Um século de desenvolvimento Industrial no Brasil: 100 anos da White Martins
Depoimento de Ingrid da Silva
Entrevistada por Isla Nakano e Consuelo Montero
Rio de Janeiro, 27 de outubro 2011
Entrevista WM_HV002
Realização Museu da Pessoa e White Martins
Transcrito por Lívia Q. Sutter
Revisado por...Continuar leitura
Um século de desenvolvimento Industrial no Brasil: 100 anos da White Martins
Depoimento de Ingrid da Silva
Entrevistada por Isla Nakano e Consuelo Montero
Rio de Janeiro, 27 de outubro 2011
Entrevista WM_HV002
Realização Museu da Pessoa e White Martins
Transcrito por Lívia Q. Sutter
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Para começar e deixar registrado eu queria que você falasse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Ingrid Ferreira da Silva, nasci no Rio de Janeiro mesmo, carioca da gema. Nasci em 16 de Julho de 1985.
P/1 – E qual eram os nomes dos seus pais?
R – Jorge Ferreira da Silva e Eliete Geralda Ferreira da Silva.
P/1 – E dos seus avôs?
R – Dos meus avôs, Maria Geralda e Calisto, Tancredo Silva e Anagir Silva.
P/1 – Me fala um pouquinho da atividade profissional deles, o que eles fazem...
R – O meu pai é comerciante. Desde que eu nasci ele tem essa atividade, trabalha com transportes, tem uma transportadora. A minha mãe é advogada, todo mundo fala: “ah, você puxou a mãe.” Acabei seguindo mesmo a profissão dela.
P/1 – E a origem da sua família? Tem alguém que veio de fora, ou algum outro estado do Brasil?
R – Pois é. A minha mãe nasceu no Espírito Santo. Na verdade a família dela veio de lá, mas ela veio muito pequena para o Rio de Janeiro. Não sei se ela tem muitas lembranças. Veio realmente muito pequena para cá e meu pai é de Campos dos Goytacazes, Estado do Rio. Conheceram-se na juventude, estão casados... Eu tenho 26... Estão casados há 28 anos, 29 se não me engano...
P/1 – Como se conheceram?
R – Trabalhavam na mesma empresa, isso nunca aconteceu comigo, quero deixar registrado, nunca me envolvi com ninguém do trabalho, mas eles se conheceram na empresa, eles trabalhavam na Transportadora São Geraldo, meu pai na parte de logística, minha mãe na parte de administração de pessoal e desde então eles estão juntos.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho uma irmã que está fazendo Direito também, estagiária. Acabou que todas as mulheres seguiram o mesmo caminho. Eu tenho uma prima que também está fazendo Direito, e todo mundo fala: “gente, vocês podem abrir um escritório de advocacia.” Mas é muito encantador. Eu gosto muito do que eu faço, acho muito bacana.
P/1 – Ingrid agora eu queria que você me contasse um pouquinho da sua infância. Que bairro você nasceu, como era a sua casa?
R – Que eu me lembre não é? Porque a gente já morou em três apartamentos. O primeiro era realmente muito pequeno, eu só tenho memória mesmo por fotos. Eu nasci na Tijuca, mas a gente morava em Olaria, depois a gente se mudou para outro apartamento também em Olaria, estudei lá num colégio chamado Pio XI que é um colégio bem tradicional no bairro. E quando eu tinha 10 anos nos mudamos aqui para a Barra onde moro desde então. Depois estudei no colégio Santa Mônica por uns dois aninhos e fui pro Colégio Santa Marcelina, no Alto da Boa Vista. Mas a minha infância que eu lembre... Lembro quando a minha irmã nasceu, a mais nova do que eu. Foi um choque, eu tinha três anos de idade. Me lembro indo com o meu pai ao hospital vê-la. Eu vi a minha mãe grávida, mas eu não tinha ideia de que seria uma pessoa que ficaria permanentemente na família... Eu vi: “caramba, um bebêzinho.” Nada mais foi igual, realmente. Então desde cedo também, ela já estava no núcleo familiar, lembro de uma casa de praia, a gente amava, era um condomínio, então milhões de crianças, a gente ficava largado, tinha piscina, foi muito feliz, foi muito... Muito boa a minha infância, realmente não tenho do que reclamar. Sempre fui espevitada, quebrei o braço três vezes, abri o supercílio, sempre fui meio despojada brincava com os meninos, enfim.
P/1 – E do que é que você gostava de brincar?
R – O que eu mais gostava de brincar era de Barbie. Amava, amava. Eu tinha a casa da Barbie, geladeira, fogão, cama... Ficávamos eu e minha irmã brincando. Eu fazia a minha irmã ser o Ken e eu tinha que ser a Barbie. E aí a gente brincava tardes, tardes e tardes. Acho que era o preferido.
P/1 – E como que eram as festas da sua família? Tem alguma que é mais comemorada?
R – Festa? Eu lembro que na minha infância a gente comemorava mais. Hoje em dia saímos para jantar. Não temos mais tantas festas, tantas comemorações. Mas eu me lembro de uma festa que eu tive. Acho que foi de 11 anos ou de 12 que coincidiu com a Copa de 1994, aí tenho que fazer as contas, talvez até menos do que dez anos. E aí foi uma festa de dois dias porque um dia foi o meu aniversário, foi churrasco a tarde inteira e no outro dia teve o jogo, um dos jogos da Copa. Então foi uma comemoração dupla e a festa parece que não acabou, sabe? Sempre foram festas grandes, meus pais sempre foram muito alegres, comemorando com pessoas mais próximas, um povo festivo, legal.
P/1 – Me conta um pouquinho das suas primeiras lembranças da escola... Você ia pra escola porque você gostava da escola, ou de comprar os materiais...
R – O que eu gostava muito que eu lembro, assim nitidamente, era a época de maternal ainda, eu era apaixonada pela minha professora, Tia Marisa. O nome dela eu lembro até hoje e eu adorava os dias comemorativos, vocês devem saber - quando a criança sai da creche toda fantasiada? Primeiro dia da primavera, saía com uma flor na cara, dia do soldado, dia do índio, eu adorava. Minha mãe já falava: “olha amanhã é dia do índio.” Eu já sabia que eu ia voltar pra casa toda fantasiada. Adorava. Adorava festa junina também que sempre tinha comemoração, quadrilha, coreografia, sempre gostei dessa coisa meio performance, assim. Na época... Pensando nas matérias, eu sempre gostei muito da parte de humanas, português, inglês, literatura, história, geografia, a parte de exatas eu gostava também, mas não tinha tanta facilidade, digamos assim. Então sempre me dava muito bem nessas matérias e gostava muito dos professores nas matérias de humanas. Então acho que é isso.
P/2 – Brincadeira, você se lembra de alguma?
R – Brincadeira, de educação física?
P/2 – É, no recreio.
R – No recreio? Pulava elástico. Nossa. A gente tinha campeonatos e campeonatos de elástico. Adorava, amava, tinha muito. E tinha uma brincadeira de roda também que eu não lembro o nome especificamente. Ficava todo mundo na roda e depois ficavam duas pessoas rodando muito, muito rápido, no centro até soltar. Era super sucesso na escola. Era isso e elástico. Pras meninas, né? Porque menino sempre era futebol de lata, uma brincadeira mais agressiva. Mas eu sempre adorei pular de elástico.
P/1 – E fora da escola, os seus amigos... O que é que você fazia, onde vocês passeavam?
R – Então, quando eu já tava aqui na Barra, engraçado que eu tenho contato... Sou muito amiga deles até hoje. Foi meio que final de infância, iniciozinho de adolescência, pré-adolescência. Eu brincava muito no Marina Clube, que tem aqui no Itanhangá e ia um bando, assim, umas dez, doze, pessoas. Todos colegas do colégio Santa Mônica. A gente brincava muito de polícia e ladrão, pique esconde e tinha uma boatezinha no clube muito micra, mas que a gente amava, a gente se achava, assim, os adultos. Brincava durante o dia e a noite tomava banho se arrumava e ia pra boatezinha. Sabe? Era muito legal também, cresci ali assim, a gente adorava.
P/1 – E aí quando você foi crescendo você já foi pensando o que você queria da sua vida?
R – É, eu sempre fui nesse ponto muito precoce, muito... Eu sou uma pessoa muito preocupada com tudo e sempre pensei no que eu podia fazer que eu gostasse, mas que também viabilizasse o estilo de vida que eu sempre pensei fosse adequado, sempre almejei. Na verdade, eu queria alguma coisa a ver com artes, artes cênicas ou artes plásticas, mas eu nunca desenvolvi esse lado, realmente nunca achei que eu tivesse esse talento, digamos assim. E como eu sempre gostei dessa parte de humanas e via minha mãe trabalhando com Direito, ia muito aos tribunais, de vez em quando ela ia fazer sustentação oral, quando dava né? Quando eu não estava na escola eu ia assistir, sempre me encantaram aqueles códigos, aqueles livros enormes, sabe? Ou então alguém chegar, perguntar alguma coisa, eu não ter a menor ideia e minha mãe orientar, eu sempre achei muito fascinante. Então para mim Direito foi meio que uma escolha natural. Eu pensava assim: “quais são as minhas outras opções?” Porque o Direito eu já sabia que era uma das opções. “Quais são minhas outras opções?” E aí eu não achei que eram tão boas quanto a advocacia e acabei escolhendo mesmo Direito.
