Entrevista de Ivan Atilio Linares
Entrevistado por Luiza Gallo
Americana, 11/10/2021
Projeto Reciclagem e Cadeia Produtiva - Tetra Pak
Entrevista número: PCSH_HV1131
Realizado: Museu da Pessoa
Transcrita por Selma Paiva
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Ivan, quero te agradecer muito pela sua dispon...Continuar leitura
Entrevista de Ivan Atilio Linares
Entrevistado por Luiza Gallo
Americana, 11/10/2021
Projeto Reciclagem e Cadeia Produtiva - Tetra Pak
Entrevista número: PCSH_HV1131
Realizado: Museu da Pessoa
Transcrita por Selma Paiva
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Ivan, quero te agradecer muito pela sua disponibilidade.
R – Imagina! Eu que agradeço.
P/1 – Eu queria que você começasse se apresentando, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Data de hoje?
P/1 – De nascimento.
R – Meu nome é Ivan Atilio Linares, minha data de nascimento é dia 26 de setembro de 1977.
P/1 – Que cidade você nasceu?
R – Nasci em Santo Antônio de Posse.
P/1 – Quais os nomes dos seus pais?
R - Meu pai se chama Valter Linares e minha mãe Silvana Roberto de Lima Linares.
P/1 – Qual a atividade deles?
R – Meu pai... atualmente são produtores rurais.
P/1 – E antigamente?
R – Meu pai já foi corretor de imóveis e minha mãe sempre foi do lar e atualmente eles têm uma propriedade rural que, na verdade, é herança da minha mãe, mas eles sempre foram assim... minha mãe, principalmente, do meio rural. Já vieram dos avós, tudo, meus avós, que vieram do sul de Minas, mas eles têm uma propriedade em Amparo, então já vem de família. Nós somos do meio rural.
P/1 – Onde eles nasceram?
R – Meu pai nasceu também em Santo Antônio de Posse e minha mãe nasceu em Jacutinga, Minas Gerais.
P/1 – Como você os descreveria, o jeito deles?
R - Meus pais são pessoas extremamente simples e eu poderia dizer que me deram uma educação extremamente simples e eu acho que me ensinaram duas coisas, que eu acho que é: simplicidade e o trabalho. Minha mãe é uma pessoa extremamente amorosa e meu pai sempre foi muito trabalhador, então eu aprendi no meio rural que a gente sempre iria precisar de muito trabalho e persistência na vida. Então, eu acho que quando eu lembro dos meus pais, eu me lembro disso, acho que amor ao trabalho e a simplicidade que eles tanto gostam e vivem até hoje, no meio rural.
P/1 – Na sua infância, você lembra de alguma atividade que vocês faziam juntos?
R – Sim. Eu lembro muito das festas juninas na fazenda dos meus avós, que até hoje é a morada dos meus pais. E também do irmão dela. Mas eu me lembro muito da minha infância na fazenda. Sempre foi uma infância inserida no meio rural. Sempre tive muito contato com animal, então filhote de cachorro, bezerro, cabra, passarinho e as brincadeiras. Eu lembro que a gente pegava chuchu e espetava os bambus, pra fazer a fazendinha. Então tive uma infância bem... os caminhões... muitos brinquedos de madeira. Isso também é uma coisa que me vem muito forte na lembrança, então eu adoro até hoje os brinquedos de madeira, tão diferente da tecnologia que tem hoje, por exemplo, comparado aos meus filhos. Hoje é tudo no celular, tudo digital. É claro que, naquela época, nem existia, nem tinha essa disponibilidade, mas era muito longe da nossa realidade. Então eu me lembro muito das brincadeiras de infância, mesmo, na terra, o contato com a terra e com os animais e brinquedos de madeira. Acho que é isso que vem mais forte na minha cabeça.
P/1 – E você sabe como seus pais se conheceram?
R – Eu sei que eles se conheceram na cidade ali, em Santo Antônio de Posse, porque a fazenda fica próxima ali de Amparo, então minha mãe estudava num colégio, ali em Santo Antônio de Posse e eu sei que eles se conheceram no colégio, estudando num colégio, em Santo Antônio de Posse. É isso que eu sei. Eu lembro que eles se conheceram no colégio, na escola. Desde bem novinhos. Minha mãe me teve com dezenove anos, então acho que meu pai foi o primeiro namorado dela, com quinze anos, aí acabou já se casando bem jovens.
P/1 – Você é filho único?
R – Eu tenho um irmão, que é um ano e onze meses mais novo.
P/1 – E como é a sua relação com ele?
R – A gente tem um ótimo relacionamento, mas eu sempre brinco que meu irmão, assim como meus pais, são normais, eu falo (risos). Porque meu irmão é engenheiro elétrico, então ele sempre trabalhou em grandes empresas, australiana, russa, mas sempre foi funcionário e eu brinco que eu sou o único que não é normal, que eu, ainda em brincadeira, falo que eu sou um vagabundo profissional, porque eu não tenho, nunca tive um registro na minha carteira de trabalho, então eu sempre trabalhei com meu pai, na fazenda, desde os meus treze anos de idade, sempre, claro, fazendo pequenos trabalhos, mas sempre o ajudei no meio rural, na produção rural e então, desde muito novo eu fui inserido nisso e depois ajudando meu pai na venda, no Ceasa, dos produtos agrícolas. Então, eu brinco que eles sempre tiveram já uma vida mais simples e tudo mais e eu acabei, depois de 2002 pra frente, encerrando a produção agrícola lá, hoje só tem agropecuária, só criação de gado e então eu acabei a faculdade em 2000 e acabei trabalhando - entrei como vendedor - como representante comercial, numa indústria de papel e depois disso, da indústria de papel, eu brinco, daí eu comecei como vendedor e depois comecei a empreender. Comecei, depois de quatro anos, a comprar e vender e daí fui montando a empresa e tudo o mais.
P/1 – Antes da gente chegar nessa parte, eu queria saber sobre a história dos seus avós. Você conhece um pouquinho, chegou a conhecê-los?
R – Sim. Meus avós eram do sul de Minas, o pai dele era um grande produtor de café, teve dez irmãos, duas famílias super numerosas e então todos os irmãos acabaram ficando no sul de Minas. Todos. Em várias cidades: Jacutinga, Borda da Mata, Ouro Fino. Então eles ficaram nessa região e meu avô foi o único que veio aqui pra região de Amparo, aqui próximo à Campinas. Então o pai dele comprou uma fazenda produtora de café aqui também, que eles tinham várias fazendas lá, produtoras de café, comprou uma aqui e meu avô acabou vindo pra essa fazenda, pra cuidar. Então eles vieram com trinta e poucos anos. A fazenda já é da família há mais de setenta anos. Eu tive, desde a minha infância, desde bebê, até 2006 agora, meu avô faleceu em 2006 e minha avó em 2009, e eu sempre tive um estreito relacionamento com meus avós e tudo mais. Então eles vieram do sul de Minas pra administrar a fazenda do pai, que eram produtores de café, essencialmente.
P/1 – Você tem alguma memória dos seus avós?
R – Muito. Minha memória... meu avô era sempre, sempre recebido com abraço. Então na fazenda dele tinha uma escadaria assim, na casa sede e eu me lembro bem: toda vez que eu chegava, ia subir a escada, no final da escada estava lá o meu avô. Quando eu chegava perto, ele abria um abraço pra mim. Isso eu lembro como se fosse hoje. E a minha avó, o pão com bife dela era o melhor que você possa imaginar na face da Terra. Até hoje o sabor, sabe, me vem à boca. Eu lembro muito disso. Era um pão francês e um bife, nada mais, mas era maravilhoso. Então, do meu avô eu me lembro do abraço e da minha avó eu lembro das refeições, que eu acho que era feito com carinho, porque era tão diferente! Um sabor inigualável, que nem um chef consegue imitar, mas eu acho que a comida me remete a isso. Ela fazia com tanto carinho as refeições que pra mim era mágico lembrar das refeições que ela proporcionava, do carinho que ela tinha com a gente, com os animais, mas as refeições que ela fazia eram maravilhosas, mas o pão com bife era especial. E o abraço do meu avô. É isso que eu lembro específico, quando fala exatamente neles, eu lembro exatamente dessas coisas.
