Projeto Pueri Domus
Depoimento de Oswaldo Canato Júnior
Entrevistado por Iwi Onodera e Maurício Rivero
São Paulo, 21 de agosto de 2006
Realização Museu da Pessoa
Pueri_HV_010_Oswaldo Canato Júnior
Transcrito por Suely Aguilar Branquilho Montenegro
P/1 – Boa tarde professor.
R – Boa tarde.
P/1 – Primeiramente, gostaria que o senhor nos dissesse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Oswaldo Canato Júnior, nascido em Araçatuba, em três de junho de 1964.
P/1 – Qual que é a sua atividade ou função aqui na Pueri Domus?
R – Aqui eu acúmulo... dá prá dizer duas ou três funções, uma de professor no Ensino Médio, leciono primeiro, segundo e terceiro ano do Ensino Médio, a disciplina Física e também assessorou a área de Física. O Pueri aqui de São Paulo tem quatro unidades, aqui na Verbo Divino, mais Aruã, Aldeia da Serra e Itaim, e eu sou Assessor, né, da disciplina Física. Cada disciplina tem uma assessoria e então eu faço assessoria de Física e aí é que entra a terceira atividade de certo modo essa assessoria em virtude de eu ser co-autor de alguns materiais do Ensino Médio de Física. Então é em virtude disso que veio o convite prá assessoria.
P/1 – Entendi. Qual é o nome dos seus pais?
R – Oswaldo Canato, meu pai e Glória Geral de Canato, minha mãe.
P/1 – Gostaria que o senhor falasse um pouquinho da origem da sua família.
R – Minha família é descendente de italianos, né, não sei dizer exatamente a trajetória do meu avô, mas, enfim, meu avô é italiano, minha avó, isso por parte de pai, né, espanhola e por parte de mãe, os dois, o casal era italiano. Então, enfim, alguma imigração desses países prá cá e acabaram residindo em Araçatuba, uma cidade do Interior de São Paulo. Lá nasceu minha mãe, nasceu meu pai, meu pai era no começo comerciante depois virou professor de Inglês, de escolas como Yázigi, ele tinha a escola dele, né, uma filial, alguma coisa assim e a minha mãe, inicialmente do lar, depois que eles se separaram ela começou a trabalhar como promotora de vendas de, revendedora primeiro e depois promotora de vendas da Rhodia, que hoje em dia já não existe mais, mas é como se fosse Avon, coisas assim. Então é mais ou menos isso e a partir dos oito anos, até os oito anos de idade eu vivi em Araçatuba e aí com a minha mãe a gente veio prá São Paulo.
P/1 – E voltando um pouquinho nessa fase, como que era a sua casa?
R – Como era a minha casa?
P/1 – É.
R – Bom, teve também dá prá dizer dois momentos, o momento em que a família unida, né, digamos assim, eu me lembro vagamente, mas eu lembro que era uma casa confortável, né, prá Araçatuba, não vou te dizer, saber quantos cômodos, mas, enfim, era uma casa, me lembro razoavelmente confortável. Depois da separação do casal, vivendo com a minha mãe a situação financeira ficou diferente, então eu me lembro de uma situação bem mais modesta, né, mas nada que fosse algo muito difícil de lidar, né, mas era uma situação, então teve dois momentos em Araçatuba nessa época que você tá me perguntando, né, depois em São Paulo aí são...
P/1 – E nessa época quais eram as suas brincadeiras favoritas?
R – Ah! (RISO) Basicamente eu com um amigo muito próximo que eu tinha, brincar de imitar, né, Perdidos no Espaço, por exemplo, aquela série que hoje em dia passa ainda por aí, Túnel do Tempo, aquelas séries que passavam naquele tempo na televisão então a gente assistia e depois ia brincar, né, disso como se o quintal fosse uma nave espacial, coisas assim.
P/1 – Tinha alguma outra brincadeira que vocês costumavam?
R – Não, que eu me lembro era mais, isso ficou gravado na cabeça, com certeza “deviam tê” outras, mas essas me gravam bem na cabeça até hoje, né, que a gente ficava brincando bastante disso assim que terminava um programa da série e tal.
P/1 – E teve algum fato marcante na sua infância que você pode contar prá gente?
R – Ah! Com certeza. Não que foi um trauma, mas marcante sim, a separação dos meus pais, claro que foi um fato marcante, não dá prá dizer que não, né? Eu era muito criança então por isso mesmo acho que não tem nenhum trauma dessa época, mas que é um marco não há dúvida que é, né, e acho que a entrada na escola, como toda criança não querer, ou quase toda, né, não querer ir prá escola, chorar na entrada também, acho que isso foi marcante, mas fora isso e sim, acho que também isso, que eu em férias escolares costumava, né, nessa época criancinha, costumava ir muito prá fazenda dum tio em Araçatuba, então quase que todas as férias o mês inteiro se passava na fazenda, né, e eu gostava, isso é outra coisa que me marcou bastante a infância.
P/1 – E na sua escola, como que era a sua primeira escola?
R – Olha, eu me lembro vagamente da primeira escola. Eu cursei do ensino, que hoje chamam de Ensino Fundamental I, né, primeiro grau, os três primeiros anos em Araçatuba depois vim pra São Paulo, era uma escola estadual e, mas não ficou nada marcante assim dessa época, era uma escola estadual comum, eu era um bom aluno em termo de desempenho escolar, de nota, né, nunca tive problema.
P/1 – E as salas eram mistas, você lembra?
R – Ah... que eu me lembre, sim, que eu me lembre eram mistas e eu não me lembro se eu cheguei a pegar, eu acho que eu cheguei a pegar aquelas carteiras ainda que duas pessoas se sentavam juntas, né, na mesma carteira que tem o lugar pra por o lápis, coisas assim, eu acho que eu cheguei a pegar isso em Araçatuba sim, mas que eu me lembre eram mistas.
P/1 – E de que matérias você mais gostava?
R – Ah, dessa época? Ah, (PAUSA) não sei, não dá prá te dizer, não lembro se eu tinha um gosto mais por uma matéria ou outra.
P/1 – Depois de Araçatuba você foi pra qual escola?
R – Sim, aí a gente veio pra São Paulo, em São Paulo mudei bastante de escola. Cursei a quarta série, terminei o primeiro grau aqui em São Paulo numa escola que eu não me lembro, me lembro vagamente, era Doutor Quirilos, Jardim Bonfiglioli, mas eu lembro do local, mas não exatamente da escola, né, eu me lembro só que eu ia, isso eu tava com os seus, seis mais quatro, uns dez anos de idade, eu lembro que aqui em São Paulo já com dez anos de idade eu pegava ônibus lá no Jardim Bonfiglioli prá ir prá escola, sozinho, tal, isso também é uma coisa que ficou marcada já, agora já em São Paulo, né? Depois de quinta a oitava série sempre a escola pública aqui de São Paulo, acho que eu fiz a quinta e sexta série numa escola que é o Marina Cintra, agora já na Rua da Consolação, porque a família já havia mudado, né, de lugar aqui em São Paulo, depois disso Santos, minha mãe mudou prá Santos, eu fiz a sétima e oitava numa escola em Santos e depois o Ensino Médio, os três anos do Ensino Médio, hoje Ensino Médio, né, naquele tempo Segundo Grau, no Colégio Canadá, que era um colégio estadual.
P/1 – De toda essa trajetória, essa vida escolar, de idas e vindas, teve alguma pessoa mais marcante?
R – Teve alguns professores, né, que, em especial já no Ensino Médio que e eu não vou lembrar o nome dos professores, mas eu me lembro que eu gostava muito de uma professora de Química, de uma, de um professor de Matemática, em geral, aí sim, começou já, no Ensino Médio começou a delinear o meu gosto, né, mais pela área de Exatas, então fica, não sei qual é o, o quê levou a o quê, se o gosto pelos professores levou ao gosto da matéria ou se realmente eu vinha já vindo um gosto pela matéria e daí o gosto pelos professores, mas os professores de Física, Química e Matemática eram quem eu mais gostava, né? Então, mas eu não lembro nome exatamente desses professores, ah..., mas me marcou, em geral, foi aí que me decidiu que eu, enfim, fui indo prá Exatas virá professor de Física depois, né?
P/1 – Legal. E como é que era essa relação de vocês alunos com esses professores?
R – Ah (PENSANDO) era uma relação “às antigas”, né, ou seja, uma relação em geral mais distante, “conteudista”, quer dizer, não existia essa questão do construtivismo, né, que hoje em dia se coloca muito na educação, então era, enfim, o professor passando mesmo o conteúdo, aulas em geral expositivas e os alunos copiando da lousa, fazendo os exercícios em casa e se preparando para as provas e, um ensino, enfim, bem tradicional, né, mas um ensino bem tradicional e que funcionava bem dado, digamos assim, né, em especial dessas disciplinas que eu me afeiçoei mais, lembro da professora de Química que, além da aula tradicional dela na lousa, ela resu... tinha muitas atividades em grupos como um desafio prá você tentar conseguir resolver problemas e quem resolvesse primeiro ganhava mais pontos, talvez ela fosse uma exceção assim nesse jeito mais tradicional, mas em geral é isso, aulas tradicionais com o livro didático adotado, você estudando em casa pras provas, né, mas um professor que você percebia nele uma segurança muito grande, né, do que ele passava, do ensino que ele dava, aparentemente tranqüilo com a sua profissão, coisa que eu imagino que a gente vá chegar nisso depois, na entrevista não é bem assim hoje, tal, então é isso não tem nada marcante assim.
P/1 – Indo um pouco prá sua juventude, você tinha um grupo de amigos?
R – É, em Santos, sim. Em Santos, no Ensino Médio, era comum à noite a gente passear pelas praias, né, pela praia, pela calçada da praia de Santos, que é o passeio tradicional, né, prá juventude em Santos, enfim, tomar sorvete, jogar..., eu eventualmente, porque eu nunca me afeiçoei muito à prática esportiva, mas, enfim, de vez em quando uma “pelada” na praia, né, de futebol, final da tarde, andar muito de bicicleta, gostava, eu e meus amigos íamos de bicicleta de Santos prá Guarujá, enfim, uma vida normal prá um santista, né, eu não era santista de nascença, mas morando lá...
