Projeto Memória Tetra Pak 50 Anos de Brasil
Depoimento de Wanderlei Augusto Simonato
Entrevistado por Elizabeth Quintino e Rodrigo de Godoy
São Paulo, 23 de outubro de 2007
Realização Museu da Pessoa
Entrevista TPK_HV028
Transcrito por Vanuza Ramos
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1...Continuar leitura
Projeto Memória Tetra Pak 50 Anos de Brasil
Depoimento de Wanderlei Augusto Simonato
Entrevistado por Elizabeth Quintino e Rodrigo de Godoy
São Paulo, 23 de outubro de 2007
Realização Museu da Pessoa
Entrevista TPK_HV028
Transcrito por Vanuza Ramos
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 – Boa tarde, Wanderlei.
R – Boa tarde.
P/1 – Obrigada por você ter vindo. Eu queria que você começasse falando o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Wanderlei Augusto Simonato, eu nasci no dia 26 de março de 1956, em Fernandópolis, estado de São Paulo.
P/1 – E qual empresa que você trabalha, Wanderlei?
R – Hoje eu represento a Valfilm Indústria e Comércio de Plásticos Limitada, e a empresa de embalagem técnica do mesmo grupo, que é a Tecnoval Indústria e Comércio de Embalagem Plástica.
P/1 – E o cargo que você ocupa?
R – Representante comercial.
P/1 – Você poderia falar um pouco a respeito de seus pais? O nome deles, onde eles nasceram.
R – Meus pais se chamavam
ngelo Simonato e Zenaide Sansão Simonato. Nasceram em Ibirá, estado de São Paulo. Se casaram e depois foram para Fernandópolis, entendeu? A cidade onde eu nasci.
P/1 – E a atividade deles, qual é?
R – Agropecuaristas. Sempre morei em fazenda. Nasci e fui criado em fazenda.
P/1 – Ah, você nasceu. E o que era produzido?
R – Não, era café, leite e boi. Eles mexiam com agropecuária, mas a base era café e gado.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Eu tenho oito irmãos. Seis homens e duas mulheres.
P/1 – E todos moram em Fernandópolis?
R – Não, nas proximidades. São seis que moram em Fernandópolis, um mora em Minas Gerais, em uma cidade chamada Carneirinhos. E outro em Jales, uma cidade próxima a Fernandópolis. Os demais em Fernandópolis.
P/1 – E vocês moravam na fazenda em Fernandópolis?
R – Na fazenda, todos na fazenda.
P/1 – E você morou quantos anos?
R – Até eu fazer o curso de engenharia, eu morava na fazenda.
P/1 – Você poderia falar um pouquinho como era sua vida na fazenda? Quando criança, adolescente...
R – Na época, era uma vida muito simples, entendeu? As dificuldades, até mesmo deslocamento, que, em 1956, imagina os automóveis que existiam. Poucos, vamos dizer assim, tinham alguns aqui em São Paulo e, no interior, quase nada. Então, tinha um caminhãozinho, nem era 3x4, um caminhãozinho pequeno que, uma vez por mês, meu pai ia para cidade. Eu, particularmente, acho que uma vez por ano. Porque tinha escola na fazenda, eu estudava lá na fazenda, entendeu? E aquela vida simples, de mexer com gado, de cultivar a lavoura, o café. Mas muito cheia de amor, que me orgulha muito. Os meus pais tinham uma vida muito salutar, muito simples, de muito relacionamento, que era colônia, teve bastante gente, morando na fazenda. Isso foi uma vida privilegiada, muito tranquila, tá, que eu tive. Os meus irmãos, a mesma forma, entendeu? Daí, que tive uma escolinha do grupo até a terceira série primária. Depois, eu ia a cavalo ou de bicicleta ou de carrinho ou charrete para cidade, para fazer o quarto ano e admissão, que talvez vocês nem saibam o que é isso que existia na época, para poder ingressar no ginásio, entendeu? E fui até o terceiro colegial na cidade, mas indo de bicicleta ou de carro. Nos últimos anos, já tinha surgido os carros. Uma caminhonete C10 meu pai tinha, então nós íamos de carro. Mas, no último ano, que aí minhas irmãs também iam, entendeu? E, depois disso, eu vim fazer o cursinho aqui em São Paulo, aí já mudou. Fiz o cursinho, e aí já entrei no curso de engenharia em São Carlos.
P/1 – Voltando ainda a essa sua fase da fazenda. Tinha os colonos, então, assim, ia todo mundo para o grupo?
R – Todo mundo de lá ia ao grupo. Eu entrei na escola com seis anos. Naquela época era proibido matricular-se antes dos sete. Então eu entrei, faltando pouco tempo para fazer sete anos. Mas não pôde matricular. Mas eu fui como ouvinte e ganhei até um prêmio por ser o primeiro aluno do primeiro ano, o melhor! Só que eu não passei de ano. Você acredita em uma coisa dessas? Não podia, então, na verdade, eu perdi um ano na escola por conta de não poder ser matriculado pelos meus anos. No interior, logicamente, isso não existia aqui em São Paulo. E eu ganhei o prêmio de melhor aluno, mas não passei de ano. Tive que fazer novamente...
P/1 – E como era a cidade, Fernandópolis, essa época?
R – Ah, era uma cidade que não tinha cinco mil habitantes, nem, era muito pequena. Na época que eu fui para fazer o colégio, talvez ali tivesse oito mil habitantes, coisa assim. Muito sem nada, entendeu, muito desprovida de tudo. Simples de tudo. E eu, na verdade, pouco ia: estudava e voltava. Então, até o relacionamento na cidade eu tive pouco. Eu não tinha esse contato, então a vida social era mais ali mesmo, entendeu? Que eu fiquei até os 18 anos lá. E, depois que eu vim para São Paulo, que eu fui estudar em São Carlos, que o negócio mudou. Mas lá era uma vida de fazenda mesmo, de sítio, de interior puro, entendeu? Aliás, que para mim foi ótimo. Que eu gosto de mexer com gado, era fantástico, foi bom.
P/1 – E era uma produção grande? Seu pai vendia para região? Como era isso?
R – Não. Colhia bastante café, a fazenda tinha bastante café. Vendia pros beneficiadores. E revertia em quê? Comprar mais terra. É isso que se fazia, não tinha muito propósito. Mesmo porque meus pais, eles, não sei, minha mãe tinha o quarto ano de grupo. Meu pai tinha... Sequer grupo tinha, não tinha formação alguma, entendeu? Tinha formação da boa índole, boa conduta, mas de escolaridade, nada.
P/1 – Você falou que a escola primária que você começou era dentro da fazenda. Isso era uma iniciativa deles? Como foi isso?
R – É que, naquela época, como se ia à cidade? O meio de transporte era cavalo ou bicicleta, que também não tinha tanta. Então, se fazia na comunidade uma escola. E se elegeu a fazenda do meu pai para fazer uma escola, então naquela região, o pessoal ia. A cada dez quilômetros tinha uma escola em fazendas. Então, essa daí ficava perto da minha casa, então foi lá que eu... E tá lá até hoje, embora não exista mais isso. Foram todas, o pessoal passa com perua ou ônibus para pegar os estudantes e levar para cidade. Essas foram desativadas, mas o prédio, a construção está lá, mantida e conservada.
P/1 – E os seus pais já vinham de família de fazendeiros?
R – Sim. Em Ibirá, onde eles nasceram, o meu avô tinha fazenda de café, entendeu? São imigrantes italianos, meus avós, tanto paternos quanto maternos, são imigrantes de italianos que vieram aqui e se instalaram para o cultivo do café. E eles produziam. Então, o meu pai depois, eles comprou a fazenda no meio do mato. Fernandópolis era só mato, então ele foi desbravar e plantar café, continuar a atividade dos pais, entendeu? Foi assim.
P/1 – Deve ter sido uma infância e uma adolescência muito boa. Porque você gosta da fazenda.
R – É, porque eu fui criado lá, não é, eu sou apaixonado. Embora a situação da época é bastante distinta da de hoje. Que pouca gente quer ficar na zona rural. Até pela remuneração da atividade hoje. Que antigamente se exigia pouco, a vida era bem mais modesta. E hoje já se exige muito mais e já existem meios para se viver bem melhor. E o pessoal não se adapta tanto. E a remuneração da atividade agropecuária hoje é bem aquém da época. Porque, se o Brasil for construir da base do café, dos barões do café, que trouxeram as receitas... Hoje quem tem café não vai bem não, tá certo? Caiu bastante.
P/1 – E como foi quando você foi estudar na cidade, em Fernandópolis? Você nunca pensou em ficar na fazenda, continuar esse trabalho?
R – Não. Eu sempre fui apaixonado por esse lugar, porque eu comecei bem, sempre fui muito bem na escola e gostava demais. Então, eu queria estudar mesmo, tá? E queria fazer engenharia desde criança.
P/1 – E por que você fez engenharia?
