Projeto Unimed Brasil 40 Anos
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Manoel Almeida Neto
Entrevistado por Maria e Lenir
São Paulo, 14 de março de 2007
Código: UMBR_HV018
Transcrito por Fabio Cutolo Silveira
Revisado por Luana Baldivia Gomes
P/1 – Bom, então nós vamos c...Continuar leitura
Projeto Unimed Brasil 40 Anos
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Manoel Almeida Neto
Entrevistado por Maria e Lenir
São Paulo, 14 de março de 2007
Código: UMBR_HV018
Transcrito por Fabio Cutolo Silveira
Revisado por Luana Baldivia Gomes
P/1 – Bom, então nós vamos começar. Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Vamos começar com o senhor falando o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Manoel Almeida Neto, nasci em Sertanópolis, no Estado do Paraná, em 22 de junho de 1945.
P/1 – Qual a sua atividade atual na Unimed?
R – Atualmente, eu ocupo o cargo de Vice-Presidente da Federação das Unimeds do Estado do Paraná.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Meu pai, já falecido, é Altério Augusto Almeida e minha mãe, ainda viva, com seus bons 92 anos, Deolinda Domingues Almeida.
P/1 – Qual era a atividade do seu pai e da sua mãe, se ela teve alguma atividade?
R – Minha mãe sempre trabalhou domesticamente, fazendo os serviços da casa. E meu pai era comerciante. E tinha uma casa, na época, chamada de Secos e Molhados, no interior.
P/1 – A cidade qual era?
R – Sertanópolis, no Estado do Paraná.
P/1 – O senhor tem irmãos?
R – Tenho dois irmãos. Maria Aparecida Almeida e João de Jesus Almeida.
P/1 – Vamos um pouquinho lá pra sua infância. O que o senhor lembra da casa onde morava, da cidade? Conte um pouquinho pra gente suas lembranças de infância.
R – Olha, na verdade eu tenho poucas lembranças da minha infância. Mas o que eu posso dizer é que eu sou um homem do interior, da zona rural. Nasci na zona rural, num sítio. E só fui para a cidade aos seis anos de idade, onde meu pai, então, adquiriu uma casa comercial, um armazém. E lá ficamos até eu completar 15 anos, quando minha família continuou naquela cidade e eu me mudei então pra capital. Porque naquela época os estudos oferecidos na cidade eram limitados ao ginásio e para que a gente fizesse o segundo grau, era necessário então que se procurasse uma cidade de maior porte. E eu me mudei sozinho, aos 15 anos, pra Curitiba, pra completar meus estudos.
P/1 – Qual era a origem da família do senhor?
R – Meu pai é português e minha mãe é paulista.
P/1 – E do sítio o senhor lembra alguma coisa? Da casa, como era? Do dia-a-dia de vocês lá no sítio?
R – Lembro muito pouco. Praticamente, como poder-se-ia dizer, nos dias atuais como o novo verbo criado pela tecnologia de informação, que, praticamente, minha infância foi toda “deletada”. Eu tenho uma lembrança muito pequena da época da minha vida na zona rural. E algumas vagas lembranças de quando mudei pra cidade e lá fiquei até os 15 anos. Também me lembro muito pouco.
P/1 – E essa época dos 15 anos que o senhor foi pra Curitiba, o senhor também não lembra? O que o senhor lembra?
R – Ai, tenho uma lembrança mais forte quando fui pra Curitiba. Porque, evidentemente, isso representou um fato marcante na minha vida. Porque, no começo da década de 1960, você sair de uma cidade pequena, minúscula, do interior e ir pra capital realmente representava um desafio muito grande, considerado por alguns até intransponível! Ainda mais, fazendo isso sozinho, sem qualquer familiar, e indo pra uma cidade de grande porte, como era Curitiba já naquela ocasião. Então, isso foi um fato mui marcante na minha vida. E aí, evidentemente que todas as lembranças ainda estão presentes. Como as dificuldades iniciais de moradia, alimentação, dificuldades no ensino. Porque, evidentemente, saindo de uma cidade pequena do interior, indo pra capital onde os colégios na época eram de elevado nível, as dificuldades apareceram em função da deficiência do ensino que havia no interior. E, além disso tudo, agravado pelas dificuldades financeiras, porque meus pais eram de posses muito limitadas. E para que eu pudesse me sustentar na capital estudando, eu tinha que trabalhar paralelamente aos estudos. Mas, de qualquer forma, isso representa uma lembrança muito boa. Porque tenho absoluta certeza que isto exerceu uma influência muito grande na complementação da minha personalidade, dos meus valores, da minha determinação. Na medida que eu fui vencendo todas essas dificuldades encontradas nesse início de vida na capital paranaense.
P/1 – O senhor lembra onde foi morar no Paraná? O lugar que o senhor foi morar?
R – Em Curitiba eu morava no Centro. Com alguns amigos também de Sertanópolis, que lá já estudavam antes que eu. Fomos morar num apartamento, na época e até hoje conhecido como uma kitinet. Ou seja, apartamento de sala, quarto, banheiro e uma pequena cozinha, no qual moravam cinco pessoas, incluindo eu mesmo. Então, morávamos em beliches, dormíamos em beliches, e fazíamos a nossa própria comida, fazíamos a limpeza do imóvel num sistema de rodízio, lavávamos a nossa roupa. Enfim, era um sacrifício muito grande que hoje, dificilmente, os nossos filhos se submetem a isso em função de uma nova realidade que se criou. Hoje os filhos já procuram ficar na casa dos pais até os 35, 30 anos usufruindo de todas as regalias, do hotel cinco estrelas, e de todas as facilidades que existem. Mas de qualquer forma, eu acredito que foi uma experiência muito boa! Isso agrega valor ao indivíduo. E eu morei nesse local durante três anos, período em que completei o colegial num colégio estadual. Fiz o vestibular, tive a felicidade de passar logo na primeira tentativa, e, também, numa faculdade federal, ou seja, que não exigia pagamento. E aí então abriu-se a possibilidade de eu morar na Casa do Estudante Universitário que, através de concurso, consegui a aprovação. E lá morei durante os seis anos da faculdade. Num local muito adequado, muito eficiente, com uma boa qualidade de moradia, de alimentação. Em que o governo também ajudava, subsidiava, e a gente pagava um valor praticamente simbólico para residir na Casa do Estudante. Com isto eu tive possibilidade então de complementar, de fazer todo curso universitário, sem que a minha família precisasse me ajudar financeiramente, porque realmente não havia essa possibilidade.
