Projeto Identidade Santander
Depoimento de Carlos Alberto Lopes Galán
Entrevistado por Fernanda Prado e Gustavo Lima
São Paulo, 05 de dezembro de 2011
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número BST_HV031
Transcrito por Ana Maria Farinazzo Lorza
Revisado por Ana Maria Farinazzo Lorza e ...Continuar leitura
Projeto Identidade Santander
Depoimento de Carlos Alberto Lopes Galán
Entrevistado por Fernanda Prado e Gustavo Lima
São Paulo, 05 de dezembro de 2011
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número BST_HV031
Transcrito por Ana Maria Farinazzo Lorza
Revisado por Ana Maria Farinazzo Lorza e Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 – Boa tarde, Carlos.
R – Boa tarde.
P/1 – Eu queria primeiro agradecer de você ter aceitado o nosso convite de participar dessa entrevista. E para começar eu queria que você nos falasse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – O meu nome é Carlos Alberto Lópes Galan. Eu nasci em Madri em 1962.
P/1 – E em que dia que você nasceu?
R – 6 de novembro. Escorpião.
P/1 - Qual é o nome dos seus pais?
R – Francisco e Maria Los Angeles. Espanhóis.
P/1 – Qual era a atividade deles?
R – Ele era economista também e minha mãe trabalhava em casa.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho três irmãos.
P/1 – E você está em qual nesta escadinha?
R – Sou o caçula.
P/1 – Então conta para a gente como era ser o caçula lá em Madri, da sua infância, sua casa de infância?
R – Eu acho que foi uma infância bastante normal. Uma família de classe média e o que me lembro como caçula é a grande diferença de idade com os meus irmãos. Eu estive muito tempo praticamente sozinho porque meus irmãos foram embora de casa, então eu basicamente fazia muito esporte e muitas coisas que eu queria fazer os meus pais me consentiam. Uma infância normal eu diria, uma etapa um pouco de agitação na Espanha. Lembro-me que quando ainda tinha o ditador anterior e o que foi a transição para a democracia, eu lembro de todos estes momentos. Eu morava em uma casa que está no centro de Madri, eu diria que é a rua mais conhecida de Madri, Alcalá, e tudo o que foi o período de agitação, de transferência para a democracia ocorria perto da minha casa, então eu vivi esta época intensamente. E com a chegada da Universidade, também muito feliz, não posso me queixar e tenho muitas lembranças positivas de tudo.
P/1 – Que bom. E que tipo de esportes você fazia, o que você gostava mais?
R – Eu jogava bastante basquete, dá para perceber pela minha estatura (risos), mas jogava bastante basquete.
P/1 – Tá certo. E quando ia brincar, do que você gostava de brincar?
R – Brincar em que aspecto?
P/1 – Você falou que os seus irmãos eram mais velhos, então quando você ficava sozinho do que você brincava? Tinha alguns amigos perto da sua casa?
R – Sim, era muito fácil. Íamos a pé, os amigos iam para casa e eu ficava com eles, mas fazíamos o que geralmente fazem as pessoas desta idade, desta geração, que é estar na rua, ir às boates, fazer o que todo mundo quer fazer e tentar procurar alguma menina (risos).
P/1 – Tá certo. E como era a relação com o seu pai?
R – O meu pai, eu tinha bastante diferença de idade em relação a ele, mas uma pessoa bastante dedicada à família e uma pessoa de muitos princípios. Ele viveu em épocas difíceis da Espanha, esteve inclusive na Guerra Civil espanhola, então era um pouco as lembranças de coisas que para mim eram muito antigas e eu não percebia. É uma pessoa que sempre deu uma unidade à família, uma pessoa de caráter e todos realmente estavam um pouco sempre abaixo da sombra dele. Ele dominava toda a família e era uma pessoa de referência em todos os atos e coisas que nós fazíamos. Afinal, uma pessoa que se sacrificou por todos nós e que tentou fazer o melhor para que todos, cada um, extraísse o melhor de si.
P/1 – Tá certo. Você se lembra da escola, como é que foi começar a ir para a escola e encontrar gente da sua idade?
R – Eu sou bastante consistente. Eu fiz oito anos de escola e depois fui para a Universidade onde fiquei cinco anos na mesma escola, na mesma universidade. Era uma escola que tinha muita atividade esportiva e uma escola que eu acho que tinha um patamar de estudos bastante alto e acho que sou um privilegiado, porque me deu muita base de conhecimento, uma boa base de formação que me serviu para a universidade e também a nível pessoal. Acho que a formação que me deu desde a base, fazer coisas em equipe, como eu falei anteriormente, joguei bastante basquete, um sacrifício a dependência das demais pessoas, o rigor, a exigência acho que marcou muito. Quando eu fiz a Universidade, como pessoa me marcou muito, e acho que também uma universidade pública, escola pública, pois não tinha muita escolha na época em que eu estava estudando na Espanha, eu acho que realmente muito do que sou hoje devo a formação que eu tive primeiro na escola, como eu falei, comecei e fiquei por oito anos e depois a universidade por cinco anos onde também tive grandes amigos e grandes professores.
P/1 – Tá certo. Tinha alguma matéria do período da escola que você gostava mais, que você ia melhor?
R – Sim, geralmente era o esporte (risos). Não, em geral todas, não tinha uma coisa assim, eu gostava muito de Matemática, mas em geral não gostava muito das coisas de Letras. Para os jornalistas é exatamente o contrário, normalmente eles gostam mais de matérias de Letras ou matérias de Humanas e eu sempre gostei mais de coisas ligadas à Ciência e também, como eu falei, à Matemática.
P/1 – Como é que foi escolher a profissão no final da escola e já para pensar na faculdade, no que seria ser quando crescesse, como é que foi?
