Projeto Memória DIEESE 50 anos
Depoimento de Mônica Veloso
Entrevistado por Nádia Lopes e Marcelo Fonseca
São Paulo, 13 de setembro de 2006
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista DIEESE_HV007
Transcrito por Anabela Almeida Costa e Santos
Revisado por Elaine de Almeida Pereira
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Projeto Memória DIEESE 50 anos
Depoimento de Mônica Veloso
Entrevistado por Nádia Lopes e Marcelo Fonseca
São Paulo, 13 de setembro de 2006
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista DIEESE_HV007
Transcrito por Anabela Almeida Costa e Santos
Revisado por Elaine de Almeida Pereira
P/1 – Pra começar, gostaria que dissesse seu nome completo, data e local de nascimento.
R/1 – Meu nome é Mônica Lourenço Veloso. Eu nasci em Osasco, no dia 29 de março de 1968.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R/1 – O nome da minha mãe é Josefa e do meu pai, já falecido, Mário Antônio.
P/1 – Você tem irmãos?
R/1 – Eu tenho mais quatro irmãos.
P/1 – Você se lembra dos seus avôs?
R/1 – Lembro de todos... Não. Só não de um. Mas, o restante, todos. Todos lembro. Lembro bastante.
P/1 – Qual o nome deles?
R/1 – Dos meus avôs paternos, eram Maria e Dionísio. A gente conviveu bastante. E materno, só a minha avó que era Olívia.
P/1 – Você lembra qual a atividade profissional deles?
R/1 – A minha avó materna, a Olívia, ela era do setor químico. Veio do Nordeste e trabalhou numa empresa de tintas aqui, toda vida, né? Até aposentar. A minha avó materna, ela não trabalhava. E o meu avô, ele foi funcionário público e morava ali, num bairro chamado IAPI. Era um bairro de funcionários públicos, que tem ali em Osasco. Ali, ele era do setor de manutenção. Trabalhava com isso, com manutenção.
P/1 – Quanto aos seus irmãos, o quê que eles fazem?
R/1 – Eu tenho um irmão que é metalúrgico, como eu. E uma irmã que é do setor de comércio, ela é cabeleireira. A outra não trabalha. E um jovem ainda, que ainda está escolhendo o que vai fazer ainda da vida.
P/1 – Quando você nasceu, onde morava sua família?
R/1 – Todos em Osasco. Eu sou osasquense mesmo, né? Meus pais vieram... Meu pai é de Presidente Prudente e minha mãe é de Alagoas. E conformaram a família ali em Osasco mesmo, nesse bairro chamado Piratininga, que é onde eu vivi a minha vida toda.
P/1 – Você tem, assim, uma idéia de quando eles vieram pra Osasco?
R/1 – Minha mãe, eu sei que muito nova. Muito jovem, não tinha dez anos de idade. Meu pai, não me lembro.
P/1 – Como que era a rua e o bairro que você morava, quando você era criança?
R/1 – O Piratininga era um bairro residencial. Assim, era um bairro asfaltado. Ele tem uma ligação com a Rodovia Castello Branco, que divide, na verdade, o bairro, em dois. Então, a gente morava de um lado e meus avôs do outro lado. Eu me lembro que pra ir até a casa deles, eu me lembro que a gente tinha que fazer a travessia... Ali tinha um matinho, ali a gente tinha que atravessar e... Bom, o Piratininga, depois, se tornou um bairro meio de centro logístico. Tem muito galpão, muitas empresas. E a gente se mudou pra o outro lado que é do IAPI. Ali, é extremamente residencial e continua até hoje, né, mesma... Tem muito condomínio, a cidade, o bairro cresceu pra cima, né? Então, são casas, é arborizado. Acho que na última, na penúltima gestão é que as ruas foram asfaltadas porque era cascalho. Então, era assim.
P/1 – E como que vocês brincavam por ali?
R/1 – Bom, acho que como... Meus pais tiveram três meninas e um menino. Eu sou a mais velha. Então, a gente brincava de tudo. Quando o meu irmão era, ele... Sou eu, uma irmã e ele. Depois, vem a irmã caçula, de mulher. E teve uma "rapinha do tacho", que é esse, o jovem que a gente estava aqui falando. E meu pai, ele sempre foi muito inventivo. Então, se ele fazia carrinho pra o meu irmão, de rolimã, tinha que fazer para as meninas também. Então, a gente brincava disso, disso, de pique, de... Eu tinha muita amizade. Molecada, naquela época, a gente brincava na rua. Era na rua mesmo. Inventava as brincadeiras como qualquer criança, né? No IAPI tem muita praça, então a gente se beneficiava de algumas praças que tinha ali pra brincar.
P/1 – Esse bairro é nas proximidades do Rio Tietê?
R/1 – É. Bem próximo.
P/1 – E como vocês faziam pra passar pra o outro lado?
R/1 – Anteriormente... Bom, ali tinha duas passagens. Uma que era dos veículos, mas, também tinha pra pedestre. Mas, eu me lembro bem que, antes de fazer a famosa passarela que tem ali, antiga já, a passagem era com uma pontezinha de madeira. E todo mundo passava por ali. Meu pai era metalúrgico, foi a vida toda. E ele trabalhava na Cobrasma que é uma empresa também muito grande e que acho que quem não trabalhou teve alguém da família que trabalhou nessa empresa lá. Quem é de Osasco. Então, ele trabalhou ali muitos anos, eu me lembro daquela pontinha. Era raro a gente passar pra o outro lado, na verdade. Mas, em alguns passeios. Ou, se ia visitar a família fora, né? Que meu pai tinha alguns irmãos que moravam já aqui em São Paulo, na Zona Sul. Então, a gente tinha que atravessar pra poder pegar a condução no terminal rodoviário ali, que tinha. A gente tinha que passar naquela pontinha, cheia de barril, na época, né? Era bastante... Era assim.
P/1 – Dessa época que você era criança, o que mais te marcou?
R/1 – O que mais me marcou? Bom, eu, não sei, eu acho que eu sempre fui uma pessoa de muitas amizades. Então... E minha mãe cortava o cabelo da gente tudo curtinho, muito curtinho e as minhas amizades eram mais com meninos do que com meninas. E a gente brincava muito. Então, tem um grupo que se formou desde o parquinho. Aquilo ficou até... Até depois que alguns se casaram. Então, acho que esse grupo é o que me marcou mais. Porque a gente teve uma relação de prezinho, escola, fazer a formatura do ginásio juntos. Perder alguns amigos também juntos. Então, é um grupo pequeno. Hoje ele está menorzinho. Mas, eu acho que é esse grupo que a gente chamava que era a turma da Rua do Piratininga. Era uma rua que tinha ali, que a gente comandava. Então, acho que aquilo que [RISO], que me marcou mais.
P/1 – Onde e quando você começou a estudar?
R/1 – Eu estudei na escola pública, ali do bairro mesmo. A Escola chamava Professor Eloy Lacerda. Até terminar o ensino fundamental ali, ou seja, até a oitava série, né? E depois, não tinha colégio lá. Então, eu tive que ir estudar em um outro bairro. Próximo ali, não muito longe. A gente ia a pé, mesmo. Chamado Rochdale, uma escola chamada Júlia Lopes. Ali tinha o ensino médio, então foi ali que eu fiz o colegial. Bom, naquele período, eu também namorei. Namorei sério, engravidei, casei. E aí, eu interrompi um período os meus estudos, o colégio. Fiquei sem estudar um bom tempo. E aí, já começou a minha, a minha formação profissional mesmo. Eu já tive que trabalhar e ali eu entrei numa empresa no Piratininga, na área de qualidade. Então, aquilo me chamou a atenção pra eu ir fazer um curso técnico. E aí foi que eu fui pra uma escola técnica. Fiz o colégio. Terminei o colégio e fui fazer o ensino técnico em qualidade. Em controle de qualidade, na verdade. Pra poder me desenvolver melhor na empresa que eu trabalhava.
P/1 – E que época foi isso, mais ou menos?
R/1 – Ah, eu fiz o curso em 1986. 1985, que foi quando eu tive meu filho, o Tiago. E o Tiago era novinho ainda. Na verdade, em fevereiro de 1986 eu entrei nessa empresa chamada Meridional, que tinha ali no Piratininga. Uma empresa de... que fazia produtos de aço inox, panela, baixelas, essas coisas. Foi meu primeiro emprego, assim, formal.
P/1 - Então, esse foi o seu primeiro trabalho?
R/1 - É. Formal, sim. Eu tinha, como adolescente, trabalhado em umas duas lojas. Uma aqui na José Paulino. Mas foi uma experiência terrível [RISOS]. Foi muito ruim. Eu não vendia nada e, os donos, era um pessoal coreano. E, tinha uma senhora. Até ela era muito boazinha. Mas, eu tinha que ficar dando comida pra ela. Então, aquilo me perturbava demais [RISOS]. Aí, eu não quis mais. Pedi a conta. Fui com a minha mãe... Eu trabalhei uma semana, aí falei: "Mãe, é assim, assim..." Aí, minha mãe: "Não, tudo bem, então vamos lá". Eu pedi a conta, junto a minha mãe, e saí desse emprego. Depois disso, trabalhei mais numa outra loja. Mas, era uma coisa informal. Loja pequena, de bairro, mesmo. E parei. Eu consegui um curso de secretariado na Fundação Bradesco. Então, eu estudava e fazia o curso. Aí, não trabalhei mais até que eu terminei o curso na Fundação Bradesco. Foi quando eu conheci o pai do meu filho.
P/1 – E foi depois desse curso que você foi fazer o curso técnico?
R/1 – Ah sim, exatamente. Naquela época, com 14, você já trabalhava. Então, esses trabalhos informais, que eu estou falando que eu tive, foram nessa faixa de idade. Eu tinha 14, 15 anos. E eu estava terminando o ginásio, na verdade. Terminei o ginásio e aí fui pro colégio e aí eu estava... Fiz esse curso de secretariado. Era um ano só. E... Só que conheci meu namorado, inclusive, na escola, né? Então, na Fundação Bradesco. Que é pai do meu filho, né? Então...
P/1 – Quando você foi fazer o curso técnico, você foi fazer de inspetora de qualidade.
R/1 – Inspetora de qualidade.
P/1 – O que levou a procurar esse curso?
R/1 – Bom, eu, como eu disse, eu engravidei, né? Me casei. E não vivi muito tempo com o meu marido. Então, minha família, tanto meu pai quanto minha mãe já eram metalúrgicos. Meu pai já de muitos anos de profissão. Ele era ferramenteiro e técnico em metalurgia. Minha mãe era de produção, mesmo. E minha mãe trabalhava nessa empresa, Meridional. E eu arrumei um emprego lá, nessa área de controle de qualidade. Mas, eu não tinha nenhum tipo de experiência profissional. Naquele período, eles não pediam experiência, então fizeram uns testes lá comigo. E eu me dei bem nos testes, fui bem nos testes e aí me contrataram. Então, aí o gerente falou pra mim: "Olha, acho que pra você poder também evoluir, né?" E ali tinha uma área que era de interesse meu, que era de Assistência Técnica. Ele disse: "Você precisa fazer um curso." E aí, eu fui fazer. Fui procurar, encontrei esse, nessa escola técnica Argos. Uma escola antiga que tem lá em Osasco, também. Que trabalha com cursos técnicos. E eu fui, fiz o Controle de Qualidade. E foi dois anos de curso, aí o tempo também de trabalho lá na Meridional. Três anos, na verdade, que eu saí em 1989 de lá, quando ela fechou, na verdade.