P/1 – Esse período que o senhor ficou nessa Casa do Estudante o senhor não precisou trabalhar? O senhor só estudava?
R – Trabalhei. Trabalhei durante os seis anos de faculdade. Logo no primeiro ano. Eu já trabalhava durante o colegial. Mas logo no primeiro ano da faculdade tomei conhecimento de um concurso público do Tribunal de Contas do Estado do Paraná. Fiz o concurso, passei. Para o cargo de auxiliar administrativo. E lá trabalhei como funcionário público durante os seis anos em que também fiz a faculdade de Medicina. Então, isto foi um alento, uma ajuda muito grande que eu tive durante o curso. Porque eu tinha um cargo no Estado, trabalhava no Estado, morava na Casa do Estudante. E tinha recursos, evidentemente, para me sustentar e até adquirir livros e equipamentos que eram necessários para o curso de Medicina.
P/2 – E dava pra conciliar o trabalho com a faculdade? Porque Medicina é meio difícil, né?
R – Na realidade, eu contava muito com o apoio dos meus amigos de serviço. Que, rotineiramente, davam cobertura naqueles horários em que, às vezes, eu tinha aulas durante o dia e que eu compensava depois à noite com trabalhos que eu executava na repartição. Mas, geralmente, durante o dia, quando eu tinha que me ausentar, tanto o meu chefe quanto os colegas de trabalho me davam uma ampla cobertura. O que me possibilitou, então, manter esse serviço durante todo o período da faculdade de Medicina.
P/1 – E o que influenciou o senhor pra escolher a Medicina?
R – Eu tenho comigo a convicção, de que ainda morando em Sertanópolis... Eu participei de uma formatura de um primo, que também nasceu no mesmo local, na mesma zona rural que eu. E a sua mãe o encaminhou para estudar. Inicialmente em São Paulo e depois em Curitiba, onde ele fez o curso de Medicina. E concluído o curso de Medicina, a mãe deu uma grande festa, porque naquela ocasião a família ter um médico era um júbilo! Era uma vitória. Era uma conquista muito grande. E eu fui à festa no sítio da mãe. Onde todos os familiares, amigos, foram convidados. E, aquilo me sensibilizou muito. E eu passei a raciocinar que continuar morando ali na região não me daria oportunidade nenhuma. E, a exemplo dele que saiu, foi pra São Paulo, e depois foi pra Curitiba, e retornou formado numa profissão que significava uma vitória, uma conquista muito grande, eu deveria seguir o mesmo caminho e isto, com certeza, foi o que me deu um alento muito grande. E aí, eu não tive muita dúvida, não titubeei, e rapidamente tomei uma decisão em sair de Sertanópolis e me mudei pra Curitiba.
P/1 – Nesses seus tempos de estudante o senhor tem alguma lembrança marcante, algum fato que o senhor gostaria de destacar?
R – Olha, na verdade, o ensino nos idos de 1950, guardam detalhes, particularidades, que não tem nada a ver com o ensino atual. Os nossos professores eram muito mais que professores. Eram amigos, pais, conselheiros. E a lembrança maior que a gente tem é de um ambiente saudável, onde mesmo criança a gente ia para a escola sozinho. Voltava sozinho. Independente do horário não havia risco. Os pais tinham toda a segurança em deixar que seus filhos fossem para escola, sem se preocupar que poderiam correr algum risco: de droga, ou de qualquer outra influência maléfica para o estudante. Então, era um clima muito confortável, muito seguro, muito agradável. E de maneira que as lembranças são ótimas! Muita diversão. Muito esporte. Gostava de jogar futebol com os meus amigos! E gostava de estudar, de fazer a tarefa. Então as lembranças são muito boas.
P/1 – Tinha alguma professora que o senhor se lembra?
R – Olha. Eu inclusive, recentemente, encontrei com algumas delas que ainda são vivas. E, a gente troca informações sobre a época, né? E isso é uma coisa magnífica! Quando a gente encontra uma professora da época do primário, da época do ginásio. E tenho ainda, vez por outra, contato com alguma professora minha daquela época. E todas elas eram muito boas. Mas eu me lembro que a... Os meus pais me colocaram uma vez pra estudar num colégio, é, de origem católica. Porque eles são muito católicos. Então, era um colégio onde todas as professoras eram freiras. E a gente tinha um apego muito grande, uma intimidade muito grande, uma familiaridade muito grande com as freiras. E depois de formado, médico, e alguns anos trabalhando no interior, eu encontrei com uma delas. E a gente reviveu muitos momentos da época, daquela escola das freiras, que foi uma coisa espetacular que aconteceu na minha vida!
P/1 – E a sua especialidade médica, como o senhor escolheu?