P/1 – E seu pai e a sua mãe queriam que você escolhesse outra carreira? Tinham alguma preferência?
R – Eles preferiam não interferir tanto assim, nesse ponto foram bem bacanas. Acho que minha mãe gostou. Mas eles não interferiram, me deixaram bem livre para escolher. A gente vê muito, não é? O pessoal tentando influenciar, mas não. Nesse ponto eles me deixaram bem livres.
P/1 – Como foi o processo de entrada na faculdade?
R – O ensino médio no Santa Marcelina foi bastante puxado.Toda segunda, quarta e sexta eu ficava integral na escola. Sendo que sexta-feira na parte da tarde sempre foi prova. Eu estudava de manhã. As segundas, quartas e sextas eu ficava até... Das sete e trinta até as cinco da tarde. Foi muito intensivo, fiquei três anos nesse esquema, então eu estava bastante preparada e bastante exausta pra te ser sincera. Eu prestei Direito e passei em duas faculdades públicas, passei na UERJ e na UFRJ, acabei optando pela UFRJ. Já tinha outros amigos que estavam estudando lá, do próprio Santa Marcelina. Sempre simpatizei com a filosofia da faculdade, sempre gostei e optei pela UFRJ. Mas foi muito estressante, confesso que eu não fiz cursinho para vestibular até porque eu não tinha tempo pra isso. Ficava praticamente na escola em tempo integral, mas foi bom também passei logo de primeira. Mas eu fiz o vestibular pensando assim: “gente, se eu não passar vou ficar um ano sem fazer nada pra depois tentar.” Porque estava pirando, sabe? Mas deu tudo certo graças a Deus.
P/2 – Quando você falou: “filosofia da faculdade.” O que significava para você, gostar da filosofia da faculdade?
R – A UFRJ... As minhas únicas opções sempre foram as universidades públicas. As bem conceituadas no Rio são a UFRJ e a UERJ. Nada contra a UERJ, por favor, mas eu acho que é um tipo de faculdade que é muito assim, by the book, que é aquela coisa muito literal, muito, o que está escrito no código. É excelente para pessoas que pensam em fazer, por exemplo, concurso público, entendeu? Que é aquela coisa meio que preparatoriozinho de concurso público. A UFRJ, na minha humilde percepção expande um pouquinho mais a mente dos alunos e talvez por não ser tão bem estruturada como é a UERJ, força o aluno a ser proativo. Me tornei um tanto autodidata no início da faculdade. A estrutura organizacional da Faculdade de Direito não estava tão bacana, então a qualidade dos professores, a gente tinha que correr atrás e isso para mim foi ótimo, sempre me estimulou muito. Era o que eu queria. E depois, claro, mudou a estrutura, ficou melhor ainda, nesse ponto a UFRJ pra mim foi muito bom.
P/1 – Me conta um pouquinho, depois de todo esse período estressante de passar na faculdade, como foram os seus primeiros anos?
R – Foram ótimos. Muito diferente do estilo de vida que eu levava na escola, não é? Estudei num colégio católico, com freiras. Você saía do banheiro tinha uma freira ali do seu lado: “Vai pra sala.” “Vai não sei o que.” Então a gente se sente um pouco filha delas também. E na universidade é aquela coisa, cada um por si e Deus por todos. E um estilo também, a questão da filosofia. Você não quer assistir? Tudo bem vai para o corredor, na biblioteca, fica na cantina, vai jogar baralho. Isso para mim foi: “Uou, quanta liberdade.” Eu senti muito isso e gostei também. Como eu sempre fui muito regrada não me desviou, mas é bom você saber que você tem opções, você não está ali que nem um cabritinho. Acho que foi isso. Tive essa primeira impressão que foi boa. A questão da estrutura eu levei um susto, porque no meu colégio era assim – eu olhava para o chão via meu reflexo. Na universidade pública você tem que tirar pó da carteira pra sentar pra assistir aula. É uma coisa mais crítica nesse sentido. Mas foi bacana, é bom você ter contato com vários tipos de pessoas, outro tipo de infraestrutura, conhecer outras realidades. A UFRJ fica na Moncorvo Filho, que é bem próximo do Hospital Salgado Filho. Então você vê pessoas carentes, coisas que eu sinceramente não tinha tanto contato aqui na Barra ou na escola que eu estudava. Então você via na rua aquelas pessoas super doentes indo para um hospital público, enfim, pessoas que precisavam. Aquilo vai te aguçando aquele senso de justiça que quem faz Direito costuma ter aguçado. Aquela vontade de ajudar de alguma forma. Uma coisa que eu achei muito legal e que eu fiz durante alguns semestres foi o escritório modelo da faculdade. A gente atendia pessoas que não tem condições de pagar por honorários advocatícios. Então eu me sentia muito bem executando esse tipo de trabalho, via gente de tudo quanto era tipo, com várias necessidades e era muito bom quando você via que você fazia uma diferença. Às vezes até num aspecto psicológico mesmo. Uma pessoa que para, te ouve, te dá uma atenção, tenta te ajudar. Só de fazer isso, você já ajuda a pessoa, sei lá, 70% do problema, sabe? Sempre achei muito bom.
P/1 – Você lembra de alguns casos dessa época que te marcaram mais?
R – Olha teve uma pessoa... Engraçado, eu tenho uma amiga, a Lia, ela trabalha na Shell e a gente comenta que dava vontade de chorar porque a pessoa morava com um cara e tinha se separado, morava com uma pessoa que era até um pouco agressiva, ela queria se separar, mas ela não tinha onde morar ela queria saber se ela tinha o direito de ficar com a casa, eles tinham um filho em comum, ela sentia medo do cara, do que poderia fazer com ela, do que poderia fazer com o filho dela... Então assim, são pontos muito, muito críticos, sabe? Direito de família, que eu até sempre fui meio assim por que eu sempre fui muito emotiva, então eu me envolvia muito. E sempre que ela vinha a gente tentava: “não, olha você tem que ir à Defensoria Pública, você vai ao Tribunal de Justiça, a gente pode até peticionar, mas o ideal seria que você tivesse alguém na Defensoria que cuidasse.” Tinha semestre que a gente estava no escritório modelo, mas tinha semestre que não, a gente poderia estar estagiando... Então não teria uma continuidade no caso dela, e seria bom que ela tivesse um defensor público que cuidasse. Então a gente dava toda a orientação de onde ir, o que fazer e toda vez que ela ia e voltava a gente: “Ai meu Deus. Prepara o lenço que ela está chegando.” É uma história de vida muito triste, e muito diferente da minha realidade familiar, acho que é isso que me marcou mais.
P/2 – O escritório modelo é como um estágio?
P/1 – O escritório modelo é da faculdade, você pode se voluntariar desde cedo e chega uma época da faculdade que ele se torna obrigatório. Você pode pedir licença desse escritório modelo se você estiver estagiando num local que seja conveniado ao OAB. As horas que você estaria no escritório modelo são compensadas pelas horas de estágio em um escritório, em uma empresa. Então eu fiquei lá alguns semestres. Não fiquei do início ao fim porque eu estagiei em alguns outros lugares também.
P/1 – Então agora me conta uma coisa, qual foi o seu primeiro estágio?
R – Bom meu primeiro estágio foi num escritório chamado Araripe & Associados. Eles trabalham com propriedade industrial, com marcas, patente. Eu comecei lá na parte administrativa que são os pedidos de registro, proposições para viabilidade das marcas no INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Todo mundo que tem uma marca registrada ou uma patente concedida, tem que entrar através desse Instituto. Comecei lá mais relacionada a essa parte administrativa mesmo. Depois fui para a área do contencioso que é o litígio judicial, a briga judicial. Alguém inventa uma marca muito parecida com a sua e você quer que ela perca o direito de utilizar essa marca. Você pode entrar na justiça para tentar uma determinação judicial para que ela não o faça. Eu adorei, fiquei lá um ano e pouquinho. Tive a oportunidade de trabalhar com três advogadas, que são muito bem conceituadas no mercado, me ensinaram muito. Depois o escritório acabou mudando para Petrópolis. Aqui era a sede, ficou só uma filial. Eu queria dar uma diversificada no meu conhecimento jurídico, e acabei optando por outro estágio. Fui trabalhar num outro local chamado Koury Lopes Advogados, que depois virou Doria, Jacobina e Rosado Advogados Associados. É sempre nome e sobrenome, aquela coisa bem...
