P/1 – Boa tarde, doutor João.
R – Boa tarde.
P/1 – Vamos começar com o senhor nos falando: seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é João Batista Caetano. Eu nasci em Araguari, no dia 24 de abril de 1952.
P/1 – Araguari?
R – Minas Gerais. Fica no Triângulo M...Continuar leitura
P/1 – Boa tarde, doutor João.
R – Boa tarde.
P/1 – Vamos começar com o senhor nos falando: seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é João Batista Caetano. Eu nasci em Araguari, no dia 24 de abril de 1952.
P/1 – Araguari?
R – Minas Gerais. Fica no Triângulo Mineiro.
P/1 – Qual a sua atividade ou função atual na Unimed?
R – Eu sou Diretor de Integração Cooperativista da Unimed do Brasil.
P/1 – Certo. Qual é o nome dos seus pais?
R – Meu pai é Nicolino Caetano Guimarães e minha mãe Odília Bernardes Caetano.
P/1 – E qual é, ou era a atividade profissional dele?
R – Meu pai é fazendeiro. Era fazendeiro, falecido. E minha mãe é do lar, da casa.
P/1 – E a origem da sua família, qual é?
R – É de lá mesmo. De Araguari, ali no Triângulo.
P/1 – Ninguém veio de fora, ninguém migrou?
R – Não, ninguém veio de fora! Foi de lá mesmo.
P/1 – O senhor tem irmãos?
R – Nós somos cinco em casa. São quatro homens e uma mulher. Lá em casa é interessante: meu irmão mais velho é Reinaldo, outro é Ricardo, Rogério, Regiane e João, que sou eu.
P/1 – O único que não é com R.
R – O único que não é com R.
P/1 – E, na sua infância, o senhor lembra da casa que o senhor morava? Conta um pouquinho para a gente como era.
R – Lembro. Lembro de muita coisa. Eu gosto muito inclusive de colecionar, da história. Eu tenho feito alguns trabalhos, recuperado algumas fotografias antigas, escaneando e feito um trabalho que conta um pouquinho da história. Gosto muito disso! Eu, sou de uma região característica agrícola, Araguari é uma cidade agrícola. Hoje, lá a economia principal é o café. E também a agropecuária, tem um frigorífico grande, a parte de sucos também é muito importante na cidade. A Maguary, é uma empresa famosa, é lá da minha cidade. E eu fui criado na minha infância, ali na fazenda. Depois, a minha diversão na época, ao invés de ir para a praia, a gente ia sempre para a fazenda. Quando eu fui, para o ginásio, fazer o ginásio, eu fui seminarista. Eu passei, quatro anos morando, vivendo, num seminário, interno lá em Araguari mesmo.
P/1 – Mas quando o senhor era menor, como era o dia-a-dia da casa, a brincadeira das crianças?
R – A minha mãe era muito rigorosa, era brava. Ela fazia muita questão de que a gente estudasse, tinha ali muito rigor. E, eu lembro muito bem, que o colégio, a escola da minha infância, era uma escola particular. E a diretora também era extremamente brava. Da minha infância, eu lembro do que a gente fazia, naquele tempo, o que a gente gostava era de ir para fazenda. Estilingue, depois “espingardinha” de pressão. Tinha turma de amigos, eu joguei muito tempo basquete, eu sou muito alto, a gente tinha time de basquete. Foi assim – eu acho – que teve muito rigor, em termos de escola. Logo que eu saí do seminário, em seguida já fui fazer o colegial, já fui para Brasília, fazer o colegial lá. Então, tive uma infância lá meio puxada. Quando a gente queria dinheiro, tinha que fazer o dinheiro. Na época, fazer dinheiro para a gente era ir pegar mamão na fazenda, pegar limão, para vender.
Nós íamos lá, enchíamos a cesta, quando vínhamos para a cidade, vendíamos. Para poder ir ao cinema, ir à matinê naquela época, comprar gibi.
P/1 – E como era a cidade de Araguari naquele tempo?
R – Araguari, é uma cidade pequena. Hoje ela tem 115, 120 mil habitantes. Ela é uma cidade pacata do interior mesmo, pequena. Mas tinha muita festinha, tinha muita coisa. Nós tivemos uma cidade ideal, eu imagino hoje, em termos de liberdade para a pessoa passar uma infância, eu acho. É uma cidade muito interessante.
P/1 – E tem alguma lembrança marcante dessa época da infância?
R – Ah, não estou recordando, de nada especial, não.
P/1 – Então, o senhor já falou um pouco dos estudos, falou que entrou na escola particular, depois foi pro seminário.
R – É.
P/1 – Vamos lembrar um pouco como era naquela época. Tem algum professor que lhe marcou?
R – Eu queria contar um fato. Você me pediu um fato interessante. Eu vou contar um fato.
P/1 – Lembrou.
R – Eu lembro que na época pouca gente tinha telefone. Na época que, eu era menino. Eu tenho dois irmãos mais velhos que eu, que estudavam na mesma escola. E como eu disse: a Dona Tonica era uma “cobra”. Era uma senhora muito brava e minha mãe também muito brava. Mas eles não tinham contato, porque o contato era difícil. A escola era longe da minha casa e não existia o telefone. Eu lembro o dia que meu pai comprou o telefone, que instalou o telefone em casa. Eu cheguei na escola radiante. “Ah! Agora lá em casa tem telefone!”. “Qual é o número?”. “É o número dois nove, um nove.”, uma coisa assim, deu o número do telefone. E, em seguida, ela pegou o telefone, ligou: “Ah! Porque o Reinaldo, porque o Ricardo, porque não sei o quê.”. “Porque seus filhos.” e já contou tudo para a minha mãe. E eu levei uma “tunda” dos meus irmãos mais velhos, entendeu? Uma coisa que ficou marcante, quer dizer, realmente, a gente deve ficar caladinho com algumas coisas. Isso é um fato marcante. Já que você queria alguma coisa.
P/1 – Então, mas lembrando um pouquinho lá da escola. Tem algum professor que lhe marcou? Qual eram as matérias que o senhor gostava?
R – Dessa época de primário eu lembro muito bem do rigor da escola. Tinha a professora, a Dona Zizinha, que era uma professora muito boa. Até hoje a gente tem um relacionamento, sempre que eu a vejo, tenho um carinho especial por ela. Era uma escola muito boa, em termos de estudo. Mas o que mais me marcava, era o rigor de coisa. Nós tínhamos que nos apresentarmos na porta, na hora certa, tínhamos que passar por revista, se esquecesse uma borracha, morasse onde morasse teria que ir buscar. E tudo era bronca, era castigo, era uma coisa. Eu acho que a minha infância foi marcada muito por esse lado. E foi um pouquinho da causa, talvez, de eu ter ido para o seminário. Porque quando eu fui fazer matrícula na escola, já no ginásio, eu olhei, eu vi um pessoal jogando bola. Era um campo de futebol pronto. E, e pessoas, e crianças, meninos, da minha idade de roupa de futebol, de calção de futebol, com chuteira, com meião, com camisa. E eu nunca tinha visto isso. Eu tinha visto em campo de futebol, mas meninos, e eles correndo. Entrei numa sala, tinha uns meninos com jogos, parecia um Lego, negócio de montar, fazendo aqueles trabalhos. Eu achei aquele pessoal muito interessante e avançado o que eles tinham ali. Falei: “O que são esses meninos que estão aí?”. “Ah, são seminaristas.”. “Como é essa história de seminarista?”. Um pouquinho foi para fugir também, eu acho, daquele rigor, o pessoal quer ser padre, então eu quero também.
P/1 – E como foi ser seminarista?
R – Eu achei que foi um senhor aprendizado. Acho que aprendi muito. Porque era um seminário de padres holandeses. E eles, desde aquela época, tinham ali uma cultura holandesa que levaram para lá. E em relação aos meus colegas que ficaram fora, acho que tive um aprendizado muito grande. A gente tinha, por exemplo, lá, acesso à música. Primeiro a gente era obrigado a fazer leitura, tinha sala de leitura, então começamos a ler. Livros da época, de histórias, os romances. Daqueles autores que são hoje ainda importantes na literatura. E que nenhum amigo meu, nunca abriu um livro, naquela época, nós já éramos forçados a isso. A gente mexia com música, eles traziam aquelas músicas clássicas. Então a gente teve acesso a isso quando os meus colegas não tinham. Nós tínhamos aula de artesanato, de música, acho que isso me enriqueceu muito, entendeu? Tanto é que eu saí dali, fui prestar prova, quando eu terminei e era para ter continuado, mas eu resolvi que não queria mais mexer com aquilo, ser padre. Eu soube que tinha uma escola muito boa em Brasília, mas era muito difícil de entrar. E que tinha cursinho para entrar nessa, nessa escola. Minha mãe achou que eu deveria prestar prova lá. A prova era muito de cultura, de cultura geral, eu tinha um conhecimento que o pessoal que, fez cursinho não tinha. Eu passei muito bem na prova e tive a oportunidade de estudar nessa boa escola em Brasília. Às vezes, são fatos que fazem com que a gente caminhe para um rumo que é muito interessante para gente.