P/1 – Você foi morar em Santos em que ano? Você se recorda?
R – Deixa eu ver, isso foi... 82 eu entrei na faculdade, deve ter sido por volta de 79, por aí, mais ou menos isso, talvez antes, 77 acho, porque desde a sétima série do Ensino Médio, é, acho que por volta de 77, 78, por aí.
P/1 – E lá em Santos você participava de alguma atividade social na comunidade, ou não?
R – Não.
P/1 – Não? Agora vamos um pouquinho prá sua formação profissional.
R – Tá.
P/1 – Por que você optou por trabalhar na área de educação?
R – Na área de educação? Bom, aí, tem a ver com o histórico de vida mesmo, né, eu estava lecionando, lecionando não, eu estava cursando o curso de Física na UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos e fazendo o bacharelado, né, que é o diploma que você tem direito a lecionar em faculdades, mas em geral é mais usado prá quem gostaria de seguir pesquisas em Física, no caso, mas nas... (PENSANDO) no terceiro ano desse curso apareceu uma matéria na minha frente, chamada Mecânica Quântica, que de 50 alunos matriculados, isso é “meio de praxe”, né, e ainda é até hoje, acho, infelizmente, dois alunos apenas foram promovidos e eu não estava entre eles. Conclusão, a mecânica quântica é uma matéria que, tem a mecânica quântica um e dois, cada uma oferecida só uma vez por ano, então se você não é aprovado em mecânica quântica um, você não pode fazer mecânica quântica dois, significa que só um ano depois prá você retomar aquele curso. Bom, já que aconteceu isso, nesse ínterim, eu resolvi também preencher o meu currículo com as matérias da licenciatura, né, então com a... com o planejamento de me formar em cinco anos e não mais em quatro anos, mas nos dois cursos, licenciatura e bacharelado. Mas aí, seja por gostar, né, começar a gostar dessa área mais pedagógica, educação, ou seja, por necessidade mesmo de precisar, enfim, começar a trabalhar e naquela época sendo um aluno recém, já, quase formado, né, em licenciatura, era mais fácil você conseguir emprego como professor da rede pública, então, enfim, por um motivo e por outro eu diria até que o mais decisivo foi a necessidade financeira, me projetei na carreira de professor, né, meio que “vamo vê o que vai dá”, mas é o jeito que eu posso agora começar a minha vida financeira, porque eu precisava de uma independência nesse sentido, né? Mas aí, comecei a gostar da coisa e foi.
P/1 – E nesse período de faculdade, você tem alguma lembrança marcante?
R – Bom, além dessa que eu já te coloquei, né, que, quer dizer, essa retrata um pouco como era e como eu disse, ainda, acho eu que é, os cursos universitários, “qué dizê”, você (PAUSA) aula muito expositivas, muito “conteudistas”, o professor não se importando se o aluno está de fato ou não aprendendo, na verdade, o professor, ele é um professor que ele tá na universidade mais prá fazer pesquisas, a pesquisa que ele tem convênio, né, com empresas ou tem bolsas, né, com Fatesp etc e tal, o que é um direito legítimo dele, mas enfim, muito preocupado com isso ele se esquece ou dá pouca importância ao ensino, né, dos seus alunos e, enfim, o aluno tem que se virar, no popular aí, por conta própria, então essa é a cara, foi a cara do meu curso de, o curso de licenciatura, né, bem tradicional, bem “conteudista”, pouquíssimo, pouquíssima prática experimental no laboratório, as práticas experimentais que tinham no laboratório eram na verdade kits, né, de montagem, quer dizer, faça isso, faça aquilo, faça aquele outro e lógico, a experiência vai dá certo e depois você faz um relatório experimental prá contar aquilo que aconteceu. Não que eu não tenha aprendido bastante, foi um bom curso, mas é nesse estilo de curso, então é uma coisa que me marcou bastante, porque depois virando professor a gente vai repensando algumas coisas e uma das coisas que eu repensei bastante é isso, quer dizer, como foi o meu curso na universidade e se esse é o tipo de curso que eu gostaria, né, que os meus alunos tivessem, então essa acaba sendo uma coisa bem marcante aí na minha carreira depois.
P/1 – E dentro da sua formação quais foram os autores que foram importantes?
R – Da minha formação já na área de educação, você quer dizer?
P/1 – Isso, na área de educação.
R – Então aí, é, bom, se começar lá da, do curso de licenciatura, uma matéria que me abriu bastante a cabeça, não me lembro o nome exato, mas algo sobre psicologia, então Piaget, a gente estudou muito Piaget, então isso foi um, o trabalho dele me marcou bastante no começo, né, (PAUSA) agora, depois, já, aí eu diria já, pularia se for prá pensar em autores já do curso mesmo de mestrado, né, então a gente tá dando um bom pulo aí, aí eu colocaria o Nilson Machado, da USP, professor, né, o meu orientador, o Luís Carlos de Menezes, um referencial teórico que eu usei prá minha dissertação depois que é o Pierre Lévy, um francês que fala bastante sobre tecnologia da informação e vários outros, mas aí não tanto no sentido de referencial teórico, pessoas que já estavam preocupadas com o mesmo assunto, digamos assim, da minha dissertação de mestrado, né, mas aí não dá prá dizer que é um referencial teórico, pessoas que também têm uma trajetória nesse sentido de explorar aquilo que eu acabei explorando no meu mestrado. Acho que nomes de autores seriam esses.
P/1 – Você fez mestrado onde?
R – Na USP. USP inter unidades, na Física da USP, mas ligada com a Faculdade de Educação, então é um mestrado que tem em ensino de ciências, então as duas faculdades se unificam, né, nesse mestrado, você tanto assiste algumas aulas no Instituto de Física como outras na Faculdade de Educação, então foi ali, chama-se Mestrado em Ensino de Ciências, no meu caso, Modalidade Física.
P/1 – Fala um pouquinho do seu projeto prá gente.
R – O projeto foi uma preocupação em reformular o ensino de Física, em especial em incrementá-lo, né, inserir a física moderna no currículo do ensino de Física. Quê que seria física moderna? A física do século XX, então desde Einstein, efeito fotoelétrico, até mesmo um pouco antes dele até chegar hoje em dia aí na nanotecnologia, né, e toda essa parafernália que a gente mexe, né, no dia a dia, então a gente tá aqui com a câmera, microfone e todas essas coisas e essas, geralmente um curso de Física, até hoje em dia ainda começa lentamente a mudar, mas ainda hoje em dia não se discute algumas coisas do material que a gente usa no dia a dia. Então tem um infravermelho que tá vindo duma “luzinha” que tá ali da câmera, por exemplo, e o professor de Física, vamos “chutar” vai, uns 90% dos professores de Física que tem no Brasil talvez não saibam explicar bem como isso funciona, o que é exatamente a luz infravermelha que tá saindo do aparelhinho lá do controle-remoto quando a gente liga, desliga a televisão. Por outro lado, energia nuclear, né, que é uma coisa que mudou no século XX e é uma das energias alternativas pro futuro, mas tem toda controvérsia, essas coisas geralmente não são, ou não eram, ou não me foram ensinadas na universidade, a não ser num plano muito, muito teórico, fórmulas, fórmulas, fórmulas, mas não uma coisa mais prática. Então eu tinha a preocupação de como que nós estamos já chegando, isso naquela época, hoje em dia já estamos no século XXI e a física do século XX não vinha prá sala de aula, né? Então o professor de Física, ele normalmente, os livros de física normalmente eles contam a física, a história da física ali até o século XIX, né, até o eletromagnetismo e dali prá frente nada. Então a minha preocupação era essa, de “bolá” uma maneira de inserir a física moderna no Ensino Médio. Aí que eu disse que, durante o mestrado você faz as disciplinas, mas também vai estudando, né, os referenciais e outras pesquisas que já existiam sobre isso e apareceram pessoas que, quer dizer, textos, né, de pessoas que já se preocupavam com isso, Eduardo Terrazan, uma moça lá do Rio Grande do Sul também, Fernanda Ostermann e outras pessoas mais internacionalmente, não vou lembrar o nome também, né, analisando os currículos de outros países, currículo da Inglaterra, currículo das escolas americanas, percebendo que mesmo lá, ainda que estavam na nossa frente nesse sentido, mas a física moderna não era ainda uma coisa tão introjetada, né, como a física clássica, então, olhando tudo isso veio a necessidade, né, de propor uma mudança no currículo de Física. Então esse foi o, essa foi a idéia do projeto, mas essa foi só a idéia inicial, porque ao começar a ter contato com o orientador, né, o Menezes, o Luís Carlos de Menezes, a gente começou a perceber que inserir física moderna no Ensino Médio significa reformular o currículo inteiro do Ensino Médio, não é colocar uma gaveta a mais, né? Então já tem a gaveta da mecânica, tem a gaveta da termologia, tem a gaveta da ótica, aí “vamo colocá” mais uma, não, precisaria reformular o currículo como um todo. E assim foram nascendo os fascículos que depois vieram, tão sendo aplicados aí na rede Pueri Domus, né, eles nasceram assim, quer dizer, o orientador me convidou para escrever com ele o fascículo de física moderna, mas aí a gente a gente percebeu que para escrever o fascículo de física moderna precisaria escrever os outros fascículos, ou seja, reescrever na verdade a coleção. Então o projeto começou com a preocupação única e exclusiva de inserir a física moderna no Ensino Médio e ele terminou cumprindo esse objetivo, mas ao mesmo tempo colocando esta mudança num contexto de uma mudança global de todo ensino de Física. Então a dissertação, o projeto de pesquisa acabou sendo isso, é uma, nós utilizamos o fascículo que nós elaboramos como uma, uma das muitas propostas possíveis de serem aplicadas prá inserir a física moderna no Ensino Médio de forma contextualizada, né? Então a gente fazia uma crítica às inserções que começavam a aparecer e hoje ainda predominam, né, então hoje em dia você pega livros didáticos de Física e tem lá nas últimas páginas do livro do terceiro ano, tem lá páginas agora de física moderna, então a energia nuclear, o efeito fotoelétrico, tudo isso entra, mas é lá no fim, né, então, quer dizer, o livro que já era dessa espessura, aumentou um pouquinho. E o professor, na prática, não chega lá, né? Então discutimos também que precisaria de
uma mudança na formação dos professores, mas isso ficou mais prá um possível projeto futuro de doutorado, né, então esse mestrado abriu várias idéias de como continuar, mas isso ainda tá em estudo. Então é mais ou menos isso.