P/2 – Cury Lopes?
R – Koury Lopes. É um escritório bem famoso em São Paulo. E lá eu comecei a trabalhar na área tributária e civil. Dando suporte a empresas, focada também na parte de energia elétrica. Eu era responsável pelo contencioso, desde escrever as peças, os recursos, as petições iniciais até a rotina forense mesmo: ir ao Fórum tirar cópias, fazer carga de processo. Foi ótimo, fiquei lá também creio que um ano e pouquinho, eu já estava no final da faculdade. Saí para terminar minha monografia, fazer a prova da OAB, já tinha passado na primeira fase, queria estudar melhor para a segunda. Foi ótimo. Tem gente que eu falo até hoje, contatos até hoje, de lá.
P/1 – Agora eu queria te perguntar. Desses estágios me conta um pouquinho, como era seu dia a dia?
R – Eu saía da Barra, ia para o centro da cidade de ônibus. Duas horas para ir e duas horas para voltar. Ia para a faculdade, ficava parte da manhã tendo aula, assim que terminava eu ia para a cidade. A faculdade fica perto da Central do Brasil, um pouco afastada. Pegava o metrô, ia pra lá, comia um negócio rapidinho e ia pro escritório, e ali eu via qual ia ser a minha rotina do dia. Às vezes tem algum prazo, algum recurso... Eu sentava, fazia a petição, dava. Trabalhava mais fortemente com dois advogados da equipe tributária, então acabava atendendo eles e fazia o que tinha de fazer de rua mesmo, de fórum, seja no TRT, que tinha alguma coisa de trabalhista também, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio, e tinha também o da Justiça Federal. Isso assim, em cada lugar do centro da cidade, então andava muito. Um fica na Avenida Rio Branco, outro fica na Avenida Venezuela perto da Praça Mauá, outro fica perto da Cinelândia na rua do Lavradio, dentro da Lapa, vocês devem conhecer. Então a rotina forense era bastante puxada até porque tudo funciona até as cinco ou seis horas da tarde. Eu fazia sozinha a parte do contencioso. Os outros estagiários eram mais novos, não tinham aquela carteirinha de estagiários que permite pegar os processos, tirar cópia, essas coisas. Então era bem corrido. Minha rotina era bem corrida.
P/1 – E pensando assim, nessas suas experiências de estágio, sobre o escritório modelo e nas matérias que você teve na sua faculdade, você já tinha uma ideia de qual área que você ia seguir, você tinha alguma paixão?
R – Eu sempre gostei muito de Direito. Não to mentindo pra você, eu acho fascinante cada área. Eu sempre tive uma tendência mais pra parte privada, não tanto direito público, direito administrativo, mas sempre gostei também, sempre fui apaixonada por propriedade industrial, parte civil mesmo, tributário também sempre gostei. ”Ah qual que você gosta mais?” Eu não sei te dizer assim, eu gosto muito de tudo, eu acho tudo muito fascinante, é muito interessante sabe?
P/2 – É, mas qual que teria sido o título, qual foi o título da sua monografia?
R – Então, a minha monografia eu fiz em propriedade industrial, eu fiz sobre patentes farmacêuticas. Falei sobre o contencioso judicial que o Brasil teve na OMC na quebra de patentes, vocês devem lembrar, na época do genérico, do Serra, a quebra de patentes. Eu estudei um pouquinho do tabuleiro internacional de como que isso se deu o que é que aconteceu, a estratégia política do Brasil, como que patente é visto mundialmente, a diferença de legislação pro Brasil, para outros países. Eu acabei ficando nessa parte de propriedade industrial que eu realmente gosto bastante.
P/2 – Mas qual foi o título da sua monografia?
R – É eu busquei, eu busquei uma coisa que tivesse uma relevância social, porque eu acho que o Direito não só serve como controle social, mas para servir o cidadão também. Então eu queria alguma coisa com alguma relevância social, um tema de fato importante e como eu sempre gostei dessa parte de propriedade industrial eu achei que seria um tema bem bacana. Mas eu fiquei confusa, tinha outras coisas na cabeça, tinha um ótimo professor na minha faculdade que acabou me orientando o professor João Marcelo Assafin, ele tem escritório, então acabou que as coisas convergiram pra isso.
P/1 – E aí como que foi? Você prestou a OAB, como foi trabalhar? Você já estava encaminhada?
R – Estava querendo ser efetivada nesse último escritório, eu estava me matando lá, a gente tinha combinado quando entrei, um ano e pouco atrás, uma coisa. Depois que eles viram que eu me formei, e que eu já tinha passado na OAB, eles chegaram com outra proposta que enfim, para mim não foi interessante. Eles mudaram completamente a proposta inicial então eu não achei interessante continuar lá. Apesar de gostar muito das pessoas e do trabalho eu falei: “não, acho que eu consigo alguma coisa melhor.” Sempre fui muito focada, persistente: “não, não é isso, dessa forma eu não quero.” E quando eu fiz a OAB, eu podia fazer seis meses antes, agora eu não sei se ainda está assim, eu acho que mudou. Agora a OAB está unificada. Mas podia fazer seis meses antes de me formar. Se passasse na prova ainda tinha seis meses pra mostrar o meu diploma. Eu teria duas chances. Falei: “eu vou fazer seis meses antes se eu não passar eu faço quando me formar.” Fiz, deu super certo de primeira e aí quando eu fui conversar eles queriam mudar a história e eu falei: “não, vou focar na minha monografia.” Porque eu ainda tinha que entregar a minha monografia. Fiquei uns dois meses fazendo monografia, entreguei, deu tudo certo graças a Deus. Logo depois de formada comecei a procurar trabalho, fiz alguns programas de trainee. Tem inclusive uma curiosidade. Quando estava procurando estágio tentei o programa de estágios da White. Eu conhecia a empresa, sempre achei super fascinante, interessante, sabe? Aquela coisa de multinacional e saber que eles tinham vindo para a Barra... Então eu me inscrevi no banco de dados da White pela internet e fui chamada duas vezes pra participar de dois processos seletivos. Um para a Diretoria Tributária e um para a Diretoria Civil. Não me quiseram, fiquei super decepcionada. Fiquei até a fase final, entraram duas pessoas da minha sala, eu fiquei muito decepcionada, falei: ”gente, eu não acredito.” Eu fui até o final, fiz entrevista, conhecia na época a gerente do tributário, tinha sido entrevistada por uma advogada que virou super minha amiga depois que eu entrei, era sênior, depois ela virou especialista. Mas acabou não rolando aí eu falei assim: “caramba como assim?” Não me dou bem com rejeição, falei: “cara um dia eu ainda vou trabalhar nessa empresa.” Mas cada coisa tem seu tempo, não é? Acabei indo para a Koury Lopes, fiquei lá esse tempo todo, terminei, me formei, saí de lá, comecei a procurar emprego, fazer alguns trabalhos de trainee. Só que logo surgiu a oportunidade de trabalhar num sindicato, que entrou em contato comigo, recebeu meu currículo, o SINTTEL, que é o Sindicato de Trabalhadores de Telecomunicações do Rio. Fiquei lá alguns meses, mas nunca desistindo da White. Sempre atualizando meu currículo. Aí eu soube que houve uma reestruturação no jurídico e recebi um telefonema para uma entrevista do Gustavo Costa que é Diretor Executivo do Jurídico. E acho que ele viu nos meus olhos, aquela vontade, aquela “me dá uma chance, confia em mim.” E sou muito grata a ele pela oportunidade. Eu estava lá há alguns meses no sindicato, uns três, quatro meses e logo surgiu a oportunidade, a vaga na White. E claro, acabei indo e estou lá desde então. Há três anos e pouco. Até um mês, dois meses atrás, eu estava no jurídico. Agora eu mudei de banda, fui para tributário.
P/1 – Me diz uma coisa Ingrid. Quando você fez o primeiro processo de seleção que você não passou, você lembra como foi o processo? Com quem que você conversou?
R – Lembro, eu lembro tudo.
P/1 – Conta um pouquinho.
