P1 – Bom dia Neide.
R – Bom dia Carla.
P1 – Eu sei que você é uma pessoa feliz, então, você não precisa nem ficar nervosa. O Pão de Açúcar não é um lugar de gente feliz?
R – Com certeza.
P1 – Eu queria que você se apresentasse para a gente dizendo a c...Continuar leitura
P1 – Bom dia Neide.
R – Bom dia Carla.
P1 – Eu sei que você é uma pessoa feliz, então, você não precisa nem ficar nervosa. O Pão de Açúcar não é um lugar de gente feliz?
R – Com certeza.
P1 – Eu queria que você se apresentasse para a gente dizendo a cidade em que você nasceu...
R – Onde eu nasci?
P1 – O dia e o ano.
R – É, meu nome completo é Neide Nunes da Mota, nasci no interior de São Paulo, em Palmeira do Oeste, é... o que mais?
P1 – Quando?
R – Em 1960.
P1 – Que dia? Em que mês ?
R -
Dia 04 de Maio. Que mês lindo, não é?
P1 – Mês de Maio, mês de Maria.
R – Isso.
P1 – Manto azul. Né? O céu azul. Como é o nome dos seus pais?
R – Meu pai se chama Jorge e minha mãe se chama Maria.
P1 – E eles eram de Palmeiras também?
R – Não. Meu pai nasceu no Rio de Janeiro e minha mãe nasceu no interior do estado de São Paulo, em Cafelândia.
P1 – Cafelândia! Então você tem um pouquinho da gema, assim, do Rio.
R – De tudo, de tudo.
P1 – Como foi sua infância em Palmeiras? Você morou sempre lá? Não, você só nasceu?
R – Não, não. Eu vim para São Paulo, meu pai veio para São Paulo quando eu tinha cinco anos.
P1 – Porque que vocês vieram?
R – Ele veio tentar, como todo mundo, tentar uma vida melhor aqui em São Paulo. Saímos do interior e viemos para São Paulo.
P1 – Vocês eram em quantos irmãos?
R – Naquela época nós éramos em quatro irmãos e eu tive mais três irmãos aqui.
P1 – E vocês vieram morar aonde aqui em São Paulo?
R – No mesmo lugar que eu moro até hoje, na Freguesia do Ó.
P1 – Na Freguesia! Ao lado de Nossa Senhora, ali.
R – Isso, isso.
P1 – E como era a Freguesia do Ò nessa época em que você era menina? O que você lembra?
R – Ah! Era tão diferente de como é agora! (Você quer detalhes de como era antes?)
P1 – Quero, quero. Quero que você conte um pouquinho.
R – Quando eu era... onde meu pai comprou o terreno onde nós moramos, a gente continua morando no mesmo lugar com meu pai, ainda era um sítio. Tinha vários sítios naquela época e agora não, agora é totalmente diferente. Naquela época tinha um rio enorme, hoje esse rio é canalizado. O que mais é que eu vou...
P1 – Você frequentava a Igreja de Nossa Senhora do Ó?
R – Não. Eu frequentava a igreja, uma igreja de zinco que tinha . Era uma igreja de madeira, hoje é uma igreja de zinco muito bonita, que eu continuo frequentando até hoje.
P1 – É. Existe essa igreja?
R – Ainda existe até hoje.
P1 – Eu ouvi falar mas eu não sabia que existia.
R – Igreja de Zinco. Você já ouviu falar, né?
P1 – Já. E a pracinha lá, ainda continua com cara antiga? Tem aquele bar, tem um agito... E onde você estudou na Freguesia?
R – Eu estudei no Damasco Pena e na Escola Estadual Joaninha Brás Fagundes. Foram as duas escolas que eu estudei.
P1 – Você foi uma menina muito mimada, levada?
R – Não. Nunca. Não fui levada, eu fui um pouquinho mimada, mimada eu fui, tanto pelo meu pai quanto pela minha mãe.
P1 – Como que eles te mimavam?
R – Como que eles me mimavam? Ah!
P1 – Que tipo de mimo você acha que recebeu na tua infância?
R – Ah, como eu era a filha mais velha, eu sempre tive alguns privilégios em relação a eles; o carinho que eles tinham por mim. Sempre tiveram um carinho muito grande por mim, tanto meu pai quanto a minha mãe.
P1 – E eles eram bravos?
R – Minha mãe, sim. Meu pai sempre foi uma pessoa mais de conversar. Minha mãe não, minha mãe já era um pouco mais brava.