R – Porque a matemática, a ciência exata me fascinava entendeu? Foi por isso que me atraiu. Eu realmente gostava demais, não é que eu estudava muito, eu gostava, era uma paixão minha. Não era um transtorno, era um desafio, uma realização, sempre foi. O estudo para mim não foi um negócio traumatizante ou chocante, é o que eu gostava de fazer. Eu estudava com lamparina, não existia luz elétrica. Lamparina, você não sabe o que é lamparina. Exato. Mas eu fui bem, me sentia bem estudando.
P/1 – Wanderlei, nesse período, assim, como era seu cotidiano da família na fazenda? Como foi?
R – Muito cheio de amor, muita união, muito entendimento, muita compreensão e, fundamentalmente, muito trabalho. Nós éramos extremamente unidos, e a gente levantava trabalhando. Trabalhava o dia todo, e eu falo para todo mundo que a gente trabalhava de segunda a sábado. E domingo, para descansar, nós lidávamos com o gado, entendeu?
Para distrair lidava com o gado. Então, trabalhava todos os dias da semana, mas com muita harmonia, muita dedicação, muito empenho, entendeu?
P/1 – Seus irmãos eram mais velhos ou mais novos?
R – Eu sou o do meio. Tem três irmãos homens mais velhos e uma mulher. E três mais novos e uma mulher mais nova. Eu sou exatamente o quinto filho de nós.
P/1 – Você tem lembranças que te marcam muito desse período? De quando você lembra, você: "Ah, eu sempre lembro, eu não esqueço".
R – Ah, eu acho que tantas coisas. Que, na verdade, ficar recordando, talvez não me ocorra agora. Eu só me lembro que, saudades da tranquilidade, da amizade, sabe, que tinha mesmo, da honestidade, do amor que tinha entre as pessoas. De minha mãe fazer pão e distribuir um pouquinho para cada um na colônia. Se matava um porco, se dava um pedacinho para cada um, entendeu? Era muito humano, isso me marcou muito. Muito bacana.
P/1 – Você tá falando disso, e vocês tinham festas na colônia?
R – Não, festas em si, não. Não havia. Tinha bailes, mas eu, entendeu, bailes, fazia aquelas barracas, aqueles bailes do interior mesmo. Isso tinha. Às vezes, também festa junina também tinha. Mas, na verdade, se caracterizava mais pelo baile em si. Mas churrascos, esses negócios, não era da época, não tinha.
P/1 – E tinha datas importantes? De santos, assim, porque em fazenda sempre tinha o padroeiro...
R – Ah, na fazenda todo mundo guardava. Eu não lembro de todos os santos que guardava, mas eram muitos feriados para o pessoal da área. Não é como na cidade. Então, lá tinha dia de Nossa Senhora, então aqui é feriado. Lá não. O dia de Santo Antônio não trabalhava, dia de São João não trabalhava, de São Pedro não trabalhava. Entendeu? A verdade é que não eram vagabundos porque eu disse: de segunda à segunda trabalhavam. Então, era merecido que, nesses feriados santos, que se descansasse. Não descansavam tanto, não. Menos que os fins de semana que a gente tem na indústria, com certeza. Mas guardava-se os dias santos.
P/1 – Vocês tinham capela na fazenda?
R – Não. Na fazenda vizinha tinha. A comunidade construiu uma capela. E, de vez em quando, o padre ia rezar uma missa.
P/1 – Que não era sempre.
R – Não, era esporádico, entendeu? Mas tinha-se terço, tal. Se frequentava até com uma certa, com uma frequência alta.
P/2 – E como foi quando você, depois que terminou o colegial que foi feito em Fernandópolis, veio para São Paulo e fez o cursinho? Como foi esse seu primeiro contato com São Paulo?
R – Isso aí me marcou demais, porque eu não havia saído de lá. A cidade mais distante foi Ibirá, quando faleceram meus avós. Que, na verdade, dá 140 quilômetros de lá. Mas era tudo terra basicamente, entendeu? Uma dificuldade, nessa época, tinha um jipe velho, um jipe, um negócio que não anda, não roda, entendeu? Então, eu já achava longe uma distância de 140 quilômetros. Aí, eu vim para São Paulo. Primeiro, telefone eu não conhecia. Ônibus eu nem sabia o que era, nunca tinha tomado. E São Paulo muito menos. Meu irmão imediatamente mais velho que eu, havia vindo para fazer o cursinho lá do interior. E me trouxe. Eu fiz o Anglo na Tamandaré. E me deixou ali. E eu chorei uma semana seguida, sem brincadeira. Sabe por quê? A gente ri hoje, porque meu filho hoje tá no Canadá, com a idade que eu vim para cá, meu filho já está viajando e já está formado. E eu não tinha este preparo, entendeu? Eu tinha aquela vida simples. E aqui eu chorei uma semana, sozinho, solitário. Eu pensei: "O que eu vou fazer? Aonde eu vou aqui?". Eu tinha medo de tomar ônibus, eu não sabia nem telefonar, não tinha noção. E comunicação com os pais, com a família era por carta, entendeu? Então mandava carta, sempre uma carta. E eu fui para Fernandópolis no meio do ano para buscar os documentos para fazer a inscrição para o vestibular. No ano que eu fiquei aqui, fui uma vez só para lá. Porque meio de transporte, ou era ônibus, que na verdade passava em Fernandópolis, ou trem. Era terrível, não é? Então, eu fui uma vez buscar os documentos, depois fui para São Carlos, fiz vestibular, prestei vestibular em dois lugares: Uberlândia, na hora que eu tava no meio do vestibular de Uberlândia, saiu o resultado de São Carlos, eu então não prestei mais nenhum. Mas foi terrível, foi um negócio que me marcou demais, que valeu demais na minha vida.
P/1 – Mas quando você veio, você ficou onde fazendo esse cursinho?
R – Não, fiquei morando na rua Tenente Otávio Gomes, número 81, entre a Conselheiro Furtado e a Tamandaré mesmo, bem encostado ao cursinho.
P/1 – Sozinho?
R – Sozinho, sozinho.
P/1 – Seu irmão já tinha voltado?
R – Não, me deixou ali e foi embora.
P/1 – Ele só trouxe você?
R – Só trouxe, só trouxe. E eu fiquei sozinho.
P/2 – Era uma república ou era...
R – Não. Era uma pensão. Eu fiquei em um quarto da pensão e ia todo dia, estudava e voltava. Muito próximo do Anglo, não dá 150 metros. Fiquei o ano todo estudando, me dedicando muito porque realmente o estudo no interior estava bem aquém de uma cidade como essa, entendeu? Então, eu vim aprender tudo no cursinho. Não foi relembrar ou recordar, foi aprender de fato.
P/1 – Eu acredito que tenha sido um período muito difícil, que te marcou. Porque as relações com as pessoas aqui eram diferentes das relações com quem você se relacionava.
R – Totalmente, totalmente. Não tinha nada a ver, entendeu? Apesar de que, no cursinho, você também não tem tempo. Para quem queria estudar, como eu, de se disponibilizar a ir passear, ir para praia no final de semana ou coisa que o valha, eu estudei um ano. O ano todo. Eu tinha os horários, eu dormia dez da noite. Eu ia ao cursinho, saía, voltava, almoçava, dava meia hora, estudava até às dez da noite, todo dia. E depois me recolhia. E fins de semana também estudava. Aí pegava os filhotes, que são os exercícios mais difíceis que tinham caído nos vestibulares anteriores, de boas escolas, e ficava resolvendo. Quer dizer, eu estudei um ano completo, total. Mas era necessário se quisesse entrar em uma boa escola. Mas valeu demais, felizmente, tá? É uma história que parece brincadeira, mas foi sofrida. Mas, para quem tava realmente para chegar em algum lugar, ou fazer alguma coisa, tinha um propósito, senão, não ficaria.
P/1 – E você escolheu São Carlos...
R – Eu escolhi São Carlos pelo seguinte: quando eu comecei a fazer cursinho, eu tinha idéia por conta de algum parente que era engenheiro civil, a minha idéia era fazer engenharia civil quando eu entrei para o cursinho. Quando eu estava no cursinho, ótimos professores do Anglo, ótimos exemplares de fato, eu pedi orientação. Aí me falaram, aí eu li todos os cursos. Que eu ia fazer engenharia, isso com certeza, agora qual engenharia? A tendência era civil, mas também fui me informar a respeito de qual seria a melhor. Aí tinha engenharia de materiais na Universidade Federal de São Carlos, o primeiro curso de engenharia de materiais no Brasil. E eu me interessei. Então, quando eu fui prestar vestibular, eu botei como opção ela: "Não, eu vou entrar nesse curso. É um curso novo, com certeza é promissor". É interessante, a especialidade é metais polímeros, que são os plásticos e borrachas e cerâmica, são os vidros e a cerâmicas em si. Falei: "Eu vou fazer esse curso mesmo". Prestei e dei sorte, eu entrei.
P/1 – Isso foi em que ano, Wanderlei?
R – Isso foi em 1976, que eu comecei a universidade. Eu não sei se o vestibular foi no final de 1975 ou no início de 1976. Em 1976, eu comecei a universidade e terminei em 1980.
P/1 – Aí, quando você foi para São Carlos, você se sentiu mais em casa?