R – Bom. Eu, inicialmente, quando saí da faculdade, 1969, eu fui trabalhar no interior sem especialidade médica. Até, porque em 1969, a gente saía da faculdade realmente formado em Medicina. A gente sabia Medicina. A gente aprendia operar, a gente aprendia a clinicar, a gente aprendia a se relacionar com os nossos pacientes como seres humanos. Então todos os pacientes que a gente tratava, a gente tratava globalmente. Não apenas como um sistema específico que depois, a partir daí, evidentemente, tornou-se uma rotina onde cada médico entende um pouquinho do corpo humano. Não. Naquela época o médico tinha uma formação global. Então eu fui pro interior. Fiquei seis anos no interior. Numa cidade próxima da minha, chamada Ibiporã. E, depois de seis anos lá, aí sim eu tomei uma decisão de fazer especialidade. Talvez, essa tenha sido a segunda grande decisão que eu tomei na minha vida! Porque, depois de seis anos no interior eu já era, juntamente com mais um colega, proprietário de dois hospitais, de fazendas, chácaras. E aí eu percebi que a tendência era eu me tornar um empresário e gradativamente, ir abandonando a medicina, coisa que eu não queria fazer. E a opção que eu tinha era realmente fazer uma especialidade para me fixar numa cidade maior. E aí, retornei a Curitiba e decidi pela Anestesiologia. Porque eu considerava na época, e acho que ainda é a realidade dos dias atuais, a especialidade mais politizada, mais conscientizada a respeito da profissão médica. E, também, aquela que melhor reivindica os seus direitos. E isso já identificava na época um certo sangue político que corria nas minhas veias. Razão pela qual, também, optei pela Anestesiologia. Fiz especialidade. E aí fiquei na capital exercendo a Anestesiologia. Mas já comecei a partir daí a entrar, é, de maneira bem intensa na política associativa, na política médica. Então, exercendo a especialidade. Eu fui logo dois, três anos depois Presidente da Associação Paranaense de Anestesiologia. Ocupei vários cargos, fiz vários eventos no Paraná. Liderei diversos movimentos em relação a honorários médicos dos anestesiologistas no Paraná. Depois, fui eleito Presidente da Sociedade Brasileira de Anestesiologia. E, a partir daí, comecei a me direcionar para o sistema Unimed. E a partir do momento que eu entrei no sistema Unimed, em 1986, fiquei ainda trabalhando como anestesiologista até 1991. E, a partir daí, virei apenas um gestor, que é o que eu faço até os dias atuais.
P/1 – O senhor entrou então em 1990 e...
R – 1986.
P/1 – 1986.
R – No sistema Unimed.
P/1 – Qual foi o seu primeiro ingresso, foi como cooperado? Ou o senhor já teve alguma função?
R – Não. Eu entrei como cooperado, na verdade, na Unimed Curitiba, em 1976. Dez anos antes. E, em 1986, nós disputamos uma eleição na Unimed Curitiba. E aí, fomos vencedores e eu já assumi o cargo de Superintendente da Unimed Curitiba, juntamente com o Doutor Walter Marçola, que foi o presidente da Unimed nesse período de 1986.
P/1 – Quais as funções que o senhor ocupou na Unimed?
R – Eu fui Superintendente na Unimed Curitiba desde essa época. De 1986 até março de 1999. E, durante um período, que foi de 1990 até 1999, eu acumulava o cargo de Superintendente, também, da Federação das Unimeds do Paraná. Então, durante nove anos eu acumulei o cargo de superintendente da Unimed Curitiba e da Unimed do Estado do Paraná. E, a partir de 1999, eu fiquei apenas como Superintendente da Federação das Unimeds do Paraná. Até o ano de 2006, que foi o ano passado, quando houve uma nova eleição e aí, eu assumi então o cargo; fui eleito pra Vice-Presidente.
P/1 – Então conta um pouquinho da sua trajetória na Unimed, das suas conquistas, de realizações.
R – Bom, em 1986, a nossa visão era de que a Unimed Curitiba era uma instituição muito fraca, não-competitiva, e sem credibilidade. Só para se ter uma ideia, na época, a Unimed Curitiba tinha 24 mil usuários. Um número muito irrisório comparado com a população da Grande Curitiba daquela época, que já era superior a um milhão de habitantes. Então, a nossa visão era de que nós tínhamos um sistema na defesa do trabalho médico. Mas esse sistema, ele não estava oferecendo ao médico o retorno que ele imaginava ter, quando aderira ao sistema Unimed. Administração, era uma administração fraca. A estrutura organizacional era muito desatualizada. E nós, através da formação de uma equipe, de um grupo, começamos a estudar, dois anos antes da eleição um planejamento estratégico que pudesse ser aplicado à Unimed, a fim de que ela efetivamente se tornasse uma ferramenta de defesa do trabalho do médico da Grande Curitiba. E esse grupo, ele foi crescendo, foi tomando corpo. E aí, nós decidimos então, em 1986, disputar as eleições, é, para assumir a direção da cooperativa. Procuramos a administração que lá estava na tentativa de fazer uma composição. O que na realidade foi infrutífero, não conseguimos resultado algum. E aí, decidimos, efetivamente, partir para disputa eleitoral. Fizemos uma campanha muito difícil. A base de sacrifício, porque não tínhamos muita experiência, e nenhum dinheiro. Então tínhamos que arrecadar pequenas quantias desse grupo que se dispusera montar esse planejamento, pra que pudéssemos fazer panfletos, e distribuir alguma mensagem para os cooperados. Foi uma eleição disputadíssima. Vencemos a eleição. Assumimos no dia seguinte, a eleição foi à noite, nós assumimos no dia seguinte a Unimed. Sem muita experiência do processo administrativo e da gestão. E não recebemos apoio nenhum da administração anterior, que se sentiu decepcionada com o resultado das eleições, e simplesmente abandonou a cooperativa. Assumimos, fizemos uma reavaliação à curtíssimo prazo das condições administrativas. E partimos imediatamente pra uma ação enérgica com substituição de algumas pessoas e a implantação, quase que imediata, de um programa de informatização da Unimed. Que na época era praticamente zero. Nós não tínhamos nenhuma ferramenta que permitisse administração informatizada. E nos quatro anos iniciais, ou seja, de 1986 a 1990, nós evoluímos consideravelmente. Nós conseguimos retomar a credibilidade, recuperar a credibilidade da cooperativa, principalmente junto aos médicos. Os médicos começaram a se interessar pela cooperativa. Nós implantamos um sistema inicial de informatização. E no final da primeira gestão, em 1990, nós já estávamos com a cooperativa quase que totalmente informatizada nas suas operações administrativas e gerenciais. Pagávamos, já naquela época, os médicos através de