Museu da Pessoa

Luta coletiva

autoria: Museu da Pessoa personagem: Lúcia Helena de Carvalho

Entrevista de Lúcia Carvalho
Entrevistada por Luiz Egypto
08/03/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV002
Transcrito por Aponte
Revisado por Luiz Egypto

00:00
P/1 - Boa tarde Lúcia! Obrigado por ter aceito nosso convite. Eu queria que você começasse dizendo, por favor, o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento?
R - Meu nome completo é Lúcia Helena de Carvalho, nasci em Londrina – Paraná, no dia 8 de abril de 1954.
1:11
P/1 – Qual sua atividade atual, por favor?
Eu trabalho com uma micro empresa de prótese capilar, para mulheres e homens calvos.
1:26
P/1 – Lúcia, como é o nome dos seus pais?
R – Pai, Daniel Rodrigues de Carvalho e Julia Marquezete de Carvalho.
1:41
P/1 – E o que faziam seus pais?
R - Meu pai primeiro era trabalhador rural, depois fez um curso de especialização no SENAI e virou eletricista na cidade, e minha mãe professora primária.
2:00
P/1 - Você conheceu os seus avós?
R – Conheci, conheci a avó e o avó, mas morreu eu estava muito nova ainda.
2:13
P/1 - Você se recorda do nome deles?
R – Sim! Por parte de pai eu só tenho o nome da minha avó, que é Guilhermina e por parte de mãe é João Batista Marqueset, no italiano e Antônia de Jesus Gomes no português.
2:46
P/1 - E do outro lado?
R - Do outro lado eu só conheci a minha avó Guilhermina Gonçalves, somente, o pai nunca me disseram, nem eu perguntei, não se falava.
3:06
P/1 – E você tem notícias de onde eles vieram, seus avós, possivelmente imigrantes, né?
R - Os meus avós paternos da Itália e de Portugal e se instalaram na região de São Paulo, Presidente Prudente. E dos meus pais eles tem descendência indígena e descendência Negra, e eles se instalaram em Santos, em São Paulo.
3:36
P/1 – Você tem irmãos Lúcia?
R – Tenho! Éramos três, uma mulher, um homem, e eu, duas mulheres e um homem, e hoje só um irmão.
3:54
P/1 - Você é a caçula?
R – Sou!
3:59
P/1 - Me diga como é que era tua cidade de Infância, como é que era tua rua, o seu bairro, como é que era essa cidade Londrina?
R - Eu tenho duas visões, a rural e a urbana. A rural, a gente morou até eu ter 6 anos, 7, então é pé de café, é algodoal, milho, e as crianças eram muito envolvidas na atividade rural, né! Tanto colher algodão, como colher café, ajudar os pais. Aí foi muito difícil ganhar dinheiro, porque vinha geada e acabava com a roça, então meu pai resolveu trazer todo mundo para cidade Londrina. E aí a gente teve vários lugares de moradia, a gente morou em vários bairros em Londrina, mas era uma cidade muito prazerosa de viver, eu pegava um ônibus para ir para escola já logo na primeira série. Então eu tinha uma vida muito assim independente quando criança, minha mãe era professora também, e aí a gente tinha facilidade de se matricular em boas escolas públicas. Então eu estudei do primeiro ano, até o último ano do segundo grau em Londrina, nos melhores colégios que a minha mãe conseguiu me colocar, sempre escola pública. E desde cedo eu já participei de teatro, de música, enfim, de atividades que pudesse me conectar com os movimentos de esquerda. Bem nova eu já antenava o que acontecia no Brasil, eu tenho um diário aqui na minha casa de quando eu tinha 10 anos, que tivemos o golpe de 64, e eu escrevi sobre a preocupação dos meus pais, o fim da democracia, enfim, acho muito interessante! Ver isso numa criança lá atrás.
6:11
P/1 - Você disse que nessa fase rural da sua vida ajudava a família, ajudava os pais na roça. Significa trabalhar na roça, criança trabalhar na roça, como é que vocês encaravam? As jornadas eram grandes?
R - A gente tinha atividades especificas, por exemplo: levar almoço para o pai. A mãe ficava em casa, fazia o almoço e a gente tinha que levar a merenda, o café quentinho. E isso era muito dolorido, a gente tinha que limpar os pés de café com as mãos, então esse limpar os pés de café com as mãos para depois colocar um plástico, né, uma lona para vir, tirar os grãos, a gente encontrar muita formiga, então a gente vivia muito com as mãos machucadas. Porque além de levar, de ter a obrigação de levar a marmita, o pai acabava utilizando da nossa força de trabalho para isso. A outra coisa também que a gente fazia na roça, era pegar algodão, e o algodão ele fica no meio de uma flor, assim né, então a mãozinha da criança, é muito mais fácil de entrar naquele espaço pequeno, mas ao mesmo tempo é muito espinhento, então a gente vivia também na época da colheita de algodão, bastante arranhado, as mãos bastante machucadas. Então era interessante, a gente fazia na época do milho, a gente pegava as espigas e fazia bonequinhas de milho, brincávamos com chuchu, com muito de produção agrícola, então era nossa brincadeira, mas a gente também ganhava presente da cidade, meu pai no Natal sempre vinha com saco nas costas, bola, boneca, então assim, não era uma vida que eu diria assim, foi super desagradável. A não ser porque meu pai era alcoólatra, então em muitos momentos ele descontava, né, na mãe, na família, então é um Deus nos acuda, mas isso tanto na área rural, como também na vida urbana.
8:28
P/1 – Nesse período de morar na cidade, nessa fase urbana, digamos assim, vocês tinham obrigações em casa?
R – Sim! Nós nunca tivemos ninguém que ajudasse, então a gente lavava as calçadas, lavava louça, minha mãe basicamente cozinhava, então a gente fazia os demais serviços. Eu, minha irmã e meu irmão!
8:59
P/1 – Na área rural vocês brincavam com os objetos de trabalho, digamos assim, e na cidade vocês brincavam de que? Tinha brincadeira de rua?