P/1 – Quando você entrou na fábrica, você teve alguma surpresa no ambiente da fábrica? Porque antes você trabalhava em loja e depois você entrou na fábrica. Você lembra disso?
R/1 – Ah, lembro perfeitamente. Primeiro, porque era uma coisa nova. Tudo muito novo pra mim. Eu nunca tinha entrado dentro de uma empresa, na verdade. E a Meridional era uma empresa grande. Assim, médio porte, na verdade. Ela tinha 500 funcionários quase. Tinhas umas... Eu me lembro bem que a porta de entrada dava no setor de prensas. Então, eram prensas enormes. Aquele negócio grande e tinha que fazer as baixelas, né? Baixava aquele negócio, já saía àquela panela pronta ali. Então, aquilo, né, aquele negócio enorme. Foram duas coisas que me chamou a atenção, isso e as roupas. As pessoas usavam uniformes. O homem com as roupas de... Calça e blusa e a bota. E as meninas usavam um avental, uma capa verde, bem verde mesmo. E assim, não era um serviço muito limpo. Então, as pessoas ficavam sujas. Especialmente quem trabalhava com a usinagem, com a estamparia. E as meninas tinham... Depois da peça pronta, você tinha na linha de produção – que era já esteiras, a Meridional já estava se modernizando, então, eram esteiras. Ficava aquela fila de meninas limpando as peças. Era mergulhado o algodão numa mistura, que inclusive cheirava muito ruim. E limpava aquilo. E as outras iam olhando, verificando os defeitos. E as outras iam embalando, né? Então, como era uma linha, você tinha que ter agilidade, rapidez. As mais lentas ficavam ao final. Porque ou estavam iniciando, como era o meu caso. Quando eu cheguei, eu fiquei no final da linha. E quanto mais rápida você ia ficando, você ia passando pra frente na linha, né? Então, tinha que ter uma agilidade ali. Então, a hora que você chega, você vê aquele movimento todo, né? Você chega meio que se familiarizando. Você toma mesmo, falei pro cara: "Será que eu vou, esse monte peça passando assim, você não poder perder uma de vista." Era difícil, né? Mas, até aprender só.
P/1 – Aí, depois que você aprendeu qual que era a sua função? O seu dia a dia?
R/1 – A minha função era... Eu trabalhava das sete às três, né, incluindo os sábados.
E a minha função era exatamente essa: depois da peça limpa, a gente tinha que pegar a peça e verificar os defeitos que ela tinha. Era um trabalho visual, só visual, na verdade. Então, tinha um outro grupo de meninas que fazia uma ação mais técnica, né? Usava paquímetro, usava isso, usava aquilo, manômetro, usava aquele pra ver a densidade do metal, essas coisas. Mas eu não... Eu queria chegar ali, mas eu estava ainda naquelas de... Então, eu tinha que fazer essas verificações. Quando tinha problemas, a gente tirava a peça da esteira.
P/1 – Havia muitas mulheres na fábrica? Se fosse fazer, assim, uma porcentagem, quanto seria mais ou menos?
R/1 – A Meridional tinha assim: uns 55% homens e uns 45% mulheres. Mais ou menos. Mais ou menos. Porque a parte da esteira, embalagem, de limpeza era só feita por mulheres, né? E era bastante grande. E eles, depois, instalaram algumas máquinas que faziam umas tampas. E elas eram completamente automatizadas, já. E ali, também, trabalhavam só mulheres nesse setor, né? Então, eles tinham bastante, mesmo. Contratavam muitas meninas pra esse trabalho.
P/1 – E o convívio, assim, mulheres, homens, como que era essa relação?
R/1 – Era...
P/1 – Brincadeiras?
R/1 – Era pouca, porque na verdade a fábrica era dividida em dois. Então, ela era meio que um L. Então, os homens ficavam do lado direito e as mulheres do lado esquerdo da fábrica, né? Então, a gente tinha um miolo ali, em que ficava focalizado essa máquina das tampas – que eu estava falando – aí, vinham as esteiras todas, assim. Ao fundo, a embalagem. E mais ao fundo, assim, à esquerda, já era o setor de estoque e já de saída. Então, as mulheres ficavam naquele miolo ali. E os homens nessa circunferência. Então, em termos, assim, de trabalho, não tinha, assim, uma relação muito... Não tinha relação, né? Eu fui ter mais relação com as pessoas depois que eu saí desse setor. Aí eu consegui ir pra área que eu queria que era a de Inspeção Técnica, mesmo. Então, tudo que a Meridional fabricava que tinha defeito ou que voltava dos clientes, nós tínhamos um trabalho de refazer ou verificar, no setor de produção, qual era o problema. Se ele era um problema humano. Ou se ele era um problema técnico da máquina, ou do material, esse tipo de coisa. Então, aí, passei a me relacionar mais com os companheiros, né, dos setores. Mas as meninas em si, assim, a não ser nos intervalos, né, que eram muito poucos, né? A gente tinha... Era meia hora corrida de almoço. Então, não comia, engolia. [RISO] Naquela época, engolia. Depois, depois é que mudou isso. Demorou bastante.
P/1 – Em que momento que você começou a ter uma participação no movimento sindical?
R/1 – Então, a Meridional era uma empresa boa, mas que tinha, assim, tinha um ambiente extremamente insalubre. Ocorriam muitos acidentes de trabalho lá, com... Especialmente com os homens, nas prensas, né? Nas prensas na estamparia, na usinagem alguma coisa. E lá, tinha um setor, que era um setor que chamava Polimento, que é onde a gente às vezes... Essas baixelas brilhando, bonitas. Isso é dado um polimento, né, numa lixa, com duas lixas especiais. Vai uma grossa, que primeiro deixa ela fosca assim. Depois, eles passam numa outra que faz aquele brilho, ficar aquela coisa bonita. Então, às vezes... E eles faziam isso à mão, né? Então, sentava ali, era aquele monte de homem sentado. E aquele serviço extremamente sujo. Então, você só via os olhos; a boca quando abria, você via os dentes, assim. O resto era um negrume, assim, né? Tudo muito sujo. E era um serviço extremamente sujo. E ali, ocorriam muitos acidentes, as pessoas... As peças, às vezes, escapavam, então batia no rosto, nos braços, né? Então, tinha isso e um problema sério de perda de membros, dos dedos nas prensas. Então, assim, o sindicato estava sempre na Meridional, conversando, discutindo. E uma ação, foi naquela época que eu conheci, inclusive, o Clemente, que é um diretor nosso, lá no sindicato, incansável na luta da questão da saúde e segurança no trabalho. Ele já era responsável, nessa época, desse trabalho. E então, foi ali que eu me familiarizei, assim. Eu já tinha ouvido meu pai falar, ele trazia jornalzinho de vez em quando. Eu sabia que ele tinha uma espécie de associação, mas não tinha, assim, nenhum... Não uma coisa da qual ele falava muito, né? Na verdade, muito tempo depois é que eu... Eu fui saber até que um compadre dele tinha sido diretor do sindicato, né? Então... Mas aí, eu já estava já na militância, né? Não tinha mais... Então, foi ali que começou a proximidade com o sindicato, na verdade. Por conta desse trabalho que era feito ali na Meridional, por ela ser uma empresa com alto índice de acidentes de trabalho. Então, foram os primeiros contatos. E a empresa, acho que por uma questão de administração, ela foi perdendo mercado pra Tramontina e pra outras marcas. Acho que por uma questão administrativa, mesmo. Porque a Meridional tinha produtos muito bons e de excelente aceitação de mercado. De alta qualidade, atendia a classe B e A. Então, era uma coisa... Não era qualquer um que tinha baixelas ou dessas coisas, em casa. Desenvolveram tecnologia pra panela de pressão sem aquelas valvulazinhas que a gente está acostumado. Isso, né, já em 1986, já tinha essa panela, que a Meridional trabalhou, então... Mas, administrativamente, ela... E aí, começou os atrasos de pagamento, não dava as férias... Aquelas coisas que a gente já convive, né, infelizmente. E aí, começou uma ação forte do sindicato. Foi montada uma comissão de trabalhadores já, na época, pra discutir a situação da empresa, porque ela, ela fez o comunicado de fechamento, de possível fechamento da empresa. O que veio a acontecer em abril de 1989, na verdade. Então, assim, entre 1988, que foi a queda mesmo dela, até esse período de 1989, então, assim, a relação com o sindicato era quase que constante. E pra gente não perder as coisas dentro da fábrica, foi feito um rodízio ali. As pessoas dormiam lá. Nós acampamos lá. Então, foi assim muito... Foi a minha primeira participação organizada, assim. Eu me sindicalizei naquela época. E também fiquei ali, porque na verdade eu era uma das 450, na época – que era o número de funcionários – que ia que saiu sem nenhum centavo, né? A empresa fechou e não pagou ninguém, né? Então, pra gente garantir que ela não ia tirar as máquinas, essas coisas, então a gente ficou lá, num acampamento de alguns meses, né? Então, e foi dali pra frente, meu relacionamento com o sindicato, né? De militar mesmo, de estar ali... Foi a partir de uma motivação pessoal, claro, né? Eu estava desempregada e sem o pagamento, sem nada e... Bom, eu já ia a alguns seminários que eles convidavam muito dessa coisa de saúde, que tinha anterior a isso. Mas, não era, assim, uma coisa de, né? Tinha uma participação já respeitava, achava importante o trabalho que era executado. Mas, eu não tinha, assim, uma...
Aquela coisa assim de falar: "Não, isso aqui é, né?" E isso foi mudando, foi mudando. Eu fui a um seminário de mulheres, organizado pela Oboré, na época, que era, dava uma consultoria nos metalúrgicos de Osasco e pelo Centro de Memória Sindical. E aí, era pra tratar sobre a participação da mulher no movimento sindical. Então, foi assim o meu primeiro sindicato temático, também. Tinha ido a muitos outros, de campanha salarial, de saúde ou pra tratar do problema específico da Meridional. Mas, nunca nenhum temático como esse. Aí, participei, gostei e foi ali que eu acho que meu interesse se tornou maior. Eu me lembro bem. A gente assistiu a um filme à noite, que era o “Norma Rae”, que conta a história de uma mulher que faz toda uma luta numa empresa americana e, enfim, aquela história me chamou a atenção. E aí, eu passei a ficar lá, enfiada dentro do sindicato, participando das coisas. Eu queria saber, né? Então, esse lado sempre tive essa curiosidade, assim, né? Minha mãe e meu pai faziam a gente ir à igreja na adolescência. Então, participava da comunidade de jovens, tinha um centro comunitário no bairro, então, a gente fazia jazz. Então, participação comunitária, ainda que ela não fosse uma coisa muito clara pra mim, quer dizer, não tinha uma ordem política isso. Mas, ela já existia porque estava ali, sempre no meio das coisas. Acho que isso me estimulou a não me sentir, assim, muito inibida de participar das coisas no Sindicato dos Metalúrgicos, já que ali a maioria era homem, né? E não mulher. Quando eu me aproximei ali, não tinha mulher, na diretoria, né, era só homem, então...
P/1 – Voltar só um pouquinho. E quando você teve que falar a primeira vez numa assembléia, você lembra disso?