P/1 – E nesses fascículos que vocês já escreveram, quais outras dificuldades que vocês tiveram?
R – Bom, primeiro a dificuldade de reaprender a física, ou seja, apesar de eu ser formado na Federal de São Carlos, uma faculdade que ainda hoje em dia é boa, mas naquela época era muito boa, ela tinha acabado de ser apontada como uma das estrelas do ano 80, então era, foi um curso bom, apesar de tradicional como eu tinha dito, né? Já ter uma larga experiência no magistério, né, isso aí, eu comecei o projeto de mestrado em 2000, é acho que foi 2000, se eu não me engano. Eu comecei a lecionar em 86, então eu já tinha uma trajetória razoável aí no, como professor, né? Mesmo assim, a hora que nós começamos a escrever de fato, né, o novo material, claro que muito mais eu do que o meu orientador, mas eu acho que até ele mesmo, nós reaprendemos muita coisa de física. Então eu, foi quase que fazer um curso universitário novamente, porque, só que comigo mesmo, né, estudando muito por conta própria com o apoio do orientador e escrevendo, escrevendo, escrevendo, reescrevendo, reescrevendo, reescrevendo, assim, então a foi principal dificuldade prá mim foi essa, é numa certa hora se dar conta de que eu não sabia um monte de coisas que eu achava que eu sabia, né, e aí tê que correr atrás e reaprender, na verdade, um monte de conceitos equivocados que estavam na cabeça, né. Essa foi a, eu diria, principal, a principal, o principal problema da..., tem, eu diria outros, mas prá mim não acabou sendo um plano, eu acho que é um plano dos autores em geral, né, é a remuneração que é muito baixa pro autor, mas no meu caso isso não era o foco, porque eu tava evidentemente usando, né, isto como o meu projeto de pesquisa, então era uma, era uma grande oportunidade prá mim participar, né, disso, então, mas eu tô colocando mais como um problema geral, eu imagino que seja um problema prá quem escreve, vive disso, digamos assim, né, no Brasil, tem um problema nesse nível, mas prá mim, o principal problema foi esse, foi, enfim, eu precisei reaprender um monte de coisas de física.
P/1 – Imagino. Você estava falando de remuneração, me conta um pouquinho. Qual foi o seu primeiro trabalho?
R – Primeiro trabalho, você tá..., primeiro, primeiro, primeiro, informal?
P/1 – Primeiro, primeiro, primeiro.
R – Primeiro, primeiro, primeiro foi (RINDO) numa loja em Santos de, como atendente de balcão, de uma empresa de material de limpeza. Então, era um conhecido da minha mãe que tinha essa loja e eu comecei a trabalhar lá, nem tanto por necessidade financeira, tinha um pouco também, mas mais prá começar, né, fazer algo. Como eu não era muito de... dado a esportes ou, enfim, ir prá farra, né, como se diz no popular, então, enfim, foi trabalhar, né, e gostava de ficar à tarde lá. Então estudava de manhã e trabalhava meio período à tarde, né?
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Ah, isso era com uns 15 anos mais ou menos, mais ou menos isso.
P/1 – E o primeiro trabalho registrado?
R – O primeiro trabalho regi..., não, registrado ainda teve um mais ou menos parecido com esse na loja da minha mãe. Então eu também trabalhava à tarde na loja dela, não só era uma coisa de registro de fachada, realmente a gente ficava, eu e o meu irmão, né, a gente trocava os horários, ele, na verdade ele ficava o dia inteiro se eu não me engano, e eu ficava o período da tarde trabalhando, aí já era confecção, era loja de confecção, roupas, né, então a gente trabalhava muito dobrando as roupas, separando e atendendo o público também. Esse foi o primeiro registro na carteira. Agora, o primeiro registro já enquanto atividade profissional de professor, né, que é central na minha história de vida foi no colégio público estadual ainda, não, já em Ribeirão Preto em oitenta e..., meio de 86, agosto de 86, então em escola no, periferia de Ribeirão Preto trabalhando como Professor de Matemática não era Física, no primeiro grau e também no segundo grau nessa escola, isso por seis meses, e depois, ainda na rede pública estadual, lá em Ribeirão Preto, aí já, a partir daí só Física em Ensino Médio e começando também a carreira em escolas particulares, no caso lá, o Anglo, de Ribeirão Preto. Fiquei três anos no Anglo, de Ribeirão Preto paralelamente à escola estadual e também viajando um pouco em outros lugares. Então, através do Anglo, de Ribeirão Preto também teve convite e eu fiquei um ano no Anglo, de Jaboticabal indo aos sábados lecionar, tinha também o Anglo de... como é que era... o Anglo, de Botucatu, que foi por um ano também, aí depois em 1990 vim prá São Paulo. Daí São Paulo, continua?
P/1 – Pode continuar.
R – Em São Paulo, a história é longa, em São Paulo, eu não vou lembrar exatamente da seqüência, né, mas a rede pública estadual sempre há uma permanência nisso em várias escolas, então, porque eu era professor que a gente chama de “ACT”, atribuição das aulas em caráter temporário, né, “ACT”, então eu não era efetivo. Em 94 é que eu me efetivei no concurso público. Então, enquanto você não é efetivo, é muito comum você mudar de escola de ano prá ano, então eu passei por várias escolas aqui de São Paulo, né, uma escola em Pinheiros, escola na Vila Mariana, enfim, e quanto às... até 94, de 94 em diante aí já fixo numa escola da Vila Mariana, Major Arcy e mais prá frente mudei, mas aí mudei como, por vontade própria, né, como remoção, a gente fala, prá uma outra escola. Na rede particular, quando eu cheguei aqui em 90, (PAUSA) eu acho que logo por coisa de três... é fiquei seis meses numa escola lá da própria Vila Mariana, que é onde eu passei a morar, uma escola chamada Santa Rita de Cássia, uma péssima escola, felizmente só seis meses, de lá fui contratado pelo Arquidiocesano, fiquei um ano e meio, né, aí assim uma escola boa, depois do Arquidiocesano um pouco tempo no Pentágono, coisa de três meses só, quando então fui contratado pelo Colégio Emilie de Villeneuve, aqui próximo ao Aeroporto da cidade de São Paulo, né, de Congonhas e aí fiquei até 2005. Então foram 13 anos nessa escola particular, né? Com a escrita dos fascículos, né, de Física, dentro do meu mestrado, a convite lá do meu orientador do Menezes, naturalmente foi se aproximando, né, o meu trabalho da rede Pueri Domus. Então, em 2004, ainda quando eu participava de alguns eventos como autor de fascículos, então a gente era convidado prá dar alguns cursos ou acompanhar, enfim, os professores durante a aplicação dos fascículos, então eram algumas reuniões que existiam, que vinham professores do Interior que usam, das redes associadas, né, não só da rede aqui de São Paulo, da rede de associadas Pueri Domus do Interior vinham prá cá e os autores davam uma assistência, assistência pedagógica prá acompanhar como “tava” indo, que dúvidas apareciam, quais as dificuldades, então nisso, numa certa hora em 2004, no final de 2004, o Diretor, então do Pueri Domus acabou me convidando se eu não queria, né, vir prá cá, quer dizer, sair da escola particular que eu estava e vir prá cá. Por um ano eu acabei acumulando as duas, na verdade, três funções, porque a rede estadual continuava mais o Colégio Emilie com uma redução de carga lá e o começo aqui e aí a partir desse ano é que eu vim integralmente prá cá, sem contar o Estado que continua lá o cargo efetivo, né, eu tô ministrando no Estado. Então é isso, foi essa a trajetória aqui em São Paulo. Esqueci ainda de um, de um... seis meses que também eu trabalhei no Cursinho Anglo, né, como eu já havia trabalhado lá em Ribeirão Preto, então eles acabaram também me chamando prá trabalhar, mas foi por pouco tempo, seis meses aqui em São Paulo. Então também teve nessa trajetória aí, por seis meses, o Cursinho Anglo aqui de São Paulo.
P/1 – E fala um pouquinho das atividades que você já desenvolveu aqui no Pueri.
