primeiro deles, ver o Brasil livre dessa corja, dessa corja que está aí de Presidente, assassino, presidente miliciano, presidente que foi deputado federal por 28 mandatos, nunca aprovou um projeto, nunca apresentou um projeto para combater a violência no Rio, para combater as milícias no Rio, como é que um cara desses conseguiu ser presidente da república? Foi fruto do esquema traçado pelo PSDB e Rede Globo, para dar o golpe na Dilma e impedir que o Lula voltasse, está tudo bem claro. E aquele canalha do Sérgio Moro quero vê-lo ainda na cadeia, ele e esse Dallagnol e outros mais, TRF-4, está aí provado, está provado, os caras foram o tempo inteiro filhos da puta, é o nome, entreguistas. Fizeram isso para beneficiar as multinacionais, fizeram isso orientados pela CIA, pelo FBI, tudo foi o lesa-pátria comprovado. Então não dá para aceitar essas criaturas saírem e depois estarem ilesos, como no período da ditadura, que a gente não apurou, não fechou a questão da anistia para os crimes de tortura, tanto que tem um presidente que defende a tortura, e não tem coisa pior do que a tortura. Eu quero sempre defender o direito de você poder se expressar, posso até discordar de você, mas o direito é seu, travar o debate, o direito é meu de fazer o enfrentamento. Mas o enfrentamento não pela arma. Presidente que faz campanha puxando arma o tempo inteiro, incentivando criança, que país é esse? Que país é esse? Nós merecemos um país desses? Um país que têm histórias de resistência, entregue! Tudo fruto da elite conservadora que não aceitava perdurar um projeto progressista, e tentou de todas as formas, achavam que daria o projeto de centro-direita via Alckmin, e acabou que deu a ultra direita com esse tal de “Bostonaro”, que isso para mim é a pior coisa que eu já vi, nunca vi uma pessoa que não merece o título de político igual esse, isso para mim não é política, isso é genocídio, então é o que a gente sempre diz. Precisamos nos unirmos para resolvermos primeiro o momento da pandemia, porque até isso esse canalha quer impedir, basta ver um país que tem um ministro das relações exteriores chamado Ernesto Araújo, é brincadeira! Um Olavo de Carvalho como guru, país que sempre teve pensadores, país em que as relações internacionais eram sempre referência, desde Ruy Barbosa, apesar de conservador, agora tem um cara desses, gente! É difícil, mas é necessário que se trave esse debate, que se tenha essa compreensão que o momento é de crise, a pandemia é séria, eu vacinei a primeira dose sexta-feira, dia 26, quero chegar até o dia 22 sem ter pego, 22 de abril sem ter pego essa coisa, porque não é fácil, eu sou diabético, já tenho essa idade, 68 anos, e você ir para um hospital que não tem condições de atender ninguém. Eu apesar de plano de saúde, eu sei que até os planos saúde estão sem espaço, eu depois que aposentei, logo depois eu tive que fazer plano de saúde, que não aguentava, cirurgia seria cara de mais se eu não tivesse plano de saúde. Então é isso, eu espero que essa juventude, e os nossos futuros bisnetos, possam viver num país minimamente digno, num país em que o pobre possa ter compreensão de que vai comer, porque hoje nós estamos vendo, triplicou em 3 meses o universo de miseráveis excluídos total, isso é doído, um país que tinha um exemplo do projeto contra fome, um país que serviu de exemplo para o mundo, hoje não tem política pública, hoje nós estamos vendo as nossas crianças sem perspectivas de chegarem à condição de adulto, é doído. A resistência à ditadura nos fez avançar, agora temos que resistir a esse nazifascismo que tem aqui no Brasil, para que a gente possa voltar a pensar com dignidade, com respeito das nossas crianças, para que possamos ter creches, que ainda não temos, para você ter uma ideia, não sei se você sabe, Brasília só tinha uma creche pública, a bem pouco tempo, foi no governo Lula, Dilma que se criou creches, é doído! Hoje sem perspectivas.
1:12:08
P/1 - Vamos em frente, porque não nos resta outra alternativa senão lutar.
R - Sem dúvida! Não tenho a menor dúvida! E é isso! E eu quero dizer, vida longa aos lutadores e perenidade ao SINPRO.
1:12:30
P/1 - Perfeito professor! Muitíssimo obrigado pelo seu tempo e pelas boas histórias que o senhor contou para nós, pode ter certeza que foi um depoimento rico e vai ser muito útil para o nosso trabalho.
R - Eu só espero que não tenha nenhum atrito aí na hora de editar.
1:12:55
P/1 – Não, não, a gente respeita a oralidade do depoente, esse é um compromisso nosso, a gente respeita a oralidade de quem fala. Muito obrigado viu professor.
R - Eu que agradeço a oportunidade de falar para esses jovens que estão aí a serviço do SINPRO e que sem dúvida alguma, a gente precisa muito dessa juventude encarando as lutas, que elas são amplas, toda luta de contraposição a esse mal que aí está ela vale a pena, todo luta, digo a todo jovem tá! Muita luta! Vida longa para todos nós!Recolher