R/1 – Lembro. A primeira... Eu fui pra chapa do... Aí, bom, a Meridional fechou em abril de 1989 e uma empresa daqui de São Paulo, Mecano Fabril, ela saiu da Mooca e foi pra Osasco, em 1988. Um ano antes. E ela é uma empresa gigante, muito grande, ali no bairro de Presidente Altino, e estava contratando muita gente. Então, na época, foi, assim, mais de 200 da Meridional, estava tudo desempregado. Foi tudo pra lá e eles contrataram. O que já foi muito legal, porque você já entra numa empresa que você tem... Pelo menos, 200 pessoas você já conhecia. Então, isso... E a gente já tinha uma ligação boa com o sindicato e tal. Enfim, eu entrei em junho de 1989, nessa empresa. Dia 6 de junho. E, por conta das relações que eu já tinha com o sindicato, envolvida, eu ia muito nas atividades de saúde – como eu disse – eu comecei a militar pra entrar pra CIPA [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes]. Entrei pra CIPA em setembro e fui eleita vice-presidente da CIPA. E, naquele mesmo ano, a diretoria ia ter eleições no sindicato. E me convidaram pra fazer parte da chapa.
P/1 – O que você fazia como vice-presidente da CIPA, na fábrica?
R/1 – Bom, eu entrei na fábrica na mesma função que exercia na Meridional, que era inspetoria de qualidade. Já era um outro nível, outra coisa, porque lá é autopeça. Não tem nada a ver com o que a gente fazia lá. E era uma empresa de mil e 600 funcionários, gigantesca, com duas plantas, muito grande, né? E o meu setor era um que chamava DBC, então ele trabalhava com aquelas... Hoje já extinta, né, porque tudo é eletrônico, mas eram umas bombas pra carburador, pra distribuição. E também tinha um problema de muita insalubridade. Até porque a empresa estava se adequando ali e tal. Então, tinha muito ajuste pra fazer, ainda. Muita gente, pouco treinamento. Então, o pessoal se machucava, o cabelo das meninas enrolava nas furadeiras. Era um negócio, né? Então, tinha também uma ação muito forte do sindicato. E como era uma empresa nova ali, eles queriam compor grupos que tivesse ali com um pouco mais de ação comum com o sindicato. Então, já tinha um delegado sindical lá dentro, né? O Gilberto, conhecido como Ratinho, já estava lá, como delegado. E então, ação da gente, era um grupo de 16 cipeiros, por conta do número de empregados, né? Então, era bastante gente. E era por setor. Então, eu era a responsável pelo meu setor e, como vice-presidente, eu estava numa esfera também de representação, por parte dos trabalhadores, nas questões da CIPA. Porque o presidente era indicado pela empresa, naquele período. Então, o nosso trabalho era poder estar identificando o que a gente entendia como problemas inerentes à saúde, se eles estavam iminentes. Então, a gente começou a ser um pouquinho também uma pedra grande no sapato, porque, por esse lado, o sindicato fez um treinamento muito bom com a gente. E como eu já vinha de uma ação de uma empresa que trabalhava muito com isso, foi fácil pra mim me familiarizar. Inclusive, com equipamentos e máquinas que eu nunca nem tinha visto na minha vida, né, então... Então, meu trabalho era esse, mas eu tinha que desempenhar a função produtiva, como toda a empresa faz, óbvio, né? E isso não, na verdade, na maioria das vezes não dava muito certo. Sempre tinha conflito, né? Ou com o chefe ou com o gerente. A CIPA, ela é um instrumento importante dos trabalhadores, mas as empresas quando não têm uma política, mesmo, que pense a qualidade, do trabalho, ela não vê isso como um instrumento. Ela vê isso como um empecilho pra produtividade. Então, deixa o pessoal trabalhar, esse negócio todo. E era um pouco a linha do meu patrão na época. Ele era alemão, o Walter Strobel, ele era terrível, esse homem, hoje ele já melhorou muito. Mas, ele era terrível. E uma empresa desse tamanho, então ele achou que tinha que lidar ali com as pessoas, então teve muito conflito. Muito conflito, mesmo. Foi difícil, por exemplo, pro pessoal que veio da Meridional se adaptar a isso, porque você vinha de um ano inteiro quase de não sei quantas mobilizações, porque não pagava o salário, "nós parava", não pagava o salário, "nós parava". Até que parou de vez, até que ficou todo esse tempo acampado, então tinha uma união, né, desses 200. Nem todo mundo conseguiu se adaptar muito ao esquema na Mecano Fabril ficava ali por uma necessidade. Eu fiquei, no princípio, pela necessidade. Mas, aí o salário era menor, inclusive, do que o que a gente ganhava na Meridional, né? Mas, aí, já filho, responsabilidades. Então, assim, a primeira vez que eu tive que falar com o pessoal foi pro pessoal votar em mim, [RISO] Porque depois que você ganha, né? O sindicato ajudou, fez uns mosquitinhos, tal.
P/1 – Mas, espera aí, vamos voltar um pouco. Como que o sindicato chegou em você...pra chamar você pra entrar na chapa, como foi isso?
R/1 – Bom, eu já tinha essa relação com alguns diretores do sindicato por conta da Meridional. E como ele...
O sindicato é dividido por regiões, né? Então, em Osasco, os responsáveis ali era o Clemente, o Roberto, o Magrão – que ele era o presidente do sindicato – tinha o Jair. Quer dizer, era um grupo de pessoas ali que era responsável por aquelas empresas ali. Então, já tinha relação com uma parte desse pessoal. Seja por conta deles irem à porta da fábrica, ou de alguns seminários e encontros que eu acabei participando. Então, na medida em que você tem um relacionamento que se estreitou, né, a gente tinha um processo. Então, eu estava sempre lá no sindicato. Eu saía do trabalho, eu ia lá, né, pra ver como é que estavam as coisas, a gente tomava um café, conversava e tal. E aí, surgia assunto de tudo, não era só da Meridional. Conversava das coisas, da situação dos trabalhadores... Eu fui me interessando por essas questões das mulheres e tal, né? E creche, porque eu tinha filho. Então, o pessoal viu em mim um interesse, um potencial, né? Eu não tinha muito problema de falar com as pessoas. E aí, então, para uma composição de chapa, o sindicato estava com uma base de mais de 50 mil trabalhadores. Então, era bastante grande, né, a base dos metalúrgicos. A Mecano Fabril era uma empresa nova, com mil e 600 funcionários, em que eles viram a importância de você ter uma representação lá dentro, né? E aí, pelo fato de eu ter tido essa vitória como cipeira, né? E ter... Pô, eu tinha acabado de chegar na empresa, então, você logo ser escolhida pra ser vice-presidente. Porque você é eleita e depois o próprio grupo te escolhe, né? Claro que pessoal fez um trabalho ali, pra, né? O delegado na época, o Gilberto, ajudou muito. Então, na verdade, ele foi meio que meu fiador, né? Ele já era um funcionário de 15 anos da empresa. Eu não. Tinha chegado há poucos meses. E enfim, isso em setembro. Mais ou menos novembro. Não, outubro, que eles já estavam fazendo, né, alguns... Vendo aí quem que ia compor e tal, eles me chamaram conversar comigo pra saber se eu teria interesse e tal. Eu falei que eu teria, eu não entendi muito bem o quê que era, né? Qual que era o meu papel.
Mas eu falei que teria sim, que eu achava que eu podia contribuir que eu podia colaborar, né? E isso se concretizou em novembro. Então, a empresa, na época, ficou muito brava. Porque eles acharam que eu tinha sido infiltrada lá dentro, já com todo o negócio já estava todo planejado, né? Porque ninguém entra na empresa em junho, no final do ano está dirigente sindical já. Então, isso é, né? Então, foi bastante... Aquela eleição foi uma eleição ainda em que o sindicato tinha oposição com a chapa da CUT. E nossa, também foi meus primeiros embates, né? Foi tudo aprendendo assim, meio que... Nada teve assim um preparo, entendeu? Tudo chegou e: "Bom, tem que fazer". Então, foi também a minha primeira vez que eu tive que ter embates políticos, né, de divergência de idéias ali. E...
P/1 – Teve algum específico, assim, que ficou marcado?
R/1 – Teve, mas não na própria empresa que eu trabalho, né? Não tinha um candidato da oposição dentro da Mecano Fabril. Como era uma empresa grande, foram convidadas duas pessoas: eu e o Gilberto, o Ratinho. Que já era o delegado sindicato, pra fazerem parte da chapa. Era uma chapa gigante. Acho poucos sindicatos trabalham com chapas tão grandes hoje. Não existe mais isso. Mas, naquela época, 75 pessoas. É uma coisa monstruosa, né? E eram 71 homens e 4 mulheres. Uma desproporção, assim, terrível. Mas, enfim, era uma forma de fazer com que o maior número de empresas possível tivesse representação sindical, né? Do sindicato. E no período de eleição, em que você está ali, né? Material, essas coisas todas é claro que a gente tinha tido uma orientação ali de não ter uma exposição muito... Porque você está num período eleitoral, como candidata, você não tem estabilidade. Eu tinha porque eu estava na CIPA, né? O Gilberto, ainda que fosse um delegado reconhecido pela empresa, não havia nenhum tipo de acordo formal que desse garantias pra ele e ele não era da CIPA. Então, tinha que ter todo um jogo de cintura ali, especialmente com o tipo de patrão que nós tínhamos, né? Então, eu admito que acabou acho que sendo meio que um golpe mesmo, sabe? Uma rasteira que a gente conseguiu dar nele e que deu certo. Mas, enfim, a gente estava entregando uns jornais, uma certa manhã, chegava muito ônibus de São Paulo, né? Porque a empresa ainda manteve a maior parte dos funcionários de lá. Eram mais de 600 que vinham de São Paulo. Os outros mil compunham, uns mil compunha, aqui gente da região, né? De Osasco e região. E o pessoal da chapa dois chegou, com um carro lá de som e tal. E começou a fazer, né, o corpo a corpo, ali com a turma. Eles tinham uma moça que também era da chapa e tal, e aquela estratégia, né? Vai pra porta ali, pra fazer. E aí, foi a minha primeira, vamos dizer assim... O sindicato tinha marcado uma assembléia, né? Na verdade, nós não íamos falar porque não era representante ainda do sindicato. Estava na eleição. Mas, no calor que eles estavam lá com o carro ligado, do lado e tal, o sindicato, né: "Vamos começar a assembléia e tal." E deu a palavra pra mim e pro Gilberto fazer uma campanha, né? Porque que a gente achava importante a chapa 1, né? Porque que a gente estava apoiando a chapa 1 e tal. E aí, foi a primeira vez que eu falei com, assim, com um grupo tão grande de trabalhadores. Estava todo mundo no pátio, né? Isso sempre foi uma característica que eu gosto muito dali, eu não sei do sindicato em si e do método que os metalúrgicos de Osasco têm. Os trabalhadores ficam pra ouvir, entendeu? Então, tem lugar que é difícil, né? O pessoal não sai, tem todo um medo. Mas, não, lá fica, entendeu? Então, estava aquele mar de gente, pra ouvir você falar ali. Eu falei: "Meu Deus, e agora o quê que eu vou falar, né? Falo o quê pra essa turma?" Falei: "Bom, vou dizer do quanto eu acho importante o sindicato porque ele teve um papel fundamental pra que a gente pudesse garantir os direitos na Meridional." Então, eu só pude falar aquilo que eu conhecia. Não podia falar o que eu não sabia. Então, falei: "Bom, eu vou vou falar disso, porque eu acho que isso é importante, né?" Então, foram 400 e tantos trabalhadores. Nós temos hoje um processo. Só ali tinha mais de 200. Então, isso. Minha turma estava ali e me deu força, me deu apoio, né? Enfim. Então, aí foi a minha primeira, foi minha primeira manhã de núpcias com o sindicato foi assim. Foi um embate na porta da fábrica, por conta da chapa de oposição que estava lá.