R – Atividades aqui no Pueri. Bom, eu tô então, eu tô aqui desde 2004, né, então 2004, 2005, agora é o terceiro ano, eu acho que é mais a questão das aulas em si, né, o tipo de aula que a gente tá tentando passar pros alunos, não, (PAUSA) até teve sim, depois, eu lembrei de uma atividade que é uma diferença que talvez seja interessante sim colocar, mas eu acho que o mais importante mesmo a minha trajetória aqui no Pueri como professor tem sido a de tentar passar pro aluno um curso que é justamente aquele curso que eu falei que eu não gostei de ter tido lá, seja na minha faculdade, como repensando também o meu Ensino Médio lá de tempos anteriores, então um curso de Física bem contextualizado. Então, por exemplo, o primeiro ano do Ensino Médio esse ano, né, mas podia falar do ano anterior também, ele (PAUSA) ele começa, o aluno do primeiro ano já começa o curso de Física com uma visão global de toda a física. Então é um fascículo que a gente elaborou chamado “O mundo da energia”. Então, nesse fascículo, a gente discute com o aluno tanto a energia mecânica, então, vamos supor, o carrinho de montanha-russa, que é energia potencial, quando ele cai vira energia cinética, coisas assim, que é geralmente um assunto tradicional dos livros didáticos do primeiro ano, mas também se discute com o aluno logo de cara, primeiro semestre do primeiro ano, termologia, então como funciona um carro, como funciona uma geladeira, comparar as máquinas térmicas com os refrigeradores, como também discutimos a energia elétrica, então como funciona a lâmpada, chuveiro, motor elétrico, circuitos elétricos residenciais, usinas, né, de energia elétrica, que é um assunto que geralmente nos livros didáticos tá no terceiro ano do Ensino Médio, quer dizer, no final do curso, né. Então qual é a idéia? É que esse aluno, ele comece a enxergar Física de um modo diferente, uma Física mais unificada, uma Física que não tem as gavetinhas, né, uma coisa que leva na outra, que leva na outra e assim vai, claro que num nível de aprofundamento que não é aquele que o professor do terceiro ano trabalharia a eletricidade com o aluno e são fascículos que, que os assuntos retornam numa espiral, né, então no ano que vem a gente volta a discussão com os alunos novamente de energia elétrica no terceiro ano de novo. Então eu diria que é mais isso o meu papel enquanto professor tem sido mais de tentar dá uma cara pro ensino de Física diferente do que o que a gente vê por aí no tradicional, né? Enquanto atividade talvez que marque um pouco assim essa diferença, os alunos gostaram muito, foi o ano passado em que a gente foi ao Hopi Hari, estudar Física no Hopi Hari, então elaboramos uma, uma, uma apostila, né, uma série de perguntas em que o aluno tinha que fazer lá medidas ou buscar informações com os técnicos do Hopi Hari prá, depois, com essas medidas, efetuar os cálculos que em sala de aula a gente já havia aprendido. Então foi uma atividade bem interessante, em geral eles gostam, não é uma novidade, eu já aplicava isso em outras escolas por onde eu já passei, tem outras escolas por aí que já fazem isso também, mas o interessante, o diferencial é que é um estudo do meio, né, esse do Hopi Hari, muito casado, muito ligado ao fascículo que a gente tá adotando, né, então esse seria o diferencial, essa é uma atividade interessante que ocorreu o ano passado aqui, aqui não, não só aqui, foi todas as quatro unidades, né, participaram desse projeto, não só a Verbo Divino, então essa é uma atividade interessante, né, que por enquanto a gente tá fazendo. Tem uma outra que eu acho que também vale a pena relatar, lógico né, que é a minha preocupação, foi daí que começou tudo, da Física Moderna no Ensino Médio. Então, ainda que esses fascículos estejam sendo implementados desde o ano passado, então ainda não terminou aqui no Pueri Domus de São Paulo o ciclo, né, de experiências, os três anos do Ensino Médio, então nem todos os fascículos foram usados, aplicados em sala de aula, mas com os terceiros anos que, portanto, não, não, que agora começam na verdade a entrar nesse ritmo mais dos fascículos, tem um trabalho interessante que tá sendo desenvolvido que é um trabalho de Física Moderna de pesquisa. Então os alunos são divididos em, em grupos, pequenos grupos de pesquisa, um vai pesquisar efeito fotoelétrico, o outro, energia nuclear, fissão e fusão nuclear, um outro sobre a nanotecnologia e assim vai... Numa primeira fase eles têm que fazer uma pesquisa e com isso conformar uma espécie de, de diário de bordo, que é um nome popular por aí, então a pasta cheia de materiais pesquisados, né, inclusive sínteses de entrevistas que eles têm que fazer com algum professor universitário, sínteses de, de revistas científicas, tudo isso acumula no material para que no outro trimestre eles produzam um texto. Então, a idéia é que esses alunos produzam uma, não é uma monografia, porque não é um texto de uma pessoa só, mas é mais ou menos essa idéia, ou seja, que eles tenham no Ensino Médio e aproveitando a Física Moderna como um gancho, né, prá isso, que eles tenham no Ensino Médio uma oportunidade de, de tê um pouquinho o gosto, digamos assim, do que vai acontecer no futuro curso universitário dele, mais ainda no mestrado, que é ter um orientador pro trabalho dele, então eu tento atuar como um orientador e não como um professor nesse tipo de trabalho. A idéia é que isso, tá...
FIM DO PRIMEIRO ARQUIVO
R – Então, é, “tava” dizendo do trabalho de Física Moderna que, então, esse é o primeiro passo, aí o segundo passo é eles escreverem esse texto e a idéia é que esses textos não fiquem só em texto, mas também numa apresentação multimídia e, quem sabe, a depender de como isto evoluir, esta é a minha intenção, um site, né, de Física Moderna acoplado no site aí do Pueri, né, com esses trabalhos expostos, tal. Esse trabalho já foi feito o ano passado aqui também, mas não chegamos, nesse, nesse, nesse nível digamos assim, da coisa, né, eles fizeram um tipo de monografia, um trabalho em grupo deles de escrita, né, e foi muito interessante, então eu me lembro de vários alunos dizendo de que não tinham tido, que gostaram dessa troca entre professor e aluno, “qué dizê” não só eles tinham que “fazê” um trabalho, mas eles tinham que conversar com o professor sobre o que eles estavam escrevendo e o professor também parecia aprender com o que eles traziam, né, e é essa mesmo a idéia, a idéia é trabalhar como orientação e se você é um orientador, “qué dizê” você tá orientando alguma coisa nova, não é exatamente um mestrado, não dá prá comparar, mas é essa mais ou menos a idéia, então também acho que é um trabalho interessante de ser citado, que é uma coisa muito minha, né, não que outros não possam fazer e façam acho que coisas parecidas, mas é uma coisa que eu fui aprendendo aos poucos na minha carreira. Já também apliquei esse tipo de coisa em outras escolas, mas de novo, aqui a gente tem o diferencial do quê? Nós temos um fascículo de Física Moderna, né, que pode, que serve como um apoio pedagógico a esse tipo de trabalho agora. Antes eu já fazia isso, mas não tinha, né, um material que ajudasse, então é bem mais interessante agora. E também tem uma outra, um outro projeto, mas aí não é, eu me coloco, como parte né, da equipe, “qué dizê”, não fui o formulador dele, mas gosto muito de participar que é um chamado “olho de prata” aqui que tem, os alunos do primeiro e do segundo ano têm que fazer uma pesquisa ao longo do ano em grupo e no final do ano, Física, Química e Biologia estão juntos nisso, e no final do ano apresentar a produção deles, em geral tem que ser alguma coisa montada, alguma “engenhoca”, né, que a gente costuma brincar, prá que eles apresentem e aí sim é uma espécie de defesa, “qué dizê”, a gente, os alunos estão lá na frente, apresentam e a banca de professores fica lá em cima vendo a apresentação, analisando, avaliando e depois fazendo algumas perguntas pros grupos, né? Também é um trabalho interessante, mas aí é uma coisa nada minha, “qué dizê” é eu como parte da equipe, né, mas é um projeto interessante que tem aqui.
P/2 – Quando começou esse projeto?
R – Esse projeto já faz uns três anos, era da época de um outro professor de Física, que tinha aqui e a equipe de, mas era só Física e hoje em dia é um projeto, é um projeto global dessas três disciplinas: Física, Química e Biologia.
P/2 – Que envolve a área de computação também?
R – Envolve no sentido que, não que tenha a... não que tenha alguém da área de computação responsável por ajudar, auxiliar os alunos, orientar, mas os alunos têm que apresentar no fim uma apresentação, fazer uma apresentação e essa apresentação geralmente é com o uso de Power Point, então usa-se a computação, mas não que a escola destine aulas visando isso, tá.
P/1 – E desses fascículos, como é que foi a aceitação dos pais?
R – Bom, ainda é cedo, né, prá dizer, como eu disse, ele tá ainda em fase de aplicação, então é um pouco cedo, agora a impressão primeira que dá é que é favorável, “qué dizê”, nas reuniões de pais, né, que a gente tem feito ano passado e este ano, em geral, os pais são favoráveis. Alguns questionamentos às vezes aparecem no sentido de... de, mas “pera aí” esse livro não parece um livro de Física, esse fascículo, porque cadê as fórmulas? Né, como são textos, são textos então as fórmulas aparecem em boxes e no caderno de exercícios, mas o fascículo em si é um texto corrido, como se fosse um texto de História, um texto de Geografia, um texto da área de Humanas, então é bem diferente do tradicional, né, e às vezes o pai se preocupa com isso, mas... e mesmo os alunos, né, os alunos que, vamos supor, os alunos que vieram de quinta a oitava série ou de uma outra escola que tão mais habituados aí quem sabe ao ensino tradicional também choca um pouco nesse sentido, mas como assim? É Física, que eu saiba é um monte de conta, um monte de fórmula e de repente isso não tá, né, explicitado aqui no fascículo, mas aos poucos, esse “aos poucos” acho que é uma coisa muito rápida, os alunos vão, tanto os alunos quanto os pais vão percebendo de que não é bem assim, porque é ao contrário, né, é até mais difícil, porque as fórmulas, os exercícios numéricos são trabalhados de todo jeito, porque o professor complementa, “qué dizê”, o fascículo é apenas um material de apoio, né, óbvio que ele não é a aula do professor e durante a aula do professor, “qué dizê”, o professor complementa aquele fascículo com as coisas que ele acha mais pertinente, né. Então, e também tem o caderno de exercícios, “qué dizê”, não tem jeito, né, além das fórmulas, na verdade é isso, além das tradicionais fórmulas, o aluno tem que lê Física, ele tem que lê o fascículo de Física como se fosse um fascículo da área de Humanas. Tem bastante coisa prá lê, prá fazer resumo, então, há, sim, uma certa resistência no começo, mas aos poucos, né, os alunos vão percebendo essa, essa é a minha sensação primeira, digamos assim, né, precisamos vê durante os outros anos aí a aplicação. Eu talvez possa dizer mais, aí sim, com mais segurança, nem tanto daqui, porque ainda estamos, né, e durante a aplicação, que já me parece bem promissora, mas tem algumas escolas da rede Pueri Domus que começaram essa aplicação dos primeiros fascículos, né, um pouco antes daqui, então aí sim, lá já fechou um ciclo inteiro de três anos de Ensino Médio, né?
P/1 – Quais escolas?