R – Isso foi uma grande transformação, porque eu queria ser engenheiro, mas um arquiteto. Na Espanha arquiteto é um engenheiro que aqui no Brasil é quem afinal faz as construções, os cálculos de estruturas e eu sempre quis desde pequeno ser engenheiro,
arquiteto, mas o que aconteceu foi que eu tive uma doença, eu tinha fazer muito esforço, a física era muito difícil então eu decidi não fazer mais física porque era uma matéria muito forte e essencial para a engenharia e acabei sendo economista. Na hora, quando eu tive que fazer a seleção com os amigos e virei economista, não por casualidade, mas quase por casualidade e encontrei um pouco das coisas que eu entendia, que gostava, e continuei seguindo a carreira em licenciatura, que na Espanha são duas licenciaturas, Economia e Administração de Empresas.
P/1 – E neste seu período de faculdade, mais velho, o que você gostava de fazer? De sair com uma turma, ir ao cinema? Como era?
R – Realmente me divertir. Eu praticava muito esporte, eu gosto muito de praticar esportes. Nos finais de semana esquiávamos, cavalos, fazíamos travessias, um monte de coisas e gostava de festas. Esta época era de festas e de conviver um pouco com a turma que estive junto basicamente durante os cinco anos que estive lá e desde então são grandes amigos, elas e eles. Até hoje tenho contato com a maioria deles mesmo que muitos deles estejam fora da Espanha, em outros países, e realmente éramos uma turma muito unida.
P/1 – Tá certo. E do período da faculdade teve algum professor ou alguma matéria que te marcou, que fez você dizer “não, é Economia mesmo que eu quero fazer, é por aqui que eu quero seguir”?
R – Sim, realmente tive bastante sorte porque eu tive um grupo de professores, muitos deles viraram Ministros do país, tinha uma mistura de professores antigos com muita experiência e um pouco uma nova turma de professores mais modernos e tive concretamente uma matéria e um professor que eu gostei muito, Economia de Empresas, com um cara bastante conhecido na Espanha, uma pessoa que misturava a questão acadêmica com a questão empresarial, era presidente de uma companhia financeira da Espanha muito conhecida. Eu realmente gostei muito desta mistura de não simplesmente ficar nos textos e teorias. Ele sempre tratava de dar explicações do porque e como afetava o mundo real. Eu me lembro que ele trazia muitas matérias de jornais econômicos, o que estava acontecendo no momento e isso realmente a mim particularmente empolgou.
P/1 – Certo. E como é que foi o período de chegar perto do final da faculdade, de começar a pensar em uma carreira, no trabalho?
R – O final da faculdade foi difícil para mim porque eu tive que combinar com o serviço militar. Fiz um serviço militar especial como oficial do Exército para universitários, tem um esquema especial, então eu tive que combinar os dois últimos anos, seis meses praticamente, sendo militar e seis meses estudando, foi bastante ativo este momento. Realmente a época era muito boa e já antes de terminar tinha ofertas de trabalho, eu não sabia muito bem o que eu queria fazer, queria trabalhar, então praticamente terminei e já tive várias ofertas e fiz uma escolha.
P/1 – E qual foi este primeiro trabalho?
R – Meu primeiro trabalho foi em uma consultoria, viajei bastante. Fiquei na consultoria por um ano e meio, dois anos e já passei diretamente para o Banco Santander.
P/1 – Como é que foi o convite para trabalhar no Santander, quais eram as suas expectativas para começar no mercado financeiro?
R – Eu realmente não sabia muito o que era. Primeiro eu queria mudar de companhia e a primeira proposta do banco Santander foi na área de Auditoria Interna e tive que ir morar em umas ilhas a duas horas e meia, era na Península Ibérica por onde morei por dois anos, nas ilhas maravilhosas, Ilhas Canárias que é um privilégio pois tem uma temperatura e uma geografia magnífica e com 26, 27 anos era feliz (risos).
P/1 – E como é que foi se mudar para lá? As suas primeiras funções no banco? O que se fazia?
R – Foi bastante intenso. Eu me lembro que eram viagens, muitas viagens por mês, me movimentando entre cidades também. Realmente foi uma época bastante interessante porque praticamente durante dois anos, dois anos e algo percorri todas as ilhas, todos os lugares e infra-estrutura de agências e redes que tinha o banco. Eu era especialista em auditoria de riscos de crédito e praticamente tinha que fazer todas as revisões de tudo o que era das agências e das regionais que estavam nesta área geográfica, então foi bastante intenso e logicamente eu diria que eu tinha um coach ou um chefe que um pouco foi quem me formou. Neste período realmente a experiência foi a base de trabalhar e basicamente, este cara, esta pessoa, era um grande especialista na matéria e foi quem me mandou, formou em tudo o que era avaliação de riscos de crédito e um pouco o que era avaliação de companhias.
P/1 – E como é que se avaliava crédito nestas ilhas? Qual era o diferencial entre o funcionamento do banco na Espanha e lá nas Ilhas Canárias? Tinha alguma diferença?
R – Era uma época em que a informática era muito precária, as coisas eram feitas muito manualmente. Eu me lembro perfeitamente como eram os contratos, um a um com o contrato, revisar e acho que era muito mais demorado todo este trabalho comparado com as facilidades ou com a produtividade que se tem hoje com os meios atuais, especialmente em informática. Era muito mais difícil, os processos eram muito mais demorados e manuais o que fazia com que a produtividade de nosso trabalho fosse inferior. Eu me lembro que a essência não mudou muito, a complexidade sim, porque a maioria das operações eram operações de balanço ou de risco de crédito simples e já estamos com produtos muito mais, eu diria complexos, em que se tem que avaliar mais coisas que simplesmente um conhecimento mais amplo do que a avaliação de balanço e eu acho que as técnicas e a infra-estrutura me mudaram para melhor quanto à capacidade de trabalhar, do que eu fazia.
P/1 – E como é que foi sair depois das Ilhas Canárias? Você ficou lá uns dois anos...
R – Sim, fui para a Península onde fiz as mesmas coisas e tive uma oferta para virar um especialista também dentro de auditoria durante uns dois anos e meio, três, de todas as atividades de tesouraria. Praticamente foram quatro pessoas que o banco formou e percorremos o mundo durante dois ou três anos aprendendo e revisando as atividades de tesouraria do banco. Estive em quase todos os continentes, estive no Japão, Estados Unidos, Londres, América do Sul, em todas as tesourarias mais importantes do banco neste período de dois anos. Estive revisando isso, um grande privilégio, aprendi muito.