P/1 – A partir daí, qual que foi a sua trajetória sindical?
R/1 – A partir daí, como eu sou xereta mesmo, vou me envolvendo nas coisas. A gente, então o sindicato tem vários departamentos na época, chamava de departamento. Então, tinha departamento da mulher, departamento de saúde, departamento disso, disso e daquilo. Então, eu participava em três, de educação, o de saúde e o da mulher, pela obviedade. Nós éramos um grupo de quatro meninas, então tinha que cuidar dessa parte. Então, a gente fazia planejamento de trabalho, do quê que ia fazer. Então, os seminários, os encontros eram da nossa responsabilidade de estar ali, fazendo. Por outro lado, o sindicato iniciou uma ação de formação conosco, também. Então, fazia oratória, né? Os centros de memória, a gente fez muitos cursos, com a Oboré Comunicação. Nós fomos fazendo curso e o sindicato das costureiras fazia uma ação formativa com a CLAT e abriu umas vagas e a presidente lá na época – já era a Eunice – falou com o Magrão e falou: "Olha...
P/1
– O quê que é CLAT?
R/1 – CLAT?
CLAT é uma organização latino americana, [Central Latinoamericana de Trabalhadores]. Ela existe até hoje e ela... Hoje eu sei que ela tinha envolvimento com algumas organizações, centrais sindicais já, né? Que já se constituíram em outros países e tal. E ela fazia uma composição latino americana disso. É uma organização. E ela atuava aqui no Brasil com alguns sindicatos. As costureiras era um deles. Eles tinham um trabalho de formação para mulheres dirigentes, jovens mulheres dirigentes. E a Eunice tinha uma chapa, uma diretoria que 80% era mulher e tudo nova, também chegando. Ela abriu umas vagas pra Osasco e o Magrão mandou todas as diretoras fazer o curso, né? Fui me familiarizando também com outras ações que estavam fora do sindicato. Então, isso foi o período de 1990, eu ficava dentro da fábrica e quando achavam que eu tinha, né, ou tinha curso, ou tinha atividade, eu era desligada da produção pra desenvolver essas ações. A maioria das atividades do sindicato era à noite ou eram nos finais de semana. Então, quase todo fim de semana eu estava envolvida com esse tipo de atividade. Acho que eu tive muita, muita sorte porque eu tive um apoio grande da minha família, né? Eu já era mãe. Então, mas tinha ali, uma família que me dava um suporte pra eu poder ficar também tanto tempo fora. E como aquilo tudo era muito novo, eu fui ansiando muito por aquilo, então eu me envolvi, sabe? Um mergulho mesmo. Então, as minhas ações no sindicato tratavam disso. Eu tinha uma representação das questões internas da Mecano Fabril, que eu tinha que levar pro sindicato, e essas ações de departamento, né? Que a gente, assim, dos que a gente tinha mais familiaridade ou que queria participar. Eu participava desses três: educação, saúde e das mulheres. Bom...
P/1 – Como é que você foi parar na Força Sindical?
R/1 – Pois é, então, Osasco, Guarulhos e São Paulo eram três sindicatos de metalúrgicos que tinham uma tradição de negociação (com o,?) então, grupo da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), né? Então, todas as negociações de campanha salarial eram com esses três sindicatos. Eles, né, se juntavam e toda a data-base se compunha ali com esses três sindicatos. Não havia uma discussão integrada com a Federação na época, né, dos metalúrgicos. E esses três sindicatos também não tinham filiação nenhuma com... Nem com a CGT [Central Geral dos Trabalhadores] e nem com a CUT [Central Única dos Trabalhadores]. O Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco já havia sido filiado à CUT, acho que ficou filiado uns 6 meses, mas bem no início da CUT. Em 1980 alguma coisa. Mas, foi muito pouco tempo e logo se desfiliou. Então, a aliança e ação de co-irmãos desses três sindicatos era muito forte, né? Então, em quase tudo. Não só na campanha salarial, mas em várias ações que se desenvolviam de conjuntura ou específicas com a diretoria, ou com a base. De vez em quando juntava. Tentava juntar as categorias pra fazer coisas em nível intersindical com as três bases. Então, já havia uma discussão interna de pensar uma ação mais ampla e que olhasse pra essa conjuntura nacional numa alternativa às centrais que já existiam. Isso foi de uma iniciativa muito dos metalúrgicos de São Paulo, a gente sabe, né? Mas, que foi também assumida por Osasco, Guarulhos e outros sindicatos de outras categorias. Então, o Magrão, na época presidente do nosso sindicato, teve uma participação desde o processo de construção mesmo, de pensar o quê que seria essa Central e tal. E todas as ações que demandavam construir uma Central, como buscar os apoios, as articulações. Tanto nacionais, né, no território nacional, com as categorias que estavam independentes, quanto buscar os apoios internacionais, com o movimento sindical internacional. Paralelo a isso, isso, falando numa esfera, num nível de articulação política grande que tinha disso. E junto com isso, vinham os outros movimentos. Então, assim, tinha o das mulheres também, né? Então, eu tinha uma atuação forte nisso. Desde que eu cheguei ao sindicato, eu fui participar, fui saber o quê que era Conselho Estadual da Condição Feminina, fui pra conselho disso, conselho daquilo pra conhecer. E pra tudo quanto era lugar que tinha, por eu ter uma facilidade de sair da fábrica, o sindicato me indicava pra participar. Ainda que eu ficasse ainda no setor produtivo. Então, naquela época, as mulheres ligadas a alguns sindicatos também estavam se reunindo. Era buscar aí o apoio dos segmentos também representativos de dentro das categorias. E eu fazia parte desse grupo de mulheres, que também estava pensando e discutindo essas alternativas, pensadas pra uma nova Central. A Força foi criada, foi fundada em 1991, em março de 1991. E a gente fazia a composição dessa construção. Então, o Magrão, na época, que era o nosso presidente, foi o indicado como secretário de formação na época, da Central. Nós não tínhamos cargo, a gente participava das ações no grupo de mulheres, particularmente falando. Tinham outros diretores nossos, mas que estavam envolvidos em outras áreas: formação. Aí, já estava já iniciava uma discussão da qualificação profissional, essas coisas. Bom, a minha militância na Central veio com essa direção assim, né? E eu fui participando desses conselhos, fui, acho que, né, tendo um trabalho que conseguiu ter um reconhecimento. A gente conseguiu fazer algumas coisas muito legais. Mas, eu fiquei até 1997 sem nenhum cargo formal dentro da Central. Ainda que já fizesse representação dela em muitos lugares, eu não tinha, assim, nenhum cargo de representação. Fui ter esse cargo de representação em 1997, por uma ação que eu me envolvi com a juventude. E aí, eu fui eleita secretária nacional pras questões da juventude. Na Central, eu fiquei com esse cargo quase até 2000. Aí, falei: "Vou aposentar, né? Que agora [RISO] não dá
pra cuidar mais de juventude. Agora vou pro os aposentados.
Então, passei o bastão, mas a gente conseguiu fazer também um bom trabalho, eu acho, né? E veio toda uma evolução, não só interna de participação na Central. Então, o meu sindicato tem uma influência grande lá dentro, tem quatro cargos, todos eles são executivos, então têm um peso bastante razoável - vamos dizer assim - dentro da Força. E é isso,
aí a gente, todas as ações que a gente tem feito procuram trabalhar pra uma contribuição. Acho que é importante dizer que lá em Osasco, antes dessa discussão da Central, sempre teve uma peculiaridade de buscar uma articulação que contemplasse todo mundo. Então, eu tive a oportunidade de participar de alguns eventos no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, que botou na mesa Medeiros com Vicentinho, com não sei quem. Quer dizer, todas as tendências ali sentadas porque estavam discutindo uma coisa que estava olhando pros trabalhadores e não pras divergências ideológicas que tinham. Então, acho que Osasco tinha essa peculiaridade e por respeitar as tendências também, sempre teve um trânsito muito bom. E a outra coisa é que essa composição de 1990, dos metalúrgicos de Osasco, apontou para um outro direcionamento no nosso sindicato. Então, teve um acordo – vamos dizer assim
– tinha a chapa chamada Alternativa, na época, que depois fez composição com o sindicato. E hoje, então, inclusive é o Jorge que é o presidente que era o encabeçador dessa chapa Alternativa. Então, assim... E eram pessoas com outras tendências, né? Então, já mais ligadas também a partido político, né? Tinha uma militância que não era só sindical, mas também partidária. E deu, então, um outro salto, foi um outro direcionamento, na verdade, pros metalúrgicos de Osasco.
P/1 – Isso tudo, essa trajetória, você foi lá pra Força, depois como que era isso?
R/1 – Então, eu, no sindicato, eu iniciei ali no que eles chamavam de conselho consultivo. Ele não tinha nenhuma base legal consultiva, esse conselho.
P/1 – Quer parar?
R/1 – Ah, eu quero tomar uma aguinha, só um minutinho.
(interrupção)
P/1 – Então, Mônica, você estava falando dessa sua trajetória, né? Que você estava na Força.
E como é que foi de lá pra cá, então?
P/1 – Acho que as duas coisas, elas caminharam muito juntas. Na medida em que eu fui conquistando meu espaço no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco eu também fui conquistando meu espaço fora, na ação sindical, no movimento sindical. Elas caminharam juntas. Então, eu comecei no conselho, no sindicato e na Central, eu fazia parte de uma coordenação de mulheres que estava ali, atuando, tal. Então, a gente procurava participar de tudo que fosse possível da vida da Central. E não só única e exclusivamente em questões específicas das mulheres. Então, era viver mesmo a construção da Central, participar das idéias, discutir, debater, tudo aquilo que a gente entendia que também podia estar contribuindo. Isso não se restringia a temas específicos. Eu acho que os temas específicos são importantes. Eu sempre defendi isso. Mas, eu acho que a importância deles está exatamente quando ele se coloca no todo. Se ele é sempre escolhido só por aquele pedaço, eu acho que ele não ganha tanta força. Eu não sou muito favorável. Então, mulher tem que discutir coisas de mulher. Eu não sou favorável a isso. Eu acho que as coisas têm que ter um começo, mas elas têm que estar inseridas. Então, a gente procurava fazer isso. E é claro que na medida em que você vai tendo essa experiência, você vai convivendo, vendo a experiência do trabalho, também, dos outros, a tendência é você... Você vai agregando, vai crescendo. Eu acho que foi um pouco o que aconteceu comigo, esse crescimento. E que eu procurei retribuir. Acho que dentro do meu sindicato porque eu acho que é uma experiência única. Eu acredito que, assim, no processo de formação, eu não tenho curso superior, mas acho que meu processo de formação nessa vida foi tão rico que nenhuma faculdade me daria. É claro que ela é importante, obviamente é muito importante. Mas, foi de uma riqueza muito grande. E eu procurei aproveitar tudo o que foi e procuro ainda, né? Aproveitar tudo que foi possível, de buscar o conhecimento, a história. A história do movimento sindical é muito... Ela é importante, mas eu costumo chamar ela de bonita. Eu acho bonita a história do movimento sindical brasileiro. Apesar de todo, que a gente sabe que foi pra ela ser o que é hoje, né? Nem está do jeito que a gente queria. Mas, enfim, ainda assim, eu acho ela muito bonita. Então, foi uma questão de paixão mesmo, entendeu? De me identificar com esse tipo de trabalho e tentar retribuir aquilo que eu também, que está acumulando pra mim como pessoa. Então, eu acho que esses crescimentos vieram dessa forma, no sindicato, na medida em que eu consegui executar um trabalho, fazer uma construção de buscar sempre o fortalecimento da nossa categoria, eu fui crescendo dentro do sindicato. Então, são quatro mandatos que eu tive até o momento e então, fui passando por esse... Saí do conselho consultivo, pra ir pra suplente da diretoria. De suplente da diretoria, eu fui pro conselho fiscal. De conselho fiscal, eu fui pra primeira secretária. E hoje, estou como secretária geral. Já é o meu quarto mandato. Também comecei muito nova. Então, quando eu tomei a primeira posse minha, foi no dia que eu... Uma semana antes de eu completar 22 anos. Então, a eleição foi em dezembro e a gente tomou posse... [TOSSE] Desculpa. A gente tomou posse em março que é o mês do meu aniversário. Então, dia 29 é o aniversário, a gente tomou posse dia 23 de março. Então, veio essa... Veio junto esse crescimento. E com a Central foi a mesma coisa. A mesma coisa. Eu estava dentro da fábrica, até que houve um momento em que as minhas atividades sindicais eram tantas que nós tivemos uma discussão e vamos ter que desligar da produção. Então, eu fui desligada da produção da minha fábrica desde 91, final do ano, na verdade, quase. Meio do ano, eu fui desligada das minhas funções produtivas e fiquei no sindicato por tempo indeterminado. Estou até hoje.