R – Ah, não, escolas do interior do Estado. Não sei te dizer nomes, mas escolas do interior do Estado, mas eu digo por causa daquela fase em que eu participava, né, dos grupos dando apoio pedagógico, tal e o relato era muito bom, “qué dizê”, os professores gos... você percebe, né, se o pai e se aluno estão satisfeitos quando o professor também está, “qué dizê”, se o professor vem prá uma reunião de assessoria pedagógica e diz: “olha, tá muito difícil, assim não dá, eu não sei como fazê” é porque tem problemas, ele tá sendo cobrado na prática pela comunidade escolar. Quando ao contrário ele vem dizendo que: “olha, tá muito legal”, ele conta um relato, ele conta uma experiência, conta outra, o outro conta outra e o outro fala: “não, mas é isso mesmo que aconteceu na minha também” e a coisa vai indo, apesar das dificuldades, então é porque a coisa tá dando certo e, em geral, é isso, o relato, eram relatos muito legais, né, então professores que se sentiam animados de tá fazendo algo diferente, de finalmente estar de fato lecionando Física e não a Física-Matemática, né? Então ao discutir com o aluno, comparar a geladeira e o motor de carro, né, ao pedir pro aluno fazer uma entrevista com o mecânico de automóveis, o sujeito lá de macacão mesmo, graxa na mão e trazer prá sala de aula o quê que o sujeito disse, né, ou o técnico de geladeira (PAUSA) ou essa visão global da energia como um todo, né, então que a Física não é um monte de gavetinhas, mas ela pode ser tratada como uma coisa muito mais unificada, então uma coisa puxa outra e a partir daí também puxa prá outras disciplinas, não dá prá discutir energia se você não vai discutir a questão da poluição ambiental, então aí já entra Geografia, já entra Biologia na história, então fica muito fácil e prazeroso o professor fazer pontes entre as disciplinas, além das pontes dentro da própria Física que ele não enxergava como fazer antes. Então o professor sente prazer, essa é a impressão que dá, né, em geral. Aqui em São Paulo eu também, na rede Pueri Domus de São Paulo, as quatro unidades que a gente tem aqui, eu também presto o serviço de assessoria. Então eu sou professor de uma unidade aqui da Verbo Divino, mas também oriento e participo, né, de reuniões a cada uma vez, a cada dois meses mais ou menos com os professores das outras três unidades aqui de São Paulo e aí a gente troca idéias, vê como é que tá indo a aplicação dos fascículos etc. Então, no global, em geral a equipe tá contente, colocando sempre alguns problemas, né? O principal problema, eu diria, somos nós mesmos, “qué dizê”, mesmo eu como autor do fascículo sendo professor aplicando o fascículo encontro algumas dificuldades lá no fundo da minha formação, né, lá da UFSCAR, na verdade, do começo da carreira ainda muito seguindo, né, “seguidista” do que aprendi na faculdade. Então, volta e meia eu me vejo às vezes com certas diferentes. Por exemplo, esse fascículo mesmo, “O mundo da energia”, então a Física toda pro aluno do primeiro ano do Ensino Médio logo no primeiro semestre. Se eu bobear, né, usando o linguajar comum aí, eu não “dô” conta, porque se eu quiser ensinar pra ele tudo sobre energia mecânica é um ano inteiro, tudo sobre energia térmica é um outro ano e tudo, e eu tenho que trabalhar isso num semestre. Então qual é o problema? Eu tenho que me reeducar de que eu tenho que trabalhar de uma outra forma. Então não é trabalhar aquele curso que eu sempre fiz, mas é um outro curso, então isso leva um tempo de aprendizado. A gente tá aprendendo, né? Mas este é o grande lance eu acho, é o professor aprendiz, né? Então ao aplicar esses fascículos da rede Pueri Domus, eu imagino que isso deva acontecer em todas as disciplinas, o professor que de fato, né, tá a fim, veste, digamos assim, a camisa, né, desses fascículos, porque tá convencido de verdade disso, ele aprende. Ele tem que aprender, porque se ele não aprender, se ele não se propor a aprender ele... e continuar com o mesmo tipo de aula dele, ele não consegue dá conta do recado e o fascículo fica uma coisa mais de enfeite, né, isso não é pra acontecer evidentemente. Então é essa a idéia, “qué dizê”, eu já tô no terceiro ano de aplicação dos meus próprios fascículos, né, “qué dizê”, meus, eu fui co-autor, né, junto com o meu orientador Menezes e outros colegas lá da faculdade e mesmo assim ainda me sinto aprendendo, aprendendo, aprendendo, né? Todo ano, na prática, a gente percebe que, “bom, o ano que vem eu já posso fazer diferente”.
P/1 – E como assessor, eu queria que você falasse um pouco das especificidades das unidades daqui de São Paulo.
R – Tá. É, aí, “vamo vê” (PAUSA) vamos começar por Aruã, vai, que é uma unidade nova, eles, é o primeiro, é uma unidade que começou o Ensino Médio ano passado, então eles não têm ainda o terceiro ano do Ensino Médio. Tem uma classe só, acho, não tenho certeza, de primeiro ano, ou duas e uma de segundo ano, ano que vem é que eles vão passar a ter o terceiro ano, né? Então, começando por aí, é uma unidade nova, com poucos alunos em sala de aula, né, (PAUSA) e não se criou ainda, acho, na região uma tradição, né, “qué dizê”, o Pueri Domus daquela região, né, como aqui em São Paulo já acontece. Então, lógico, é um processo a caminho aí, né... agora, bom, então primeiro assim, Aldeia da Serra é uma unidade já mais tradicional, já existe lá há vários anos, é uma unidade, acho que deve acontecer isso em Aruã também, diferente aqui da Verbo Divino, os alunos são mais unidos de certo modo, porque eles moram lá, moram perto, né, enquanto que aqui na Verbo Divino é uma coisa, é São Paulo, São Paulo a gente sabe como é, né? Então eu faria uma primeira diferenciação nesse sentido, Aruã e Aldeia da Serra, no sentido de serem mais regionais, enquanto que aqui Verbo Divino e Itaim aí é São Paulo, essa grande São Paulo, é loucura, então tem alunos que vêm de diversos lugares, né? Então esse é um diferencial. Me dá impressão que em Aruã e Aldeia da Serra os alunos são mais, de certo modo, unidos entre si e também mais apegados aos professores, né, a relação professor – aluno me parece um pouco mais afetiva, aqui na Verbo Divino é um pouco mais distante isso, no Itaim me parece um meio termo, eu diria, não tenho certeza, né? Eu estou aqui lecionando nesta escola então estou no terceiro ano, dois anos e meio, então também não posso dizer que essa visão é uma visão correta, porque é uma visão primeira ainda, né, é o que eu tenho sentido e nunca, lecionei aqui e já há um ano em Aldeia da Serra, nunca lecionei no Itaim e em Aruã, então é realmente mais pelas reuniões de assessoria, pelo que os professores contam prá gente, né? Então tem essas diferenças, mas são diferenças leves, porque no global não vejo muito diferença, “qué dizê” os alunos são da mesma classe social, né, o... são alunos, evidentemente, de uma classe média alta ou classe alta, evidentemente a mensalidade não é uma mensalidade desprezível, né, óbvio, então nesse sentido eles se igualam, né? Em todos os lugares, como eu falei, a preocupação, a dificuldade principal eu acho que é conosco mesmo, professor, né, pela nossa formação, mas tem a dificuldade de uma exigência voltando àquela preocupação que você colocou dos pais, dos alunos quanto ao vestibular, então volta e meia volta àquela, mas esses fascículos vão garantir que a gente passe num bom vestibular, evidentemente que a resposta é, bom, em qualquer escola a dependência não é o material, né, a dependência é o aluno basicamente em casa estudando bastante além das aulas, mas essa preocupação existe em todas as unidades, acabam aparecendo, né? Nem dá prá dizer que é com mais força aqui ou com mais força ali, eu acho que é bem equilibrado e tem a ver com a classe social que a gente lida, né? “Qué dizê”, imagino a aplicação desses fascículos numa rede estadual de ensino, seria outro tipo de relação com os alunos, “qué dizê” não teria esse problema da preocupação grande com o vestibular, né? De certo modo, felizmente, mas de outro, infelizmente, é porque eles não têm mesmo grande esperança já que têm que competir com escolas como Pueri Domus, né? Então não vejo tanta diferença em termos dos professores, é uma equipe nova que a gente tá formando, então, em todas as três unidades, são professores têm, no máximo têm dois anos de casa e eu também tenho, sou o terceiro ano de casa, então é uma equipe de Física nova, que tá se formando enquanto equipe, né e a preocupação mais de assessoria é justamente isso, é que seja uma equipe, ou seja, o que a gente tenta sempre insistir é quanto à troca de materiais, como esses fascículos permitem invenções, 1001, então, o que eu sempre tento é isso, então a Viviane lá de Aldeia da Serra, professora de Física, bolou alguma atividade nova? Passa prá mim que a gente repassa pra todo mundo, o Rafael lá no Itaim a mesma coisa, o Enio, em Aruã e eu aqui na Verbo Divino, enfim, e razoavelmente tem dado certo, né, “qué dizê”, eu digo razoavelmente porque vivemos em São Paulo, o professor não é só do Pueri Domus, assim como eu leciono no Estado, cada um desses professores leciona em outras escolas, então a gente tem poucos momentos de encontro, né, e por e-mail é uma coisa que... fica uma coisa muito fria, se perde muito, então é, digo, é uma coisa, é uma tentativa, é uma equipe em formação, né, mas que tá indo interessante, eu acho que todos, em todas as unidades os fascículos “tão” sendo aplicados daquele jeito, “qué dizê”, não há nenhum problema quanto a algum professor de Física colocar: “Ah! Olha, eu não consigo me adaptar a esses fascículos, eu prefiro aquele ensino tradicional” e não me parece, né, sempre pode haver isso, mas a sensação, né, é que é realmente alguma coisa sincera, “qué dizê”, ninguém tá colocando, faz um discurso, a prática é outra, porque eles colocam as dificuldades, então volta e meia tem algum pro... o Rafael, do Itaim, o Ênio, de Aruã, colocam dificuldades no sentido de “olha, eu preferi, em vez de seguir essa seqüência do fascículo, fazer uma outra que é uma coisa um pouco mais próxima do tradicional que eu me sinto mais seguro”, né, e a gente sempre discute que não há problema, “qué dizê”, o professor, o fascículo tá lá, é o material, é o material que dá o norte, dá a idéia do que tem que acontecer, mas ele não tem que ser seguido página por página, né, cada um coloca o seu lado pessoal, obviamente a sua experiência de vida, né, aí. Então, enfim, é uma equipe que tá muito interessante, dando certo e uma equipe muito boa em termos de currículo também, né? O Rafael, professor do Itaim, acabou de voltar agora da França, passou um mês lá estudando pro doutorado dele, sobre a história do Ampère, Jean-Marie Ampère, um físico do século XVIII, né, a Viviane, de Aldeia da Serra, acabou também, nem sei se voltou, ela estava no Japão apresentando um trabalho também lá sobre o ensino de Física, então, também já doutorada, né, então é uma equipe muito forte, uma equipe muito forte, mas que tá aprendendo, não é uma equipe pronta e nem sei se algum dia, né, vai ser, espero que não, porque aí tá sempre evoluindo, evoluindo, evoluindo, mas é uma equipe que tem me deixado bem contente, né? É isso que dá prá dizer um pouco. Eu não conheço tanto da especificidade de cada unidade, né, mas dos professores de Física.
