Projeto Memória Tetra Pak 50 anos de Brasil
Depoimento de Walter Augusto Gabaldo
Entrevistado por Rodrigo de Godoy e Valdir Betoldi
São Paulo 14/09/2007
Realização Museu da Pessoa
TPK_HV011 Walter Augusto Gabaldo
Transcrito por Luisa Fioravanti
Revisado por Carolina Maria Fossa
P/1 – Boa ta...Continuar leitura
Projeto Memória Tetra Pak 50 anos de Brasil
Depoimento de Walter Augusto Gabaldo
Entrevistado por Rodrigo de Godoy e Valdir Betoldi
São Paulo 14/09/2007
Realização Museu da Pessoa
TPK_HV011 Walter Augusto Gabaldo
Transcrito por Luisa Fioravanti
Revisado por Carolina Maria Fossa
P/1 – Boa tarde!
R – Boa tarde!
P/1 – Para começar queria que você começasse falando o seu nome, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Walter Augusto Gabaldo, nasci no dia 24 de março de 1965, em São Paulo [Capital].
P/1 – Certo, e qual é a sua função atual na Tetra Pak?
R – Hoje eu sou gerente de projetos, manutenção e programa WCM [World Class Manufacturing]
P/1 – E o nome dos seus pais Walter?
R – Meu pai chamava Augusto Gabaldo e a minha mãe Nair Elis Augusto.
P/1 – E eles nasceram onde?
R – Meu pai na Itália e minha mãe no interior de São Paulo, na cidade de Monte Mor [SP].
P/1 – Ela é de Monte Mor mesmo? E qual a atividade deles?
R – O meu pai, os dois são falecidos. O meu pai a última profissão dele foi advogado em São Paulo e da minha mãe foi do lar, dona de casa.
P/1 – E você nasceu em são Paulo e passou a sua infância aqui?
R – Eh, eu morei em São Paulo por 23 anos, passei a minha infância aqui e a minha adolescência e juventude em São Paulo.
P/1 – Em que bairro?
R – Bairro de Santana, zona norte de São Paulo.
P/1 – E como que era o cotidiano da sua casa nessa sua época de infância? Você tem irmãos?
R – Tenho um irmão, ele mora em São Paulo, inclusive no mesmo bairro até hoje e a minha infância foi bem tranqüila, nossa família foi uma família bastante comum, meu pai trabalhava, era a única pessoa que trabalhava em casa e a gente, não foi uma infância muito fácil porque a gente sempre teve que batalhar muito pelas coisas em casa, mas eu diria que foi uma infância legal. Eu gostei da minha infância. Como todo o moleque eu jogava muita bola, rodava pião, empinava pipa, enfim, coisas de moleque normal, que hoje o pessoal, infelizmente, não consegue fazer mais, principalmente aqui na cidade de São Paulo por causa do espaço. Na minha época, eu me lembro que na rua que eu morava, tinha muitos terrenos vagos, então a gente fazia campo de futebol onde dava.
P/1 – Então o bairro de Santana, na época em que você era criança era bem diferente do que é hoje?
R – Muito diferente! Então é assim, eu costumo ir para São Paulo, então toda a vez que eu venho para São Paulo sempre tem uma coisa nova. Onde tinha uma casa de um amigo hoje é um prédio, onde tinha a sapataria lá do seu Manuel hoje tem um prédio, então tudo que está, eu sinto em São Paulo que, por falta de espaço, a cidade está crescendo para cima, então, interessante isso, quem tem uma casa em são Paulo e resistir a uma oferta de um grande empreendimento imobiliário, é complicado, então a gente vê que está mudando muito. Então constantemente muda e é engraçado que muitas vezes que eu venho para São Paulo eu me perco. Depois de vir três anos, vir constantemente para cá eu me perco em São Paulo ainda porque a Prefeitura resolve mudar a rota de uma rua, uma mão, e sempre tem uma obra acontecendo em São Paulo, então tem o desvio, uma coisa nova que a gente não sabe, então é complicado São Paulo, mas assim, a relação de São Paulo é de amor e ódio, eu amo São Paulo e quando eu estou no trânsito eu odeio São Paulo.
P/1 – E você estudou ali no bairro de Santana, mesmo?
R – Certo.
P/1 – Durante todo o período escolar?
R – Estudei em escola estadual, na minha época era muito difícil fazer pré-primário. Hoje os meus filhos estão na escola desde os dois anos e meio de idade, então eles fizeram maternal, jardim, pré, na minha época não tinha isso, então a gente já entrava no primeiro ano. Estudei em escola estadual da primeira à oitava série, em uma escola só, no Castro Alves, depois eu fiz o colegial no CEPAV [Colégio Padre Antônio Vieira] lá do lado do metrô Cruzeiro do Sul, lá na Padre Antônio Vieira e aí comecei uma faculdade aqui, mas na época que eu mudei fui para Monte Mor, tranquei a matrícula e fui fazer a minha faculdade lá no interior.
P/1 – Você começou a fazer que curso aqui?
R – Administração de Empresa, na Faculdade de Santana, São Paulo.
P/1 – E lá você continuou no mesmo curso?
R – Fiz Administração de Empresa e depois pós-graduação em Gerência e Marketing.
P/1 – Em que cidade você fez a faculdade?
R – Cidade de Capivari [Estado de São Paulo] e a pós-graduação em Campinas [Estado de São Paulo].
P/1 – E quando você mudou para o interior, você mudou já por conta da Tetra Pak ou não?
R – Não, é uma história engraçada a minha vida! Todo mundo quando chega com 20 anos de idade, então você se acha meio dono do seu nariz, e para mim foi um pouco mais complicado porque eu perdi os meus pais muito cedo, meu pai eu perdi, eu tinha 13, 14 anos de idade e a minha mãe com 20, 21 anos de idade, então eu já não tinha mais ninguém em São Paulo, meu irmão casou aí eu decidi mudar a minha vida radicalmente, eu queria ser dono do meu próprio nariz, não queria mais bater cartão, não queria mais responder para ninguém, queria ser dono do meu próprio negócio, e aí, como eu ia muito para Monte Mor por conta da minha mãe ter parentes lá, e a gente na época era new wave em São Paulo, era a onda do new wave, então a gente conhecia o pessoal, eu conhecia, eu particularmente tinha amizade com donos de confecções que acabavam fazendo umas marcas famosas na época, que era o OP, Ocean Pacific, então a gente sempre ia com essas roupinhas de new wave para o interior, e o pessoal se interessava muito por isso, lá não tinha, e eu decidi abrir uma surf shop lá em Monte Mor, até hoje, uma das histórias engraçadas da minha vida é essa, porque eu fui o maluco que vendia prancha em uma cidade que nem tem mar, tem um rio que não dá nem para nadar!
P/1 – Então na sua loja não era só roupa, era acessórios?
R – Na verdade eu levei duas pranchas, uma era minha e outra eu comprei aqui para servir de decoração da loja, e acabei vendendo essa aí lá porque o pessoal queria ter, então acabei vendendo, porque negócio é negócio, acabei vendendo.
P/1 – E esse foi o seu primeiro trabalho, digamos assim, ou você já tinha trabalhado antes?
R – Não, eu trabalhei dez anos na gráfica do meu tio aqui em Santa Terezinha que é próximo de Santana também e aí larguei o emprego e fui para o interior montar a minha loja.
P/1 – E aí você se mudou para lá?
R – Mudei radicalmente, fui morar com uma tia, que é irmã da minha mãe, fui morar com ela lá e tocar a lojinha de surf shop.
P/1 – Isso em que ano, mais ou menos?
R – Foi em 1988.
P/1 – E como que era, primeiro, qual foi a recepção aos seus produtos lá? Foi uma loja que deu certo?
R – Na verdade foi o seguinte, o pessoal gostava muito das roupas, mas como eu não entendia nada de roupa, não era a minha praia, não fiz nenhuma pesquisa de mercado, enfim, não usei nenhuma ferramenta que hoje eu conheço e deveria ter feito na época, eu abri com a vontade de abrir pensando que ia vender tudo e na inauguração, foi até engraçado, eu tenho um apelido lá em Monte Mor que é Lambão. Muita gente não sabe que meu nome é Walter, e lá no interior é tonto, é bobão, porque na inauguração eu fiz um coquetel pensando que ia dar alguma coisa e convidei algumas pessoas, aí não conhecia, e essas pessoas que eu convidei era todo aquele pessoal que não comprava nada e gostava de beber, então foram na festa, beberam para caramba e o pessoal, por conta disso, começaram a me chamar de Lambão. Porque vê, você vem aqui, faz festa para a negada, mas a negada não quer comprar, só quer ficar bebendo.
Mas não deu certo a loja...
P/1 – Por quanto tempo você ficou com a loja?
R – Uns anos com a loja aberta. E acabou não dando certo porque eu tinha que vir muito para São Paulo para fazer compra, porque assim, você não consegue comprar em uma loja, pequenas quantidade e o cara entregar no interior, enfim, tem que se sacrificar um pouquinho. E, além disso, na mesma época, abriu uma loja no Shopping Iguatemi lá em Campinas, mas uma surf shop muito grande, o cara tinha estrutura e tal, aí as pessoas de Monte Mor, até hoje acontece isso lá, eu percebo que eles deixam de prestigiar a cidade para ir até o shopping porque é status, você vai no shopping, compra, paga mais caro, mas por conta disso não acabou vingando. E assim, lógico que aqui em Monte Mor não é a cidade para você ter surf shop !
P/1 – Você já freqüentava Monte Mor antes de se mudar para lá?
R – Freqüentava!
P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho da evolução da cidade! Das primeiras vezes que você foi, certamente quando você era criança, depois quando você mudou e como ela está hoje?
R – Sim, olha, vamos dividir em três fases, então a primeira quando eu comecei a ir para Monte Mor que eu me lembro pouco de como era. Eu me lembro que uma viagem de Monte Mor a Campinas demorava quase uma hora, a estrada era muito ruim, tinha a parte de terra, enfim, e era uma espécie de Montanha, então você tinha que subir e descer a Montanha Russa do Playcenter, então era muito triste, era muito difícil ter acesso, então por conta disso, Monte Mor era uma cidade pequena. As terras que estavam ao redor de Monte Mor eram terras de famílias que nasceram em Monte Mor, provenientes de Monte Mor, então eles vendiam, então não deixavam a cidade expandir, isso me marcou muito. Eu me lembro que eu ia para lá, eu conhecia todo mundo de Monte Mor e eu ia esporadicamente, ia assim, duas, três vezes por ano, mas a gente acaba conhecendo todo mundo porque não mudava, eram as mesmas pessoas. Então vinha gente nova trabalhar, nem saia o pessoal porque tinha medo Montemor o pessoal falava de ir para São Paulo, achava que tinha que planejar a viagem, sabe, que era uma coisa do outro lado, até hoje é meio absurdo, mas hoje mudou muito, Montemor é outra cidade, hoje, então essa fase inicial, eu vejo Monte Mor como uma cidade provinciana, pequena, que vivia daquelas vendinhas, dos armazéns. Eu me lembro, se você quisesse, naquela época você não tinha acesso para comprar um pão no domingo. Se você quiser tomar um café no domingo, você tinha que comprar no sábado porque a padaria não abria domingo, umas coisas absurdas.
P/1 – Isso a gente está falando mais ou menos da década de 70!
R – Mais ou menos, 1970 e pouco porque eu sou de 1965, eu vou lembrar de 1970, 1970 e pouco, é isso daí! Então era assim, bastante, era mais sítio, as pessoas de Mont Mor moravam em um
sítio, trabalhavam em função da agricultura e era bastante complicado.
P/1 – A área industrial ainda não tinha se desenvolvido?