Nunca mais voltei pra minha atividade produtiva mesmo, de profissão. E aí, também, isso possibilitou obviamente um crescimento mais. Você está ali, todo dia. É diferente de você fazer, depois você vai pra fábrica. Então, o crescimento era constante. E na Central, além desses debates que a gente estava participando, a Central tinha, vinha num franco crescimento de filiações, de expansão no território nacional, foi havendo um reconhecimento da Força Sindical. Foi um trabalho árduo porque como o nascimento de toda e qualquer coisa, você passa ali por todo um crivo de credibilidade, de realmente estar ali buscando consolidar alguma coisa. É uma Central que trabalha com um “monte de P”. Eu falo de um monte de P porque ela é pluripartidária, ou seja, as pessoas têm várias tendências. Então, tem todos os Ps ali representados e isso por um lado é bom, é democrático, facilita muita coisa. Por outro lado, dificultam muitas outras, a gente... Como todo lugar. Então, no sindicato já é, ainda aqui, também tem essa peculiaridade mais, né, essa diversidade assim, ela é muito menor. Então, acho que isso também é uma outra... Uma coisa que chama a atenção. Porque com a vinda nossa, desse grupo pro sindicato – como eu disse, né? – Apontou pra uma outra direção. Era uma diretoria jovem pra época. Pros padrões sindicais de média de idade. Então, a gente era... A maioria tinha da minha idade até 25, 27 anos. Então, com um período de mandato, a nossa média de idade nos metalúrgicos de Osasco, era 35 anos. Então, extremamente jovem para os padrões, né? Que a gente sabe que olhava pra essa coisa da participação sindical e a participação política partidária. Então, era um outro formato, então... Na Força, nós vamos dizer que somos um pouco da ala força esquerda, porque a maioria da diretoria dos metalúrgicos de Osasco é ligada a partidos de esquerda, então... Mas, tem uma convivência tranquila, vamos dizer assim, no que diz respeito às ações. Porque ali o que está influindo são as discussões sindicais, então...
Então, o convívio é tranquilo nesse sentido. Então, eu acho que isso chamou muita gente pra dentro da Força. Sindicatos de história muito relevante no movimento sindical, que tem um papel, né? Que tem toda uma ação reconhecida pela sociedade. Então, é uma Central nova, mas que possibilitou crescimento. Então, acho que nesse sentido também foi a forma que eu também encontrei de buscar também o meu crescimento. Acho que todos que participam ali tiveram essa oportunidade. Então, eu estava, já tinha ligações com essas áreas todas que eu te falei. Estava muito mais voltada a indicações do próprio sindicato, mas que acabaram se consolidando a partir da Central porque também houve um novo eixo, em que você passa a ter uma representação do ponto de vista institucional que não é mais do sindicato local e sim da sua representação nacional. Então, é difícil hoje um sindicato estar desfiliado de uma organização nacional. Porque as coisas estão discutidas ou estão consolidadas num outro nível. E você tem que estar ali, né? Então, essas participações que eu tinha nos conselhos estaduais, na verdade, que é uma coisa mais... Se consolidaram na Central com a ratificação da Central em optar pela, em alguns momentos, pelo meu nome pra estar ali, representando a Força em algumas coisas. Então, eu me dividia nisso, com essa ação, com a juventude, que foi um trabalho ao longo de dez anos, que eu me dediquei bastante pra esse grupo. Acho que pela identificação exatamente por eu ter tido uma oportunidade, muito jovem de estar entrando. Isso me marcou bastante e eu achei que a gente tinha que pensar uma política que pudesse olhar pra esses quadros, ter uma linguagem pra esses quadros também, que pudesse dar continuidade pra esse movimento depois. Em nível mundial, o movimento sindical é um movimento sindical envelhecido, que não olha pros quadros novos, que não olha as tendências. Então, se você não se prepara pra isso, nós podemos ter aí problemas bastante sérios pra estar resolvendo lá na frente. Então, essa ação fez parte da minha vida sindical por muito tempo, né? Que era trabalhar com a formação dos novos quadros, que era buscar meios de atrair a juventude pro movimento sindical. E a gente, nesse trabalho, houve uma ação aliada muito forte com a CUT, com a CGT [Comando Geral dos Trabalhadores]. Eu conheço muitas pessoas dessas centrais, que eu respeito muitíssimo, são eu posso chamar de companheiros de trabalho, em muitos momentos que a gente teve. E, particularmente, na juventude, foi uma ação articulada por muitos anos, né? Porque a nossa organização sindical internacional comum, da qual as três centrais são filiadas – aí, estou falando da CUT, da CGT e da Força.
P/1 – CIOSL [Confederacion Internacional de Organizaciones Sindicales Libres]?
R/1 – A CIOSL tinha uma ação muito concreta, de investimento no mundo inteiro. Mas, particularmente na América Latina, no continente latino americano, com a juventude. Então, a minha ação sindical internacional, ela se deu através do tema juventude. Então, fiz parte do comitê mundial da juventude, como grupo e depois como vice-presidente eleita. E eu fui, por um mandato, parte desse comitê, que permite a representação até que você complete os 35 anos. Foi quando eu me aposentei. Um pouco antes eu aposentei, na verdade, da juventude, do tema, da representação e não do tema. Então, foi onde extrapolou a minha participação ali, do Brasil. Então, tive essa oportunidade de levar aí, essa representação. Porque aí já não era só da Força, mas de toda a juventude brasileira. E isso me honrou muito, foi uma experiência muito boa de trabalho, de ver como é que os outros países trabalham naquilo que a gente, no Brasil, é extremamente avançado e naquilo que o Brasil é extremamente atrasado, do ponto de vista da organização mesmo.
P/1 – Então, você chegou a ir num evento fora do país?
R/1 – Muitos. Muitos eventos.
P/1 – O primeiro, assim, você lembra como foi você sair do país?
R/1 – O primeiro foi indo pra Noruega.
P/1 – Como foi isso, num outro país, frio , né?
R/1
– [RISO] Foi uma coisa de louco. Foi uma coisa de louco porque esse grupo, a CIOSL fazia encontros regulares. Era um grupo ainda, estava se articulando representações a nível mundial pra buscar um espaço... Espaço inclusive estrutural, dentro da organização da CIOSL.
Então, você tinha que ter toda uma articulação. Então, inclusive, quando começou esse trabalho, ele era vinculado às questões de gênero. Ou seja, o grupo, o comitê de mulheres é que também cuidava das questões de juventude. Então, eles investiram em alguns encontros que possibilitassem que jovens lideranças pudessem estar ali, pensando num plano de representação que se consolidasse no congresso da CIOSL.
E diferente do nosso modelo de discussão, de articulação e de congresso, quando se vai a um congresso internacional, particularmente da CIOSL – eu pude participar de quatro, dos congressos que eles fizeram – tudo já é muito consensuado porque ele foi construído antes. Passa-se quase um ano debatendo as teses e as articulações. Então, você vai, você vai pra ratificar quase, só isso. Diferente da gente aqui que chega pro congresso, aí é aquela briga, aquela “brigaiada”, aquelas coisas. Lá não. Lá tem essa parte que eu considero, inclusive, muito mais evoluída. E então, tinha esse encontro, organizaram um encontro em Oslo, na Noruega. E aí, com as representações nacionais das três centrais. Eu nunca tinha saído do Brasil, eu nunca tinha ido pra lugar nenhum, pra falar a verdade. No limite, o meu raio tinha sido Rio e Paraná. E aí, bom, tudo bem, vamos, pra lá. Meu inglês era péssimo, aquele do colégio. Então, portanto, muito pouco ele me ajudaria, né? "The book on the table" era o máximo, né? E, enfim... Mas fui. A gente tirou, foi indicado aqui no grupo. E fomos eu e um... Quatro pessoas, na verdade. [RISO] Foi muito louco. Tinha, estava ali, tem toda uma estrutura pra te atender, na sua... Então, as línguas oficiais na CIOSL são inglês, francês e espanhol. Então, tinha que me virar no espanhol. Então, começamos com o portunhol e depois fomos nos familiarizando mais com o espanhol. Aí, fui fazer curso, né? Aí, montamos um grupo de inglês pra fazer inglês. Então fiz inglês, pra poder me virar melhor. Hoje não morro mais, posso... Não morro em lugar nenhum mais, me viro bem. Mas, foi interessante porque foi a primeira vez. E bom, eu tenho um, não sei se é o jeito, a cara, pode ser a cara. Na primeira viagem, eu fui parada na alfândega. Aí, o policial, o oficial falava inglês. Eles têm uma língua própria que é, assim, uma coisa que você não consegue, eu nem consegui identificar. Porque é consoante com consoante, não tem explicação, né? Mas é um povo muito caloroso, eu achei. Não tem muito saco de abraçar, mas ainda assim são hospitaleiros, né? Diferente da gente, latino. Então, nós tínhamos um apoio com a ORIT [Organizacion Regional Interamericana de Trabajadores], que é a nossa regional aqui, que também estava lá. É por isso que tem esse suporte em espanhol. Então, fui parada e eu fui... E agora, eu falei: "Agora, pra me explicar é que vai ser uma beleza". [RISO] Era pra ficar frustrada, né?
P/1 – Então, você foi parada na alfândega?
R/1 – É, fui. Antes de pegar as malas, inclusive. [RISO] Aí, bom, logo na primeira assim é pra traumatizar, né? Fiquei gelada, muito gelada. Quer dizer, era a minha primeira viagem de avião tão longa, né? Horas ali, sentada, os pés incham, aquela coisa toda. Dez horas de viagem. Então, bastante. Você chega toda amassada, a cara toda torta. Aí, ele, eu consegui compreender que ele queria saber pra onde é que estava indo. Eu falei: "Agora, danou-se, né?" [RISO] Agora tem que que...
Os meus colegas não tinham sido convidados, apenas eu.