R - Teve um brinquedo no sítio que eu nunca me esqueço, quando o café fazia grãos, tinha alguns que vinham grudadinhos, então o Felipe, que a gente chamava, era um grão para fazer brincadeira, igual bolinha de gude. Então a gente brincava quem tinha mais Felipe, quem ganhava mais Felipe, que eram os grãos. Então era uma brincadeira no norte do Paraná que é muito comum entre as crianças na roça, na cidade. Aí tinha as brincadeiras que a escola propiciava na hora do recreio, né, amarelinha, pular corda, pique-pega, enfim, muita zoada, muita correria. E a televisão eu só fui conhecer bem mais tarde e na janela do vizinho, por algum tempo.
10:00
P/1 - E a sua primeira escola, qual foi a sua primeira escola?
R - Chamava-se Hugo Simas, em Londrina, não sei nem quem foi Hugo Simas, era o nome da escola. E eu tive uma professora que me alfabetizou, muito encantadora,

tinha a mãe dela que era a monitora, então era a minha professora que chamava Ieda, que a gente não esquece, né, quem ensinou a gente a ler, e a mãe dela, eu não me lembro do nome da mãe dela, que corrigia os cadernos, enfim, ficava lá na sala junto com ela cuidando da gente.
10:46
P/1 – E a sua trajetória a partir da primeira escola, como é que foi? Nos estudos em Londrina.
R - É isso, eu fui para várias escolas públicas, mas eu fiz toda, até a quinta série no Hugo Simas, depois o segundo grau eu fui para o Instituto de Educação de Londrina, e dali eu fiquei da quinta até o último ano do segundo grau. Eu praticamente frequentei duas boas escolas em Londrina.
11:18
P/1 – Além dessa primeira professora, alguma outra ou outro que tivesse marcado tua lembrança?
R – Sim! A gente teve marcado pessoas que nos estimulavam. Então a professora de francês, que ensinava a gente cantando, eu me lembro de várias músicas em francês. Da professora Lindaura de português que nos introduziu no mundo da literatura. Então são coisas bem marcantes e boas, e que me ajudaram muito a ser a pessoa que eu sou.
11:58
P/1 – O Lúcia, o que essa garotinha queria ser quando crescesse?
R – Olha, eu acabei sendo professora mais para sobrevivência, quando eu terminei o segundo grau eu vim para Brasília e fiz o concurso. E aqui eu trabalhava em dois lugares, no SESI, montando uma biblioteca, que foi o momento que eu mais li, eu li toda a coleção de Jorge Amado, Zé de Alencar, Machado de Assis, tinha um momento que você cuidava, né, da biblioteca, recolhia livros, guardava no lugarzinho, aprendia a classificar todos os livros, uma bibliotecária excelente, mas tinha uma hora muito boa, que você ficava no atendimento, e você podia ler também, então foi o momento mais rico da minha vida, foi entre 18 e 23 anos, mais ou menos, uns cinco anos em que eu pude visitar assim quase todos os clássicos que eu quis. E no outro horário eu trabalhava com classes de pré-escola, e fui alfabetizadora por muito tempo, e nesta trajetória eu fui diretora de escola, cheguei a ser diretora de escola, sempre na periferia, sempre nas áreas mais carentes do DF, nunca em áreas nobres e nessa trajetória eu ajudei a construir Associação dos Professores, do Sindicato, teatro Favela Popular. Então eu me embrenhei nessa área de cultura popular e de luta sindical, foi essa minha trajetória. E Associação de Moradores também, tem duas associações aqui que eu fiz parte da fundação, Os Incansáveis Moradores da Ceilândia e União e Luta de Pessoa, eram regiões que eu morava. Eu não sei onde a gente encontrava tanto tempo, para trabalhar, ter filho e ainda militar como a gente militava. Fundadora da Cut do PT, e aí foi um salto, né!
14:14
P/1 - Chegaremos lá! Mas eu queria entender o que te fez sair de Londrina para Brasília? Qual foi a motivação?
R – Ter independência financeira, ter independência pessoal, eu sempre senti uma necessidade muito grande de trabalhar e me libertar que a minha família era um pouco tradicional. Então aqui eu encontrei tudo que eu queria.
14:55
P/1 - Seu primeiro trabalho foi no SESI?
R – SESI - Serviço Social da Indústria, e o segundo na Fundação Educacional, que é a rede pública de professores.
15:10
P/1 – Você lembra o que você fez com seu primeiro salário?
R – Não! Não sei, eu sei que o meu salário servia para comprar papel para luta. Os meus salários serviam para pagar aluguel, comida e roupa.
15:33
P/1 - E como é que se deu essa relação com as escolas? Você disse que participou da Associação dos Professores do ensino médio em Brasília, como é que foi o processo de construção dessa primeira entidade?
R - A primeira entidade na verdade foi em 1960, foi no início de Brasília. E em 64 a ditadura desfez, destruiu, prendeu. E aí a gente recupera essa história da associação, né, do ensino, em 1976, eu já estava aqui á cinco anos, e foi eu, minha irmã, meu cunhado, o irmão, a gente se juntou em 28 professores e reorganizamos a Associação dos Professores.
16:26
P/1 – E foi a Associação Pré-sindicato, né?
R – Isso! Sindicato se transformou em 79, então foram cinco anos, não, quatro anos de

Associação.
16:42
P/1 - Como é que foi esse período, como é que se deram essas lutas num momento tão difícil político brasileiro e como é que essa mobilização se manteve sob condições tão adversas?
R - Antes de estar na Associação dos Professores, de ajudar a fundar, ir para as reuniões, chamar outros, associar pessoas. Eu fazia parte de um movimento que a gente chamava aqui no interior de Goiás, Contra o Custo de Vida, que Dom Tomás Balduíno ajudava a reunir lá em Goiás Velho. A gente fazia grandes encontros na prelazia de Dom Tomás, ele sempre protegeu a militância, né, dentro, dentro mesmo, fisicamente da igreja. Então eu me associei muito a esse trabalho, e eu ia para mutirões em Goiás, ajudar a organizar sindicatos rurais. Então eu sempre me coloquei como uma ativista, para ajudar fundar entidades, não ser principalmente diretora, ou presidente. Só mais tarde que isso começou a acontecer. As vezes paro e penso, eu não sei como a gente teve tanta energia para tanta coisa, eu não me preocupava muito com essa questão de segurança, a gente tinha após cada Assembleia que a gente participava, patrulhinhas que passavam em frente da sua casa e parava e ficava, né! Uma vez a gente foi pedir autorização, já tinha essa história que para se reunir tinha que pedir autorização, para assembleia. E o secretário de segurança travou! Ou alguém, né! “Dá um susto neles!” Travou o elevador a gente ficou lá, quase 4 horas preso dentro do elevador da secretaria de segurança. Então assim, teve muito pressão psicológica, mas eu nunca fui presa nesse período, eu sempre tive uma atuação bastante clandestina, bem protegida, eu tive filhos nesse período também, filhos a cada cinco anos, desde os meus 19, eu tenho quatro filhos. A minha filha mais velha hoje está com 47 anos. Então eu não me privei de nada, eu viajava, eu levava menino, eu fazia todas as atividades que eu acreditava, e que era principalmente semear ou impulsionar as pessoas a fazerem as coisas. Eu gostava muito de trabalhar com centro de documentação, então eu tenho muito material, muito caderno, muito livro produzido, muito material que a gente distribuía para motivar a participação da militância, na época.