P/1 – Os outros avós você chegou a conhecer?
R – A minha avó por parte paterna faleceu quando meu pai ainda era adolescente. Meu pai acho que tinha quatorze ou quinze anos. Então não cheguei a conhecer, claro, minha avó paterna. E meu avô paterno faleceu quando eu tinha uma infância, devia ter entre nove e dez anos. Me lembro dele, mas brincando na máquina, remotamente. Tenho até fotos com ele, no colo dele, mas como bebê e depois, quando eu era criança, mas até antes dos dez anos, então tenho uma vaga lembrança deles, dos meus avós paternos. Agora, meus avós maternos é o que eu falei agora: tive uma estreita convivência com eles.
P/1 – Que outros cheiros, sabores, datas comemorativas – você falou em festa junina - você tem de lembranças da infância?
R – Da infância, a lembrança que vem são exatamente essas festas juninas que a gente fazia, que no sítio era bem interessante, a gente tinha outras festas, alguns eventos que a gente fazia, mas sempre doces caseiros, arroz doce, doce de abóbora, uma leitoa assada. Então, assim, os sabores que eu tenho, que eu me lembro, são bem esses pratos que a gente fala mais rurais mesmo. A gente não tinha chocolate industrializado. Não tinha muito isso. Eram doces caseiros, mesmo. Então a minha infância eu me lembro muito disso.
P/1 – No meio rural tinha algum trabalho que você ajudava seu pai e que você mais gostava de fazer?
R – Olha, na roça a gente faz de tudo (risos). A gente tinha plantação de tomate, de vários tipos de hortifruti, então a gente, na roça, de tudo você faz um pouco. Não tinha muito como escolher. Mas eu lembro um pouco da gente pescar no lago. Então a gente fazia um pouco de cada coisa, assim. Não tinha um trabalho muito específico, porque também são profissões sazonais, então você acaba plantando milho e depois do milho vem uma outra safra, então as coisas estão, parece, meio que em constante mudança. Então eram vários tipos de plantio diferentes, dependendo da época do ano e tudo mais.
P/1 – Pensando nisso, nas plantações, como era o tempo, pra vocês? Era marcado pelas plantações?
R – Estações do ano. Tem as épocas de frio, de calor e calor é mais associado a chuva e a época mais fria e seca. Então, na época mais fria e seca, você tem alguns tipos de cultura e daí nas épocas de chuva são plantações que precisam de água, milho, por exemplo. Então o nosso tempo era marcado pelas estações do ano.
P/1 - E, Ivan, você sabe a história do seu nascimento?
R – Eu nasci, como eu falei: minha mãe era muito jovem, tinha dezoito pra dezenove anos, então eu lembro muito, ela foi muito assessorada pela mãe, que morava no sítio e tudo mais. A gente morava na cidade de Santo Antônio de Posse, que meu pai era corretor de imóveis, trabalhava com o irmão, contador, meu pai corretor de imóveis, mas tinham escritório em conjunto. Então eu sei que meu pai trabalhava ali na cidade, minha mãe sempre foi dona de casa e foi bem mais assessorada pela mãe, que tinha, ali, a propriedade rural. Eu me lembro muito disso. Por isso que eu falei: desde pequeno, de poucos anos de idade… então me lembro muito da área rural, do sítio, na fazenda. Então acho que minha mãe ficou muito assessorada pela mãe, então eu tive um estreito relacionamento com minha avó materna, sendo na área rural. Eu me lembro muito disso, minha infância, o que eu mais me lembro, mais rico na minha memória, é isso.
P/1 – A sua casa de infância era muito mais a fazenda?
R – Muito mais a fazenda.
P/1 – Como que era?
R – Era uma casa grande, uma casa muito antiga, mas grande, espaçosa, tudo com janelas bem grandes, aquelas portas grandes, aquele tipo de construção bem antiga, mesmo. Era uma fazenda de mil novecentos e bolinha. Um negócio bem antigo. Tudo com portas e janelas bem grandes, aqueles cômodos grandes, bastante madeira, que eram as construções da época, aqueles tijolos enormes, as telhas grandes. Eu me lembro muito da casa, tinha um corredor bem extenso também, a gente brincando, correndo pelo corredor. Era uma casa bem grande e espaçosa. Me lembro bem da casa e do fogão de lenha da minha avó, que a minha avó sempre gostava de cozinhar no fogão de lenha. Ela tinha o fogão a gás, mas cozinhava no fogão a lenha. Então é o que eu me lembro: corredor comprido e o fogão de lenha da minha avó.
P/1 – E com quem você brincava? Tinha crianças, amigos?
R – Tinha meus primos, os filhos do irmão da minha mãe, que moravam lá e tinha também muito contato com os funcionários que trabalhavam na fazenda, que tinham lá as casas dos funcionários que residiam na fazenda, até porque produções de café usava-se muita mão de obra, por causa do plantio, capinagem, depois colheita. Não tinha nada... antes não era nada com máquina. Hoje até a colheita é feita com máquina, mas antigamente não. Então tinham bastante funcionários que moravam na fazenda pra cuidar das lavouras de café.
P/1 – E você lembra alguma história específica, de brincadeira, de algum dia...
R – Eu lembro o cavalo, um dia que eu tomei um tombo de um cavalo (risos). Esse dia marcou bem, assim. Tinham dois cavalos lá que a gente sempre brincava com ele, um pampa e a égua preta. Eu lembro que a gente, um dia, montou no cavalo, o cavalo disparou e eu tomei um tombo, caí lá. Lembro muito que a gente brincava com os cavalos, com os dois cavalos que tinha na fazenda e na época, também, que tinha colheita de café, então tinha uma tulha de café, aquelas construções antigas de pedra, que você armazenava o café lá, secava no terreiro, depois armazenava nessa tulha, que é um depósito de pedra do café, é um depósito bem grande, eu lembro que a gente subia no telhado pra pular no café e mergulhava, parecia uma piscina, então você entrava e ficava de café até o pescoço. Então a gente adorava pular nos montes de café e brincar com os cavalos. Era a brincadeira preferida, que lembra mais a minha infância, também, lá.
P/1 – E nessa época, ainda pequeno, você pensava no que você queria ser quando crescesse?
R – Não. Não tinha essa pretensão, não. Graças a Deus a minha infância eu vivi muito bem, brinquei bastante. Depois, quando fui saindo da infância para a adolescência, daí eu comecei a trabalhar com meu pai, meu pai já deixou de ser corretor e estava sendo produtor rural mesmo, já na propriedade rural, que é da minha mãe. Daí eu já comecei a trabalhar com meu pai na produção rural e fui, daí, fazendo pequenos trabalhos, até acompanhando meu pai depois, no Ceasa, pra vender os produtos rurais, aí fui crescendo, até chegar a fazer a faculdade, daí sempre trabalhei com meu pai. E depois da faculdade, que eu acabei me formando em Administração, acabei saindo do meio rural. Eu sempre achei bem sofrido, porque o rural é complicado, porque você tem mudanças, depende do clima, mas depende muito de mercado também. Então, você, às vezes, vendia os produtos, como eram perecíveis, a grande maioria tinha que vender no preço do dia e às vezes aquilo não cobria nem seus custos. Então tinha uma flutuação muito forte de preço e a nossa remuneração sempre foi bem limitada. Então eu quis alçar aí novos voos, novos desafios, até quando eu me formei, na faculdade, depois eu comecei a ser representante comercial. Na verdade, eu acho que o Ceasa, (risos) aquela vivência com a compra e venda, foi o que me despertou aquela vontade de viver do comércio. Então, acho que esse vírus aí do comerciante, do negociar, vamos dizer assim, acho que foi o que me despertou e eu acabei ficando apaixonado pelo comércio e daí, depois, em seguida, pelo papel.
P/1 – Antes de saber do Ceasa, eu queria saber sua lembrança da escola. Como foi esse período, pra você?