um sistema à vista. Em que ele atendia o usuário e no dia seguinte ia na cooperativa, onde tinha um posto de atendimento bancário, e recebia os seus honorários na boca do caixa. Isto deu um avanço muito grande, aumentou muito a credibilidade da cooperativa. E, em quatro anos, nós conseguimos elevar o número de usuários de 24 mil para 50 mil usuários. Nós dobramos, em quatro anos. E aí em 1990, fomos reeleitos. E partimos então para uma nova fase da gestão, que era conquista de mercado. Esse era um segundo momento do nosso planejamento, era a conquista de mercado. E, na época, o grande nicho de mercado era o plano familiar. Em que todas as empresas do Brasil estavam explorando o plano familiar. Além do tradicional plano empresarial que a maioria das empresas vendia, inclusive a Unimed. Lançamos um plano familiar. E aí, realmente, ninguém mais segurou a Unimed! Começamos de 50, fomos pra 70, 90 e ultrapassamos rapidamente 100 mil usuários. E aí em 1994, no outro processo eleitoral, fomos reeleitos novamente. Porque lá não tinha nenhuma obstrução estatutária que impedisse a reeleição. Fomos novamente reeleitos. E aí, nós já tínhamos mais de 200 mil usuários. Continuamos nesse processo de conquista de mercado. Investimos muito, muito mesmo em informatização. Esse sempre foi o ponto principal destacado da nossa gestão. Aí, nesse período de 1990, 1994, nós adquirimos uma sede que acomodasse melhor a nossa cooperativa. Uma sede grande num local estratégico lá em Curitiba. E, a partir daí, a Unimed foi crescendo, crescendo, cada vez mais conquistando o mercado. Em 1998, nós já tínhamos 320 mil usuários. Nós já éramos, àquela época, a quarta maior Unimed do Brasil. Então eu acredito que nesses 13 anos que eu estive lá como Superintendente, a Unimed Curitiba teve um avanço que foi extraordinário! Foi excepcional! Talvez até extrapolando em muito aquilo que a gente imaginava atingir, em 1986 quando lá chegamos, né? Porque o avanço foi muito grande. E a Unimed hoje, ela domina, dentro do mercado de plano de saúde da Grande Curitiba, ela domina hoje 65% desse mercado. Sendo, praticamente, a empresa lembrada por todos quando se fala em plano de saúde. Já que o próprio “Top of Mind” vem comprovando isso, ano a ano.
P/1 – Quantas singulares têm no Estado?
R – O Estado do Paraná tem 22 singulares. Sendo 20 operadoras e duas prestadoras de serviço, que são duas Unimeds que estão na fronteira com Santa Catarina. Uma é chamada Rio-Mafra, que fica uma na cidade do lado de cá do rio, outra é do lado de lá, que é Rio Negro e Mafra, e outra que também tem a mesma característica, que é chamada Vale do Iguaçu, que fica entre União da Vitória e Porto da União. Essas duas são apenas prestadoras do serviço, não trabalham como operadoras. As outras 20, trabalham como operadoras, ou seja, elas vendem plano de saúde.
P/1 – Tem alguma peculiaridade na sua região, diferente de outras regiões, que o senhor pode destacar?
R – Olha, o nosso Estado do Paraná... Eu sempre digo que o Estado do Paraná é reconhecidamente por todos, é um Estado rico. Mas é um Estado de gente pobre. Porque a riqueza do nosso Estado, ela está alicerçada no agronegócio. No agronegócio de grãos, principalmente. Soja, milho, trigo. E o agronegócio, ele na realidade trouxe um avanço muito grande pra economia do Estado. Mas ele expulsou o homem do campo para a cidade. E esse homem que saiu do campo e foi para a cidade, ele foi para a cidade sem qualquer formação. Sem formação técnica, profissional, cultural. Uma grande parte na época em que o agronegócio entrou intensivamente mecanizando toda a produção... Uma grande parte dessas pessoas é analfabeta. E essas pessoas ficaram nas cidades, morando nas suas periferias e constituindo enormes bolsões de pobreza. De forma que a característica do nosso Estado é de uma economia forte, mas um poder aquisitivo da população não-compatível, não-condizente com este potencial econômico do Estado. Por isso o sistema Unimed tem dificuldades em crescer mais, nos dias atuais, em crescer rapidamente, porque o poder aquisitivo da população para adquirir o nosso produto é muito baixo. E o nosso mercado, ele hoje está muito mais limitado aos planos empresariais do que aos familiares. Porque os familiares que tinham condição e poder aquisitivo, nós, praticamente, assumimos todo esse nicho de mercado com as vendas do passado. Então hoje, a realidade, a característica é essa: É um Estado com uma economia forte, mas o poder aquisitivo da população é muito baixo. Você tem concentração, hiper-concentração de riqueza na maioria das cidades do interior do Paraná. E na capital onde tá concentrada a parte industrial, onde nós temos toda a parte pública que faz toda gestão pública do Estado. Aí nós temos já uma característica um pouco melhor, porque são os funcionários públicos, assalariados, são os trabalhadores das fábricas, das indústrias. Que acaba, evidentemente, gerando um potencial melhor. Razão pela qual a gente conseguiu aquele avanço e sucesso tão grande com as vendas da Unimed Curitiba no passado.
P/1 – A Agência Nacional de Saúde, ANS, como atuou lá no Estado com vocês? Vocês tiveram algumas dificuldades?
R – Olha, a ANS, na verdade, lá no Paraná nós nunca tivemos problemas. A nossa relação, ela é amistosa. Nós temos absoluta certeza que o sistema no Estado, ele é muito organizado. Talvez um dos mais organizados do Brasil. E a ANS, no início das suas atividades, a partir de 1998, né? Depois da Lei 9.656, a própria ANS várias vezes esteve na Federação do Paraná trocando ideias com nossos colaboradores, com nossos técnicos. E até com a própria diretoria no sentido de avaliar uma série de atividades que a gente já vinha desenvolvendo no Estado. E nós criamos lá, um departamento que foi denominado de Consultoria de Gestão Preventiva, que estuda todas as leis relacionadas a plano de saúde, todas as normas derivadas da Agência Nacional de Saúde, todas as portarias, todas as resoluções que saem no dia-a-dia. E essa Consultoria, ela presta serviço a essas 22 singulares diuturnamente. Nós temos divulgação, orientação, auditorias feitas pela Consultoria de Gestão Preventiva. De forma que o nosso sistema, ele está diariamente atualizado com a legislação e tomando medidas preventivas para evitar distorções ou irregularidades na gestão da Unimed. De forma que, com estas determinações que nós durante os anos fomos implantando na Federação do Paraná, nós nunca tivemos problemas com a Agência Nacional de Saúde. Tivemos sempre um relacionamento, saudável...