20:29
P/1 - Como é que era o nome dessa Associação de Professores de 1975?
R - Associação dos Professores do Distrito Federal.
20:44
Fala um pouco sobre os incansáveis, sobre o P2 que você disse que também ajudou a organizar e a estimular, como é que foram essas mobilizações?
R - Não grave isso agora, mas acabei de receber aqui que o Fatinha anulou todas as condenações do ex-presidente relacionadas a lava-jato. Ai que legal! Mas a Associação União e Luta do PSUL que a gente trabalhou ela mais ou menos em 79 e a dos Incansáveis, moradores de Ceilândia, em 78, 79, já num período que a gente lutava muito pela abertura política. Elas nasceram de realidades concretas, de promessas não realizadas de urbanização, de assentamento, de lote barato. Então a luta dos Incansáveis, principalmente na Ceilândia. Ceilândia é campanha de erradicação de invasões, então a Ceilândia cidade da campanha, moradores que construíram Brasília. Então era uma farta literatura que a gente produzia quando a gente ia fazer manifestações, “construímos Brasília, queremos ficar nela”. Então era assim o nosso lema principal, e o movimento foi vitorioso! Tanto foi uma luta civil, como foi uma luta jurídica. E o nosso advogado era o Sigmaringa Seixas, que já morreu, não sei se você chegou a conhecer o Sigmaringa. O Sigmaringa e sua equipe foram vitoriosos para que os moradores de Ceilândia cada um dos que receberam lotes pagasse um preço simbólico. Então foi a nossa luta, e também teve muita participação de religiosos nessa nossa luta. Eu trabalhei na Progente, que era uma instituição que recebia dinheiro do mundo, eram evangélicos que tocavam, e eu era professora também. E ali se formou o movimento dos Incansáveis, e nós tivemos também a igreja da Paixão numa das quadras de Ceilândia, que o padre, que até morreu agora recentemente, nos ajudava muito também. Então a igreja na época teve um papel fundamental para que os movimentos populares e sindicais rurais e urbanos pudessem acontecer.
23:30
P/1 - Voltando para o campo dos professores e Associação dos Professores, você conheceu o Olímpio Mendes?
R – Ele e meu cunhado!
23:44
P/1 - A gente não tá mais com ele presente entre nós, mas eu queria que você me falasse como ele era?
R - Olímpio Gonçalves Mendes, casado com Maria Aparecida de Carvalho, minha querida irmã. Ele era uma pessoa de esquerda, foi exilado no México em 64, ele fugiu aqui pelo Chile, depois ele foi para o exílio no México.

E ele voltou quatro anos depois, em 68 ele já estava aqui, clandestino, e conheceu minha irmã, fez concurso na Fundação Educacional e reingressou na vida. E já reingressamos trabalhando as instituições. Eu acho que eles achavam que Brasília nunca ia ter movimento, né, Rio, São Paulo tinha muito, então aqui em Brasília o que aconteceu e que veio germinando, não foi tão perseguido, porque primeiro a gente era super destemidos, se tivesse morrido a gente nem tinha sentido, como diria, o sentido da vida nossa, era lutar e querer um Brasil, infelizmente não como está hoje, né! Mas como a gente já quase teve, com participação na distribuição de renda, enfim, uma coisa que eu luto até hoje, nunca desanimei, eu vou morrer lutando! Então eu acho que o Olímpio, que morreu agora recentemente. Foi de uma fatalidade assim incrível! Estava com a minha sobrinha e ele estava sarando de uma queda, e sentiu uma dorzinha na barriga, ela fez massagem, na verdade era um infarto que ele estava tendo, e morreu de infarto, quando estava se recuperando, mas já estava com 80 e poucos anos, então ele já tinha uma certa debilidade na saúde. Mas era um cara alegre, um Goiano, sabe esses Goianos tranquilo, me deu três sobrinhos maravilhosos! Infelizmente minha irmã se foi muito cedo, ela morreu a gente estava construindo a Associação, ela era fundamental para esse processo, e depois ele teve muita dificuldade de se casar e ficou morando com os filhos, aposentou-se na Fundação Educacional. E quando nós fundamos o sindicato entre 79 e 80, nós fizemos uma greve já,
do sindicato. E o Ministério do Trabalho usou de uma lei existente na época e fez uma intervenção e demitiu a diretoria toda do sindicato. Então ele ficou por alguns anos sem trabalhar, tendo que ir para rede particular, até que nós conseguimos reabilitá-lo. E aí já vem com o processo das Diretas Já! E aí ele é reintegrado e passa a última luta. As greves nossas sempre muito vitoriosas. Eu nesse período deixo um pouco o movimento popular e ganho junto com uma diretoria toda, né, a eleição do sindicato, em 1976, desculpa, pulei, em 1986, 10 anos depois eu estou no movimento sindical e sou presidente do sindicato, a primeira mulher eleita numa categoria majoritariamente feminina. E fico presidente do sindicato até 90. E a gente tem tentado recuperar toda a memória das pessoas que lutaram, como Olímpio, que foi uma pessoa que não desistiu, ele era bem devagar, ele era um Goiano típico, mas ele não deixava de lutar!
27:58
P/1 – Como é que foi o processo de recuperação do sindicato, logo após essa primeira intervenção. Sindicato recém-criado, o governo intervém no sindicato, demite a direção. Como é que foi o processo de reconstrução?