R – É, não tinha se desenvolvido, assim, poucas empresas tinham planejamento para ir para, não sei te falar quantas, mas lembro que tinha, eu me lembro que os meus primos, eu tinha muitos primos lá, eles falavam que a esperança era que abrisse uma rodovia até Viracopos, o nosso aeroporto, e que o desenvolvimento chegasse por uma outra rodovia que fizesse, enfim, que asfaltassem mais a pista, ter mais acesso, porque o maior problema de Monte Mor era acesso, então, por falta disso, as pessoas sofriam muito na cidade.
P/1 – E a segunda fase? Agora década de 80?
R – A segunda fase foi a época que eu fui para lá, vamos dizer assim, há 18, 19 anos atrás. Então existiam as empresas já, as pessoas começaram, já tinha mais acesso e aí, como no Brasil inteiro, não só em Monte Mor, mas com o avanço da tecnologia, celular, essas coisas todas, então Monte Mor não ficou parado, começou a crescer, só que em Monte Mor, o problema é o seguinte, nessa fase, ela começou à crescer desordenadamente, então teve alguns políticos da cidade que tinham terra e começaram abrir para loteamento para vender, mas eles estavam se preocupando em vender, não se preocupando em infra-estrutura, então existiam muitos bairros em Monte Mor, eu posso estar enganado no número correto, mas tem mais de 50 bairros em Monte Mor, então quem conhece Monte Mor e já foi para lá, é assim, é impossível ter 50 bairros, mas se você pegar o mapa de Monte Mor, você vai ler lá, tem mais de 50 bairros, então é Parque do Café, Parque do Café 1, Parque do Café 2, Parque do Café 3, e assim vai, porque o cara tinha uma gleba de terra, fatiava, abria o loteamento e deixava o cara, então você vai ver, o cara não tem asfalto, não tem esgoto, água encanada, iluminação, então o que ele vai construir em um
lugar desses? Vai construir barraco, as pessoas que possivelmente estão ruim na cidade grande vão ter oportunidade de comprar um terreno, aqui em São Paulo é caro, então ele vai comprar um terreno mais barato no interior e consegue comprar, mas não tem condição de construir uma casa legal, então vai aquelas casas acabadas, sem reboque, enfim, essa época de Monte Mor foi a época da revolução, tudo crescendo, as empresas chegando e tal. Só que ela foi crescendo só para um sentido, para o lado de Campinas [SP]. Então até hoje você vai para Monte Mor e tem algumas cidades que estão ao lado dela que é Sumaré, Elias Fausto, Indaiatuba e Campinas, circundando Monte Mor, então para o lado de Campinas, a gente vê que cresceu por causa da rodovia e bairros. Se você for hoje prestar atenção, de Monte Mor a Campinas não tem lugar, não tem terrenos mais para o lado da pista, é só bairros. Com isso a população veio, a estrada ficou ruim, são muitos animais na pista, aqueles cachorros vira-latas, muitas crianças correndo, infelizmente existem alguns desastres, como o pessoal da Tetra Pak que já teve acidente feios na estrada e tal. Eu tive um ex-chefe meu,Armindo, ele um menino e que acabou morrendo. Então, por conta disso, mas ela cresceu só para Campinas, Monte Mor está parado dos outros lados, por quê? Porque ainda continuou as terras nas mãos do pessoal que nasceu em Monte Mor e não querem se desfazer das terras, então não cresce, cresceu para Campinas e cresceu de uma forma desordenada porque os bairros que estão na marginal ali da rodovia, a maioria deles são bairros que não tem infra-estrutura ainda, não tem asfalto, não tem esgoto, tal.
P/1 – E esse crescimento data mais ou menos o ano em que você se mudou para lá, 1988?
R – Mais ou menos isso.
P/1 – E hoje, como está a estrutura de Monte Mor?
R – Hoje eu percebo que Monte Mor conta, isso não é Monte Mor, mas um reflexo do nosso país que são as ONGs [Organizações Não-governamentais]. Eu vejo isso muito forte em Monte Mor porque ela é pequena e a gente consegue perceber. A Monte Mor está assim, mudando, gradativamente, é uma surpresa, mas outro dia nós, por conta de uma ação social que nós fizemos na Tetra Pak, uma campanha do agasalho, nós fomos entregar os agasalhos que arrecadamos e aí eu fiquei sabendo que a gente tinha um posto de trabalho, tem ali aquela questão da internet, então o morador de Monte Mor pode se cadastrar e usar a internet, se não me engano, uma ou duas horas por dia, enfim, Monte Mor está se desenvolvendo. As empresas que estão em Monte Mor estão preocupadas com o social da cidade. A Tetra Pak, eu posso falar um pouco mais porque eu sei o que a Tetra Pak faz em Monte Mor, então ela acaba ajudando a asilo da cidade, o Pronto Socorro, doa refeição para as polícias, então ela está ajudando, está sempre se preocupando com isso, então as empresas acabam fazendo isso também. Hoje eu vejo Monte Mor, eu não conheço mais todo mundo como era no passado, mas é uma cidade que tem muito para se desenvolver ainda, o maior problema de Monte Mor, que é vejo, é a falta de recurso para uma família viver bem. Então assim, você não tem um lugar para fazer compras, um Shopping Center, então você não tem escolas boas, você tem até uma ou duas escolas particular, só que não tem escolas para você, uma faculdade, formação para o seu filho, e acho que o pior de Monte Mor é a falta de lazer, então assim, a gente acaba sabendo de algumas histórias onde jovens de Monte Mor acabam pegando carro para se divertir em Indaiatuba ou Sumaré ou Campinas e acaba exagerando na bebida, sofrendo acidente e tal. Então o maior problema de Monte Mor é o lazer, a falta de ocupar a cabeça da rapaziada lá para não pensar em droga, porque droga é assim, uma coisa que me preocupa em Monte Mor. A falta do que fazer é o pior problema que existe. Para você ter uma idéia, se vocês conseguirem um sábado a noite em Monte Mor, vocês vão perceber que o point da cidade está em um
posto de gasolina! Quer dizer, é inadmissível uma coisa dessas, não tem uma lanchonete para você ir. Então eu acho que o maior problema de Monte Mor é esse, que tem que melhorar muito.
P/1 – E você é casado?
R – Casado.
P/1 – E a sua esposa, qual o nome dela?
R – Renata!
P/1 – Ela é de Monte Mor?
R – Não, ela é de São Paulo também, São Paulo, depois ela se mudou para Campinas, pequena. Aí eu conheci ela na Tetra Pak, ela era funcionária da Tetra Pak, ela acabou saindo em 2000, 2001.
P/1 – Ah, então a sua esposa você conheceu na empresa!
R – Na empresa.
P/1 – E você tem filhos?
R – Dois filhos.
P/1 – Qual a idade deles?
R – Um completou seis anos agora em agosto e o outro vai fazer 13 em novembro.
P/1 – E vocês moram em Monte Mor hoje?
R – Moramos em Monte Mor. A minha esposa é hoje professora de inglês, ela dá aula no Objetivo, que é uma escola particular e da cidade e uma outra escola de inglês, a Time, mas é assim, moramos em Monte Mor por conveniência, porque quando decidimos fazer a nossa casa, eu e a Renata, para a gente era fácil porque ela trabalhava na Tetra também então a gente queria ficar em Monte Mor porque para a gente era fácil, não precisava pegar estrada. Hoje a gente já pensa um pouco diferente por conta dos nossos filhos. Porque eu não quero que meu filho com 14 anos vá lá no posto de gasolina, então é complicado. Eu quero que meu filho comece a adolescência dele assim, ou até acabar a infância dele em outra cidade, então a gente escolheu Indaiatuba. Indaiatuba é uma cidade que está crescendo bastante, uma cidade para gente muito boa, recurso para morar, faculdade, tem bastante lazer, enfim, tudo que você precisa está na cidade, você não precisa ficar pegando estrada para comprar um presente, porque você precisa compra. Infelizmente Monte Mor não tem isso.
P/1 – E Indaiatuba é próxima de Monte Mor?
R – Indaiatuba tem uma estradinha de sinal que liga Monte Mor a Indaiatuba, cerca de 20 quilômetros, é rapidinho!
P/1 – E bom, vamos falar sobre a questão da Tetra Pak, você tinha a loja, ficou um ano nela, aí viu que não era a sua praia e que aquilo não ia acontecer na cidade. E aí o que eu você foi fazer da vida?
R – Aí eu criei um grande ponto de interrogação na minha cabeça porque não sabia se eu voltava para São Paulo ou se continuava no interior. Então assim, a gente tem que equilibrar o racional com o emocional. Meu lado racional me dizia que eu tinha que voltar para São Paulo porque eu não via futuro em Monte Mor, sabe, eu não me via lá em Monte Mor, porque eu sentia muita falta de São Paulo. É assim, quando você muda, é muito mais fácil você viver em uma
cidade pequena e mudar para São Paulo e você se acostumar com São Paulo porque têm as coisas ruins de São Paulo que é o trânsito, a super população, a poluição, mas São Paulo, para você se adaptar com São Paulo é muito mais fácil porque você vai acabar indo para os barzinhos, para as discotecas, então você acaba se adaptando mais facilmente. É muito mais fácil que você sair de São Paulo e ir para uma cidade que não tem o que fazer! Então é ficar meio maluco, então eu queria voltar para São Paulo, meu lado racional falava para eu voltar para São Paulo, mas aí o lado emocional falou um pouco mais forte. Eu estava pensando mais em qualidade de vida, então eu sabia que o interior, para mim, iria ser muito melhor, era só uma questão de arrumar um emprego para me manter no interior. Eu não pensava em ter família, eu não pensava em ter nada naquela época, só pensava em ter um sustento. Então eu saia da loja e tinha que me sustentar e aí apareceu a oportunidade de trabalhar na Tetra Pak como motorista. Então foi assim, eu tentei por várias vezes entrar na Tetra Pak. Inclusive o Gasparotto hoje é diretor da Divisão Técnica da Tetra Pak, Fernando Gasparatto, e a gente conversa de vez em quando e lembramos de uma entrevista que um dia me fez, há 20 anos atrás, que eu queria entrar na Tetra Pak para ser funcionário porque a Tetra Pak era a maior empresa da cidade, e os meus primos trabalhavam lá, então eles falavam assim: “ PÔ Walter, você precisa conhecer a Tetra Pak porque lá é uma empresa, que faz a embalagem da Longa Vida, então tem impressora, tal!”, e eu, como trabalhava no ramo gráfico aqui em São Paulo, me atraia. Tinha bastante vontade de trabalhar lá. Mas aí tentei e não consegui, eu não tinha experiência, porque aqui eu era impressor nas máquinas e lá eu tinha que ter outra coisa. Aí eu tentei uma vaga para motorista, o que é motorista? Se lembra quando eu falei que as pessoas tinham medo de vir para São Paulo? Então, as pessoas tinham pavor de pegar o carro e vir para São Paulo e a necessidade se fazia presente diariamente, porque assim, os clientes da Tetra Pak estavam em São Paulo, a Parmalat, a Nestlé, a Arisco na época, Vigor, a Paulista, estavam tudo aqui em São Paulo. Então tudo que você tinha que fazer referente aos clientes, por exemplo, a prova de cor para fazer o leite, enfim, todo o contato, então tinha alguém para fazer isso, então começou à crescer e tal e aí foi quando eu comecei a trabalhar de servente de pedreiro com o meu primo, depois que eu perdia a loja, porque eu não podia ficar parado, eu tinha que fazer alguma coisa e aí a Ana Maria [Ana Maria Eulálio Furlan], que hoje trabalha na Cooperpak, da Tetra Pak, há 18 anos atrás, passou onde eu estava trabalhando e eu pedi encarecidamente à ela para ela me arranjar um emprego e ela: “Você quer ser motorista da Tetra Pak? Porque a gente precisa de alguém, você conhece São Paulo...”, aí eu fui fazer entrevista e acabei entrando.