P/1 – Qual foi um dos aprendizados que você trouxe destas viagens, de conhecer culturas diferentes em um mesmo banco? Como entender as atividades do Santander, por exemplo, no Japão, nos Estados Unidos?
R – Muitas vezes nem eu sabia como entender tudo isso (risos). Realmente tem coisas que muitas vezes o senso comum é que deve ser aplicado para estas coisas porque, por exemplo, os contratos eu me lembro no Japão estavam em japonês, eu não falava japonês, ninguém falava japonês, então um pouco você tinha que fazer coisas básicas para entender e fazer uma avaliação se estava bem ou se estava mal. Por exemplo, me lembro quando fomos à Argentina, que tinha uma taxa de juros de mais de 10.000%, então é difícil que você faça avaliação destes contratos de juros de 10.000%. Em cada um nós íamos aplicando coisas básicas. Acho que também um pouco de intuição e baseados na experiência que você tem de achar e ou revisar. Um pouco como você crescendo e entendendo e a cada trabalho que se fazia comparava com o anterior, se esforçava e fazia melhor, basicamente pelos erros que você tinha cometido na revisão anterior ou no trabalho que estivéssemos fazendo.
P/1 – E teve algum país ou algumas destas viagens que marcou, que você achou mais difícil, ou mais interessante?
R – Sim, eu me lembro perfeitamente de Nova Iorque por duas razões. Primeiro porque foi um trabalho de cinco meses, três pessoas para uma unidade que era muito grande e já começava a ter produtos complexos e segundo porque foi onde eu conheci minha mulher, por isso me marcou, por estas duas razões.
P/1 – E como era este trabalho de análise financeira nestes países? Como é que vocês faziam? Com se dividiam em uma equipe tão pequena?
R – Muito trabalho. Dedicávamos muitas horas para fazer muitas coisas, muita intensidade, muito rico, pois se aprendia muito, mas realmente você dedicava muitas horas ao trabalho e tínhamos uma metodologia de trabalho que tínhamos que cumprir alguns objetivos e um pouco como falei, me esforcei muito, porque requeria um grande esforço profissional e pessoal, mas realmente me formou porque aprendi muito sobre o que era o banco, o que eram os mercados. Você tinha uma abrangência geral do que eram os bancos e realmente um privilégio poder ter esta visão integrada, porque muitas vezes dá para você um pouco a razão do porque se fazem coisas ou como e porque se devem fazer estas coisas. Então realmente foi um esforço, uma época intensa e ao mesmo tempo muita rica em aprendizado.
P/1 – Tá certo. E foi neste período mais ou menos que você conheceu o Brasil?
R – Não. Eu era mais um não residente espanhol porque estava mais fora da Espanha (risos) decidi que ia casar e que iria morar em um país mas não ter que viajar tanto, e foi quando o banco decidiu fazer uma oferta para vir pela primeira vez no ano de 1994 ao Brasil, que era um Investiment Bank e que praticamente estava se transformando de uma representação de um escritório pequeno, a um branch, a uma agência do banco e basicamente estava criando uma nova equipe, uma equipe de mercado, uma equipe de uma nova etapa que estava acontecendo no Brasil.
P/1 – E como é que foi vir para o Brasil? Fazer as malas e chegar aqui em São Paulo, qual foi a sua primeira impressão da cidade?
R – Fazer malas eu já estava acostumado (risos), não tinha problema, mas o primeiro impacto foi forte, porque eu me lembro que o Brasil vivia uma época de muita inflação, me lembro que nove dias, meses inteiros sem ter conta corrente aqui, ou seja, demorei muito... Me lembro que era uma época difícil de planejar, as companhias faziam dinheiro simplesmente pagando a folha de pagamentos na segunda ou na sexta, tínhamos 3% de inflação. Lembro-me que não tinha a minha conta corrente e tinha que fazer a troca de dólares nos hotéis e tinha que calcular bem para não perder poder aquisitivo. Minha mulher fazia pesquisa para a compra de leite e ia a três lugares e os preços do primeiro ao terceiro lugar eram de 50%, era uma época singular. Não tinha tido a experiência de viver em um país com hiperinflação e realmente era novidade para mim. Lembro-me que era impactante na questão pessoal e na questão profissional, encontrei uma equipe jovem, muita muita gente jovem, quase todos recém contratados do mundo financeiro e era uma equipe de pessoas de praticamente 30, 30 e poucos anos, muito jovens que estavam crescendo juntamente com os primeiros alicerces do que era o novo Santander no Brasil.
P/1 – E o que era este novo Santander no Brasil? Quais eram os desafios?
R – Era praticamente conhecer o mercado, começar a ter relacionamento com os primeiros clientes corporativos, entender quais eram as oportunidades que apresentava ao país. O banco tinha uma visão de que a região seria importante em algum momento e já dava os primeiros passos de como se firmar aqui e ter um pouco o conhecimento do que era o entorno, do que era o país.
P/2 – Se tinha uma idéia de quais eram os concorrentes nesta época? Como era o contexto na época?
R – O contexto era que o banco era muito pequeno. Era um banco de investimentos e não se pensava em nada como um banco de varejo, era um banco que estava fazendo atividades de corporate banking, de tesouraria. Era um banco de atacado e basicamente o foco era crescer neste quesito e expandir um pouco a presença do banco em operações corporativas de um tamanho relativo, essa foi um pouco a primeira base. Realmente foi um ano e meio, tive o primeiro filho brasileiro e não deu para mais, porque estive um ano e meio só.
P/2 – Você viveu fusões do Santander lá na Espanha? Quais bancos?