R – Ah, tendo vivido esse tempo aqui, nessa selva de pedra, que para mim era assim, com certeza absoluta. Além de ser uma cidade bem menor, daí você acaba se relacionando com mais pessoas. Porque o cursinho demandava mais tempo, você não tinha como construir grandes amigos, não tinha tempo para isso. Na universidade, sim, já naturalmente você já tinha sua turma de escola e tantas outras pessoas que você almoça, jogava, lá dentro. Então, você cria muita amizade, ah, foi outra coisa. Além da distância, que, de Fernandópolis - São Paulo, 550 quilômetros, Fernandópolis - São Carlos, 330. Já tá bem melhor, não tão bem melhor. Porque os ônibus saíam de Fernandópolis para São Paulo, mas para São Carlos não entravam os ônibus. Então, eu tinha de vir de trem, o trem era terrível, era uma demanda tão alta que quantas vezes eu entrei pela janela do trem. Não é demagogia, entrei pela janela do banheiro do trem, para poder entrar no trem para vir para São Carlos. Parece brincadeira. Quantas vezes eu não paguei para vir de trem e achei sempre muito caro. Porque o seguinte: não dava pros caras que picotavam os cartões passarem. Os picotadores de cartão, não sei se sabe, que é eles que isso da passagem, não passava porque não tinha, não dava para entrar no trem. E eu tinha que entrar, entrei pela janela algumas vezes. E, em São Carlos, para ir para Fernandópolis, se eu pudesse sair do trem, eu teria saído, porque eu quase morria esmagado de tanta gente. É um absurdo, um absurdo, vocês não imaginam. Hoje, aliás, dizem que até continua a linha do trem para passageiro. Eu acredito. Nem tem mais. Porque na época era isso, era um sofrimento terrível, terrível. E uma vez até, eu fui de ônibus, só que não entrava em São Carlos. Aí, eu parei no trevo da Washington Luís. E onde eu ficava, na pensão que eu ficava, no quarto, não era nem pensão, que eu comia na universidade: cinco quilômetro de distância. Passou três da manhã, eu botei a mala na cabeça e fui, com o maior medo do mundo. Eu falei: "Nunca mais. É melhor morrer imprensado no trem do que realmente ir no ônibus que é mais confortável, mas, chegando aqui, ter que fazer isso".
P/1 – Cinco quilômetros!
R – De fato. Eu fui algumas vezes a pé, não era longe. Mas à noite, de madrugada, sozinho, é um absurdo.
P/1 – Wanderlei, me fala, antes de você ir para universidade, já tinha algum irmão seu que tinha ido para universidade?
R – Não. Eu fui o primeiro da família. Os outros, dadas as dificuldades, não se enveredaram para isso não. Ficaram na atividade mesmo, mexendo com a terra. Até eu, eu fui o primeiro a fazer um curso superior. Depois teve um que gostava de estudar também. Se formou em São Carlos também, mas só que na área de biológicas. Ele é professor de duas faculdades. E outros dois mais novos não quiseram saber, também estão na atividade porque não queriam estudar mesmo. Não quiseram conta.
P/2 – E você ficou em São Carlos quantos anos?
R – Quantos anos? Cinco anos, o tempo da faculdade. Não, aí eu trabalhei, eu entrei fazendo estágio em uma empresa em São Carlos também, que chamava Indústria e Comércio Cadillac Tubos e Perfis, de PVC. São essas caixetas de porta de geladeira, entendeu, e também outros acessórios para carros, são perfis. O galão do pára-lamas do fusca, para você ter idéia, eu fabriquei. Não, e depois, de alguma coisa para cá, para você não escorregar, aqueles perfis para não escorregar em escadas, a gente fazia muito lá. Então, uma diversidade violenta. Como é que chama aquelas, gelo, caixinha para gelo, a gente injetava lá. Então, uma empresa muito diversificada, muito grande.
P/1 – Que era em São Carlos?
R – Aí, eu fiz isso estágio lá, exatamente. E, depois que eu saí da universidade, eu fui contratado lá, mas, em 1981, teve uma crise violenta no setor de tubos no Brasil. Ela é uma das grande fabricantes de tubos também. E, dada a crise, foi uma devassa na empresa e eu, em 1981, fui demitido. Como mil e poucos funcionários, foram demitidos mais de 500 funcionários, para ver que situação. Daí eu comecei a trabalhar, fiquei um ano, seis meses em Fernandópolis comprando e vendendo gado, entendeu? Mas eu mesmo, embora gostasse da atividade lá, eu falei: "Pôxa, mas para que eu fiz um curso de engenharia para ficar aqui?". Aí eu comecei a me informar e comecei a trabalhar em uma empresa petroquímica aqui em São Paulo, chamada Poliolefinas. Tinha algumas pessoas que estudaram lá que não eram meus amigos de escola, mas era das turmas anteriores, que eu consegui contatar: "Ah, tá tendo uma vaga". Fiz a entrevista e comecei a trabalhar na petroquímica.
P/2 – Você voltou para São Paulo.
R – Aí eu voltei para São Paulo. Trabalhava na Avenida Paulista: 1499 era o escritório da empresa. Em diagonal com o Museu de Arte de São Paulo (Masp). Eu já tava mais à vontade.
P/1 – Aí, foi mais tranquilo.
R – Mais tranquilo.
P/1 – Voltando um pouquinho para essa coisa da universidade, quando você começou a fazer o curso, era exatamente o que você queria?
R – Olha, me surpreendeu, eu fiquei apaixonado. Realmente o negócio que valeu a pena, eu gostei demais e gostava demais. Realmente eu, sabe, que era novidade. Eu não sei se a engenharia civil, talvez fosse alguma coisa de cálculo. Mas você estudar um material, por exemplo, vidros, você estudar a característica implícita de um metal ou de um plástico, é um negócio que fascina. Pelo menos a mim fascinou, valeu a pena demais, gostei demais. E, sinceramente, duas coisas que eu faço bem: dirigir e entender de plástico. Porque realmente fiz com amor, gostei do que eu fazia, entendeu?
P/1 – E, Wanderlei, você é casado?
R – Casado.
P/1 – Você poderia falar o nome da sua esposa, de seus filhos?
R – Minha esposa chama-se Cleusa Fernandes Beata Simonato. Eu tenho dois filhos: Vagner Augusto Simonato, nascido aqui no Samaritano, e Victor Augusto Simonato, nascido na data de hoje, no Hospital Santa Catarina, na Avenida Paulista. Tá aniversariando hoje, dez anos. O mais velho, 22 anos, faz aniversário no dia primeiro de agosto. Ele está no Canadá, se formou em engenheiro ambiental e está fazendo uma complementação no Canadá. São dois filhos fantásticos.
P/1 – E, quando você veio para São Paulo trabalhar nessa indústria petroquímica, você veio e ficou morando aqui?
R – Fiquei morando aqui. Eu comecei morar na rua Itapicuru, aqui, é, acho que é Franco da Rocha e a de cima, Ministro Godoy, e em uma república. Um apartamento de três dormitórios, três pessoas. E trabalhava na Paulista. Casei-me e mudei para Homem de Mello com Caetés, é onde eu tenho apartamento até hoje. Onde eu constitui minha família, em um apartamento de um quarto. Meu filho dormiu até os doze anos em um bicama na sala. Na hora que nasceu o segundo filho, eu falei: "Não, não posso mais ficar. Tenho que mudar". Paguei aluguel 14 anos e meio. Quando eu fui mudar, acabei comprando o apartamento. É meu!
P/1 – Ficou sendo...
R – Não, ficou o apartamento... Eu pensei, ah eu posso comprar como investimento. Como investimento, mas, para morar, não dá mais minha família. E acabei comprando, e foi útil, entendeu? Hoje eu me mudei para Fernandópolis. E, pensando no filho mais tarde vir para cá, deixei o apartamento fechado e tá aí até agora. Então, quando eu venho, eu fico nela.
P/1 – E você morou quantos anos aqui?
R – No bairro de Perdizes, desde 1981 até 1997, entendeu? Aí foi que fui com a família para lá, mas com frequência venho para cá.
P/1 – E você voltou para Fernandópolis por opção?
R – Meu filho já tinha 12 anos, e eu falei... Eu não sei, eu sempre um pouco temeroso por conta de ter sido criado em um ambiente muito tranquilo como eu lhes disse, eu falei: "Eu acho que é melhor criar meu filho no interior". Não sei se acertei ou errei. Eu até acho que alguns pontos positivos e outros negativos. Porque lá... Aqui, o cara estuda mais, se dedica mais, entendeu? E lá acaba se envolvendo com mais amizades e se distrai um pouco mais. Tem um pouco menos de responsabilidade que aqui. Mas eu acho que também teve uma vida salutar, ótima, foi ótimo aluno em escola, se formou extremamente novo, entendeu? Está tudo bem. E o que me levou realmente foi o problema mais familiar porque, se fosse para gerar dinheiro, São Paulo é muito melhor, com certeza absoluta. Mas eu estou feliz por conta disso também. E, quando venho, fico aqui, entendeu?