R – Isso, aí entra uma diretoria que era mais confiável para o Ministério do Trabalho, é quase como um acordo, foi uma diretoria que assumiu em 81, 82, e era basicamente o pessoal do partidão, que estava assim numa posição de mais, não é conchavo, mas mais alinhamento com
, né! Então eles achavam o PT uma heresia, achava um absurdo, né! E nós fomos para o enfrentamento, eles conduziram o sindicato por uns 4 anos, 5. E aí a gente ganha e começa a primeira greve de 47 dias que deu a nós o primeiro plano de carreira completo na categoria, foi uma greve em 87, vibrante, maravilhosa, com a nova diretoria e que deu o rumo, assim, para a luta, né, para todas as conquistas. Esse meu gato aqui, ó! Ele fica o tempo todo querendo estar atuando aqui, é o Monet.
29:32
P/1 – É ciúme que ele sente!
R – Não é não, ele é participativo!
29:40
P/1 - Depois de toda essa mobilização histórica de 47 dias, ela se dá num bojo de um processo de intervenção que vai se esvaindo com o tempo, é isso? Que dizer que a atitude mais conciliadora perde espaço, é isso?
R – Perde! E a de confrontos vem, e até 94 a gente fica nessa postura de confronto, os movimentos populares, o PT, os Sindicatos, a Cult. E comina com a eleição do Cristóvão, e eu já estava eleita deputada distrital. Aí eu sou presidente da Câmara, e a gente começa a se decepcionar muito com Cristóvão, e a gente acaba perdendo o governo do Joaquim Roriz, que já tinha sido governado numa linha populista, e que acaba voltando.
30:42
P/1 - Nesse momento, o que te motivou a disputar a presidência do Sindicato? A chapa contrária era forte, como é que se deu o processo da sua eleição?
R - Existiam três chapas, tinha a da situação que era reformista, vamos chamar assim! Uma segunda que era bem radical era causa operária, militantes bem mais a esquerda. E uma outra ampla, de oposição e com os companheiros que se identificavam mais com o PT, essa que foi vencedora com 80% dos votos, e até hoje comando o sindicato. A chapa que eu pertencia lá em 86 e que foi vitoriosa, olha nós estamos em 2022, né?! Até hoje o sindicato é dirigido pela mesma linha política, com nuances, formas de trabalhar diferente, mas a consolidação no sindicato é assim, ninguém vota na direita, à direita não tem espaço, já triscou, mas não conseguiu! Assim como bancários, aqui em Brasília existe uma tradição. Os sindicatos hoje eles estão tendo que se reinventar, mas nunca a direita tomou, nem tem muito interesse em tomar os sindicatos.
32:17
P/1 – Os Sindicatos dos Professores têm uma base muito expressiva, né! Tem muito sindicalizado entre os professores em atividade a que se atribuem isso, hein?
R - Se atribui a nossa forma de trabalhar, a gente ia em todas as escolas, fazia a reunião, por exemplo: nós éramos em 15 diretores, tínhamos 600 escolas, então cada um tinha que visitar X escolas, em X regionais, parar na hora do intervalo, de manhã e tarde e de noite se possível, e fazer reuniões, informar como estava. Então esse trabalho, criar delegacias Sindicais, Delegados Regionais, tudo isso estrutura o combate à luta, chamar rápido para mobilizações e fazer pressão e ser um sindicatos respeitado. O contato com a base, né!
33:15
P/1 – O que te motivou a disputar cargos eletivos formais? Ser candidata a Deputada Federal, depois Deputada Distrital, o que te motivou entrar nessa política formal?
R - Eu sempre fui Distrital, eu nunca fui Federal eu trabalhei eu tive três mandatos, fiquei 12 anos dentro da Câmara Legislativa, e o quarto mandato por 100 votos, um Procurador teve mais votos que eu, e eu não quis mais me candidatar. Coincidiu com lula sendo eleito em 2002, aí eu fui para o Governo Federal trabalhar na esfera Federal, trabalhei até Dilma. Então eu completei meu ciclo, movimento popular, movimento sindical, Presidente de Sindicato, Câmara Legislativa, fiz parte de todas as comissões, fui líder da minoria, depois líder do governo, Presidente da Câmara, Governadora, duas, três vezes. Inclusive uma das minhas substituições que eu substitui Cristóvão, foi no dia 3 de maio de 1977 que foi a morte de Paulo Freire, que foi meu grande formador. E eu decretei luto oficial em Brasília em função da morte do nosso grande pedagogo, filósofo da educação. E para mim então em todos os espaços, eu acho que eu esgotei tudo, e eu não queria, eu não fui Federal, nunca me lancei, nunca disputei, temos nossa representação pequena, mas fala a minha voz, fala por mim! E hoje eu fui depois que a gente foi destruído, né, foi dado o golpe a companheira Dilma, eu procurei sobreviver fazendo alguma coisa. E na época meu filho estava trabalhando com a criação de uma empresa e eu fui trabalhar com ele, pequenininha, e é pequenininha até hoje, mas é a minha sustentação e faz política, viu, o tempo todo!
35:43
P/1 – Me diga uma coisa, qual é o balanço que você faz nesse teu período de Deputada Distrital? Brasília é uma cidade que estava tudo tão planejado, tudo tão aparentemente funcionando bem, feito para funcionar bem. E hoje é uma área com seríssimos problemas habitacionais, fundiários, como é que você avalia tudo isso depois de ter passado tanto tempo na Câmara Legislativa?
R - Toda luta é valida, não foque na Câmara Legislativa, eu não sei se enquanto eu estive lá eu consegui funcionar mais lutas, ou foi quando eu não estava. Então eu acho que foi importante para dar vez e voz às mulheres, acho que hoje aproveitando o Dia Internacional da Mulher, dizer que eu voltei meus projetos muito para área feminina. Então, primeiro projeto que obrigava o estado a dar gratuitamente o exame de DNA, dois, construção do laboratório do DNA em Brasília que prestou serviço para América Latina, hoje é referência, então a gente que ajudou na época que Cristóvão foi Governador e eu presidente da Câmara, líder do governo. Então eu aproveitei dos meus cargos para a gente poder executar leis, porque que eu te digo executar leis, o legislativo é muito vazio, se o executivo não implementa as coisas boas que a gente vota, que a gente transforma em lei. É preciso muita pressão para que o Executivo faça mesmo aquilo que a gente vota lá. Então, o parlamento é muito campo de criação, de denúncia, mas eu me identifiquei muito mais no executivo. Por quê? Porque no executivo ou você tendo um governador que é seu aliado para implementar, ou estando em espaços executivos é muito mais importante do que o espaço Legislativo. Acho que também o Executivo sem uma maioria configurada de discussão Legislativa, também não anda, torna-se fisiológico, você tem que adular o parlamentar, tem que tirar uma foto com ele, tem que levar ele para uma reunião, então o governador e o Presidente, a Presidente tem que ter uma relação muito boa com a justiça, com Parlamento, senão ela sofre realmente o impeachment. Não é porque teve pedalada. Teve o impeachment de Dilma porque ela não estava com uma relação salutar com o Parlamento e nem com o Supremo, então aconteceu o que aconteceu pela falta de política naquele momento. Aí já é uma crítica, e aqui também no DF a gente perdeu o governo, porque o Cristóvão subiu em quatro saltos, então isso fez com que a gente perdesse para a direita.