R – Não, eu vivi fusões no México, daqui do Brasil eu fui para uma unidade que era uma unidade de derivativos, uma joint venture com uma equipe americana que estava em três países, Irlanda, Estados Unidos e Espanha e também estive com as malas por um ano e meio nesta companhia. Depois fui para o México, primeiro no banco de investimentos, e dentro do banco de investimentos se comprou o primeiro banco de varejo e a partir daí tive que fazer uma primeira integração, porque o banco de investimentos, o banco de atacado era um banco grande, tinha agências de private, ou seja, era um banco de investimentos, de atacado de porte. Tínhamos que fazer a integração com o banco de varejo e logo depois foi comprado outro banco de varejo maior que o banco de varejo anterior então eu tive que fazer outro processo de integração lá no México. Passei por três processos de integração no México.
P/1 – E como foi fazer estes processos lá no México, como é que foi também estabelecer uma vida lá?
R – No México, eu praticamente morava em Madri e normalmente nos movimentávamos para o México, como sempre as malas vão comigo, e era outra coisa. Estive por menos de um ano. O banco tinha comprado um banco de varejo que um pouco mudou a responsabilidade e o desafio que tínhamos que fazer lá e realmente era um banco que estava quebrado e tivemos que renovar praticamente a estrutura, o management, a organização etc etc. Então foi muito intenso, foi uma época de reestruturação e uma época interessante porque coincidiu com o que foi a crise da Rússia, então o banco estava bastante exposto com países que se consideravam emergentes. Foi uma época intensa enquanto reestruturava a companhia e para entender um pouco como o entorno internacional nos afetava também.
P/1 – E como você vê e sente esta agressividade do Santander de comprar estes bancos e em pouco tempo ter estes três, toda esta reestruturação de posicionamento do México?
R – Eu acho que tinha uma visão clara de que o mundo iria crescer nestes países. O banco acreditava em que, eu acho, que eram países em que tinham pouca bancarização, que eram países que tinham passado por uma transformação social, por uma transformação política e que era uma aposta que se o banco queria ter uma diversificação, teria que ter um crescimento fora do que era o entorno natural, do que era a Espanha, ou a Europa e que tinha também uma lógica do ponto de vista de entendimento de cultura que passava por crescer na região. Eu acho que determinação eu diria, o banco queria crescer com quotas que fossem representativas dos países onde ele estava apostando. Lembro-me que eu participei de várias compras, comprei o banco na Venezuela, participei também da compra de um banco na Colômbia, praticamente durante quatro ou cinco anos foi comprando e comprando e comprando bancos em uma época intensa enquanto á avaliações de bancos, integrações de bancos e praticamente eu diria que até 2004, 2005 foi a estruturação criação do que é hoje o Santander, especialmente na região da América Latina.
P/1 – E como é que foi para você vivenciar estas integrações nos diferentes países? Você falou do México, da Colômbia, da Venezuela, o que estes processos tinham de similares, o que os diferenciava?
R – Eu diria que cada caso é um caso. Mas falar que cada caso é um caso é dizer que o banco também tinha uma aproximação diferente, uma definição de como fazer a integração dependendo do porte do banco, a complexidade do banco, a situação do banco. Eu digo que tem questões básicas que em qualquer caso sempre se cumpriram como fazer uma reestruturação. A maioria eram bancos que tinham problemas, bancos que não estavam bem destinados e então realmente passavam por uma reorganização, uma reestruturação e definição de funções, um processo de otimização e eficiência e um processo também de estabelecer uma série de princípios de gestão. Um pouco também o que a integração, a tecnologia, back offices, os riscos, tudo que é a base dos bancos. Etapas muito intensas em que aconteciam muitas coisas em pouco tempo e que ao mesmo tempo estavam acontecendo as mesmas coisas em vários países, eu diria que foi uma etapa de transformação fascinante.
P/1 – E logo em seguida foi a sua volta ao Brasil. Como é que se deu este convite, de estar aqui de novo?
R – Eu estive dez anos no México onde eu vivia muito bem pessoal e profissionalmente e me convidaram para vir para cá com um projeto primeiro de integração das compras que tinham sido feitas anteriormente. Já tinha comprado o Santander Banespa há quatro anos, mas ainda estava pendente a integração e com uma visão também de fazer uma compra para ganhar escala e ganhar porte aqui no Brasil. Eu sabia que o banco precisava ter maior presença e uma maior participação no Brasil, mas primeiro era concluir tudo o que estava fazendo e iniciar primeiro a fase de integração de todas as compram que tinham sido feitas e uma integração também tecnológica e de marca. Eu praticamente cheguei aqui quando já estava sendo concluída esta primeira fase de integração e começava a ter uma marca única Santander e uma única plataforma tecnológica e começa a ter uma atividade única como banco. Isso foi ao final de 2006 e com uma visão de crescimento e de procurar por oportunidades.
P/1 – Porque é importante se integrar a marca, ter uma marca, se trabalhar esta marca?
R – Primeiro porque aqui no Brasil você precisa ter um bom tamanho para concorrer com os concorrentes locais. Você precisa ter músculos como eu falo, precisa ter uma capilaridade, e é importante ter a marca para ter um pouco esta referência dos clientes que afinal nós somos e nós teremos aos clientes para que eles reconheçam e identifiquem esta empresa e os serviços que presta, então é importante, porque sem este músculo é difícil ter algumas atividades aqui no Brasil e ser eficiente quanto aos processos comerciais e nos processos da própria instituição. Eu acho que são etapas que você vai ter que ir fazendo mas, claramente ter uma unificação da marca era fundamental, porque o Banespa tinha uma marca forte, tinham também uma série de marcas pequenas, durante bastante tempo ficaram todas as marcas e acho que o cliente não tinha uma clara percepção do que significava o mundo Santander. Então quando você integra todos estes serviços, instituições em uma marca, eu acho que ganha porte, visibilidade, prestígio e percepção do cliente.
P/1 – O que é este mundo Santander?