P1 – O que você acha que você carregou dos valores dos seus pais para a sua vida?
R – Ah! Eu acho que carreguei tanta coisa!
P1 – Uma marca da Neide, assim?
R – A honestidade; deixa eu ver o que mais... É tanta coisa.
P1 – Você começou a trabalhar cedo?
R – Comecei. Com 14 anos.
P1 – Aonde foi, conta para a gente?
R – A segunda empresa foi o Pão de Açúcar. Eu trabalhei numa empresa que era uma fábrica lá perto de onde eu morava. Fazia cordão, cadarço de sapato. Depois saí, fiquei um ano nessa empresa. Essa empresa faliu, não tinha mais como trabalhar e aí foi como eu fui parar no Pão de Açúcar.
P1 – Como você foi parar no Pão de Açúcar?
R – Procurando. Eu mesma procurando trabalho. Né! Eu tinha 16 anos. Eu fui no Pão de Açúcar da Barão de Limeira e falaram que estavam pegando e me mandaram ir na Central que era lá na 13 de Maio, naquela época. Aí eu fui na 13 de Maio, na seleção e de lá eu...
P1 – Você já tinha escutado, nessa época, antes de você trabalhar, no Pão, ou você frequentava, como era?
R – Eu ouvia falar do Pegue e Pague, naquela época, do Pão de Açúcar não, mas eu ouvia falar do Pegue e Pague.
P1 – O que você ouvia falar do Pegue e Pague?
R – Ah! A gente ouvia. Naquela época era mais rádio que a gente ouvia, não era nem televisão porque, televisão, eram pouquíssimas pessoas que tinham televisão naquela época, então era mais o rádio, a gente ouvia o rádio. Alguma propaganda, alguma coisa.
P1 – Você lembra de alguma propaganda do rádio?
R – Não, não lembro.
P1 – Aí, você foi fazer o teste, foi fazer a seleção na 13 de Maio e você foi contratada?
R – Isso, eu fui contratada.
P1 – E você foi trabalhar com que?
R – Eu fui trabalhar como recepcionista de vasilhame.
P1 – Como é que é isso?
R – É, era a pessoa
que recebia o cliente na entrada, um tipo de um Guarda-volume. Naquela época tinham as garrafas, hoje não, hoje é mais prático. Naquela época tinham as garrafas, a gente anotava no formulário as garrafas que ele trazia e abatia no caixa, na hora que ele passava.
P1 – Era para ver o valor do casco?
R – Isso. Para ver o valor do casco, porque era por valor naquela época. Cada garrafa tinha o seu valor e quando chegava no caixa ele descontava, abatia isso do valor da sua compra.
P1 – Dava um trabalho, né?
R – Ah, dava. Tão prático hoje, né? (riso)
P1 – O que mudou? A mudança...
R – Mudança radical.
P1 – Agora nem tem mais vasilhame de vidro, né?
R – É, mas estão pensando em voltar, né, o vidro. Estão pensando em voltar o vidro novamente.
P1 – E como era receber os clientes? Como era que você se relacionava com os clientes na recepção de vasilhame?
R – Era gostoso. Eu sempre gostei desse contacto com cliente. Inclusive eu voltei lá faz uns dois meses, eu voltei na Barão de Limeira porque a minha tia mora lá perto e eu encontrei algumas pessoas daquela época, sabe. É muito importante. Então as pessoas lembram da gente, porque quando eu entrei no Pão de Açúcar foi sempre atendimento, atendimento, atendimento. A briga sempre foi essa e eu encontrei algumas pessoas por causa desse relacionamento. Porque a gente sempre falava, dava uma atenção, então, encontrei essas pessoas. Encontrei umas duas ou três pessoas.
P1 – E essa loja está lá até hoje?
R – Não, que pena! Não está mais. Na Barão de Limeira. Não existe mais esta loja.
P1 – Você encontrou na rua, essas pessoas?
R – Na rua.
P1 – Como é que era o relacionamento seu com os seus colegas de trabalho? Quando você chegou, como você foi recebida?
R – Naquela época é...Hoje, é diferente. Hoje as pessoas são mais abertas.Naquela época as pessoas, eram muito fechadas. Era cada um para si. Hoje não,Hoje a gente não tem mais isso, mas naquela época era. As pessoas eram muito ranzinzas, muito autoritárias, mas eu fui recebida bem apesar dessa...Eu fui recebida bem. Entrei com medo, assim meio tensa, mas...
P1 – Você lembra o que você fez com o seu primeiro salário que você ganhou no Pão de Açúcar?