Eu vi também um casal, com um filho, vietnamita, se dirigindo pra mesma portinha que eu. Eu falei: "Bom, vou ser presa, né? Não vão deixar eu entrar. Eu não sei o quê que será que eu fiz? Será que eu fiz alguma coisa?" Você fica ali. Fiquei bastante apavorada. A gente tinha uma pasta e aí, eu mostrei o convite. Eu estava lá, com aqueles montes de papel, fui tirando tudo que eu achava que podia explicar a razão de eu estar ali. E eu tentei da forma mais tupiniquim possível de dizer que eu estava indo pra um encontro de jovens em Oslo. E que tinha uma organização do lado de fora me esperando e que se eles precisassem, eles que confirmassem com a organização, né? E lá, a Central é a LO (Landsorganisasjonen i Norge – Central Sindical da Noruega). Muito forte, reconhecida. Na verdade, só tem ela, né? Então, o sentido de organização deles é muito grande, então...enfim, mas acho que os papéis deram conta de dizer o quê que eu estava fazendo lá.e...ele foi gentil, ele não foi. Mas, mesmo assim, né, sempre fica aquele frio, né, de... Enfim, foi a minha primeira experiência. E ficamos cinco dias lá, fazendo essa articulação toda. No segundo congresso da CIOSL é que nós conseguimos consolidar o comitê mundial da juventude, conforme os outros comitês. Que lá, eles trabalham por comitês e não por, né? Então, é um comitê mundial e depois ele se ramifica pelas regiões. Que aí é Europa, Ásia, África e latino americana né? Então, aí eu fui escolhida pra vice-presidência do comitê mundial, para o continente latino americano, por um mandato. Eu acho que foi, assim, de uma importância muito grande pra nós do Brasil. Porque eu acho que a gente conseguiu trazer muitas ações aqui pro Brasil, importantes pra formação. E que consolidou muitas ações que as centrais brasileiras faziam. E aí, nisso, por incrível que pareça, nós somos muito mais avançados do que eles. Tirando a Europa, em alguns aspectos. Mas, de todas as regiões, o Brasil é mais avançado, ainda que nós mesmos achemos que não. Então, nós temos muito ainda pra avançar nisso. Então, acho que avançamos bastante. Inclusive, especialmente, nesse último governo. O Brasil não tinha uma política de juventude, não tinha nem um ministério pra isso. Então, todas as conferências mundiais que aconteceram pra tratar do assunto, o Brasil nunca teve uma representação oficial, governamental, que representasse as políticas brasileiras. Então, sempre foi uma vergonha pra nós, jovens do Brasil, que íamos às coisas e nunca tinha... Não tinha um ministro, não tinha uma política consolidada ali, que você pudesse apresentar. Levava inúmeros relatórios, mas não... E aí, a gente procurou se articular muito com a CUT, com a CGT, nesse trabalho. E fazendo um rodízio entre nós, que é a prática que nós temos, de rodízio em algumas representações institucionais em que prevalece uma única representação, né? Quando não se consolidam as três.
P/1 – Uma coisa, Mônica, nessa sua trajetória toda, sindical, de militância, que evento, assim, que você descreveria, que te marcou, que chegou a te arrancar lágrimas, que você não esquece?
R/1 – Tem um monte [RISO]. Tem muitos, viu? Muitas... teve muitas coisas que me marcaram na minha história sindical. Acho que se eu olhar pro sindicato, eu vou olhar pra uma ação no meu próprio sindicato em que, por a gente ter uma relação com a empresa, minha empresa, não muito boa, na época. Ou seja, não tinha um reconhecimento político da nossa representação. Ele reconhecia pelo direito e não pela legalidade da importância. Isso foi uma conquista de muitos anos depois. E chamamos uma greve lá, no período do Plano Collor. E foram 20 dias, quase, de greve, 17 dias de greve. E foi logo quando o Collor bloqueou as contas, aquela coisa toda. Bom, nós conseguimos... Era uma pauta de reivindicação específica da fábrica, que a gente conseguiu ter êxito muito grande nela. Mas, teve 56 demissões por justa causa. Eu e o Ratinho, o Gilberto, fomos botados pra fora da fábrica. E aí, houve um movimento pra que houvesse o nosso retorno. A empresa aceitou o meu retorno, mas não o do Gilberto. E enfim, a empresa fez algumas, buscou algumas artimanhas, na época, pra me tirar do sério. Porque eu tenho o sangue meio esquentado. Agora, acho que eu estou muito mais "light", mas eu tinha um sangue meio esquentado, então, ela foi buscar ali uma fraqueza pra que eu fizesse alguma coisa ali e... Então, usaram alguns subterfúgios ali, pra ver se conseguia arrancar uma atitude minha ali que fizesse a empresa ter o motivo. E aí, um certo dia, logo depois que eu voltei pra dentro da fábrica. Eu fui até à sala do engenheiro de segurança porque a gente tinha alguns assuntos pra tratar do evento da SIPAT, que é a [Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho], que ocorria. Eu fui falar com ele e ele... A gente conversou e tal, eu saí e como era muito grande, são duas plantas, eu saí pela calçada, né? E estou voltando pro meu setor, o meu patrão, o dono da empresa, me encontrou no corredor,e... Como ele me detestava, né? Não gostava de mim, então ele me perguntou o quê que eu estava fazendo fora do trabalho, né? Porque que não estava trabalhando. Eu fui tentar explicar pra ele, mas ele não estava pra muita explicação, aquele dia. E ele começou a me xingar, xingou muito. E eu fui andando e ele atrás de mim, né? Falando um monte de coisas, falando muita coisa pra mim e... Bom, enfim. a "fábrica" foi parando, né, porque eu andando, ele extremamente nervoso, ele alemão bem altão e eu, baixinha, né? Fica aquela coisa. E ele me xingando, falando um monte, né? "Baderneira". Que eu tinha feito aquilo tudo de propósito, né? Aí, ele falava pra mim quanto que eu queria pra ficar fora da fábrica. Daí, eu falei: "Eu não quero nada. E, ó, para de gritar, porque, né? Você não é meu pai. Não grita comigo, não." E eu fui pedindo, porque aquilo foi me tirando eu do sério também. E eu fui voltando pro meu setor, né? Então, e o pessoal foi parando, né? E vendo aquela... Fica todo mundo estático porque ele ficou tão descontrolado que a impressão que deu é que ele realmente ia me pegar meio pelos colarinhos. Não me pegou. Ele pegou o meu chefe, depois. [RISO] O coitado foi pego pelos colarinhos: "Ah, não deixa ela sair do setor", não sei o quê. Aí, eu estava chegando no meu posto, que era uma mesa de trabalho minha. Eu virei pra ele, falei: "Olha, eu sou diretora do sindicato, sou vice-presidente da CIPA, o senhor querendo ou o senhor não querendo. Isso eu sou de direito, legalmente. Tenho que executar o meu trabalho, não estou deixando de trabalhar. Nunca deixei de fazer o meu trabalho aqui, então não admito que o senhor grite comigo e nem venha falar assim comigo. Portanto, eu estou voltando pro meu setor, vou sentar na minha cadeira e daqui você não vai me tirar. Você não vai me tirar daqui."
Ele falou: "Eu vou tirar você". Falei: "Não, você não vai. A não ser que você me pegue pelo braço." Aí, claro que ele não pegou. Nessa
altura, a fábrica toda estava parada vendo a gente discutir. Aquilo foi terrível pra mim, foi muito terrível. Mas eu acho que eu agüentei bem, sabe, naquele momento. Claro que depois minhas pernas "virou" uma geléia, né? Porque quando ele saiu, eu, até pra respirar eu tinha dificuldade. Eu fiquei muito nervosa, mas foi um momento que me marcou porque os trabalhadores foram solidários comigo. Então, na mesma semana, nós fizemos uma assembléia na porta da fábrica, onde a gente discutiu com o pessoal esse desrespeito dele com a organização no local de trabalho, com a representação. E a gente foi buscar o apoio do pessoal, porque ele ia dar um jeito de me botar pra fora dali de qualquer jeito. Enfim, eu consegui ter os trabalhadores do meu lado, mesmo tendo acabado de sair de uma greve que, apesar de ter saído vitoriosa, resultou 56 demissões por justa causa. Então, que isso hoje está resolvido, mas na época, isso faz com que as pessoas, primeira coisa que você quer manter é o seu emprego. E quando o cara toma uma atitude como essa é pra fazer, pra enfraquecimento, tal. Então, isso foi uma coisa que marcou muito mesmo a minha vida. E assim, e eu tive o apoio do pessoal todo e isso me fortaleceu, na verdade... Apesar da minha inexperiência, eu consegui, naquele momento... Porque se eu tivesse baixado a cabeça, ele realmente tinha pegado no meu braço, porque ele era esse tipo de patrão, não é? A gente teve muitas situações assim com ele. Hoje não, hoje a gente tem uma atitude de muito respeito, é outra coisa, né? É outro nível de discussão. Até porque nós prendemos um diretor da fábrica dele por uma ação de risco iminente ao trabalho, numa ação de saúde e segurança, em que envolveu a Delegacia do Trabalho e o Ministério Público, tudo. E foi muito engraçado nesse dia, porque foi feita uma vistoria e eles tinham tido um prazo pra fazer algumas coisas, não fizeram. E aí, ele tinha essa mania de chamar a polícia, né? Esse negócio todo. E a polícia entrou. O delegado, na verdade, foi lá. Porque pra isso eles atendiam bem, na época. Ah hoje, ainda faz um pouco isso, também. E eles queriam nos botar pra fora. E o promotor tinha mandado filmar tudo. Estava registrando tudo, documentando. E os seguranças tinham que tirar a câmera e a filmadora da gente, né? E ele falou: "Olha, não vai poder, que isso é sigilo industrial, vocês estão, né, está uma invasão, não sei o quê. E vai, vai ter que prender aí esse, né? "
Na verdade, era eu e o Gilberto e o Clemente, do sindicato. Aí, o promotor falou: "Não, delegado, houve então um equívoco aqui, porque eu quero... Cadê o diretor? Quem é responsável pela empresa?" "Ah, Seu Walter não está, está o Ciro." "Ah, o Ciro então, olha, o senhor então faça a gentileza de prendê-lo. Eu estou dando voz de prisão." E o delegado tem que acatar o promotor, né? Nós estamos dando voz de prisão porque ele está colocando os trabalhadores em risco iminente, conforme o código penal". E ele foi preso. E isso teve uma repercussão muito grande. A gente trabalhou em cima dessas informações na mídia muito tempo, por a gente ter conseguido prender o patrão. Se tivesse sido o Walter, teria sido ele o preso naquele dia. Claro que é uma simbologia. O cara foi preso e foi solto no mesmo dia, né? Mas, que ele teve que tocar o pianinho lá, botar os dedinhos, ele teve que pôr, né? Então, isso foi muito, foi muito legal. E isso fez com que a empresa, depois disso, mudasse. Fosse mudando a conduta, né? Mas, até chegar nisso, demorou um tempo, isso foi... (algo cai) Ai, meu Deus. Que susto [RISO]
P/1 – Mônica, a gente viu pela sua trajetória tudo e você... Antes da gente entrar praticamente quando você passou na diretoria do DIEESE [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos]. Antes de você entrar na diretoria do DIEESE, você já tinha ouvido falar do DIEESE? Você já conhecia?