R – Eu lembro que a gente teve... Isso foi na época da Mayrink Veiga, ainda. Quando eu fiz o meu primeiro programa de estágio, acho que eles ainda estavam com alguns andares, estavam se mudando para a Barra. Teve uma dinâmica de grupo e uma prova comportamental de avaliação psicológica, e de inglês. Aí eu: “acho que fui bem na dinâmica também, com certeza vai rolar a próxima fase.” Teve outra fase a de entrevistas. Fiz uma entrevista com uma advogada, ela já era especialista, a Renata Dorneles, hoje ela não está mais na empresa. Ela me entrevistou, falou que gostou muito de mim. Fui entrevistada pela gerente na época, do departamento tributário, a Daniela Inglês. Ficou eu e mais uma pessoa, a Priscila, que era da minha turma da faculdade. “Ou eu ou ela, estamos bem encaminhadas vai dar certo.” Escolheram a Priscila, fiquei decepcionadíssima. Passaram-se alguns meses e teve seleção na Diretoria Jurídica para estágio e aí eles me ligaram: “o pessoal gostou muito de você quando fizeram sua avaliação no tributário, você não quer tentar pra área civil?” E eu: “vamos lá.” Foi uma dinâmica de grupo diferente porque tinha alguns advogados assistindo. Quando eu fiz para a tributária não tinha. E aí eu lembro perfeitamente quem estava lá. A Daniela Costa que veio a ser minha chefe, uns três ou quatro advogados, umas duas pessoas de recursos humanos. Fizeram um debate, lado A, lado B, uma questão jurídica complexa e tínhamos que apresentar propostas de solução do problema. Debater uma ideia do outro. Porque daria certo, porque não daria certo e vice e versa. Entrou outra pessoa que não era da minha sala, mas era da minha faculdade e eu: “gente eu estou batendo na trave, mas tudo bem. Um dia eu entro como contratada.” E foi o que acabou acontecendo no final das contas. Em 2008 entrei como advogada Júnior na empresa. Foi isso, mas eu sou persistente.
P/2 – Você tinha tempo de se divertir?
R – Tempo?
P/2 – Não se divertia com os amigos? Ou era só estudo?
R – Durante a semana sempre foi muito complicado. Tanto que eu fazia academia, depois que comecei a estagiar parei. O ritmo de escritório de advocacia é muito puxado, você fica enquanto você tem trabalho. E como eu voltava do centro para a Barra de ônibus, eu chegava muito tarde, porque são duas horas para ir e duas horas para voltar. Então, era mais final de semana mesmo. Curtia muito praia, sempre morei perto da praia. Mas foi uma época difícil, você trabalhar e estudar é complicado.
P/1 – Então vamos lá, você entrou na área jurídica na White Martins?
R – Isso.
P/1 – Me conta um pouquinho, você lembra o seu primeiro dia de trabalho?
R – Lembro claro, eu entrei dia 13 de agosto de 2008 na empresa. Cheguei às sete e meia da manhã. Fiquei esperando. Eu tinha que conversar com a minha chefe Daniela Costa. Ela se atrasou, me ligou e falou: “Ingrid não entra agora no início, tira esses dias e entra a partir do dia 13 porque eu vou tirar uns dias de férias. Então você vai ficar sem ter muito direcionamento.” Tirar esses dias de descanso para mim foi ótimo porque eu já ia sair embalada de um trabalho para o outro. Tirei esses 12 dias para relaxar. Quando cheguei ela me explicou a estrutura, a divisão por área de negócios e por temas jurídicos. Por exemplo, a Dani sempre ficou com a área de negócios: a parte de contratos, a área de gás natural, plantas on site, o contencioso que é o litígio judicial trabalhista, diferente do outro gerente, Paulo Carpinter que ficava com as demais áreas, criminal, ambiental, direito econômico. Ela foi me explicando toda a parte estrutural da empresa, enfim, fui apresentada às pessoas, todo mundo muito receptivo... Inclusive uma das advogadas que tinha me entrevistado quando eu estava pretendendo ser estagiária, a Renatinha disse: “Lembro de você, eu gostei muito de você, mas quem deu a martelada final não fui eu, foi outra pessoa.” E foi muito bacana, o clima lá é muito legal, é muito bom. Acho que no meu primeiro dia foi basicamente isso.
P/1 – Quais foram as suas primeiras funções, logo no comecinho?
R – A Dani estava precisando de uma ajuda na parte trabalhista da empresa que sempre foi controlada pela área de Recursos Humanos. Depois passou a ser controlada pelo Jurídico. A audiência, o conhecimento, as estratégias de defesa, percebeu-se que o ideal era que isso fosse coordenado pelo Jurídico e assim está sendo desde então. Então eu entrei e ela: “Estou com um gap aqui e queria que você me ajudasse a arrumar a casa.” Era preciso rastrear todo passivo, ver o que era contingência crítica, quais eram os processos de valores mais significativos, o que teria de ser reportado à nossa controladora, a Praxair, o que não valia a pena continuar brigando, o que era preciso cortar fora, encerrar. Foi mas uma questão de estruturar toda uma área. Dei um apoio grande para ela nessa parte. Alguns meses depois surgiu a necessidade de trabalho também na parte de contratos. Dei um aporte para o pessoal da área de suprimentos da empresa, que é quem compra o que a White precisa. Dei suporte ao pessoal de engenharia, pessoal que fazia compras diretas e indiretas. Em seguida comecei a trabalhar com o pessoal de negócios também, pessoal de gás natural, de plantas on site. Lá na White é assim, se você tem responsabilidade, dá conta do recado, mais trabalho você vai ter, mais responsabilidade eles vão te dar e isso é uma coisa que eu sempre gostei muito de lá. Não tem essa coisa “ah, você é muito novinha pra fazer isso.” “Ah você é muito...“ Não. Se eles acham que você dá conta do recado e você pede... Eles te dão, e claro sempre com uma supervisão, uma gerência muito próxima. Não existe uma limitação, digamos assim, do que você pode fazer como atividade. Se você mostrar que dá conta do recado, mais e mais você vai fazer. Acho essencial, muito bom para quem quer aprender, não é?
P/1 – Você lembra de alguns processos que você pegou?
R – Teve um caso que foi assim... Eu entrei em agosto, esse caso estourou em novembro ou em dezembro, era um processo ação coletiva, enfim, não posso entrar muito em detalhes, mas era uma ação coletiva que a gente tinha em São Paulo. A gente estava com um passivo milionário. Foi uma época que a Daniela tinha tirado uns dias, ela não estava na empresa e chegou essa informação de um processo gigantesco. A gente está falando de uns vinte e poucos milhões. Tínhamos que provisionar isso até chegar ao denominador comum de quanto efetivamente corríamos o risco de perder ou não. Quais eram os detalhes do processo? Por que não haviam sido reportados antes? Quem sabe, quem viu? Era um processo de 1991. Você imagina, eu com dois três meses de casa, tendo que levantar toda informação. Foi muito tenso. E todas as contas. Porque eles venceram e ainda tem o índice de juros, correção monetária, multa. Para se chegar a um valor real do passivo, foi muito tenso. Eu lembro que eu chegava às oito e saía às onze, onze e meia da noite. Sozinha porque a Dani não estava e só eu fazia a parte trabalhista até então. Esse me marcou, é o processo do ABC.
P/1 – Ingrid me conta um pouquinho, nessa parte trabalhista, quais são os processos mais comuns de uma empresa que atua com gás em todos os setores?
R – Acontecem muitos pedidos de adicional, de periculosidade e insalubridade, porque tem muita fábrica, muita usina. Só que a gente tem uma equipe forte, uma diretoria forte de SSMA, que faz periodicamente uma análise, um estudo, tanto de avaliação, os termos técnicos eu não vou saber te dizer especificamente, de avaliação ambiental. Se realmente são periculosos, se realmente são insalubres. Os lugares que a SSMA diz que é pago o adicional, os lugares que não é. A questão de segurança é sempre muito importante na White Martins e na Praxair. É fundamental, eu diria. Então todo o famoso equipamento de proteção individual, o famoso EPI, que a empresa pode fornecer para o empregado, ela fornece e o uso é obrigatório. Então muitas das vezes o que poderia ocasionar um local periculoso ou insalubre é neutralizado pelos equipamentos de proteção individual que os empregados usam. Para ruído existe o fone que isola o ruído, capacete, enfim. Só que às vezes o empregado não entende isso, ele acha que ele faz juízo a uma coisa que ele não faz. Eu acho que seria isso, acho que hora extra, também tem.
P/2 – SSMA é Segurança...?
R – Saúde Segurança e Meio Ambiente.
P/2 – Esse é o significado da sigla SSMA?
R – Isso. Trabalhei muito na parte de contratos também. E nunca quis fazer só uma coisa, para mim eu acho importante a questão do aprendizado. Então eu conversei com a Dani: “Dani eu não quero fazer só o trabalhista, eu não quero fazer só o contencioso.” Eu fazia as duas coisas. Sempre apoiei o RH e as lideranças quando tinha algum questionamento de matéria trabalhista e a parte do contencioso que era cuidar dos processos judiciais como um todo. Ela: “Não, claro, eu acho que você não tem que ficar presa nisso mesmo.” Eu fazia também a parte de contratos com o pessoal da área de negócios que eu adorava e a parte de suprimentos da empresa, a logística internacional e a venda a partir de comércio exterior. A parte do pessoal de engenharia. Então era muito legal porque eu acabava sabendo dos projetos da empresa. E tem toda uma contratação que a gente tem que fazer para erguer a planta, abastecer o cliente, então é muito legal. Você acaba conhecendo bastante da operação da empresa. Acho muito interessante também.
