IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Valter Antunes Pinto. Nasci no Rio de Janeiro, em 20 de maio de 1960. INGRESSO NA PETROBRAS Fui admitido no dia primeiro de outubro de 1981. A primeira plataforma que embarquei foi P.P. Moraes, um navio que foi convertido em plataforma, numa FPSO. Fiz dois embarques e, lo...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Valter Antunes Pinto. Nasci no Rio de Janeiro, em 20 de maio de 1960. INGRESSO NA PETROBRAS Fui admitido no dia primeiro de outubro de 1981. A primeira plataforma que embarquei foi P.P. Moraes, um navio que foi convertido em plataforma, numa FPSO. Fiz dois embarques e, logo depois, vim para o MPG, que era o Módulo Provisório de Garoupa. Esse módulo provisório ficou pronto em 1984, quando começaram a montar a PGP-1. E venho nessa trajetória até hoje, nessa plataforma. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Entrei como Instrumentista na Empresa. Trabalho nessa área de instrumentação até hoje. COTIDIANO DE TRABALHO A instrumentação faz parte da manutenção. É ela que está mais ligada à parte da proteção dos equipamentos, do sistema em si. E o que a instrumentação faz é dar manutenção preventiva, corretiva, nesses instrumentos. TRABALHO EMBARCADO Passei praticamente só dois embarques lá no P.P. Moraes. Tenho poucas lembranças do navio em si. Eu tenho alguma parte da história dele. Assim que veio para cá, ele funcionava através da monobóia, pegava esse óleo que vinha dos poços submarinos e, depois de tratado, bombeava para um outro navio no apoio de carregamento. Esse navio era abastecido e ia embora para terra, para fornecer para refinaria. O que aconteceu? Pelos planos da Petrobras, essa seria a primeira plataforma definitiva a ser montada. Havia uma idéia de poder fazer o bombeio através do oleoduto e do gasoduto que foram montados para essa plataforma. E, na época, houve um acidente com as torres de carregamento no P.P. Moraes. O que aconteceu é que fomos obrigados a montar um módulo provisório em Garoupa, que foi o MPG. Então, esse módulo provisório passou a bombear, através do oleoduto e do gasoduto, esse óleo, esse gás, para terra. Com isso, os planos mudaram e começaram a montar as outras plataformas, como Namorado 1 e Cherne 1. A situação começou a ficar insustentável porque, quando chegou em 1984, as outras plataformas já produziam e aqui não tinha mais capacidade de bombeio porque as outras mandavam para cá. Por isso, fomos obrigados a levantar Garoupa. Depois disso, vim transferido para cá. Não vi o acidente da P.P. Moraes. Não vivi porque foi antes, foi na torre de carregamento. Eram duas torres e uma delas entrou no P.P. Moraes. Ela quebrou e provocou um incêndio. Depois, descobriram que a outra torre, que recebia o óleo que era processado do navio, tinha uma rachadura, então não podia ser mais usada. Então, o que houve? Bom, não tinha mais tempo para montar a Garoupa definitiva. Optou-se por fazer um módulo provisório para substituir essa produção do P.P. Moraes e passar para Garoupa. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Tenho 24 anos aqui, trabalhando embarcado. E, às vezes, as pessoas pensam assim: “Ele está há 24 anos embarcado em uma mesma plataforma. Como é que pode?” Só que cada embarque é diferente do outro. Acho que isso é o que mais marca. Porque, sempre que você vem, tem alguma coisa diferente. Gosto de viver embarcado. Aqui existe um perigo iminente, por ser uma plataforma que trabalha com óleo, com gás. Existe um perigo em potencial. De repente, certos questionamentos só são válidos para pessoas mais novas na Empresa, porque eu já estou aqui há 20 e tantos anos. Tem certas coisas que já perdi a sensibilidade: “Ah, estou em um lugar perigoso” Não acho que isso aqui seja perigoso. Acredito que existam outras plataformas que estejam muito mais perigosas do que essa. Me sinto seguro aqui. E esse é um dos motivos pelo qual eu, às vezes, não penso: “Ah, vou para um projeto novo.” Isso é uma das coisas que não me leva a ir, porque conheço aqui. Aprendi a conviver com o perigo e conheço o perigo que tem aqui. Isso é uma das coisas que também marca. COTIDIANO DE TRABALHO Agora, a manutenção está mudando o regime de trabalho. Mas, a maior parte do tempo aqui, o pessoal trabalha de sete da manhã às sete horas da noite. Com uma hora e meia, mais ou menos, para almoçar. E, quer dizer, se você larga às sete da noite, você tem várias opções. Pode ver uma televisão, pode ler um jornal, ler um livro. Você tem uma academia, que pode usar. Pode jogar um futebol. Quer dizer, mas o tempo de lazer é muito curto porque, ou tu fazes um ou faz o outro. Eu, por exemplo, que tenho um problema de peso, largo às sete. Aí