R – O mundo Santander era uma pluralidade de diferentes bancos que cada um tinha um nome e um jeito de se trabalhar, uma tecnologia e que, por exemplo, os clientes não podiam interagir quando estavam em uma agência de um banco com outra, por isso eu dizia mundo Santander, ainda que fossem todos bancos do grupo Santander, o cliente não se beneficiava destas capilaridades deste perímetro. Foi em 2006 quando feita a integração que claramente a acessibilidade das agências como todo o novo tamanho, o cliente começou a perceber que tem um melhor serviço, que começa a melhorar a acessibilidade, o que é fundamental para ele, porque afinal a decisão pela indústria financeira se dá pela facilidade que ele tem de poder ir às agências ou fazer transações com esta instituição.
P/2 – Continuando no tema de aquisições, como é que surgem as oportunidades? Quem são as pessoas estão no Santander hoje ou estavam com você, quando você começou a trabalhar aqui, pensando, produzindo estas oportunidades? Como elas aparecem, como funciona isso?
R – Tem de tudo. Tem pessoas dentro dos próprios países que apresentam oportunidades e tem pessoas de Madri que estão pensando como melhorar ou como explorar oportunidades, ou seja, tem os dois fluxos desde as unidades dos diferentes países para a matriz e da matriz aos diferentes países. Tem uma série de princípios que o grupo sempre busca, o objetivo dele é ter massa crítica o que significa ter em torno de 10% de cota no mercado nos países para ter, como eu falei, um peso que você possa concorrer com eficiência e produtividade nos países e poder fornecer uma série de serviços que algumas companhias demandam. Basicamente era um dos princípios em que se buscava ter mais ou menos um tamanho em torno de no mínimo 10% para poder ser um concorrente de peso em cada um dos países. O banco realmente é um banco multi local, o banco está em 12, 13 países, mas nestes países com uma massa crítica relevante, diferente de outros modelos de bancos que são globais, porém tem uma presença em muitos países que pode ser uma presença com pouca, pequena, limitada representação. O banco preferiu ter um modelo em que se atua em poucos países, mas com uma escala mínima determinada. Eu acho que primeiro é melhor sob a ótica de eficiência, segundo é melhor sob a ótica de presença, que representa a situação dos serviços que presta neste país e terceiro ser uma referência nos países em que participa. Então eu acho que é importante esta massa crítica para ser parte dos principais fornecedores de serviços financeiros onde você está representado, onde você está atuando.
P/1 – Aproveitando a volta, como é que foi a sua volta para o Brasil? O que você achou? Você encontrou alguma coisa diferente? Como é que estava o cenário? Para quem veio em 1994 e tinha o período da hiperinflação, como é que foi voltar lá pelos idos dos anos 2000, você sentiu as diferenças? Como é que estava o Santander que não era mais um escritório, o banco mais corporate, como foi chegar aqui e ver ele com outra configuração?
R – Este era outro mundo. O país outro mundo. Lembro-me perfeitamente onde está o Hyatt e o Hilton era uma grande grande favela que nunca me tinham deixado ir para lá porque era muito inseguro e agora tem um prédios, dos escritórios magníficos, muito modernos, a cidade... Me lembro muito muito. Eu morava na Vila Nova Conceição em 1994 e me lembro sempre dos caminhos para o escritório tinha meninos de rua, dezenas de meninos de rua. Vi muitas mudanças, e uma coisa fundamental, que falei para vocês, foi a questão de que a inflação tornava muito difícil fazer qualquer coisa, com inflação de 3% ao dia, que para mim era uma bagunça que eu não sabia como administrar o dia a dia e realmente aqui com o processo de estabilidade foi uma transformação econômica fantástica. A nível de banco era uma coisa completamente diferente, de tamanho, antes 35 pessoas em um escritório na Paulista e aqui estamos falando de uma companhia com 15.000 pessoas, com agências por toda a República, ou seja, nada, eram coisas completamente diferentes, pessoais e profissionais, nada.
P/1 – Tá certo. E aí como é que foi esse processo de integração da marca, já que você chegou neste período que estava integrando a marca? Como é que foram as suas atividades quando você chegou aqui? O que você veio fazer?
R – É engraçado, porque nós não sabíamos nem falar o nome Santander, falavam Santo André, o meu sotaque não dava para perceber, mas primeiro tinha que conhecer. Foi quando começaram a contratar os jogadores da seleção brasileira e começaram a ter um pouco de imagem dentro do que era o país. Então foi realmente quando o banco começou a atuar como banco único eu diria. Momentos de transformação novamente, o banco sempre está se transformando e, como eu, chegaram duas ou três pessoas mais para uma etapa de assentar e crescer no país, ou seja, um projeto bonito de crescimento que sempre são desafiadores e para o profissional são sempre mais que bem vindos.
P/1 – Como é que está estruturada a área financeira do Santander Brasil?
R – É uma área financeira completa. Eu diria que tem basicamente quatro grandes unidades, a Controladoria que cuida também de planejamento fiscal, uma segunda área que é de Controle de Gestão que dá apoio a todas as diferentes áreas de negócios, basicamente acompanhando as performances ou fornecendo as oportunidades para cada uma, a terceira área que é de Gestão de Balanço, de Capital, de Liquidez do que é o banco como um todo e a quarta área que abarcaria toda a área de investidores, de analistas e um pouco Relações com o Mercado, quatro grandes blocos. Temos dez áreas realmente, algumas têm funções um pouco mais estratégicas, por exemplo, tudo o que é desenvolvimento corporativo, que é basicamente estar fazendo as parcerias ou novas oportunidades de crescimento de negócios e eu diria que é uma área financeira completa com respeito aos standards de qualquer companhia que seja de outro ramo e não do mercado financeiro.
P/1 – Voltando um pouquinho, já que você falou deste trabalho de integração da marca e tal e logo que a marca deu uma estabilizada, o Santander se reinventou incluindo a parte do ABN Real aqui no Brasil? Como é que isso interferiu nas suas atividades, no modelo de negócios do banco?
