Projeto Identidade Santander
Entrevistada por Fernanda Prado e Ana Maria Lorza
Depoimento de Claudenice Lopes Duarte
São Paulo, 15/12/2011
Realização Museu da Pessoa
Entrevista BST_HV036
Transcrito por Ana Maria F. Lorza
Revisado por Ana Calderaro
P/1 - Clau, bom dia.
R - Bom dia.
P/1 - Primei...Continuar leitura
Projeto Identidade Santander
Entrevistada por Fernanda Prado e Ana Maria Lorza
Depoimento de Claudenice Lopes Duarte
São Paulo, 15/12/2011
Realização Museu da Pessoa
Entrevista BST_HV036
Transcrito por Ana Maria F. Lorza
Revisado por Ana Calderaro
P/1 - Clau, bom dia.
R - Bom dia.
P/1 - Primeiro a gente gostaria de agradecer por ter aceitado o nosso convite para esta entrevista. E agora, para começar, eu queria que você nos falasse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R - O meu nome é Claudenice Lopes Duarte, eu nasci em Olinda em Pernambuco, no dia 25 de julho de 1972.
P/1 – Tá certo, esse comecinho é só para esquentar. Clau, fala para a gente qual é o nome dos seus pais?
R – Eduardo Duarte de Sousa e Claudenice Lopes da Silva Duarte.
P/1 – Tá certo, conta um pouquinho da origem da família, você sabe de onde que eles vêm, se são mesmo de Pernambuco?
R – Sei, claro. O meu pai era paraibano, a minha mãe pernambucana, na minha família tem um lado meio de holandeses e tem uma mistura de tudo na verdade deste Brasil, mas tem muito dos meus antepassados que eram holandeses e tinha índios no meio do caminho. Recife tem uma concentração muito grande de holandeses e acabei tendo um pouco desta mistura. Nós moramos lá, eu vim pequenininha para cá. Depois, em algum momento da minha vida, eu voltei, depois vim e fiquei aqui. Meus irmãos vieram também e os meus pais, mas a minha família mesmo ficou, tios, avós, enfim, ficaram lá.
P/1 – Tá e conta para a gente se você teve contato com os seus avós?
R – Tive, mas foi pouco, não foi muito, não, até pelo fato de ter vindo para cá, tinha a questão das férias, estas coisas, você vai às vezes, mas eu não tive a presença dos meus avós como algumas pessoas que são criadas por avós e tudo mais, eu não tive, eu fui criada pela minha mãe e pelo meu pai.
P/1 - E fala para a gente, qual era a atividade dos seus pais?
R – O meu pai, quando ele veio para cá, para São Paulo, ele trabalhou na São Geraldo, que é uma empresa de transporte, como se fosse hoje a Itapemirim, eu não sei nem se ela ainda existe, a São Geraldo, é uma empresa de ônibus. Eu tinha um tio que era diretor e o meu pai foi trabalhar com ele. depois de alguns anos, muitos anos, na verdade, o meu pai saiu e montou uma transportadora junto com uma irmã, mas ele veio a falecer já faz dez anos, e essa transportadora acabou fechando depois que ele faleceu. A minha mãe ficou muito em casa, ela trabalhou pouco tempo quando os filhos já eram grandes, trabalhou com um médico e depois foi ajudar o meu pai na transportadora, a minha mãe sempre cuidou dos filhos.
P/1 – Você falou que tem irmãos, em quantos vocês são? Em qual você está nesta escadinha?
R – Nós somos quatro irmãos. Eu sou dez anos mais nova que o meu terceiro irmão, eu sou a caçula. Tenho uma irmã que é jornalista também, mas ela não exerce, ela é produtora de espetáculo. Tem outra irmã que é jornalista também e trabalha com cultura. Na verdade, as duas foram para cultura, tenho um irmão que tem uma empresa de caldeiras e eu trabalho no Santander.
P/1 – Tá certo, então conta um pouquinho pra gente o que você se lembra da sua infância, se você se lembra um pouquinho de Recife ou mais já só em São Paulo.
R – De Recife eu vim pequenininha, eu não lembro. Lembro por fotos que eu ia nas férias, que minha avó, os meus avós por parte de pai moravam em Umbuzeiro, na Paraíba, a cidade do Assis Chateaubriand, e a casa era uma casa gigante, metade da casa ficava no Recife e metade da casa em Umbuzeiro, na Paraíba. Então, a casa da minha avó é exatamente na divisa entre Paraíba e Pernambuco. Era uma casa grande, gigante, e todos os netos adoravam ir, isso eu me lembro bem. Era do lado da igreja, da praça principal, e o meu avô, quando alguma moça na época engravidava, o meu avô é que falava se o rapaz ia ter que casar ou não, sempre foi uma família muito tradicional. Por parte da minha mãe, o meu avô veio a falecer cedo, então a minha mãe foi praticamente criada com a minha avó. Em casa eles eram mais velhos, dez anos mais velhos, então eles tinham que me carregar sempre, porque eu era a caçula. Na época, nós brincávamos muito e nós fomos sempre muito unidos, então era sempre muito divertido. O meu irmão me levava para a escola, estudei muito em colégio de freiras, estudei em internato em uma época que os meus pais foram para Recife, mas foi um pedaço pequeno da minha vida, não deu um ano. Como eu era pequena e os outros eram mais velhos, eles ficavam preocupados e eu fiquei nesta escola de freiras. Fui o tempo todo criada em colégio de freiras, então era tudo muito rígido, você tinha que levantar, eu usava aquelas saias pregueadinhas que nós enrolávamos na cintura, aquelas coisas, coisas de criança mesmo. Eu não fui uma criança danada, mas sempre fui uma criança muito esperta, empinava pipa, brincava de bola, enfim.
P/1 – E conta para a gente como era ser a mais nova, a caçulinha.
R – Era mimada, como toda caçula, eu sempre fui mimada pelos meus irmãos, pelos meus pais, sempre foi bom. Eu não sei o que era, acho que era isso, mimada, a única coisa que eu posso falar.
P/1 – E o que você se lembra daqui de São Paulo, da sua casa? Como era?
R – Era uma casa grande, nós brincávamos bastante na rua, era uma casa tranquila, tinham muitas frutas porque era uma casa grande, então tinha bananeira, sabe, estas coisas assim? Nós fazíamos festa junina, tinha muita amizade com os vizinhos, muitas crianças, então era bem diferente do que é hoje, eu acho, porque as crianças hoje são mais presas, você tem muito medo de segurança, então eu acho que isso que mudou.