P/1 – Isso foi em que ano?
R – Em 1989, outubro de 1989.
P/1 – E como foi a sua primeira impressão da Tetra Pak quando você começou a trabalhar na empresa?
R – Olha, tudo de bom. Por quê? A Tetra Pak, até hoje, eu tenho prazer em levar as pessoas lá para fazer uma visita na fábrica e mostrar o processo fabril da Tetra Pak e as pessoas ficam de boca aberta, porque não fazem idéia do que é a empresa Tetra Pak. Então para mim assim, eu sempre acostumado com empresa pequena, familiar, de porte pequeno, de 30 profissionais, que era a minha vida na gráfica e de repente eu me deparo com uma empresa, na época eu acho que tinha uns 400 funcionários, assim, grande, até difícil de lembrar o nome de todo mundo, e eu precisava porque era motorista, precisava passar por todo mundo e ver se tinha alguma coisa para fazer e tal, então para mim era maravilhoso e uma outra coisa que aconteceu para mim, um fato marcante, foi o meu o meu irmão mais velho se preocupando com o mais novo. Um dia eu falei para ele: “Olha, arrumei emprego na Tetra Pak!”, ele falou: “Putz você conseguiu? Que legal!”, eu falei: “Vou te contar uma história, estamos no mês de dissídio aqui, eu não vou receber ainda porque eu não faço parte do quadro, porque eu entrei em uma
empresa terceira, mas o pessoal vai ter 110% de aumento! Agora imagine você dormir com quatro e acordar com oito! Vai dobrar o salário de todo mundo aqui!”, meio ilusão porque na época a inflação era meio galopante, mas foi uma coisa que me marcou muito quando eu entrei lá, e aí ele falou: “Não sai daí, fica aí, coloca a cabeça no lugar e fica na empresa porque é muito legal essa empresa!”, porque dobra o salário, aí eu acabei ficando, aí eu trabalhei de motorista.
P/1 – E como foi o seu primeiro dia de trabalho na prática?
R – Então, acho que vou confessar um segredo aqui, na época, quando, eu não conhecia Campinas, de fato, porque eu morava em São Paulo e fui direto para Monte Mor, então Campinas, realmente, eu não conhecia muito bem. Sabia que eles tinham uma avenida chamada Francisco Glicério, mas bicho, não me pergunta de rua em... E na entrevista que eu fiz com o Gilberto [Gilberto Balista], ele queria saber se eu sabia dirigir, então a entrevista foi no carro. Na época ele era gerente do RH, tinha um Voyage e nós fomos abastecer o carro dele, eu fui dirigindo e ele me entrevistando e aí foi legal porque eu falei uma mentira para ele, ele falou assim: “Você conhece bem Campinas?”, eu falei: “Não, conheço, fica tranqüilo!”. Pô, mas quando você tem um guia, eu era Office boy em São Paulo, então Campinas era café pequeno. Então eu comprava um guia de Campinas e não via o menor problema. Aí fui trabalhar lá e no primeiro dia de trabalho, primeiro não, acompanhei um pessoal para aprender o que tinha que fazer, mas logo no segundo dia, era dois motoristas, um que fazia Campinas e outro que fazia Monte Mor e São Paulo, que era o meu caso. O que fazia Campinas, que era o Oswaldo na época, foi fazer vasectomia, então ele teve que se afastar e aí pronto, segundo ou terceiro dia lá, lá vai o Walter para Campinas , sem conhecer nada de Campinas, aí peguei um serviço, a parte de Controladoria de Financeiro era o maior volume porque era pagamento em contas de banco e naquela época não tinha a facilidade que tem hoje, você tinha que pegar fila no banco, você não tinha aquelas caixinhas e tal, então tudo bem. Fiz o itinerário lá, tinha quase 20 lugares para passar em Campinas, aí eu fui pensando comigo: “O que eu vou fazer? Eu não conheço nada em Campinas! E eu não posso fazer isso, preciso dar conta do recado!”. Aí eu entrei em campinas, parei em uma
viatura daquelas polícias militar e abri o jogo para o cara: “Olha bicho, eu sou um funcionário de uma empresa aqui de Monte Mor, sou de São Paulo, não conheço nada de Campinas, conheço de passagem Campinas e agora estou com emprego e tenho que ir em todos esses lugares, nesse e nesse banco e tal, queria que você me desse uma dica, o que eu faço, me dá uma força!”, e o cara foi super bacana comigo, ele me ensinou praticamente o caminho, porque eu tinha que chegar na Barão de Jaraguá, ali atrás da Francisco Glicério, parar o carro em um
estacionamento e fazer tudo a pé porque era tudo por ali. E foi isso que eu fiz, parei o carro em um
estacionamento da Barão de Jaraguá, peguei a pastinha e fui fazendo o serviço, aí quando foi três e meia, quatro da tarde, eu liguei para a Ana Maria que era a minha chefe lá na Tetra Pak, aí falei: “Ana, acabei o serviço e queria saber se tem outra coisa para fazer? Porque você falou que toda a vez que acabasse tinha que ligar para cá para saber se não apareceu nada de última hora e tal!”, ela falou: “É impossível, como você acabou o serviço?”, “Acabei o trabalho, já fiz tudo que a senhora pediu para fazer!”, “Não, não, tem alguma coisa de errado, não é possível!”, “É verdade, não tem nada!”, “Então pode voltar para cá!”, e aí eu voltei, cheguei antes das cinco na Tetra, peguei o pessoal ainda e aí eu fui com ela e ela falou: “Não é possível! Porque normalmente o pessoal acaba às cinco, cinco e meia, como é que você acabou uma hora e meia antes? Duas horas antes?”. Aí eu fui na Tesouraria, na parte do financeiro e conferimos todos os trabalhos que tinham sido feitos e foi tudo realizado, realmente eu não estava mentindo, não tinha nem por quê! Mas o que era engraçado é que eu não tinha o macete e acabei prejudicando o outro motorista, porque quando ele ficou sabendo que eu fiz isso ele falou: “Você é louco? Quer acabar comigo? Eu chego cinco, cinco e meia e você vem chegar às três horas?”, aí eu pisei um pouco na bola, mas por inocência. Mas passou, foi mais um fato na vida.
P/1 – E como era a fábrica de Monte Mor nesse período que você entrou?
R – Então, a fábrica, eu não tinha muito contato com a Produção, tinha mais contato com a Administração, mas assim, número de pessoas, eu conhecia todo mundo. Então por exemplo, no RH, era o Gilberto que era gerente, o Fernando Carneiro era, se não me engano, assistente e a Ana Maria e a Rose [Rose Retamero], eram quatro pessoas! Na tesouraria eram três, então eram poucas pessoas, não tinha... Lógico que o volume de vendas era outro, o número de clientes era outro, o maquinário dentro da produção era outro, então assim, eu sei de histórias da laminadora que é o nosso processo intermediário na Tetra Pak, onde aplica o polietileno e o alumínio, hoje a gente fabrica 500 metros por minuto, naquela época, para fazer a operação que a gente faz hoje, a gente tinha que passar quatro vezes o papel na máquina. Então passava um vez, porque não tinha extrusoras, então passava uma vez, aplicava uma camada, passava outra aplicava o alumínio, depois aplicava outra, então demorava quatro vezes o que a gente faz hoje! Rodava 200 metros, hoje a gente roda 500! Então assim, não na minha época, isso é história, quando eu entrei na produção eu me lembro que existiam duas impressoras, a schiavi e a off set, uma laminadora só, duas cortadeiras. Hoje nós temos três impressoras comprando a quarta, duas laminadoras, cinco cortadeiras, quer dizer, de lá para cá dobrou a capacidade da fábrica.
P/1 – E aí você ficou quanto tempo na função de motorista?
R – Na verdade eu acho que fiquei um ano, porque assim, uma das coisas que eu sempre tive comigo, meu pai me ensinou, foi o seguinte, quando você quer subir na vida, quer andar para frente, então não importa o que você seja, se você é um lixeiro, seja o melhor lixeiro, porque se tiver a oportunidade de ser o supervisor dos lixeiros, o pessoal vai lembrar porque você se destaca no meio dos lixeiros. E eu tinha uma vontade enorme de crescer na Tetra e como eu tinha contato com muita gente, como motorista, as pessoas sempre me davam dica: “Você tem que saber falar inglês, você tem que fazer uma faculdade...”, e com isso, com o aprendizado que eu tive do meu pai, com a educação que eu tive, eu sempre procurei ser o melhor, então se eu era o motorista queria ser o melhor motorista! E acabei ficando um ano só, graças a Deus, porque me deram uma oportunidade de começar em um
departamento novo da Tetra Pak que era o Desenvolvimento Gráfico. Então eles sabiam que eu sabia de impressão porque eu trabalhava em uma gráfica, trabalhei dez anos em uma gráfica em São Paulo, conhecia os clientes porque eu fazia contato com eles, então nós abrimos um departamento para gerenciar todo esse contato com os clientes no que diz respeito à desenho, arte final e desenho, não à parte comercial da embalagem, mas no que diz respeito ao desenvolvimento de layout, arte final, enfim, prova de cor. Aí nós abrimos um departamento que hoje é o DG, na época era Desenvolvimento Gráfico, e aí o Armindo foi contratado, foi um gerente DG, era também de São Paulo e foi para lá porque ninguém conhecia a offset, a Tetra Pak sabia de flexografia grafia, como abriram essa offset tinha que ter pessoas. Então contratamos uma equipe aqui em 90, uma equipe aqui de São Paulo que foi levada para lá, hoje infelizmente não tem mais ninguém lá porque vendemos a offset e voltamos para a flexografia, mas em 90, é, eu fiquei praticamente um ano trabalhando de motorista.
P/1 – E só uma dúvida, era flexografia e foi para offset?
R – Não, ficou com os dois.
P/1 – E qual é a diferença de um para outro? Você sabe explicar, mais ou menos?
R – Sei sim. Existe tipos de impressão, offset , flexografia e rotogravura e o silk, mas a offset é uma impressão indireta e a flexografia direta. Qual a diferença básica dos dois? A flexografia tem o tinteiro e a tinta passa por um cilindro entintador que é o anilox, carrega a tinta ali, essa tinta é transferida para o clichê que é como se fosse um carimbo, é uma placa de fotopolímero com alto relevo no grafismo. Ele pega essa tinta do anilox e transfere para o papel, então é impressão direta. A offset ela usa clichê, usa chave de alumínio, então ela é um por um, não tem distorção nenhuma e onde você grava a imagem tem tinta e água, então onde tem imagem pega tinta e onde não tem pega água, essa imagem da
chave de alumínio é transferida para uma borracha que é o cauchu, que também é plano, e essa imagem do cauchu transfere para o papel, por isso que a gente fala que é impressão indireta, a impressão da chapa passa para o cauchu e do cauchu para o papel, essa é basicamente a diferença.
P/1 – E durante um tempo foram os dois tipos de impressão?