R – Na escola eu lembro que eu jogava futebol muito mal (risos). Eu lembro que eu era péssimo pra jogar futebol (risos). Sempre gostei de estudar, de me dedicar, graças a Deus sempre tive boas notas, sempre tive um esforço enorme pra poder tirar nota em Matemática (risos), sempre passava raspando em Matemática, mas sempre gostei de estudar, sempre me dei melhor nas matérias História, Geografia, mas foi muito bom a escola, eu acho que eu tive bons amigos durante a escola, sempre tive boas amizades e foi muito gostoso, uma época boa, mas eu falo que eu sempre tive que me dedicar pra estudar, sempre gostei de estudar, sempre fui meio curioso, então eu gostava de estudar, sempre tive que me esforçar pra passar em Matemática (risos) e nos esportes eu nunca fui muito bom (risos). Nunca foi meu forte a parte de esporte. Sempre sofria um pouco, aí, também (risos).
P/1 – Teve algum professor marcante?
R – Eu acho que... você acredita? O que me marcou, mais, mesmo, acho que foi a infância. Eu lembro que tinha uma professora na minha infância, que era extremamente enérgica, muito brava, mas a gente tinha um respeito tão profundo por ela, a Dona Mariete, infelizmente já faleceu. Ela, inclusive, era amiga da minha avó. Mas eu me lembro dela, assim. Quando fala de professor na infância, eu me lembro dela. Foi uma professora bem marcante na infância.
P/1 – Você passou a vida toda estudando na mesma escola?
R – Eu fiz o primeiro grau na mesma escola, então desde o prezinho até a oitava série eu estudei lá em Santo Antônio de Posse, no Mário Bianchi. E depois, no segundo grau eu fui estudar em Jaguariúna, porque eu queria... o segundo grau, em Santo Antônio de Posse só tinha à noite e eu queria estudar na parte da manhã, então eu acabei fazendo em Jaguariúna, estudando no Celso Henrique Tozzi. Lá em Jaguariúna eu fiz o segundo grau e depois a faculdade, o terceiro grau eu fui pro Centro Regional, ali em Espírito Santo do Pinhal. Me formei em Administração ali.
P/1 – E você se deslocava todos os dias?
R – Me deslocava todos os dias, porque a gente morava, depois, quando eu estava... no primeiro grau, eu morava na cidade ainda, com meu pai, que ele ainda era corretor. Então ficava fácil o deslocamento. Agora, quando eu estava no segundo grau, que eu já morava na fazenda, na propriedade rural, ali em Amparo, ficava próximo a Jaguariúna, tem uma estrada interna, na verdade, que liga ali as duas cidades, de chão batido, mesmo, de terra, mas o percurso é bem pequeno. Então eu acabei estudando ali em Jaguariúna e daí meu pai me levava todo dia cedo, depois de tarde eu voltava com o ônibus, que tinha um ônibus rural lá, que vinha até perto da fazenda e meu pai me pegava no ponto ali, quando adolescente, já.
P/1 – E na adolescência, como você se divertia?
R – Ah, adolescência eu lembro muito... primeiro, foi muito trabalho, por causa que daí eu já me dedicava bastante ali, nas coisas da fazenda e eu tinha vários amigos ali, em Amparo, Jaguariúna, ali na região, então a gente se encontrava aí nos finais de semana pra fazer um churrasco. Lembro bem também, a gente adorava frequentar os rodeios, as festas de peão em Americana, Jaguariúna, eram bem famosas na região, então a gente gostava de se reunir nessas festas ou fazendo os churrascos da moçada aí, tudo mais. Foi uma adolescência bem comum também.
P/1 – E o período da faculdade? Como foi entrar no curso de Administração? O que mudou na sua vida, nesse período?
R – Eu acho que a faculdade te ajuda, me ajudou bastante, a forma de você pensar, organizar o pensamento de uma forma mais aberta. Então como se diz assim: ela abre um pouco a sua cabeça, mais por meio de como você se planeja e tudo mais. Então a faculdade foi importante nesse sentido, de adquirir mais conhecimento a nível de planejamento e tudo mais. Então, a faculdade me ajudou nisso, acho que foi importante nesse nível. E o trabalho no Ceasa ajudou muito a entender essas relações de comércio. Então, a prática acho que me ajudou bastante nas relações do dia a dia e a faculdade me ajudou, vamos dizer assim, na parte teórica.
P/1 – Como era o dia a dia no Ceasa?
R – Era bem intenso. O Ceasa todo dia - você não tem rotina - é um negócio diferente, porque muda o preço, muda a qualidade dos produtos, muda os clientes que você atende. Então todo dia é um negócio bem frenético, super movimentado, bem intenso. Você carrega caminhão, descarrega caminhão, negocia e é um curto período também, você tem que chegar à noite, então você faz todas as negociações de manhã, à tarde você já volta pra fazer sua carga pro dia seguinte. Então é bem puxado. Eu posso dizer que é bem intenso. Você não tem rotina. É um negócio bem movimentado.
P/1 – Você lembra de algum dia específico ou de alguém que você conheceu nessa época, que tenha te marcado?
R – Eu lembro muito da habilidade das pessoas pra negociar. Eu lembro muito disso e tinha algumas pessoas que eram extremamente, vamos dizer assim... como que eu posso dizer? As pessoas têm muito carisma, são muito engraçadas e acabam... lembra um pouco aquele pessoal camelô, que tem aquelas barracas e daí o pessoal vai conversando e fazendo amizade, piada de algumas coisas, acabam deixando tudo mais engraçado. Então eu me lembro de algumas pessoas que tinham, vamos dizer assim, um certo carisma diferenciado, e cativavam, mesmo, pelo carisma, pela amizade. E eu me lembro muito também da gente... sempre tinham pessoas lá que estavam em busca de comida e tudo mais, então tem muita gente ali que se ajuda e a gente fazia também bastante doação de alimento pras famílias mais carentes, que estavam sempre lá, às vezes, garimpando alguma coisa. Então eu me lembro disso, assim. As pessoas carismáticas, engraçadas que tinham lá e também o outro lado, assim, as pessoas também que estavam lá precisando mesmo de um alimento, alguma coisa. Sempre teve um pouco, eu acho, desse carisma e essa generosidade com o alimento, ali, que a gente trabalhava. Isso que me lembro mais forte do Ceasa.
P/1 – E depois desse trabalho, o que você foi fazer?
R – Depois desse trabalho eu passei a ser, eu me interessei em ser representante comercial de uma indústria de papel. Então meu pai também, a gente já estava bem cansado da atividade rural, então eu comecei a procurar algum outro tipo de trabalho, não estava mais tão satisfeito, principalmente da parte, eu falo, do rendimento financeiro e tudo mais, é um trabalho bem desgastante e a parte financeira a gente nunca teve, nunca conseguiu ter um sucesso com os negócios rurais. Então eu comecei a procurar outros tipos de atividades e me interessei em ser representante de uma fábrica de papel. Comecei a vender, era comissionado, ganhava só comissão e foi aí que eu despertei a paixão pela indústria de papel, me apaixonei pela parte de papel e embalagem e foi aí que eu fui, depois, evoluindo.
P/1 - Por que papel? Como você chegou nesse nicho?
R – Na verdade, meu tio Arnaldo que conhecia uma empresa, tinha um relacionamento estreito com uma das pessoas que administrava a empresa de papel, meu tio, que era contador, tinha bastante amizade com essa indústria de papel e eu, conversando com ele - ele sempre foi um grande orientador meu, digo que meu tio sempre atuou como meu segundo pai – em busca de orientação, mesmo, do que fazer, ele me falou dessa empresa de papel que estava buscando representante comercial e tudo e como eu tinha certa facilidade aí pro comércio, eu me interessei, mas foi mais pela questão de trabalhar com vendas, mesmo. Foi isso que me chamou atenção, porque eu não tinha experiência nenhuma com papel e embalagem. Minha experiência era totalmente ao contrário: era do meio rural. E também de uma empresa familiar. Então eu sempre trabalhei de uma forma familiar, no meio rural. Daí eu parti para um negócio totalmente... parti pra venda de indústria, do ramo de papel. Então, são duas coisas, dois mundos completamente diferentes. Mas, como eu sempre digo: quem gosta de venda, vende, gosta de vender ‘qualquer coisa’, entre aspas. Então como eu era apaixonada por essa relação de comércio, vamos dizer assim, acabou surgindo essa oportunidade de ser representante comercial dessa indústria de papel e eu peguei como se fosse meu segundo emprego. Foi isso que eu apostei e daí eu acabei aprendendo a respeito da fabricação de papel, do comércio em si.