R -
Aí! Se eu lembro o que eu fiz com o primeiro salário! Olha, os meus salários até o dia que... quem coordenava os meus salários, sempre foi a minha mãe. Então o meu primeiro salário eu entreguei na mão da minha mãe e disse: - Mãe, tá aqui, agora a senhora faz o que tem que fazer. Foi para a minha mãe que dei o meu primeiro salário.
P1 – Para ajudar em casa?
R – Exatamente, para ajudar em casa.
P2 – Este cargo de vasilhame, só uma curiosidade, não existe mais?
R – Não. Não existe.
P2 – O que existe no lugar?
R – Hoje no lugar existe, quando você... tem o nosso balcão Mais e tem onde lacra. Entra já com o volume lacrado.
P1 – Essa coisa de entrar com volume, antes como é que era?
R – Porque é assim: eu comecei numa lojinha em bairro mesmo, totalmente diferente da Pan-americana, então as pessoas iam a pé, elas com sacola fazer suas compras, né. Então, ela deixava sua sacola, a gente dava uma senha para elas, na saída ela colocava seus volumes dentro da sacola, suas compras que ela fez e levava embora.
P1 – Era bem diferente mesmo.
R – Bem diferente.
P1 – E o movimento também era menor nas lojas?
R – Não. Tinha movimento, tinha movimento.
P1 – Depois do vasilhame o que você foi fazer?
R – Depois do vasilhame, eu sempre fui uma pessoa muito xereta. Sempre gostei de xeretar, de olhar como funcionavam outras coisas. Aí, mesmo trabalhando no vasilhame eu aprendi já a trabalhar no caixa. Como eu era de menor, eu fui aprender no bazar e na mercearia. Aí eu trabalhei na mercearia, trabalhei dois anos na mercearia como repositora. Eu recebia os produtos, ajudava meu encarregado e colocava os produtos nas gôndolas.
P1 – E você entrava na competição para deixar a gôndola mais bonita?
R – Com certeza, sempre foi assim! Sempre. Naquela época o que a gente fazia? A gente se preocupava muito com o nosso final de semana. Hoje nem dá para ser assim. Mas naquela época a gente se preocupava de deixar a gôndola cheia e no sábado todo mundo saia da mercearia e ia para frente do caixa para dar atendimento para o cliente. Então eu ficava com o fiscal, ajudava no caixa, então a gente fazia tudo isso.
P1 – Pelo que a gente escuta nos depoimentos, vocês que trabalhavam em loja, vocês pareciam que não queriam ir embora? É isso?
R – Exatamente.
P1 – Queriam ficar sábado, domingo, 24 horas?
R – Exatamente. Direto. Ham, ham.
P1 – O que você acha que tinha esse desejo assim...?
R – Não sei, sabe? O Pão de Açúcar tem uma coisa até hoje, sabe, que a gente às vezes se apega tanto à loja que a gente se esquece até do relógio, de tudo: Fala, meu Deus! Já é essa hora? A gente acaba perdendo. Eu não sei. É como se fosse uma família, porque o Pão de Açúcar, ele é uma família. É como se a gente tivesse duas famílias, então a gente divide um bocadinho para cada uma. Exatamente.
P1 – Depois dessa experiência na Barão você foi... Como é que foi até você chegar lá na loja Pan-americana?
R – Ta. Depois que eu saí da loja da Barão de Limeira eu fui trabalhar na loja da... Uma loja que tinha, a loja 33 da Duque de Caxias. Aí eu fui trabalhar naquela loja como fiscal de caixa. Eu fui como fiscal de caixa da loja da Duque de Caxias, que também não existe mais, essa loja.
P2 – Como é ser fiscal de caixa?
R – Fiscal de caixa, eu sempre falo que fiscal de caixa é a pessoa que fiscaliza tudo que está acontecendo na frente de caixa, tudo que ocorre na frente de caixa tanto com o cliente quanto com a operadora. É a pessoa que coordena toda à frente de caixa da loja. Então eu fazia este trabalho de coordenar a frente de caixa tanto do cliente quanto das operadoras. Via as necessidades do cliente e as necessidades das operadoras de caixas.
P2 – Aí você ficou como fiscal de caixa na Duque de Caxias...
R – Fiquei um ano. Aí eu fiquei um ano na Duque de Caxias.
P1 – E depois você foi para onde?
R – Aí eu fui para a Maria Antonia.