R – Foram porque assim, com o crescimento das empresas, a necessidade de você melhorar o layout na gôndola do mercado, isso foi a revolução no mundo, a gente viu que o colorido começou a entrar nas embalagens. A embalagem tinha que falar por si própria, porque hoje se você comprar um leite, você não está comprando leite, você está comprando a embalagem! Porque você não está vendo o leite lá dentro, você tem que confiar na marca, então o maior desafio da Tetra Pak hoje e vai continuar por se tratar dessa embalagem fechada é fazer com que a embalagem salte aos olhos do consumidor e chame atenção, então o maior desafio nosso, se você pegar a embalagem do leite, a gôndola do leite há cinco anos atrás dava mais vontade de você comprar sabão em pó, porque era uma coisa branca, pálida, transmitia calma e leite não é isso, leite é energia, totalmente diferente. Leite tem que ser mostrado para fazer vitamina, para o jovem tomar, eu adoro tomar leite gelado, por exemplo, então é isso aí, não é a calma, a paz, a morte, não é nada disso, então hoje, se você pegar a gôndola do leite é muito mais colorido, as embalagens de hoje estão muito mais atrativas e naquela época o pessoal dizia, se você pensar no passado, você se lembra daquela primeira televisão colorida, que se você chegasse perto você via os pixels da tela? Hoje você não consegue mais porque a resolução, o plasma, LCD, a resolução é muito maior, então você não consegue ver. A mesma coisa a flexografia com a offset, naquela época a flexografia não faz retícula, ela faz chapado só, então naquela época se você pegar leite Long, não tinha combinação de cores, a flexografia naquela época não fazia combinação de cores. Se você pegasse uma embalagem que são quatro cores, então é o verde, o laranja, o azul e o vermelho, não é o laranja formado pelo agente amarelo, não é o verde formado pelo amarelo e azul, hoje, e a offset você conseguia fazer isso na época, então, por exemplo,a Arisco entrou muito forte no mercado naquela época com tomates, existia muito pedido dos clientes para melhorar o visual da embalagem, a Tetra Pak, no mundo, usava offset também para as embalagens premium e aí foi uma decisão estratégica, não sei, acredito que foi isso, de trazer a máquina offset para o Brasil.
R – Aí nós desistimos por quê? Porque a gente começou a perceber o mundo Tetra Pak, que com a flexografia, você conseguia fazer os mesmos resultados de offset. Começou a melhorar a flexografia porque é uma demanda, hoje a flexografia, hoje praticamente todo mundo faz, então a indústria flexográfica começou a acordar para vida e ver que estava perdendo espaço para a offset, então ela começou a recuperar, começamos a aumentar a lineatura do anilox, começou a fazer retícula, então se você pegar um impresso hoje de flexografia, com 57 linhas, que é a mesma resolução que a offset, a offset tem até 80, mas a maioria das
tem 57 linhas, se você pegar, você não consegue ver a diferença, então você consegue fazer as tramas de cores dentro da flexografia e aí tudo de bom, porque é muito mais barato você fazer a impressão flexográfica
do que a offset, muito mais barato, chega a ser 7% de redução, então imagine você chegar para o cliente e: “Olha, as embalagens são praticamente iguais mas você vai ter 7% de redução no seu custo, você quer?”, o cara na hora topava. Aí foi e migramos todos que era offset para flexografia e aí...
P/1 – Hoje essas embalagens que a gente encontra é quase fotográfica a embalagem?
R – É fotográfica! É porque é assim, o resultado é uma fotografia, a gente tem todo o cuidado de um estudo fotográfico porque com essa necessidade das embalagens saltarem aos olhos do consumidor, então, vai para um photoshop as imagens, então o pessoal limpa o branquinho do olho, o branquinho do dente, a ruga, se for a foto de uma mulher, então a gente tem preocupação fotográfica.
P/1 – Isso a flexografia?
R – Isso a flexografia, então abrindo um convite para vocês, se vocês quiserem um dia conhecer o sistema lá!
P/1 – Quero sim! Ah, só mais uma pergunta que eu tenho, o layout das embalagens, esses desenhos, essas coisas todas, ela é desenvolvida pela Tetra Pak a pedido do cliente ou o cliente desenvolve e manda para a Tetra Pak.
R – Não, é do cliente o layout, então todo o cliente, a maioria dos clientes hoje, hoje eu diria que quase 100%, tem uma agência por trás, então é a agência que cria com o cliente e manda para a gente. Hoje a gente faz um diferencial na Tetra Pak, então o departamento que eu saí agora, que eu estava tomando conta, que é o DG Art Work, a gente tem um banco de imagens, inclusive, a gente paga um fotógrafo, faz vários cliques , então a gente tem splashs
de leite, tem copo de leite, tem um monte de coisa lá que o cliente pode entrar no site, reservar aquela imagem, tem até isso, hoje qualquer cliente, não precisa nem ter uma agência, ele pede a faca lá, a planta técnica da embalagem que ele quer fazer de litro, lá ele vai saber exatamente onde ele pode usar e onde não pode usar porque tem o datador, tem uma fotocélula, então tem a área livre para ele fazer a impressão, ele pode entrar no banco de imagem da Tetra Pak, pode reservar a imagem para usar na embalagem dele, enfim, se ele quiser fazer em casa, ele manda para a Tetra Pak, então hoje está muito mais fácil!
P/1 – E também muito mais barato para o cliente!
R – Muito mais barato. Porque o desenvolvimento de uma arte, de um layout, na verdade, isso não tem preço, então tem agência que cobra três mil reais e tem agência que cobra cem mil reais, então isso é bastante complicado!
P/1 – Aí você ficou nesse departamento de Desenvolvimento Gráfico em qual cargo e por quanto tempo?
R – Eu não me lembro mais do cargo, mas acho que era na lista de desenvolvimento gráfico, se não me engano, ou assistente, sei lá. Eu fiquei acho que sete anos.
P/1 – E nesse período você começou a fazer a faculdade?
R – Fiz faculdade, a faculdade eu fiz em 1993, logo que eu entrei na Tetra Pak, a primeira coisa que eu me preocupei foi fazer a faculdade, continuar a faculdade que eu fazia em São Paulo.
P/1 – Então foi mais ou menos o período que você foi para esse departamento?
R – Isso, exatamente. E para você ter uma idéia, tem outro fato interessante, engraçado, porque assim, as pessoas que faziam faculdade e trabalhava na Tetra Pak, existia três ou quatro funcionários, e assim, a Tetra Pak era tão boa para a gente porque naquela época a Tetra Pak reembolsar 100% dos estudos. Então assim, privilégio meu, eu não paguei nada da minha faculdade, pagava aquelas taxas administrativas, não, nem aquelas taxas que a faculdade fazia, a Tetra Pak reembolsar para a gente, de cópia, apostila, aquela coisa toda que a faculdade cobre, a Tetra Pak reembolsar para a gente também. E o cúmulo, teve um dia que essas quatro pessoas, eu mais três, fizemos uma reunião com o gerente do RH para pedir um carro para a gente ir para a faculdade,quer dizer, era muita folga
, ele falou que ia falar com o chefe dele e tal e não deixou. Era muita folga, já não pagava nada, pagava só o transporte!
P/1 – Mas 100% é realmente, é incomum.
R – Hoje já não é mais assim, é outra política e tal, mas aquela época, falando de 17, 18 anos atrás, a Tetra Pak me reembolsou 100% da minha faculdade, o inglês era 100%, a minha pós-graduação foi 100%, então... Eu fui privilegiado por ter conseguido esse privilégio no passado. E também eram poucas pessoas, então os pedidos eram menores, hoje não, hoje todo mundo quer fazer faculdade, se formar.
P/1 – Mas ainda assim existe um estímulo?
R – Hoje existe uma política de ensino e cada diretoria tem um certo número de vagas onde existe uma série de... Assim, a gente vai apostar nas pessoas que querem crescer e continuar na Tetra Pak, não adianta o cara trabalhar na produção e querer fazer uma faculdade de Turismo, a gente vai pagar e não vai fazer sentido, o cara vai acabar a faculdade e vai trabalhar em uma
agência de turismo. Então é lógico que a Tetra Pak tem todo o interesse de usar aquele conhecimento em benefício próprio, mas a gente tem até hoje uma política que o pessoal faz uma pós-graduação e são reembolsados metade do valor.
P/1 – Então isso serve para graduação, pós-graduação e idiomas também?
R – E idiomas também.
P/1 – E a priori, qualquer funcionário da Tetra Pak tem acesso à isso?
R – A priori todo mundo é elegido para isso, só para pós-graduação, se não me engano, preciso ler a política de novo, posso estar falando uma besteira aqui, mas para pós-graduação tem que ter um cargo de liderança, então tem que ser um coordenador, supervisor, não é todo mundo que consegue, mas por conta da política, já está claro, então por exemplo, todo mundo tem condição de entrar no ORBIS, nosso meio de comunicação da Tetra Pak e ter contato com as políticas de RH, então está tudo explicadinho lá.
P/1 – Então pegando esse gancho, só para a gente pegar uma questão da Tetra Pak que é a dos incentivos, investimentos sociais. Então ela tem um investimento no seu funcionário dessa forma de investir sempre no aprimoramento desse funcionário, ela colabora com entidades da região que circunda...Costura isso para a gente!
R – Então, existe um, falando só da parte social, existe um comitê de ação social que eu faço parte também, hoje eu estou meio devedor com eles por conta desse corre-corre, é difícil de dar toda a atenção, mas eu não quero me desligar porque é uma coisa bacana, eu me sinto bem fazendo essas ações sociais. Então existe um calendário de coisas que a gente faz todo o ano. Então existe campanha do agasalho, no final do ano a gente começou pequeno e está bastante grande, na questão de dar, Adote uma criança, chama a campanha, então você pode pegar uma sacolinha, lá vai estar o nome da criança, a idade, PMG de roupa, então você compra uma roupa nova acompanhado de calcinha e cueca e um brinquedo novo, então quer dizer, adote uma criança, as crianças muito, acho que a grande maioria vai ganhar aquilo de natal porque a gente vai pegar as creches de Monte Mor, então pegamos uma creche de 50 crianças, foi o primeiro ano que nós fizemos e agora, o ano passado, por exemplo, eu não me lembro, mas acho que foram quase 400 crianças . Então assim, está melhorando para caramba!
P/1 – E tem essa parte...
R – Tem uma ação social que a gente faz de pegar um, a gente escolhe uma entidade da cidade e faz uma reforma, todo mundo lá dá social, quem é convidado da Tetra Pak vai lá para pintar, as coisas fáceis de fazer a gente mesmo faz, se é difícil a gente contrata marceneiro e a Tetra Pak acaba pagando e tal.
P/1 – O asilo que você falou!
R – O asilo a gente ajuda constantemente, por exemplo, se eu quero fazer um almoço do departamento, por questão de reconhecimento do meu departamento, eu contrato o asilo, então o pessoal tem uma comissão de voluntários do asilo que se comprometem a ir lá fazer o almoço, cobra 20, 25 reais por pessoa e aí, a maioria das coisas eles ganham, acabam fazendo almoço, eu pago para eles e acaba ajudando o asilo, quer dizer, não tem salário de ninguém ali, porque todo mundo é voluntário, quem acaba ganhando é o asilo, porque eles têm uma despesa, se não me engano, de 16 mil reais mensal para, não me lembro se são 40 velhinhos que tomam conta lá, então vira e mexe a gente faz uma coisa. Então a comissão da ação social, para o asilo, todo o ano faz um, nós já fizemos dois anos seguidos Festival da Parmegiana, então a gente faz carne, peixe e frango à Parmegiana e vende a 25 reais o convite. Então todo mundo naquele dia, que é uma sexta-feira, deixa de almoçar na Tetra Pak para almoçar no asilo e aí acaba ajudando.
P/1 – E com relação aos benefícios para os funcionários, você já disse dessa ajuda de bolsa de ajuda que cobre parte desse estudo, o que mais? Plano de saúde, fala um pouco disso também!