R – Interferiu e muito porque foi uma operação muito arrojada pela complexidade da estrutura legal, de parceiros e como foi estruturada, e porque mudava o patamar do banco aqui. O Banco Real era um banco ainda maior que o Santander, uma marca mais reconhecida porque já tinha um tempo de consolidação no país, lembrando que o Santander é uma marca nova em 2006, recém integrada e unificada e realmente era um passo de gigante, que era um pouco o banco, a presença do banco Santander no Brasil, como entrar na Liga do Brasileirão com grandes concorrentes e atingir uma escala como eu digo para ter os melhores jogadores e os melhores times do país, então claramente uma transformação e como era uma operação também que tinha parceiros financeiros diferentes porque tinha que segregar o ABN vinha com uma complexidade técnica razoável.
P/1 – Como é que nós podemos ver este Santander, esta área financeira aqui no Brasil com a importância que ele tem para o grupo no mundo, como é que é a relação da área financeira daqui com a da matriz e com a dos outros pólos?
R – A área financeira foi bastante protagonista logo depois da integração com o Banco Real porque foi junto, pegou carona, respondo a pergunta por que junto com a área financeira da matriz se conseguiu fazer o IPO de 2009, o maior IPO de uma subsidiária no mundo e a maior operação de uma instituição brasileira no mundo, então foi uma parceria e foi um desafio também importante porque nós estávamos juntando os dois bancos e fizemos este IPO. Foi um processo também muito intenso desde conhecer a criar uma storyline para o que era o grupo aqui no Brasil que não existia porque praticamente era juntar dois bancos. E você quando faz um IPO tem que fazer cinco anos para trás, um pouco da história da criação do banco, então foi muito desafiador do ponto de vista de fazer uma história que praticamente recém começava e como sempre em um espaço de tempo absolutamente recorde. Foi um recorde o pouco tempo que tivemos para fazer todo este trabalho, quatro meses, insisto foi recorde, criando uma nova informação financeira que não existia. Fomos o primeiro banco no Brasil a fazer todo o processo das informações das novas informações do IFRS [International Financials Reporting Standards], então foi muito desafiante por muitos aspectos e acho que foi também graças a este relacionamento com a matriz que foi bem sucedido. Eu acho que o apoio da matriz foi claramente definitivo para poder ter este sucesso de sair à Bolsa [de Valores].
P/1 – E uma das características do Santander é a inovação, como é que está a inovação na sua área, o que ela significa?
R – Bom, eu acabei de falar o que é inovação. Primeiro banco ou instituição a fazer um IPO que praticamente não tinha história com a criação de duas companhias, segundo processo de inovação foi fazer em um tempo recorde, terceiro processo de inovação foi fazê-lo com contas, com um critério novo para a instituição, estes exemplos de inovação. Eu acho que é um privilégio estar na função que estou porque, nós temos a capacidade de poder dar recomendações, sugestões de que coisas podem ser feitas, melhor, que coisas podemos direcionar, que coisas temos que focar e este é um processo que eu chamo de inovação permanente. Eu acho que dito estes exemplos, o do IPO,
mas o processo de inovação dentro de uma área financeira passa, por exemplo, por dar tranquilidade aos acionistas, dar tranquilidade a todos os que são depositantes, a todos os reguladores, clientes etc. Muitas vezes a inovação é fazer as coisas melhor e acho que praticamente dentro das tarefas do dia a dia é fazer melhor as coisas o que está em nossos objetivos de área e basicamente tem mais coisas. Eu poderia falar que também dentro do mundo que é o Brasil, a gestão de liquidez, como nós gerenciamos a liquidez, a metodologia que nós temos o próprio Banco Central destacou isso como um processo inovador dentro do que é o sistema financeiro brasileiro. Tem vários exemplos, por exemplo, também como fizemos algumas estruturas financeiras em relação aos acionistas, acho que também é inovador. Nós tínhamos que fazer aumentos de capital aberto que tem a companhia, por exemplo, através da matriz e fizeram uma série de operações financeiras acho que inovadoras enquanto ao poder cumprir os compromissos com as autoridades locais e também fazer de um jeito um pouco diferente do que o mercado está acostumado.
P/1 – E como o cenário local, dos dias atuais, nós sentimos uma crise em 2008, veio esta outra agora, como é que isso influencia no Santander Brasil?
R – A vida pessoal e a vida profissional estão lotadas de crises ou de oportunidades, depende de como você enxerga as coisas. Eu acho que se tem alguém preparado e alguém que é flexível são os brasileiros. O mercado brasileiro eu acho que tem muito talento e gente que atua muito rapidamente e eu particularmente acho que isso é uma oportunidade única que se apresenta ao Brasil que tem uma situação única e privilegiada no mundo atual. Eu acho que tem três coisas que hoje são privilegiadas, primeiro o mundo com um tamanho relevante de 200 milhões de população, um mundo que eu digo importante, ou seja, muito jovem, a população é muito jovem, temos o que se chama o bônus demográfico, pessoas jovens pelos próximos 15, 20 anos que vão ser incorporadas à economia, ao mundo financeiro, ao processo de bancarização. Isso em um ciclo acontece poucas vezes num ciclo e o Brasil tem hoje. A segunda questão, o Brasil é um país extremamente rico, com riquezas naturais, riquezas de energia, por exemplo a hidráulica que quase 85% , 90% do país tem, o que é um luxo comparado com a pobreza energética que por exemplo tem a Europa. Eu acho que é uma grande, grande, oportunidade que tem o país. E, em terceiro, que está em uma fase de estabilização econômica e política que acho que também é privilegiado. Não só por estas três, mas por muitas outras razões – não só essas três – o Brasil tem uma situação privilegiada atualmente no contexto mundial. Claramente por isso, todo o mundo, quando vai fazer projeções, enxerga o Brasil como uma das grandes economias da próxima década porque tem toda uma série de condições e alicerces que prometem um desenvolvimento para o país e para a sociedade. Importante para mim e mais importante também que está acontecendo é que o país está pouco a pouco, e acho que aqui deveria acelerar mais, virando um país mais justo, mais justo nas desigualdades sociais que cada vez são menores. O país também vai se beneficiar muito na próxima década desta menor desigualdade que é também parte do projeto social de incorporar mais pessoas dentro das classes A, B e C e acho que para uma indústria como a de serviços financeiros como a nossa, o entorno é muito favorável e nós também vamos favorecer e ser protagonistas deste processo de transformação social com a função que temos que é de prestar e ajudar as famílias a cumprir com os investimentos básicos de médio e longo prazo que elas têm.