Alguns fatos, a minha mãe ter conhecido alguém que tinha um filho que estudava nessa escola, é uma coisa que foi muito bom para mim. Ter estudado nessa escola em Brasília, então, era uma escola excepcional. Os meus colegas lá eram o Fernando Collor, o Luiz Estevão, o Pedro Collor, todas eles são advindos dessa escola. Mas teve muita gente importante que hoje são dirigentes do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, outros grandes políticos que passaram lá pelo Ciem [Centro Integrado de Ensino Médio]. Pertencia à universidade e era o dia inteiro na escola, a gente entrava oito horas da manhã, saía às seis da tarde.
P/1 – O senhor mudou para Brasília sozinho?
R – Eu mudei para Brasília, tinha um tio que morava lá.. Eu fui então morar com esse tio meu. Logo eu prestei o vestibular, não fiz cursinho, na época todo mundo fazia cursinho, para entrar na UNB era muito difícil a Medicina. Eu resolvi que não precisava, quem fazia o Ciem tinha uma formação tão boa que geralmente 100% das pessoas de lá passavam no vestibular direto. Por isso que era tão difícil para entrar, era tão selecionado. E antes de terminar o terceiro ano, eu havia passado no vestibular. Eu passei no vestibular fui correr atrás de um certificado. Fui prestar prova de “madureza”, que tinha na época, para pegar o certificado e ganhar seis meses na entrada na universidade. Quer dizer, passei no vestibular antes de terminar o terceiro ano. Achei que isso foi uma coisa, essa oportunidade da escola.
P/1 – Como foi a sua escolha pela carreira de medicina? Alguém influenciou?
R – Não, acho que a vida inteira tive vontade de ser médico. Naquele tempo, médico era muito conceituado. Eu acho que eu tenho um jeito no meu relacionamento com as pessoas, a vida inteira foi assim. E achava que era bem próprio, de estar querendo ajudar a pessoa, se não pôde ser via padre, via Igreja, que fosse então como médico, acho que foi assim.
P/1 – Conta um pouco do tempo da faculdade.
R – Eu fiz uma faculdade, era muito corrido, a minha vida sempre foi muito atarefada. Porque, logo que eu entrei, eu achei que morar em Brasília estava muito difícil, porque em Brasília tudo é muito longe. Isso era 1969, quando eu fui para lá. Depois eu passei no vestibular em 1971. E, naquela época tudo era muito difícil e muito longe. E sem carro em Brasília, sem dinheiro, a gente tinha dinheiro suficiente para morar na casa de tia. Depois eu fui morar em república, mas não tinha dinheiro para sair, para ir nos barzinhos, tudo era muito longe, era no Lago, muito difícil. Então eu achei que tinha que trabalhar, e teve um concurso pro Banco Central. Eu falei assim: “Oh, quem passou no vestibular de medicina...”. Um concurso. Na época tinham dez mil pessoas prestando pro Banco Central, era só quem tivesse cursando ou já cursado o curso superior, eu já estava fazendo medicina. “Vou fazer a prova.”. Fiz a prova, passei. E arrumamos um jeito de trabalhar a noite no banco. Eu fazia medicina durante o dia e à noite eu ia trabalhar no Banco Central. Como era difícil trabalhar no Banco Central à noite, não existia a vaga à noite, eu tinha que criar uma vaga à noite. É interessante que eu soube que tinha um diretor do Banco; é complicado! Mas tinha um diretor do banco que era da minha cidade. Eu estive lá, conversei com ele. E na sala de espera, eu conheci a filha dele, aí comecei a namorar a filha dele.
Depois era o meu sogro, arrumou para mim uma vaga para eu trabalhar a noite no banco. O Banco Central é um banco que não trabalha com compensação, não tem nada disso, eu fui trabalhar na garagem do banco. A garagem ficava no setor de indústria. Então o pessoal ia para lá, deixavam os carros, levavam os carros lá, os motoristas ficavam até tarde na rua. Quando liberava o carro do diretor, eu guardava o carro na garagem. A gente tinha uma pessoa que ia conferir. Eu assinava uma ficha e pronto. Eu tive com isso aí uma grande oportunidade de horário para estudar. Aí eu tinha dinheiro para comprar os livros, levava para lá e estudava. Como a gente tinha um relacionamento bom com os motoristas, com o tempo, começamos a fazer a consulta do motorista. Fazia semiologia, fazia tudo. Aprendi tudo lá com a minha turma de motoristas do Banco Central.
P/1 – E a formatura como foi? Lembra?
R – Lembro bem da formatura porque foi interessante. Brasília era uma cidade, nessa época, muito complicada por conta da ditadura, era regime militar. Formei em 1977, em julho, porque eu entrei seis meses antes. Na época, sob o regime militar, tudo que acontecia em Brasília, a universidade era cercada. Ninguém entrava, ninguém saía. Quando eu fui formar, a universidade estava fechada. Então não podia ter formatura, mas nós estávamos trabalhando fora da universidade. Quer dizer, ninguém que era aluno da universidade pôde concluir o ano, porque passou dois meses com a universidade fechada, não existia a possibilidade de ter aula. Se não existiu aula, não completou o currículo e eles tiveram que formar mais para a frente. Mas nós não, porque nós estudávamos medicina e o hospital da universidade não é dentro do campus. Então nós continuamos trabalhando e completamos nosso curso. A reitoria tinha que dar para nós o diploma. No dia, os meus pais não puderam ir, a colação de grau foi lá dentro da universidade. Numa sala de aula, colocaram os alunos lá, o vice-reitor chegou, entregou o certificado, fizemos o juramento. Lógico que a noite nós fizemos um baile, mas nós não tivemos aquela colação de grau característica, então foi uma formatura diferente. Que também fez parte da História, porque se eu tivesse formado como todo mundo não teria, essa história para contar. E, quando eu fui para a universidade, eu lembro, que parei, eles tiveram que me parar, me revistaram e o carro todinho para eu passar, na hora da colação.
P/1 – O senhor mantém contato com os ex-alunos? Ex-colegas?
R – Mantenho! Uma característica que eu tenho é de manter as amizades. Eu prezo muito, amizade. E, isso fez com que eu tenha um contato constante. Vou muito à Brasília, estou sempre com eles lá. E eles vão muito para a minha casa também. Eu
recebo sempre eles, e sempre nós, alguma oportunidade nós estamos juntos. Uma turma grande! A gente se mantém juntos.
P/1 – E depois de formado tem a parte da residência. Na verdade seu primeiro emprego foi no Banco Central? É isso?
R – Meu primeiro emprego foi no Banco Central, em 1973 eu entrei no Banco Central.
P/1 – Mas, depois o senhor começou a trabalhar em medicina?
R – Depois eu parei para fazer a residência. Eu fiz em, em hematologia, no hospital de Base. Eu fiz o internato no Hospital do L 2 [Hospital Universitário de Brasília] que era um hospital muito voltado à obstetrícia e à pediatria, que era o forte dele. E quando eu formei, fui para o hospital de Base para um serviço de hematologia que tinha lá.
P/1 – A sua especialidade é hematologia?
R – É hematologia. Eu passei mais dois anos antes de ir para casa. Eu tinha saído do banco, para poder me dedicar, esse final já estava tranqüilo. Depois voltei para Araguari.
P/1 – O senhor voltou para Araguari e qual foi o seu primeiro, foi consultório ou o senhor foi trabalhar em hospital?
R – Eu montei um banco de sangue. Porque quando eu fiz residência, tinha junto comigo um colega que fazia hematologia pediátrica. Nós dois, fomos então para a cidade, eu fui fazer hematologia de adulto, ele fez pediatria e hematologia pediátrica. E montamos juntos um serviço de hemoterapia na cidade também. Hemoterapia, transfusões de sangue. E laboratório também, eu tenho laboratório lá em Araguari.