P/1 – Certo. Você falou um pouquinho das escolas pelas quais você passou, mas tem alguma lembrança marcante de alguma delas, como é que você sentiu o impacto de uma escola normal, de um externato para um internato, como é que foi?
R – Eu não senti tanto, você sente falta daquilo que você teve um dia e deixou de ter, como eu fui criada sempre em um regime rígido, não eram escolas alternativas como se tem hoje, uma Escola da Vila, se você está a fim de entrar na sala você entra, se você não está a fim não entra. Não, você tinha que entrar, tinha que estudar, tinha que ter notas, tinha aula de religião, aula de comportamento, tudo isso pesava, então eu achava normal aquilo porque era só aquilo que eu conhecia e era divertido, por mais que fosse rígido, era divertido, super divertido. Eu nunca vi problema em estudar em colégios de freiras, na verdade, eu saí disso quando eu fui para a faculdade só, até então eu estudei, de pequenininha até velhinha, em colégio de freira.
P/1 – E nesta sua passagem pela escola, teve algum professor que marcou? Uma matéria que você gostava mais?
R – Eu sempre gostei muito de Biologia, eu gostava de Matemática, eu gostava de Português, não tinha um professor assim inspirador. Eu me lembro de um professor da segunda série que eu achava o máximo, mas não era o máximo de ser a mais bonita, achava que ela era muito inteligente, e aí foram aparecendo pessoas. Eu fiz Matemática antes de fazer Jornalismo e eu tinha um professor que tinha uns sessenta anos e este me marcou. Eu estava no primeiro ano de faculdade e tinha que colocar o sinal de igual no meio da linha, eu achava uma bobagem aquilo, mas ele descontava ponto e me marcou pelo fato dele ser muito detalhista, então me incomodava, mas de alguma forma me ajudou.
P/1 – E de você mais velha, na sua juventude, o que você gostava de fazer com o grupo de amigos, para onde que vocês saiam? Qual era o divertimento?
R – Eu sempre gostei muito de dançar e sempre gostei muito de me reunir com amigos, fazia aula de vôlei. Eu fui beber velha, eu comecei a tomar uma taça de vinho aos 29 anos de idade, então, não tinha estas baladas como se tem agora, era uma coisa mais tranquila, as pessoas não bebiam, era jovem mais papo cabeça, de mais estudar. Nós jogávamos muito vôlei, muita bola, era muito mais esporte, muito mais academia, muito mais encontro de amigos na casa de um amigo e nós sempre tivemos pessoas em casa, muita gente em casa. Não viajava muito com eles porque não se tinha esta prática na época, mas foi muito tranquilo, muito legal, muito prazeroso. E tem um detalhe, eu sempre tive muitos amigos, mas sempre junto com família, então era todo mundo junto. O que mais? Acho que é isso.
P/1 – O que te levou a escolher o curso de Matemática primeiro, de faculdade?
R – Aos dezesseis anos eu tinha terminado o que na época era o terceiro colegial, eu não sabia muito bem o que fazer da vida ainda e os meus pais falaram: “Não, você vai fazer uma faculdade.” Eu não sabia direito o que eu queria fazer e falei: “Quer saber, vou fazer Matemática porque eu gosto e depois eu resolvo o que eu vou fazer da vida.” Foi muito legal porque o curso de Matemática me trouxe, eu sou jornalista e jornalista viaja muito, é mais alternativo, acho que falta um pouco da exatidão, da estratégia que é difícil no jornalista, até porque não é de formação. Nós não estudamos para sermos estratégicos, nós estudamos para contar histórias, e eu acho que isso me ajudou muito estar na posição que eu estou, ter trabalhado tantos anos coordenando equipes, atendendo empresas, foi o fato da Matemática que ajudou a ter este lado mais racional da coisa. Eu fiz Exatas e falava que ia fazer Humanas, as pessoas não acreditaram. Como uma pessoa que fez Matemática vai fazer Jornalismo? Eu acabei indo para a área, gostei muito, trabalhei em rádio.. Na verdade, eu queria, como todo jornalista que começa, trabalhar em televisão e acabei migrando para assessoria de imprensa, que acaba ganhando mais. Você vai ficando, vai ficando, trabalhava com revistas, trabalhei em rádio, mas eu achava horrível a minha voz na rádio, eu trabalhava de noite, me achava horrorosa, eu falava: “Meu, quem escuta do outro lado... Não, não vou fazer isso mais.” E fui ficando em assessoria, me apaixonando pelo que eu faço. Acho que você, para realmente fazer direito, tem que gostar. Eu acabei misturando tudo e hoje eu sou uma jornalista com um quê de matemática, mas é pouco hoje perto do que eu faço.
P/1 – Conta para gente então como é que foi este período de faculdade? Como é que você foi cursando a Matemática e quando chegou o momento de você fazer Jornalismo, se você chegou a fazer as duas faculdades juntas.
R – Não, fiz separado. Fiz Matemática no Mackenzie e quando eu estava para fechar, aos vinte anos, eu estava formada, ainda muito jovem. Se você for olhar hoje, uma pessoa de vinte anos é muito jovem, e eu comecei a trabalhar muito jovem, aos quinze anos eu já trabalhava. Eu fui fazendo Matemática e fui trabalhar em um Conselho de Administração das empresas de energia do Estado, eu cuidava da CESP, da CPFL, Eletropaulo e da Comgás, fazia todas as análises destas empresas. Eu sempre tive muita sorte porque sempre trabalhei com gente muito grande e eu muito pequena, eu era estagiária, na época adveio o gás encanado que não existia, eu era a única jovem que participava das reuniões e fui aprendendo. Chegou um momento que eu falei: “Não, eu preciso fazer mais alguma coisa do que isso, eu não quero ficar em cima de planilhas o dia inteiro porque eu gosto de gente.” Eu comecei a conversar com algumas pessoas e conheci um economista que trabalhava com comunicação, eu falei: “Se este cara é economista e trabalha com comunicação, alguma coisa tem a ver comigo, porque eu sou matemática e também quero trabalhar com comunicação.” Resolvi prestar vestibular, passei e comecei a fazer. Quando eu entrei em imprensa, para trabalhar em imprensa, em um primeiro momento eu fazia análises, eu não fui para ser assessora de imprensa ou repórter, não é aquela que “se forma e vai fazer”, eu comecei a fazer e já fui trabalhar fazendo análises com um background que eu tinha de Matemática e aí começou a rolar. Eu tinha muitos amigos, sempre tive muitos amigos, tanto em Matemática quanto em Jornalismo, são amigos até hoje de profissão, a gente se encontra para tomar cerveja porque agora eu bebo (risos) e é isso. Sempre foi muito divertido, mas sempre teve muita responsabilidade junto porque eu já trabalhava, então não tinha todo este tempo, eu fui morar sozinha, então eu sempre tive muita responsabilidade atrelada a todos estes movimentos.