P/1 – Voltando, assim, você falando um pouquinho dessa sua volta para São Paulo, que você veio trabalhar nessa empresa...
R – Ah, só vou fazer um adendo. Quando eu fiz o cursinho aqui, falei: "Esta é a última cidade que eu quero viver".
Entendeu? Mas engano. Realmente, uma cidade fantástica para se viver, entendeu? Valeu a pena, foi aqui que eu construí o pouco que tenho sob todos aspectos: cultural, financeiro e tudo mais.
P/1 – E eu queria que você falasse um pouquinho desse trabalho que você fazia nessa empresa, foi 1981?
R – É, eu comecei na Poliolefinas S.A., um grupo, uma empresa petroquímica de primeira linha. Que a Petrobras tinha um terço, o grupo Unipar, que é da família Gare, tinha mais um terço, e, é... E a Petroquisa tinha mais um terço. Comecei a... Entrei no Departamento de Assistência Técnica. Essa assistência técnica era que fazia, assim, orientação em que tipo de aplicação... O indivíduo falava: "Eu vou fazer uma embalagem para envasar leite. Qual é o material adequado e qual é a condição de utilizá-lo?". Então essa era a orientação que eu dava às empresas transformadoras, indústrias de transformação de plástico. Daí, eu fiquei de 1981 a 1995, só que, neste ínterim, muitas coisas mudaram. Mudaram o seguinte: foi evoluindo, foi aumentando os grades de produtos, foram aumentando os clientes, o volume de consumo cresceu bastante no Brasil, entendeu? E também mudanças, mudando sempre tecnologia, os aparelhos e equipamentos de análise muito mais sofisticados, muito mais precisos foram trazidos para cá. E eu atendia o Brasil todo, a América Latina. Eu fui até responsável pela área técnica da empresa. Até quando ela se fundiu com a PPH, uma indústria de polipropileno, é... Que fundiu com Poliolefinas com a PPH, que ficou uma empresa do grupo, da holding Odebrecht, que passou a chamar-se OPP Petroquímica. Eu, nessa época, ou antecedendo um pouco, era responsável pela área técnica. Já atendia o Brasil e a América Latina toda. Então, toda essa orientação era eu mais seis engenheiros, que davam essa orientação, de que material e de que forma utilizar. E aí, nesse período, que eu atendia também a Tetra Pak já. Eu era o assistente que atendia a Tetra Pak.
P/1 – E como que foi esse seu encontro com a Tetra Pak? Você já conhecia a Tetra Pak?
R – Eu já conhecia. Na verdade, a Tetra Pak é uma empresa bem estruturada, sempre foi. Nasceu bem e cresceu cada vez melhor. Muito consistente, consolidada e consciente do que ela faz. E, como ela fazia, fazia e faz, coating sobre papel, para fazer a caixinha, poucos problemas existiam. Apesar de que, na época, hoje se faz... Ela tem silos enormes, vai tudo em... Não é sacaria, entendeu? Quando eu comecei, era saco, lá não tinha silo. Então, se vertia na boca do funil da máquina, e eu lembro uma coisa que me marcou nesta época: como eu tava iniciando, e eu fui dar uma assistência técnica em um problema que houve na Tetra Pak. Então, cheguei, constatei o problema, falei: "Então, vamos devolver o material para substituir o lote". Teve problema. Só que a orientação não me foi dada de forma correta. Porque a gente substitui aquilo que foi não violado, o lote comprometido. E eu autorizei a devolução de tudo. Não foi dada. Foi dada uma puxada de orelha pequena. Falou: "Não, você podia ter aceitado a devolução do que não foi tocado. Pertinente àquele lote, não do que foi violado. Mas tudo bem". Então, foi aí quando começou a marcar realmente já uma presença na Tetra Pak. E muita gente daquela época, como Isidoro, que passou, já estava lá. Nelson Amaral, não sei se ele vai fazer entrevista com você, uma pessoa da área de desenvolvimento muito competente também. Paulo Bordini, esse também, o Pacote, que é o Luiz, Luiz Cláudio Ribeiro, o Cláudio Ribeiro. O Mário Baiano, não sei se ele veio aqui. Essa gente, então, eu conheci a posteriori muitos deles, mas o Isidoro, o Nelson, eram pessoas da área. Quando eu ia atender, já estava sendo protagonista da parte técnica do negócio lá, da parte operacional da empresa.
P/1 – E isso foi... A Tetra Pak tinha começado, com a fábrica, que foi em 1978. Em Monte Mor [SP].
R – Eu não sei exatamente quando, há 50 anos, na verdade, faz uns 24 anos. Então, é antes. Mas ela foi começando, imagino eu, não tão... Incipiente, o volume dela devia ser muito baixo. Porque hoje ela deve consumir o quê, umas duas mil toneladas ou mais de polietileno por mês. Na época, ela devia consumir uns 500, um quarto do que ela é. Aqui no Brasil.
P/1 – Isso foi 1981?
R – 1981, 1982, por aí.
P/1 – E como que era Monte Mor? Porque hoje já mudou muito.
R – Sempre muito bem estruturada, muito limpa. Uma assepsia fenomenal. Diferenciada. Aliás, a empresa que me chamava atenção quando eu ia era ela. De todas as outras que eu visitei, sem desmerecê-las. A acuidade, o zelo, a limpeza, assepsia, diferenciada em relação às empresas de transformação. Mesmo porque ela mexia com embalagens para alimentos, tá certo? E eu tratava mais com as embalagens, as empresas que fabricavam as embalagens para fornecer as empresas envasadoras. Então, era um caso à parte. Eu até ficava: "Um dia eu vou trabalhar nessa empresa". Dada a organização dela. "Eu deixo a petroquímica por uma empresa: a Tetra Pak, pela impressão que eu sempre tive dela". Não é para jogar confete, é pura verdade. Entendeu? E, assim, é, eu, em 1995, eu decidi deixar a petroquímica. E eu pedi demissão. Por conta de questões políticas, de fusões de empresa, até que pudesse até gerar uma demissão minha, mas não por esse motivo, e eu realmente decidi pedir demissão. Porque eu desenvolvi um plástico e patenteei. E dei para essa empresa que eu represento a patente para ficar com exclusividade comercial. E ele topou, eu pedi demissão da petroquímica. Aí, saí. Só que, daí um ano, esse negócio que eu patenteei era incipiente em relação ao volume dos outros negócios do grupo. E o grupo descontinuou.
P/1 – Hum...
R – Eu quase morri. Que apostei tudo nisso... Mas eu enveredei para outro lado, que, quando começou o shrink film, o filme encolhível no Brasil, eu dava assistência aos transformadores que forneciam, por exemplo, à Coca Cola. Então, eu ia lá orientar como fazer aquele filme, tá certo? Então, eu saí, aí implementei, eu acho que fui um dos primeiros a implementar o filme encolhível na indústria de óleo comestível. Entendeu? E aí eu comecei a desenvolver e representar e, principalmente, na área de óleo comestível. E, por eu ter passado pela Tetra Pak, não tinha tido aquele relacionamento, sabe por quê? Era um relacionamento profissional, não estrito como comercial, entendeu, aí eu falei: "Pô, a Tetra Pak utiliza embalagem". E eu procurei o Nélcio Amaral. E... Começou. Porque o seguinte: dada a exigência da Tetra, tinha que se ter o quê? Um produto muito, muito seguro, muito perfeito para atendê-la. E, quando eles deram abertura para que eu fornecesse, que eu passei a ser representante da Valfilm e da Tecnoval, então eu fui lá, entendi o que eles necessitavam, entendi o que eles, o que seria adequado para eles, e comecei a fornecer. Tinha dois concorrentes que forneciam. Eu acho que não passou quatro anos, não por conta de ser indelicado ou qualquer coisa, pela realmente competência e pela qualidade dos serviços e produtos oferecidos pela empresa e por mim, para falar a verdade, acabou que eu forneci... Forneço até hoje sozinho. Mas as otimizações, tanto em custo quanto em qualidade, mas não otimizar em qualidade, os custos foram otimizados, e as qualidades foram duplicadas, triplicadas, até quadruplicadas, entendeu? Foram aumentadas significativamente. Porque eu trabalhava com esse Nelson Amaral, que era o responsável pela área de desenvolvimento de embalagem. Nelson Amaral, Mauro Moraes, e a gente trocava idéia. E, como minha especialidade é o plástico, e eles são, assim, bastante sérios demais e responsáveis demais, que, para mudar alguma coisa em embalagem, isso tem um estudo de seis meses pelo menos. Eles mandavam para Suécia, para Dijon, na França, entendeu? É, e para analisar e implementar as coisas. E, realmente, toda conversa, no início, que eu, do meu trabalho lá dentro, eu conversava com... Explicava, eles foram adotando muitas das coisas que a gente trocou idéia. E essas implementações otimizaram de tal forma os custos, com a melhoria incomparável de qualidade, que me creditaram a confiança e até esse orgulho de terem me trazido aqui hoje, sinceramente.
P/2 – O que então era fornecido, era matéria prima?