P/1 – E aqui no Pueri, você já participou da festa do olho?
R – Não, porque a festa do olho... acho que a primeira, se eu não me engano, acho que a primeira homenagem que é feita é com ou cinco ou dez anos de casa, não tenho certeza, eu tô no terceiro ano, então, por enquanto não, falta um tempinho ainda.
P/1 – E das feiras de ciências?
R – Feira de ciências é... ela está ocorrendo só de quinta a oitava série, né, o Ensino Médio não participa, então, eu, de certo modo, tive uma participação pequenininha o ano passado quando, foi até divertido, passando pelos corredores alguns alunos pequenininhos de sexta série vieram “você que é o Canato? Você que é o Canato?” “Sou.” “Então, a gente quer conversar com você sobre uma experiência que a gente tá fazendo.” Aí eles foram prá sala de aula, “qué dizê”, na verdade, né, a professora do Ensino Fundamental tinha orientado de que eles procurassem o professor de Física do Ensino Médio e aí eles foram prá sala do Ensino Médio, né, se viram importantes, né, criancinhas na sala do Ensino Médio, assim, nossa, “tamo” aqui? E eu dei uma aula tirando dúvidas do que eles precisavam fazer aí, mas nós não temos, pelo menos por enquanto, uma feira de ciências do Ensino Médio, né, então é uma participação por aí, “qué dizê”, muito por fora, né, e, lógico, de passar, visitar a feira deles, mas não de participar efetivamente. Então é isso. O que nós temos no Ensino Médio que diferencia lá é o tal do projeto “Olho de Prata”.
P/1 – O que você compararia da sua escola que você estudou com o Pueri Domus de hoje?
R – Ah! Muito diferente no sentido..., primeiro recursos, né? Os fascículos, evidentemente, já é uma grande diferença, a gente usava livro tradicionalíssimo, a estrutura da escola, “qué dizê”, eu sempre lecionei em escola estadual e mesmo na época que ainda era uma escola estadual boa, razoável, né, hoje em dia tá muito caída, né, mas a estrutura, enfim, hoje em dia é diferente. A gente tem um projetor multimídia que dá pra bolar algumas apresentações e passar pros alunos, os alunos podem bolar as suas apresentações e mostrar para os professores, tem o CCA que é aqui perto, né, tem uma sala de computação disponível, seja para que eles façam pesquisa, seja para que a gente bole uma aula com os computadores sendo usados, enfim, a estrutura da escola evidentemente outra, né, e também a preocupação, a metodologia dos professores, né? Essa história do construtivismo, construtivismo é uma coisa que virou muito moda, um jargão, né, então, nem sei, se a gente for discutir o quê que é isso vai ter várias vertentes, mas, enfim, isso que se chama, né, de construtivismo, o professor tentar construir conceito com os alunos, então em vez dele colocar já a matéria na lousa, primeiro faz um aquecimento, faz perguntas, levanta um problema pro aluno pensar sobre, aí o aluno vai responder de acordo com o senso comum dele, vai responder, provavelmente, errado, aí você entra com a parte científica, prá mudar o conceito do aluno, isso é uma coisa que nem se pensava na minha época de aluno, né. Então há diferenças na estrutura, há diferenças na parte pedagógica, há diferenças no material utilizado, enfim, é outro mundo, não dá prá comparar. Não que aquilo, né, fosse ruim, tanto que eu me formei, acho que muito bem ou pelo menos razoavelmente bem, né, talvez até muito melhor do que muitos alunos do Pueri Domus em virtude da vontade, da garra de lecionar, né? Esse é outro problema, às vezes quando você tem muito recurso, né, nem sempre você aproveitar esses recursos, né, então eu vejo isso muitas vezes nos nossos alunos, “qué dizê”, ele tá na sala de aula com celular, I-pod, “num” sei o que mais, “num” sei o que mais, mas é prá ouvir a música, né, do, da balada não sei das quantas, “qué dizê”, não é uma coisa prá ganhar cultura com isso, né, é uma pena. Mas, enfim, comparando com a minha escola e com hoje em dia o Pueri Domus é uma diferença brutal, né, eu diria pra melhor, né, ainda que a educação como um todo no Brasil tenha decaído, eu acho e aí o Pueri Domus faz parte disso, “qué dizê”, não tem como se colocar do lado de fora, mesmo sendo um expoente educacional, né, o país a gente sabe, né, tá, de um modo global, a educação é um problema sério por falta de investimento do governo, né, “qué dizê”, não adianta você ter algumas escolas de ponta, né, caras e com o ensino muito bom se a grande maioria dos estudantes brasileiros não são assim, “qué dizê”, o governo ao fazer uma ação ele não pode fazer uma ação pras escolas de alto nível, ele tem que fazer ação prá maioria, então isso acaba interferindo, né, na, em qualquer escola, Pueri Domus, Bandeirantes, enfim, qualquer, Arquidiocesano, todas elas acho que sofrem com a depreciação, né, da educação em geral. Agora, comparando com a minha escola é um salto enorme.
P/1 – E na sua opinião, o quê que a educação brasileira mais precisa hoje?
R – Ah, primeiro disso, né, de um investimento sério, né, do governo federal, estadual, municipal... e eu diria em especial nas escolas públicas, né, não é um investimento nas escolas particulares, né, essas, razoavelmente, é o que eu falei, estão ali se mantendo, mas precisaria de um investimento pesado em infra-estrutura das escolas estaduais, então na escola estadual precisaria também ter os computadores e não os computadores, né, os “lentinus”, mas os Pentiums, certo, que tem aqui, por exemplo, e mesmo aqui às vezes a gente reclama, imagine na escola estadual, então precisaria de uma infra-estrutura pesada, né, e também de cursos de formação do professor. Então o professor do Estado, salário evidentemente, enfim, precisa mudar muita coisa no, nas escolas estaduais, né, infra-estrutura, salário do professor e auto-estima do professor. Agora, a auto-estima do professor é meio que de tabela, você, não adianta você “chegá” lá e “fazê” um belo discurso se o professor ganha mal, ele tem que acumular muitas salas de aula, né, prá, e não sabe. “Qué dizê”, vamos supor, eu vou tentar convencer um professor da minha escola pública, um colega meu a aplicar Física Moderna, então ele vai ter que passar a ensinar energia nuclear, efeito fotoelétrico, nanotecnologia pros alunos dele, mas ele não aprendeu isso, no curso dele, assim como eu também não tinha aprendido na prática, né? E como que ele vai fazer isso? Primeiro, ele não sabe e não tem um curso que ele possa fazer, o Estado não fornece um curso prá ele, a não ser que ele vá fazer por fora, pagar e mesmo assim tem pouco, né. Ao mesmo tempo, ele tem que sair dessa escola ir pra outra e “voltá” prá outra, são alunos e mais alunos, ele vai pra sala de aula, o aluno também tá muito desinteressado, o colega dele do lado dele também tá muito desinteressado, então é um conjunto que precisa mudar radicalmente, né, e mudança significa injetar verba, não tem como, se você não injetar verba não começa a resolver, não é que resolva, mas é aí que começa. Se você não faz isso não adianta, então, basicamente é isso, então um pouco menos de pagamento, né, de dívidas pro exterior, né, de dívidas externas, internas e um investimento na educação.
P/1 – Como você avalia as iniciativas governamentais no âmbito estadual, federal, prá educação mesmo?
R – Muito, muito fracas, muito tímidas, né, e ao ser tão tímidas assim e se fazer tanta propaganda de algumas delas, me parece mais de cunho eleitoreiro do que de real proposta de mudança, né? Então, vamos supor, vamos colocar a questão das cotas, né, o governo coloca, o governo federal tá com uma proposta de que 50% das vagas das universidades públicas sejam destinadas aos alunos da escola pública, né? Aparentemente, interessante, democrático, porque ele vai fazer com que as classes baixas possam driblar, né, o sistema econômico capitalista e chegar lá, só que não adianta nada, porque o sujeito que, vamos supor, ele passa por cota numa USP, ele vai fazer Física na USP, passa por cotas e não porque ele foi um dos aprovados no vestibular de fato, né? Ele vai “levá pau” numa matéria atrás da outra, porque ele não foi formado prá isso. Então, não é um problema de ser contra ou a favor das cotas, simplificar a discussão assim. O problema é, não adianta nada você querer “mudá” na aparência se você não muda o conteúdo da coisa e o conteúdo da coisa é lá na escola pública o aluno precisa ter boas aulas, pra ter boas aulas, ele precisa ter um professor que esteja a fim de dar uma boa aula e pro professor estar a fim de dar uma boa aula ele precisa de outra vida, porque essa vida de professor hoje em dia é muito difícil, né. O cara tem que se, ainda mais São Paulo, “qué dizê”, vai prá lá, vem prá cá, pega trânsito, são provas e mais provas pra corrigir todo fim-de-semana, né, aluno que perde, perde a, um pouco da sensibilidade do que é ser aluno e agride o professor e aí o professor também acaba agredindo o aluno e vira uma celeuma que, né, é complicado. Fora a questão da segurança, lógico, né, que, “qué dizê”, não é raro a gente vê em notícias de jornais a periferia de São Paulo problemas envolvendo segurança contra o professor que eventualmente resolve ter uma atitude mais séria com seu, com o aprendizado do aluno, né, então, enfim. Tem medidas que o Governo tem tomado? Tem, mas são muito tímidas e ao serem tão tímidas, frente a tantos problemas e fazer tanta propaganda delas, me soa mal.