P/1 – O que te encantou nesta área?
R – Então o que mais me encantou foi exatamente essa questão, eu acho, que da reciclagem. Porque você poder reciclar o que, pra alguns, a gente chama de lixo e conseguir, disso, fazer outras embalagens, meio como se fosse uma coisa infinita, tudo que for possível, tudo que estiver disponível pra reciclar e você chegar ao ponto de transformar isso em outro produto, então eu acabei me apaixonando pela reciclagem exatamente por essa possibilidade de você transformar o resíduo em um outro produto. Eu acabei me apaixonando exatamente por isso.
P/1 – E depois dessa empresa de vendas, pra onde você foi?
R – Sim, eu comecei a trabalhar nessa empresa como representante comercial, trabalhei pelo menos dois a três anos nessa empresa e eu acabei pegando representação de outras empresas também, tudo do ramo de embalagem. Então eu vendia o papel pra quem fazia embalagem e depois eu peguei a representação de quem vendia a embalagem. Então eu acabei entrando nesse mercado e fazendo grandes amizades, acabei fazendo amizade com alguns clientes e daí, depois de quatro anos trabalhando como representante comercial, eu comecei realmente a comprar e vender papel também, porque eu percebi que as grandes indústrias só vendiam em volumes, assim, vamos dizer: carga fechada que a gente chama, que seria um volume, um caminhão, uma carga completa. E eu percebi que tinha um mercado muito carente de quem comprava pequenas quantidades. Então, o cara que precisava comprar um caminhão, uma carga de um caminhão fechado, não conseguia comprar direto da indústria. Ele ligava na indústria: “A gente não atende esse tipo de cliente”. Então como ele não era atendido diretamente pela indústria, precisaria do intermediário pra, justamente, comprar uma carga e daí fracionar esse material em porções e daí você atende um pouco pra cada um. Então eu comecei a comprar essas cargas, comprava e vendia. Então eu comprava no atacado, vamos dizer assim e vendia no varejo. Foi isso que eu comecei a fazer, atuar nesse sentido: comprar e vender papel. Então eu vendia, quando era carga fechada, grandes volumes, diretamente da indústria para o cliente final e quando eram pequenos clientes, eu comprava - abri, óbvio, uma empresa e tudo o mais, com Cnpj – uma carga fechada e fracionava em pequenas porções, pra quem comprava pequenas quantidades. Então eu comecei a atuar com comissão, como sempre e comecei a atuar também no varejo, comprando cargas fechadas e vendendo em pequenas quantidades. Foi isso que eu fiz. Daí isso foi evoluindo, fiz isso durante mais três a quatro anos, até tinha um cliente meu que era uma multinacional, eles eram especialistas em laminação de papel que, na verdade, é colar papel com papel, pra fazer um produto robusto, reforçado, até pra substituir madeira, no caso. Então, eles tinham essa tecnologia, trouxeram pro Brasil, mas a empresa não estava indo muito bem e tudo mais, não estava tendo os resultados esperados por eles e eles resolveram encerrar a atividade no Brasil. Até porque o negócio deles na China tinha crescido muito e tudo o mais e acabaram focando em outros países e aqui no Brasil não estava a contento, então, como eu já tinha um relacionamento estreito com eles e tudo mais, já era fornecedor e acabei fazendo amizade também com o diretor, que era um cara da Holanda, que foi uma das pessoas que também me ensinou bastante, então eu acabei adquirindo as máquinas deles. Foi daí que eu parti, depois desses oito anos aí de mercado como vendedor e depois comprando e vendendo papel, acabei adquirindo essas máquinas dele e acabei entrando no mercado de produzir mesmo embalagens. Então, primeiro eu comecei a produzir embalagem e, graças a Deus, conquistar grandes clientes, contas e isso possibilitou o seguinte: eu tinha muito problema, que eu fazia contrato, geralmente, fornecimentos anuais e desse contrato anual a nossa matéria-prima era exatamente as aparas de papelão, que são os resíduos de papel. E a flutuação é muito grande de preço, no mercado de matéria-prima aqui. Então o preço muda, pra não falar semanalmente, mensalmente, conforme a disponibilidade de produto. E eu tinha esses contratos anuais. Então eu só podia fazer um reajuste anual pro meu cliente, justamente pra suprir esse gargalo aí, o que eu comecei a fazer? Os clientes que eu vendia embalagem, eu comecei a tirar os resíduos deles, porque todas essas indústrias têm resíduos e essas embalagens, caixas de papelão que chegam pra eles e tudo mais, pra eles esse resíduo nada mais é do que um ‘problema’, entre aspas. É claro que é um problema simples de ser resolvido, porque ele é reciclável, 100%. Mas, pra eles, o resíduo, é ou não é, não faz parte do processo produtivo deles. Eles querem alguma coisa que resolva e que seja, realmente, um processo que seja limpo. Então, pra eles, importante era que funcionasse. Então a gente começou a vender embalagem e retirava os resíduos dessas fábricas que eu vendia embalagem. Eu comecei a retirar os resíduos deles. E eu comecei, daí, a ter as aparas, os restos de papel de várias indústrias. Começamos, alguns casos até, fazer uma permuta onde, é claro, a gente retirava o resíduo dele com nota fiscal, daí vem, é feito uma industrialização, uma transformação desse produto e daí vendia pra ele de volta a embalagem, cobrando essa transformação. Então, não só vendendo a embalagem. Então do próprio resíduo dele eu vendia embalagem pra ele mesmo. A gente chama trabalho em circuito fechado. Então a gente começou a vender essa ideia e começou a prosperar nesse mercado e a ideia foi crescendo, foi pegando e tudo mais. Daí a gente foi formando a carteira de clientes ao longo de mais de dez anos, todo ano crescendo um pouco, crescendo um pouco. Então a gente começou fazendo essas parcerias com os clientes: comecei a vender a embalagem e retirar o resíduo, trabalhando nessa linha que eu falo, circuito fechado, digamos assim. O próprio resíduo do meu cliente eu comecei a retirar e a transformar isso em embalagem e depois então eu retiro o resíduo, transformo em embalagem, vendo pra ele e continuo fazendo esse mesmo processo, transformando isso em uma cadeia produtiva.
P/1 – Como vocês foram crescendo, pensando em máquinas, modernização? Como foi esse processo?
R – O processo de coleta de reciclagem é, teoricamente, bem simples, um mercado bem desenvolvido. Então a gente precisa, teoricamente, dos caminhões com as caçambas pra estar movimentando esse material e as prensas, porque você precisa ter uma redução de volume, senão, pra você ter uma ideia, a relação é de vinte vezes o volume. Você vai transformar o papel sem amassar, você precisa de um caminhão, pra vinte caminhões. Se você amassar esse papel, compactar, vamos dizer assim, o papel, você precisa de um; se você não compactar, você precisa de vinte. Quer dizer: o frete fica totalmente inviável. Então essa tecnologia de você coletar esse papelão, de você ter as prensas pra transformar esse material, pra prensar esse material pra você movimentar é um mercado já bem desenvolvido, a gente só aproveitou o que havia disponível no mercado. Agora, daí a gente pegava essas aparas, a gente tinha um fornecedor onde a gente mandava as aparas pra ele e ele transformava as aparas em papel e o papel voltava pra gente. Daí a gente ia fazendo as embalagens, esse tipo de produto, tudo voltado pro mercado de papel. Então foi assim que a gente começou, dessa forma, eu comecei a ter as aparas, comecei a ter uma relação cada vez mais estreita com esse transformador de papel, até o ponto também da gente ser o principal cliente dele e tudo mais e ele também tinha outros negócios, a gente acabou negociando e adquirindo essa planta que transformava as aparas em papel. Então a fabricação de papel é como eu falei: também já é um processo bem desenvolvido, conhecido, a gente acabou adquirindo essa planta, que era pra transformação de papel. Então das aparas transformava em papel e o papel transformado vinha pra fábrica de embalagens e esse papel, a gente transforma em embalagens. É o que a gente faz até hoje. Desde papel cortado, às vezes, pra embalagens de cervejarias, _______ e tudo mais, até as embalagens, mesmo, dos mais diversos tipos de perfis de papel, pra proteção. Então nós fazemos proteção pra embalagens de cargas, de todos os tipos.