P1 – Bom! Você então teve um panorama bem legal, assim, das lojas. Foi para a Barão de Limeira, veio do Centro, depois foi para a Duque de Caxias e aí você foi para a Maria Antonia.
R – Isso. Fui para a Maria Antonia.
P1 – Naquela loja da Maria Antonia você chegou em que época, mais ou menos?
R – Aí! Em que época eu cheguei na Maria Antonia? Espera um pouquinho. Cheguei na Maria Antonia foi quando eu casei, foi em 85... Eu fui para a Maria Antonia quando era a loja dois ainda, antes de ser 1202, porque naquela época lá, se dividiu algumas lojas com padrão especial.
P1 – Como é que foi isso?
R – Tinham lojas especiais, as lojas diferenciadas da Companhia. A gente tinha a loja 1205, a loja 1201 que era loja especial, foi inaugurada como loja especial com padrão diferente de atendimento, pensando mais nos perecíveis, no Pão de Açúcar ser mais agregado, ser mais forte nos perecíveis. Então, já
pensando já nessa cultura onde lá já se pensava em ter esse foco dos perecíveis.
P1 – Que loja que era uma loja especial?
R – A loja 1201.
P1 – Qual que era? A onde era?
R – A Borba Gato, a loja do Borba Gato, foi a primeira. Depois veio a loja 1202, que eu estava lá na loja dois e depois ela se transformou em loja 1202. Uma loja linda
P1 – Então esse critério de 1201, 1202 é o critério de diferenciamento da loja?
R – Acho que deram... Eu não sei qual é que era o número anterior, antes da loja um, da loja 1201, eu não sei. Eu só sei que a loja 1202, que é a antiga loja dois.
P1 – Que era da Maria Antonia?
R – Isso, a Maria Antonia.
P1 – Como que era o ambiente ali. Um ambiente agitado. Né?
R – Olha, quando a loja foi inaugurada foi uma coisa, foi muito agitado, foi uma loja que vendeu muito aquela loja. Vendia demais. Foi naquela época que deu problema com a carne, que não tinha carne, que a carne vinha de fora. Sabe? E foi justamente na época em que a loja inaugurou; tinha umas filas imensas em frente ao Mackenzie; era uma loucura.
P1 – Foi na época do plano cruzado do Sarney. Né?
R – Foi exatamente. Foi na época do Plano Cruzado do Sarney.
P1 – E tinha fiscais do Sarney? Você lembra de ver cliente assim?
R – Ah, não!
P2 – Conta um pouco do que você lembra nessa loja, desse período?
R – Desse período?
P2 – O que mudou da loja que você estava para a Maria Antonia nesse período?
R – Olha! Ficou uma loja mais bonita, uma loja mais apresentável. Era uma loja comum, de repente ficou uma loja mais sofisticada. O visual dela mudou, os balcões, que não se tinha peixaria, passou a ter peixaria. Uma loja muito bonita, a loja. (Agora como que eu vou explicar para você como é que era a loja?) Um FLV bem agressivo. O açougue, já começava a se pensar nos cortes de carne diferenciados.
P1 – Ali foi um espaço de implementação das mudanças...
R –Isso. De mudar. De mudar, já de tentar mudar uma cultura então, eles colocaram o nome de especial, justamente para ser especial.
P2 – O consumidor era diferente das lojas que você estava?
R – Não, porque ficou o mesmo consumidor que já estava quando era a loja dois, quando mudou para loja 1202, os mesmos clientes continuaram.
P1 – E é uma região que tem muita gente famosa porque está na divisa de Higienópolis? Você tinha fregueses artistas, você lembra disso, gente de televisão?
R – Não. Na 1202, não.
P1 – Tinha muito estudante?
R – Tinha muito estudante, muito estudante em frente ao Mackenzie. Só estudantes.
P1 – É uma loja, ainda hoje, bastante agitada?
R – Isso, isso.
P 1 – E depois de lá você veio para a Pan-americana?
R – Olha, inaugurou a 1204. A 1203 eu não fui, foi no Shopping Iguatemi, eu não fui. Fui para 1204. Eu tinha que ir para a 1204.
P2 – Onde?
R – Na Joaquim Floriano. Aí eu fiquei três anos na Joaquim Floriano.
P2 – Fazendo o que ?
R – Eu era encarregada de caixa já nessa época. Na loja 1202 eu passei para encarregada de caixa. Fui como fiscal, fiquei pouco tempo como fiscal e logo em seguida passei para encarregada de caixa.
P1 – Porque você tinha que ir para a 1204?