R – Tudo filme. Pode ser para embalagem externa, então, a Tetra Pak tem um sistema, que ela faz o quê, eles falam a fase: bobinas de cartão, papel cartão, que vão ser conformados para formar uma caixinha. Essas bobinas, elas vão, elas têm que ser protegidas, senão elas vão pegar sujeiras, impurezas, tá certo? Então, o que protege aquelas bobinas, da hora que elas saem da fábrica até chegar ao cliente da Tetra Pak, são re-embalagens que eu forneço. E algumas daquelas embalagens têm componentes, algum filme, para que haja a soldabilidade perfeita, e uma impermeabilização perfeita, e quem fornece esse filme também somos nós, Valfilm e Tecnoval.
P/2 – Então, vocês fornecem a embalagem para embalagem da Tetra Pak?
R – A re-embalagem e componente para embalagem para eles, tá?
P/1 – Só voltando um pouquinho. E antes, quando você tava lá na petroquímica.
R – Petroquímica. Na... Eu assistia na transformação dos pellets de polietileno para fazer o coating que participa da embalagem deles. Aquela camada de polietileno, que é o pellet, aquecido e extrusado, por coating, aquele lençol que cai sobre o cartão para fazer a embalagem. Que está, de longe, embora fosse já muito bom, de longe da embalagem que é feita hoje, sinceramente. O desempenho, a segurança, é, da embalagem atual, é muito superior, embora talvez aquela... E, com certeza, aquela já atendia a expectativa e a necessidade, sob todos os aspectos, mas a de hoje é muito melhor, entendeu? Eu vou de Gol e vou de Mercedes, os dois vão, não vão? Só que nós estávamos com Gol e estamos com Mercedes, ou talvez até com um jato, para ser sincero, se for comparar uma coisa com a outra, tá certo?
P/1 – E esse, é que as histórias vão ter que dividir em duas partes. Essa relação com o Tetra Pak, primeira e a segunda.
R – Fique tranquila.
P/1 – Na primeira, assim, o contato que você tinha na Tetra Pak, vocês chegavam a discutir, pensar em projetos? Em melhorias?
R – Na primeira fase, não. Na primeira fase, não, sabe por quê? Porque, realmente, eles vinham com uma coisa, já moldada, já definida por conta da filosofia da empresa, então não tinha como sugerir alguma coisa para mudar. Aquilo era... O material era especificado, chamava-se PB 203, que o material desenvolvido pela petroquímica para coating, adaptado às necessidades e às exigências dele, e eu só os atendia quando, porventura, este material apresentasse algum problema. Era isso que eu fazia. Resolver o problema. Ou substituir o lote ou verificar se existe alguma condição não adequada para o bom desempenho do produto deles. Que o produto nosso pudesse não atender. Então, grânulo, extrudado, era... Foi essa fase. Agora, o meu, a parte hoje, não. Já é filme acabado para aplicar na re-embalagem ou compor a embalagem. Tá?
P/1 – E aí agora vocês conversam...?
R – Agora sim. Aí, quando eu comecei a fornecer, realmente, aí nós sentávamos, discutíamos e implementávamos... Implementamos e otimizamos tanto... Esses filmes, que, principalmente, ocupam, fazem parte da embalagem deles. Isso aí foi otimizado violentamente. Existia, quando eu entrei, existia dois tipos de filme que se chama RN e RE. R-Normal e R-Especial. Esses filmes, na parte interna da embalagem, para soldar perfeitamente. Só para vocês terem idéia, a otimização em termos desse RN, é como se fosse um coating normal muito bom. Mas a velocidade de soldabilidade dele em relação ao que hoje nós fornecemos com as otimizações e melhorias de resina, adequação, eu diria que aumentou 50% em desempenho em uma máquina, e 500% em termos do produto na soldabilidade. Embora o primeiro fosse bom, eu estou dizendo, com certeza é bom. Então, foi um negócio que foi revolucionário, acho que é por isso que eles lembram de mim, entendeu? Sinceramente. Porque, realmente, foi um marco de uma mudança significativa no desempenho da embalagem deles. Tanto que o Nelson Amaral, que era o homem do desenvolvimento, por uma ocasião ele me convidou até para ser consultor. Eu falei: "Mas eu sou consultor da Tetra Pak. E vou ser quando você precisar no que realmente tiver à minha altura", entendeu?
P/1 – E era com ele que você...
R – Com ele que eu discutia isso, implementava essas embalagens ou componentes de embalagem. Porque a própria re-embalagem de lá não é re-embalagem. Por exemplo, você pega uma, um refrigerante, você envolve com shrink film e faz uma re-embalagem. Que a embalagem é o frasco, e a re-embalagem é o que protege, que você faz aquele… Unitiza seis ou doze, entendeu? Na deles, além de unitizar, proteger contra pó, ainda existem exigências de não derrapar para você ter a segurança no transporte, não comprometer o produto, entendeu? Tem aquele que tem que abrir com facilidade para vestir, encolher e proteger perfeitamente. São nuances, é, são shrink films, são filmes encolhíveis, não com características convencionais, com características especiais para os produtos Tetra Pak. Realmente, são diferentes, tá? Até as embalagens. Agora, da embalagem, então, é muito diferente. Tanto que eu fornecia, eu mais dois. Nós, Valfilm e Tecnoval, mais dois concorrentes. Por conta da otimização, eu pedi até, e foi implementado depois de mais de seis meses, mais de um ano, para dar chance de ter um concorrente. Dar chance de ter um concorrente. As máquinas dos concorrentes não conseguiam fazer a embalagem que eu fornecia. Não conseguiam fazer. Então, tinha esse, tinha esse filme RE só nós que fazemos. Mas eu falei para ele: "Não há necessidade disso aí porque depois você fica, como dizer, você fica na mão de um só". Acabou que ficou na mão de um só, mas não ficou na mão, ficou feliz de estar na mão de um só, entendeu? Por conta da seriedade, do profissionalismo, da consciência e de conhecer e saber fazer algo que pudesse realmente somar demais. O Nelson Amaral, eu não vou atribuir a isso, é lógico que tantos outros, desenvolvimento tinha outras áreas, papel e tudo mais. Mas hoje ele deve ser o diretor na Suécia, provavelmente. Então, eu preciso falar com ele, mas é seguro que ele seja um diretor, hoje, na Suécia. Porque, sabe, ele mudou muito, ficou um centro de referência, eu acho, aqui, a Tetra Pak do Brasil. Em desenvolvimento e otimização.
P/2 – E, nessa empresa atual, você está desde 1995?
R – De 1995. Eu a atendi tecnicamente pela petroquímica, essa que eu estou atual. Eu dava assistência para eles na transformação.
P/2 – E, de 1981, que você disse essa questão do coating, da re-embalagem, é, já era boa, mas mudou muito. Mudou para melhor hoje.
R – Mudou. Mudou para melhor. Assim como surgiu a lata, que eu não sou dessa, não fiz parte de metais, vi alguma coisa, mas a lata, por exemplo. Se você pegar uma lata de 20 anos atrás e uma lata de hoje, a diferença é incomparável, entendeu? Foi super otimizado. Hoje é de alumínio, entendeu, não oxida, não sei se nem que tipo de verniz é colocado dentro. Essas otimizações foram feitas no plástico também. Entendeu? Então, fala assim: "Mas não era boa?" Lógico que era boa. Mas o desempenho em máquina, por exemplo, então, sei lá, uma máquina para fazer aquela lata antiga, é, fazer a, sei lá, 500 latas por minuto. Para fazer a atual, depende, faz 1500, entendeu. É o caso, entendeu? Além de a barreira ter melhorado, que não precisava, o desempenho em máquina, é, aí disparou, entendeu? Essa foi a vantagem.
P/2 – E aí, pegando esse gancho da questão da evolução, do avanço, você percebeu em outras áreas também um avanço tecnológico na Tetra Pak, já que você tem uma relação com ela há tanto tempo, desde 1981 que você...?
R – Ah, é, fica até meio subjetivo ou tendencioso, parece, mas não é, a Tetra Pak, ela é uma empresa, é, extremamente inovadora, embora, realmente, ela seja, é, conservadora em certo aspecto, e cautelosa excessivamente, mas ela é inovadora violentamente, entendeu? Que você leva uma idéia, demora a ser implementada, mas coisa séria, ela implementa mesmo, que ela tem, além de grana, tem visão e seriedade no que ela faz. Por exemplo, na parte de impressão, ela melhorou muito em relação ao que ela era, entendeu? Na parte de detecção de falhas, que, embora, realmente, fosse perfeita, ela tem um equipamento lá que, se você jogar, der um ponto com agulha na superfície do filme, ele te coloca uma etiqueta na hora passando a 500 metros por minuto. Não existe a possibilidade de sair um produto com defeito. Não existe a possibilidade. Então, ela, realmente, evoluiu muito, entendeu, continua. Nada mais permanente do que a mudança, entendeu, e continuamente. Ela se presta a isso, não é uma empresa fechada, trancada, que tá naquele submundo de não evoluir. Ela investe, inclusive nessas coisas. Ela cresceu demais, de forma consistente, e melhorando a cada... Não a cada ano, mas, cada período, os produtos dela, com certeza absoluta. Aliás, seria fazer um marketing para ela, mas é uma embalagem perfeita, sinceramente, entendeu? E eu, sendo engenheiro de materiais, eu sei o que é uma coisa ótima, perfeita ou não em relação a tantas outras embalagens, não se compara a embalagem Tetra Pak. Mas muito, a grande maioria.