P/1 – E a Unimed? Como foi que apareceu a Unimed? O que o motivou a entrar na Unimed, se tornar um cooperado?
R – Um grupo de médicos de Uberlândia, foi lá, marcaram uma reunião com a gente. Foram mostrar como seria a Unimed, quais seriam os benefícios da gente na cooperativa, da gente criar ali em Araguari a cooperativa, a importância disso. E nós, um grupo de 22 médicos, nos reunimos depois e achamos que deveríamos criar a Unimed. Então nós fundamos a Unimed. Eu fui o superintendente na primeira diretoria. Um colega, Sebastião Carolina era o presidente. Isso foi em outubro de 1984. Dois anos depois, a gestão era de dois anos, eu assumi a presidência. Fiquei duas gestões. Depois saí um pouco, passei dois anos fora, me buscaram de novo. E foi assim na minha vida. A Unimed era muito pequenininha, era uma salinha pequena.
P/1 – Aí vocês foram tocando a Unimed. Ela foi crescendo.
R – Ela foi crescendo, foi melhorando e passou a ser um local importante para o médico, como local de trabalho. Hoje, praticamente todos os médicos, quase todos os médicos da cidade são cooperados da Unimed. A Unimed tornou-se muito importante na cidade.
P/1 – E a região lá, vocês ajudaram a levar a Unimed, a implantar em outras regiões próximas?
R – Ah, sim! Há pouco tempo agora, já como diretor da Unimed do Brasil. Eu fui convidado para ir à inauguração da sede nova da Unimed em Itumbiara, que é no estado de Goiás, que é vizinho nosso. E, lá no dia, alguém levantou e falou: “Olha, eu queria dizer que quem esteve aqui na fundação, quem contribuiu, quem veio, quem fez esse trabalho de convencimento aqui foi o Doutor que está aqui, o João.”. Eu tinha até esquecido disso, mas eu tinha ido lá, depois lembrei estive lá umas quatro vezes,
reunindo com um grupo até que fosse criada a Unimed.
P/1 – E esse trabalho era difícil? Era fácil? Os médicos aceitavam?
R – Era difícil porque conversar com médico já é difícil. Médico não tem muito tempo, sabe? Ele não perde muito tempo e ele tem uma visão, é imediatista. Ele quer saber como é que é isso, o que vai ganhar, como é que vai ser, como é essa história. Realmente precisa ter um convencimento bom e precisa de várias visitas para que isso ocorra.
P/1 – O senhor ocupou várias vezes a diretoria?
R – Eu fui três vezes presidente. Eu fui primeiro superintendente, depois eu fui duas gestões, de dois anos.
Passei quatro anos. Saí, passei dois anos e fui convidado para ser diretor da Federação de Minas. Foi um passo para mim grande, porque eu pensei muito antes de aceitar. Fui convidado, mas eu demorei para aceitar porque Araguari fica a 600 quilômetros de Belo Horizonte. E naquela época não tinha esses voos. Então teria que ir toda semana de ônibus. Teria que deixar também minhas atividades, eu tenho três laboratórios em Araguari, além de um consultório. Eu tinha que abandonar um pouco essas atividades. E, para mim, foi uma coisa que tive que pensar muito e houve na época muita insistência para que eu aceitasse. Me chamaram para ser diretor de informática da Federação de Minas. Eu achei que eu não estava preparado para isso. Porque eu, lá do interior, eu achava que o pessoal que era diretor da Federação, eram pessoas muito maiores. A gente sempre tem essa impressão, no interior, na humildade do interior. E depois de muita insistência, “Falei, vamos tentar, vamos começar”. E a gente começou lá como diretor de informática. Passamos três anos, aí fomos convidados para ser presidente da Federação. Na época também eu não aceitei de imediato. Achava que precisava ter mais preparo, para falar, eu não tenho muita habilidade. Não sou de fazer discursos e achava sempre que o presidente tem essa função, de pregar. Mas a gente aceitou também no final, não teve outra maneira. E a situação da Federação na época era muito difícil! A situação financeira muito difícil! E quando a gente tomou pé do tamanho que era o rombo, aí a gente percebeu. “Então foi por isso que colocaram alguém.”. “Vai estourar?”. “Vai estourar na mão do cara lá do interior e pronto.”.
Mas nós tivemos muita ajuda de Minas Gerais, são 62 Unimeds. Nós passamos, praticamente por todas as Unimeds. Pregando ali que a gente precisava se unir. E nós tivemos uma coisa que foi vital para gente, a
credibilidade. O pessoal confiou que poderíamos estar juntos e que daríamos conta de resolver o problema. E realmente, três anos depois a situação estava ótima. Nós tivemos um reeleição lá e, realmente deixamos a casa toda arrumadinha, toda certinha, sem problemas. Passamos lá duas gestões, então, como presidente da Federação de Minas.
P/1 – O senhor falou que são 62 singulares.
R – 62 singulares.
P/1 – E quais são as mais importantes, lá de Minas?
R – As maiores de Minas, Belo Horizonte - que é uma das maiores do Brasil -, Juiz de Fora, Uberlândia, Uberaba, Governador Valadares. São várias Unimeds grandes, desse porte. Poço de Caldas é uma Unimed importante, Varginha.
P/1 – Como foi compatibilizar a sua carreira da medicina com os cargos?
R – O que eu consegui preservar foi o consultório. Na minha cidade, só tem eu na minha especialidade. Então eu não consegui me desligar, foi muito bom isso. Eu sempre achei que eu tinha que ficar com um pé na medicina. Dirigente de Unimed não pode deixar de ser médico, porque quando você é médico, você continua sabendo as contas de lado, sabendo das queixas de lado. O que está acontecendo lá no médico cooperado. Que é quem realmente pratica o ato cooperativo. Eu acho que foi importante isso, eu mantive: toda segunda-feira tenho consultório. Por algum tempo, depois eu fui convidado para ser diretor da Unimed do Brasil. Então nós viemos para cá, enquanto isso eu mantive ainda, por um tempo, até completar minha gestão lá. Como diretor da Unimed do Brasil e presidente da Federação de Minas, eu tinha que me virar mesmo. Eu tinha que sair de Araguari que fica a 600 quilômetros de São Paulo. Passar aqui um período e ir para Belo Horizonte, que fica a 600 quilômetros daqui, praticamente. E depois mais 600 quilômetros para chegar em casa e fazer isso toda a semana. Além do que, como presidente da Federação você tem que ir a todo evento. Têm comemorações, inaugurações pelo interior de Minas. E que você tem que viajar de carro, eu passei muitos anos viajando por essas estradas lá de Minas Gerais, visitando as Unimeds do interior.
P/1 – E nessa região de Minas existe alguma peculiaridade, que a torne diferente das outras regiões?
R – Na minha região? Do Triângulo, é isso?
P/1 – O senhor pode falar tanto da sua região, como o senhor também foi da Federação pode falar no global, o senhor é quem sabe.
R – Minas Gerais é um país. Nós temos o Nordeste, temos o Sul, temos a região Central que seria o Sudeste aqui do Brasil. A região Nordeste é a região mais pobre, tem a região da seca, tem a região menos industrializada. A região sul que é onde fica o sul de Minas que faz divisa aqui com São Paulo é uma região mais evoluída. O Centro, onde fica Belo Horizonte tem muita mineração, tem muita indústria. Belo Horizonte, Contagem, Betim, são Unimeds importantes; são regiões importantes, muito industrializadas. No sul de Minas, por exemplo, nós temos Itajubá, Pouso Alegre, tem muita indústria, muita coisa, nessa região. E a região do Triângulo, Uberlândia, que é um polo de desenvolvimento também. Então, Minas Gerais tem de tudo, desde Unimeds muito pequenas, até Unimeds muito grandes. Uma das maiores do Brasil, ou a maior do Brasil e também Unimeds das menores do país.
P/1 – A educação, doutor João, é vista como um dos princípios básicos do cooperativismo. Como o senhor analisa isso, avalia dentro da sua região e no sistema como um todo?