P/1 – Eu não digo problemas, porque algumas dificuldades que eles impuseram, algumas normas, que algumas tiveram que se adequar a ANS.
R – Olha, a partir do momento que a Lei 9.656 foi criada, promulgada, entrou em vigor, e a Agência Nacional de Saúde foi criada, e veio para ficar, todas as operadoras de plano de saúde, evidentemente, tiveram que fazer as suas adaptações. E nós, do sistema Unimed, seguimos esse mesmo caminho. Talvez até de forma um pouco mais eficiente, nos adaptamos rapidamente. Mas nós estamos num negócio, estamos num mercado, nós estamos numa economia. E se nós fazemos parte dessa economia, desse negócio, nós temos que nos preparar, nos adequar, sabendo que a Agência veio para ficar. Ela veio para fiscalizar, normatizar, disciplinar um mercado que era totalmente desregulado. Um mercado que não tinha nenhuma norma, onde cada um fazia o que queria. E na realidade o prejuízo sobrava sempre para o cliente, para o cidadão, para o consumidor. Eu acredito que a normatização através da lei e a criação de uma agência reguladora, ela foi importante. E resta a todos nós da área de medicina suplementar, não só nos adaptarmos, mas criarmos um relacionamento saudável com a Agência. No sentido de ir contemplando normas e resoluções que ao mesmo tempo protejam o consumidor, mas que não prejudiquem a operadora. Ou seja, temos que evoluir através de um denominador comum. Que nos possibilite administrar o nosso negócio sem prejuízo para o consumidor.
P/1 – Bom. O senhor então ficou na Unimed Curitiba, depois o senhor foi pra Federação?
R – Não. Durante um período...
P/1 – O senhor ficou com os dois.
R – Fiquei com os dois cargos de Superintendente. Que foi de 1990 até 1999. A partir daí continuei só na Federação.
P/1 – Nesse tempo de Federação, quais são os principais desafios que o senhor enfrentou?
R – A Federação do Paraná, eu diria que teve dois grandes momentos. Um antes do Doutor Walter Marçola, que assumiu em 1990. E o outro depois do Doutor Walter Marçola. Até o Doutor Walter Marçola, nós tivemos um período de pioneirismo, de altruísmo, onde o sistema foi sendo criado ao longo dos anos, pelo ex-Presidente Doutor Manoel Stenghel Cavalcanti. Que foi o primeiro presidente da Federação. Com a entrada do Doutor Marçola em 1990, a Federação procurou a profissionalização, procurou a interiorização, procurou subsidiar as suas federadas, as suas singulares com recursos de treinamento, de educação. A fim de que todas melhorassem a profissionalização na área de gestão. E nós fizemos isso durante os seis anos que o Doutor Walter Marçola ficou como presidente. Até o seu falecimento. E essas ações, elas foram intensificadas. A partir da gestão do Doutor Palmquist, que era o Vice-Presidente e assumiu no lugar do Doutor Marçola com o seu falecimento. E este projeto, ele vem se perpetuando dentro da Federação. Inclusive na gestão atual do Doutor Orestes Pullin, com a tônica de profissionalizar não só os administradores, os diretores, mas toda a corporação de colaboradores que trabalha no sistema Unimed. Procurando manter um programa de educação continuada com treinamentos à distância, ou mesmo fisicamente presentes. No sentido de melhorar a qualidade de atendimento do nosso usuário, no sentido de melhorar a gestão econômico-financeira, no sentido de melhorar a gestão de pessoas de cada Unimed. E esse tem sido o projeto que vem se tornando perene dentro da Federação. E a Federação está dando certo, porque desde 1990 ela segue um caminho sequencial onde os projetos não são desativados. Os projetos sempre são hipertrofiados. São aumentados para oferecer essa estrutura para as nossas singulares. Por isso que eu acho que essa característica é que nos permite dizer que o sistema Unimed no Paraná é um sistema muito organizado, muito controlado. E que o sistema apresenta bons resultados, tanto pras as cooperativas quanto para os cooperados.
P/1 – O senhor tem algum projeto especial lá que gostaria de destacar? Que o senhor acha que deu os resultados? O senhor poderia...
R – Olha, eu acredito que o projeto mais efetivo que nós temos no Paraná é um projeto denominado Sistema de Análise e Acompanhamento das Cooperativas, SAAC, que é um projeto em que a Federação, ela tem um controle de todos os dados: econômicos, financeiros, administrativos, políticos das suas federadas. E com isso, ela consegue mês a mês estabelecer um “score”. Evidentemente que todo esse projeto é feito de um tratamento sigiloso, né? Mas ela consegue ter uma visão da situação de todas as 22 singulares que pertencem ao seu quadro associativo. E com isto, também é possível à Federação auxiliar, socorrer, subsidiar esta ou aquela cooperativa que, eventualmente, em algum momento esteja passando por alguma dificuldade. Evitando com isto que possam ocorrer surpresas. Como nós tivemos aqui no Brasil, um fato muito explorado pelos nossos concorrentes, que foi a liquidação da Unimed São Paulo. No Paraná nós temos um controle, um espelho, uma informação gerencial, mês a mês de como andam todas as nossas cooperativas. E aí são mais de 40 indicadores que são analisados pela nossa área técnica, que nos permite montar um “score”. E através desse “score” a gente sabe como anda a situação das nossas cooperativas. Eu, particularmente, estou cuidando da parte de comunicação social. Estou dando muita ênfase no programa de responsabilidade social. Então, já completamos um ano, estamos trabalhando no sentido de conseguir, até o final dessa gestão em 2010, que todas as nossas singulares obtenham o selo de responsabilidade social. Estamos investindo em diversas áreas, não só de meio ambiente, mas educação, segurança. Lá especificamente, na Federação, estamos patrocinando, permanentemente, com assistência médica todos os atletas paraolímpicos do Estado do Paraná. Que fazem parte da Associação Paranaense dos Deficientes Físicos. E, agora em 2007, nós estamos dando uma ênfase especial aos programas de responsabilidade social de todas as nossas Unimeds. Procurando sensibilizar os diretores no sentido de investirem cada vez mais em programas de responsabilidade social.