tenho que me dedicar, pelo menos, umas duas horas em termos de dar uma caminhada ou ir a uma academia. E, quer dizer, pelas sete, oito, nove, tomo um banho, e às 10 horas já acabou o dia. No último acordo do Sindicato, optou-se pelo sobreaviso do pessoal de manutenção. E pegamos da sete da manhã às seis horas da noite. Por um lado foi bom. Em termos de fazer hora extra, optamos mais pelo lado do viver. Aqui dentro melhorou bastante, porque agora você já ganhou mais uma hora para se dedicar a outras coisas que não seja só o trabalho. Apesar de saber que, aqui dentro, eu estou 12 horas trabalhando e 12 horas de sobreaviso. Porque, de acordo com o que acontecer aqui, você pode ser chamado. Trabalhamos 14 dias e folgamos 21. Acho que a jornada de trabalho não mudou muito. Muda, às vezes, um detalhezinho ou outro. No geral, é de sete da manhã às sete horas da noite. SINDICATO Normalmente, nos aproximamos mais do Sindicato – o que é até errado – na época das greves. Existe um afastamento tanto nosso, como também do Sindicato. Começamos a nos aproximar mais no período de conflito, de acordos. Agora, a gente está passando um período no qual eu não vejo possibilidades de greve. Mas a gente passou por um período conturbado na “Era Collor”, com várias greves. Foi em 1988, que teve aquela greve do Collor, que mandou um bocado de gente embora? Já não me recordo mais. A primeira greve que fizemos aqui, acho que foi em 1989. E, depois de 20 anos de recessão, quem estava preparado para greve? Houve um movimento meio desorganizado. Depois, em 1992, houve um outro movimento, também meio desorganizado, meio fraco. Mas a coisa foi evoluindo em termos de participação do Sindicato com o trabalhador. Eu vejo que, na hora de partir realmente para uma greve, a arma maior que o Sindicato tem são as plataformas, porque é daqui que sai o petróleo. Então, existe um entrosamento maior entre Sindicato e pessoal embarcado. Cada greve foi um movimento diferenciado. Greve de 1995 A mais forte que nós tivemos aqui foi a de 1995. Foi uma greve em que houve praticamente a participação de todos os grupos, porque foi uma greve longa, de 35 dias, a maior da Petrobras. E foi uma greve que marcou porque, além de ter sido uma das maiores, foi onde teve as maiores punições também. Eu perdi dias de trabalho, perdi dias de férias, deram falta. Deram falta não justificada, mesmo estando aqui embarcado. A gente estava em greve, mas estava embarcado. E me deram falta não justificada. Me tiraram dias de férias, me descontaram dias, em termos de dinheiro. Assim, foi umas das maiores perdas. Em termos de outras perdas, eu tive até ameaças, cartas, telegramas para casa. Hoje, eu acho que a relação entre o Sindicato e a Empresa mudou sim. Eu acho que o Sindicato, antigamente, era mais claro nas atitudes dele, com o que estava reivindicando a Petrobras. Hoje eu já não vejo essas coisas. Eu acho que a coisa está mais obscura, não está chegando tão claro pra gente. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Muitas coisas ficaram marcadas aqui. O pessoal tinha um negócio de dar banho nas pessoas. Foi até uma coisa que se perdeu. As pessoas novas, quando iam chegando, levavam um banho ou até mesmo o comportamento de alguém, fora do padrão, também merecia um banho de água. Certa vez, dois Engenheiros que trabalhavam aqui do lado, o Uzeda e o Rubens, resolveram pegar o pessoal aí de baixo, da execução, montaram uma cadeira sem um pezinho. Então, chamavam as pessoas para ir conversar ali e forçavam, acabavam direcionando a pessoa a sentar naquela cadeira. Quando sentava na cadeira, a cadeira dava uma viradinha e a pessoa caía. Então, fizeram isso com o primeiro, com o segundo, com o terceiro, até que o pessoal virou e falou: “Não, então vamos dar um banho nele.” “Como é que nós vamos tirar esse cara de dentro da sala dele?” “Vamos fazer o seguinte: vai um lá que ainda não foi pego na cadeira. Finge que vai entrar, que vão chamar para sentar.” Nisso, alguém fala: “Não, espera aí que já volto, vou ver uma baleia que está ali fora, o jato da baleia. Tem uma baleia ali fora.” Aí um deles falou: “Baleia?” E veio atrás. Ele falou: “Vamos lá.” Mas nisso já estava todo mundo armado para dar um banho no sujeito. O rapaz desceu, ele veio atrás. Quando entrou, desceu a escada, a água caiu em cima dele. Isso aí se perdeu um pouco, porque a última turma que entrou na Empresa foi em 1989. Agora que está começando a entrar um pessoal novo. Então, muita coisa se perdeu. PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Eu acho que é válido, apesar de achar que deveríamos ter nos preparado melhor. A nossa memória aqui já não dura muito, vai embora, não tem jeito. Mas é válido.Recolher