R – Pois é, a gente sempre pregou muito pela educação. Educação cooperativista e depois do ponto de vista empresarial mesmo. Eu vivi uma época de Unimed, onde nós trabalhávamos muito tranqüilos e irresponsavelmente em relação ao caixa da cooperativa, na parte financeira. Por exemplo, naquela época nós tínhamos o contrato com a Maguary. E, suponhamos que nós recebêssemos por mês 500 mil reais de fatura, faturássemos para a Maguary 500 mil reais. O custo do tratamento daquele mês, da própria Maguary, dos funcionários ficasse em 600 mil reais. A gente arrecadava 500 e tinha que pagar 600. A gente arrecadava 500 no início do mês, aplicava o dinheiro e o dinheiro rendia, quase dobrava, rendia 60, 70% ao mês, não é? Naquela época de inflação. Você pegava 500, pagava 600 e ainda sobrava 300. Ninguém se preocupava com fazer muita conta, dava, tudo dava. Tudo que você recebia, você atrasava um pouquinho o pagamento, você tinha dinheiro à vontade para tudo. Essa foi uma fase onde nós não tivemos aquela evolução, aquela preocupação com as finanças da empresa, da nossa cooperativa. Quando, então houve aqueles planos para acabar com a inflação, a gente viu que a coisa estava errada. Nós tivemos que aprender, todo mundo e nós vimos que tínhamos que trabalhar como uma empresa, senão quebrava. E que nós tínhamos que ter pessoal muito competente trabalhando junto e valorizar e treinar o nosso pessoal. Na parte de treinamento, nós tivemos na Federação, como presidente, uma preocupação muito grande. Como nós temos agora aqui, da gente ter ferramentas e ter sobretudo treinamento, as pessoas precisam ser treinadas. As cooperativas precisam investir em treinamento, certo? É a única possibilidade de ela sobreviver. O mundo é competitivo e hoje nós temos a Agência Nacional de Saúde Suplementar [ANS], a nossa agência reguladora que exerce uma influência muito grande, cobrando resultado e você tem que ter reservas técnicas etc. Hoje você realmente tem que ser competente. E você só consegue isso com treinamento, de dirigentes e do corpo de colaboradores das cooperativas.
P/1 – Falando da ANS que o senhor citou agora. Quais foram as principais mudanças, depois da criação da ANS?
R –Eu acho, mudanças radicais. No início nós brigamos muito, achamos aquilo o fim do mundo. Hoje, por exemplo, eu acho que a ANS foi muito importante para as operadoras de plano de saúde. Por quê? Elas tiveram que aprender a ser profissionais, estão aí num mundo competitivo, essa exigência de ter reservas ela é correta. A pessoa tem que ter reserva, você tem que ter compromisso com a população. Lógico que tiveram muitas falhas e ainda hoje tem muita falha na ANS, muita coisa absurda que é colocada, que precisava ser mais bem debatida e que eles não debatem. Porque hoje a gente tem condição de debater e acrescentar. Nós fazemos até parte do Conselho de Saúde da Região Sul de Londrina [Consul]. A Unimed do Brasil está lá fazendo parte através do Presidente Celso Barros. Mas o que é debatido, o que é discutido nesse conselho não é acatado depois pela ANS. Tem muita coisa que nós poderíamos contribuir. De modo geral, numa avaliação, acho que a ANS foi boa porque ela normatizou, ela moralizou o serviço de operadoras de plano de saúde. Foi bom para nós que somos, em termos de documentação e de ética e de responsabilidade em relação ao cliente. Acho que a Unimed, como nós somos cooperativa, temos uma prestação de contas corretinha. Nós não trabalhamos com caixa dois, não temos problema desse tipo. E nós temos uma capilaridade grande, nós temos o dirigente como dono. Nós temos os médicos como donos das cooperativas de desenvolvimento, acho que isso nos beneficiou. Porque aquelas operadoras, outras que entravam lá, vendiam plano a qualquer preço, hoje elas não podem fazer mais isso. Essa moralização foi boa para gente também. Porque ela moralizou o mercado e tirou do mercado aquelas operadoras que não tinham condição de sobrevivência, ou que não tinha responsabilidade nenhuma. Podia vender a qualquer preço, vendia, depois fechava as portas e ia embora. Hoje em dia não é mais assim. Então acho que essa regulamentação foi positiva.
P/1 – O cargo que o senhor ocupa na Unimed do Brasil, o senhor pode contar um pouquinho para gente, o que é?
R – Eu sou Diretor de Integração Cooperativista. No meu setor aqui, da minha responsabilidade, são duas áreas básicas que seriam o intercâmbio e a tecnologia, a TI a tecnologia da informação, a informática. Que são duas áreas espinhosas, eu considero. Informática é complicado, tudo em informática tem custo e o dirigente não gosta muito da informática, não gosta muito de gastar com computador com software e não tem essa visão ainda. Então, ela é espinhosa. E a parte de intercâmbio também é complicado, porque é relacionamento entre cooperativas. E nós pegamos ainda aquela época onde o sistema estava partido, Aliança e Unimed do Brasil. Nós tínhamos o manual de intercâmbio da Unimed do Brasil, mas existia o manual de intercâmbio da Aliança, entendeu? E a gente tinha que fazer isso funcionar, normatizar esse setor. Isso basicamente foi a missão, da maneira que nós pegamos aqui. Mas nós entramos numa área nova, achamos que precisávamos ter uma auditoria mais eficiente. E para essa auditoria funcionar com eficiência na Singular, ela precisava ser normatizada. E para ser normatizada nós precisávamos que pessoas que são competentes em auditoria no Brasil inteiro viessem para cá. E nós convidamos esse pessoal para vir para cá e criamos aqui uma coisa que chama: Colégio Nacional de Auditores Médicos. Esse colégio cumpre uma função importantíssima que é normatizar o serviço de auditoria médica. E junto com eles vieram as câmaras técnicas, de oncologia, e várias outras câmaras técnicas. E nós entramos depois numa área nova que a gestão de custos assistenciais. Nós tínhamos que tirar isso do discurso, nós temos que transformar isso numa realidade. E para transformar em realidade, nós debatemos isso através de um encontro que também iniciamos na nossa gestão que chama Conai [Comitê Nacional de Integração], que vai ter um, em maio desse ano. Nós temos a convenção que é o nosso evento maior, que é um evento voltado ao mercado. E nós temos esse Conai, que é um evento voltado para dentro dos nossos problemas, das nossas demandas, da demanda daquilo que nós precisamos no nosso dia a dia. Dali, então surgiu várias demandas em relação à gestão de custo. E nós criamos um grupo chamado Gema: Grupo de Estudo de um Novo Modelo Assistencial, para ser implementado nas Singulares, mas que precisariam de ferramenta. Então, nós unimos: o pessoal de área médica, o pessoal de TI e criamos um modelo que nós vamos implementar, através do próximo Conai. Vamos implantar, já estamos com algumas Unimeds piloto para fazer a gestão de custo com um novo modelo que envolve a medicina preventiva, prevenção de saúde, acompanhamento de doentes crônicos. Um outro tipo de modelo que algumas Unimeds grandes já praticam e as pequenas, às vezes, não tem ferramentas, que é o que nós vamos disponibilizar agora para o sistema inteiro. Esse também foi um grande setor que desenvolveu muito. Mas assumimos também umas outras responsabilidades novas que a gente foi criando como a tabela de Mat/Med – Tabela Materiais e Medicamentos. Como nós vamos comunicar, vamos falar em informática. Informática trabalha com códigos, o computador trabalha com códigos, quando você vai falar: “Usei no tal, eu fiz um procedimento.”. Você transforma isso num código. A Associação Médica Brasileira [AMB], tem uma tabela. Essa tabela diz que: apendicite, fez apendicite, tem um código para apendicite. Fez um exame tem um código, tal.
P/2 – É o CID [Classificação Internacional de Doenças]?
R – Não o CID é o da doença. Esse é o do procedimento, são os códigos do procedimento. O CID é uma tabela de doenças, não é isso? Tudo tem que ter essa tabela que é para você transformar aquilo numa linguagem comum. Quando você usa, por exemplo, uma dipirona. Você não tinha como transformar a dipirona numa linguagem de computador. Pode até dar uma codificação para ele na sua Singular, que vai ser diferente da outra, que vai ser diferente da outra. Quando nós temos que nos comunicar no Brasil através dessa integração, nós precisamos ter uma codificação. Aí veio um grande desafio, que nós estamos ainda passando por ele. Que é pegar esses 28 mil itens de medicamentos que tem no Brasil e transformar tudo numa tabela codificada, com toda segurança que merece ter e que precisa ter. Por exemplo, toda medicação para estar na tabela tem que ter a sua correspondência, autorização da Anvisa, que é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nós temos que ter uma tabela, que é o que está dando muita dor de cabeça, e muito trabalho braçal. E é um desafio que nós estamos agora levando em frente também, certo? E outras coisas que nós criamos como: compras em conjunto, negociação em conjunto. Por exemplo, nós compramos marcapasso, para ser colocado nas pessoas que têm necessidade nos hospitais, outro material ou outro medicamento, que é usado no Brasil inteiro. Cada um comprando individualmente, nós perdemos o nosso potencial em termos de ganho de escala. Nós não temos, ganho de escala. Então nós passamos a trazer o pessoal para cá, criar um comitê nacional de negociação. Chamamos aqui as empresas que vendem tal produto. Eles colocam quais seriam os produtos prioritários para começar essa negociação. Criamos também comitês regionais por cada estado. E com isso, nós passamos a ter uma negociação que venha a beneficiar a compra de medicamento para reduzir o nosso custo médico. Tudo para que o médico possa ter uma remuneração melhor. Então são funções que não existiam na Unimed do Brasil e que nós implementamos aqui, nessa nossa diretoria. Não preciso dizer que a diretoria está precisando se transformar numas três agora. Com essa mudança de estatuto que houve, precisa dividir ela um pouco, porque ficou muito grande.