39:07
P/1 – No seu tempo no governo federal em que áreas você atuou?
R - Eu atuei, cheguei fui trabalhar na assessoria, não desculpa, esse foi segundo! Primeiro eu fui ser diretora do INSS era uma instituição destruída, Fernando Henrique queria a privatizar, ter o INSS só para quem ganhasse até o limite do salário mínimo, o resto tudo ia para previdência privada. Eu fui para a Diretoria de Recursos Humanos e a gente reconstruiu com 5 mil contratações de técnicos e auxiliares, 5 mil contratações de médicos, então a minha passagem pelo INSS que foi até 2006, de 2002 até 2006, 4 anos foi de reconstrução da instituição. Que agora já está meio destrídinha de novo, porque não fazem concurso, porque não realimentam, não tratam bem, mas assim, eu conheci coisas fantásticas, como PREVBARCO que atendia as tribos indígenas na Amazônia, cidades no interior do Brasil onde o INSS contribui mais que arrecadação de imposto. Então assim, eu tive experiência dentro do INSS fabulosas, é um instituto fundamental, tem uma capilaridade tipo Banco do Brasil, tá em todas as cidades, e onde não tem Banco do Brasil tem INSS, tem a Caixa Econômica. Então esse país é grande, mas ele é riquíssimo, destruir ele tá dando um trabalho. E depois eu fui para... aí trocou o ministério, foi para o Jucá, saiu do Berzoini, né! E aí afinidade foi diminuindo, até que eles quiseram colocar outras pessoas, e eu fui chamada para trabalhar na Assessoria do Presidente da República, na área de previdência. Fiquei uns dois anos e me indicaram para trabalhar com as terras da União. Então eu fui para Secretária do Patrimônio da União, Superintendência DF. Muito interessantes, ocupações dos quilombolas, sem terra, todo um trabalho popular magnífico, identificação de quem está nas terras da União, fazer o registro, arrecadação. E eu até respondi um processo por estar lá! Aí um dia o delegado falou assim: mas você sabe que você fez 20 mil registros de ocupantes? Você queria que eu deixasse as pessoas? Sabe assim, a um excesso de trabalho no governo Lula, embora a gente não tenha conseguido consolidar o espaço de poder popular, mas nunca se trabalhou tanto, nunca acho que teve Servidores Públicos como eu, que nas chefias fizeram as instituições caminhar, fazer, acontecer, o que surpreendeu até setores da investigação, nossa! Eu falei: pois é! Agora olha meu patrimônio, veja minhas contas bancarias, vê se tem incompatibilidade com os meus salários.
42:42
P/1 – Lúcia me diga uma coisa, voltando para o campo do professorado. Como é que se deu a transição da diretoria clássica, Presidente, Vice-Presidente, Vice-Secretário, Tesoureiro para a diretoria colegiada do SINPRO? Como é que se deu?
R - Existia muita disputa entre Presidente e Vice, quem falava com a imprensa, e a coisa a gente percebeu era muito centralizada, e se a gente pregava que tinha que ser partilhada. Nós inventamos uma espécie de colegiado, que eram três pessoas em cada uma das secretarias, cada uma dessas secretárias tinha uma liderança que ocupava cada ano um. Então isso fez com que tivesse rodízio de poder, tivesse menos visualização daquele só elemento, se conhecia vários, mas na verdade o que a gente percebe hoje depois de vários anos de colegiado, é que também, 1 perde-se muito as lideranças, se dilui demais, deixa de ter referências, e as lideranças, as pessoas são diferentes, tem gente que tem carisma, tem gente que sabe se expressar muito bem, e tem pessoas que nunca serão lideranças, embora sejam direções. O Lula, o Lula nasceu lá no movimento sindical, eu conheço a história dele lá em São Bernardo, no início, mas ele sempre foi aquela coisa que apagava todo mundo, não existia mais ninguém na direção. É mal por um lado, né, eu acho que você tem que dividir, mas as lideranças que vieram depois mesmo da saída dele do sindicato, nunca conseguiram ocupar, né! O Djalma Bom, deixa eu aqui pensar em outros, tá bem na minha cabeça, o presidente da Cult e eu não lembro agora de nome dele. Você lembrou o nome?
44:50
P/1 – Meneguelli!
R: O Meneguelli, Jair Meneguelli. Então assim apareceram outras lideranças no Sindicato dos Metalúrgicos, mas não do tamanho, eu acho que lideranças elas são iguais a inventores, igual a músico, sabe alguém que consegue aglutinar e outros, não só aglutinar, como permanecer. Aí eu faço uma crítica a minha liderança, eu não lutei para permanecer nas coisas, em nada, eu passei por todas elas, deixei minha contribuição, fiz, eu sei que fiz, fiz diferente, mas assim sabe quando você não sente falta, né, porque você continua criando outras situações. E o Lula não, o Lula focou, foi e ficou, e outras pessoas, outras carreiras eu vejo aqui, né, foi distrital automaticamente ser Federal, automaticamente ser governador. Assim, a um espécie de carreira, seja da esquerda ou seja na direita. Eu não fiz isso, não fiz consciente, eu deixei um pouco a vida me levar. Eu te respondi Luiz, que é bom, mas ao mesmo tempo dilui muito as lideranças. Então por exemplo hoje, quem que eu conheço lá do Sindicato dos Professores? A Rosilene, eu conheço outros, mas quem se destaca? E ela não presidente do Sindicato. O que se destaca? Se destaca pela presença, pela comunicação, é isso!