P/1 – Falando de investimentos, quais são os investimentos priorizados pelo banco, pelo Santander?
R – O banco tem uma política de investimentos forte de tecnologia, agências. Basicamente o banco está investindo três bilhões por ano em renovar as agências, em renovar os ATMs, em melhorar os aplicativos de tecnologia e como eu dizia também abrir de 100 a 120 agências por ano e acho que é um processo permanente um pouco de investimento. O banco vai investir nisso e também vai investir em trazer mais clientes com parcerias, com novos caminhos de trazer mais clientes ao banco e um pouco o banco sempre está atento a mais oportunidades de poder complementar os negócios que tem com novas atividades ou novos produtos e insisto com novos canais de atração de clientes.
P/1 – Como é possível ou o que se pode fazer para gerar valor à marca dentro deste contexto econômico, dentro desta possibilidade de crescimento no Brasil?
R – Eu acho que a marca Santander com o tempo, pouco a pouco, o tempo vai ser um aliado da marca porque ela é jovem, praticamente depois do Banco Real, há um ano que existe uma única marca no Brasil, então eu acho que é uma questão de evolução e de tempo e logo vai ser reconhecida, pois se nós damos conta de todos os nossos compromissos, ou seja, se damos uma boa qualidade de serviços, se somos bons cumprindo com os compromissos que temos com os nossos clientes e ultimamente já cumprindo com os compromissos que temos com os acionistas estaremos pouco a pouco consolidando a marca e o reconhecimento da sociedade e de levar o compromisso ao Brasil de crescer também junto com a sociedade brasileira.
P/1 – Dentro desta perspectiva de futuro e vendo o trabalho mais para frente como é que você vê o banco daqui há uns dez ou 20 anos? Como é que vai estar o banco?
R – Difícil enxergar dez anos aqui no Brasil, seria tão interessante, mas eu tenho certeza que o banco será, estará em um patamar diferente, muito maior do que está hoje. Como eu sempre digo para muitas pessoas que estamos fazendo história, que estamos criando praticamente os primeiros passos do novo banco aqui e acho que o banco tem uma oportunidade no Brasil magnífica pela flexibilidade, pela inovação, pelas plataformas de produtos e a plataforma tecnológica que tem eu acho que o banco deverá estar em um patamar quase igual ao dos concorrentes locais e que claramente a questão de marca, reconhecimento já estará muito mais superada e que será parte da propriedade brasileira e não de outra nacionalidade. Eu gostaria que o banco fosse reconhecido como patrimônio do Brasil.
P/1 – E o que precisa para este futuro se concretizar? O que precisa para uma empresa, para o Santander em termos de base, alicerce para uma gestão perene, que dure?
R – Eu acho que ajudar o crescimento desta transformação social que eu mencionei. Acompanhar o crescimento econômico do país, estar nas grandes apostas do país e acompanhar este movimento que eu falava de inclusão de muitas famílias, de muitos brasileiros dentro do que é a economia formal e dentro do que é um planejamento de médio e longo prazo, cumprir um pouco os sonhos de ter uma vida digna, atender as questões básicas de uma família e o banco poder fornecer e favorecer esse atendimento e insisto, acompanhar e facilitar esta transformação que nós esperamos para os próximos 10, 15 anos no Brasil.
P/1 – Tá certo e voltando para a questão pessoal, você falou um pouco da sua esposa, dos seus filhos, conta pra gente como você a conheceu lá nos Estados Unidos, como é que foi?
R – Conheci nos Estados Unidos, começamos a sair. Eu voltei para a Europa e ela também e já consolidamos o relacionamento. Viemos para o Brasil e aproveitamos e tivemos o primeiro filho brasileiro, em seguida fomos para o México, tivemos o segundo e o terceiro filhos mexicanos. Meus filhos falam três línguas, português aqui, falam com a mãe em inglês e comigo em espanhol, então é um privilégio porque meus filhos falam três línguas sem sotaque, como o meu sotaque que é muito ruim (risos), mas eles falam muito bem português, inglês e espanhol. Então é um privilégio para eles poder ter três culturas ao mesmo tempo e poder ter línguas e três maneiras diferentes de enxergar a vida. Eu acho, que na questão pessoal sou muito mais privilegiado que na questão profissional porque eu acho que para qualquer um ter várias línguas de base e segundo poder enxergar as coisas sob óticas diferentes. Acho que será um diferencial para eles quando começarem a sua vida profissional. Acho que é um privilégio.
P/1 – E o que você gosta de fazer de lazer?
R – Muito esporte quando tenho oportunidade. Corro todos os dias, faço um pouco de tênis, um pouco de golf, o que me deixam fazer. Eu sou um maluco do esporte, sempre que tenho um pouco de tempo e gosto muito também de fazer atividades com os meus filhos, eles jogam tênis já melhor que eu, mas sempre que posso jogo com eles.
P/1 – E para ir para uma parte final de avaliação, como é que você define o negócio banco? O que é o banco?
R – Alguns de marketing falariam que é a transformação de sonhos em realidade. Eu sou um pouco mais… Eu acho que é uma empresa de serviços financeiros que presta um serviço à comunidade e que cumpre com a função básica na sociedade que é também de poder ser um facilitador e poder cumprir muitas das expectativas das famílias, das pessoas. O banco sempre ajudou muitas companhias a se consolidar, muitas pessoas a ter um pouco as coisas que sempre aspiravam e um pouco insisto, os bancos têm que acompanhar as transformações da sociedade e acompanhar o desenvolvimento das economias
dos países.
P/1 – Tá certo, e depois de você ter contado um pouco da sua carreira aqui para a gente, quais foram os seus maiores aprendizados durante este seu percurso?