P/2 – A parte prática do Intercâmbio entre as Unimeds, como é que funciona?
R – Nós temos duas coisas no intercâmbio, uma é você ter a norma para ser cumprida. O que diz é o seguinte: “Olha, o paciente saiu dum lugar, foi atendido.”. “Como é que é cobrado, como que é feito.” Esse relacionamento entre as Unimeds, como uma Unimed se relaciona com outra. Como os clientes podem transitar dentro dessa capilaridade das 368 Unimeds que nós temos no país. São 13 milhões de clientes que não estão fixos, que estão em todas as Unimeds, circulando. Normatizar isso é um desafio, nós temos comitês. Nós temos o Comitê Nacional de Intercâmbio, que reúne, que vão fazendo. Outro problema são os desentendimentos que existem no cumprimento ao manual. Então uma Unimed cobrou a outra, achou que passou o tempo, não sei o quê. Então vem para cá, [para a Unimed do Brasil]: “Elas estão dizendo isso.”. “Eu estou dizendo isso, e aí o que vocês dizem?”. Aqui nós convidamos três auditores, geralmente auditores do estado que é variável. Pessoas que não estejam envolvidas naquela situação e eles dão os pareceres. E a gente dá um parecer em cima desse parecer final mostrando para ela: “O fulano tem razão, você tem que realmente fazer isso, tem que pagar essa conta, tá certo?” Então esse é um trabalho diário. E outra coisa na área de TI, que a gente também está com um grande desafio que é fazer com que esse intercâmbio seja eletrônico. Hoje a pessoa, se ela sai de uma Unimed A e vai para a Unimed B, na hora que ela chega na Unimed B, se ela tem carteirinha da Unimed, as duas têm carteira, têm identificação eletrônica, mas elas não se comunicam. Então é necessário que esse intercâmbio seja eletrônico. Nós temos que acabar com a transação de papel. Esse está sendo, dentro da área de TI, da tecnologia da informação um dos grandes desafios do sistema, que é fazer isso tudo funcionar. Há quantos anos você pode ir na Europa, no Japão, pega o “cartãozinho” seu, passa, ele vai procurar no banco de dados, sai lá o seu nome, já vai ser lançado na sua conta, cobrar tudo e tal. E nós, no sistema Unimed, estamos atrasados em relação a isso. As Unimeds já têm o seu cartão magnético, já funciona. Mas nós temos que fazer que isso integre tudo. Para isso também é necessário padrão e algumas ferramentas básicas. Existem vários tipos de sistemas de gestão, cada Unimed usa um modelo de sistema de gestão, de fábrica diferente. Eu sempre comparo: você vai comprar um DVD, você pode comprar um da Gradiente, da Philco, da Phillips, da Sony, você pode escolher, tem 200 marcas que fabricam o aparelho de DVD, mas se você pegar um DVD seu para colocar lá, ele vai tocar. Por quê? Porque tem a espessura, a velocidade é padronizada. Existem vários fabricantes, mas existe uma parte que é padronizada. Isso aqui, a espessura é essa, a velocidade tem que ser essa, tem que fazer essa leitura. Então, essa padronização é função nossa. E para isso precisa ter algumas ferramentas também. E nós criamos essas ferramentas. Temos já a padronização e precisamos agora, na etapa que é o que nós estamos iniciando agora, já nesse Conai, que é implantar isso, fazer realmente acontecer. Ou seja, a pessoa com a carteirinha da Unimed, em qualquer lugar do Brasil que estiver, ela vai ser autorizada, não através de ligar, esperar resultado, vai passar a carteirinha e saber se está ou não autorizado aquele procedimento, imediatamente.
P/1 – Vai ficar ótimo.
R – É, vai ficar ótimo.
P/2 – Isso vai ser implantado?
R – Já, isso é agora. Nós estamos iniciando essa implantação. Já estamos com várias Singulares funcionando assim. Só que nós temos que fazer isso pro Brasil inteiro, isso é a nossa etapa.
P/1 – Em sua opinião quais os momentos históricos mais marcantes que a empresa viveu ao longo desses anos?
R – Você está dizendo qual período?
P/1 – Do seu período, que o senhor está na Unimed.
R – Ah, o meu período foi longo!
P/1 – Do que o senhor conhece.
R – Eu acho assim: a mudança de um período inflacionário do país, para o não inflacionário, provocou uma transformação muito grande na maneira de gestão, das nossas cooperativas. Foi um momento importante. O surgimento da ANS também foi um outro grande momento. A briga que houve com a separação do Sistema Unimed em Unimed do Brasil e Aliança foi outro, com repercussão muito grande na imagem do Sistema Unimed, momento que também marcou. E, as modificações, que foram promovidas pela Unimed do Brasil. Com a profissionalização que houve nas Unimeds do país todo. O fortalecimento da nossa Fundação Unimed que cuida da educação cooperativista, que cuida da profissionalização. Também eu acho que foram pontos importantes que têm que ser considerados.
P/1 – E os principais desafios que o senhor enfrentou?
R – Ah. Foram, foram muitos!
P/1 – Alguns.