R – Ah, porque eles queriam. Porque eu não sei. Tá vendo? Porque eles gostavam do meu perfil. Até lá já gostavam do meu perfil. Eles achavam que eu... porque eu coordenava a frete de caixa e eles gostavam da simpatia com que eu atendia o cliente e o meu gerente disse: "Não, você vai para a 1204." Inclusive a encarregada de lá, a Dirce, a encarregada da frente de caixa, ela não podia ficar porque ela ia para gerente e eu assumi a 1204.
P1 – Então quer dizer que no pacote das inovações, das coisas boas no Pão de Açúcar, sempre lembraram de você? Você também é uma inovação. Né?
R – Eu fui. Sempre lembraram de mim.
P2 – O que foi de diferente nessa loja da Joaquim Floriano? Dessa mudança para você?
R – Olha, o que foi de diferente? Foi uma loja maior, que eu comecei a trabalhar, lidar com mais gente, envolver pessoas. Não teve tanta diferença da 1202. Não teve tanta diferença, foi uma loja maior, só.
P1 – Da 1202 para 1204 era só questão de...
R – Tamanho.
P 1 – De tamanho?
P1 – E de mudança assim no atendimento, na disposição dos produtos, nas embalagens, já tinha, sofria alguma mudança?
R – Não. Isso aí eu fui ver na 1207, quando inaugurou a 1207.
P1 – Qual é a 1207?
R – Praça Pan-americana.Quando inaugurou a 1207, fazia quinze dias que tinha inaugurado, eu também fui para a 1207. Me solicitaram para lá e eu também fui para a 1207. Eu era encarregada de caixa também nessa época.
P1 – A loja da Pan-americana era antiga já.
R – Era antiga. Era a loja 185.
P1 – Aí ela sofreu uma reforma...
R – Sofreu uma reforma, a loja 75. Antiga loja 75 e passou a loja 1207.
P1 – Quais foram as mudanças que você viu na 1207?
R – Gente, a mudança ... foi uma loucura. Quando eu fui para aquela loja, a primeira loja informatizada da companhia, porque antigamente era assim: a gente digitava preço. Era preço que a gente registrava, não era código de barra, então foi a primeira loja que começou a passar pelo código de barra, pelo scanner, a rapidez com que passava o produto e aí passou. Quando eu estava na Barão de Limeira, acabava a força e o que é que acontecia? A gente ia na manivela, encaixava lá na manivela, registrava o valor, ia lá e girava; e agora uma loja informatizada. Acho que a 1207 foi tudo. Foi ali que começou realmente.
P1 – E como é que foi o atendimento, quer dizer, essa questão da informatização em relação aos clientes? O que é que eles falavam?
R – No começo eles achavam que a gente estava querendo...Como é que eu vou dizer? Com que palavras eu vou colocar? – Eles achavam que a gente estava querendo enrolar eles com isso, porque eles não aceitavam de não ter o preço no produto. Não ter o preço no produto era uma coisa do outro mundo, eles não aceitavam, eles rebatiam, porque eles queriam o preço no produto. Olha! Para consegui convencer o cliente que isso era uma melhoria, que a gente está evoluindo... Foi difícil. Porque eles tinham que chegar na gôndola e encontrar o preço no produto e não aquela etiquetinha. A gente até hoje, tem algumas falhas em relação a isso. A gente tenta ser perfeito mas às vezes nós não conseguimos manter a etiqueta com o preço na gôndola. Até hoje eles reclamam ainda porque eles exigem que tenha o preço no produto.
P1 – Mas existe, inclusive, uma lei do governo em relação a isso. Como é que vocês fazem para trabalhar essas questões?
R – Não, por enquanto, ainda não... a empresa não desenvolveu nada em relação a isso. Estão no jurídico brigando em relação a isso mas não tem nada ainda...
P1 – Que outras questões da loja Pan-americana você acha que são diferentes? Porque é que a Pan-americana é hoje uma das lojas mais importantes do Pão em São Paulo? O que é que faz dela uma...
R -
Pela venda, pelo perfil, pelo atendimento. Foi uma das coisas que nós brigamos muito, desde que eu cheguei naquela loja, foi um desafio que a gente teve foi ter o melhor atendimento da companhia e a gente briga e tenta até hoje, tenta não, a gente consegue ter até hoje ter esse padrão de atendimento. Então naquela época quando eu cheguei na 1207, o Seu Vanderlei, que é o meu mestre, que é a pessoas que sempre me deu o maior apoio, tanto para mim quanto para todos os encarregados em relação a isso, da gente ter o nosso cliente como prioridade, o cliente sempre foi prioridade. Ele nunca sair da loja insatisfeito por nada, e a gente sempre atendia bem o cliente E para isso a gente precisava de que? Só eu não conseguia. Só o Seu Vanderlei também
não conseguia. A gente tinha que envolver a equipe inteira a estar fazendo esse trabalho. Então foi reunião em cima de reuniões. Tinha dia que a gente fazia quatro a cinco reuniões e foi sempre a mesma coisa. Sempre as mesmas coisas.