R – Muitas vezes você precisa de uma segunda avaliação para ter um diagnóstico melhor, ou seja, às vezes você tem que aprofundar mais as questões e não ficar na superficialidade para ter um bom diagnóstico do que deve ser feito e quais decisões tomar. Eu acho que muitas vezes não temos a paciência para poder enxergar as coisas sob diferentes óticas. Este foi o maior aprendizado que eu tive.
P/1 – E em relação às realizações, quais foram ou qual foi a realização no banco que você guarda com mais carinho?
R – De todos tenho boas lembranças. Eu me lembro quando eu estive aqui a primeira vez, que não éramos praticamente nada e começamos a ter um pouco mais relevância dentro do que era o Santander. Eu me lembro que tudo que era experiência no México praticamente do nada também fizemos um banco que tinha um terceiro banco brasileiro também aqui fizemos o terceiro banco privado do país, o IPO, acho que eu tenho inúmeras lembranças e de todas você sempre tem experiências muito positivas e coisas que me aportam a nível pessoal e profissional um grande valor agregado.
P/1 – Certo. E você consegue perceber grandes diferenças entre o Santander na Espanha, no México e aqui? No modo de funcionamento, de cultura, de pessoas?
R – Sim, cada país tem seu jeito. Eu acho que tem coisas que são muito iguais porque afinal eu acho que mundo financeiro é muito semelhante, mas sim, tem coisas, aproximação, como se fazem, o nome deve se adequar dependendo um pouco dos gostos, da cultura de cada país, mas eu diria que são pequenas coisas, pequenas adaptações. Em geral, no básico, eu digo que quase todas as unidades tem um jeito de fazer as coisas muito semelhantes e sim, tem coisas que tem que ser adequadas. Insisto, em função do entorno, em função das necessidades, em função do gosto de cada um dos países, mas em geral, eu diria que de fato muitas pessoas, muitas, não simplesmente espanhóis, mas argentinos, mexicanos, chilenos que estão aqui no Brasil do mesmo jeito que tem muitos brasileiros que estão nos Estados Unidos, na Europa, na Espanha etc do mesmo jeito e são iguais ou melhores profissionais que os locais. Eu acho que aí tem uma parte que é semelhante em todos eles e tem algumas particularidades que eu acho que sempre tem que ser cuidadas e tem que ser bem entendidas para poder ser bem sucedido.
P/1 – E em termos de valores, quais são os valores do Santander que você carrega com você, que te faz vir trabalhar todos os dias e vestir a camisa do Santander?
R – Tem uma questão, eu não sei, que pode ser sempre muito falada, que é a questão ética. Acho que a questão ética é fundamental e acho que os compromissos de cumprir com o que se compromete acho que é fundamental. Cumprir com as expectativas de dar o serviço, o produto adequado às pessoas. Eu sempre digo que você deveria se comportar como um cliente, como se você estivesse no lugar do próprio cliente, eu acho que isso no final é como você se trataria se estivesse do outro lado. Eu acho que isso é um princípio fundamental de valor, de caráter, para ter uma sustentabilidade em qualquer país, qualquer serviço ou qualquer empresa.
P/1 – Tá certo, e tem alguma coisa que a gente não perguntou que você gostaria de deixar registrado, que você acha que ficou faltando falar?
R – Não sei. Quem vai ganhar o mundial no Brasil? Futebol pode ser? Pode ser a final Brasil e Espanha e eu ia ter que torcer pelo Brasil (risos), mas pode ser, não sei. Não, eu acho que potencialmente quando o Santander puder ser visto como um banco brasileiro, mais brasileiro, é um pouco o que falei anteriormente. Eu gostaria que o banco fosse patrimônio do Brasil, porque afinal esta coisa das nacionalidades é uma questão muito popular, realmente os bancos, as companhias, são afinal de acionistas, os acionistas são pessoas e isso é que realmente no final você tem que entender. O fato de ter concorrentes locais não significa que sejam mais brasileiros que, por exemplo, o Banco Santander. Acho que podemos ter um pouco mais de acionistas que estão na Espanha do que os que estão aqui, mas afinal são o mesmo, são pessoas físicas ou pessoas corporativas que estão por trás e que nos dão um pouco a confiança para fazer melhor as coisas. Eu acho que tanto faz se a origem é de um país ou de outro, pois afinal tem um serviço que precisa ser cumprido com a sociedade onde quer que seja.
P/1 – Certo. O que você acha então dessa iniciativa do banco de registrar sua história aqui no Brasil através da trajetória dos seus colaboradores?
R – Não sei, talvez dentro de 25 anos alguém fale quem é este cara, o que fez ele e acho que tem uma coisa importante dentro do banco porque o banco preserva muito que as pessoas façam carreira aqui. Eu acho que seria muito legal se alguma das pessoas hoje, estagiários ou os que estão há um ou dois anos no banco, dentro de 25 anos peguem o material e falem: “Me lembro desse cara, que construiu algo assim e fez algo pelo banco”. Acho que será um processo evolutivo que nós podemos dar um grão de areia e eles terão, os de outras gerações que continuarem a construir isso, acho que afinal, a soma de todas essas coisas dariam esta construção e este aporte que fará a instituição maior.
P/1 – Tá certo. E o que você achou de ter sentado aí e contar um pouco da sua história para a gente hoje? De ter participado desta entrevista?
R – Um pouco de inquietude, porque eu não sabia muito bem com isso ia ser feito e um pouco também porque é um pouco chato você ficar falando durante quarenta e cinco minutos e duas pessoas maravilhosas aí na frente escutando com um sorriso de orelha a orelha, é difícil, mas é interessante. Não sei, tenho que ver o material para poder te dar uma melhor avaliação do que eu acho disso.
P/1 – Está certo. Então em nome da vice-presidência de Marca, Marketing, Comunicação e Interatividade e também em nome do Museu da Pessoa nós agradecemos a sua entrevista.
R – Muito obrigado a vocês e obrigado pelo tempo.
Fim da entrevistaRecolher