P/1 – E teve um impacto para você, Wanderley, quando a Tetra Pak fez a Tetra Pak Ponta Grossa [PR], a outra fábrica?
R – O impacto foi um impacto de alegria, positivo, porque era mais um. Na verdade, o que a gente fez foi alguma adaptação daqui para lá por conta da fábrica de lá ser mais moderna que a de cá. Não, com equipamentos mais otimizados, entendeu? Mais eficientes. O sistema da fábrica mais on-line, um negócio, vamos dizer aqui, era como começou, não tava um negócio com disposição, com a logística perfeita dos trâmites dos produtos internamente. E lá, não. Lá entrou papel e plástico, aqui sai a embalagem lá na frente, é uma coisa fantástica! É impressionante a ergonomia, a forma, o funcionamento de lá. Aqui é ótimo, mas lá, com certeza, veio depois, veio bem melhor, entendeu? A produtividade, a eficiência de lá é muito maior do que a daqui, embora realmente os equipamentos não... Fala assim: "Não, mas aqui é mais velho". Não, mas é como foi montado, muito mais eficiente.
P/1 – É, desculpe, talvez você tenha falado e eu não tenha prestado muita atenção, tenha perdido. Você fornece o filme. A máquina, esse equipamento que vai fazer essa embalagem é da Tetra Pak ou é de vocês?
R – Da re-embalagem, nós mandamos as bobinas prontas. Aí, ele utiliza para aplicar em cima dos produtos, que são as bobinas prontas de embalagens deles. Isso para Ponta Grossa, só forneço a re-embalagem. Para Monte Mor, então forneço filme para proteger os produtos dele, e forneço filme para compor a embalagem deles. Então, daí, essa bobina que compõe a embalagem deles, ela vai lá e vai entrar no sistema, junto, on-line, com o coating que eles aplicam, e vai ficar na parte interna da embalagem. Para facilitar a soldabilidade, entendeu? Que acelera o processo de produtividade nos equipamentos de solda na hora do envase, entendeu? Então você consegue soldar. Tem o hot tack, entendeu, que é outro material. A parte interna da embalagem, como era só polietileno de baixa densidade, então ela é mais lenta, o tempo de recristalização do material, entendeu? Você aquece, ela demora mais para recristalizar, ou seja, você tem que andar mais lento com a máquina. Agora, essa que nós fornecemos agora se chama hot tack, o material, é, o ponto de fusão e solidificação está muito próximo, o material é muito cristalino. Então, ela bate e solta, já tá, vamos dizer, já tá soldado. Então, a velocidade de produção é violenta, entendeu?
P/2 – Tecnologicamente, a gente já viu que muita coisa mudou.
R – Mudou, com certeza absoluta.
P/2 – E que mais que te chama atenção que tenha mudado?
R – Mas mudou muitas outras coisas, entendeu? Na verdade, é como eu nasci, no sítio. Então, o relacionamento que eu tinha na Tetra Pak, como o Isidoro falou, então a gente era uma família. No começo, era uma família. O relacionamento, sabe, como se fosse com irmãos. Obviamente, com o crescimento, já distanciou um pouco por conta das correrias, das atribulações, entendeu, dos dias modernos. Então, um ponto negativo, que, de repente, não é característica da Tetra Pak, mas da natureza dos dias de hoje, é um pouco o distanciamento das pessoas. Porque antes era realmente uma família. E hoje já não é mais assim. É, profissional, mas não é mais frio, não é empresa fria não, cheia de, sabe, de valores, mas o tempo ficou mais restrito para o relacionamento extraprofissional, entendeu? Só isso. Mas é fantástica de fato. A empresa. Então, essas mudanças que houveram, que foi tudo otimizado, foi, para se ter algo melhor sempre. Mas eu falo que o que for mexer nas embalagens e re-embalagens da Tetra Pak é provável que se melhore muito pouco, com excessivo aumento de custo. Com redução de custo, absolutamente não melhora nada. Na parte que concerne aos filmes plásticos.
P/1 – E vocês fornecem só para o Brasil ou para...
R – Para a Argentina também. E agora nós estamos sendo credenciado a nível mundial. A Tecnoval tá sendo credenciada a nível mundial como fornecedora da Tetra Pak.
P/1 – E existe alguma diferença, assim, desse fornecimento do Brasil ou para Argentina?
R – Não.
P/1 – Não. É a mesma coisa.
R – Para a Argentina, quando eu comecei a fornecer para a Argentina, foi fornecido o filme, o mesmo filme que nós fornecíamos aqui. Já foi otimizado aqui. Aqui foi como se fosse um centro de desenvolvimento para a Tetra Pak. Eu acho que saiu daqui para muitos outros lugares do mundo, provavelmente. Mesmo que não fosse fabricado aqui, com certeza o que estava sendo fabricado aqui foi passado e otimizado em outros países, por incrível que pareça. E pode constatar, se o Nelson Amaral tiver aqui, ele vai dizer isso. Que o que foi desenvolvido aqui não tinha em outro lugar. Tão eficiente.
P/1 – E se pensa em quilos, em metragem, como que é?
R – Eu vendo em quilos, e eles, na verdade, trabalham com área, superfície. Que eles vendem superfície. E eu vendo quilo.
P/1 – E, quando você começou a vender, quanto era de quilo, e hoje?
R – Não, olha, veja você. Também um fato que houve, principalmente no que compõe a embalagem, que foi negativo para mim, mas feliz eu fiquei, que também a petroquímica evoluiu muito. E, com o advento da produção de polietileno com o catalisador metalocênico, ela... Foi desenvolvido e produzido no Japão, e eu não sei se... Hoje já tem no Brasil, a Braskem já fabrica no Brasil, um filme com polietileno com catalisador metalocênico, que ele substitui grande parte desse filme que eu vendo para compor essa embalagem. Por conta dele, em si, proporcionar essa ótima soldabilidade com hot tack baixo, entendeu? Então, eu acabei nascendo, cresci bastante e, realmente, as minhas vendas não aumentaram por conta do advento, da entrada desse wide, que é um material que, embora, realmente, ele, se for ver, ele não é melhor do que o filme que eu forneço. Mas, no sistema, ele proporciona uma otimização de custo para empresa com um desempenho muito semelhante ao do filme. Que... Quer dizer, tem o mesmo desempenho, com um custo menor. Então, por isso que eles implementaram. Então, eu comecei com dez toneladas com a Valfilm e dez toneladas com a Tecnoval. Vendo 50, 60 toneladas pela Valfilm, e cheguei a vender 120 com a Tecnoval. Hoje, vende 50, 60 com a Valfilm, com tendência de aumentar, e, da Tecnoval, vendo 20, 30, somente. Por conta do advento desse metalocênico, que entrou, que ele é aplicado por coating direto, e não deposição do filme e coating em cima. Entendeu? Foi uma utilização grande da Tetra Pak nesse sentido também. Mas essa otimização não foi falar assim: "Fui um grande ganho de qualidade". Não, foi empate de qualidade com ganho de custo, tá?
P/2 – E você disse que seu filho é engenheiro ambiental, não é isso?
R – Engenheiro ambiental. Recém-formado, entendeu?
P/2 – Recém-formado. É que eu queria falar sobre essa questão ambiental. A Tetra Pak ela tem uma preocupação muito grande...
R – Das empresas que eu conheço, nenhuma é semelhante a ela com relação a esta preocupação. E atuante nesse particular. Ela é muito consciente disso.
P/2 – Que você percebe dessas iniciativas, você como fornecedor, que tem esse contato com a Tetra Pak, é, com relação a essa preocupação, na prática? O que você vê?
R – Não, o que ela na prática faz, veja você, e eu conheço algumas empresas satélites a ela que, ao invés de fornecerem, retiram os produtos, que são as aparas dela, e também algumas caixinhas recolhidas, para realmente recuperar e fazer produtos nobres. Como eu conheço a empresa chamada Egipel. Eu estive lá, não sei se ainda tem, faz umas caixas para presente, coisa mais chique do mundo. Com o recuperado da Tetra Pak, entendeu? E agora, com a separação do metal do plástico e do papel, ficou fascinante. Porque o metal é um produto caro, e você recuperar o outro e aproveitar, eu acho, assim... E não sei se você sabe, que você faz um banco, mesa, compensado de várias naturezas, você faz, monta o papel para uso em uma embalagem sofisticada até para presente, muito bonito de ver. Eu acho isso aí uma coisa de gente grande, como é a Tetra Pak, entendeu? Como eu penso também. Da conscientização com relação a meio ambiente. Ela já tem ISO 14000 faz muito tempo e já tem alguma ISO acima disso com relação à parte ambiental. É com certeza a empresa número um em preocupação e atuação com relação a meio ambiente, não tenho dúvida disso. Internamente, pode ir lá e constatar. Nas imediações. A consciência dela e a divulgação sobre o estudo. Não existe feira, não existe estande no Anhembi que cheguem aos pés do estande da Tetra Pak. Não existe. Nunca existiu. E a conscientização da recuperação tá sempre lá. Dos materiais com relação ao meio ambiente. O chamado dela, ela é muito atenta a isso, muito preocupada a isso, entendeu? E eu acho fantástica a empresa, sinceramente.