P/2 – Como o conjunto dos professores lidam com essa questão da violência, com relação ao Pueri Domus, por exemplo quanto aos alunos?
R – Não, o Pueri Domus não, isso tá, eu imagino que Pueri Domus, escolas, enfim, de ponta aqui de São Paulo, né, esse problema é bem, como falo? É bem diluído, afastado. O problema de, o receio contra, com relação à segurança que a gente teve aqui foi agora, “qué dizê”, com esse, com essa ação, né, dos, da chamada facção que atua em São Paulo, aí, dos presídios e tal, né, em que quando aconteceu aquela primeira onda de violência, então a escola contratou seguranças, o aluno não podia sair da escola sem, né, os pais virem buscar. A gente tem, os alunos do primeiro e do segundo ano têm aula de manhã e por duas vezes na semana têm também aula à tarde, nesse intervalo eles vão almoçar e eventualmente em alguns lugares aqui perto da escola, né? A escola tem um refeitório, mas alguns acham melhor comer um hambúrguer em algum lugar por aí, né? E nessa época, nesses dias, isso foi fechado, foi proibido por uma questão de segurança. É... (PAUSA) é, mas foi isso, “qué dizê”. Essa segurança outra que eu estava dizendo, aqui não tem problema, “qué dizê”, a escola sempre tem um esquema, né, de segurança que nunca vai acontecer dum, de um problema como alguns exemplos, né: bomba em carro de professor em escola da periferia não sei da onde, ou, uma gang, né, de uma região aparece na escola e apedreja os carros de todos os professores. Isto aqui não acontece. Não vejo motivo pra que vá acontecer, né? “Qué dizê”, acontece na periferia de São Paulo, acontece nas escolas estaduais, porque é onde tem mais pobreza, né, digamos assim, então é uma parte mais econômica, aí, aflitiva mesmo. Aqui não, como o poder aquisitivo é mais alto, o que aconteceu foi isso, é o medo do quê que a facção criminosa poderia eventualmente fazer na porta da escola, né? Então, nesses, nesses dias, as aulas foram praticamente suspensas, quando a aula retomou num dia depois, muitos alunos ainda não vieram, porque as famílias não quiseram se arriscar a trazer os alunos prá cá, né, então foi isso, mas não senti nenhum grande problema, não foi algo que emocionou a escola, que provocou um medo muito grande. Paralizou as aulas por dois ou três dias, como “aconteceram” em vários lugares aqui de São Paulo, depois voltou tudo ao normal sem nenhuma, eu não percebi nenhuma seqüela, “qué dizê”, os alunos não estão hoje em dia com muito mais medo de que possa acontecer alguma coisa do que estavam no ano passado, né? Tem o lado bom da história e o lado ruim, “qué dizê”, ele não tá precavido contra, caso venha a acontecer, então vai “baixando a guarda”, né, como se diz no boxe, mas, por outro lado, também é bom, porque ele não tá daquele jeito, como é que a gente fala? Frenético, né, aterrorizado e por isso não vou fazer isso, não vou fazer aquilo, enfim, tá uma vida normal, não vejo problemas. Mas é esse tipo de segurança, eu “tava” me referindo antes a um outro tipo de problema que aqui tá distante, não acontece nada desse tipo, né? Não sei te dizer aí seria com a área de Humanas, mais, né, se área de Humanas, que deve fazer isso, debate com os alunos, o quê acontece na periferia, né? Eu imagino que sim, mas aí foge, eu não, nunca discuti com os alunos do Pueri essa questão, né? Qual será que é o posicionamento deles frente ao que acontece por aí, né? Não acontece com eles, mas qual seria, aí não sei te dizer.
P/1 – Voltando um pouquinho à sala de aula, como o senhor vê a introdução das novas tecnologias?
R – Ah! Eu vejo com muita importância, né? Positiva, e que a gente, o professor deve dar muita importância a ela, porque se bem utilizada, ela facilita muito, né, a, a comunicação com o aluno, então é aquela história do aluno, da gente tentar pegar os alunos, né, tentar ensinar, fazer ele aprender de diversas das mais maneiras possíveis que têm. Então, tem alunos que gostam de ler. É assim que eles aprendem mais. Tem outro que gosta do professor falando prá ele, o professor fala, fala, fala, ele não se cansa, o outro já tá com o olho fechado e esse aí ainda tá desperto. Tem aluno que gosta dele com ele mesmo, né? Tem aluno que adora uma aula que seja com Powerpoint, né, porque ali ele combina a leitura com a fala do professor, com as imagens, tem aluno que gosta muito, imagino na aula de Humanas, deve ser muito legal fazer isso, combinar textos e música, né, através lá de uma apresentação no Powerpoint, ou outro programa qualquer. E a Internet, né? Então é muito interessante, você tá fazendo uma pesquisa sobre Física Moderna, por exemplo, então vir prá sala de computação, vamos supor, e você dá algumas orientações, olha, pesquisa em, entra em agora nesse site, né? Eu fiz isso lá, aqui a gente tem tanto, aí entra a estrutura da escola, né, que eu falava comparando com a minha, meu Deus do céu, então além de ter a sala de informática aqui, a gente também tem lá no prédio do Ensino Médio uma sala de aula, que não é, é uma sala de aula especial, a sala quatro que é, tem um projetor multimídia, né, o computador e com acesso à Internet. Então, “qué dizê”, eu posso dar a minha aula e entrar na hora que eu quiser em um certo site na Internet e mostrar pro aluno. Então eu fiz isso com a Física Moderna, por exemplo, na, numa das primeiras aulas de orientação, naquele trabalho que eu dizia, né, de pesquisa, eu passei por vários sites de Internet mostrando, “ó” você, grupo de efeito fotoelétrico, seria interessante depois na tua casa você dá uma olhada nesse site. Aí mostro o site, é diferente de você na sala falar que tem um site e escrever na lousa “www” não sei quê e lá você mostra o site, qual é exatamente, né, e eventualmente, como eu tenho acesso à Internet por ali e isso aconteceu com um aluno em específico, eu lembro disso, a aluna fala “professor, mas não dá pro senhor mandar prá mim por e-mail?” “Ah, pois não.” Na hora. Então você abre teu e-mail lá no Google ou no Yahoo, ou mesmo no Pueri Domus, pega lá, copia, né, e manda prá ela por e-mail na hora. Então isso é uma facilidade enorme que a gente nem sonhava, né, há dez, 15 anos atrás. Mas tem aquele outro lado que eu falo que apesar da parafernália tecnológica que a gente tem hoje em dia, nem todos os alunos aproveitam, né? Eu diria, a maioria não aproveita, então o quê que ainda, infelizmente, a maioria faz em pleno Ensino Médio, né, e a gente precisa, e vem sempre combatendo isso. Eu não, talvez seja exagerado, não sei se a maioria, mas o fato de ter alguns alunos que fazem isso, já nos, né, abre o olho, né, e fala “caramba, em pleno século XXI, com tanta parafernália e o cara usa a Internet prá copiar?” “Qué dizê”, fazer aquele, né, “control C”, “control V” e entregar um trabalho achando que o professor não vai nem lê. Aí você olha, você se sabe, você sabe usar a tecnologia, você faz o contrário, você pega o trabalho do aluno, começa a ler, isso é uma coisa que ajuda a tecnologia, né, mas, “‘pera’ aí, esse texto não parece o jeito de escrever do João escrever, tá meio estranho isso. Deixa eu dá uma olhadinha.” Aí você pega uma frase do trabalho dele e joga no Google, no Yahoo, Altavista e pronto e acha a página daquela de onde ele tirou ipsis-litteris, né, cópia e entrega pra ele. Isso é plágio, isso é crime, né. Brinca com ele, né, que isso é crime e tal. Então isso espanta, “qué dizê”, isso também, na minha larga carreira aí a gente percebe que... Várias escolas acontece isso. Então esse é o problema, o aluno tem uma parafernália tecnológica, mas nem sempre ele sabe utilizar. Ele utiliza pro MSN, né, prá ficar trocando bate-papo, chat, com os colegas dele, mas prá pesquisa mesmo? Que ele poderia fazer? Ele não faz. Então tem esse contra, mas é um contra que eu acho que, que não tá nem aos pés do que tem a favor, né? Então o professor sabendo manejar isso, nossa, é um caminho, é uma ferramenta incrível, né? E às vezes a gente se surpreende com o aluno que sabe muito mais que a gente, também. Aí a gente aprende com ele, então você vai bolar uma apresentação de Powerpoint ou ele bola e apresenta prá você e você diz: “Caramba, o cara conseguiu fazer um recurso alí que eu não sabia.” Então você aprende com ele também, né? Então é isso, é muito importante o professor ver com, né, olhos muito atentos essa parte da tecnologia, da nova tecnologia. E aí no meu caso então, nem se fala, porque a nova tecnologia só existe devido ao avanço da Física Moderna. Então aí a gente discute, tá vendo? A Internet, os computadores têm a ver com essa Física do século XX, né, transistores, chip etc e tal. Então é isso.
FIM DO SEGUNDO ARQUIVO
P/1 – Qual é a função que a escola deve ter hoje?