P/1 – Então conta pra gente um pouquinho desse seu primeiro trabalho aos quinze anos, onde que você foi trabalhar primeiro? O que você foi fazer, as suas funções.
R – O meu primeiro trabalho foi com um japonês, que é um engenheiro, eu fui trabalhar em uma empresa de engenharia. Ele era engenheiro, tinha uma escola de informática e eu fui para ser assistente dele, eu fazia todos os controles e tudo mais. Eu sempre acabei me envolvendo nas coisas, eu tinha alguma coisa, me pediam para fazer mais de outra coisinha e, quando eu via, já estava fazendo um monte de coisas. Aí eu comecei a dar aulas de Informática na escola dele de sábado, então eu trabalhava com ele durante a semana e de sábado eu dava aulas. Nessa época tinham muitos computadores, então eu trabalhava com ele, dava aula e comecei a desenvolver programinhas para estacionamento, de computador, aí eu mudei de emprego, nisso aí eu tinha quinze anos. Fui trabalhar em um escritório no Brooklin, de engenharia. Neste escritório de engenharia eu trabalhava, tinha até uma pessoa que pagou a minha faculdade uma época, foi super importante. E o que eu fazia lá? Eu fazia alguma coisa de final de semana também, trabalhei nesta empresa de engenharia e depois eu saí dela e fui para outro escritório de engenharia muito focado na parte econômica e depois fui trabalhar no Conselho de Administração. Depois que eu saí dele, trabalhei em rádio, fiz algumas coisas de revista, mas freela, pouquinho, e fui trabalhar em uma assessoria de imprensa, onde fiquei quinze anos trabalhando. Entrei lá como assistente do presidente, era uma assessora dele, fazia as análises e era uma assessora dele, aprendi muito. Eu brincava, logo que eu entrei, tinham vários assessores com muito mais experiência que a minha, eu era uma criança, eu tinha vinte anos, 21 anos, e eu falava assim: “No dia em que eu virar vice presidente, eu vou sair dessa assessoria de imprensa.” Todo mundo dava risada quando eu falava, e eu fui indo, fui atendendo conta. O que eu fazia? Fazia o meu trabalho muito rápido para ajudar quem tinha experiência, eu fui ganhando contas, fui ser coordenadora de núcleo, fui ser diretora, comecei a comandar toda a área de imprensa e aí, depois de quinze anos, eu virei vice-presidente da empresa e falei: “Está na hora de ir embora.” Porque era uma empresa de dono, eu tinha um núcleo grande, atendia grandes contas, foi quando o Real e o Santander entraram na minha vida, porque eu fiquei durante dez anos atendendo empresas do grupo como assessora de imprensa, coordenando. O cliente tinha um modelo diferente e aí eu acabei saindo de lá, o Fernando [Martins] acabou me convidando para vir para o Banco, para vir trabalhar aqui, eu já tinha dez anos de atendimento em banco, já tinha feito outros bancos antes do Real, já tinha trabalhado com o Banco Francês e Brasileiro, já tinha trabalhado para o Itaú em alguns jobs, fiquei dez anos com o Banco Real e depois com o Santander. Depois vim para cá.
P/1 – Tá certo, então conta para a gente esta relação com o Santander, sendo assessora, quais são os objetivos desta assessoria, como é que funcionava a parceria?
R – Lá atrás ou agora?
P/1 – Lá atrás. Você começou a ter este contato da assessoria e entender como ela funciona, ganhando espaço dentro da assessoria para depois fazer este trabalho de dois anos.
R – Entendi. Bom, no banco, antes eu trabalhava atendendo a conta, você prestava serviço, é muito diferente você trabalhar em uma assessoria e você trabalhar dentro de casa, eu sentia que eu precisava ter esta lição dentro de casa. Lá atrás, eu fazia todas as divulgações, todo o contato com jornalistas, participava dos planejamentos, dos textos, das coisas, mas eu não vivia o banco, e aí foi ganhando escala. Comecei trabalhando com a parte de Seguros, depois eu passei a atender o Asset, depois atendi o Atacado e o banco lá atrás tinha várias assessorias, duas ou três e foi diminuindo. Felizmente, eu sempre fui incorporando outras áreas do banco e foi muito legal, foi um presente, na verdade. Eu sempre atendi diversos segmentos, mas eu sempre gostei muito do banco, trabalhar para o banco, e aí fui incorporando, fui fazendo e, enfim, quando eu vim para cá, eu vim há dois anos e pouco, foi no dia do IPO [Initial Public Offer], dia cinco de outubro. Foi muito legal porque foi um baita desafio, é um desafio você construir uma marca, um banco de 150 e poucos anos é um baita desafio. O Santander é extremamente importante, o Brasil é extremamente importante para o mercado, para o grupo, na verdade, para o grupo como um todo, e eu não tenho dúvida de que nós vamos construir a melhor marca do país, tem que ter muito esforço, muito suor, depois da integração que passou, eu acho que 2012 vai ser o ano da arrancada, acho que tem tudo para alavancar.
P/1 – Então, antes da gente falar mesmo do Santander propriamente dito, da sua chegada à casa, desse seu outro trabalho, conta para a gente por que é importante este trabalho externo de assessoria, como é que você fazia, por exemplo, os primeiros eventos com o seguro? Como se pensa um negócio destes, as atividades?