P1 – O que vocês falavam?
R – Em relação ao cliente: como atender o cliente, a maneira como tinha que atender ao cliente, a postura que tinha que ficar, as palavras que tinha que dizer para o cliente. Então sempre, sempre, sempre falava: que o cliente era importante para a gente, o porque que o cliente era importante e a gente conseguiu. Hoje a gente tem uma facilidade imensa sobre isso, porque? Porque o funcionário novo que entra, ele percebe já a cultura que tem dentro da loja e assimila isso com muita facilidade, então a gente não tem tanta dificuldade em trazer esse funcionário para o mesmo perfil dos outros que já estão na loja.
P2 – E aí, você tem anos de casa, desde aquela menina que entrou como recepção de vasilhame para cá, mudando todas as lojas que você passou, o que te lembra, se você tiver que puxar um fio de história da empresa, o que te marcou na história do grupo nesses anos todos?
R – Gente! Olha, o que marcou muito foi, foi nos anos 90, quando o Pão de Açúcar deu aquela enxugada que todo mundo ficou: "Meu Deus e agora? O que é que vai ser? O que vai acontecer, o que vai ser da gente?" – Eu me lembro até hoje, a gente tinha o CAPA, lá na Carlos Berrini, aquele escritório imenso que foi feito e que o nosso diretor Seu Simão nos chamou e pediu ajuda e naquele momento todos nos tínhamos que nos ajudar. Se a gente quisesse que a Companhia continuasse de pé a gente tinha que arregaçar as mangas e fazer, contribuir para que a empresa pudesse crescer de novo. Então, eu acho que a coisa que mais me marcou na companhia, foi aquele dia. Sabe? Aí a gente viu o envolvimento das pessoas (até me emociona) (choro)...
P1 – E saíram para a luta?
P2 – E deu certo.
P1 – Você quer uma água?
P2 – Não tem um lenço?
P1 – A Regina te fez uma pergunta que te emocionou mas a gente retoma sim. Você estava dizendo que vocês assumiram, vocês receberam um pedido. O que você acha que desse pão de açúcar, desse momento que vocês tiveram que se unir e falar: "Vamos juntos". E o Pão de Açúcar de hoje? Como você vê o resultado desse trabalho, hoje?
R – É, a gente sente que todo o trabalho que a gente teve foi bom, que teve um retorno tremendo para a Companhia, e a gente cresceu junto com eles. Nós crescemos juntos. Isso é que é importante.
P1 – O Pão de Açúcar, ele é pioneiro em algumas ações sociais e isso a gente nota muito lá na loja da Pan-americana, os idosos ali trabalhando. Você participou desse trabalho de incorporar os idosos?
R – Olha, a loja que começou a fazer esse trabalho foi à loja da Teodoro Sampaio, naquela época era na mesma regional e a gente apoiou sim esse projeto, tanto que a gente tem essas pessoas trabalhando na loja até hoje.
P1 – O que você acha que impacta na vida dessas pessoas o trabalho? O que acontece?
R – Olha, eu tenho um funcionário que trabalha comigo, o nome dele é Seu Paulo, ele tem 87 anos. Gente, a vida dele é o Pão de Açúcar! A gente tem o maior mimo com ele. Então, a gente preza ele lá dentro, ele não sai para poder fazer entrega no estacionamento, porque a gente morre de medo de acontecer alguma coisa com ele no estacionamento então, ele só faz o pacote ali. Então é uma coisa tão... Ele lá dentro parece que contagia as pessoas, sabe? Apesar que a gente tem que ter muita paciência com ele, os clientes tem paciência. Às vezes o pessoal pensa: "Não, não deixa pegar peso." Então, é uma coisa muito bonita o pessoal da terceira idade conosco ali, trabalhando. Então eu acho que isso aí é uma coisa que a companhia fez, uma das coisas que eu também achei muito importante. Deixar o idoso trabalhar, mostrar que eles sabem fazer. Eu tenho uma pesquisadora também, que ela é da terceira idade, a Maria Lúcia. Você precisa de ver o trabalho que ela faz. Ela tem 64 anos mas é uma pessoa com tanta garra, ela abraça aquilo com uma vontade que a gente até arrepia, que a gente às vezes vê jovens não fazendo o que ela faz. Então são coisas assim que a gente fala: Porque não dar oportunidade para essas pessoas? Eles têm muito para ensinar para a gente. Muito.