46:40
P/1 - No seu tempo na direção do sindicato a fora a greve de 47 dias, houve algumas outras mobilizações que tenham marcado a tua gestão? Não a tua gestão propriamente dita, mas a sua atividade como militante, como participante dessa luta?
R – Sim! Nós tivemos o Badernaço que foi entre 86 e 87, e que tremeu as bases realmente, na época era o Sarney. E que fez com que rapidamente a gente pudesse caminhar para a eleição, e foi mesmo algo que pode acontecer nesse país ainda em breve, que foi um arrebentar de revolta, queimaram-se carros, destruíram-se vitrines, tombaram viaturas de polícia, muito militante machucado. Então foi uma luta marcante, e que o sindicato dos professores teve uma presença fundamental, nós delegamos da nossa diretoria o Valternei Valente, o Peninha, para que ele participasse, e acolhemos a reunião de vários partidos e sindicatos, lá dentro do sindicato, para que esse movimento pudesse pressionar e avançarmos politicamente o país. Esse movimento, que foi criado praticamente dentro do Sindicato dos Professores, foi muito importante durante o período que eu participei da direção do Sindicato dos Professores.
48:22
P/1 – Qual era a pauta que estava em jogo nesse momento que resultou no Badernaço?
R – A pauta era salários, estabilidade, eleição democrática. Todas essas reinvindicações faziam parte desse movimento. Nos não tínhamos ainda escrito a constituição, certo, 86. Então foi uma espécie de grito já, para dizer, olha o que a gente quer para nova constituição.
49:01
P/1 – E como é que você avalia hoje a atuação do SINPRO? Continua sendo um Sindicato expressivo no conjunto dos trabalhadores do DF? E como, reitero, tem uma base sindicalizada que é uma das poucas que tem tanta incidência de sindicalizados no país.
R – Minha avaliação é que o Sindicato sempre foi o precursor das lutas no DF, das lutas coletivas, o Sindicato dos Professores nasceu com gente como eu preocupada, quer dizer, se fosse só eu não tinha acontecido, mas todo mundo preocupado em preparar a base, fazer enfrentamentos e lutas. Nada se consegue se não for pela luta, pela denúncia e pela união, e as diretorias foram se sucedendo, muitas até se colocando como oposição aos outros, mas também da mesma linha de esquerda, e chegamos ao que estamos hoje. Mas aí, hoje não é muito nem os companheiros que não, digamos assim, que estão mais parados, é o próprio país, a gente está hoje, até pela pandemia, numa situação em que a gente não pode fazer concentrações. Mas mesmo assim o nosso sindicato tem puxado algumas mobilizações, pela não volta às aulas enquanto não tiver vacina, o tempo todo embatendo com o governador, que volta e meia bota uma data porque a escola vai voltar. Então o Sindicato dos Professores, tem o respeito, ele tem o respeito da população, tem o respeito da imprensa e com certeza ele teme, os governadores, os governos temem a mobilização que o Sindicato dos professores é capaz de fazer. Então é uma cultura consolidada, só os SINPRO, não, existem outros Sindicatos no DF, a central Única que unifica isso, mas o SINPRO continua ponta de lança para a luta.
51:20
P/1 – Nesse momento tão delicado e tão desmobilizador num certo sentido, como é que você avalia a comunicação que o SINPRO deve ter, ou deveria ter nesse quadro tão adverso que nos estamos vivendo?
R – É! Eu acho que é pouco, acho que os Sindicatos tinham que ter TV, rádio, ter panfletos com mais constância como nós fazíamos, distribuir na rodoviária que é um ponto principal, falar da descoordenação dos governos no enfrentamento da pandemia, linguajar popular. Então eu acho que falta esse processamento sim! Esse maior número, nós temos apenas o Quadro Negro que foi criado lá em 76, foi um concurso que nós fizemos, isso eu me lembro, minha irmã era da secretaria de imprensa e o primeiro Quadro Negro nasceu em 1976. Ele existe até hoje, existe um outro veículo que eventualmente eu recebo aqui, mas você tem toda razão, a gente perdeu no governo progressista pretérito recente, por falta de comunicação com as massas, de educação com as massas. E eu acho que nesse momento os Sindicatos também se sintam recuados nesse sentido, porque não é possível mobilizar, eu acho que nós temos a voz e os panfletos para vincular cada vez mais, eu espero que a gente alcance o poder da palavra, em cada casa, para se comunicar com os seus associados, porque tá todo mundo muito desesperançoso em função do que vivemos e de um governo que não aponta para nada positivo economicamente, pelo contrário, a gente tem a sensação que ganha menos todo mês, parece que eu ganhei menos esse mês que no anterior. Então estão sempre subtraindo nossos direitos, e esse medo de morrer que todos nós temos nesse momento se dependermos do governo. Então os sindicatos estão precisando chacoalhar todos nós com mais atividades, mesmo que distante em instância, mas pra nos levar coisas boas, esperanças, poesia, Carlos Drummond, e tantos outros, Cecília Meireles, tanto os outros poetas que salvam nesses momentos difíceis.
54:08
P/1 – Eu vou te pedir para fazer um parêntese de tal modo que a gente faça uma digressão histórica, fala um pouco sobre o jornal Quadro Negro, como é que ele nasceu? Como é que foi esse momento, como é que ele surgiu? E você acompanhou isso de perto pelo jeito, né?
R - O Quadro Negro surgiu assim que a Associação foi fundada, a gente sabia da importância da comunicação, era um jornalzinho bem precário, a impressão em preto e branco, tiragem tipo 10.000 exemplares para a gente distribuir escola por escola, tiragem mensal, e já na segunda edição, que era assim: Órgão de Imprensa do Sindicato dos Professores. E sempre deixava, a gente propositadamente deixando o título. E aí no segundo a gente já lançou o concurso, e no terceiro a gente já tinha escolhido o Quadro Negro, que tinha artigos de poesia, que tinha artigos de realidade política nacional e a pauta de reivindicações que nós tínhamos para o governo, que era tudo! A gente só tinha três níveis, A, B e C. Nível de quem tinha segundo grau, professor primário que se chamava, o segundo grau, com uma graduação curta que era a classe B, e a classe C que era quem tinha nível universitário. Ponto, não tinha nenhuma outra, outro direito, era aposentar depois de 30 anos, não existia nem aposentadoria especial para a gente ter ideia, então a pauta era tudo que a gente tem hoje. Só que hoje eles estão conseguindo, e aí a partir dos planos econômicos e a partir das leis federais, congelar salários, tirar direitos. Então a partir de que vê que ano, a partir de 2000 nós começamos perder muito direito, muito direito. Então o Quadro Negro ele falava dessas três situações, a local, um pouco de cultura, um pouco de teatro, música e poesia, e a parte das lutas nossas, quando convocação de Assembleias, era o nosso veículo, e é até hoje!