P/1 – Vamos só voltar um pouquinho. Você lembra algum processo que poderia acontecer naquela época e que hoje não acontece mais?
R – Existe uma coisa que a White tem de muito bacana, é um sistema chamado SART. O significado da sigla eu vou ficar te devendo, mas é alguma coisa relativa ao Serviço de Atendimento em Relações Trabalhistas, ou algo do tipo. Depois eu posso ver melhor para você o nome, que é o seguinte. Quando alguém sai da empresa ou algum empregado acha que tem algum direito trabalhista a receber, ele pode acionar o SART ao invés de ir para a Justiça tentar resolver o problema. Isso é analisado pelo Jurídico e pelo RH. Começamos a trabalhar fortemente na divulgação desse sistema. Encorajar as pessoas a se utilizarem dele. Muita coisa que poderia acabar no Judiciário acaba antes, acaba na parte administrativa mesmo. A gente olha, verifica se o pleito procede, se não procede. Eu fazia isso pessoalmente junto com a Daniela. O Gustavo que era o diretor avaliava também, dava o “de acordo”, o que tinha que ser pago. É uma coisa que funciona muito bem. As questões das horas extras também, a questão do apoio ao banco de horas. Os pleitos judiciais ou até de pagamento a mais de hora extra. Deixa eu ver se tem mais alguma coisa... Eram coisas que aconteciam e hoje não tem tanta incidência mais.
P/1 – E quando você estava nas outras áreas trabalhistas, você já começou a participar das outras áreas?
R - É, na verdade, sempre participei de muita coisa da gerência da Daniela. Eram duas pessoas, depois chegou mais uma terceira porque ela só embarcou em mais uma área. A chamada área de cobranças especiais correspondente a valores mais significativos, processos que a gente aciona para receber, então eu sempre dei muito apoio pra ela em tudo. Desde o início fiz também a parte de contratos, de suprimentos, de negócios. E é claro cada vez mais a gente vai pegando alguns clientes mais importantes, uns casos mais críticos, contratos maiores, isso faz parte também do trabalho de quem está chegando numa equipe. Eu cheguei como Júnior, então eu trabalhava também na parte de contratos e renovação de certidões são importantes para a empresa participar de licitações. Por exemplo, a certidão de regularidade do FGTS, umas coisas burocráticas assim, que a empresa tem que ter como documento para poder participar de licitações que são 70 ou 60% do negócio da empresa, fornecimento para hospitais públicos, empresas públicas, tudo isso é via licitação.
P/1 – Então como funciona esse processo?
R – Ah! É um parto.
P/1 – Não precisa descrever, só contar alguns que você acompanhou.
R – O que acontece: certidão de regularidade do FGTS por exemplo. Tem que ser renovada mensalmente e isso quem te dá, quem gera é a Caixa Econômica Federal. Uma sociedade de economia mista, mas tem um espírito de empresa pública. Então assim, a nossa celeridade, não é a mesma celeridade da Caixa. Se eu tenho uma licitação para amanhã, o cara não entende que eu preciso da certidão para o processo licitatório hoje. Já houve casos em que a gente comprovou o recolhimento, ou seja, a empresa já tinha pago aquilo, aquele débito não existe, mas por conta de um sistema equivocado da Caixa o débito continuava lá. E aquela pendência impedia a renovação da certidão. E a gente ter que contactar o Departamento Jurídico, o nosso gerente de conta na Caixa, ter que mover mundos e fundos, ter que preparar a documentação. A gente já chegou a comprovar o pagamento de débitos e a Caixa simplesmente se negando a fornecer a certidão. Existe uma burocracia muito, muito grande com os órgãos públicos e para conseguir documentos que são de direito da empresa. A gente não está pedindo nada demais, acho que era bem complicado no início e depois o procedimento foi acertando. Pelo fato da empresa ser uma multinacional, ter um grande porte, as pessoas lá dentro da empresa acabam entendendo nossas necessidades e acabam dando um apoio para acelerar a inovação da certidão.
P/1 – E como foi se desenrolando a sua trajetória dentro da White?
R – Comecei como advogada Junior trabalhando com a Daniela Costa. Sempre tive muita vontade de crescer, para mim o céu é o limite. O Departamento Jurídico é bem estruturado, bem estratificado, tem muitos advogados e eu nunca tive medo de trabalhar para enfim, crescer, mostrar, ser reconhecida. Sempre peguei alguns desafios digamos grandes dentro da área dela. A gente sempre teve auditoria, e as demais áreas da empresa também. Auditoria interna e auditoria externa. Existe um departamento de auditoria, aquele cara que fica lá para apontar os seus errinhos. E a diretoria externa que é feita pela Price. Desde que eu entrei é a Price. A gente sempre teve alguns pontos que nunca caíam. Tínhamos a auditoria, melhorávamos em alguns pontos, e os outros, aqueles que estavam sempre ali e não caiam. A Daniela me deu o desafio, falou assim: ”olha precisamos abaixar esse ponto.” Era uma conta específica da White Martins de depósitos judiciais trabalhistas que não eram atualizados há anos. Tive apoio de algumas pessoas, mas tive que tocar meio que sozinha, rever processos dos anos 80, comprovar o fim desses processos para levantar o valor na Caixa Econômica, fazer um lançamento contábil correto daquilo ali. Então é todo um rastreamento de processo desde, sei lá, 80 até hoje para informar o que é que estava de fato encerrado, o que era para sair daquela conta, o que estava ativo. Demorei um ano e pouco para fazer esse trabalho, tínhamos que peticionar em juízo, pedir o arquivamento dos processos para poder tirar cópia dos alvarás, para comprovar para a contabilidade e para a auditoria que esses processos de fato estavam encerrados porque só falar não era suficiente, tinha que mostrar a documentação. Foi um trabalho muito exaustivo, mas muito bacana porque eu acabei ganhando da empresa um prêmio especial de reconhecimento chamado PER, depois que eu terminei esse trabalho. A empresa diminuiu dessa conta uns 18, 19 milhões de reais. Fizemos todo um trabalho de pegar documentação, dar suporte para comprovar que aquilo que estava ali há anos tinha que sair da conta. Então eu queria me matar, não é? Falei: “gente eu não vou ficar um ano fazendo isso.” Tinha as outras atividades... Porque as minhas outras atividades não pararam, eu tinha que dar prioridade a isso e mais outras coisas, mas foi bem bacana o reconhecimento que veio depois. E como é que funciona? A diretoria indica, mostra a importância do trabalho, o impacto dentro da empresa. Existe um comitê que julga os trabalhos submetidos e aí tem um vencedor. Saem, sei lá, três, quatro pessoas por trimestre. Então puxa, tem tanto trabalho bom, tanta coisa bacana que as pessoas fazem lá dentro da White tanta coisa significativa. Realmente me senti muito especial quando eu recebi esse prêmio, achei muito bacana.
P/1 – E além desse prêmio tem outros prêmios?
R – Existe uma política de valorização do empregado, políticas específicas de Recursos Humanos. Tem o PER que é esse prêmio especial de reconhecimento. Dependendo do seu cargo, seu nível, existe a possibilidade de receber ações da empresa. Existem algumas coisas. Tem a gratificação por tempo de serviço. Como você já deve ter reparado tem gente que já está a 20, 25, 30 anos. Sempre que tem uma data bem significativa a White dá um prêmio, o nome da pessoa sai na revista, ela recebe uma plaquinha com o nome gravado. É muito bacana. Existem alguns trabalhos, alguns projetos que podem ser submetidos ao Prêmio Destaque. O que é o Prêmio Destaque? Todo ano se faz uma reunião anual de negócios onde são entregues os prêmios. Se você está numa equipe, às vezes você é convidado a ir para Angra, lá no Club Med para receber o prêmio. O pessoal é chique. É bem bacana. Esse ainda eu não recebi, vou receber e... Pretendo pelo menos. Dependendo do cargo da pessoa existe remuneração variável, para o pessoal que trabalha com vendas, com cobrança, tem bastante coisa. Mas vamos lá, falando da minha carreira. Então eu comecei como Júnior, sempre buscando mais em meus trabalhos, mostrando meu senso de responsabilidade, minha vontade de crescer dentro da empresa. Em alguns departamentos da empresa existem os Comitês de Desenvolvimento Profissional e Pessoal para avaliar como está o desenvolvimento profissional da pessoa e a Dani sempre vem me falar: “Oh, você ficou em primeiro lugar.” “Você está bem no ranking, isso é legal porque a gente pode conseguir alguns cursos interessantes para seu desenvolvimento profissional.” E eu sempre mostrando a minha vontade assim, de crescer. Fiquei dois anos acho como Júnior, e falei: “Daniela, e minha promoção? Tem que sair, vai lá.” Depois de todos esses trabalhos que eu estava te falando chegou meu reconhecimento e acabei virando Pleno. Estava como Pleno havia um ano, queria ser promovida a Sênior. Falei: “o meu tipo de trabalho agora já é Sênior, meu senso de responsabilidade aumentou, eu estou fazendo muito mais coisa.” Porque lá é o que eu te falei, se você dá conta do recado, você vai ter. E ela: “Não, vou ver, não sei o que, não sei o que lá.” E aí surgiu uma oportunidade de trabalho na Diretoria Tributária. Existe um programa dentro da empresa chamado “Oportunidade para Todos”, não sei se você já...