R – Hoje a gama de benefícios que a Tetra Pak dá, eu não tenho muito contato com outras empresas, então eu não sei te falar se é a melhor ou uma das melhores, mas pô, todo mundo ali tem que ficar satisfeito. Na minha família eu tenho plano de saúde, plano odontológico, tenho seguro, tenho a Cooperpac que é uma empresa que pode ajudar a gente nas horas de necessidade, para quem não tem cargo de liderança tem a cesta alimentar, nós temos um clube, temos ambulatório, é uma série de coisas que, na verdade, se a pessoa for um pouco inteligente, ela vai colocar na ponta do lápis e vai colocar como salário, porque se a Tetra Pak não me desse a Unimed, o plano de saúde, eu teria que pagar para a minha família, eu teria que pagar lá não sei quanto, mas com certeza não ia ficar menos que 500 reais para a família toda, então você tem que agregar isso ao seu salário, as pessoas normalmente não agregam isso ao salário e isso é uma forma de você não reconhecer o que está fazendo por você. Então para mim assim, se eu colocar na ponta do lápis, com certeza o meu salário lá acresce dois, três mil reais por mês.
P/1 – E a refeição também é oferecida na fábrica?
R – Eh, você paga um valor irrisório. Então eu como gerente tenho celular da empresa, que eu pago também uma taxa mensal, mas eu, por exemplo, não preciso ter celular em casa, não preciso pagar uma conta porque eu uso o celular da empresa! Então esses benefícios que a gente coloca na ponta do lápis, eu estou satisfeitíssimo.
P/1 – E como foi a sua trajetória depois do DG, do Departamento Gráfico?
R – Trabalhei acho que seis, sete anos no Desenvolvimento Gráfico, depois fui convidado para ser supervisor de Produção, para trabalhar na produção, ser chefe de um turno, então eu ia fazer turno e aí, outro ponto de relação na minha vida, eu fiz Administração de Empresa, fiz pós-graduação em Marketing para quê? Eu quero trabalhar em vendas não quero trabalhar na produção. Só que a produção é uma coisa encantadora, para mim o processo fabril, as questões do dia-a-dia, os desafios, é uma coisa maravilhosa, então não pensei muito não, aceitei o desafio e mergulhei de cabeça na produção, fui fazer turno, fui trabalhar em turno, então um dia trabalhando de manhã, outro dia a noite, pára e tal, então isso foi um pouco desconfortável para mim, mas até a questão de adaptação. Eu trabalhei acho que dois anos em turno.
P/1 – E como supervisor de Produção quais eram as suas funções?
R – Você era basicamente responsável pela fábrica naquelas oito horas na Produção. Então, por exemplo, tudo que acontecia lá dentro você aloca recursos, você se preocupa com que as máquinas sigam o planejamento das horas de produção, enfim, você acaba meio que supervisionando a produção inteira, fazendo com que ela não pare às oito horas e produza o máximo de embalagens naquele turno.
P/1 – Dá a supervisão até o produto final?
R – Tudo, por exemplo, acabou o gás lá no refeitório e não tem nenhum homem para trocar ou senão queimou a tomada, você tem que acionar, naquela época a gente fazia isso, então o supervisor é responsável por tudo: “Ah, tem um cara lá na portaria querendo entrar com bermuda!”, aí não pode, você que é o responsável da fábrica. Então chega o fim de semana, por exemplo, e não tem ninguém, você é o cara mais importante, a pessoa que está lá para tomar as decisões, então você tem que tocar...
P/1 – Então em uma
analogia, como se a fábrica fosse a cidade e você o prefeito?
R – O prefeito, é, mais ou menos, se bem que lá em Monte Mor o prefeito não faz muito...(RISOS)
P/1 – E dois anos na supervisão?
R – Dois anos eu fiquei na supervisão rodando turno com o pessoal e para mim foi um divisor de águas da minha vida porque conheci realmente o processo produtivo da Tetra Pak, fui saber o que é impressão flexográfica, enfim, laminadora eu conheci muito bem o processo, cortadeira, tudo e aí eu aprendi uma coisa que estava meio adormecida em mim, que era o contato com os ser humano. Eu sempre tive bons contatos, nunca tive problemas com ninguém, mas eu não sabia que eu era tão bom em lidar com as pessoas, então muitas pessoas hoje me falam: “Pô, você é o tipo do cara que consegue arrancar a roupa da pessoa na boa! Ou você dá uma bronca na pessoa e a pessoa nem sente!”. Então para mim foi muito bom trabalhar na produção, muito bom mesmo.
P/1 – E aí qual foi a oportunidade que surgiu para você?
R – Aí o gerente de Impressora na época, o Luiz Ribeiro, apareceu uma oportunidade para ele aperfeiçoar o inglês e fazer o trabalho lá fora, então ele foi convidado para passar, se eu não me engano, três meses lá na Tetra Pak Denton, nos Estados Unidos e ele foi e aí o nosso gerente da fábrica, na época, pediu para eu sair do turno para dar uma assistência na impressora. E aí lógico, eu fui melhor que o Luiz Ribeiro, estou brincando... Ele ficou fora e assim, basicamente eu dei conta do recado porque eu usei toda aquela experiência do turno, mas para concentrar em uma
área só, aí trabalhe direitinho. Quando ele voltou eu falei: “Agora ferrou, vou voltar a fazer turno!”, porque eu queria andar para frente, a gente não é caranguejo, então, e aí foi quando eu tive a grata surpresa de continuar sendo supervisor de impressora, fiquei cinco anos nessa área porque o Luiz Ribeiro foi fazer outras coisas, foi tomar conta de outro departamento e tal e aí eu virei gerente nessa minha jornada, quando eu passei de supervisor de impressora para gerente de impressão DG e aí comecei a ser gerente na Tetra Pak há três anos atrás.
P/1 – 2004!
R – Eh, mais ou menos.
P/1 – Hoje esse é o seu cargo?
R – Não, já mudei...
P/1 – Nossa, quando que foi essa última mudança?
R – Agora em fevereiro.
P/1 – Deste ano de 2007?
R – É. È porque existia algumas pessoas que foram trabalhar em outro país, nosso caso o Paulo Pica era um colega nosso que hoje trabalha na Suécia e aí o Marcelo Prada assumiu a fábrica, como gerente da fábrica, aí houve alguns remanejamentos, outras pessoas saíram da Tetra Pak e foram trabalhar em outra empresa e aí eu estava voltando de férias, na verdade, eu estava praticamente voltando de viajem e o Marcelo me chamou lá nas férias, fomos conversar e aí ele me propôs a tomar conta de três departamentos. Eu era gerente de pré-impressão e DG Art Work e eu fui tomar conta da manutenção dos projetos e do nosso programe de qualidade que é o WCM.
P/1 – Então vamos por parte, a parte de projetos o que é e o que cuida?
R – É uma equipe de Engenheiros que se preocupam em como melhorar o processo Tetra Pak de uma maneira, melhorando a tecnologia dos equipamentos e recebendo informações dos departamentos de que tem instalação de novo equipamento, enfim, de melhorar a fábrica como um todo, então o Departamento de projetos é isso, hoje, nesse ano, a gente tem, diria que mais três ou quatro projetos para finalizar esse ano ainda, projetos grandes como a instalação de uma nova
VTV, uma nova máquina que demanda de três a quatro meses, uma nova paletização porque hoje a gente trabalha com 14 boxes de
paletização e são dois robôs que não tem muita articulação. Nós vamos passar por uma maior paletização dentro da fábrica, existe um outro equipamento. Existem três ou quatro projetos que demandam muita mão- de- obra, então essa equipe de gerente se preocupam em elaborar o projeto, de contratar outras empresa para elaborar o projeto porque eles não têm todo o know how
e fazer a implantação dos projetos.
P/1 – Isso na fábrica de Monte Mor?
R – Certo.
P/1 – E a questão do WCM é World Class Management?
R - World Class Management, era Manufature e agora nós mudamos para Management.
P/1 – Desde quando a Tetra Pak faz parte? Porque na verdade é um programa internacional?
R – É um programa, na verdade, que foi escolhido para a Tetra Pak como melhoria contínua, no ano de 99, 2000, quando foi tomada a decisão e na época, foram escolhidos sete fábricas no muno para ser fábricas piloto. Então no Brasil a fábrica piloto é Ponta Grossa [PR]. Ela estava recém-inaugurando, recém inaugurando não, estava planejando fazer Ponta Grossa, planejamento de confecção da fábrica, do prédio e aí decidiu-se já começar a fábrica de Ponta Grossa com a metodologia WCM, então foi isso que aconteceu. A Ponta Grossa era fábrica piloto, então ela ia aprender a metodologia e depois a gente ia expandir em Monte Mor, então foi das sete fábricas, eu me lembro que é La Rioja na Argentina, Ponta Grossa no Brasil, Denton nos Estados Unidos, mais três ou quatro que eu não me lembro o nome agora, mas são seis ou sete fábricas que foram escolhidas no mundo. E aí o que aconteceu? Como é uma metodologia nova que a gente tem pagar os professores para virem ensinar a gente, os consultores e não existia isso no Brasil ainda porque o Brasil estava com TPM [Total Productive Maintenance]
básico, não tinha uma coisa avançada ainda. O WCM, na verdade é a metodologia TPM, dos japoneses lá, só que uma coisa assim, além do TPM, muito mais abrangente que o TPM, por isso que a gente chama de World Class, é fábrica de padrão mundial, então a gente quer, por exemplo, se a gente falar em impressão olhando para a qualidade, por exemplo, a Nestlé do Brasil compra uma embalagem da Tetra Pak Monte Mor e a Nestlé da África do Sul compra uma embalagem do Neston, por exemplo, e aí tem que pegar as duas e falar: “Realmente a Tetra Pak está com nível World Class porque as embalagens são semelhantes. O nível de perda das fábricas são semelhantes!”, enfim, isso é lógico que tem as suas particularidades de cada país, mas aí a gente decidiu pagar consultoria e a consultoria na época era a Éfeso, a consultoria que vinha os italianos ensinar a gente aqui e a gente pensou assim: “Vou pagar uma baita grana para o cara vir aqui ensinar as pessoas, por que eu não coloco mais pessoas na sala para aprender logo isso e começar a disseminar essa metodologia dentro da fábrica?”. E foi assim, acho que a decisão mais sábia do pessoal na época, onde o pessoal de Monte Mor começou a ter o treinamento junto com Ponta Grossa.
P/1 – O treinamento foi lá em Ponta Grossa?
R – Alguns lá, alguns aqui por estratégia porque o pessoal estava aprendendo a trabalhar na Tetra Pak aqui em Monte Mor, então sabe, e a gente começou a fazer a coisa sem compromisso, isso foi uma das coisas legais também porque a gente não tinha, não era fábrica piloto, não precisava mostrar resultado de imediato, então a gente fez a coisa assim, mais light, porém fazendo de acordo com o que eles pediam e aí o resultado foi maravilhoso, estamos desde 2000 com o WCM no Brasil, esse ano nós estamos concorrendo ao quarto prêmio porque são prêmios,
você vai melhorando então você vai concorrendo a um prêmio e a exigência muda. Então nós já tivemos o Special... Não me lembro os nomes de imediato, me fugiu da memória, mas é, na verdade são cinco prêmios todos, o último prêmio é o World class...
P/1 – Cinco categorias?
R – É, são cinco prêmios que você concorre, então a gente está no quarto prêmio que é o Advanced Special, então passou esse aqui neste ano, a gente vai ter auditoria em dezembro, passou esse a gente tem que trabalhar muito para concorrer ao WCM que é o Oscar lá.
P/1 – E é o último nível?
R – Último nível. Então assim, que eu me lembre deve ter duas ou três empresas no mundo que tenha esse prêmio World Class, a Tetra Pak seria mais uma. Então é um negócio bastante interessante por quê? Os saves disso, o quanto que a Tetra Pak salvou de capital de dinheiro é uma coisa assim...