56:40
P/1 - Lucia quais você considera os maiores desafios que se colocam nas ações do SINPRO nesse quadro que a gente tá vivendo? Quais são os desafios que esse sindicato tem que encarar?
R – É! Quando acabar a pandemia revisitar as bases e fazer contato com todo mundo novamente, e eu acho que fazer um grande programa de formação política. Nós tínhamos cadernos de formação quando eu estava na diretoria, já Presidente, nós criamos cadernos de formação que era: porque um sindicato? Para que serve? Enfim o beabá mesmo, a história da riqueza do homem, como é que foi acumulação. Nós professores do Instituto somos tão importantes, você se lembra, eu me lembro dos professores que nos motivaram, que nos fizeram ler, abrir os olhos, entender o mundo. Então assim, a nossa categoria precisa passar por um rejuvenescimento intelectual, pessoal, político. E eu tenho esperança ainda, que pós pandemia, durante esse período vamos só nesse contato eu já te falei, mas depois a gente vai ter que fazer um contato físico mesmo e abraçar todo mundo na escola, e discutir o que foi isso, né! Um negacionista nos orientando e quantas mortes ainda nós vamos contar que aconteceu. Então esse é o papel do sindicato agora e pós pandemia.
58:34
P/1: Pois é, eu não vou te pedir nenhum exercício de futurologia, mas eu queria que você refletisse um pouco sobre o futuro da educação nesse país num cenário pós pandemia. Como é que você enxerga isso?
R – Para te dizer o que eu vou dizer eu tenho que fazer uma crítica no governo nosso, lá atrás. Porque eu sou do PT, nos tivemos bons ministros da educação, mas nós não conseguimos formar intensivamente, ideologicamente os professores, para que eles pudessem produzir uma educação libertadora como Paulo Freire tanto pregou. A gente não se apegou muito aos textos revolucionários simples, didáticos que podiam ter construído tanto, a gente foi criado programas, criando programas que até foram importantes, até para alguns empresários da área da educação, assim como muitos programas que ajudou muito empresário a ficar rico nesse país. Mas a gente não libertou os trabalhadores dessa opressão intelectual, dessa opressão política. Então voltar no futuro para mim e a elevação total que eu vou sentir politicamente, e a gente recuperar o Governo Federal, tentar fazer uma maioria na política e reconstruir os espaços de poder. Espaços de poder são os espaços e ideológicos. Poder não é só construir casa, isso fez muito, muito empresário da rede de construção civil ficar milionário, e construíram casas às vezes até muito pouco confiáveis no programa Minha Casa Minha Vida. Nós temos que construir mentalidades, então nós vamos ter que trabalhar os espaços de poder, rádio, TV, nos vamos ter que ter TV dos trabalhadores. Não precisa destruir a Globo, mantem as TVs de direita dentro de um patamar eu acho que de tendo um conselho plúrimo, democrático, que faça recomendações, nós temos que fazer a regulação das mídias como fizeram na Argentina, na Venezuela, não tem que ser censura, mas tem que ter responsabilidade na comunicação. Rádios, TVs, escolas, universidades, escolas federais, dentro de um currículo Libertador, dentro de um currículo que dê opções aos alunos a se construir uma nova sociedade. Eu acredito muito, a educação e revolucionária, a educação revolucionária, só que ela só vai acontecer quando a gente conseguir também reconstruir o Governo federal, Governo Federal está destruindo o Brasil, os vamos ter muito que reconstruir, muito, não é só voltar o que era, é ultrapassar o que era principalmente na área ideológica, na educação e na formação, e na edificação da ciência. Você vê que ela sobrevive até hoje, embora toda essa destruição Luiz, você vê que a ciência produz vacina no Brasil, é claro que em parceria com outros países, mas quem não faz parceria com quem tem os insumos, né, como a China. Mas você tem cientistas que fizeram um soro agora que tá ajudando nos processos, que vai ser testado em seres humanos que estão com covid-19, um soro, não esse lá que foram ver em Israel, mas um soro local produzido no Butantã. Butantã é uma instituição pública de grande referência, então nós temos cientistas, a que fez a discrição do primeiro, do Genoma do covid é uma brasileira negra. Então assim, cientista isso faz a gente sentir que é possível Luiz, um mundo, um Brasil diferente, que volte a ser protagonista, como era antes, e melhor, tem que ser mais! Isso vai animar os Sindicatos, vai animar as associações, isso anima tudo, isso reconstrói, eu acho que nada como seres humanos felizes. A gente está sonhando com isso! Eu vou ajudar a construir isso de novo!
1:03:25
P/1 – Sem dúvida, e fora a educação não há solução, né Lúcia!
R – Não, não há não! Todo mundo é educador, acho que uma das compreensões que todo mundo devia ter. Nós somos formais, só que pai, mãe, tio, vó e todo mundo, tio, parente, vizinho é educador. Educador é uma palavra extensa, você educa para o bem ou para o mal, mas você é educador.
1:04:00
P/1 - Vamos voltar para o lado mais pessoal, você é casada?
R – Fui! Agora estou solteira!
1:04:06
P/1 – Tem filhos?
R - Tenho 4 e duas netas.
1:04:10
P/1 – E o que fazem seus filhos?
R - A mais velha que tem 47 anos, ela é concursada do Tribunal de Justiça do DF, trabalha na vara de execuções criminais, ela estava me contando coisas boas que ela tem feito lá. Segundo filho é o Pedro, que me ensinou a profissão que eu tenho, tem 40 anos, estava na Inglaterra e agora está aqui comigo passando uma temporada, mas ele quer ir para Irlanda, é do mundo. Aí tem a Mariana, terceira filha que tá na Inglaterra fazendo doutorado em artes cênicas, desculpa! Artes plásticas, ela fez artes aqui na UNB, tá cinco anos fora, estudando e trabalhando na área de educação, tá na Inglaterra. E tem o quarto filho, mais novo, o Lucas, que é oficial de chancelaria, concursado, foi assim maravilhoso que foi o último concurso que a Dilma realizou e eles acabaram chamando agora no início do ano passado, então ele tá super feliz e trabalhando com aquele louco que acha que a Terra é plana, só faz a gente passar vergonha, é um sem educação! Como é que ele passou para ser Diplomata no Itamaraty, eu te pergunto? Que educação foi essa? Esses meus quatro filhos, cada um dentro da sua vida e criados juntos com a luta!