P/1 – Se você puder contar um pouquinho pra gente.
R – Agora até mudou o nome, mas a dinâmica é mais ou menos a mesma, agora a denominação é “Transformar em Ação.” O que acontece: antes de abrir as vagas externas para pessoas que não são da empresa, é aberto vaga internamente. Então periodicamente saem alguns comunicados, entram na sua caixa de e-mail comunicados de vagas dentro da empresa, quais são os requisitos necessários, o que eles querem de experiência da pessoa. Você pode se candidatar, qualquer pessoa pode se candidatar. Trabalha-se fortemente nesse programa tentando pegar níveis de cargos cada vez maiores para que as pessoas tenham realmente uma oportunidade de crescimento dentro da empresa. E aí surgiu uma vaga para advogada Sênior no tributário, falei: “cara, vai ser minha chance, estou querendo isso a muito tempo, acho que já deveria ser Sênior.” Foi muito legal essa oportunidade aparecer dentro da empresa. Porque eu gosto muito da empresa, então é uma forma de você conseguir direcionar sua carreira para o que você quer, não é? Para o que você tem na sua cabeça que é importante, que você merece, ou que você dá conta do recado. Conversei com a Dani, conversei com o Gustavo, enfim eles ponderaram. Falaram: “pensa bem.” Mas me deixaram muito confortável para escolher. A Dani deixou bem claro que as “portas jurídicas” estão abertas, sempre me trataram muito bem, sempre foram assim, chefes ótimos, não tenho o que falar. Foi uma oportunidade de crescimento que me apareceu e eu quis agarrar, então eu me candidatei. Eu já conhecia o pessoal do tributário, todo mundo no mesmo andar. Fica lá no sétimo andar é tipo um “U”. O pessoal passa brincando. A “banda podre”: o tributário, o jurídico e a auditoria. Todo mundo tem medo. O pessoal fica brincando: “Ih, não quero passar por aqui não, aqui é problema, a gente só vem quando tem problema.” Mas então eu já tinha tido contato com o pessoal da diretoria tributária, sempre gostei muito de todo mundo, do tipo de trabalho, da equipe e falei: “Ah, vou tentar.” Me candidatei pelo programa “Oportunidade para Todos” e acabou rolando. Estou há pouco tempo, um mês e pouco. Adorando, adorei a equipe. O trabalho mudou bastante. O tipo de ação, matéria completamente diferente, valores completamente diferentes, lá é tudo gigante, milhões e milhões. Fiquei um pouco até surpresa, mas estou curtindo bastante trabalhando agora com a Juliana Toscano, que é a gerente do tributário. Mais uma mulher liderando. Meu diretor é o Leonidas, e o diretor executivo é o Carlos Paiva, porque o tributário fica ligado à diretoria executiva de finanças. Também tem certidões, eu não me livro das certidões só que agora são as de regularidade fiscal. Tem a federal, a estadual, a municipal. A federal é sempre com a gente. A gente apoia o pessoal regional quando eles não conseguem, quando tem alguma pendência. Entramos então no circuito pra resolver, enfim. Sem essas certidões a empresa não participa de licitação, não recebe de órgãos públicos. Então tem que estar tudo tinindo na documentação, para que a empresa possa atuar 100%.
P/2 – Aquele fórum que você comentou através da foto que você mostrou.
R – Aquele fórum foi em 2010. Estou vibrando aqui porque eu trabalho com a segunda gerente feminina. Isso está mudando, vejo todo o esforço da empresa em mudar, mas não existem tantas mulheres na liderança como existem em outras empresas. Isso pode acontecer também muito por causa do core da empresa. Do negócio que é engenharia, construção, fabricação, comercialização de gases. Em parte a gente pode justificar por aí. Então a Anne Hobby na época ela era a Vice Presidente de vendas da Praxair global e, hoje em dia se eu não me engano ela já é Presidente na Ásia, depois eu confirmo para você essa informação. Vi uma líder, uma executiva, uma pessoa realizada não só profissionalmente, mas pelo lado pessoal. Ela tem três filhos, marido, sabe? Eu falei: “Gente! Ela é a super woman. Ela tem tudo.” Ela é muito acessível, muito educada, nada arrogante, nada de fino trato e uma história muito bacana também dentro da empresa. Ela começou com a parte técnica, depois ela foi para a parte de vendas e hoje em dia ela tem um trabalho mais corporativo, mais executivo. Foi fascinante ver a trajetória dela. Apesar de sermos minoria, é possível. E isso foi uma coisa que quando eu entrei na empresa eu logo percebi e claro não fiquei satisfeita apesar da minha gerente ser mulher. Mas é uma coisa que está mudando, hoje em dia a gente já tem uma Diretora de Recursos Humanos. A tendência é de reconhecimento das pessoas pelo que elas são, independente do gênero. E é muito bacana a empresa estar preocupada com isso, sabe? Estar preocupada com a diversidade, em mudar o cenário, isso é muito bacana. O fórum foi importante por isso.
P/1 – Ingrid me fala uma coisa, como é a relação entre o jurídico e o tributário? Você falou que vocês ocupam o mesmo espaço, o mesmo andar... Como é a relação de trabalho ali?
R – É ótimo, cada um no seu quadrado, mas é ótimo. As pessoas se dão muito bem. Foi até engraçado. Todo mundo se dá super bem. É super tranqüilo, um apoia o outro, existe essa relação de cumplicidade. Até porque tudo que dá errado, a culpa ou é do tributário ou é do jurídico. Estou brincando, mas é ótima. Não existem rusgas não.
P/1 – Eu queria te perguntar, quais são os desafios agora, do tributário? Os novos? O que está aparecendo para você?
R – Lá no tributário? Eu ainda estou... Como aconteceu quando entrei no jurídico estou focada em conhecer os processos, porque o que acontece na verdade? Eu via uma banda do negócio. Por exemplo, quando eu trabalhava com contratos eu ajudava na negociação. A fazer o negócio, a ver como se estruturava. Lá no tributário eu vejo a repercussão do negócio efetivamente realizado. Um fornecimento que foi feito para... Sei lá, para a Vale. Sai um caminhão com urgência e não estava com a nota fiscal, fomos autuados... Então eu vejo a operação como um todo e a White tem muitas operações. Na área de saúde, ela vende equipamentos de Home Care. Vende gás seja numa planta on site fornecendo líquidos ou em cilindros que vão para hospitais. Aqueles tanques que vocês vêem em hospitais com White Martins bem bonito assim. Então você acaba vendo outro lado do negócio, meio que fecha um ciclo. A estrutura da organização eu vi quando fazia a parte trabalhista, a parte de dimensionamento das áreas, da folha de custo, de passivo, o que saía de uma diretoria e o que não saía. Para produzir líquido, quantas pessoas, quantos tem que cortar, não tem que cortar. Vamos fazer assim, vamos fazer assado. Então eu vislumbrava a parte organizacional, estrutural da White. Quando eu vi a parte trabalhista, vi a parte dos negócios no que diz respeito à contratação. O cliente, o negócio acontecer. E agora no tributário estou vendo o desdobramento. O que se recolhe do lucro que a empresa tem, o que se recolhe na comercialização no ICMS, o valor, o planejamento tributário que a empresa faz para se reduzir ao máximo o que se recolhe. Claro, de uma forma legal, sem dúvida. É muito bacana para mim. Estou aprendendo muito e especificamente o que faço hoje em dia é conhecer o passivo. Sou responsável pelas empresas do nordeste e as demais empresas. Então tudo, todos os tipos de impostos, todos os tipos de problemas fiscais dessas empresas. Conto muito com o apoio dos especialistas fiscais que ficam na região dando suporte e quando eles não conseguem resolver eles nos procuram. A gente também quando precisa de um suporte de documentação interage com eles. Então eu estou conhecendo, traçando, entrando em contato com um tipo de matéria bem diferente do que eu via no jurídico. E também me acostumando com o de trabalho que é diferente. Lá o pessoal, a equipe, sempre coopera em tudo, vê tudo, sabe de tudo. Lá no jurídico as coisas eram mais segmentadas. Trabalhava com a Dani, mas muito sozinha fazendo o que era meu, sabe? A gente fazia reuniões periódicas para cada qual saber o que o outro estava fazendo. Mas não no dia a dia, todo mundo se copiando em todos os e-mails. Então eu ainda estou me acostumando com isso, todo mundo sabendo de tudo. O que é bom também, se você não está ali outra pessoa resolve, mas é diferente, é um tipo de trabalho diferente.