P/1 – E o resultado foi satisfatório para a Tetra Pak também a partir da implantação desse programa?
R – Totalmente, porque assim, você começa a enxergar as oportunidades de melhoria ouvindo as idéias do próprio operador, então quem conhece da máquina, quem sabe das dificuldades é a própria operadora, ele começa a sugerir para melhorar o ambiente de trabalho dele e com isso você começa acolher, então por exemplo, antigamente você gastava 500 ou 600 metros de papel para você acertar uma cor na OP, hoje você gasta 60, entendeu, é essa a diferença! É o cara cuidar da máquina como se fosse o carro dele, você tem o seu carro você dirige, quando você vê uma tábua com prego você desvia para não furar o pneu, então a mesma coisa assim, ele está cuidando da máquina para a máquina não quebrar, se a máquina não quebra produz mais, se produz mais, a Tetra Pak vende mais, entendeu? Você gasta menos energia, é tudo isso, é um bolo, então por exemplo, a gente falava de eficiência de máquina, de impressoras, por exemplo, a gente veio de 42%, 32% lá em 2000 para um patamar de 60% hoje, 55%, então assim, dobrou a capacidade da fábrica por conta desse grupo tarefa.
P/1 – E Walter, talvez você nem saiba me responder isso porque talvez não tenha a ver com a sua área, mas outro programa da Tetra Pak que é muito importante é o SwiM [Sustaining Woman in Management]...
R – Swim, eu sei te responder porque eu faço parte, eu sou membro do comitê do Swim...
P/1 – Eu imaginei que você fosse, eu só não tinha certeza, fala um pouquinho desse programa também para a gente.
R – Eu ainda espero ver mais efetividade do programa, porque por enquanto eu não consigo ver assim, não consigo ver muitos resultados, palpáveis, porque assim, o Swim basicamente prega a igualdade, não no sentido da mulher fazer a mesma coisa que o homem, nada disso, mas de uma coisa que está assim, salta aos olhos de todo mundo, só que ninguém quer, principalmente os homens,que é saber respeitar as diferenças, a equidade, uma coisa assim, é lógico que não vou colocar a mulher para fazer o que o cara da impressão faz que é empurrar rolo e
tudo mais, mas o que eu posso fazer naquela operação para uma mulher fazer? Talvez colocar um carrinho automático, essas coisas que eu acho que temos que melhorar e eu fui um dos homens, na época o pessoal tirava um pouquinho de sarro porque eu fazia parte do comitê e aí nós demos a oportunidade de uma menina trabalhar lá na Artwork quando eu era gerente, nós colocamos uma menina para fazer
o papel da produção! Então existe uma pessoa lá, que é a Vanessa, e ela começou a carreira dela, hoje ela não faz mais aquilo, fazendo coisas que ela fazia em três turnos e dois homens faziam em dois outros turnos, então facilitamos a vida para ela não ter tanto esforço, mas ...
P/1 – Hoje ela não está mais na área de Artwork, mas...
R – Ela está na área de Artwork, mas...
P/1 – Não contínua na área de produção, então?
R – Não, acho que ela não faz mais isso, ela faz outras coisas. Ela evoluiu lá dentro do departamento, ela está no computador fazendo outras coisas, mas não tira mais filme.
P/1 – Ah, entendi, mas ainda é considerado como parte da área de produção?
R – Onde ela está? É sim.
P/1 – Então existem mulheres trabalhando na produção sim.
R – Existe. Eu queria ver muito mais, porque assim, a mulher tem vários aspectos que são diferentes do homem e que para a qualidade, por exemplo, é muito melhor. A visão periférica da mulher, detalhista, a preocupação com os detalhes, essas
coisas que fazem a diferença e que eu acho que a mulher fará diferença dentro do grupo Tetra Pak, assim, sabe, talvez um detalhe que para o homem não é importante e que para mulher é, pode ser uma reclamação de um cliente no futuro, entendeu? Então pode evitar reclamação de clientes, melhorar qualidade, enfim...
P/1 – Mas na tua opinião, está se caminhando para uma nova abertura?
R – Está se caminhando, mas assim, mudança de cultura. O Swim é uma mudança de cultura Eu vejo assim, que as pessoas começaram a aceitar, então teve bastante adesão, as pessoas começaram a aderir ao programa, tal, mas acho que falta assim, alguns mostrar resultado, então, por exemplo, quando as mulheres da Tetra Pak começarem a ter cargo de liderança, de confiança, de desenvolver projeto, acho que aí sim que o programa vai falar assim: “O programa está implantado e tem que dar seqüência!”, mas eu acho que falta um pouco mais de resultado. Não é só mulher na produção, não, é tudo de bom para a mulher lá na Tetra Pak, saber respeitar as diferenças e seguir em frente.
P/1 – E fala uma coisa, desde que você começou a trabalhar na Tetra Pak, na sua opinião qual teria sido o momento de crise que a empresa passou? Se é que passou por algum momento de crise!
R – Na verdade, eu acho que crise ela passa, não diria grandes crises, mas pequenas crises sempre passa. Eu me lembro de um span no ano passado onde o pessoal dizia que os números da Tetra Pak que estavam no fundo da embalagem era em decorrência da repasterização do leite, uma coisa totalmente absurda porque não existe processo de repasteurizar, uma vez pasteurizado, você não consegue fazer nada. Então isso foi uma coisa bastante, que mexeu na Tetra Pak...
P/1 – E teve um reflexo negativo nas vendas dos leites ou não?
R – Não caiu vendas por conta disso, deve ter outros fatores que naquela época acabou refletindo, mas houve uma preocupação, teve muito stress, muita grana que a Tetra Pak gastou para ir ao público e dizer que era uma tremenda besteira o que eles estavam falando. Quer dizer, crise que eu digo é isso, você estar bem e de repente você tem que se preocupar, gastar dinheiro, gastar energia para resolver um problema que não tem problema. Você tem que provar só mais uma vez, então recentemente no Paraná também tivemos um crise, o Secretário do Meio Ambiente dizendo claramente a todos os jornais que a Tetra Pak era uma empresa que não se preocupava com o meio ambiente, que aquelas embalagens da Tetra Pak no meio ambiente iam demorar muito para se degradar e que a Tetra Pak seria multada em não sei quantos milhões, que seria expulsa do Paraná, ih, uma série de besteira.
P/1 – Eu tenho uma questão que pega justamente isso que você acabou de colocar, que é o seguinte, a embalagem da Tetra Pak é 100% reciclável graças as tecnologias disponíveis, como a de plasma e todas as outras que aproveitam todo o material, além da questão da reciclagem que consegue transformar as embalagens em diversos materiais como telha, plástico, enfim, fala um pouquinho das iniciativas ambientais da Tetra Pak, da preocupação da empresa efetivamente com essa questão e o que é feito na prática dentro das fábricas, nesse sentido.
R – Assim, em Monte Mor, como morador de Monte Mor, eu sinto que a Tetra Pak poderia fazer um pouco mais na parte ambiental, mas me ocorre sempre que não depende da Tetra Pak porque hoje, o que dependia da Tetra Pak , ela conseguiu fazer, que é desenvolver uma tecnologia para tornar a embalagem 100% reciclável e isso daí tem em todos os métodos da Tetra Pak, porque foi com muito suor do pessoal do meio-ambiente, do Fernando Neves e de toda a equipe dele junto com os fornecedores, enfim, teve engenheiro pesquisando, muitas e muitas horas de trabalho em cima disso, eu não sei te falar exatamente quanto tempo, mas foi mais de ano para desenvolver uma tecnologia, até que conseguimos. E assim, depende da gente, lá em casa, conscientizando meu filho, que quando você for, tem uma coisa que você pode reciclar que é um vidro, um papel, um plástico, não jogar no lixo orgânico, jogar...Então do que depende? Do Walter comprar uma lata de lixo especial para reciclagem e deixar um outro para orgânico, depende do Walter, se não tiver uma coleta seletiva na cidade, procurar esse lugar onde você pode depositar o reciclado
para você ajudar, então assim, a taxa de embalagens reciclados no Brasil hoje é de só 24%, então a gente vai falar sobre Tetra Pak o pessoal meio que pega nisso aí: “Mas pô, a taxa é muito pequena!”, a gente sabe disse e todo o dia a gente trabalha com isso. Essa semana eu estava em Ponta Grossa e aí eu fui com um outro amigo meu, Edson Bellini, nós fomos ao shopping lá para ele comprar uma coisa e não conseguimos encontrar, mas de repente nos deparamos com uma exposição, A Arte da Reciclagem, que era da Tetra Pak, quer dizer, surpresa, eu não me lembrava que estava lá no shopping de Ponta Grossa, foi surpresa porque eu não tinha visto em são Paulo e eu acabei vendo lá mesmo. Então a conscientização que é a principal, a Tetra Pak faz, faz todos os dias, então assim, depende da gente, depende das prefeituras, dos recicladores, sabe, depende um pouco do pessoal acordar para a vida. Lá em Monte Mor eu vejo que o pessoal sai catando latinha de alumínio nos lixos para reciclar, é assim, aqui é comum, por quê? Porque está três reais e trinta centavos o quilo do alumínio para você. Mas, a conscientização da Tetra Pak tem que chegar em um
ponto onde o catador de lixo vai deixar de pegar alumínio lá, ou então o pegar alumínio e a Tetra Pak junto, porque o valor vai ser igual, entendeu? Do plasma sai alumínio puro e revende isso para a Alcoa que faz a folha e vende para a gente outra vez, então já virou o ciclo virtuoso.
P/1 – Só uma colocação, você me corrige se eu estiver errado, dessa embalagem o plástico vira parafina, o alumínio vira lingote, que é reaproveitado na produção e o papel vira papel reciclado, é isso?
R – Exatamente isso.
P/1 – Então os três materiais ,que são só esses três que compõe a embalagem, eles são totalmente reaproveitáveis?
R – A embalagem, 75% é papel, 20% plástico e 5% alumínio. O alumínio é o mais caro, então como saí limpo, puro, isso aí vai voltar, o preço é altíssimo. A parafina, o pessoal consegue hoje vender para a indústria farmacêutica, indústria de cosméticos, dá para usar tranqüilo, e papel vira papel, tudo de Bom! Só que depende da gente separar, do reciclador separar, depende de tudo isso, com certeza com essa conscientização, tudo mais, daqui alguns anos a gente vai elevar a taxa de reciclagem bastante. A taxa de reciclagem a gente tem que levar em consideração uma coisa, ela não sobe muito de um ano para o outro, porém o número de embalagens vendidas sobe muito. Então a gente acha que só 1% subiu do ano passado para cá, mas é muito, porque o volume de vendas subiu muito, então você está conseguindo manter e ainda subir a sua taxa! Isso é um mérito também para a Tetra pak.
P/1 – Mas você acredita que essa resistência das pessoas comuns, da população, em aderir esses programas ambientalmente corretos está diminuindo, graças à essas questões que a gente vê acontecendo hoje?