R – Tá, nossa... Tanto tempo já passou, doze anos. Lá atrás, o mercado de seguros era um mercado complicado, ele é complicado até hoje, agora que ele começa a ganhar mais visibilidade levando em consideração o cenário econômico mundial. Lá atrás ele tinha uma imagem muito ruim, então nós trabalhávamos dois públicos, os clientes, óbvio, mas nós éramos uma seguradora de corretores. O meu foco não era venda nas agências, o meu foco era o relacionamento com os corretores, sempre foi, o trabalho todo era focado neste relacionamento com os corretores, se fazia muito evento com os corretores, nós tínhamos uma preocupação muito grande com as revistas de seguros, nós inaugurávamos agências, as sucursais, que na época nós chamávamos, então, nós viajamos o Brasil todo, eu sempre acompanhava o presidente, preparava todos os speachs, todos os materiais para ele falar, eu organizava as coletivas... O meu trabalho em si é um trabalho de muita confiança, porque você lida o tempo todo com questões confidenciais e você tem que ser uma pessoa discreta para ser um assessor, então é um desafio. Você tem que pensar muito para falar porque qualquer coisa que você fale pode colocar em risco a credibilidade da empresa, então nós temos um cuidado muito grande com relação ao que se fala, ao que você se expõe em um relacionamento fora, porque eu sou a imagem do banco, eu ajudo a construir a imagem do banco perante formadores de opinião. O meu alô para atender o repórter tem que ser um alô bacana senão o jornalista sente, tanto eu quanto minha equipe. Eu trago muito isso para eles, não adianta eu falar que está tudo bem se eu não demonstrar que está tudo bem. O trabalho de uma assessoria de imprensa nada mais é do que: eu sou uma vendedora de histórias. Então, porque ele vai comprar do Santander e não vai comprar de outros bancos? Se o jornal é finito, se o espaço é finito, é lógico, tem que ter ineditismo, tem que ter bons cases, tem que ter bons resultados, o cenário externo e o interno influenciam o posicionamento. Se a empresa está vivendo algum movimento, vai influenciar no impacto, mas desde que o assessor esteja predisposto - e o que nós colocamos -, de bem com a vida, vai minimizar aquela imagem que poderia ser uma imagem ruim. Não sei se eu respondi.
P/1 – E aí, como é que você fazia para trabalhar? Conforme você foi ganhando contas, como trabalhar diferentes vertentes de uma mesma empresa? Porque eles têm uma coisa comum que os liga, mas o trabalho com seguros é diferente de uma área de atacado, que é diferente da...
R – Você tem que conhecer para quem vai vender, eu não posso vender por um veículo de seguros uma matéria de atacado, isso é experiência. Você tem que vender para a pessoa que cobre aquele determinado assunto, você precisa conhecer todo o mercado, você precisa ter um relacionamento com os jornalistas, você precisa gerar ações de aproximação para você vender a coisa certa para o público certo. Os jornais, as editorias te ajudam a identificar quem são os repórteres que escrevem sobre determinado tema e é dessa forma que você consegue vender o que é certo para a pessoa certa. É muito simples. Do mesmo jeito que você não pode vender um Van Gogh para uma pessoa que não tenha poder aquisitivo, não tem renda, eu não posso vender uma matéria de seguros para uma pessoa que cobre Macroeconomia, e o papel do assessor... Eu coloco muito como estes cachorros de caça, se você vai caçar, se você arma, se você faz que vai dar o tiro, o pato sobe e você não mata o pato, o cachorro vai uma vez, ele volta, na segunda vez que você não acertar o pato ele nunca mais volta, é a mesma coisa no nosso trabalho. Quando eu procuro a imprensa para vender alguma coisa, eu só posso dar um tiro, porque se eu vender alguma coisa que não é de verdade, eu vou perder aquele jornalista e ele nunca mais vai voltar, não sei se está claro.
P/1 – Está, está sim.
E conta pra gente, qual é a importância para as empresas grandes terem este relacionamento com a imprensa, porque é importante esta relação?
R – É importante porque eu vou construir marca, os formadores de opinião, isso vai ajudar que a marca seja mais atrativa, cada vez é mais importante este relacionamento com a imprensa. Hoje uma empresa não vive mais, uma empresa fechada não consegue se sustentar por muito tempo, cada vez mais as empresas com as redes sociais e os jornalistas olhando, acompanhando já as redes sócias, ele não precisa de uma empresa para fazer uma matéria sobre ela. Então, se a empresa está predisposta a falar, sé é uma empresa transparente, não tem problema em errar, o Fernando fala muito isso, o problema só é problema se você não faz nada com ele e é isso mesmo. Se uma empresa tem algum tipo de problema, zero, vamos chamar o jornalista aqui e vamos explicar para ele o que de fato está acontecendo, porque ele vai se sentir respeitado, ele vai se sentir, a empresa está preocupada em melhorar. Talvez, naquele primeiro momento, não saia a melhor matéria do mundo, mas em um segundo momento vai existir uma predisposição e aquela empresa começa a ser respeitada. O universo de formadores de opinião é muito restrito, o que acontece com um todo mundo fica sabendo, também existe uma corrente que rapidamente ela contamina toda a corrente.
P/1 – Certo. E você falou então que chegou à vice-presidência da empresa em que você trabalhava como assessora, o que você sentiu ao chegar nesta posição? Já que você tinha metas de quando chegasse a ela, ia procurar outros caminhos, como é que foi a decisão, o convite do banco para você?
R – No primeiro momento foi difícil, porque a gente sai totalmente de uma zona de conforto. Eu estava sendo preparada para ser a sucessora do presidente, mas eu tinha certeza que, para ser sucessora de qualquer coisa, eu precisaria aprender mais, por isso que eu tomei a decisão. Eu nunca tinha trabalhado internamente dentro de uma empresa, então, eu acho que isso foi um belo desafio e eu estou muito contente com o fato de as pessoas terem confiado este desafio. É difícil sair da zona de conforto, é difícil, você tem que aprender novamente porque quando você está fora de uma empresa, você não vive o coração da empresa. Eu acho que é importante para todas as pessoas participar de um movimento dentro da empresa, eu não posso fazer comunicação corporativa sem ter vivido a comunicação corporativa, de fato, senão eu fico só com uma produção de conteúdo, de relacionamento, que não é ruim, é extremamente importante. Mas este modelo que o Santander tem de que os profissionais de imprensa sejam todos funcionários, quando eu estava fora, eu achava que não era necessário, até porque eu perdi a conta do banco quando houve a junção, eu achava que não era necessário, mas hoje que eu estou aqui dentro, eu vejo que faz toda a diferença, você vê os momentos, você vê, de fato, porque jornalista, o assessor, quando ele está fora, ele só quer vender a notícia e às vezes o melhor é não vender a notícia, acho que você fica muito mais estratégico.
P/1 – E conta para gente, então, como é que foi sair desta zona de conforto e vir para o Santander, você teve um convite, você já estava procurando outras coisas?