P/1 – O senhor tem alguns colegas com quem trabalha durante todos esses anos aí, que o senhor gostaria de destacar, de falar sobre alguns deles? O Doutor Walter Marçola?
R – Olha. A gente quando trabalha numa corporação como a Unimed, a gente aprende muito. E, quando os colegas por qualquer razão, vão saindo, as diferenças que ficam é se você tem saudade, ou não tem saudade deles. Se você tem saudade é porque você, além de tê-los tido como colegas de trabalho, você estabeleceu com eles um forte laço de amizade. Evidentemente que o Marçola foi uma pessoa que foi um amigo, foi um irmão. Uma pessoa com quem eu vivi diuturnamente. Viajando, indo para reuniões nacionais, estaduais. Mas outros colegas que participaram conosco, a gente conseguiu criar laços de amizade que trazem boas lembranças. Como, por exemplo, o ex-Vice-Presidente da Unimed do Estado do Paraná, Doutor Nelson Couto Rezende, de Maringá, um grande amigo, colega de especialidade que deixou uma lembrança muito boa. Não só pra mim, como pra todos os colegas! Da federação. Doutor Marcelo, que foi substituído pelo Doutor Faustino, atual Diretor de Projetos. Doutor Marcelo de Cascavel fez um trabalho brilhante na Federação. Enfim, eu acredito que isto é uma herança que a gente leva para o futuro, para depois da história da Unimed. Ou seja, trabalhar com pessoas que ao saírem do teu convívio deixaram saudade porque, mais do que colegas de trabalho, foram verdadeiros amigos.
P/1 – E o que o senhor considera como a sua principal realização na Unimed?
R – Olha, a minha principal realização na Unimed foi ter conseguido ao longo desses anos implantar de maneira muito efetiva a verdadeira filosofia cooperativista aos médicos cooperados da Grande Curitiba. E eu tenho convicção que os médicos da Grande Curitiba têm saudade da minha gestão. Por quê? Porque o honorário médico era valorizado. O trabalho médico era valorizado. Mas, sobretudo, eu dedicava um grande valor à pessoa do médico. Todos eram tratados como amigos, como sócios verdadeiros da nossa empresa. E eu acho que essa foi a grande realização. Foram esses benefícios que eu consegui produzir para os nossos cooperados durante os 13 anos que eu fiquei lá como Superintendente. E que certamente, ainda devem permanecer vivos na memória desses cooperados que, lamentavelmente, hoje não tem uma situação muito confortável em relação ao trabalho médico. Face à uma série de dificuldades que foram criadas na relação entre a Unimed e os seus cooperados.
P/1 – Como o senhor vê a relação da Unimed com os colaboradores?
R – A relação da Unimed com os colaboradores. Olha. Na Federação, eu diria que é uma relação amiga. Nós temos uma relação muito boa. Nós, diretores, conhecemos os nossos colaboradores, a todos, e os tratamos pelo nome. Nos relacionamos socialmente com diversas promoções que nós fazemos durante o ano. E estamos sempre procurando inovar no sentido de quebrar aquela tradicional relação árida que existe entre o diretor, o chefe e o colaborador. Nós temos procurado tornar essa relação mais amistosa, mais íntima, sempre respeitável, porém mais íntima. E que possa trazer um resultado mais favorável pra empresa e até pro próprio colaborador. Prova disso é que nós criamos, no passado, isso já tem uns quatro anos, um programa de gratificação variável na Federação, no qual os colaboradores da Federação participam efetivamente, estabelecendo metas corporativas e departamentais. Cujas metas, elas são ao final de cada semestre remuneradas pela Federação. Ou seja, o colaborador, ele sente que os seus resultados têm uma contrapartida e um reconhecimento da direção. Inclusive do ponto de vista financeiro, porque ele incorpora isso como um ganho ao atingir aquelas metas que os seus departamentos estabelecem. Então, é uma relação muito boa, muito amistosa. Agradável, sobretudo!
P/1 – Desse tempo todo o senhor tem algum fato pitoresco que aconteceu durante esses anos todos de Unimed que o senhor poderia nos contar? Alguma coisa diferente do habitual.
R – Olha, eu diria pra vocês que a Unimed é uma escola. Os fatos mais pitorescos que a gente pode destacar são aqueles de colegas, que pretendem ingressar no sistema com interesses alheios ao cooperativismo. Com interesses, muitas vezes, ligados às suas questões pessoais, às suas vaidades. E que, pelo menos lá no Paraná, nós temos observado que essas pessoas não proliferam no sistema. Essas pessoas entram num processo de inércia e não conseguem sair do lugar. Por quê? Porque a Unimed, ela tem um formato político muito característico, muito peculiar, que é a relação direta do cooperado com a cooperativa. E se o dirigente não investir firmemente nesta relação, dificilmente ele consegue prosperar no seu projeto político. Eu diria que alguns fatos no Estado do Paraná foram muito pitorescos de pessoas que tiveram um vôo meteórico. Entraram e saíram pela mesma porta num curtíssimo espaço de tempo porque não souberam entender como funciona o processo político dentro do sistema Unimed.
P/1 – Quais os fatos mais marcantes na sua carreira dentro da Unimed?