R/1 – Já. Já conhecia o DIEESE, primeiro porque a gente fazia muitas atividades e a maior parte das atividades, quem cobria a parte das informações que se passava nos seminários era o DIEESE. Especialmente, nas campanhas salariais. Então, com o Alex, já foi técnico aqui, o DIEESE fazia toda a argumentação econômica que era apresentada não só nas negociações, mas nos seminários pra ir explicando pros trabalhadores como é que fazia aquelas composições. Era um período de alta inflação, então, um momento muito legal e marcante foi quando a gente conseguiu os 113% de aumento. Tudo bem que o mês seguinte você já não tinha mais os 113, já passava a ser uns 70. Depois, no outro, já era 40. Mas, foi marcante porque foi uma reposição de mais de 100%. E uma assembléia que compôs mais de 15 mil trabalhadores dentro do nosso clube. Então, tem uma foto, assim, de cima da caixa d'água do clube, assim, que está aquele mar de gente assim. Foi uma das maiores assembléias que o sindicato já fez. Então, era época de grandes mobilizações, muitas greves. Porque você ficava todo o tempo correndo atrás do prejuízo. E o DIEESE, nesse período, tinha um papel, quase que fundamental e diário na vida dos sindicatos. Nós tínhamos uma subseção no sindicato do DIEESE. E, então, a familiaridade com o que o DIEESE era, com o que o DIEESE fazia, veio dessa convivência no sindicato e fora dele. Porque aonde a gente ia tinham pessoas do DIEESE ali, falando. Então... E eram muitas, era o Prado, era o Alex, era o próprio Barelli. Quando eu conheci o Barelli, nessa reunião que eu estava até falando, que os metalúrgicos de Osasco fizeram com todos os sindicatos, naquele que estava o Vicentinho, estava esse pessoal todo, o Barelli estava.
P/1 – Você lembra que ano, mais ou menos, isso?
R/1 – Eu não lembro. Eu não me lembro. Foi no final da década de 80. Bem no final... Início da 90. Isso, certeza. E agora não consigo lembrar nem o tema que era. Mas, o Barelli estava lá. E eu sabia que o Barelli era do DIEESE, né? Tinha sido do DIEESE, tal. Nossa convivência maior era com o Alex, na época, né? E depois de alguns cursos, algumas coisas assim que já eram feitos pelo departamento, o sindicato encaminhava à diretoria pra participar. E eu era uma delas que estava sempre interessada de vir, de participar. Então, o nosso sindicato já filiado ao DIEESE há bastante tempo. Acho que quase... Quase desde a sua fundação. Então, assim, pra nós sempre teve uma relevância e uma importância de contribuir com esses departamentos. Porque tem o DIESAT [Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho], o DIEESE são departamentos que prestam um trabalho importante pro movimento sindica. Então, foi assim que a gente passou a ter convivência.
P/1 – E quando e como que foi que você começou a participar da direção do DIEESE?
R/1 – Do DIEESE? Bom, eu tinha feito vários cursos já. O meu sindicato já tinha representação na direção, por outros diretores e... Não na executiva, mas tinha já tido uma participação bastante antiga já. E o que me antecedeu, na verdade, na época, era o Dinacir (Dinacir Francisco de Oliveira). Ele foi diretor aqui. Fez parte da direção, na verdade. E passou à executiva. Foi a primeira vez que o meu sindicato foi pra executiva do DIEESE. Só que o Dinacir se aposentou. Coincidiu com a eleição do sindicato e aposentadoria do Dinacir e ele resolveu também aposentar a chuteira. Então, ele saiu do sindicato, do movimento sindical, na verdade. E aí, precisava indicar uma outra pessoa do nosso sindicato. E a indicação, então, veio a ser a do meu nome porque eu já tinha participado muito das atividades, conhecia muita gente do próprio DIEESE. Aí, na época, já era o Serginho, já tinha uma convivência grande com o Sérgio, com a Solange, Suzana, Nilson e aquela da executiva, da direção técnica, algumas pessoas da direção executiva e ... aí já meio que a maior parte dos sindicatos que são filiados a nós, faziam parte dessa composição e a gente tem um relacionamento. Uma parte também do pessoal da CUT, enfim. Então, eu era uma pessoa que tinha condições por já conhecer o trabalho, por já conhecer uma boa parte das pessoas, ter uma facilidade pra poder vir e fazer a representação e executar um trabalho aqui. Agora, isso também coincidiu com o processo de indicação que ocorre no próprio DIEESE pra presidência, na verdade. E havia um acordo aqui entre os sindicatos. Tinha acordo dos sindicatos, era um acordo da Central, mas como isso também acabou se misturando um pouco. Mas, enfim, havia um acordo em que para se assumir a presidência, era necessário que a pessoa passasse pelo menos um período na executiva. Um período de um mandato, um ano pelo menos, pra poder ter familiaridade que possibilitasse desempenhar a presidência do DIEESE. E surgiu, assim, uma... Na verdade, coincidiram várias coisas. Coincidiu isso que eu falei, da saída do Dinacir, a vinda nossa pra executiva no ano anterior. Então, assim, eu assumi a representação, porque era na verdade o cargo, não do Dinacir, era do sindicato. Então, a gente veio, assumiu o cargo. Coincidiu que chegou ao final do ano, no final do ano ia haver essa transição da presidência do DIEESE. E coincidiu que também havia um acordo interno. Aí, já em nível da nossa Central de que Guarulhos já tinha sido da presidência por duas vezes, e inclusive estava no mandato quando nós viemos. São Paulo já tinha sido presidente também, algumas vezes. Osasco nunca tinha sido da presidência do DIEESE, nem da executiva, pra falar a verdade. A não ser naquele exato momento que a gente... Então, tinha o quê? Pouco mais de... Alguns meses...não tinham completado um ano, na verdade. De executiva. E houve, então, a indicação da minha diretoria, do sindicato dos metalúrgicos de Osasco que, em havendo pleito, que Osasco gostaria de poder estar indicando a representação. E foi um consenso isso na nossa Central. Embora a gente saiba que aqui dentro do DIEESE, não funciona o “espaço” Central, né? Agora, acho que isso deve, inclusive... Tem mudado, né? Mas, aqui, o espaço é dos sindicatos que consolidam o trabalho aqui do DIEESE. Mas, era um acordo tácito, vamos chamar assim. E então, eu já estava vindo em algumas reuniões, em algumas discussões aqui. Chegou no final do ano, com a mudança da recomposição, que aí, no caso, seria da presidência. A indicação de que eu assumisse a presidência foi muito... foi peculiar, né? Porque [RISO], foi muito peculiar porque num primeiro momento a minha indicação não foi aceita, né? Então, a minha indicação não foi aceita pelo conjunto da direção.
P/1 – Quantas mulheres votavam?
R/1 – Aí, não é uma questão de mulheres. Aí, é os sindicatos, né? E esse, inclusive, é um problema no DIEESE, que eu considero, porque não tem muitas mulheres na direção do DIEESE. Os sindicatos costumam indicar muito os homens e às vezes, isso inclusive porque são os homens que estão em alguns cargos de direção que se entende que são cargos mais em condições de representações fora. Então, isso significa duas coisas: que as mulheres não estão nem nos cargos das direções dos sindicatos e isso se repercute no DIEESE e assim vai....na Central e por aí vai...Então, esse é um problema. O DIEESE também, infelizmente, ainda, isso ainda se reflete. Nós somos poucas e, na verdade, agora, menos ainda, porque eu saí, né? A minha representação, hoje, é de um diretor, é um homem inclusive que está no meu lugar. Então... Bom, mas enfim, naquele período, então, a votação, ela é feita pela direção nacional que faz a assembléia daquele período. E embora a gente, de novo, reforce que as ações sejam dos sindicatos, sempre também teve um consenso e um respeito pelos sindicatos trabalharem como grupos. E, naquele momento, o grupo ligado à CUT não aceitou a minha indicação. Não pela minha pessoa ou por achar que eu não tinha competência. Muito pelo contrário, ali tinham muitos amigos meus. E amigos, inclusive de PCDA [Programa de Capacitação Sindical em Formação Profissional], né? Que a gente tem uma convivência muito grande. Eu os respeito muito e sei que o respeito é recíproco comigo. Mas, por conta desse acordo antigo. Anterior, que tinha, em que a pessoa, qualquer que fosse ela, de qualquer tendência que fosse, teria que ficar pelo menos um ano na direção pra depois executar e... estar ali em condições de ser presidente. E eu, embora o meu sindicato tivesse participação na direção há muitos e muitos anos e ter assumido no ano anterior um cargo executivo, eles não acharam, mas... Por exemplo, se tivesse sido o Dinacir não haveria nenhum problema porque ele já estava. Por eu estar assumindo no lugar, então ficou uma coisa um pouco fechada naquele acordo anterior, que teve sua importância no momento que isso aconteceu. Mas, que no nosso entendimento, depois de tanto tempo, e com outras circunstâncias, ele não tinha... Não havia ali nenhuma condição, inclusive, que estivesse desrespeitando o acordo. Pelo fato de eu ter um trânsito bom e participar no DIEESE de outras formas. Eu podia estar fora da direção, mas eu tinha uma participação bastante ativa, então... Enfim, isso ficou um tempo porque não foi aceito. Quer dizer, o cargo era da Força, era do sindicato, mas não podia ser eu. [RISO] Então, ficou, alguns meses, o DIEESE ficou sem presidência, na verdade. Então, Paixão, o Paulo Paixão, que é uma paixão, né? Que é um excelente amigo, acho que um dos melhores presidentes que o DIEESE já teve foi o Paulo Paixão, com todo o respeito a todos os meus colegas, inclusive eu. Eu considero o Paixão, assim, uma pessoa de uma dedicação extremada ao DIEESE. E a pessoa que mais entende do DIEESE, eu acho, na minha opinião. E que mais contribuiu também pro departamento. Enfim, ele ficou um tempo como vice-presidente e ia acumulando a presidência porque o cargo ficou vago, porque nós batemos o pé, na verdade, falamos: "Não, então. Então, vai ficar sem, porque vai, né? Não tem outra indicação. Indicação é a Mônica, mesmo. E não vai mudar isso." E, então, ficou um tempo sem e foi se conversando pra tentar chagar em um denominador até que chegou, né? E o pessoal aceitou a minha indicação. Então, a presidência do DIEESE, anteriormente, era de um ano. Então, já tinham se passado quase seis meses, quando eu assumi, na verdade, a presidência do DIEESE. Mas, eu tratei isso muito tranqüilamente, não tem nenhum... Claro que no dia ali, você fica, né, meio... É estranho. Mas, eu também respeito aquilo que foi a posição do pessoal. De qualquer forma, nós assumimos e houve também uma alteração no período de mandato porque deixou de ser de um ano pra ser de dois. Então, eu pude ficar no DIEESE por mais um ano. Então, eu cumpri o mandato ali de um ano e meio, como presidente do DIEESE. E foi, assim, um período maravilhoso pra mim. Primeiro porque foi uma convivência interna aqui, com as pessoas, muito boa. Então, de novo, eu aproveitei, como fiz a minha vida inteira de oportunista, no bom sentido, de aproveitar a oportunidade, pra um crescimento fantástico que o DIEESE me possibilitou. Não só do ponto de vista político, mas também do ponto de vista pessoal, porque a equipe de trabalho aqui é muito boa. É difícil encontrar equipe com essa equivalência profissional e também de entendimento. Porque aqui tem uma peculiaridade, da gente conseguir deixar as divergências e as diferenças políticas e ideológicas não interferirem no processo administrativo, de gestão e nem política também, do próprio DIEESE. Então, eu acho que é esse o grande ganho desses 50 anos do DIEESE. Ele consegue aglutinar esse