P1 Com certeza. Além dessa questão da terceira idade, também os postos de reciclagem foram bem aceitos?
R – Bem aceitos.
P1 – Muito. A comunidade? Eles aplaudem o Pão de Açúcar em relação a isso. A gente vive recebendo elogios em relação ao que o Pão de Açúcar faz. Realmente, amam de paixão. Sabe, acho que o Pão de Açúcar, eles têm como se fosse uma extensão da casa deles, por tudo isso que acontece. Porque o Pão de Açúcar sempre se preocupa com todos esses detalhes. Ele estar se preocupando e isso foi uma coisa que marcou muito também.
P1 – Que horas você entra no trabalho?
R – Ah! Que horas que eu entro? Meu horário de entrar é às oito mas eu gosto de chegar cedo na loja para eu receber, para eu sentir como é que a loja está. Eu entro às sete horas. Todo dia às sete horas eu estou na loja.
P1 – Conta para mim um pouquinho do seu dia na loja, assim? Você chega... o que você faz, como é que é?
R – Olha, eu... quando eu chego, eu já entro pela porta principal da loja. Então eu já sinto como é que está a minha frente de caixa, o número de operadoras que tem Eu já olho e já sei, se está certo se não está, se está faltando, se tem alguma coisa errada, se tem eu já converso com o fiscal de caixa. Dou bom dia para todos eles e a primeira sessão que eu vou é a seção de FLV, não tem jeito. Eu vou no detalhe e vou olhar qualidade. Eu vou me sentir como cliente. Como o cliente se sentiria se chegasse e encontrasse. Vou ver a apresentação dos produtos, eu vou ver preço, vou ver se está bem exposto, vou ver a qualidade; isso acompanhada pelo meu pessoal da madrugada que às vezes me acompanham, que estão me entregando a loja. Enfim, a gente faz isso em todas as sessões.
P1 – O abastecimento da FLV é diário?
R – É diário. Meu recebimento da FLV é diário. Todos os dias eu recebo FLV.
P1 – Você tem algum ritual?
R – Ritual?
P1 - Algum ritual quando você entra na loja, alguma crença?
R – Não, não tenho nenhum ritual de rezar, isso não. Isso eu faço antes de sair da minha casa mas, ao entrar na loja, não, isso eu não tenho.
P1 – Porque ali, aquela loja tem um astral bom, ela tem música. A gente está fazendo compra, tem uma pessoa tocando.
R – Ah, sim. Não é gostoso, não é bom?
P1 – É o máximo. Como é que surgiu isso?
R – Não, isso surgiu... isso surgiu faz pouco tempo. A gente tinha antes que pôr música na loja, não tem mais. O cliente gosta, ele dança. Sabia que ele dança? Ele canta, ele vibra com essas coisas. Então a gente colocou todo final de semana e meio silenciosa a loja. Sábado à noite, domingo à noite, todo mundo quieto então, a gente colocou: MÚSICA, para poder estar alegrando o cliente na parte da...
P1 – Esta é uma característica de consumidor. É uma loja silenciosa, impressionante! Não parece estar... não tem barulho de loja.
R – Não tem barulho, não tem.
P1 – É
engraçado, isso? Por isso que eu acho que eu gosto de lá!
R – Aí eu senti esse silêncio e disse: - Não. O cliente, precisa de alguma coisa para animar, não só o som mas alguma coisa. E a gente colocou música ao vivo. Gente! É tão gostoso, é tão bom, sabe? O cliente canta, ele dança, ele vibra com isso. É tão gostoso! Porque eu senti a necessidade deles ter alguma coisa diferente.
P2 – E fazer mais compra.
R – E fazer mais compra, com certeza.
P1 – Já na entrada, já tem flores. Né! Já tem flores para alegrar. Neide, você teve contato com o Seu Santos?
R – Ah, várias vezes. Várias vezes.
P1 – O que você teria para dizer para nós sobre ele?