P/1 – Wanderley, você se vê como fornecedores, com a Tetra Pak, ou parceiros?
R – Olha, sem dúvida alguma, de coração, até pode ser um exagero de minha parte, mas, conscientemente, o que eu sinto pela Tetra Pak, sou parte integrante dela, um parceiro dos mais fiéis, transparente e claro que já existiu na face da Terra. Eu tenho vários outros clientes que estimo e considero demais, mas a Tetra Pak tem uma particularidade. É, não existe nenhuma, nem nunca existiu, sabe, uma omissão, uma, sabe, nada, é uma transparência, é uma convivência, é uma seriedade. E sabendo das exigências, da necessidade, entendeu? Eu, com a consciência que sempre tive e, principalmente, com o plástico, eu sei do que pode ocorrer, eu sempre fui e sempre serei, não com ela, como também com os outros clientes, mas, em particular, com ela, sabe, muito, muito, muito transparente. Então, é uma parceria que não poderia ter algo melhor. É o que eu sinto, tá? Com a mudança do relacionamento, que era um relacionamento familiar, hoje é um relacionamento profissional, ainda assim continua, na minha ótica, sabe, eu me sinto, assim, entendeu, tudo que eu fiz e faço, eu me coloco no lugar como se fosse o dono do negócio, como o que eu faria. E, na Tetra Pak, sendo dono do negócio, com um pouquinho mais de esmero, de preocupação e acuidade e segurança, você tá entendendo? Que realmente eu vou, eu não vou lá tirar pedido, entendeu? Eu não vendo preço. Eu vendo custo e desempenho. Otimização de sistema, de forma que ele possa atender realmente às necessidades da empresa e de quem utilize o produto da empresa de forma extremamente, sabe, consistente, de forma segura. De forma, sabe, que tem que ser. Alguém que faça alguma coisa muito séria.
P/2 – E tantos anos de relação com a Tetra Pak devem ter gerado histórias e casos...
R – Pescarias...
P/1 – Deve ter alguma coisa.
R – Pescarias, os brindes deixados em portaria, nego levar embora, os nossos vigias...
P/2 – Conta uma história que tenha marcado vocês nesses anos de relação, algum fato pitoresco, alguma história...
R – Deixa-me ver. Não, não sei se pitoresco. O que, realmente, por conta de ter se criado um ambiente bastante, eu não diria familiar, mas de um relacionamento muito estreito e de uma grande confiança, que prevalece até hoje, graças a Deus, de vez em quando nós íamos fazer umas pescarias aí em Itamonte, eu não sei se Isidoro falou para vocês. Fazer pescaria nesses pesqueiros de truta, aí. Era um... Passava um fim de semana maravilhoso, super agradável, entendeu, com atabaque, sabe, dança, cantando, o pessoal que gostava. E pescando, em suma, e comendo truta lá nos pesqueiros. É uma coisa que, realmente, me fez bem, e estreitou esse relacionamento, entendeu, mas um relacionamento de gente que se considera, se identifica, entendeu? Não aqueles que... Nunca houve, e acredito não haver, nos clientes que eu trabalho, e muito em particular com a Tetra Pak, o que eu valorizo muito é a reputação, o reconhecimento de um profissional. E que eles reconhecem certamente por mim, e eu tenho por eles. Da seriedade, da nobreza em se tratar com algo tão sério quanto a embalagem deles, não tendenciosidade por conta de você prover alguém de um brinde ou coisa assim. Eles não misturam essas coisas, e eu também não misturo essa coisa. Eles se identificam demais comigo. Porque, o que eu me proponho a fazer, eu faço com muita seriedade, com muito afinco, com muita dedicação, e eles são assim. Por isso que eu realmente tiro o chapéu para a empresa. E para os profissionais que lá trabalham. Lá não tem gente que brinca. Lá tem gente séria e competente. Tá? E eu fico feliz por tá agregando a esta, a este tipo de gente.
P/2 – Qual a importância da Tetra Pak para a indústria alimentícia, na sua opinião?
R – Não, eu diria o seguinte: ela que não quis entrar, mas eu acho de fundamental importância, em função do que, realmente, é, transmite de segurança as embalagens dela, entendeu? Então, você vai comparar, é, uma embalagem daquela com um saquinho, é, não dá para comparar, entendeu? Quem conhece intrinsecamente o que proporciona uma embalagem que não tem permeabilidade, não entra luz. Por exemplo, eu vendo PET. Embalagem PET não compara à embalagem Tetra Pak. Porque a presença de luz pode ocasionar uma oxidação, desenvolver algum tipo de bactéria, desenvolver internamente. Embalagem Tetra Pak não tem isso. Não existe a presença de luz, entendeu? Existe a barreira com alumínio contra a luz. Existe a soldabilidade que, em termos de permeabilidade, o próprio alumínio segura, e a soldabilidade especial duma chapa de plástico. Porque é onde solda, não fica uma película, fica uma placa que não permeia nada, é de uma segurança fora de série, entendeu? E a facilidade de manuseio disso. A comodidade de se expor em uma gôndola. É uma embalagem completa de fato, entendeu? Por segurança, fundamentalmente. E, por facilidade de manuseio, incomparável. Não quebra. Ela não é vidro. O vidro é uma boa embalagem. Boa embalagem? Passa luz no vidro. Na dela, não passa. Acomodar e manusear é muito mais fácil. Se compara a uma lata, entendeu, mas lata ainda tem verniz, que pode aí, por alguma razão, quando toca um amassamento, comprometer. A deles não tem como amassar e comprometer, entendeu? E eu diria que é uma embalagem perfeita. De fato, a embalagem perfeita. E o pessoa dá uma conotação, ou querem denegrir por conta de alguma razão de incomodar, que sabe que quem é competente e que se destaca, às vezes incomoda muita gente. E eles não "vai" ficar fora dessa situação. Então, começa a apedrejar. Uns falaram: "Ah, aqueles que tem cinco lá, foi recuperado". Não existe nada disso. Na Tetra Pak, não existe embalagem recuperada, é tudo, sabe, muito sério, muito seguro. São faixas de impressão que são numeradas, entendeu? Olha, eu não sei te dizer, não existe embalagem melhor que a embalagem deles. Sinceramente. Existe embalagem igual à deles, mas melhor que aquela não tem. Quem analisar e souber a... Manda no Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) ir fazer análise. Comparar uma coisa com a outra e depois vão dizer. Então, ela é perfeita, simplesmente perfeita. Fala assim: "Ah, mas e o meio ambiente?". Até parque de recuperação, depois que eles desenvolveram a separação do alumínio da embalagem, ela é melhor que qualquer outra até para recuperar. Um pouco mais onerosa para recuperar, mas se aproveita 100%.
P/2 – E, nesses anos, as embalagens da Tetra Pak, elas também evoluíram. Porque começou com a Tetra Classic, lá, aquela tetraédrica. E hoje você encontra "n" modelos da...
R – Você sabe o que é interessante? O que é bom? Bom é o que é adequado ao uso. E a Tetra Pak, pelo tempo, ou pelo shelf life que é exigido, ela tem o produto certo para o produto certo, entendeu? Então, ela tem a variedade, a gama necessária para atender aos mercados com a qualidade, é, com sobra. Com segurança de sobra para atender todos os nichos de mercado, seja de suco, extrato de tomate, leite, achocolatados ou derivados de leite. Em suma, com segurança, entendeu? Lá, não se faz algo para aventurar ou para transmitir insegurança a quem quer que seja. Se faz algo com segurança total para, se o produto tiver embalado nela, você pode comprá-lo, é, indicá-lo porque, realmente, tem segurança. Tem qualidade. Tá certo?
P/2 – E, na sua opinião, a visão dos consumidores têm dos produtos comercializados em embalagens da Tetra Pak, também reflete isso que você acabou de falar agora, essa segurança, essa imagem de seriedade da Tetra Pak?