P/1 – Queria saber como funciona a cadeia de reciclagem hoje, aqui.
R – Aí, atualmente, hoje nós coletamos os resíduos desde... alguns são clientes nossos, mas coletamos de uma forma geral, compramos desde os coletores, mesmo, que trabalham na rua, das cooperativas organizadas, dos mais diversos fins, tudo que tiver de resíduo de papel, então a gente adquire esse papel, que é processado, prensado e vem pra planta, aqui, onde esse material é separado por classificação, se ele tem plástico e alumínio, só plástico, só papel e a gente, após feita a separação, depois, faz a fabricação do papel, mesmo, propriamente dito, que daí tem todo um sistema de limpeza e de fabricação do papel, até onde a gente chegar no produto final, mesmo, que seria o papel, as bobinas de papel. O nosso diferencial, eu diria assim, é que nós processamos todos os resíduos de papel. Todos os resíduos de papel, pra gente, nós temos aqui alguns sistemas pra processar isso. Então as embalagens de longa vida, que tem o que eu falei: alumínio e plástico junto, embalagem só com plástico, tudo isso nós temos alguns sistemas pra estar fazendo essa limpeza, essa separação, num primeiro ponto e depois a limpeza do papel. E tudo isso a gente aproveita as fibras e também o plástico, que é proveniente dos resíduos desse processo de fabricação. Então nós processamos todos os tipos de papel aqui. Alguns produtos que hoje não são aproveitados nessa cadeia do papel, aqui nós processamos todos os tipos de produtos, todos os tipos de resíduos de papel, vamos dizer assim. Então o diferencial nosso é esse: fazer com os mais diversos tipos de resíduos de papel, termos um papel de boa qualidade. A gente consegue ter um papel hoje com uma qualidade premium no mercado, com características boas, pra estar fazendo outros tipos de produtos. Então essa é a nossa especialidade.
P/1 – Vocês aproveitam tudo, cadeia fechada, né? Inclusive a água.
R – Sim, exatamente. Aqui, nessa unidade, nós temos tudo, aqui, fechado. A gente tem estação de tratamento de água, circuito fechado e, assim, a gente trabalha com as mais diversas cooperativas, produtores de papel aqui da região. Então a gente trabalha... aqui é tudo feito de uma forma bem regional.
P/1 – Pensando na sua trajetória com reciclagem, teve alguma pessoa, a história de algum funcionário, cliente, de alguém que tenha te marcado, te impactado, de alguma forma?
R – Muitos, né? Eu acho que ninguém faz nada sozinho. A verdade é essa. Não existe isso. Ninguém faz nada sozinho. Então toda a minha trajetória sempre teve vários funcionários, pessoas que trabalharam comigo e muitos que ainda trabalham, tem gente que trabalha desde o início, está comigo até hoje. Então tem muitas pessoas que realmente contribuíram pra gente estar aqui hoje. E a única certeza que eu tenho é que não é um mérito só meu. Eu acho que é um mérito de todos. Então não tenho funcionários, tenho acho que amigos, que me ajudaram muito aí na minha trajetória, além da minha família, é claro, que acho que é a base de tudo, mas tiveram muitas pessoas. Eu acho que é injusto falar alguns, mas tem muitas pessoas que me ajudaram, a grande maioria que passou pelo meu caminho, muitos que ainda estão ao meu lado, que contribuíram pra isso. Eu acho que é o que eu falei: uma equipe. Não tem jeito. É ilusão você achar que você vai fazer alguma coisa sozinho, além que a gente faz o bem e o bem volta pra você. Acho que esse é o segredo da coisa. Você ter fé, esperança e sempre respeito e gratidão, pelas coisas e pelas pessoas, pelas duas coisas. Então acho que quando você consegue entrar nesse ciclo de respeito, gratidão, fé e trabalho, parece que a coisa vai se movimentando de uma forma que ninguém segura. Mas eu queria dizer que teve muitas pessoas ao longo de toda a minha trajetória. A única certeza que eu tenho é que eu sempre fui ajudado. Não acho que eu fiz nada sozinho e não consegui nada sozinho. Sempre tiveram pessoas muito boas. É o que eu falei: sempre teve histórias que as coisas foram acontecendo e se encaixando e eu agradeço acho que a todos que passaram e os que ainda estão do meu lado. Tem muita gente que já está comigo há quinze anos trabalhando junto, é uma vida. Então tem que agradecer. Eu falo: eu só tenho gratidão pelas pessoas e por tudo. Eu acho que eu sempre... a única certeza que eu tenho é essa: que eu fui ajudado ao longo de todo meu caminho, sempre. É isso.
P/1 – Tem alguém específico que você queira falar?
R – Eu acho que na minha fase mais difícil, que realmente foi essa transição, justamente quando eu estava saindo, acho que ali daquele trabalho, do meio rural e daí, quando eu estava me sentindo meio perdido, quem mais me ajudou foi o meu tio, o irmão do meu pai. Então tenho que agradecer a ele pelas orientações, por tudo que ele me fez. Mas tem várias pessoas que me ajudaram. Eu, inclusive, nesse corredor que nós temos aqui na empresa, todas as salas eu coloquei o nome de pessoas que me ajudaram. Então, aqui, todas as salas têm nomes: dos meus avós, de pessoas como meu tio, também da família, da minha esposa. Então todas as salas aqui têm nomes das pessoas que me ajudaram, porque hoje eu estou aqui e eu queria passar aqui e sempre lembrar que eu fui ajudado e que é uma história de gratidão, mas eu quero que, quando os meus filhos passem aqui, eles também lembrem disso, de que eu fui ajudado e que nossa missão é também ajudar. Então eu não quero nunca que eles percam essa ideia de humildade e gratidão, principalmente gratidão pelas pessoas que foram importantes e que nos ajudaram a chegar até aqui. Por isso que eu tive essa iniciativa, de colocar nas salas o nome das pessoas que nos ajudaram, na nossa trajetória. Mas se fosse pra dizer um nome aí, além dele tiveram outras pessoas, mas eu acho, como eu disse: meu tio foi uma pessoa muito importante, nos momentos mais difíceis meus tios, meus avós, as pessoas também, como eu disse, algumas da família da minha esposa sempre nos ajudaram. E o que eu falei: vários funcionários também que sempre estiveram juntos comigo, sempre acreditaram, porque teve tanta... eu sempre tive que passar barreiras, enfrentar vários desafios, sempre foi extremamente complexo pra mim, os desafios sempre foram muito grandes, tudo, mas tem funcionários que sempre estiveram comigo. Quantas vezes ouvi de alguns: “Você é louco, isso não vai dar certo” e eu sempre acreditei, mas tem várias pessoas que sempre acreditaram e estão comigo até hoje. Tem o Gerlon, que é meu braço direito hoje, que é o meu gerente comercial; tem também uma pessoa muito importante, que é a gerente de produção, que é a Jailma. São todas pessoas que foram vindo ao longo do tempo e que sempre, desde sempre, apesar de todas as dificuldades, já passei muita, muita, muita dificuldade, não que hoje esteja fácil, mas a gente acredita, a fé acima de tudo. Tem pessoas agora, como o Marcelo, também, que entrou há pouco tempo e está sempre se dedicando, é extremamente dedicado ao negócio, mas eu acho que é o que eu falei: é meio até injusto citar alguns nomes, porque é muita gente que eu tenho que agradecer, que eu disse, não são apenas funcionários, são amigos, mesmo. Eu considero meus funcionários, meus amigos. Eu acho que tem que ter essa relação de amizade antes de qualquer coisa, porque errar eu acho que todo mundo erra e a gente está aqui pra evoluir. Acho que o que importa é a gente ter boa intenção em fazer as coisas e ter perseverança e dedicação, que eu falei: com trabalho e fé em Deus, a gente pode chegar, sim, a qualquer lugar. Essa é a minha maior certeza de vida.