R – Não, eu não estava. Eu sabia que em algum momento eu faria outra coisa, mas eu não estava procurando nada. Aí o Fernando me ligou em uma sexta-feira e falou assim: “Clau, gostaria que você pensasse na proposta de vir trabalhar aqui no banco, não fala nada, pensa e depois a gente volta a conversar.” Eu fui para a casa com o maior frio na barriga, imagina, como assim? Sua cabeça começa a ficar louca, e agora? Eu trabalho há quinze anos, eu vou para uma coisa nova que pode dar super certo, mas pode também não dar certo. Fui e vim para cá e foi um super desafio, depois de seis meses, ele falou: “Ótimo, agora você vai para a Espanha ficar um mês lá.” “Tá bom, eu vou.” Deixei a minha filha aqui e fui, foi super bom para mim pessoalmente, conhecer coisas novas, visitei jornais internacionais, foi um baita aprendizado. E ele tem muito disso, de provocar, de falar: “Agora está bom e você vai fazer tudo diferente.” Com isso você cresce absurdamente, eu fiquei quinze anos em uma empresa, cresci, atendi grandes clientes como a Votorantim, grandes grupos, trabalhei para Sucos Del Valle, posicionei a empresa, é tudo maravilhoso. Mas nestes quinze anos eu já me sinto no Santander, como se eu estivesse há sete anos aqui dentro destes dois anos e pouco de tantas coisas que foram feitas e tantas coisas que aconteceram, o banco puxa muito o profissional e nisso você cresce absurdamente.
P/1 – Clau, conta pra gente, você se lembra do seu primeiro dia no banco, chegando aqui?
R – Lembro, deixa-me ver. Eu fiquei durante três dias fazendo o curso de adaptação dos funcionários, então, eu cheguei ao banco no dia sete, agora, eu não lembro se foi dia cinco ou dia sete, acho que foi dia cinco de outubro. Eu vim para o banco, mas pouquinho, eu tinha uma equipe e o meu primeiro dia de fato foi na Bovespa, no dia que o banco abriu o capital. Então, eu acho que eu não vou esquecer nunca, foi um marco, foi bem forte, era um momento novo para o banco e um momento novo para mim também. Algumas pessoas eu já conhecia dos trabalhos que eu já tinha feito, outras pessoas eu não conhecia, aí você tem que aprender, tem que conhecer as pessoas, tem que escutar muito para ver o que você vai fazer, qual vai ser a proposta que você vai fazer. Mas eu sempre tive muito apoio, isso ajudou, eu nunca fiquei, sempre foi compartilhado, sempre foi fácil, foi legal.
P/1 – E qual foi a sua primeira impressão, passados os primeiros três dias no curso de adaptação, em de repente ir para a Bovespa e ver toda esta movimentação?
R – Eu falei: “Caraca, é gigante isso daqui, será que eu vou dar conta?” Você fica aflita, ansiosa. E foi isso, quer dizer, você vai aprendendo aos poucos, coisas simples como a intranet, onde eu trabalhava não existia intranet, não tinha o PeopleSoft, era outra coisa. Você vai aprendendo um mar de coisas. Existe um período de adaptação que é natural, mas você vai aprendendo e eu acho que o mais legal é que você tem que ter orgulho, aí acho que as coisas vão ficando mais fáceis, mas é complicado quando você chega, você fala: “Poxa, agora por onde eu começo, onde é a minha mesa?” Mas fui fazendo e foi muito legal.
P/1 – Quais foram as suas primeiras atribuições, em que elas diferiam das suas atividades anteriores?
R – Olha, não tinha, em termos de atribuição, muita diferença com relação ao que eu fazia, você só precisa entender para onde a empresa está querendo ir, mas não tinha muita diferença. Eu sempre tive equipe grande e eu sempre foquei nas pessoas e a minha maior preocupação era conhecer o time, ser aceita pelo grupo, porque não adianta você chegar, se impor, se colocar, porque eu nunca quis ser chefe, eu acho que o legal é você ser uma referência, um líder, senão as pessoas te obedecem, elas não te seguem, acho que este o grande... É tênue, mas é importante.
P/1 – E como é este trabalho em grupo? Como ser líder, o que você precisa para conseguir ou precisou para conseguir entender o grupo novo que você estava conhecendo para liderar, para seguir um trabalho e as suas estratégias no seu trabalho?
R – Primeiro, você tem que se deixar conhecer, acho que isso que é fundamental. Você tem que se deixar conhecer, não adianta você chegar e já impor uma série de questões, você tem que ouvir primeiro, ter uma experiência legal. Hoje, o trabalho em relações com a imprensa e relações institucionais... Eu estou no banco há dois anos e pouquinho, e quando eu entrei em relações institucionais, uma gestora tinha acabado de sair e eu cheguei, eu já estava há um ano no banco, já conhecia as pessoas, mas eu não era a gestora delas. Quando eu assumi, eu dei alguns dias para eles, eu ouvia muito, mas eu respeitava o momento deles porque, querendo ou não, uma mudança de gestão tem um processo de acomodação e foi muito legal. Agora, inclusive, nós estamos fazendo avaliação deste momento e isso veio, eles reconhecem que teve este período de acomodação, que eu acho que é importante. Eu acho que a diferença do ser chefe e ser líder é você respeitar se a pessoa está bem ou não, é você ouvir sem julgar, porque às vezes eles ouvem, mas guardam, é ouvir sem julgar, é pedir feedback porque o gestor normalmente dá, acho que pedir é importante. O que mais eu acho que é importante? Deixar que eles falem, porque são todos profissionais adultos, não infantilizar a equipe, o que eu acho que também. Normalmente o chefe tem mais experiência, então a chance dele infantilizar o grupo, se ele não tomar cuidado, ele vai infantilizar. Eu acho que tem algumas questões que devem ser respeitadas, acho que isso acontece muito no meu nível que é um nível de gerência. Eu acho que o gerente tende a infantilizar, os seus funcionários, porque é um processo de aprendizado, então eu me preocupo em não infantilizar a minha equipe. Eu tenho que trabalhar com uma equipe relativamente jovem porque a demanda é muito grande e as pessoas de mais idade talvez não aguentem o ritmo, porque é um ritmo de divulgar muitas coisas, de ir para rua com muitos assuntos, vai e vem, viaja. Então, as pessoas mais velhas tendem a não aguentar esse tipo de atividade, você tem que ter pessoas jovens, mas se infantiliza-las... Eu acho que tem todo um processo aí no meio do caminho.
P/1 – Só para a gente voltar um pouquinho e deixar registrado, você falou que entrou quando o Santander abriu o capital. Você se lembra o que você passou para a imprensa ou se você só teve um papel de observadora? O que foi passado para a imprensa, os motivos que levaram o banco a abrir o capital? Não sei se você teve este papel?