R – A função que a escola deve ter hoje (PAUSA) é, essa é uma pergunta que dá pano pra manga, né? Mas, assim, resumo do resumo? Eu acho que é formar o aluno para que ele não aprenda só, né, a física, a química e a biologia, mas que ele saiba que essas disciplinas todas juntas, unificadas é um ferramental enorme prá cultura dele, prá que quando ele sair da escola ele consiga viver, né, e viver bem nesse mundo que taí, “qué dizê”, esse mundo que taí exige, hoje em dia, o sistema, né, capitalista que nós temos hoje em dia exige dum, seja trabalhador, seja o dono da empresa, que ele tenha múltiplas capacidades, “qué dizê”, não é apertar o botão só no caso do trabalhador enquanto que o outro, sei lá, aperta o parafuso e o outro, hoje em dia é uma coisa que a máquina faz isso, o que você precisa fazer é controlar a máquina, né, e quando eu digo controlar a máquina também não é só apertar um botão, mas é você controlar a máquina sabendo como economizar energia prá tua empresa, então você tem que saber o que é energia e qual tipo de energia que tá sendo gasta e o quê que aquela máquina tá fazendo de errado prá você tentar consertar, você tem que bolar programas prá aquela máquina funcionar, porque se não é você que bola o programa, a empresa vai contratar uma firma que faça isso e, ou contratar uma outra pessoa que saiba de preferência isso. Então, hoje em dia, uma vez que o trabalho mais manual, digamos assim, né, vai sendo feito pelo maquinário, pela informática, vai exigindo mais do cérebro da pessoa, né, cada vez mais. Então acho que o mais importante da escola é isso, é formar pessoas que saibam lidar, né, com esse mundo que tá aí e que só tende a crescer nesse sentido, né? Acho que é basicamente isso. Claro, tem a questão toda da, de tentar formá-lo prá ser uma pessoa justa, um cidadão, né, participativo etc e tal, mas, claro, essa é uma outra função da escola, mas nem sempre, isso depende também muito da família da pessoa, né, “qué dizê”, a educação que ela tem, traz de casa, a escola compete com a família, né, e é uma competição muito, é assim que é, não tem como e nem vejo como mudar isso e se seria correto mudar isso, mas, nesse sentido, é uma competição entre aspas desleal, “qué dizê”, não é a escola que vai conseguir mudar, né, tanto a vida da maioria dos seus alunos. Pode ser que mude de um, de outro, mas, né, o aluno é educado, enfim, pela família, na família e prá família. Então, nem sempre a gente consegue mudar a cabeça do aluno no sentido de torná-lo um cidadão que a gente gostaria, mas tendo aquele pensamento, né, mais à esquerda, mais à direita, mais cristão, menos cristão, sei lá o quê, mas que ele saiba se virá no mundo que tá aí. E se ele não aprender hoje em dia física, química, biologia, geografia, história, português, inglês de uma forma integrada, ele não vai conseguir se virar nesse mundo que tá aí. Se ele já é filho de um grande empresário e, portanto, vai herdar a empresa do pai e ele não tiver a cultura necessária, essa empresa vai à falência. Se, pelo contrário, ele for um trabalhador e não souber lidar direito com essas tecnologias todas novas e não só... mas a cultura, né, ele também não vai se dá bem. Então, de um jeito ou do outro, seja lá o tipo de pessoa que ele acabar sendo, eu acho que a escola tem que fazer isso, tem que fazer com que ele se adeque, né, ao mundo que tá aí, essa é, a princípio, o que eu acho que, acho que a escola tá aqui prá isso basicamente.
P/1 – Como você avalia a sua passagem, o impacto da sua passagem no Pueri Domus, tanto na vida profissional quanto na vida pessoal?
R – Na minha vida?
P/1 – Na sua.
R – Ah! O Pueri Domus em si, “qué dizê”, a escola Pueri Domus é uma coisa nova, então também tem, tá tendo um impacto, mas eu acho que é um impacto que eu vou perceber mais daqui alguns anos, né, quando eu parar e olhar prá trás e, “Nossa! Quanta coisa, né, isso me fez mudar!” O que eu poderia dizer é que, toda essa aproximação com o Pueri Domus até chegar, né, a ser professor dele, aí sim, é uma mudança completa na minha vida, “qué dizê”, do mestrado, né, quando eu comecei a, quando o Menezes me convidou a escrever os fascículos do Ensino Médio prá rede Pueri Domus com ele, a partir daí, foi uma mudança radical, então, eu que era um professor já preocupado em tentar mudar algumas coisas na sala de aula, né, mas sem técnica prá isso, sem um apoio, né, pedagógico, acadêmico prá isso, com essa trajetória toda mudou completamente. “Qué dizê”, hoje eu ainda eu tenho mais clareza das coisas que eu não sei, né, ou seja, nesse sentido eu sou mais inseguro, no sentido de um monte de coisa eu sei que eu não sei, mas, por outro lado, eu sou mais seguro, porque eu sei que eu não sei. Antigamente eu não sabia, eu achava que eu sabia, né? Então isso é interessante, me mostra uma ponte para o aprendizado cada vez maior, né? E isso foi toda essa trajetória, né, de escrever... eu poderia ter feito o mestrado de um outro jeito, “qué dizê”, teria o diploma, teria feito o curso, mas não teria aprendido tanto quanto eu aprendi ao escrever, né, e essa é outra coisa que eu também aprendi que você só aprende a escrever escrevendo, assim como o matemático só aprende cálculos calculando, a gente precisa escrever prá começar a ter o gosto pela coisa e perceber que você podia ter feito de outro jeito e aí a tecnologia ajuda muito, porque antigamente trabalhos escolares que a gente fazia, né, máquina datilográfica, no máximo, ou mesmo manual, você cometia um erro, você falava “Ah! Vai ficar assim mesmo.” Você não... Com o computador tudo bem, você pega daqui joga prá lá, volta prá cá e você constrói, né, reconstrói o teu texto, então a tecnologia ajuda muito. Então dessa fase do mestrado em que eu comecei a escrever os fascículos junto com o meu orientador até hoje, a aproximação e a entrada definitiva no Pueri Domus a minha vida mudou completamente, né? Então, hoje eu sou um outro tipo de professor, com certeza com outras preocupações, né, acho que prá melhor, “qué dizê”, eu tenho uma visão da Física muito mais profunda, né, hoje em dia, ã.... (PAUSA) acho que eu tenho técnicas para com o aluno bem melhores do que antigamente, né, do que eu tinha antes desse trajeto todo e com o Pueri Domus aqui como professor a gente tá aprendendo. Sendo assessor a gente vai trocando as idéias, né, e aprendendo com os outros colegas das outras escolas também e com os alunos, no sentido dessa dificuldade, “qué dizê”, é um desafio, que ainda tá em curso, como vencer, né, acho que a gente tá conseguindo, mas sempre tem aquilo que eu falei, como vencer a cobrança do aluno de que, mas isso é física? Isso é assim mesmo? Né? E as fórmulas, não, porque o meu colega da outra escola, eu vejo o caderno dele e, olha, só tem fórmula, fórmula, fórmula, fórmula, fórmula, e a gente tem... Não, é exatamente, a fórmula é um aspecto da física, não é nem o mais importante, o mais importante é você ter essa visão unificada dos fenômenos físicos, então esse é um desafio, né? Que isso tá em curso, “qué dizê”, acho que a gente tá lidando bem com isso, mas eu acho que é daqui uns cinco anos que eu vou parar e vou olhar para trás e “nossa, que mudança que teve na minha vida, né?” Então eu diria por enquanto, essa trajetória de aproximação Pueri Domus mudou completamente, tanto a ponto de eu me convencer, né, a pedir o desligamento da outra escola que eu estava há 13 anos já prá vim pro desafio aqui, “qué dizê”, por mais que você seja autor, assessor, né, é no trabalho da sala de aula com o aluno que eu acho que você é definitivamente testado, provado, né? Então eu larguei uma situação muito cômoda de certo modo, 13 anos numa escola, “qué dizê”, você conhece filho, até filho já de aluno que foi meu, né, tá chegando na escola, então você tem um status, digamos assim que te dá muita tranqüilidade, né, prá vim prá uma escola, uma casa nova, né, mas a confiança é tanta no material que a gente escreveu que a gente vê e parece, não, mas acho que é daqui um tempo que eu vou saber exatamente o impacto.
P/1 – E o quê que o senhor acha do Pueri Domus comemorar os seus 40 anos por meio de um projeto de memória que envolve a comunidade escolar?
R – Ah! Acho que é bem legal, é bem educativo, bem cultural, né, e tá coerente, acho que tá coerente com essa nova, com essa nova visão que a escola tá tendo do ensino. “Qué dizê”, as festas anteriores, pelo que eu fiquei sabendo, a gente vê nos retratos, né, eram festas grandiosas, “qué dizê”, aquele evento de um dia que se gasta muito recurso financeiro, uma festa muito falada na imprensa, coisas assim, né, mas terminou aquilo, pronto, acabou. E o que está acontecendo esse ano é uma coisa que, se o projeto der certo, parece que tá dando, vai ficar prá história, né? O Museu da Pessoa, nesse sentido, é muito coerente, “qué dizê”, é um marco prá ficar prá história, não é uma coisa deste ano só. Tá fazendo 40 anos agora, então é um marco importante, mas daqui a cinco anos isso vai tá registrado, né, e não se perde, né? E também as ações, outras ações, “qué dizê”, eles estão, a direção da escola, a coordenação tá promovendo esse evento dos 40 anos aos poucos ao longo do ano inteiro, então não vai ter, talvez tenha um ápice da coisa, né, mas são ações que vão acontecendo aos poucos e as pessoas começam a se engajar aos poucos e mais até por vontade própria, do que por “tenho que fazer aquilo”, né? Então isso tá sendo bem interessante, então acho que tá muito coerente com a proposta pedagógica. Um casamento bom aí.
P/1 – O quê que você achou de ter participado desta entrevista?
R – Ah! Interessante também, agradável, porque você faz, você é forçado meio que a fazer uma recapitulação, né, da sua vida, né, coisa que às vezes consigo mesmo a gente não faz, né, e ao mesmo tempo não acha que tenha necessidade de fazer com profissional psicólogo, nada tão assim, né, mas acaba sendo uma coisa, que né, regride lá no passado, você vai lembrando umas coisas, então acho que é interessante, fica registrado também, né, pro futuro, até prá você depois fazer um balanço disso, né, ou seja, o quê que eu pensava há cinco anos atrás, o quê que eu penso hoje. Acho que é interessante prá ver a evolução da pessoa também, né, e acho legal porque não é só o lado profissional, vocês aqui perguntaram sobre várias coisas também da pessoa, né, do lado mais do ser humano, então acho que é interessante, foi agradável.
P/1 – Então em nome do Pueri Domus e do Museu da Pessoa agradecemos sua entrevista.