P/1 – Quais foram os maiores desafios que você teve que enfrentar?
R – Olha, assim: eu acho que o mercado de embalagens, como um todo, que tem maior potencial, que são dos grandes volumes, são bem preenchidos pelas grandes empresas, essas empresas às vezes multinacionais, na maioria das vezes, são grandes conglomerados, então vamos falar assim, o grande problema é que não tem como você ter um aporte financeiro e tudo mais e você conseguir, vamos falar assim, bater de frente com esses grandes conglomerados, vamos dizer assim, mundiais. Então, você tem que sempre achar o seu espaço e ser o mais eficiente possível naquilo que você faz. Então eu acho que a maior dificuldade de todas, no Brasil, em empreender, é exatamente você conseguir recursos financeiros. Infelizmente as nossas leis também são muito complexas, extremamente difíceis. Você empreender no Brasil é difícil, em todos os aspectos. Nos aspectos políticos, financeiros e tudo mais. Não tem nada simples pra você empreender no Brasil. Não tem políticas públicas também, que te ajudem nessa caminhada. Você tem que fazer, insistir, persistir. Não tem nada simples, é o que eu falo, nada muito simples nesse mercado.
P/1 – E como as pessoas podem atuar como agentes ambientais, na promoção de separação de lixo, de resíduo, de coleta?
R – Eu acho que, no Brasil, esse é um mercado extremamente ainda não desenvolvido. Existem, eu acho, que infinitas possibilidades, aqui no Brasil é um mercado que tem tudo ainda pra crescer, pra acontecer. Pensar que a gente recicla, hoje, de três a 4% de tudo que é gerado de lixo, é uma realidade totalmente fora de qualquer país desenvolvido que você vai comparar. Então, hoje, pensar nos exemplos mundiais, no Japão aí, é acima de 90%. É claro que são países menores, desenvolvidos, têm uma série de fatores que contribuem pra isso. Mas tudo é uma questão, realmente, de administração, eu acho. Se você fizer a coisa bem administrada, vai dar certo; se fizer mal administrada, vai dar errado. Pode ser qualquer coisa. Acho que não importa muito o que é, em si, mas o que a gente vai fazer. Então, eu acho que esse mercado, no Brasil, tem muito, muito pra crescer e eu acho que a gente tem uma vida aí pra conseguir chegar, realmente, a números que sejam satisfatórios e isso daí tudo vai gerar uma cadeia de economia e de trabalho pras pessoas, mas além disso, vamos falar assim: a gente vai estar respeitando o nosso planeta, que a gente já está vendo aí as consequências, são notórias, nós estamos enfrentando a maior seca agora dos últimos cem anos. Então, eu acho que, a partir do momento que a gente se organizar e tiver pessoas trabalhando nesse segmento e também tiver políticas públicas não onerando essa cadeia, eles não precisam ajudar, é só não atrapalhar mesmo. Eu acho que essa é a única coisa que falta no Brasil. Então a gente se organizando nesse mercado, nesse nicho de reciclagem no Brasil, é o que eu falei: a gente tem quase exponencial o crescimento que dá ainda pra acontecer e pra fazer aqui no Brasil. Tem muita, muita, muita oportunidade, porque a gente trabalha com o sistema de aterro. Tudo que é produzido de lixo simplesmente se enterra. Um negócio ainda totalmente arcaico e ultrapassado. Então eu acho que a gente se organizando nesse sentido, tem mercado pras cooperativas crescerem e tem mercado também pra iniciativa privada crescer ainda muito nesse segmento.
P/1 – O que você acha que pode ajudar a aumentar a conscientização ambiental das pessoas?
R – Eu acho que a gente tem que começar isso da base, justamente nas escolas, com as novas gerações. Eu acho que a gente tem que ir fomentando justamente com as novas gerações que estão vindo agora. Um exemplo tão bobo, mas outro dia meu filho foi na casa de um amiguinho da escola e minha esposa veio contando que ele comeu pizza lá e pediu pra levar a caixa de pizza embora, porque o pai dele trabalhava com reciclagem. Então, quer dizer: se a gente for incentivando desde a base, as crianças e tudo mais, a terem essa cultura, porque a gente tem que mudar a cultura. É uma questão, eu acho, de atitude. Então, se a gente tiver atitude pra mudar essa cultura e não pensar mais em tudo como simplesmente lixo, eu acho que a gente tem um futuro brilhante pela frente aí. Eu acho que a gente atuando nesse segmento através da educação de base e daí tendo políticas públicas, e simplesmente não onerando o processo, só isso que eu peço, só pra não onerar essa cadeia, eu acho que a gente já tem aí uma longa caminhada, mas uma estrada, eu acho, que de sucesso aí pela frente.
P/1 – E, pra você, qual a importância do seu trabalho pro meio ambiente e pra preservação do planeta?
R – Olha, eu acho que a reciclagem de papel, a gente está trabalhando hoje com duas a três mil toneladas/mês e temos muito ainda pra crescer. Então, assim: eu acho que a reciclagem é muito importante e benéfica, tanto da geração de empregos, a gente hoje está gerando bastante empregos e você gera renda e isso muda a qualidade de vida das pessoas e pro meio ambiente exatamente está tirando menos recursos da natureza e não gerando um passivo, porque o passivo, hoje, como eu disse, esses aterros vão chegar em um ponto que vamos falar: isso tem fim, né? Então se a gente olhar a médio, que seja a longo prazo, a gente está só enterrando um problema. A gente está, literalmente, jogando sujeira pra debaixo do tapete. Então, tudo isso são recursos finitos, não é um recurso infinito. A gente vai chegar até quando a fazer... por enquanto a gente está enterrando o lixo, daqui a pouco a gente vai começar a fazer montanhas de lixo, porque não vai mais ter onde enterrar, (risos) então eu acho que a nossa empresa, hoje, vem ajudar gerando, justamente, empregos, e não gerando esse passivo ambiental que está sendo gerado atualmente. Então a gente é um grãozinho de areia aí no deserto, mas vamos fazendo o nosso trabalho hoje com cerca, próximo de três mil toneladas/mês de processamento de resíduos.
P/1 – E a sua percepção com relação a reciclagem, antes de você trabalhar e depois que você começou a atuar, mudou?
R – Então, eu não tinha conhecimento desse mercado. O que eu falei: como eu era do meio rural, eu não tinha nenhum know-how, nenhum conhecimento desse mercado. Então, pra mim foi tudo meio uma novidade, mas é o que eu falei: eu entrei nesse mercado, na verdade, de fabricação de papel e depois a fabricação de embalagens e como a matéria-prima é justamente essa coleta dos resíduos de papel, então acabei me apaixonando e acabei entendendo melhor das coisas e a gente acabou se especializando exatamente no tipo de resíduo que não é valorizado e processado pelas grandes empresas. Então a gente acabou indo nesse nicho de mercado mais específico, digamos assim, e eu acabei, vamos falar, conhecendo melhor esse mercado da reciclagem e me apaixonando por ele. Eu tinha a visão mais do rural, antes, que eu falei. Mas seguindo a ideia, eu acho que tudo que a gente planta, a gente colhe (risos). Então eu acabei vindo pra esse outro mercado e estamos plantando exatamente isso. O que eu falo: geração de empregos e a diminuição desse passivo ambiental que nós estamos gerando pro planeta. Essa é a contribuição da nossa empresa hoje pro mundo.
P/1 – Pensando a sua trajetória profissional como um todo, antes, trabalhando no oposto do que hoje, quais são seus maiores aprendizados?