P/1 – E você de um jeito ou de outro acabou aprendendo a utilização dos gases, você conhece todos esses setores. Hospital, Home Care, no geral... Como você aprendeu? Tem algum tipo de treinamento? Você está sempre a par de tudo que está sendo desenvolvido?
R – É, existe uma ambientação virtual até, para você ter uma mínima noção da estrutura da empresa, as unidades de representação comercial que são centenas, para você conhecer um pouco do porte da empresa. A White tem a representatividade nacional, está praticamente em todos os Estados do Brasil. Às vezes com muito mais unidades em cada estado, não só uma. Ela tem as Unidades de Representação Comercial, que ajudam também a dar essa capilaridade para a White.
P/2 – A ambientação não é um site?
R – Não, é um CD explicando: “a White produz CO2, oxigênio, nitrogênio, argônio e se é gás nobre, se são gases especiais, se são gases do ar.” Te mostra as cores dos cilindros. Acabei conhecendo também pelo tipo de trabalho. A Dani sempre cuidou muito do pessoal de plantas On Site criadas para a siderurgia. Tipo a Vale, CSN, CSA. Existem diretorias distintas dentro da empresa. Por exemplo, cilindros, aquela coisa mais pulverizada, eles chamam de packaged e tem um diretor executivo específico que cuida. Quem cuida mais da siderurgia, daqueles tanques enormes, daquelas plantas enormes, é um Diretor de Líquidos, Vice Presidente, na verdade, que cuida dessa parte. O Home Care é uma área que a Dani cuidava e eu era responsável pelos contratos. O que é o Home Care? As pessoas que ficam em casa e precisam do nosso gás, podem comprar ou alugar os equipamentos. Na maioria das vezes é alugado. A gente vende o gás e aluga os equipamentos, aquela máscara. Tem coisa para o sono, para quem tem apneia, é um mundo, gente. Tem carbureto de cálcio, que serve para amadurecer alimentos. Então a White tem algumas fazendas que produzem o carvão e dele se faz o carbureto de cálcio. Eu trabalhei muito. Adoro a diretoria e a gerência de gás natural. São pessoas muito bacanas, trabalhei com eles direto, então tem o gás natural que vem com ar veicular, GNV, GLT. Tem de tudo, tem muita coisa. Mas no dia a dia quando você tem que fazer um contrato, eu sento, converso: “Olha temos um contrato de fornecimento. Vamos dar uma melhorada, botar uma cláusula x, y, z.” Agora no tributário para entender é preciso saber: incide esse imposto? Não incide? Porque o tipo de operação que a gente faz, por exemplo, o de Home Care. Pode vir uma autuação, por não termos recolhido o ICMS para máscara. “Não, não preciso recolher... Nessa operação eu só estou alugando.” Como não houve circulação de mercadoria, não há incidência de ICMS. Então você precisa entender a operação, os negócios para conseguir defender um processo da empresa, entendeu? É assim mesmo, on the job, no dia a dia como se diz na empresa. O pessoal de RH tem sempre uma palavra chave: Como é o aprendizado na White Martins? 70% on the job, mais quantos por cento não sei do que.” E 10% e 20%. Não sei. Estou brincando aqui, de curso de capacitação técnica.
P/2 – On the job? Significa trabalhando e aprendendo?
R – É, pegando ali no dia a dia, lendo a respeito, pegando o cara do negócio que está te pedindo ajuda. Assim.
P/2 – E as relações com os regulatórios da ANVISA, com o governo? Ou isso diz respeito a outro departamento?
R – No jurídico tem isso e no tributário a gente tem com a Receita Federal, a Secretaria da Fazenda um relacionamento. Nem sempre... É aquilo que eu estava te falando. Os órgãos públicos não têm a mesma pressa de uma empresa de ponta que quer resultados. Então nem sempre é tão tranquilo. Existe, por exemplo, no jurídico focal points para certas organizações.
P/2 – Focal points?
R – É. Por exemplo, um ótimo advogado que trabalhe com tudo de novo que saia no que diz respeito a ANVISA. Alguns gases que a White fornece são tratados como se fossem remédios. Por isso o cilindro tem que vir todo diferente, a etiqueta do cilindro. Então existe uma pessoa do jurídico que fica focada em entender a área de negócios para o cumprimento das exigências da ANVISA. Com o pessoal de logística internacional e revenda, eu acabava dando uma pesquisada, uma estudada para orientá-los para o desembaraço aduaneiro. A gente tem um contato direto com o pessoal da Receita, da Secretaria da Fazenda. É um trabalho árduo. Que existe e tem que ser feito, entendeu?
P/1 – Me conta um pouquinho da relação com os clientes, com os fornecedores. Você chega a ter uma relação direta? Como é que funciona?
R – No jurídico eu tinha bastante, por conta dos contratos. Eu viajava junto com o pessoal de gás natural, de líquido. Uma vez eu fui para Santos Dumont. Três horas de carro para discutir um contrato. Saímos de lá às dez e meia da noite. É uma parceria, isso eu acho que foi assim, um gol do nosso Diretor Executivo do Jurídico, o Gustavo Costa. Ele fez toda a empresa perceber que o Jurídico é parceiro de negócio, também faz parte da área executiva, está ali para ajudar, não está ali para entravar, não é? Porque às vezes a pessoa tem uma noção de que o jurídico é muito burocrático. Essa visão mudou bastante. Acho bacana a pessoa chegar para te consultar, ver o que você acha melhor. Até para a estratégia de negociação, não é mesmo? Você não é só a advogada que vai cuidar dos quesitos técnicos. Você realmente ajuda a alinhar a estratégia de negócios. É claro, sempre e quando a coisa tiver um fundamento jurídico para questões de contrato. E as pessoas te ouvem e te vêem como parceiro e ponderam o que você diz. Sempre tive contato com o pessoal da empresa, seja na relação com os fornecedores, eu trabalhava com o pessoal de compras diretas da White, o pessoal da engenharia. O jurídico vai e participa e pondera, diz o que pode e o que não pode, as cláusulas que não são padrão da empresa, que não podem ser modificadas. Então a gente entra no circuito para explicar porque que não pode fazer assim, não pode fazer assado, ou tentar encontrar uma alternativa que atenda todos os lados, isso é bem bacana, fiquei um tempo fazendo isso. Agora no tributário eu tenho tido mais contato com os clientes internos que precisam dessa documentação, as certidões. Para o negócio se realizar você precisa dessas certidões. Ou fazemos um intercâmbio: “Olha tenho uma licitação no dia quatro. Preciso dessa certidão dia quatro, de manhã, no máximo.” Os clientes, às vezes, bem... Cobram muito. Mas a gente entende, o negócio tem que acontecer de qualquer forma. Eu acho que é isso. Na época que eu estava jurídico analisava também algumas declarações que os fornecedores, cada vez mais vem pedindo. As declarações de responsabilidade social e ambiental na cadeia produtiva. Então como a White é uma fornecedora eu dava uma analisada nas declarações que eles pediam para a White assinar. Que a empresa não utiliza mão-de-obra infantil, que tem responsabilidade social que, enfim, não tem escravo dentro da empresa, sabe essas coisas? Virou meio padrão, clichê, as empresas pedirem assinar a declaração de responsabilidade social em toda a cadeia produtiva do negócio. Todos os nossos clientes, porque a White é fornecedora, pedem para gente essa declaração de fornecedor.
P/1 – Sabe outra coisa que eu queria te perguntar? A relação com o sindicato como que é?
R – Na verdade, isso quem cuida é o RH, as relações sindicais. Tem uma pessoa especializada, focada nisso, em todo o Brasil. Depende da unidade que você está e do que aquela atividade tem como atividade preponderante. Por exemplo, aqui no Rio, é o sindicato dos comerciários. Já na FEC que é uma fábrica que a gente tem em Cordovil, são sindicatos dos metalúrgicos ou dos químicos, se eu não me engano. Então dependendo do tipo de atividade que você tem na unidade, vai variar o tipo de sindicato. Existe toda uma estrutura na White que cuida disso. Tem um gerente de relações sindicais o Romeu Reizer, tem uma pessoa para cuidar dos contratos de negociação coletiva, isso o jurídico sempre apoiou. Quando existia alguma dúvida com relação ao que estava sendo negociado, a questão do banco de horas e tal.