R – Seu Santos é uma pessoa tão meiga, tão amável, sabe? Uma pessoa assim que quando chega na loja já parece que...é um símbolo, uma coisa radiante, parece que ele irradia a luz porque parece que para ele tudo está bom. Ao sair e entrar na loja ele conversa com os clientes; antes ele não conversava com os clientes, não. Agora ele está conversando muito com os clientes. O pessoal chega, faz uma rodinha em volta, é muito gostoso isso. É bom.
P1 – Ele vai nas lojas?
R – Vai. Seu Santos vai nas lojas. Vai. Direto, ele vai nas lojas. O Dr. Abílio eu posso até contar quantas vezes ele foi este ano, mas o Seu Santos ele vai direto. Direto ele está nas lojas.
P1 – E do Seu Abílio, o que você teria a dizer a respeito dele?
R – O que eu teria a dizer do Dr. Abílio?
P2 – Você teve muitos contatos com ele?
R – Eu tive. Eu tive alguns contatos com o Dr. Abílio. Olha gente, o primeiro contacto que eu tive com o Dr Abílio, as pessoas falavam: Meu Deu! Eu sonhava o dia que eu ia encontrar com o Dr. Abílio. Quando eu passei para gerente, eu fiquei durante esses três anos pensando: Meu Deus! Como será o dia que eu vou receber o Dr. Abílio.
P2 – E como é que foi?
R – Ah, gente! Foi tão bom, foi tão gostoso, sabe? Foi tão gratificante para mim aquele dia. Eu nunca vou esquecer. Eu estava na frente de caixa, ele chegou. Eu simplesmente fui lá e cumprimentei ele:
- Bom dia, Dr. Abílio. Ele me retribuiu com um sorriso, e me acompanhou a loja inteira. Foi tão gostoso! E as pessoas falavam assim: Não, porque o Dr. Abílio é isso, o Dr. Abílio é aquilo, mas olha, não foi nada disso. Foi uma coisa assim muito... e até hoje quando ele vai na loja eu tenho o prazer de atendê-lo, em estar junto com ele, sabe? É muito bom, muito.
P1 – E você faz compra no Pão de Açúcar?
R – Eu faço. Faço compra no Pão de Açúcar.
P1 – Como é que é? Conta para a gente como é que você faz sua compra, você tem algumas dicas?
R – Eu falo para o pessoal assim: Gente, todo dia... - final de semana quando eu faço compra – agora eu vou fazer minha compra e vou... Estou indo embora e vou ver como eu estou deixando a minha loja. Agora eu sou o cliente. Eu vou ver todos os detalhes. Então eu me ponho como cliente naquela hora. Eu, gerente da loja, agora eu sou o cliente e vou ver todos os detalhes do que está acontecendo. No final das minhas compras eu tenho marcado tudo que eu vi de errado e aí eu chamo o pessoal: Gente, tem isso, isso, isso e isso e isso. Então me coloco também como cliente. A gente tem que se colocar também como cliente. É uma das virtudes do VIRTE, se colocando como cliente, a gente vai sabe como são os pontos que a gente tem de melhoria na loja.
P1 – E a Neide mãe, mulher, o que ela gosta de fazer?
R – O que eu gosto de fazer? A minha vida é tão corrida, sabia? Apesar que a gente às vezes a gente fala que a gente não tem tempo mas a gente tem tempo para tanta coisa!
Eu, durante a semana, eu trabalho. Né? Chego em casa todo dia às sete, sete e meia. Chego em casa, janto com meu marido, com meus filhos e final de semana faço um trabalho, no domingo, numa igreja. Eu sou monitora de crisma. Eu trabalho com jovens, por isso eu tenho a facilidade com o meu pessoal da loja, porque a maioria... são todos jovens, porque eu faço esse trabalho, já há dez anos eu faço um trabalho comunitário na igreja, onde eu trabalho com jovens. Então todo dia de manhã, na minha parte do domingo, quando eu não estou trabalhando eu estou na igreja.
P1 – Seu filho de 18 anos, ele participa?
R – Eu tenho um filho de 16 anos, ele está fazendo crisma junto comigo. Meus dois filhos. A minha filha também.
P1 – Que bacana. O que você achou de dar o seu depoimento?
R – Ah, foi muito gostoso, gente. Foi muito gratificante. Foi bom. Espero que eu tenha contribuído. Contribui com tão pouco, né, mas espero que eu tenha contribuído com vocês.
P2 – Foi lindo.
P1 – Só de ficar olhando para ela... Passou o coração, voltou ao normal?
R – Passou.
P1 – Neide, muito obrigado. Agora eu vou fazer compra mais cedo só para a gente se encontrar.Recolher