R – Na época, o banco já estava bem estruturado, o Fernando estava acompanhando isso muito de perto, mas ali, com os jornalistas, era uma época de sindicatos, o sindicato estava na porta no dia da abertura de capital, o presidente saiu por trás para dar esta exposição. Não tem muito... Foi o maior IPO da história, isto trouxe muito orgulho para todo mundo dentro do banco. Os jornalistas, como tinha um prospecto, não têm muito o que dizer, a notícia fala por si, teve a solenidade, teve na Bolsa e lá em Londres, então foi um momento emocionante para o banco como um todo e para mim, que estava chegando ali. Logo você começa a atender as demandas, mas eu estava chegando, eu não podia invadir o espaço do outro, este é um ponto muito importante, eu acho que as pessoas têm que tomar cuidado para não ultrapassar a linha. Eu podia chegar já, porque eu já tinha muita experiência naquilo, mas eu preferi deixar que as pessoas fizessem. Também não fiquei passiva, ficava me segurando porque eu queria já colocar a mão na massa e fiz na medida do possível.
P/1 – Aproveitar que a gente voltou, você falou que logo no começo que você estava aqui, se estabilizando e tal, veio a proposta de ir para a Espanha, como é que você encarou essa proposta, como é que foi a vivência lá com o matriz?
R – Foi o máximo. Foi muito bom, eu acho que todo mundo se tiver… Eu ganhei um presente, na verdade. Você vai de um jeito e volta de outro, você consegue entender as coisas, você consegue vivenciar o dia a dia, você ficar um mês ali ouvindo, vendo como eles trabalham, visitando jornais, acompanhando. Na verdade, eu ganhei um presente, poder ficar lá este tempo todo, ver como são profissionais, como entendem do assunto, a tranquilidade deles, eu acho que isso me causa uma ótima impressão. A cultura é uma cultura diferente, mas às vezes as pessoas falam, a cultura é diferente, logo é pior. Não, é uma cultura diferente que você aprende, quando as pessoas falam que os espanhóis são mais duros, eu não acho, eu acho que eles são mais objetivos, centrados e determinados, eu só consegui enxergar qualidade nisso. Eu não consigo enxergar nenhum tipo de problema, muito pelo contrário, sempre me relacionei com pessoas super queridas, a área de imprensa deles é... Tenho amigas de ficar trocando mensagens fora do trabalho, eu acho que foi uma experiência incrível que todo mundo deveria ter se pudesse.
P/1 – E o que você achou da matriz, da cidade e do trabalho lá?
R – A matriz, como dizem os espanhóis, é fenomenal, é muito legal você ir lá e ver tudo aquilo, no que eu falar não vai dar para explicar o que é tudo aquilo. É uma potência, lá você vai a todos os lugares e é o Santander, eles são muito respeitados, não que aqui não seja, mas é muito diferente, nós estamos construindo a nossa catedral, lá a catedral está pronta. Esta troca de experiências é muito diferente também e muito rica, desde você entrar e ver aquelas oliveiras lá até você chegar a um ambiente em que você não conhece ninguém e as pessoas te acolhem, é muito legal. Você sair todos os dias, você vai para o seu hotel, vai para o trabalho, é diferente você participar de uma reunião, você ter uma mesa lá... Eu tinha uma mesa lá, eu tinha horário de chegada, eu tinha horário de saída, sabe? Participar de todos os movimentos, participar de almoços com os executivos mais tops do banco, participar da reunião mensal, acho que isso traz uma vivência e experiência que eu acho que fez diferença na maneira de enxergar muitas coisas e ver o trabalho. Eu respeito muito a equipe de imprensa do Santander na Espanha.
P/1 – E falando da experiência na Espanha e a experiência aqui no Brasil, como é a relação e as estratégias de comunicação para o Santander Brasil em relação à matriz? Se elas têm alguma relação.
R – Elas têm relação, acho que toda vez que tem alguma coisa no âmbito internacional nós comunicamos a Espanha. Se é daqui para fora e se é de fora para dentro, nós temos esta troca. Se tem algum caso específico, eu falo com a Espanha, eu recebo orientações deles em alguns casos, se eu tenho dúvida sobre algum comunicado que eles fizeram, eu entro em contato e sempre de uma forma muito respeitosa, muito profissional. Eles respeitam também o trabalho que o Brasil vem fazendo, as estratégias, dependendo do que vai ser anunciado, se faz conjuntamente, nós propomos alguma coisa ou já vem determinado da Espanha. Existe esta troca, mas é o que eu volto a dizer, sempre com muito respeito, “o que vocês acham?”. E eu acho... Acho não, tenho certeza, eles respeitam muito cada país, a peculiaridade de cada país. Fazemos duas vezes por ano um encontro com todos os países, com todos os responsáveis pelas as assessorias de todos os países, isso trouxe uma compreensão, são subsidiárias independentes, mas eu sei exatamente quem está na Colômbia, no Chile, no México, isso é muito importante, você conhecer as pessoas, porque aí você vai trabalhar muito melhor com elas.
P/1 – Claro, mas como o Brasil vence a barreira linguística, como é que são feitos esses encontros, essas reuniões, como é que se passam estas informações?
R – Eu falo o meu espanhol e eles falam o português deles. (risos) A gente se dá super bem, eu fiquei um mês lá, o meu espanhol não é o melhor, o mais fluente, mas eles me entendem completamente e, quando eles não entendem, nós damos risada e procuramos outra palavra que encaixe, dá tudo super certo. Eu tenho um esforço grande, mas eles respeitam. Outro dia o presidente disse que a primeira língua dele é o espanhol e a segunda é o português, então isso é importante para nós, não é que é para ter uma acomodação, mas é um respeito que eu acho que tem que ser levado em consideração.
P/1 – Claro, e nesta área de Relações Institucionais, qual é a imagem do banco que se quer construir, qual é a identidade Santander, o que ela representa?
R – Nós queremos construir o melhor banco para os nossos clientes, é um banco simples, fácil e seguro. Queremos que os funcionários tenham orgulho de trabalhar aqui e queremos que os clientes tenham orgulho de serem clientes do Santander. É tão simples e tão complexo quanto isso porque toda a simplicidade tem que ter um planejamento e uma complexidade por trás, mas para o cliente tem que ser simples, porque é bom ser simples, fica tudo mais fácil, mais leve. Uma coisa em que nós conseguimos avançar muito em 2011 foi a gestão integrada. Eu acho que neste ponto as áreas e entre-áreas conseguiram avançar, de fato, porque hoje eu sinto que quando se tem algo a fazer, todo mundo senta para encontrar a melhor solução, não é área X, não é a área Y, é o banco, e isso eu acho que foi fundamental, acho que é isso que vai fazer que a gente alavanque, de fato, em 2012.
P/1 – Tá certo. E como é, depois de muitos anos trabalhando em assessoria e depois vir trabalhar dentro de uma empresa, estar à frente de um grupo que trabalha com esta relação do Santander com a imprensa? Como é que é representar esta empresa vivendo no seu cotidiano?