R – Olha, eu posso dizer que o meu maior aprendizado é que realmente eu acho que, como eu disse agora, a gente tem que, sempre, sempre trabalhar com muita fé e com respeito e gratidão. Eu acho que trabalhando, a força do trabalho e você fazendo as suas coisas de uma forma positiva, mais uma vez: respeitando as pessoas, tendo gratidão por tudo que vai nos acontecendo, eu acho que esse é o grande aprendizado da minha vida. Você sendo do bem, o bem realmente retorna pra você e pras pessoas que estão com você. Eu acho que isso eu diria que é o aprendizado que eu tive até agora, de ter uma infância muito simples, de ter uma trajetória realmente de não conhecer nada do produto, até o patamar que nós chegamos hoje, graças a Deus fornecendo aí pra todos os principais players do país, praticamente, eu acho que o grande aprendizado é esse: trabalho, fé, respeito e gratidão. Eu acho que você fazendo dessa forma tudo na vida acaba acontecendo e se encaixando, no final.
P/1 – Qual foi o momento mais marcante na sua trajetória?
R – Eu acho que o mais marcante que eu posso te dizer é agora, assim: eu considero o presente, você tem o poder de fazer, porque o passado já aconteceu, (risos) o futuro a verdade é que depende de um monte de fatores, então eu acredito muito no poder do agora, de você, realmente, todo dia se dedicar e ter a perseverança de todo dia querer fazer algo melhor e tudo, então eu acho que agora é o melhor estágio da minha vida, na minha família, no meu trabalho. Então eu acho que o agora está sendo a melhor fase.
P/1 – Como é o seu dia a dia?
R – Meu dia a dia é assim: eu acordo com o primeiro raio de sol, (risos) sou meio diurno, eu gosto de luz e o primeiro raio do sol que eu vejo na minha janela ali, desperto e saio pra trabalhar. Não tenho rotina, não gosto de rotina, eu gosto de todo dia realmente acordar cedo e vir pra empresa com a melhor das intenções possíveis. Eu acredito que um pouquinho de amor transforma as coisas e eu acho que eu vindo pra cá com o melhor dos pensamentos, a melhor das atitudes, sempre eu venho pra cá simplesmente pra contribuir, não veio pra cá pra exigir nada, eu venho pra cá, sempre, pra empresa, pra contribuir com tudo que está acontecendo aqui, venho com esse pensamento. Então, assim, meu trabalho diário nada mais é do que, eu acho, tentar ajudar e se ajudar. Esse é o meu foco do dia, que eu falo, sem muita rotina, sem muito milagre e eu acho que na simplicidade, no trabalho e na fé em Deus, a gente sempre alcança os objetivos da gente, como estão sendo alcançados atualmente, eu posso dizer, graças a Deus.
P/1 – E como você conheceu a sua esposa?
R – Eu conheci minha esposa, por incrível que pareça, numa loja de pneus (risos). Eu fui trocar o pneu do carro (risos) e ela trabalhava na loja de pneus, daí a gente se conheceu e eu acabei falando com ela e convidei pra gente sair, tomar um sorvete e dali, então, a gente se conheceu e fomos, como se diz, depois de três, quatro anos de namoro, nos casamos, depois tivemos o primeiro filho, depois o segundo, tenho dois filhos.
P/1 – E como foi se tornar pai?
R – Foi maravilhoso. Eu acho que é uma experiência magnífica, mágico, podemos dizer assim. Pra mim foi mágico. Sempre gostei de criança e cachorro (risos). Então, pra mim foi ótimo, foi maravilhoso. Realmente, eu acho que não tem uma palavra muito pra você definir o nascimento, mesmo, de um filho. Eu acho que você acaba sendo pai quando nasce, ali, não tem uma fórmula, alguma coisa que você possa dizer, pra explicar tudo isso. Eu acho que é mágico, acho que a palavra é essa. É meio mágico, meio revelador, meio surpreendente, um pouco de cada coisa, meio... por isso que disse: é mágico, difícil descrever em palavras. É muito gostoso ser pai, é maravilhoso. Uma experiência que só acrescenta na vida da gente.
P/1 - E o que vocês gostam de fazer juntos?
R – Ah, a gente é especialista em jogar videogame (risos). Mas nós também, vamos falar assim, adoramos viajar, fazer, como se diz, de tudo. Mas acho que a nossa maior especialidade é jogar videogame juntos, mesmo (risos).
P/1 – Você comentou da história do seu filho em relação à reciclagem, na casa do amigo. Isso é uma questão dentro da sua casa, vocês falam sobre isso?
R – Sim, sempre. Isso aí, até hoje, tudo que a gente tem em casa, a gente faz questão de separar, tudo, exatamente tudo: plástico, metal, tudo. Então como a gente tem esse tipo de atitude, isso foi fazendo parte da rotina deles, então isso ficou muito forte, está embutido neles. Então, as vezes que eles vêm ver, conhecer a empresa, eles têm a oportunidade de ver o que a gente faz, como a coisa vai acontecendo. Então, aos poucos, apesar de que eles são muito jovens ainda, o meu mais velho acabou de fazer dezesseis agora e o meu novo mais novo tem dez, vai fazer onze agora, mês que vem. Mas nas poucas vezes que eles vieram até a empresa, porque eles estudam, eles conseguem entender melhor porque, quando você vê o processo funcionando, então parece que abre muito mais a cabeça. Então, eles veem o processo, o produto se transformando. O resíduo se transformando em produto. Eu acho que quando você vê isso ao vivo, parece que é diferente você falar e ver acontecer. Então eles vindo pra empresa e aprendendo tudo isso, a reciclagem ficou bem forte neles, apesar que a gente sempre teve o hábito de fazer a separação em casa. Eu acho que esse é o maior legado que a gente deixa pra eles: essa parte de consciência ambiental.
P/1 – E a pandemia, a covid, como impactou o lado pessoal, aspectos pessoais na sua vida e também profissionais, se teve algum impacto.
R – Eu também tive Covid o ano passado, em maio, e graças a Deus em mim se manifestou de uma forma leve, minha esposa já teve mais complicações e tudo mais, mas também, graças a Deus, está bem. E o que mais impacta é, principalmente, as relações familiares, amigos nossos, mesmo, graças a Deus a gente não teve nenhuma perda na família, mas tivemos várias pessoas doentes, internadas. Então mexeu muito forte, eu acho, essa pandemia, com a questão das relações humanas. Eu, nossa, sou super ligado com meus pais, chegar na casa dos meus pais e não poder dar um abraço, parece que muda toda sua história. É muito... pra gente foi bem impactante ter que se afastar, principalmente dos pais, das pessoas, relações que a gente estava tão acostumado a ter. Então essa parte humana foi muito forte, um impacto bem grande pra gente. E agora, vamos falar assim, a nível de negócios, com a pandemia, as embalagens de papel tiveram uma demanda muito forte e isso acabou impulsionando o mercado, porque o que acontece? O delivery mesmo, então, explodiu. Então tudo que você vai transportar, você precisa de embalagem. Então a pandemia, para o negócio de embalagem, foi um negócio que impactou de uma forma positiva, por incrível que pareça, mas do lado humano, infelizmente, eu acho que teve muita perda, morte e morte é morte, né? Assim, não tem como você ficar feliz com uma situação dessa. Então, realmente, a pandemia eu acho que veio pra gente pensar nessas relações, eu acho que toda essa parte humana, mesmo, acho que foi muito impactada. Eu acho muito triste essa época que a gente está vivendo.
P/1 – Ivan, qual a importância da reciclagem na sua vida? Mudou?
R – Total, né? Eu vivo dela, eu a respiro. Então pra mim a reciclagem é a minha vida. Além da minha família, dos meus filhos, vamos falar: é ela que provém o meu sustento. Então, pra mim, o que eu falei: ela tem total importância. Ela é minha vida. Já que é ela que patrocina a minha vida, então ela é extremamente importante. E eu acho que é bom quando você consegue parece que encontrar, meio, esse equilíbrio: uma coisa que, além de ser bom pra mim, na minha vida, na vida da minha família, também é bom pra vida de outras pessoas que estão aqui trabalhando hoje, graças a Deus, dentro de boas condições e também é benéfico pro planeta. Então quando você consegue encontrar esse equilíbrio, eu acho que tudo vale a pena. Então tudo isso é muito positivo, esse equilíbrio entre as coisas. E como ela patrocina, como diz, a minha vida, pra mim, a reciclagem, hoje, é tudo.