R – Bom, o fato mais... os fatos mais marcantes dentro da Unimed... Eu diria em primeiro lugar, evidente, foi a primeira eleição em 1986. Onde nós enfrentamos uma verdadeira guerra de Golias e Davi. Uma guerra que nós de forma muito tímida, enfrentávamos o poder. Enfrentávamos a situação, enfrentávamos a máquina administrativa. E ainda assim, conseguimos num trabalho de formiguinha, onde fomos incorporando colegas, conscientizando toda a massa de cooperados através de reuniões em hospitais, em clínicas. Fomos conscientizando todos os cooperados da necessidade de transformarmos a Unimed numa grande empresa. Eu acho que esse foi um grande momento. Um segundo momento foi, também, quando a gente conseguiu incorporar a esse projeto o projeto da Federação. Ganhando também a eleição na Federação. E aí partir pra um projeto estadual e consolidar todo esse projeto que hoje está em andamento. A compra da sede na rua Itupava, em 1989, foi uma ação ousada da nossa diretoria, porque nós estávamos acanhadamente numa casa de 200 metros quadrados. E já não tínhamos mais condição nenhuma de acomodar os nossos colaboradores nem a estrutura administrativa. Então, partimos para essa sede, adquirimos essa sede, fizemos uma breve reforma. E, em 1990, inauguramos essa sede. Até como um fato pitoresco, acredito que a nível nacional. Porque no dia da inauguração, nós fizemos um ato formal de inauguração, com uma festa, porque realmente era uma conquista. Convidamos prefeito, governador. E na época o Governador do Estado era o atual Senador Álvaro Dias, e ele, em função da amizade que tinha conosco, compareceu na inauguração e levou a tiracolo um colega seu que estava em visita ao Paraná. Também Governador do Estado de São Paulo, o Governador Orestes Quércia. Então, eu acredito que foi a única inauguração de Unimed do Brasil que contou com dois governadores [risos]. Em função dessa coincidência, havida lá naquele dia. E acredito também que essa evolução histórica da informatização da nossa cooperativa marcou muito na história da Unimed. Porque quando nós entramos na Unimed, todos os processos, incluindo cadastro dos usuários, emissão de carteirinha, era 100% manual. Então, essa evolução, onde tudo se tornou informatizado, realmente foi um diferencial que marcou muito na minha trajetória dentro da Unimed.
P/1 – O que o senhor destaca na sua carreira de Medicina, como um fato relevante, marcante?
R – Eu diria que na medicina um fato muito relevante pra mim foi ter assumido a presidência da Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Me deu a oportunidade de conhecer o Brasil inteiro, ao longo de um ano. E conhecer a realidade médica do Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste, Sul, através de viagens e eventos que eu participei. E esta atividade que eu desenvolvi no Rio de Janeiro, como Presidente da Sociedade Brasileira me amadureceu muito, politicamente. Aprendi muito, o relacionamento político, profissional, associativo. E me permitiu, com certeza, a partir daí, trilhar dentro do sistema Unimed ao longo desses 21 anos que eu estou completando agora. Esse ano de 2007.
P/1 – Vamos falar um pouquinho da sua família?
R – Vamos.
P/1 – Qual o seu estado civil?
R – Eu atualmente sou separado.
P/1 – O senhor tem filhos?
R – Tenho três filhos. Um dentista, uma empresária que está cursando Arquitetura, e uma filha que mora comigo, que também está concluindo o curso de Psicologia.
P/1 – O senhor tem netos também?
R – Tenho dois netos: Bernardo e Bianca. Que, eu diria, hoje fazem a minha diferença, levam os meus trocados [risos].
P/1 – E o que o senhor gosta mais de fazer nas suas horas de lazer?
R – Eu gosto de estar com os meus filhos e meus netos.
[Final de CD]
R – Eu não dispenso tempo algum que eu tenha livre podendo estar com eles que, realmente, não faça isso. E, mais recentemente, nos últimos três anos, também com a minha companheira, a Ângela. Que tem me acompanhado aí, nesta atividade profissional, associativa, social, que é uma pessoa maravilhosa.
P/1 – Como você conheceu a Ângela?
R – A Ângela, conheci numa situação em que há um paradigma que diz que: “Amor de litoral não sobe a serra”. Mas contrariando esse paradigma nós nos conhecemos numa temporada lá no Paraná. O amor subiu a serra e já estamos aí, quase completando o quarto ano de relacionamento, numa paixão profunda. E um momento brilhante da minha vida que é conviver com essa moça.
P/1 – Nós vamos partir agora para uma avaliação. E vamos lá. Como o senhor vê, atualmente, a atuação da Unimed no Brasil?
R – Bom. Eu sou um apaixonado defensor do cooperativismo de trabalho médico. Porque entendo que o cooperativismo de trabalho médico foi o marco histórico da luta de toda classe médica contra o mercantilismo da medicina no Brasil. De maneira que é uma ferramenta ímpar no mundo, né, cooperativismo de trabalho médico, de um papel fundamental, relevante. E percebo que cada vez mais a Unimed se torna na ferramenta indispensável para o trabalho de todos médicos do Brasil. E a Unimed vem desenvolvendo um trabalho que é fenomenal! Não só nesse atualmente desenvolvido pelo Celso Barros na reunificação do sistema. Mas, sobretudo, na manutenção dessa rede nacional através desta capilaridade de Unimeds que existe no Brasil. Que dá à Unimed um diferencial mercadológico imbatível, que é você poder oferecer ao teu cliente uma rede presente em mais de cinco mil municípios do Brasil.
P/2 – O senhor falou em cooperativismo. No cooperativismo, educação é primordial. Como o senhor vê essa parte educacional na Unimed?
R – Olha, a educação cooperativista, a educação cooperativista é a célula “mater” para que você possa manter a filosofia do cooperativismo, e para que você possa ter o teu cooperado como co-gestor. Como co-participante do sistema. Porque se o cooperado não tiver a informação e a educação cooperativista, dificilmente ele se integrará de forma plena no exercício do cooperativismo. Então, a educação cooperativista, ela tem que ser contínua, ela tem que ser permanente, e os investimentos têm que ser muito intensos. Para que haja uma formação adequada, para quem vai aderir ao cooperativismo, assim como para àqueles que já aderiram e continuam dentro dele.
P/1 – Na sua região vocês dão grande importância para esse lado da educação?
R – Nós damos uma importância muito grande. Inclusive este ano nós estamos implantando os núcleos, dos núcleos educacionais, os núcleos de conhecimento, para que em cada singular possamos ter os formadores educacionais para propagarem, para serem os multiplicadores das informações educacionais, necessárias à boa formação do médico cooperado.
P/1 – Em sua opinião, como a sociedade vê a Unimed Brasil?