P/1 – E agora só para gente entrar na parte final, queria que você me falasse um pouquinho de você hoje, o que é que você gosta de fazer? Você é casada? Pretende casar?
R – Eu fiquei noiva. Eu sempre achei meio brega falar: “Que é que você é?” “Ah, sou noiva.”
P/2 – Conseguiu ficar noiva?
R – Consegui ficar noiva depois de cinco anos, vai fazer cinco anos agora em novembro. E é aquele meu namorado lá de época de faculdade, engraçado que eu brincava com ele, falava: “olha, eu não vou ficar esperando seis anos pra casar.” E foi bem bacana porque acabou acontecendo meio que tudo na mesma época. Eu fui lá pro tributário, finalzinho de julho, agosto, e ele me pediu em casamento agora em setembro, início do mês. Devemos nos casar daqui a um ano, estou super feliz obviamente. Parece assim... São marés, não é? Maré alta, maré baixa. Foi muito bacana porque veio a minha promoção, a minha mudança de trabalho e veio o noivado também. Hoje eu estou muito satisfeita, muito feliz, claro eu sou meio insaciável, essas coisas. Sempre querendo mais responsabilidade, mais trabalho, maior aprendizado. Eu sempre que pude... Isso eu achei muito bacana na empresa, ela sempre me deu, por exemplo, cursos. Obviamente estavam dentro do orçamento. A maioria dos cursos que vocês viram no meu currículo foi subsidiada, patrocinada pela empresa, acho que é uma aposta também no meu desenvolvimento profissional, o reconhecimento de um potencial. Então, buscar mesmo maior capacitação para cada vez mais poder ajudar, ter uma atuação de maior importância. Estou gostando muito da área que eu estou trabalhando, das pessoas com quem eu estou trabalhando, pessoalmente também estou me sentindo muito realizada.
P/2 – Você faria um curso no exterior? Pretende viajar?
R – Pretendo, eu gostaria. Tem até um colega meu do tributário que voltou agora, ele ficou um mês. Foi parcialmente subsidiado pela White para o aperfeiçoamento do inglês.
P/2 – Quer dizer que a empresa facilita? Permite viajar? Não acha um pedido absurdo?
R – Acho que não. Dependendo. Se forem peças chave ela até estimula. Claro, não é? Mas um ano, dois anos: “vou fazer um doutorado lá fora.” Aí é complicado. Tudo o que você pode fazer para capacitação profissional é visto com bons olhos. Pelo menos eu nunca tive algum tipo de resistência. Eu sempre achei muito legal esse olhar da empresa tipo: “sim, capacite-se, faça melhor, fique mais.” Isso eu acho muito bacana. Eu já tenho uma pós-graduação em advocacia empresarial, estou pensando em fazer um mestrado, ou outra pós, tenho claro que pesquisar direitinho o que vai encaixar melhor com o meu tipo de trabalho agora. Mas é uma coisa que eu estou pensando para o próximo ano por exemplo.
P/2 – Você vai esperar ter filhos?
R – Não, calma, nem casei ainda você está falando de filho? Não. Eu vou casar ano que vem calma, vamos com calma.
P/2 – Você pensa em esperar uns cinco ou seis anos para ter filho?
R – Uns cinco não. Uns quatro vai. Até para ter uma estabilidade financeira maior, um cargo dentro da White de maior responsabilidade, quem sabe?
P/2 – Moraria aqui na Barra?
R – Eu moro aqui na Barra. O meu noivo mora na Usina, no Alto da Boa Vista. A gente ficaria ali por uns tempos, mas pensando em filhos a gente vai ter que mudar porque o apartamento é muito pequeno, mas isso é futuro, calma.
P/1 – Deixa eu te perguntar uma coisa, a sua pós você fez enquanto você estava na White?
R – É, comecei a fazer a pós no início de 2008. Então eu entrei na White e eu já estava fazendo a minha pós, eu mesma arquei com a pós, foi vista com super bons olhos pelo Gustavo, pela Daniela. Gostei, fiz advocacia empresarial, com enfoque para advogada de empresa e aí acabou coincidindo de eu ver lá dentro depois, achei que acrescentou bastante, mas eu gostaria de fazer uma coisa um pouco mais profunda. Talvez alguma coisa um pouco mais específica, um pouco mais direcionada. Agora que eu estou no tributário, talvez faça algo mais relacionado ao tributário, uma coisa mais específica, sabe?
P/1 – O que você gosta de fazer nas horas de lazer?
R – Nas horas de lazer? Eu gosto muito de ver filme, adoro. Sou meio cinéfila. Gosto muito de passear ao ar livre. Não sei se vocês conhecem... A Pedra Bonita onde o pessoal pula de asa-delta, para-pente. Nunca tive coragem de pular, mas eu vou para lá com regularidade, ou eu faço trilha, ou então eu vou para assistir e é muito bonito. Avista-se São Conrado, um pouco da Zona Sul, a Pedra da Gávea, é lindíssimo, gosto muito de ir. Às vezes a gente faz um passeio dá uma andada na pedra da Tijuca, indo para o Alto da Boa Vista. Eu gosto bastante.
P/1 – E pra gente encerrar eu queria que você falasse o que você achou da White Martins estar contando a história, trabalhando com esse projeto de memória. E de você ter vindo aqui fazer essa entrevista.
R – Ah! Eu me senti muito honrada pelo convite, até porque eu tenho três anos e pouco de empresa, mas tem gente que está a 30, 35, sei lá. Então achei bacana ter esse espaço para a nova geração, o pessoal que está chegando que está querendo ficar, 25, 30 anos na empresa também. Construir uma carreira lá dentro. Muito bacana esse resgate da memória, a White Martins tem uma importância como empresa de indústria e comércio no Brasil, sabe? Até pela capacidade de emprego, quatro mil e poucos funcionários, milhares de pessoas por todo o Brasil, ajuda diretamente no desenvolvimento, sabe da indústria brasileira seja com o produto que ela fornece que capacita as outras empresas a aumentarem a sua produção, seja ela própria como empresa, não é? O crescimento exponencial que ela teve nesses 100 anos. Estou doida para ver no que vai dar. Porque o pessoal... E eu tenho muito contato com o pessoal de comunicação... Quando eu estava no jurídico eu também dava um apoio. Dúvidas quanto ao que pode sair na revista e o que não pode. Ai eu fico: “O que é que vai ter? Conta pra mim vai ter festa, não vai ter festa?”
P/2 – Ela faz festa a empresa?
R – Não, no passado faziam festas de final de ano... Acho que vinha gente do Brasil inteiro. Então eu sempre ouvi essas histórias, eu nunca participei de festa. Há tempo que não tem. Acho que é uma coisa que os empregados anseiam porque a empresa tem tido ótimos, excelentes resultados nesses últimos anos, e é bacana, você se sente reconhecido. Você vai a um festão com atração bacana. Acho que seria legal. Acho muito bacana essa ideia também do Museu, de ter uma exposição, das pessoas irem lá ouvir o testemunho, vai ter o livro também, não é? Uma compilação disso, as fotos antigas também, eu adoro fotos, ver as fotos dos tempos da carochinha. Eu estou muito curiosa para saber o que vai ter de novidade, quem vai aparecer na unidade nos eventos. A gente vê a White fazendo muita coisa para os clientes e vem fazendo cada vez mais para os empregados. Então eu acho que 100 anos é uma data muito importante, acho que vão vir grandes surpresas, ano que vem.
P/1 – E o futuro? Seu futuro e o futuro da White?
R – Ah, eu espero que a gente continue casado. Espero continuar lá, é uma ótima empresa. Se a pessoa tiver coragem te dá sim grandes oportunidades. Claro, nem sempre o que você almeja é o mesmo da empresa, mas enquanto estiver convergindo é o lugar onde quero estar, ficar. Sou apaixonada pela empresa, acho que todo mundo lá é. Claro, não é perfeita, tem sempre um monte de coisa que o pessoal fala, mas é criado um ambiente, um clima... Muito bacana lá dentro, sabe? Que você não tem nem tempo de pensar em outros lugares, outras empresas, outros... Como é muito rica nas operações, nas novidades, nos problemas, nas inovações. Meio que te absorve, sabe? Você meio que fica com o sangue verde, é meio estranho, você não tem nem tempo de ficar pensando “ah vou fazer uma aplicação não sei pra onde.” Fica muito absorto ali, sabe? Então, eu pretendo continuar lá, já que eles estão com essa forte... Agora eles mudaram, falam dos pilares, dos quatro pilares da capacitação, da remuneração. São coisas que eles estão dando um foco, então enquanto estiver atendendo eu acho que não tem outro lugar que eu queria estar.
P/1 – Então Ingrid obrigada, eu queria te agradecer em nome do Museu da Pessoa e da White Martins por você ter vindo até aqui e contado a sua história.
R – Imagina, foi um prazer. Obrigada vocês.Recolher