R – Está, está diminuindo porque a Tetra Pak está fazendo a parte dela também, porque existem os EPI, EPI são Enviroments Perfornance Indicate, que são indicadores de performances lá do departamento de meio ambiente que a taxa de reciclagem , o EPI, então por exemplo, o lixo da Tetra Pak a gente recicla 99.3% da fábrica de Monte Mor, a gente só não recicla ainda comida que é o orgânico que sai do restaurante lá, o resto que sobra nos pratos dos restaurantes, a gente é obrigado a jogar fora porque a secretaria não deixa doar, fazer nada, você é obrigado a jogar fora e o lixo do banheiro, que o papel já é biodegradável, só que a tubulação da fábrica não permite que você jogue o papel dentro do vaso sanitário, então vai entupir. Existe projeto para a gente trocar essa tubulação e até o papel do lixo do banheiro você pode reciclar, então a gente ainda não consegue encontrar uma solução para o orgânico da comida, a taxa é 99.3%, quer dizer, ela faz a parte dela e outra, ela está, vai nas escolas, têm programas, então não sei quantas milhões de crianças já foram educadas. Dia um de setembro agora teve uma feira na Escola Viva em Monte Mor onde eu e o Edson Bellini passamos o dia inteiro falando sobre reciclagem, mostrando, dando kitzinho de como você reciclar o papel em casa. Porque a gente tem um folderzinho para incentivar a criança, eu faço com o meu filho hoje, quer dizer, eu posso pegar a embalagem Longa Vida, deixar de um dia para o outro na água, a água vai entrar nas camadas, vai soltar o alumínio, você pega o papel, joga no liquidificar, faz aquela papa, deixa naquela telinha de silk, que é uma peneirinha de um dia para o outro, a água sai e vira um papel. Daí ele pinta. Ele fez o papel para ele desenhar e pintar, para ele é o orgulho da vida dele. Então essas pequenas coisas, esses incentivos, a Tetra Pak faz, quer dizer, ela poderia fazer mais? Talvez sim, não sei te falar qual o limite disso tudo, mas ela está se preocupando com o meio ambiente, então ela faz a parte dela.
P/1 – E do mesmo jeito que essas questões influenciam a sua vida fora da empresa, você acredita que também influencia de outros funcionários da Produção, Administração, das outras áreas?
R – Com certeza, porque assim, como eu tenho contato com muita gente da fábrica da Produção eu sei que a gente consegue contaminar as pessoas, então, por exemplo, no meu bairro onde passa o cara da reciclagem, passa todo o dia cedo. Então por exemplo, eu via que antigamente só o Walter e mais um ou dois fazia o saquinho lá e deixava na segunda-feira. Natal por exemplo, vem brinquedo, um monte de coisa, então você vê aquele volume, monte de coisa pra reciclar, então o cara fica satisfeito. Hoje você abre o portão na segunda-feira para colocar o lixo para reciclar, você vê que todo mundo coloca, então essa coisa vai mudando, mas do outro lado, você consegue ver, isso vocês devem saber também, que eu vejo na pista, por exemplo, estou dirigindo o animal abre, um carro bom, importado, o cara abre o vidro e joga papel na pista, joga latinha de refrigerante, então existe os dois extremos ainda.
P/1 – E é uma coisa difícil de mudar! É a longo prazo mesmo. E em relação aos valores da Tetra Pak, Walter, quais são os valores que você identifica na empresa?
R – Então, perspectiva de longo prazo, isso é muito forte, parceria com seus colegas, isso para mim é do meu dia-a-dia, a gente sempre, pelo menos na área produtiva onde a gente tem mais contato eu sinto que as pessoas não estão olhando para o próprio umbigo, para o próprio processo, mas sempre dando sugestões para os colegas, porque na verdade a gente já caiu a ficha que a produção é um departamento que entrega embalagem, ela não entrega impressão, laminação, ela entrega a embalagem, então se for mal, vai todo mundo mal, mas se for bem vai todo mundo bem, então a parceria é muito forte, liberdade com responsabilidade, fantástico, então por exemplo, meu irmão uma vez veio em Monte Mor, fazia tempo que ele queria conhecer a Tetra Pak, aí precisava ir em um
sábado e eu levei ele em um
sábado para a Tetra Pak para visitar, e lá nos paramos tomando, a gente tem aquelas maquininhas de café, aí o operador da máquina tomando café comigo, conversando, aí o cara saiu, o operador, ele olhou para mim e falou: “Pô, o cara pode largar lá a máquina e vir?”, eu falei: “Aqui é assim, existe um valor na Tetra Pak que chama liberdade com responsabilidade!”, o cara tem toda a liberdade, se ele sabe que não vai prejudicar , ninguém aqui é robô, ele pode parar para conversar, lógico que ele tem que entregar o resultado dele, ele sabe das responsabilidades dele, mas ele tem a liberdade para fumar um cigarro. A gente está trabalhando constantemente para eliminar esse mau vício da nossa equipe lá, mas existe pessoas que fumam, você vai falar: “Não, não fuma, não pode fumar!”, nós estamos em um
pais meio democrático, eu sei que existem empresas que o cara não pode fumar, a Tetra Pak não é uma delas, só que a gente meio que dificulta a vida dessas pessoas, então você vai fumar? Vai ter que fumar lá atrás do refeitório, na lanchonete, então o cara muitas vezes pensa: “Pô, vou ir até lá, ida e volta, o tempo que vai demorar, o meu chefe pode ser que não goste disso!”, e o cara acaba nem fumando, faz bem também para ele, para a saúde, a gente, eu pelo menos procuro levar os valores, eu trabalho o meu dia-a-dia com os valores da Tetra Pak.
P/1 – E em relação à importância das embalagens da Tetra Pak no setor alimentício no Brasil? O que você acha disso?
R – Assim, a gente consome embalagens, Longa Vida em casa de uma maneira assim, bastante regular, então uma coisa que evoluiu muito de uns anos para cá foi os sucos. Sucos em embalagem Longa Vida e tal era uma coisa cara, mal vista porque: “Pô, só rico pode ter!”, e realmente existiam uma série de pequenas coisas que faziam isso acontecer, então eu mesmo em casa era uma pessoa resistente a comprar suco de caixinha, por quê? Era eu e a Renata, então prefiro mais comprar laranja, espremo e tomo suco de laranja, e aí vem os filhos e aí vem o corre-corre, as escolas e aí a praticidade, eu não posso, até tenho vontade de comprar laranja e fazer suco, só que não tenho mais tempo para isso, então é muito mais fácil comprar o suco lá de boa qualidade e está muito mais acessível hoje, o preço caiu bastante, por uma conta que muitas empresas entraram, a Del Valle acho que foi a pioneira que veio para cá, a qualidade Del Valle fez a coisa mudar, então muito mais fácil eu ter n caixinhas de suco no armário, e eu vou trocando da geladeira, tem sempre suco gelado, as crianças adoram, cada um já tem autonomia de ir lá na geladeira, entendeu? Coisas que eles não conseguem fazer com uma laranja, de espremer, de fazer um suco de pêssego... Como você vai fazer um suco de pêssego. É difícil você imaginar a criança. Hoje não, hoje meu filho toma suco de pêssego todos os dias, porque abre a geladeira e só praticidade, só abrir a tampinha, coloca no copo e toma, então assim, a revolução da, acho que a praticidade da embalagem Longa Vida, isso é uma coisa fantástica, armazenamento, enfim, você se lembra de quando a gente comprava leite? Quando eu morava em São Paulo aqui, ainda a Paulista entregava em casa aquelas garrafas de vidro, você lembra? Até hoje tem isso aí! Só que, imagine ir na padaria todos os dias comprar aquela barriga mole no saquinho, pô é um saco, você compra pão de forma para comer a semana inteira e uma caixa de Longa Vida, você não precisa ir mais na padaria, entendeu? Então eu acho que ajudou, só veio a ajudar as pessoas.
P/1 – E desde que você entrou até hoje, as mudanças tecnológicas também foram tremendas, Walter? Você falou em relação ao numero de produção, de que se produzia 200 e hoje se produz 500 por minuto, então isso realmente é uma constante na Tetra Pak?
R – A parte de evolução é tão forte, principalmente em Monte Mor porque nós tivemos tantas inovações acontecendo que hoje existe um departamento e o Mauro Moraes é o gerente do departamento para desenvolver o nosso produto, então o Brasil é uma coisa tão dinâmica que teve várias coisas que nós desenvolvemos aqui. Lógico que existe o portfólio todo do grupo Tetra Pak, mas aí teve uma pessoa, Renato Eyng, por exemplo, que ele já falou com vocês, ele idealizou uma embalagem de 600 ml! Pô, 600 ml, não, é legal porque os esportistas Sportage, o Gatorade que você toma e pode tomar fracionado, você vai fazer uma bicicleta, vai andar, e o cara idealizou e desenvolveu toda a embalagem aqui, então quer dizer, muito forte a parte inovativa da Tetra Pak. Diria o seguinte, que todos os dias surgem novas idéias, novas sugestões de melhorar, sempre pensando em melhorar a qualidade e reduzir o custo. Melhorar a eficiência, então a parte inovativa da Tetra Pak, lógico por conta do programa que despertou isso em todo mundo, é muito forte. Todo o dia em uma
reunião de Produção ou em uma
reunião de pilar do WCM, existe uma sugestão, uma idéia de alguém para melhor o processo Tetra Pak de uma maneira geral!
P/1 – Walter, você está há quase 20 anos na Tetra pak, você entrou em 89 e nós estamos... 18 anos. Desses 50 anos que ela comemora agora de Brasil, o que você conhece dessa trajetória?
R – Então, eu me lembro do Long, que a minha mãe comprava na feira, em São Paulo, lá em Santana, era aquela embalagem forma da Tetra Pak, a Tetra Pak quer dizer uma embalagem de quatro lados que é o TCA Tetra Classic. Então é aquele triângulo. Então eu me lembro disso, quando era pequenininho, e depois eu me lembro da evolução. Não me lembro muito bem da trajetória Tetra Pak porque você vai começar a pensar em empresa e começar querer conhecer as empresas, mas quando você já está praticamente dentro do mercado de trabalho. E para mim, como eu comecei a trabalhar logo que meu pai morreu, então eu fiquei dez anos trabalhado no mundo gráfico, então os meus interesses era sempre olhando para o mundo gráfico e a Tetra Pak não está no mundo gráfico, apesar de ser uma grande gráfica, ela não está no mundo gráfico, ela está no ambiente de convertedora de embalagem, empresa convertedora, uma indústria convertedora.
P/1 – E qual é a importância, na sua opinião, do Projeto Memória 50 Anos Tetra Pak?
R – Assim, é fundamental para uma empresa ter resgatado tudo isso, porque assim, a gente, de vez em quando faz uma limpeza lá em casa e pega aquelas fotos de quando você era...Pô, não tinha barriga, meu cabelo não era branco e tal, e isso faz você se remeter ao passado, isso é legal, bacana, é gostoso você, lógico que você vai lembrar das coisas boas, não vai lembrar das coisas ruins, mas eu acho que é fundamental para uma empresa conhecer as pessoas da empresa daquele momento. Conhecer a história da Tetra Pak, porque assim, hoje existe um negócio forte comigo, não adianta eu fui bom! O fui o bom já era, então você tem que ser bom todo o dia e melhorar constantemente, quer dizer, isso acaba fazendo com que algumas pessoas caiam um pouco no esquecimento, no vale, e é legal para as pessoas hoje saberem a importância de um cara, hoje talvez nem tenha tanta importância para a Tetra Pak, mas que no passado ele foi fundamental para o crescimento da empresa, sabe, eu acho que é legal para valorizar as pessoas, eu sou ainda muito novo, sou novinho, ficar mais uns 19 anos na Tetra Pak para mim não vai fazer diferença, mas para as pessoas que têm 25, é legal isso daí! Para mim é importante porque eu me lembro das coisas legais, mas é bom porque as pessoas que estão lá dentro, com certeza muita gente não sabe que eu fui motorista, talvez, como eu peguei inspiração em pessoas do passado para me tornar o que sou hoje, algumas pessoas, deve acontecer isso comigo também, algum operador de marketing lá deve pensar: “Pô, o cara conseguiu ir de motorista até gerente! O que ele fez? Acho que vou me espelhar um pouco nele! É legal isso daí, acho importante!