R – É uma honra porque o desafio é grande. Eu acho que se você gosta do que você faz, tudo fica mais fácil, se você tem brilho nos olhos, faz com carinho, se você quer fazer o melhor. Existe a diferença de quem trabalha para ganhar dinheiro e quem trabalha e o dinheiro vem, parece simples, a mesma coisa, mas se você trabalha com prazer, com amor, realmente acredita que você pode construir... Não colocar o tijolo, mas ajudar a construir a catedral, eu acho que as coisas ficam bem mais fáceis, não sei se eu respondi.
P/1 – Respondeu sim. E como é que faz para esta comunicação e esta relação com a imprensa se dê de uma forma efetiva, em que a comunicação se dê sem ruídos, como isso é feito?
R – É complicado, é complicado e fácil ao mesmo tempo. Complicado porque você depende da interpretação do repórter, às vezes o executivo fala determinadas coisas, passamos determinadas informações, mas existe um pré-conceito já do repórter, por este lado é complicado. Por outro lado, se você tem uma comunicação que é transparente, se você trabalha em cima dos fatos, se tem as aspirações pré-definidas, se você tem os seus resultados e se realmente o banco todo tiver este movimento de fazer, de trabalhar, de ter ações, isso logo vem. Existe um cuidado que nós temos que ter de que as informações sejam de fato assimiladas pelo repórter, mas é completamente factível, não tem o que dar errado neste processo, acho que dá para fazer com excelência.
P/1 – E como essa comunicação e esse relacionamento, tanto o interno, como a relação com a imprensa, ajudam a construir a marca Santander?
R – Olha, é fundamental o relacionamento interno. Você imagina, nós somos um contingente de 55.000 pessoas que conhecem mais 55.000 pessoas, então nós precisamos ter internamente um relacionamento muito bom, em que as pessoas estejam muito felizes porque isso automaticamente passa para fora. Por outro lado, as notícias, nós temos que criar uma agenda positiva para levar para a imprensa as melhores práticas do banco, porque o que é que vai formar a marca. O conjunto de uma agenda positiva e de matérias em que as pessoas percebam toda a evolução do banco, para que fatos negativos, como um assalto a uma agência, algumas questões que não são tão bacanas fiquem minimizadas perante a quantidade de ações positivas que nós temos, acho que é isso que ajuda na construção da marca.
P/1 – E porque é importante ter uma marca forte? Como fazer esta marca forte e estabilizada se perpetuar e seguir repercutindo enquanto forte, enquanto fortaleza, enquanto uma empresa boa?
R – Você faz uma marca forte atendendo bem aos clientes, oferecendo produtos e serviços adequados, tendo uma equipe motivada e engajada, automaticamente você constrói uma marca, isso vai refletir na opinião pública e você vai ter a marca mais atrativa do mercado, é desta forma. Se você faz bem o seu trabalho, com excelência, se você busca, levanta todos os dias e fala “eu quero colocar mais um tijolo nesta catedral” eu não tenho dúvida de que você constrói uma marca mais admirada e uma marca que vai ser referência para os seus clientes.
P/1 – Qual é a importância das inovações, de ações e de práticas inovadoras na área de comunicação?
R – O mercado está evoluindo muito. Antigamente para você ter um personagem em determinada matéria, o jornalista tinha que suar muito a camisa. Hoje ele vai a uma rede social e em três segundos ele tem um personagem para aquilo que ele está esperando. Você precisa ter práticas inovadoras para facilitar a vida do repórter, para ajudá-lo a produzir conteúdos relevantes, comunicar internamente o que está acontecendo na imprensa para ajudar os executivos a criarem produtos e serviços. É uma forma de você ajudar neste processo todo, porque, na verdade, a inovação é importante porque o mundo está mudando, não se faz mais assessoria como se fazia, não se vende mais produtos como se vendia, não se atende mais como se atendia e eu acho que as assessorias precisam acompanhar essas mudanças, a questão das redes sociais, a questão do relacionamento, elas vão ter que evoluir junto porque senão elas não se perpetuam.
P/1 – E, falando de inovação, de perspectivas de futuro, o que você imagina que uma empresa precisa para se perpetuar, quais são os alicerces, o que ela precisa ter de base para se perenizar, para ela estar aí?
R – Ela precisa vender para o cliente aquilo que o cliente quer comprar com um atendimento diferenciado, porque os mercados hoje são commodities. O que vai diferenciar não é o quê, é o como. Nós estamos na era do como, é isso que vai fazer o melhor gestor, uma melhor venda, é onde o cliente vai experimentar, é isso que vai fazer a diferença e o que vai fazer com que as empresas se perpetuem.
P/1 – E como você imagina o banco daqui uns vinte anos? Como é que vai estar o Santander no Brasil e a relação dele com a sociedade, daqui a uns vinte anos?
R – Vai ser o melhor banco do país, vai ser a melhor empresa para se trabalhar, o melhor retorno para os acionistas e a marca mais atrativa do mercado.
P/1 – Certo, e voltando para antes de nós irmos para a parte de avaliação, eu queria retomar para as questões pessoas. O que você gosta de fazer quando tem um tempo livre?
R – Nossa, tanta coisa. (risos) O que eu gosto mais é de ficar com a minha filha, gosto de cozinhar, de ler, gosto de ir ao clube, estar com os amigos, gosto de tudo. Eu procuro, no pouco espaço que eu tenho, fazer um pouquinho de cada coisa para conseguir, gosto de caminhar... Não tenho caminhado o quanto eu gostaria porque a minha filha não gosta muito e como eu gosto de ficar com ela, eu não faço tudo, gosto de estar com as pessoas.
P/1 – Agora conta um pouquinho da sua filha, o nome dela, quantos anos ela tem?
R – Ela tem dez, o nome dela é Eduarda, ela é muito calma, muito tranquila. Ela é uma criança que tem muitos amigos também, é uma confusão porque todo final de semana tem que ter alguém na minha casa ou ela na casa de alguém. Quê mais? Ela não é muito aplicada, gosta mais de viver a vida, eu tenho que pegar um pouquinho no pé dela, muito carinhosa, muito meiga, muito sossegada...
P/1 – E conta para a gente como é que foi a experiência de ser mãe, o nascimento da Eduarda, o que isso trouxe?
R – Acho que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Não fala disso que eu choro. (choro) Ai ai, foi isso. (choro) Eu já sou tida como chorona.
P/1 – É normal se emocionar, imagina.
R – É isso, foi a melhor coisa. (choro)
P/1 – Tá certo. Então vamos para uma parte mais avaliativa. Agora que você contou um pouco da sua história, eu queria que você nos falasse como você define o negócio banco, o que ele é, como ele funciona.