P/1 – Quais são as coisas mais importantes pra você, hoje?
R – A minha família e o meu trabalho. São as duas coisas. Essas duas coisas... eu acho que a família, o trabalho, eu acho que é o que me sustenta como pessoa, como ser humano. Além, claro, da fé em Deus porque, pra mim, como eu falei: algumas pessoas não acreditam e eu O vejo agindo na minha vida todo dia. Então é uma questão de ótica. Eu, realmente, todo dia eu só tenho a agradecer, porque eu vejo agindo na minha vida todo dia (risos). Então eu acho que a fé em Deus é o que alimenta, mas no dia a dia o que é mais importante é o que eu falo: a minha família e o meu trabalho. Eu acho que o trabalho, realmente, é tudo de bom (risos). Só traz coisas boas. Eu acho que o trabalho, realmente, principalmente quando você gosta do que você faz, daí, então, se torna um grande prazer.
P/1 – E quais são seus maiores sonhos?
R – Olha, meu maior sonho eu acho que é, como empresa, a gente se tornar a empresa número um, a maior do país, em alguns anos, no setor de reciclagem desses produtos, eu falo, que hoje são considerados resíduos praticamente não reciclados. Então assim: esses produtos, hoje, que estavam à margem da cadeia de reciclagem, sendo descartados como lixo, literalmente. Então é a gente transformar esses resíduos e ser a principal empresa do país hoje, nesse segmento da reciclagem de inservíveis. Agora, como pessoa, eu só quero ser uma pessoa melhor. Só isso. Meu sonho é só se tornar uma pessoa melhor. Nada mais.
P/1 – Você gostaria de deixar alguma mensagem sobre a importância da separação, coleta, nesse caso?
R – Então, a minha mensagem é a seguinte: eu acho que a gente tem que despertar essa consciência ambiental, a natureza, o mundo (risos) está nos pedindo socorro, então eu acho que a gente, todo mundo fazendo um pouco, o resultado vai ser enorme. Então, até por uma questão de gratidão pelo planeta (risos) que está aqui, nos dando tudo que a gente precisa, é ou não é, eu acho que a gente tem que ter o mínimo de retribuição. A gente só está recebendo coisas boas do planeta, então vamos começar a fazer coisas boas por ele também. Então minha mensagem é essa: que as pessoas despertem, cada vez mais, essa consciência ambiental e não precisa sair de casa pra mudar o mundo, começa a mudar dentro de casa. E eu acho que falei: a soma de todas essas atitudes, a gente vai ter resultados enormes.
P/1 – Também, por fim, queria saber se você gostaria de apresentar alguma passagem da sua história que eu não tenha perguntado ou contar alguma coisa, deixar algum recado.
R – Não, eu acho que a gente falou de praticamente tudo: minha infância, a relação com os meus familiares, com a minha família, acho que com o mercado, com a empresa. Então, sei lá, a mensagem que eu ia deixar é que é assim: a vida é simples e que o trabalho vale a pena.
P/1 – Como foi pra você, Ivan, ter contado um pouquinho da sua história pra gente, relembrar da comida da sua avó...
R – É, emocionante (risos). A palavra acho que seria essa. É bom, essas memórias emocionam a gente. Foi muito bom. No dia a dia parece que a gente está sempre ligado, acelerado. Então foi bom. Eu acho que foi bem positivo. Agradeço a vocês pelo momento. Foi muito gratificante lembrar um pouquinho dessa história. Pra mim, lembrar um pouquinho, é o que eu disse: até coloquei o nome de algumas pessoas especiais no corredor que eu passo todos os dias, pra gente nunca esquecer. Mas não tem como esquecer, são coisas tão boas. Então, eu só agradeço a vocês pela oportunidade e pela disponibilidade. Eu falei: “Eu acho que a minha história é tão simples, tão pequena, mas se ela pode, talvez, inspirar alguém, já vale a pena, né?” Pelo menos a minha intenção sempre foi inspirar meus dois filhos, que eu acho que daí é obrigação que a gente tem, de deixar bons exemplos. Mas é muito bom relembrar essas coisas boas e tudo mais, e emocionante. Eu digo: acho que sempre vale a pena se emocionar por coisas boas. Coisas ruins a gente vai deixando de lado e vai resolvendo, mas as coisas boas eu acho que sempre é bom se emocionar. É muito melhor a gente chorar de emoção, do que de tristeza. Eu acho que daí é o choro que vale a pena. É isso.
P/1 – É legal esse valor de saber de onde vem e onde vai chegar.
R – Sim.
P/1 – Muito obrigada!
R – Imagina! Eu que tenho a agradecer.
P/1 – Foi muito gostoso! Obrigada!
P/2 – Agora do ponto de vista do vídeo, eu senti falta de algumas coisinhas que eu queria perguntar. Pode ser?
R – Fique à vontade!
P/2 – Só pra, de repente, a gente conseguir amarrar com as imagens da fábrica e tudo. Ivan, eu queria saber uma coisa assim: tem um paralelo a embalagem longa vida com a longa vida que você traz a ela. É um material reciclável que, muitas vezes, é descartado, mas que vocês aqui têm como protagonista também, né?
R – Sim, perfeito.
P/2 – Comenta um pouco sobre isso, pra gente? Até porque é algo que a gente vai usar bastante pro vídeo. Acho que, de repente, a ligação fica interessante.
R – Claro! Hum hum. Nós nos especializamos em exatamente estar processando esses materiais onde têm essa mescla, vamos dizer assim, que tem outros tipos de materiais que não sejam só o papel. Então, por que, o que acontece? As grandes empresas, por exemplo, às vezes, os processos produtivos pra alta demanda, pra alta produção, realmente são mais engessados (risos). Não tem como você criar também uma máquina, quando você tem matéria-prima com muitas variáveis. Você consegue criar, como nós conseguimos criar aqui, mas não pra produções, talvez, hoje, atender essa alta demanda que existe. Então a gente se especializou em processar justamente esses materiais que, vamos dizer assim, são menos nobres. Então, a gente processa hoje o papel, o plástico, o alumínio, vários tipos de materiais com essas características diferentes do chamado padrão, porque esse material realmente é nobre. É um material que, realmente, dá pra você utilizar, se você tiver um processo que seja um pouco diferenciado, você consegue aproveitar, ter um aproveitamento muito grande, porque é um material que tem ótima qualidade. Não é um material que já foi extremamente, vamos dizer assim, usado e tudo o mais. São materiais virgens, que dá pra você ter um reaproveitamento de 100% dele. Basta você, o que eu falei, acreditar, apostar e desenvolver novas tecnologias, pra você estar processando esse tipo de material.
P/2 – E é algo que você aproveita, tanto o papel, quanto o plástico, né?
R – Exatamente. 100%.
P/2 – E aí, se você puder, também, concluir com a palavra, o longa vida, que aí a gente consegue fazer a costura.
R – Sim. Então, essas embalagens que nós processamos aqui, que são as embalagens longa vida, têm uma matéria-prima extremamente nobre, que são materiais virgens. Então, o papel, por exemplo, é com fibra de celulose; o plástico também é de uma resina virgem; o alumínio também é um material extremamente nobre. Então todos os materiais utilizados na embalagem longa vida, os três materiais são totalmente reaproveitáveis. E a gente desenvolveu exatamente esse processo focado nesses materiais que antes não tinham uma destinação pra esse tipo de reciclagem, eram materiais que acabavam indo pro aterro ou pra um descarte completo. Mas com esse processo que nós temos aqui, a embalagem longa vida é 100% reaproveitada, em todos os materiais.
P/2 – Perfeito! Acho que era o que a gente precisava pra falar do longa vida, que é nosso protagonista também.
R – Hum hum.Recolher