R – O maior desafio da minha vida, inclusive de vida pessoal, de tudo, foi quando a gente assumiu a presidência da Federação de Minas. Esse foi o maior desafio. Eu sempre digo o seguinte: tiveram algumas fases. Ah, tem uma outra coisa que a gente faz também, que é envolvimento com política. Eu aprendi que no cooperativismo, a gente tinha duas coisas que não poderiam serem envolvidas com a nossa doutrina cooperativista. Que eram: você não pode envolver religião e você não pode envolver a política. Eu aprendi assim e cresci assim. Quando eu assumi a presidência da Federação de Minas, eu já tive que quebrar um desses paradigmas, entendeu? Que era o da religião. Eu comecei a trabalhar com santos de A a Z. Eu passei de A a Z nos santos, de Santo Antônio a São Zereu, entendeu? Pedi para tudo quanto é santo para ter força, para ajudar. E deu certo! Eu já estou pregando agora que religião tem que ser envolvida sim! E na política, nós passamos também por um momento importante. Logo que nós entramos tinha saído na nova Constituição e nas mudanças que aconteceram em Brasília, na legislação, no PIS [Programa de Integração Social] e no Cofins [Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social] as cooperativas ficaram isentas de pagar. E nós, as cooperativas médicas, a Unimed não, a lei não abrangeu o cooperativismo médico. Era um absurdo! “Mas por que não aconteceu isso?”, “Ah, não sei, isso é lá em Brasília.”, “Então, vamos para Brasília.”. Logo que nós tomamos posse, já fomos para Brasília, com nosso advogado Zé Cláudio. Mas nós não tínhamos ninguém. Nós vamos onde lá em Brasília? Não tem ninguém! Aí, conversando em Belo Horizonte, tem uns parentes do Aécio Neves, que era então Presidente da Câmara, que estavam então na direção da Unimed de São João del Rei. Nós falamos com eles e eles marcaram uma audiência com o Aécio e foram com a gente para Brasília. Quando nós chegamos lá, na antessala do gabinete do Aécio Neves, conversando com os deputados: “O que vocês vieram fazer?”. Eu falei: “Nós somos da Unimed.”, “Nós viemos aqui para ver a história do PIS/Cofins.”. “O que a gente podia fazer?”, “E por que nós ficamos fora de ser contemplados como todas as outras cooperativas?”. Ele falou: “Ah, pois é, eu participei disso.”. “Eu era da Frencoop [Frente Parlamentar de Cooperativismo] e participei disso.”, “E tinham quase 200 deputados, trabalhando nesse projeto. E realmente a Unimed ficou de fora.”. Falei: “Por quê?”. “Porque eram mais ou menos uns 200 e não teve um deputado que pedisse para a Unimed..” “Porque se tivesse um que falasse: põe a Unimed teria entrado, mas não teve nenhum.”. “E sabe por que, que não tem nenhum?”. “Porque vocês têm medo de política, vocês acham não sei o quê, vocês têm nojo de política, vocês...”. E eu pensei assim: “Nós temos que quebrar mais outro paradigma.” E nós então, partimos para difundir uma idéia de que temos que ter envolvimento sim. Que os nossos parlamentares eles representam uma sociedade, mas eles representam segmentos da sociedade. Então, todos os segmentos da sociedade estão lá. Têm representante dos professores, têm representante dos bancos, têm representante das diversas igrejas, dos agricultores. E nós, um movimento importante como o movimento do cooperativismo médico, nós não tínhamos uma representação lá, não tínhamos ninguém comprometido com o Sistema Unimed. Na época, nós levamos, eu também era o presidente da Federação Minas e achei que nós, lá em Minas tínhamos que participar disso. “Vamos estar juntos! Vamos chamar um grupo de deputados que estivessem de acordo com a nossa proposta.”. A nossa proposta é muito ética, nós nunca vamos pedir alguma coisa que seja fora da ética. Então é muito fácil trabalhar com o sistema cooperativo, de um modo geral. Nós não vamos pedir nada que não seja ético, que seja comprometedor. Nada que seja ilegal, nada! Nós só vamos pedir que alguém nos represente e aos nossos desejos nas nossas necessidades, dentro de compromissos da ética e do cooperativismo da nossa sociedade. É uma coisa muito fácil. E, realmente, todos que nós procuramos: “É você tem razão, estaremos com vocês.”. Então nós montamos um grupo de pessoas, de deputados e conversando com um desses que era mais meu amigo, ele disse: “Olha, só que esse pessoal não pode ficar isolado vamos criar uma bancada.”. E nós criamos então um escritório, uma bancada. Ele convidou pessoas e nós indicamos deputados e montamos uma bancada do cooperativismo de saúde, que passou a acompanhar tudo aquilo que acontecia em Brasília. Sabe: “Oh, tem alguém lá colocando uma lei, que a partir de agora operadora de plano de saúde vai ter que dar medicação de graça, não sei o quê, tal.” Falei: “Não tem jeito.”. Nós tínhamos que ter alguém que fosse lá e que mostrasse que aquilo era inviável por isso, isso e isso, que tinha que ser repassado esse custo. Porque o custo sempre cai em cima do consumidor. Então tinha mais como fazer isso. Esse tipo de acompanhamento do que acontecia em Brasília, nós passamos a ter através do escritório de acompanhamento e dessa bancada, de ter deputados que pudessem ir lá para Brasília e falar: “Olha, o Sistema Unimed está trabalhando muito com responsabilidade social.”, “A Unimed tal de São Paulo tem um projeto, onde está dando óculos e não sei o quê e tal.”. Então, nós fazemos muito trabalho importante.
P/2 – Sem ser divulgado, não é?
R – É. Que nunca foi divulgado. E nós sempre fomos para Brasília, tudo que saía lá em Brasília era queixando dos problemas. Quem trabalha com 13 milhões de clientes, logicamente tem que ter também problemas. Mas nós temos que ter gente que mostre o crescimento e o envolvimento nosso com a responsabilidade social. Não é isso? Então nós passamos, através desse grupo, a ter sempre alguém falando da Unimed. Das coisas importantes e da participação, da atuação importante para o Brasil, feita pela Unimed. Várias pessoas, vários parlamentares foram lá e se manifestaram, foi uma coisa que cresceu. Nessa legislatura agora, várias Unimeds já saíram daquela posição que nós não podemos nos envolver com políticos e saber: nós temos sim que ter esse envolvimento. Nós temos que participar com eles no processo eleitoral. Porque todos os segmentos participam, isso é legal! Não há nada ilegal! Tá certo? Com isso nós passamos a ter uma representação em Brasília, o que também foi um grande passo! Isso marcou também uma mudança no Sistema Unimed, como você diz.
P/1 – Já que o senhor tocou nesse assunto da responsabilidade social. O senhor quer falar um pouquinho dos projetos de responsabilidade social lá da sua região ou um pouco aqui em nível de Brasil?
R – A primeira vez que eu ouvi falar em projeto de responsabilidade social, como era, foi implementado aqui, na Unimed do Brasil. Foi com o nosso colega, o diretor Almir Gentil. Ele para mim era um visionário, ainda é um pouco. É uma pessoa jovem, muito competente, inteligente e que chegou aqui e começou a falar em responsabilidade social. Falei: “Ah, mas isso a gente já faz na minha cidade, nós fazemos responsabilidade social.”. E quando eu fui entender o que era responsabilidade social, eu fui comparar com que a gente fazia lá. Eu gosto sempre de citar um exemplo: fui analisar o que a gente fazia lá na minha cidade com responsabilidade social. Por exemplo, vamos identificar as pessoas que tem colesterol alto. Pedia contribuição dos laboratórios, chamava o pessoal pelo rádio. E, no outro dia de manhã tinha aquele mundo de gente de laboratório colhendo sangue, aquela fila de pessoas para colher sangue. Colhia sangue, os laboratórios faziam os exames, a gente pegava aquele mundo de resultados do exame. A maioria nem voltava para ver, outros pegavam o resultado levavam para casa. E a gente fica pensando assim: Pois é, às vezes identificamos, às vezes podemos ter feito, mas nós não sabemos qual a transformação que fizemos. Que modificação que nós fizemos na sociedade, na comunidade que justificasse aquele apelo aos laboratórios, aquele gasto? Nós não fizemos transformação nenhuma. Nós não tivemos nenhum medidor disso, de saber o que nós modificamos. E responsabilidade social você tem que promover modificações, não é isso? Você tem que fazer desse jeito, nós vamos fazer. Nós vamos identificar o que nós vamos fazer. Com quem nós vamos identificar? Nós vamos fazer treinamento, vamos fazer acompanhamento. Quer dizer, tem que ter isso, você tem que ter começo, meio e fim. Você tem que ter projetos, tem que saber fazer! E dentro dessa idéia do saber fazer, a equipe de marketing aqui coordenada pelo Almir, criou um manual, um passo a passo de como fazer. Com assessoria de institutos de renome nacional e internacional. Instituto Ethos por exemplo, que participou dessa cartilha de como fazer uma ação de responsabilidade social. Como cuidar desse projeto com começo, meio e fim. Com projetos mesmo de responsabilidade social. E começou a premiar e valorizar. Então isso foi uma fase de grande transformação. No início, ele era um visionário, hoje é real. Hoje todo mundo assimilou. E hoje você chega nas Unimeds, tem lá com grande orgulho na parede, o diploma, o selo de Unimed socialmente responsável, que tem preocupação com projetos, com meio ambiente. Eu acho que nós aprendemos com profissionalismo trabalhar com responsabilidade social. E o Sistema Unimed tem feito isso muito bem. Hoje é um ponto forte do Sistema Unimed, a preocupação com preservação do ambiente, etc.
P/1 – O que o senhor considera como a sua principal realização na Unimed?
R – Eu acho que a minha principal realização na Unimed foi lá na Federação de Minas, com ajuda de todas as Unimeds, de todos os médicos, todo mundo sofreu.
Quantos médicos? Nós temos um 1.900.000 clientes, eu esqueci o número de médicos que nós temos em Minas Gerais. Mas todos eles participaram, todos os cooperados de Minas Gerais, são 16 mil, 15 mil e pouco. 16 mil médicos cooperados, todos foram envolvidos no trabalho de recuperação da Federação. Eu acho que muita gente falava: “Olha, Minas Gerais não tem saída!”. E nós mostramos que unidos, com união, com responsabilidade, com profissionalismo, com equipe competente trabalhando, nós tínhamos condição de sair. Então quando a gente entregou a Federação arrumada, sem dívida, com projetos sendo implementados de desenvolvimentos das cooperativas, aquilo, para mim, foi a maior realização. Eu saí de lá porque terminou o mandato, muito feliz, muito grato com o Estado, com tudo, com todas as Unimeds e as pessoas de lá, os colaboradores e dirigentes que participaram dessa luta nossa. Porque envolveu todo mundo. Isso para mim foi a maior realização pessoal.