1:06:02
Beleza Lúcia, eu estou começando a ficar satisfeito. Alguma coisa que você gostaria de ter dito e não foi estimulado a dizer?
R – Não, eu só esqueci da Júlia e da Bia, que são duas meninas muito interessantes. A Júlia tem 11 anos, e a Bia a neta mais velha tem 18! E não existe essa história, é só para concluir, que não foi dito! Que você esteja num cargo mais importante que o outro, não existe isso, onde você quer fazer história você faz, sabe se você é uma pessoa instigante, se você é uma pessoa que quer contribuir com a mudança do mundo, não importa o lugar que você esteja. Hoje eu recebi da minha auxiliar, ela vem uma vez a cada 15 dias limpar a casa, aí ela me mandou um escrito sobre o dia internacional da mulher: somos guerreiras, somos capazes e vamos transformar esse país! E ela é filha de uma negra Pernambucana, ela é negra, teve tentativa de estupro por parte do padrasto, fugiu para Brasília, então uma história terrível! Mas confia na mudança e sabe que vai ajudar e que ela é guerreira. Então eu tô te dizendo que não é necessário estar em lugares importantes para ajudar a transformar o mundo, basta querer né Monet! Aqui esse bichinho me ajudou muito na pandemia, gato ajuda muito, bicho ajuda muito!
1:07:36
P/1 – Lúcia, o que você achou de ter participado dessa entrevista?
R - Eu não sei como vocês vão usar, é bom que a gente faz um filme, né, parece que você rebobina um computador da gente, mas, Pablo Neruda, disse: Confesso que vivi! E eu digo: Confesso que estou vivendo! Tem hora que envelhecer dói, dói muito, dói as juntas, dói de sofrimento, eu já tive covid umas 20 vezes. Mas é importante mesmo vocês recuperarem pessoas que fazem história, mas ontem por acaso eu assisti um pedacinho do Fantástico, mulheres simples, comuns, como elas contribuem com a história desse país, então assim, é bom que vocês peguem pessoas que estiveram em várias instâncias de poder, mas pessoas simples como a Dora, por exemplo, como a minha auxiliar no meu trabalho, a Deusa, elas ajudam, ajudam a construir, se elas tiverem uma visão de libertação, não precisa ter grandes graus de ensino, você não precisa estudar tanto. Eu conheci trabalhadores do campo de uma sabedoria, e de uma mentalidade revolucionária, de ensinar todos nós! Então onde quer que nós estejamos, sejamos educadores, transformadores desse mundo! E eu gostei muito de ter conversado, porque refaz na cabeça da gente tudo que a gente já conseguiu fazer, e eu estava te falando, né! Eu tenho tudo quanto é coisa que a gente produz, eu fico guardando aqui tudo. Trabalhei muito com coisas da terceira idade, eu tinha uma revista de educação, o Sindicato não criou, eu fiz uma revista de educação, em que eu pegava artigos de professores para revista. A lei contra assédio moral, contra o assedio sexual, enfim, tudo que eu pude eu materializei em lei, e tudo que eu pude no executivo eu executei, e tudo que eu faço hoje como cidadã. É muito importante fazer essa recuperação com vocês, continue, eu não sei como é que a gente vai ter acesso a isso, você podia me falar um pouco também?
1:10:19
P/1 – Isso tudo vai ser transcritos, vai ser revisado, e vai ser montado um livro com todos os depoimentos colhidos nesse programa, e ali a ideia e contar a história com múltiplas vozes. E nós também damos muito valor aos anônimos, as pessoas que não necessariamente estão nas direções, mas que estão participando naquilo de algum modo, como apoio, como personagem lateral no que para nós são muito importantes também esses personagens. Agora para finalizar, eu queria que você me dissesse quais são os seus sonhos, Lúcia?
R - Ganhar as eleições de 2022 e impeachment do abestado, imbecil, desgraçado. Que meu espaço eu consiga o que eu sonhava em 2019, aí eu sobrevivi só esse ano e agora. E contribuir ainda por muitos anos, para que esse mundo seja melhor!
1:11:26
P/1 – Muito bem Lúcia, eu tô satisfeito! Eu repito a pergunta que eu te fiz anteriormente, alguma coisa que você queira acrescentar?
R – Não! A gente falou tudo!
1:11:37
P/1 - Agradeço muitíssimo pelo tempo, viu!
R – Imagina, precisando de material físico, eu estou sempre contribuindo. Agora mesmo o PT também vai fazer e eu estava falando com o Jackson, ele vai querer, eu fui uma memória ambulante, fui mudando de casa, eram caixas e caixas de livros, eu estou a fim de distribuir isso tudo! Aí ele falou: Não, mas a gente não vai fazer nada físico, a gente vai olhar, vai filmar. A é, u vou queimar depois então, porque eu não aguento mais carregar essa memória física. É isso aí! Parabéns Luiz, pelo trabalho! Esse centro de documentação da memória popular brasileira é importante! Importante que ninguém conta, essa é uma história que a elite não conta, nem sabe, nem vive, né! Então é nós mesmos, e o museu da palavra.
1:12:36
P/1 – Museu da Pessoa
R - Eu já fiz uma gravação para São Paulo, quando eu era deputada, já! Aí, é verdade, foram vocês que fizeram?
1:13:00
P/1 – Você está aqui, fui eu quem fiz esse livro!
R – Foi? Que bom! Tá vendo!
1:13:05
P/1 – Deu muito prazer em fazer.
R – Que bom, que bom, é isso ai, é um sentimento de que a gente não passou em vão por essa vida!
1:13:15
P/1 - Muito obrigado Lúcia, muito obrigado mesmo!
R – Eu que agradeço viu! A luta!
1:13:25
P/1 – Você será informada dos próximos passos!
R – Tá joia! Quando precisar falar comigo é só falar.