P/1 – E você passou por quantos presidentes da Tetra Pak, Walter?
R – Três. Quando eu entrei era o Carl Viggo, ele estava na verdade, ele ficou mais um ou dois anos, depois que eu entrei, depois veio o Nelson Findeiss, que era Diretor Financeiro no Panamá e agora recentemente o Paulo Nigro que está assumindo.
P/1 – Se você pudesse resumir a gestão de cada presidente, como você diria?
R – Eu diria o seguinte, do Carl Viggo eu não posso falar muito porque eu trabalhei pouco com ele, mas eu tenho um fato com esse cara que me fez crescer, assim, lembrando dele me fez tomar algumas decisões, atitudes porque ele era Presidente da Tetra Pak e aí, um dia, eu fui levar ele de Monte Mor até o aeroporto de Guarulhos, Cumbica. E ele estava com o guia da cidade de São Paulo na mão, aí normalmente o Presidente vai sentar atrás, não, ele quis sentar na frente e aí sentou na frente do carro e fomos. Aí conversando comigo, eu falei: “Pô, o cara é Presidente e eu sou um motorista!”, olha só, então ele me fez aprender uma coisa, independente do que o cara é ele tem que ter meu respeito. Então eu, graças a deus tenho a amizade do faxineiro até o meu chefe que é o Diretor de Produção, o gerente, então sabe, eu consegui isso, com essas pequenas coisas que as pessoas me ensinaram! Então recentemente nós perdemos o Roberto Raven que era o Diretor Financeiro da Tetra Pak. Esse cara me ensinou a mesma coisa, porque esse cara tinha contato com todo mundo, e assim, a gente aprendia essas coisas. Então o Carl Viggo, no meio do caminho lá, eu tinha que tomar uma decisão de onde ele ia abrir o consultório de São Paulo. A gente tinha lá na Alameda Santos e fechou e ficou um tempo sem escritório, aí ele pediu a opinião para mim e aquele negócio lá, para mim, foi uma coisa maravilhosa. Eu quase não dormi aquele dia porque eu falei: “Pô, o cara é Diretor-Presidente da empresa e pedir a opinião de um motorista?”, mas o cara é extremamente inteligente porque eu sou motorista e o que ele quis saber? Queria saber o seguinte, onde eu poderia abrir um escritório em são Paulo que eu tivesse fluxo rápido para aeroporto, para Monte Mor, lá para a Bandeirantes, Anhanguera. Pô eu sou motorista, eu devo saber dessas coisas. Mas ele não fez nesse sentido, ele queria saber a minha opinião: “Onde você acharia legal a gente abrir o escritório em São Paulo?”, com o mapa da cidade de São Paulo na mão! Aí assim, lógico que eu não sou o cara mais inteligente do mundo, mas eu morei em São Paulo eu vim com três anos. Tem que ser um acesso rápido pela Marginal, é isso que eu falei para ele: “Tem que ser alguma coisa próxima da Marginal porque o senhor tem acesso fácil para o aeroporto e para as estradas que vão te levar para o interior, então assim, tem que ser próximo da Marginal porque se ficar muito próximo do centro vai ter trânsito, congestionamento. A Marginal já é problema, então quanto mais você sair fora da Marginal, mais problema você vai causar!”. E aí acabei levando ele lá, ele me agradeceu, falou que ia voar para a Suécia pensando nessa proposta da Marginal, ele guardou que tinha que ser na Marginal. Então para mim foi maravilhoso quando eu fiquei sabendo que eles alugaram um conjunto de salas, um ou dois andares, ali perto da TV Cultura, em uma travessinha da Marginal. Então aquilo lá para mim foi fantástico!
P/1 – e na verdade, mesmo mudando, mantiveram perto da Marginal.
R – É um tempão, depois foram para a Berrini.
P/1 – Que também é próxima da Pinheiros!
R – Mas é lógico, gente, qualquer um sabe que quanto mais próximo da Marginal, menos trânsito você vai pegar, mais rápido você vai sair da cidade, tal, então é por aí. Aí o Nelson Findeiss, também não tive muito contato com ele porque a gente sempre teve assim, mas aprendi também, pelo jeito dele que ele é um cara extremamente dedicado à empresa. Tenho certeza que muitas vezes ele deixou de pensar na família dele para pensar na empresa, então com certeza ele perdeu o aniversário de filha, perdeu comemorações para estar em uma reunião importante, enfim, então é um cara importante, que tem o seu valor,
que fez a Tetra Pak crescer muito. Ele é um cara que é bem visto em qualquer Tetra Pak do mundo inteiro, ele tem o respeito de todo mundo, inclusive o chefe dele veio para cá, quando foi se aposentar, o Nick. Ele é o ex-ceo da Tetra Pak. Então ele teceu elogios para o Nelson Findeiss o jantar inteiro, quer dizer, o cara que tem o respeito do ceo da Tetra Pak é um cara admirável, eu tiro o chapéu para ele porque é muito inteligente. Então tem uma passagem dele na minha vida que me ensinou alguma coisa também. A gente estava em uma
reunião com um cliente eu ia tratar de arte final, de desenho, de layout. E a reunião estava rolando por outras coisas, inclusive para locação de máquina e tal. A Tetra Pak aluga as máquinas de envase, vende, reforma e vende, enfim, tem uma série de negociação na parte de máquinas, mas aí tinha um gerente da Tetra Pak, que eu não citar o nome porque pega mal, mas o gerente de vendas da Tetra Pak querendo meio que empurrar uma máquina, acho que estava encalhada, alguma coisa assim, para esse cliente, então ia prometer uma reforma e tal, aí o Nelson Findeiss passou lá em Monte Mor, na sala de reunião e viu a cena e voltou. Vocês devem saber, ele tem um jeito meio particular, tal, então ele nem bateu na porta, dá licença, entrou já, porque ele é “ban ban ban”, é o chefe, o presidente, ele pode fazer isso. Então ele entrou na sala, olhou para o cliente, conhecia o senhor, era um dono de laticínio lá em Minas Gerais e aí ele falou assim: “Você trabalha aqui?”, “Ah, vou falar com o Walter para aprovar uma arte final aqui para produzir o leite...!”. Daquele jeitão dele, “E que mais?”, “O fulano aqui, estamos vendo uma maquina aqui para alugar aqui!”, “Alugar? Alugar o quê? Tem que comprar uma máquina, uma máquina nova, tem que pensar na produtividade!”. É o expert dele, ele tem isso daí. Aí em 15 minutos ele foi no quadro, fez umas contas para o cara e o cara não alugou a máquina, mas comprou uma máquina nova, e hoje é um dos que mais produzem em Minas Gerais! Então isso daí faz a gente aprender algumas coisas também, ele é um cara que, tirando todos os defeitos, mas as particularidades dele, que realmente pega, chega às vezes a magoar as pessoas, ele é um cara extremamente inteligente e competente. Então a gestão dele marca pela competência e o crescimento da Tetra Pak, ele suportou tudo isso. E agora o Paulo Nigro, que é o nosso atual Presidente. O Paulo Nigro eu tenho, me ensinou uma lição bem forte e uso isso até hoje. Eu sei que humildade é uma coisa que a gente tem que ter, quando você não sabe uma coisa, pergunte, quando você quiser conhecer a coisa pergunte também, tem que ser humilde, não adianta você achar que sabe e passar por cima das pessoas. Então o Paulo Nigro é um cara que entrou um pouquinho depois de mim, acho que em 92 na fábrica em Monte Mor. Ele veio da Aga, de uma empresa da White Martins, então ele era gerente de vendas, se não me engano, e naquela época eu trabalhava no Desenvolvimento Gráfico e eles faziam uma integração, Gerente de Vendas ele que conhecia o Processo Produtivo, conhecia os Departamentos, porque ele queria ter contatos com a gente como Gerente de Vendas, que eu ia fazer reuniões com ele e tal. E esse cara é um cara que me encantou pela humildade porque é um cara que quis saber detalhes do que eu fazia, eu pensava assim: “Pô, o cara é gerente de vendas! Amanhã depois ele pode ser meu chefe, não sei se eu quiser trabalhar em vendas.” ,e o cara quer saber em detalhes de etiquetas, sabe, no detalhe mesmo. Porque é um cara competente e inteligente. Eu tinha certeza que ele iría dar certo no grupo Tetra Pak porque ele era um cara humilde, um cara que também cumprimenta todo mundo, ele tem um carisma muito grande, entendeu? Então assim, as pessoas respeitam ele, ele conseguiu obter o respeito das pessoas. Diferente do Nelson que as pessoas têm um pouco de medo, é respeito, mas com medo, pelo jeitão dele, mas o Paulo eu sinto que ele está ganhando respeito das pessoas. E o Paulo, uma coisa que marcou com ele foi isso, de ele querer saber os detalhes das atividades e um dia ele falou para mim: “Walter, se eu precisar de você, se eu precisar de alguma informação de cliente eu vou te ligar, tudo bem?”. Pô, o cara é gerente, eu cheguei a pensar: “Ele está pedindo para mim!”, “ Lógico, fica a vontade!”, dito e feito, ele estava em um
cliente uma vez, ele teve dúvida sobre o catálogo de cores, alguma coisa assim, ele me ligou falando exatamente o que ele falou e ele fez, então para mim isso daí, a humildade, você não tem certeza: “Vou perguntar!”, isso é marcante para mim no Paulo. E é um cara que tem um futuro pela frente. Tem uma equipe competente, ele já tem o respeito das pessoas, ele tem que continuar o que o Nelson Findeiss fez, deixar a Tetra Pak crescer cada vez mais e sustentar esse crescimento, O Paulo é um cara que é visionário também, se deu bem fora da Tetra Pak do Brasil, foi ser presidente da Tetra Pak no Canadá, depois saiu, foi para a Itália, quer dizer, ele tem uma carreira brilhante!
P/1 – Walter, o slogan da Tetra Pak protege o que é bom, o que é bom para você?
R – Para mim, a minha família é bom, em primeiro lugar, meu emprego é bom e assim, quando eu falo a minha família é a minha saúde, eu fico pensando se um dia eu não puder trabalhar, não poder dirigir o meu carro, o que vai ser da minha família? Então com isso eu fico um pouco com o pé atrás. Então proteção da Tetra Pak ela protege a minha família, eu sinto isso, eu consigo visualizar isso, é meio lúdico, mas a Tetra Pak protege que é bom. Quando ela fala que protege alimento, ela está protegendo o alimento da minha família também porque todo mês ela me paga o meu salário, então eu fecho com isso daí.
P/1 – Tem alguma questão que talvez nós não tenhamos abordado que você gostaria de colocar?
R – Não, foi tranqüilo.
P/1 – Você gostaria de deixar algum recado para a Tetra Pak, para os seus colegas, para quem estiver vendo esse vídeo?
R – É difícil falar assim de um recado específico, mas principalmente para o pessoal da Produção, que é o departamento que eu trabalho, eu diria que temos um desafio grande pela frente, de crescimento, enfim, de melhoria contínua, então é lógico que a tarefa não é fácil para ninguém, é difícil, mas queria que todo mundo contasse comigo. Se precisar, conte comigo, tá bom?
P/1 – Pra finalizar eu gostaria que você dissesse o que você achou de dar o seu depoimento para o projeto?
R – Eu achei que foi muito legal porque é uma maneira de eu contar toda a história, agora três pessoas sabem um pouco mais da minha vida, e com certeza outras pessoas vão saber e tal, então eu achei interessante, é uma experiência que eu nunca tinha passado. Interessante!
P/1 – Que bom que você gostou! Então em nome do Museu da Pessoa e da Tetra Pak, nós agradecemos o seu tempo e depoimento.
R – Obrigado!Recolher