O era uma vez começa comigo como funcionária da American Promotion. A empresa tocava o projeto Copa Shell (de marcas e pilotos – corrida de carro de marca - promocional) e, nessa época, era dirigida por "RB" e "MC". Pois bem, um belo dia, fui chamada para comparecer a um trabalho de moto-girl. ...Continuar leitura
O era uma vez começa comigo como funcionária da American Promotion. A empresa tocava o projeto Copa Shell (de marcas e pilotos – corrida de carro de marca - promocional) e, nessa época, era dirigida por "RB" e "MC". Pois bem, um belo dia, fui chamada para comparecer a um trabalho de moto-girl. Deveria levar um documento importantíssimo e confidencial para a empresa Cofap, que ficava “pertinho-pertinho”, lá na pequepê. Sem saber nem como sair do trabalho, dei uma olhada no guia, para ter ideia de como chegar lá. Tracei meu itinerário no papel e fui Depois de muito vira aqui, tropica dali, enfim, depois de um razoável penar, acabei chegando na dita empresa.
Mas isso já tinha virado detalhe na história, sem eu nem saber... Tentei parar no estacionamento gigante sem sucesso. Optei, então, por deixar meu carrito na rua. Mas quem disse que lá tinha vaga para mim? Tudo lotado Já preocupada com a hora, tive de seguir em frente.
Só consegui lugar algumas quadras além da portaria. Peguei o documento, anexei no sovaco e fui vupt. Me piniquei.
Pois não é que, no meio do caminho, me cai um senhor toró? D. Eliane, sem galocha, guarda-chuva e nem capa, não quis nem saber: foi avançando feito pirata no marzão d`água à sua frente... Avançando a braçadas, estilo borboleta. Com o coração disparado, cheguei à recepção da empresa “triunfante”. Uma verdadeira pirata saída do mar e sem navio Imagine a cena...
Molhada até os ossos, quase podia me ver no espelho dos olhos arregaladíssimos do funcionário. Foi quando caiu a chuva, digo, a ficha, do meu triste estado. Nervosa, tentei remediar a situação com lenços e mais lenços de papel.
Consternado, o recepcionista me indicou o caminho até a sala da diretoria. Tateei, o documento que estava sobre o meu blazer e constatei com satisfação que ele se mantinha seco. Com passos largos, avancei pelo labirinto de corredores, elevadores, escada e portas. Cinco minutos depois, me encontrava diante de uma placa escrita em azul "Diretoria". Com a cara literalmente lavada de batom e de vergonha, diga-se de passagem, me apresentei à secretária.
Ela era uma moça muito bonita, na casa dos seus trinta e cinco anos, e elegantemente metida em um tailler marinho. Seus óculos eram de aro de metal dourado e, através deles, um par de olhos azuis me registrava com surpresa. Solidária, me perguntou se eu gostaria de ir ao toalete. Pra quê, pensei eu, se o meu caso era de toalha de banho? Agradeci a gentileza. Enquanto ela saía para acusar a minha chegada a seu chefe, de pé estava e de pé permaneci, para não molhar a poltrona de tecido creme da sala.
Minutos depois ela estava de volta. Pediu-me para acompanhá-la até a sala de reuniões. Fiquei na dúvida se devia sentar ou permanecia de pé, apesar das cadeiras em torno da mesa serem de couro preto. A porta se abriu. Pude ver a figura do diretor a quem eu deveria entregar o documento (contrato). Ainda moço, na casa dos quarenta, tratava-se de um belo executivo. Educado, ao me ver, estendeu a mão sorridente, sem arregalar os olhos. Certamente deveria ter sido avisado do meu estado de náufraga pela sua fiel funcionária. Sem pressa, mas de forma objetiva, recebeu o envelope que lhe entregava. Como eu continua-se de pé, convidou-me a sentar e tomou seu lugar na cabeceira da mesa. Ofereceu-me café,
"água, talvez?". Agradeci, mas, sinceramente, tudo o que eu queria (pensava) era terminar logo com aquilo. Acompanhei o movimento de seus olhos enquanto ele lia o documento. Embora menos acelerado do que na corrida até a diretoria, sentia o meu coração batendo forte. Sem tirar os olhos do papel, ele pegou a sua caneta Parker no bolso interno do paletó e o assinou. Ato contínuo, levantou os olhos para mim e me entregou o documento, sorrindo.
Insistiu na oferta do cafezinho. Comovida com sua gentileza agradeci, mas expliquei que estava com uma certa pressa. Ele, então, acompanhou-me de volta até a sua secretária. Rápida no gatilho, me despedi de ambos e entrei no elevador, que me aguardava de porta aberta no hall da sala.
No percurso de volta, as pessoas cruzavam comigo tinham sempre a mesma reação: olhos de mini-pizza para aquela aparição recém-resgatada de um tombo na piscina... Na portaria, pude ver que a chuva tinha desistido de me perseguir. Só então notei que fazia um certo barulho ao andar. Era o sapato de nobuque e meio salto que tinha entrado na dança, digo no caldo... Apesar disto, respirava aliviada com o término de minha missão. Entrei no carro e zás para o trabalho
O meu chefe me aguardava ansioso. Quando me viu, fez cara de quem não gostou. Era compreensível. Se eu não estava mais pingando, certamente continuava molhada e sonora, o sapato clep-clapiava numa boa. O boss pegou o envelope e se despediu em tom reprovador: “Pelo visto, é melhor a senhora ir direto para casa”. Não gostei nem um pouco da entonação. O que aquilo queria dizer? Ir para casa tomar um banho ou dependurar a chuteira?
Cheguei em casa desanimada. O cansaço de toda aquela correria e tensão apresentava a conta. Resolvi cuidar de mim e deixar para depois o que poderia não poderia decifrar naquela hora.
No depois, Eliane revisada, repaginada e com certo apertozinho no coração chegava ao trabalho quinze minutos antes do horário. Tive que esperar duas horas até a chegada do patrão. O senhor "MC" chegou todo sorriso Depois do bom dia a todos, me fez sinal para que eu o acompanhasse à sua sala. Pulei da cadeira mais animada e lá fui eu
Assim que entramos, ele pediu para eu fechar a porta. Guardou algo que trazia no bolso na gaveta de sua mesa e, em seguida, dirigiu-se a mim com a mão estendida e um sorriso pendurado nas orelhas. Nem pude acreditar Parabenizou-me pela assinatura de seu mais novo cliente. O documento que eu lhe entregara era o fechamento de um contrato de Cinqüenta mil, que nem ele nem seu sócio acreditavam que fosse possível.
Saí de sua sala vendo estrelas, mas estrelas das boas Na verdade, só na semana seguinte enquadrei o ocorrido corretamente. O documento me havia sido entregue pela secretária do Sr. "MC", sócio da empresa. Este senhor nunca escondeu o quão pouco ia com a minha cara. Um passarinho da empresa, colega meu, me contou, tempos depois, que ele apresentou uma situação que já havia sido dada como perdida: a desistência de um cliente. Assim, eu seria servida ao molho pardo para seu sócio. Só que a receita se voltou contra o cozinheiro... Não só fui servida em um banquete de demissão, como ele queria, como ainda ganhei vários pontos na estima do Sr. "RB".
Moral da fábula de Eliane. Convenci-me, de uma vez por todas, de que mesmo diante de circunstâncias adversas:
“O universo sempre conspira a favor daqueles que se apresentam desarmados no caminho do meio".
(História enviada em 22 de outubro de 2009)Recolher