R – A sociedade brasileira respeita a Unimed. E não é incomum nós ouvirmos isso de empresários, de contratantes que têm uma visão do sistema Unimed como um sistema sério, competente e com credibilidade. Isto é, que nos possibilita hoje a liderança de mercado nacional. Isto é, que tem que alertar a todos os nossos dirigentes de que investir na credibilidade, investir na responsabilidade social, investir no relacionamento social, comunitário, é um dos grandes princípios que nós temos para a manutenção da nossa liderança nacional. Nós já atingimos, há vários anos a liderança nacional. Nós temos agora é que trabalhar intensamente para preservar essa liderança, que é fundamental. Mas a sociedade como um todo, ela trata a Unimed com muita seriedade, com muita respeitabilidade. E tem no sistema Unimed uma credibilidade muito grande.
P/1 – Qual o principal diferencial da Unimed em relação aos outros planos de saúde?
R – Eu acho que o principal diferencial da Unimed, na visão do beneficiário que usa o sistema, é que ela é uma empresa que não tem um fim lucrativo. Que ela pertence aos médicos e, portanto, quando ele procura o sistema, ele beneficiário está sendo atendido pelo próprio dono da cooperativa. Agora, dentro do mercado, olhando para o ponto de vista mercadológico, o grande diferencial que o sistema Unimed tem é a sua rede de intercâmbio. É o usuário ter absoluta certeza, estar convicto que em Londrina, em São Paulo, em Belém, em Manaus, onde ele estiver, independente da origem do seu contrato, ele tem o atendimento garantido. Eu acho que isto é um diferencial ímpar! Que nenhuma outra empresa tem, e não terá! A não ser pelo sistema de ressarcimento, que não é o nosso caso. Pelo sistema de atendimento, não há e não haverá nenhuma empresa em condições de estabelecer uma rede de intercâmbio nacional, como sistema Unimed.
P/1 – Qual a sua visão de futuro da Unimed? Como o senhor imagina a Unimed daqui a uns dez anos?
R – A Unimed tem que continuar, e talvez numa velocidade maior do que aquela implementada até hoje. Tem que continuar na sua profissionalização. Não só na profissionalização dos dirigentes! Na profissionalização dos técnicos, dos executivos, dos colaboradores. Porque hoje as empresas vencem pelo seu conhecimento, não é pelo seu potencial econômico e financeiro, que era fundamental antigamente. Hoje, é fundamental que a empresa tenha conhecimento para ser líder de mercado, para vencer. E para isso nós temos que manter o programa de educação continuada. Investir intensamente, principalmente nos nossos cooperados. Para que a nossa relação com o nosso sócio seja a mais harmoniosa possível.
P/1 – Qual o fato mais marcante que presenciou ao longo desses anos na Unimed?
R – O fato mais marcante que eu vi no sistema nacional Unimed, foi a dissidência do sistema iniciado pelo Norte Nordeste. Quando o sistema rachou em dois. Racha esse insuficiente para quebrar a principal característica do sistema Unimed: a manutenção do atendimento aos seus beneficiários pelo processo de intercâmbio. Isso nunca foi quebrado dentro do sistema nacional Unimed. Então, nesse momento, quando houve essa separação política, o sistema se conscientizou da sua força, do seu potencial, e preservou o direito do cidadão, mantendo o intercâmbio nacional. E acredito que agora, nessa gestão do Celso Barros, a gente pode dizer que acontece o segundo grande fato, grande momento do sistema nacional Unimed, que é exatamente a reintegração de toda a parte política do sistema com a unificação do sistema nacional Unimed. Deixando para trás todas as desavenças, as diferenças que provocaram aquele momento de dissidência política que aconteceu no passado.
P/1 – Quais foram os maiores aprendizados de vida que obteve trabalhando na Unimed?
R – Eu diria que as maiores afinidades de vida que eu tive trabalhando na Unimed... Poderia resumir numa só dizendo que: A maior afinidade de vida que eu tive, foi aquela que é a mais importante para todo cidadão. A amizade. As amizades que eu formei. Os relacionamentos. Porque você tendo amigos, você é uma pessoa realizada. Você tendo amigos, você sabe que você não passa dificuldades. Você sabe que você está sempre amparado. E você sabe que a vitória está sempre ao seu lado. Por isso que essas amizades que eu formei, e que quero continuar formando, representam pra mim o grande sucesso que eu obtive no sistema Unimed.
P/1 – E o que é ser Unimed?
R – Ser Unimed, eu diria que é ser íntegro, justo, democrático, e ter responsabilidade social. Responsabilidade social não só voltada para o meio ambiente. Responsabilidade social voltada para a educação, para a saúde, para segurança. E o nosso país vai melhorar muito, quando o cidadão brasileiro se conscientizar que responsabilidade social não é obrigação só dos governantes, ou dos governos. É responsabilidade de todos nós, 180 milhões de brasileiros. Que, se cada um fizer uma pequena parte para os projetos de responsabilidade social, o nosso país, rapidamente, se transformará num outro país, diferente desse que nós estamos vivendo nos dias atuais.
P/1 – O que o senhor acha da Unimed comemorar os seus 40 anos de vida por meio de um projeto de memória?
R – Eu quero louvar essa atitude da atual administração da unimed do Brasil. E também parabenizar pela feliz escolha que teve em relação ao Museu, que está viabilizando esse projeto através dos seus profissionais. E dizer o seguinte: Preservar a história é fundamental. Ela pode não dizer para nós o que vai se passar no futuro, mas ela poderá nos dar grandes ensinamentos, em ralação ao que houve no passado. Para que tudo sirva de subsídio do que temos que fazer daqui pra frente. Eu acho uma iniciativa louvável e cumprimento a administração da Unimed em relação a este projeto. E me sinto honrado, dignificado, de ter sido convidado para dar esse depoimento.
P/1 – O que o senhor achou de ter participado dessa entrevista?
R – Honrado e dignificado!
P/1 – Então, em nome da Unimed Brasil e do Museu da Pessoa, agradecemos a sua entrevista.
R – Muito obrigado.Recolher