P/1 – E quanto aos colegas de trabalho. O senhor já falou que se relaciona bem com todo mundo. Tem alguém
especial que o senhor gostaria de citar?
R – Quando se é presidente da Federação você recebe todo tipo de crítica por aquilo que sai mal feito. E recebe todo tipo de elogio por aquilo que sai bem feito, não é isso? Quando fui presidente da Federação eu recebi muito elogio pela gestão, mas no fundo a gente sabe que essa gestão foi muito compartilhada! E que, às vezes o trabalho que a gente realizou não foi o maior. Tiveram pessoas que foram mais importantes nesse projeto. Os colegas de trabalho que estão com a gente, os diretores que estiveram comigo lá, tiveram um valor muito grande.
Os colaboradores da Federação, não vou citar nome porque são vários diretores que passaram. Eu queria citar essas pessoas que, às vezes, ficam um pouquinho no anonimato. E a gente, como presidente recebe os elogios, se fosse o contrário também seria. A gente receberia. Mas quando a gente recebe os elogios, eu fico melhor, me sinto mais feliz quando posso dividir com aquelas pessoas que realmente se empenharam. Nas suas áreas foram gigantes na construção dessa transformação. Quer dizer, você recebe o elogio e na verdade são muitas pessoas que estão ali trabalhando para que aquilo desse certo.
P/1 – E em relação aos funcionários. O que o senhor acha que a Unimed representa? Representou no passado e representa hoje?
R – A Unimed tem alguma coisa de diferente em relação às outras empresas. Eu acho todo mundo que passa por aqui, nós dirigentes e os colaboradores tem alguma coisa que prende mais. Existe um sentimento maior de união, de vestir camisa, do que em outras empresas. Eu tenho quase certeza disso, entendeu? Eu sinto que os funcionários, os colaboradores se envolvem. E se você for um dirigente que motive esse pessoal e que valorize esse pessoal, os colaboradores, você é capaz de promover uma revolução, uma grande transformação. Porque, realmente, os funcionários se envolvem. Eu acho que agora com esse pensamento novo de treinamento, de investir na capacitação desses colaboradores, é muito importante. E o conselho que eu dou para todo dirigente, valorize os colaboradores. Eles são importantíssimos e valorizados, dão o retorno. Eu acho que eles têm alguma coisa de diferente.
P/1 – O senhor poderia contar algum caso pitoresco que aconteceu ao longo desses anos?
R – Mais?
P/2 – Mais engraçado.
R – Ah, não estou lembrado, não! Não, tem.
P/1 – E na sua carreira de medicina então, tem algum fato marcante que o senhor gostaria de contar?
R – Não, não tem. Tem algumas coisinhas, mas umas coisas de consultório. É acho que não tem, nada de especial, não.
P/1 – O seu estado civil?
R – Sou casado. Casado com a Ana Cristina, minha esposa é dentista, odontóloga. Ela tem duas especializações: é radiologista e endodontista. Trabalha o dia inteiro e fica sozinha em casa. Eu tenho dois filhos. Um filho é formado no Rio na Espm [Escola Superior de Propaganda e Marketing], formou em Publicidade. Mas ele trabalha com outra área, montou uma empresa. E o outro filho faz medicina, forma agora em junho, daqui a poucos meses está formando.
P/2 – Vai ser um colega.
R – Vai ser colega. E eu fiz tudo, mas não consegui tirar da cabeça dele de fazer medicina. Mas eu estou feliz com isso. Os meus dois filhos são muito bons, a minha família é, realmente, perfeita.
P/1 – E o que o senhor gosta de fazer na hora de lazer? São os filmes?
R – É, eu gosto muito de mexer com fotografia, com filmes. Eu tenho em casa umas 60 fitas gravadas da história inteira da vida nossa, desde 1981. A gente grava tudo, todas as festas, os fatos importantes da nossa família, estão lá documentados. E eu agora nas horas vagas que eu tenho no domingo, eu sempre vou lá para a minha mesa de edição e faço edições. Compactas, muito compactas. E vou montando filmes, com vários endereços. Têm uns dirigidos à minha família, pessoal lá de casa, outros que envolvem a turma de amigos. Já ponho assim: esse filme aqui é para os amigos. E com isso a gente faz outras festas, para passar aqueles filmes. E são muito interessantes, coisas de 20 anos e que a gente está revendo, é muito interessante! A gente está refazendo a história. Eu acho que a história é uma coisa que a gente tem que deixar viva, marcar.
P/1 – Nós vamos passar para uma avaliação final. Como o senhor vê a atuação da Unimed no Brasil, como um todo?
R – Eu acho que nós estamos passando hoje por uma fase muito boa. Logicamente, difícil sempre é, mas quem está no mercado, toda empresa no mercado passa por um mercado competitivo. Ela tem que se profissionalizar. Mas nós estamos passando por essa fase. As Unimeds estão se profissionalizando. Uma das grandes falhas que houve no processo da Unimed foi a separação. Amanhã, exatamente daqui a um dia, nós estaremos comemorando, lá no Nordeste, a vinda das últimas Unimeds que ficaram. Quando nós assumimos a direção, o nosso Presidente Celso Barros sentou com a gente para ver as metas para diretoria, a primeira meta, nosso maior desejo é que o Sistema fosse reunido, reintegrado. Então houve um grande trabalho pela reintegração e ele se concretiza amanhã. Durante esses anos todos, as Unimeds foram voltando. Cada uma que vinha, para a Unimed do Brasil, a gente comemorava com festa, brindávamos a vinda de cada um. E amanhã nós vamos brindar a vinda dos últimos que faltavam. A partir de amanhã o Sistema está reintegrado e nós sentimos que cumprimos uma grande missão, que foi a da reintegração do Sistema. Eu acho que, de modo geral, as Unimeds se profissionalizaram. Nós temos hoje estruturas, ferramentas para que elas se desenvolvam. As Federações estão ocupando um espaço importantíssimo, principalmente quando elas levam às Unimeds pequenas aquilo que elas não têm, que não podem ter. Elas não podem ter uma consultoria, não podem pagar caro por uma consultoria, como uma Unimed grande, mas a Federação pode oferecer a elas essa consultoria. Nós temos a nossa Fundação que tem oferecido consultoria pelo Brasil todo também, ajudando a reajustar e a re-alinhar alguma Unimed que esteja em dificuldade. Acho que nós estamos vivendo um grande momento, muito democrático,
bem profissional.
P/1 – Como o senhor acha que a sociedade vê o Sistema Unimed?
R – Eu acho também, que a nossa visibilidade tem sido muito grande, porque nós trabalhamos com pesquisa. Nós somos Top of Mind todo ano. Estamos entre os dirigentes lojistas, que é um mercado varejista, somos todo ano premiados. E a variação entre o primeiro lugar que é a Unimed e o segundo, é muito grande. Isso mostra que nós estamos realmente na cabeça do consumidor, da população. Do ponto de vista de responsabilidade social, hoje nós temos uma visibilidade. Nós já somos vistos como uma empresa responsável, como uma cooperativa com grande preocupação na área de preservação do meio ambiente. E o nosso envolvimento com a comunidade, para transformar a comunidade e fazer que seja uma comunidade cada vez melhor. Acho que essa visibilidade nós temos. E nós estamos crescendo hoje como operadora de plano de saúde, temos cerca de 13 milhões de clientes, isso para nós é um dado bastante importante. O que nós precisamos fazer e trabalhar cada vez mais para que o médico tenha uma remuneração cada vez mais justa. O médico, se ele não tiver uma remuneração justa, não tem condição inclusive de se reciclar, se atualizar, porque ele não pode parar de trabalhar. Várias Unimeds hoje já fizeram um trabalho para que o médico tire férias, para que tenha condição de se reciclar, que faça seus cursos, participe de congressos. Algumas Unimeds já estão estimulando isso.
P/1 – E qual o senhor acha que é o principal diferencial da Unimed para os outros planos de saúde?