R – O que ele é? Banco é realizar sonhos. Uma vez eu escutei esta frase e achei o máximo, ninguém acorda de manhã e fala “eu vou abrir uma conta em banco, que delícia, ai que delícia, hoje vou ficar na fila para pagar conta”, ninguém fala isso, eu acho que você começa a criar uma relação com o banco quando a pessoa busca alguma coisa e você atende aquela expectativa. O sonho está muito ligado à expectativa também, você consegue, se a pessoa tem uma determinada expectativa em relação ao banco e você não faz aquilo, a pessoa se frustra e que você pode reverter, se agir rápido. Então, o negócio banco é alinhar as expectativas e realizar o sonho das pessoas, para mim isso é banco.
P/1 – E quais são os valores do Santander que te fazem vestir a camisa e vir para cá, cotidianamente, e estar à frente das falas para a imprensa e cuidando desta relação?
R – Eu acho que o que me faz levantar todos os dias é o fato de saber que nós vamos cumprir as aspirações do banco, que foi o que eu falei de tornar a melhor empresa para se trabalhar, mais admirada, eu acho que é isso que me movimenta. (choro) Você tocou na minha filha, agora eu vou aparecer chorando falando das metas do banco.
P/1 – Conta para a gente, então, como fazer isso. Você tem as metas, tem o dia a dia e tem todos estes valores e experiências, como é que você vai fazer para atingi-las? Qual é a sua contribuição, o seu tijolinho para construir esta catedral?
R – A minha contribuição está, primeiro, em motivar as minhas equipes, mostrar para elas também os valores da corporação, ter energia para vender o banco, mostrar os valores. É muito diferente eu falar: “Olha, então, o banco ganhou o prêmio A Melhor Empresa Para Se Trabalhar. Do que eu vender assim: “Olha, gente, vocês não sabem, o banco ganhou o prêmio A Melhor Empresa Para Se Trabalhar.” é sutil e, como eu falei, não é o quê, mas é a forma. Eu tenho certeza que eu vou cumprir as minhas metas tendo comprometimento, sendo estratégica e motivando a equipe, porque sozinho não adianta eu ser comprometida, eu ter estratégia. Se a equipe não comprar, nós não chegamos a lugar nenhum. Eu acho que o papel do gestor é fundamental, seja na área de imprensa, qualquer área, porque nós só vamos construir este banco se a equipe estiver motivada, senão nós não conseguiremos e eu digo que a minha contribuição é motivar a minha equipe, vender com excelência todas as notícias que eu tenho para vender desta instituição e preservar a marca para minimizar qualquer risco que ela tenha. Eu acho que essa é a contribuição que eu posso dar a este banco.
P/1 – E quais você considera que foram as suas maiores realizações ao longo desta sua carreira na comunicação, aqui no banco?
R – Principais realizações? Eu poderia ficar falando aqui, foi o projeto X, foi o projeto Y, mas eu acho que a minha principal realização é a forma como eu faço. Eu acho que é mais do que a meta, é como fazer, é gerar menos desgaste da equipe, é não ter refações, é me preocupar se está tudo em ordem com as questões, não é o projeto. Este ano nós tivemos dois projetos que eu considero muito importantes, nós lançamos o Rio 2000 e Sempre, que foi um belo projeto e nós tivemos o 3.1. Foi um ano de muitas questões, nós tivemos a integração, nós mudamos um pouquinho o escopo da área, porque antes nós trabalhávamos mais o relacionamento com a imprensa, hoje nós trabalhamos produção de conteúdo e relacionamento com a imprensa, isso demanda mais da equipe. Mas eu acho que hoje é muito mais estratégico, está mais denso, hoje tem mais qualidade, não é fazer por fazer, é o como fazer.
P/1 – Tá certo, e quais são as suas perspectivas para o futuro, os seus maiores sonhos?
R – Do banco?
P/1 – É, um do banco e um em termos de realização pessoal?.
R – Do banco está muito ligado às aspirações, porque se nós chegarmos aonde foi definido, não só a minha, mas a de todo mundo, acho que isso é extremamente importante. Acho que nós temos um longo caminho ainda a percorrer, acho que em 2012 nós alavancaremos, mas eu acho que ainda vão faltar alguns anos para atingir as aspirações. Pessoalmente, eu quero ser uma pessoa melhor.
P/1 – Vamos retomar aqui, eu queria perguntar o que você acha desta iniciativa do Santander resgatar a sua memória e buscar a sua identidade através da trajetória destes que estão aqui no cotidiano, vinculados ao cotidiano do banco.
R – Eu acho brilhante porque banco nada mais é que pessoas, como qualquer atividade. Contar a história por meio das pessoas, quer dizer, o banco tem 150 anos e cada um tem uma parte. Outro dia eu participei de um fórum muito legal, dizendo que se nós somássemos a idade de todo mundo que estava dentro daquela sala, nós teríamos mais de 150 anos, eu acho extremamente importante e muito legal a iniciativa, vocês estão de parabéns.
P/1 - E o que você achou de ter sentado aí para contar um pouquinho da sua história para a gente hoje?
R – Eu achei legal, se vocês não tivessem tocado no fato da minha filha, eu teria me controlado mais, não teria chorado, e acho importante você parar no meio do dia para contar. Putz, é legal.
P/1 - E tem alguma coisa que você gostaria de deixar registrado, que a gente não tenha perguntado, ou deixar um recado para um futuro para quem quiser consultar e entender o Santander de 2011?
R – Um recado? Isso é tão importante porque você vai deixar para o futuro, então você tem que pensar de fato o que você pode… Eu acho que este ano foi um ano muito importante para a organização porque foi um ano de integração, de mudanças de estrutura e, ao mesmo tempo, um ano de investimentos, de lançamentos de grandes projetos. Eu acho que este ano o Santander fez acontecer. Muitas pessoas, quando fizemos a integração disseram “poxa, agora nós não vamos conseguir fazer mais nada” e foi dada uma arrancada, foram feitas várias coisas. Chegamos ao final de 2011 e, caramba, quanta coisa nós fizemos e acho que dá para fazer, basta arregaçar as mangas. É esse o recado, tem que arregaçar as mangas, ter foco e disciplina, porque eu tenho certeza que o resultado vem, o resultado nada mais é que a consequência daquilo que você faz, então acho que é isso.
P/1 - Tá certo, Clau. Então, em nome do Museu da Pessoa e também da Vice Presidência de Marca, Marketing, Comunicação e Interatividade, nós agradecemos a sua entrevista.
R - Obrigada.Recolher