R – Eu acho que assusta um pouco, porque a população brasileira, temos aí 70% de gente que, realmente, eu não sei se nível cultural ou financeiro um pouco baixo. Eu acho que esse nível de conscientização não tem. O pessoal compra preço, não compra qualidade. Por conta disso, eu não sei o que pensa a população, mas, se fosse divulgado e conscientizado, eu tenho certeza que seria a embalagem mais vendida, entendeu? Então, como você acha que é o povo? Os esclarecidos, não tenho dúvida, 100% compra embalagem Tetra Pak. E os menos favorecidos e esclarecidos, eu não sei como pensam. Compram preço, e não qualidade, entendeu? É igual você pegar um produto de uma empresa de grande nome, como uma Nestlé, e você comprar de um fundo de quintal, que você nem, entendeu? Porque o chocolate não dá para comparar, eu conheço os dois lados, entendeu? Agora, quem compra preço, minha filha, tem que comprar o que passa barato em cima, entendeu, é isso aí que eu já vi. E da Tetra é um negócio nobre. Aí fala assim: "É caro". Não é caro. Caro é tudo onde você bota o dinheiro, que você tem risco, não tem retorno. E barato é tudo que você bota o dinheiro, você tem o retorno garantido e segurança total. Na alimentação, fundamentalmente, eu acho que o indivíduo deve primar pela qualidade e segurança. E quem faz isso com certeza está muito bem servido com as embalagens Tetra Pak.
P/1 – Voltando um pouquinho, a sua relação com a Tetra Pak, você se relaciona mais com o pessoal de compras?
R – Eu me relaciono com todos. Com o pessoal de compras, com o pessoal da qualidade, entendeu? Com o pessoal do recebimento, do almoxarifado. Felizmente, eu te falei, construí como se fosse parte de uma família, embora hoje, com menos frequência e disponibilidade de tempo por isso, mas caso ocorra qualquer suspeita de problema, eu estou presente, falando com a qualidade e com compras e com almoxarifado e com quem, com todos... Com todos os setores, eu me relaciono lá dentro. Que envolve o produto que eu vendo, tá? Não é só com compras não. Eu não tiro pedido lá, não. Eu vou, me envolvo, até poucos dias, aconteceu um probleminha lá, que foram verificar que eu estava presente, logicamente, felizmente, e com certeza não foi no produto que eu forneci. E eles constataram e detectaram na hora. Grave nem nada, quer dizer, o sistema é tão seguro que isso não passa. Qualquer tipo de irregularidade ou suspeita, não passa, a embalagem não sai de lá. O sistema pega. Cês não fazem idéia o que é, coisa precisa. Não faz idéia, entendeu? Se tiver um plástico transparente em cima do alumínio que tiver uma marca lá no alumínio, o aparelho detecta, bota etiqueta, você vai verificar o que é. Não precisa tá nem comprometido, nada, deu qualquer coisa diferente, é detectado. É muito seguro o sistema. Muito. Então, aconteceu um fato desse, que nem comprometeria absolutamente nada. O sistema não deixou passar, fomos verificar do que se tratava. Então, estou presente também.
P/1 – Aí você vai na hora?
R – Aí eu vou. A parte técnica da Tetra Pak, eu faço questão de estar nela. Não é ir lá vender. Eu faço questão de ir lá e detectar o que está ocorrendo, sempre. E, nesse histórico, detectar o que está ocorrendo e o que pode ser melhorado para cada vez... Mas eu acho que, sinceramente, eu acho que pouco se tem a melhorar no que está se apresentando hoje. De fato. É muito perfeito.
P/2 – A gente falou dos vários tipos de embalagem, na sua opinião, qual é a embalagem mais marcante da Tetra Pak?
R – Olha, cada um com seu nuance, entendeu? Aquela que tem... Porque elas são muito parecidas. O que é mais marcante? Elas são muito parecidas. O que me chama atenção, particularmente, é aquela embalagem desenvolvida que é injetada aquela tampinha que você verte, ela não consegue dar uma gota fora ou escorrer na caixinha, entendeu? Que, aliás, quando fizeram, fizeram do lado... Eu tive o privilégio, da confiança também que foi dada para mim, que o desenvolvimento deles são muito sigilosos e reservados, eu tive o privilégio de eles falarem: "Não, vem aqui, analisa para mim, dá sua opinião a respeito de qual delas. Essa que sai por esse lado ou por esse lado, entendeu? Até nisso. Então, aquela embalagem que tem tampinha que você destaca e você verte e não consegue em hipótese alguma soltar uma gota na superfície da caixinha, eu acho perfeita. Um gosto pessoal. Talvez não seja a melhor embalagem deles, mas é a embalagem mais prática que eles têm, na minha ótica, é aquela lá. Não sei se você conhece. É impressionante. Você não consegue sujar nada, entendeu, você não consegue escorrer. Então, vai falar: "Sujou a caixinha", não tem nada disso. Aí depois ela lacra novamente. Mas todas elas têm, é, tem um estudo profundo, que realmente proporciona até a facilidade. Menos aquela que não tenha nada, não tem mais tampinha, que você tem que cortar, esse eu acho um ponto que, com o tempo, deve desaparecer. Isso é uma ótica minha. Você tem que ter uma, ter que cortar para verter. Mas assim, ainda, eu acho prática, mas ela, não consegue lacrá-la novamente. Então, todas essas tampadas, você consegue destampar, tampar, isso eu acho fantástico. A que destaca é essa que não, não
cai nada na superfície em hipótese alguma. Nem que você queira, você consegue derrubar.
P/1 – Nós estamos chegando ao final. Queria te perguntar se você quer falar alguma coisa que nós não tocamos dessa sua trajetória com a Tetra Pak. Algum caso, alguma coisa que você ache importante que tenha acontecido?
R – Olha, tudo que aconteceu dentro daquela empresa eu acho que, desses anos para cá, de 1995 para cá, no que tange a embalagem, eu participei, eu contribuí, entendeu? E cês nem imaginam eu falar... Eu até vi, eu fiquei lisonjeado pelo convite, mas eu vi o seguinte: o motivo pelo qual eu fui convidado. Porque, realmente, tantas pessoas com certeza sentem e presenciaram o meu envolvimento e a minha preocupação profissional com relação à embalagem deles. Eu, sinceramente, a Tetra Pak faz parte da minha vida, entendeu? Eu me sinto muito feliz, muito contente de ter acompanhado as evoluções que houveram, mesmo aquelas que fizeram com que eu ganhasse menos dinheiro, mas eu fiquei feliz, entendeu? Participei, isso para mim é tudo, entendeu? O reconhecimento que existe, com as pessoas, é, que tem lá dentro para comigo, e vice-versa, entendeu? E eu espero, é o que eu falei, esse negócio nosso tem que sobreviver, crescer e perpetuar, até a morte. Porque, realmente, eu não poderia ter ocorrido algo melhor do que esse relacionamento das empresas que eu represento, eu e a Tetra Pak. Pois é... Vai valer enquanto durar, mas acredito que, realmente, vai muito longe para ser desfeito, eu não acredito que, em vida, isso vai acontecer, por conta da seriedade com que a gente faz o trabalho junto a eles.
P/1 – E a Tetra Pak tá comemorando esse ano 50 anos de Brasil, e ela pensou, tá desenvolvendo esse projeto 50 Anos, de resgate da memória, da sua história, você acha que isso é importante para uma empresa aqui no Brasil?
R – Olha, eu acho, eu acho muito importante, entendeu? Porque quem não tem história, que sentido tem, você tá entendendo? Eu admiro tudo nela, entendeu? E, principalmente, você imagina... Não é você ficar, você imaginar você, falar assim: "Ah, eu tenho minha família, tal". Falar assim: "Não, eu não sei nem quem foi meu avô". Quer dizer, isso eu acho que faz parte de um... Faz, é componente, tem que ser. Eu acho isso aí uma idéia, não sei se dela, mas tantas outras empresas devem fazer, ou pessoas, eu acho isso aí fantástico. Fantástico. Parabenizá-la por conta disso. Além do que, valorizar as pessoas, saber da onde saiu e para onde está indo, ou aonde já chegou, entendeu? Eu acho isso aí, é, essa memória é indispensável para quem é, sabe, tem consistência e coerência no que faz, entendeu? Tem história para contar. Falar: "Puxa vida!" Lembra, eu lembro quando era moleque, eu andava descalço, não tinha chinelo para botar no pé, hoje já não. Isso é importante, entendeu? Você resgatar isso aí. Falar assim: "Aquela pessoa lá contribuiu nisso e naquilo. Essas embalagens da tetraédrica aqui, para chegar no que estamos hoje", entendeu? E que aquela embalagem, para botar em uma gôndola, não é nada interessante, tá certo? Não é nada, é, vamos dizer, otimizado. Hoje não. Então, isso aí, eu acho que só soma, só agrega, isso aí é fantástico. Eu acho que quem é grande tem que pensar dessa forma. Tem que deixar a história registrada.
P/1 – E você quer deixar algum recado para Tetra Pak.
R – Não, o que eu posso dizer à Tetra Pak é que eu só agradeço a ela, que, como sempre estive, continuarei sendo, à disposição e feliz por trabalhar com eles, entendeu? E o consultor dentro do que concerne a mim, à disposição deles a hora que eles quiserem. Eu sou muito grato e feliz da vida e agradeço a ela por tudo, por essa passagem que eu estive dentro dela, sinceramente.
P/1 – A gente agradece você vir dar seu depoimento, a Tetra Pak agradece, obrigado.
R – Bom, não sei se eu falei tudo que...
P/2 – Foi ótimo!
P/1 – Foi super bom!
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