R – Cada médico está envolvido, queira ou não, ele é dono da Unimed, saiba ou não, ele é dono da sua cooperativa. E se der errado, ele é responsável por ter dado errado, certo? Se é o dirigente, foi o médico que colocou, então isso é um diferencial muito grande. O nosso grande diferencial é o médico, o outro grande diferencial é a nossa capilaridade. Hoje quando uma empresa quer um plano de saúde, poucas empresas estão numa cidade só, normalmente ela tem uma filial em uma cidade, tem um prestador que é numa outra cidade, às vezes são em cidades pequenas. E a Unimed está lá presente. Então essa capilaridade faz com que nós tenhamos uma força muito grande. Uma operadora pequena, que não seja a Unimed, não vai sobreviver, nenhuma operadora pequena vai sobreviver. Uma Unimed pequena vai sobreviver porque ela não é sozinha, faz parte de um todo. Ela faz parte de um corpo, ela é uma “unhazinha” que é importante para a composição de um todo, certo? Cada Unimed é importante para nós, e isso dá um diferencial muito grande, mercadológico inclusive, um grande diferencial de mercado.
P/1 – E qual a contribuição que o senhor acha que a Unimed dá para a medicina no Brasil?
R – Primeiro para o médico, para a saúde. Hoje, algumas operadoras têm uma remuneração para o médico semelhante a da Unimed, certo? Mas, por quê? Porque senão ela não teria aquele médico trabalhando. Se a Unimed não existisse, como em alguns outros países, vários outros países, a Argentina, por exemplo.
A Unimed não existindo, a operadora paga o que quiser, porque médico para entrar nas operadoras tem muitos. E qualquer que seja o valor da remuneração, o médico não tem outro mercado de trabalho. As operadoras ocupam o espaço na venda de planos e todo mundo é obrigado a trabalhar para a operadora. Se hoje eles procuram se adequar é porque existe como concorrente a Unimed.
Naquelas Unimeds onde não tem a concorrência, inclusive, os médicos são mais bem remunerados e os médicos então procuram realmente trabalhar com a Unimed. Isso para a remuneração médica, que eu disse, se o médico não for bem remunerado, ele não tem condição de se reeducar, de se reciclar, de participar de congresso e nem tem estímulo para melhorar o atendimento. Acho que essa é uma grande contribuição. E, você tem uma operadora nacional, treze milhões de clientes. Ética, é contribuição muito grande. E com essa preocupação que nós temos, a Unimed não tem finalidade de lucro, nós não temos acionistas que recebem. Porque as outras, uma operadora privada tem o acionista, ela tem que fazer dar resultados financeiros. Nós não temos esse resultado financeiro. Todo o investimento é em cima do médico, em cima da melhoria do atendimento, em cima da nossa qualidade, essa é uma contribuição, é por isso que nós somos “Top of Mind”, por isso que nós somos “top” de tudo, os prêmios de marcas de confiança, todas as premiações. As pesquisas que nós fazemos de opinião pública, em todas nós estamos com uma diferença muito grande do segundo colocado.
P/1 – E a importância da Unimed para o cooperativismo brasileiro?
R – O cooperativismo, tem se desenvolvido em vários setores. Ele é extremamente importante para o desenvolvimento de todos os países. No Brasil acho que o cooperativismo é muito mal visto ainda, mal entendido pelos políticos, pelas autoridades políticas. Em outros países, como na Espanha, você vê a força que eles têm, com o cooperativismo como um todo. Como fator de desenvolvimento de um país, como fator de combate ao desemprego, de proteção à pessoa. Isso é muito importante, nós termos aqui no Brasil uma coisa que o mundo não tem, nós somos a maior cooperativa médica do mundo. E nós somos modelo de cooperativismo de saúde para o mundo inteiro. Fazemos parte dos órgãos, dos organismos internacionais de cooperativismo, pela importância que nós temos. Acho que o país ganha, o cooperativismo ganha de ter um segmento forte. É importante para o cooperativismo. E a gente está participando das lutas pelo cooperativismo. Como eu falei, nossa bancada de cooperativismo, nosso envolvimento para que tenhamos um reconhecimento, uma justiça em relação ao papel que desempenhamos para o país.
P/1 – E qual a sua visão de futuro da Unimed do Brasil. Daqui a dez anos como será a Unimed?
R – Esse processo ele é irreversível. Porque se o governo interferir pouco, nos atrapalhar pouco, ou não nos atrapalhar fica muito bem.
P/2 – Não se metendo muito.
R – É, não se metendo muito com a gente fica muito bem, entendeu? Esse é um processo realmente, que nós vamos estar crescendo. E competir com a Unimed, é muito difícil. É muito difícil você chegar numa cidade, aonde chegou uma operadora, às 18 horas a operadora fecha a porta e o pessoal vai embora. Na Unimed não é assim, se chegar lá e a Unimed fechou, o presidente está disponível 24 horas, sábado e domingo. Esse é um diferencial muito grande, um envolvimento que existe.
P/1 – E quais foram os maiores aprendizados de vida que o senhor obteve trabalhando na Unimed?
R – Ah! Quase tudo.
Eu acho que na minha vida hoje, a Unimed faz parte integrante de tudo. Esse relacionamento que nós temos, a amizade. Hoje eu digo o seguinte, um filho meu vai viajar para tal cidade, eu já penso: “Qual cidade você vai?”Oh, se tiver algum problema lá, você vai procurar tal pessoa.” Eu tenho amigo em cada cidade, entendeu? Agora tem faculdade de medicina em Araguari, então na época do vestibular, os colegas: “Oh, estou mandando um filho meu, uma filha minha para aí, você cuida para mim.”. É esse, o relacionamento, entendeu? É uma coisa que não tem preço, a amizade que a gente tem, no Brasil inteiro. Em cada lugar a gente tem um amigo e esse relacionamento é muito importante. E, o aprendizado de vida, poxa, a gente convive o dia todo com pessoas sempre mais competentes do que a gente. Contratamos para trabalhar, só pessoas mais competentes do que nós em todos os setores. A função nossa como dirigente é coordenar, as competências você tem que contratar do mercado. Você tem que trabalhar com pessoas competentes e você está aprendendo o dia todo, para a sua vida. Nós estamos terminando a nossa gestão, eu vou estar voltando para casa com experiência de vida, que eu acho impagável. Hoje eu estou aqui, amanhã eu vou estar em João Pessoa trabalhando lá na reunificação, depois de amanhã eu vou estar em outro local. Você roda o Brasil, conhece o país, tem uma oportunidade que é impagável. Eu acho que essa oportunidade de relacionamento, de aprendizado diário, te enriquece muito. Vou poder voltar para casa com aquele sentimento de dever cumprido, de que você voltou muito maior do que saiu.
P/1 – E o que o senhor acha de a Unimed estar comemorando os 40 anos, através desse projeto de memória?
R – Pois é, com tudo que aconteceu no Sistema, a gente ter uma história bonita para contar. História feita de fatos interessantes, fatos positivos, fatos negativos, tombos. A pessoa cai, se levanta e a nossa história também é cheia de tombos e percalços e vamos levantando. Chegar a 40 anos ativos como nós estamos hoje, eu acho que provavelmente nós estamos passando a melhor fase do Sistema Unimed, uma das fases mais sólidas. Alguns probleminhas aqui e ali porque somos muito grandes. Logicamente nós temos problemas aqui e ali. Mas hoje nós estamos vivendo com 40 anos, comemorando crescimento, um momento de visibilidade. A percepção do cooperativismo de saúde Unimed na população, é significativo, é importante, o Brasil inteiro hoje pensa Unimed. Eu atendi no consultório uma pessoa uma vez e ela falou assim: “Doutor, quando eu passo na estrada e eu vejo aquela placa assim: ‘Fique tranqüilo aqui tem Unimed.’, me sinto tão bem, eu fico tranqüila mesmo.”. Isso é uma coisa, o pessoal tem a Unimed, tem a carteirinha da Unimed, você fala: “Ah, eu sou dirigente da Unimed.” Tira a mão do bolso, põe a carteirinha, o pessoal torce pela Unimed, como torce para um time de futebol.
P/1 – O que o senhor achou de ter participado dessa entrevista?
R – Ah. Muito bom, acho que eu conversei muito. Mas foi uma experiência muito boa, uma oportunidade boa de estar contando um pouquinho aqui da minha história e eu fico satisfeito e agradeço vocês por terem me dado essa oportunidade.
P/1 – Se bem que eu não perguntei ainda. Tem alguma coisa que a gente não perguntou que o senhor gostaria de falar?
R – Eu falei demais. Mas eu vou lembrar mais à noite. Mas é interessante mesmo, esse bate papo foi muito bom e eu agradeço a vocês. Acho que fazer parte dos 40 anos do Sistema Unimed, da maior cooperativa médica do mundo é uma honra muito grande.
P/1 – Então, em nome da Unimed e do Museu da Pessoa nós agradecemos a sua entrevista. Obrigado.
R – Obrigado, vocês.Recolher