número de pessoas que têm divergências. Como tivemos. E, por exemplo, olha o meu caso, né? É um exemplo claro disso. Mas, nem isso fez com que houvesse, sabe, nada. Tratamos a coisa como ela deveria ser tratada. Então, vamos rever o acordo. Vamos poder rever o acordo... Não pra quebrá-lo ou desrespeitá-lo, mas vamos atualizar ele, vamos olhar pra um outro tempo. E eu acho que isso, quem faz parte aqui, quem conhece o DIEESE, as direções das centrais sindicais especialmente, consegue ver esse diferencial. Eu acho que isso, isso é muito importante pro DIEESE. Então, a gente, o mandato mudou. Eu fiquei por um ano e seis meses e pude ter nessa convivência sindical que se ampliou muito mais, obviamente. Além das minhas atividades que eu já tinha fora. Mas, aqui é diferente, você está tratando numa gestão. É uma convivência em que o grupo, aqui, quando está aqui é DIEESE, entendeu? Não é CUT, não é a Força, não é CGT, não é SDS [Social Democracia Sindical]. São dirigentes dos sindicatos que têm todo um apreço, uma admiração, um respeito pela entidade, né? E faz um esforço pra que isso aqui continue fortalecido, consolidado na sociedade e, particularmente, no próprio movimento sindical. Então, eu peguei um período do DIEESE também de uma discussão bastante profunda
disso e de busca do fortalecimento associativo. O DIEESE já teve mais de mil associados. Quando eu cheguei aqui era um pouco mais de 400, então era outra realidade. Então, eram dificuldades pra enfrentar, internas. E ao mesmo tempo, dar conta de toda a demanda, dar conta de toda a necessidade que está ali do lado de fora da própria sociedade que hoje já olha pro DIEESE com esse olhar, né? Do DIEESE ser esse instrumento de que: "Ó, lá eu consigo essa informação. Lá tem isso, lá tem aquilo"
E do próprio movimento sindical que olha pra cá e deposita aqui uma expectativa de formação, especialmente falando, mas de suporte. Principalmente de suporte, porque o movimento sindical brasileiro apesar de todos os avanços, ainda é um movimento sindical com pouquíssimo suporte técnico. Não atua com essa qualificação. Talvez até pela comodidade porque tem o DIEESE, né? Então... Mas, isso não fez com que, ao longo dos anos, em vez de diminuir o número de filiados, aumentasse. Porque houve um revés nessa situação. Do tempo em que o DIEESE foi criado, há 50 anos atrás, se for olhar a trajetória do movimento sindical que só foi crescer em todos os aspectos. Nos bons e nos ruins porque também é “trocentos” sindicatos, quer dizer, nós falamos mais de 19 mil sindicatos no Brasil. Hoje, esse número está ultrapassado. Ele é muito mais do que isso. Centrais, só de Central tem mais de 5. E em vez de crescer também o processo de fortalecimento do DIEESE, foi ao contrário. E houve um período em que em vez de aumentar o número de sócios, diminuiu. Então, a gente... Bom, e de você perder categorias representativas muito importantes, inclusive pra história do próprio DIEESE. Eu acho que, claro, o movimento sindical também teve seus períodos de altos e baixos, essa questão do desemprego. Tudo fez com que as receitas, tudo isso cai, então a tendência é você olhar pra uma ordem de prioridade e infelizmente, em muitos casos, o DIEESE deixou de ser a prioridade pra que pudesse haver essa manutenção. E, resgatar isso tudo é um trabalho muito árduo. Ainda que, o DIEESE cumpra esse desafio e essa missão tão bem quanto cumpre, né? De atender essa demanda. Então, eu peguei esse período. Já tinha tido outros, mas eu peguei um período assim, aqui. Por um outro lado, eu também peguei um período com uma direção muito legal, muito boa, de companheiros muito legais de trabalho, da executiva, da própria direção nacional. Então, assim, o histórico que eu conheço do DIEESE é um histórico de empenho, entendeu? De muito trabalho, de muita seriedade naquilo que faz. E eu deixei de ouvir, pra fazer parte desse exercício e conviver com esse exercício com outras pessoas de outros sindicatos, de outros estados, com outras tendências. Então, é uma experiência extremamente rica. Você presidir uma entidade como o DIEESE, do tamanho que ela é, que tem uma característica nacional, que tem toda essa peculiaridade também das regionalidades, dos escritórios, que tive condições e oportunidade de visitar, de conhecer. Então, enfim, foi uma responsabilidade grande, mas que eu assumi com muita alegria. E eu espero que eu tenha conseguido cumprir com a responsabilidade que me deram, pelo menos tão bem quanto foram com os companheiros que passaram por aqui, que também foram todos muito bons. Todos muito bons, sem exceção.
P/1 – Nesse período, você chegou a ver alguma tensão, assim, entre diretores técnicos e dirigentes sindicais?
R/1 – Olha, acho que tudo que se constrói, tudo que se convive, é difícil você falar que não vai passar tensão. Tensão passa. Faz parte do processo. Faz parte. Então, sim. Aconteceram. Mas, nada que pudesse, do meu ponto de vista, abalar o objetivo principal que era a gestão. Então, assim, sempre esteve muito claro pra os dirigentes o seu papel. Pelos menos com os quais eu convivi. Esse é o sentimento que eu tenho. Dos dirigentes, de saber o seu papel aqui dentro. Como também da direção técnica ou dos próprios técnicos também saberem o seu papel e dizer que nenhum momento você talvez misture ou confunda é impossível, acho que isso faz parte da natureza humana. A gente, em algum momento você quer tomar um partido. Em algum momento, você tem uma posição própria pra dar. E isso, de vez em quando tensiona, claro. Mas, eu acho que, de novo, é impressionante como essa constituição, que foi se consolidando ao longo desses anos todos, tem essa capacidade de neutralizar isso o suficiente pra que essas divergências ou tensionamentos, ou qualquer conflito que possa ter havido, seja maior do que a principal, entendeu? Então, acho que...
P/1 – Assim, a seu ver, quais os principais trabalhos que o DIEESE produziu?
R/1 – Olha, o DIEESE fez muita coisa, né? O DIEESE é uma fonte de saber, assim, pra mim ainda muito grande. Eu já estou, né? São 16 anos. Posso dizer que desses 16 anos, pelo menos uns 14, eu tenho uma convivência mais afinada, seja participante, ou seja, organizando, ou seja, em gestão, eu não consegui ainda me beneficiar, acho que de tudo que o DIEESE tem. Às vezes, tem coisa que chega: "Nossa, pô, está fazendo isso, tal." Sempre tem coisa nova. Mas, tem duas que eu acho que são as... Acho que está ali o âmago mesmo. Uma é a formação, obviamente. E eu acho que um dos programas, embora esse último que tenha sido feito, da questão dos kits tenha sido importantíssimo. Pra mim, ainda, o processo formativo de maior importância que o DIEESE já fez, foi o PCDA. Pela qualidade, pelo tempo, pelo método. Na verdade, pelo principal que foi o desafio de você botar essas diferentes correntes, todas num programa de formação, em que tem uma capacidade, assim... Acho que se vocês perguntarem pra qualquer dirigente ou assessor técnico que fez o PCDA, poucas respostas diferentes disso vocês vão obter. Você pode chegar ali armado aos dentes, como é o começo de tudo [RISO], mas você sai dali com... Não só com a clareza, assim de ter agregado, do ponto de vista da sua ação sindical, daquilo que você vai desenvolver no seu sindicato. Não tem como você sair dali sem isso. Mas, especialmente, você sai dali consolidado no intercâmbio e na experiência. Então, no período que a gente estava na presidência, que nós fizemos um circuito
(interrupção)
P/1 – Você falou então que um dos trabalhos foi a formação...
R/1 – E aí, eu destaco o PCDA que teve essa capacidade de formação, assim, foi uma formação com mais de mil e tantos dirigentes e assessores sindicais, multiplicadores. E, assim, quando a gente estava fazendo a campanha de associação ao DIEESE, na maioria das entidades que eu fui nos estados, colocavam essa questão do PCDA como uma coisa importante que o DIEESE desenvolveu, né? Em parceria, na época, com o Ministério do Trabalho, tudo. Mas, que o DIEESE desenvolveu e que era uma perda nós não termos mais. Então, assim, pra quem fez e especialmente pra quem não teve a oportunidade de fazer. Então, assim, no meu sindicato 99% fez. Até o Jorge, que era não o presidente no período, fez. Todo mundo fez PCDA. Seja o longo, que era aquele curso de 45 dias espaçados. Quanto os curtos, que era de uma semana. Então, assim, o DIEESE possibilitou um processo de formação muito pesado, mas que isso dá um salto de qualidade no trabalho, na intervenção sindical. Não só na sua atividade local, mas naquilo que as pessoas faziam pra conjuntura nacional também. Então, isso teve uma repercussão muito grande no movimento. Então, eu tenho outras coisas importantes que o DIEESE fez também, do ponto de vista formativo e que eu tive a oportunidade de participar. Mas, eu ressaltaria esse que faz essa composição. Estão ali, homens, mulheres, rural, urbano, todo mundo discutindo. Então, eu tendo a possibilidade de conhecer a ação rural. A rural, conhecer a ação urbana. E você trocar. E isso é de uma riqueza que não devia ter parado. Não foi por questão do DIEESE, a gente sabe disso. Mas, é um programa que devia consolidar-se e existir e o DIEESE devia fazer parte disso. Então, eu coloco esse. Porque marcou bastante. O outro, é óbvio que é todo o suporte da negociação coletiva. Ou seja, do ponto de vista da ação, do campo da negociação coletiva, o que é, vamos dizer que meio que o âmago do DIEESE, ele também, ele é imprescindível pra aquilo que faz. Porque se atualiza, né? Porque dá o instrumento de uma forma coerente. pro trabalho que a gente execute. E eu remeteria isso a, por exemplo, a RAN, hoje, que é a [Rede de Apoio às Negociações], que é um sistema novo, moderno, virtual. Porque a gente troca informações com sindicatos das mais diversas categorias, nos mais diversos tipos de negociação, você consegue acessar isso, numa informação que está ali composta, num banco de dados. Você está on-line ali, com as pessoas. Então, assim, foi uma capacidade legal essa, do DIEESE, em transformar o apoio que eles dão à negociação propriamente dita, pra um outro suporte que é importante pra você ir buscando ou seja uma preparação, ou seja, um conhecimento, uma troca, como é a RAN. Então, vou pegar o PCDA, que é mais antigo, e RAN, que é mais nova. Um instrumento que a gente ainda nem usou ele todo. Eu mesma aí, de vez em quando, tenho um pouco de dificuldade. Mas, é uma coisa que eu gosto. E acho que é uma contribuição muito importante do DIEESE. Eu sou do partido do DIEESE em que eu defendo que o DIEESE, ele tem que... Tudo que ele puder fazer, ele tem que fazer pra quem é o sócio. Pro sindicato, você pra um sindicato, você olha pra uma categoria que é composta de pessoas que são associadas e que não são associadas, mas o que fortalece a sua luta não é só aquele que contribui financeiramente. O que contribui financeiramente tem uma importância, obviamente. Mas também aquele que contribui no processo, na ação, na atividade. No DIEESE, eu acho que é a mesma coisa. Como eu disse, hoje o DIEESE é quase que... Ele é uma organização, voltada pro movimento sindical. Mas, ele passou a ser uma organização pública. Todo mundo se beneficia do DIEESE. Quem é do sindicato e quem não é do sindicato, né? Eu acho que isso é importante, é um papel que ele se colocou, né? E acho que tem cumprido isso muito bem. Agora, quer falar? [RISO]
P/2 – Então, o DIEESE, ele transborda em importância à classe sindical, ele vai à sociedade? Pra você?
R/1 – Eu acho que vai. Eu acho que vai. Eu acho que ele poderia até mais do que vai hoje, se ele tivesse o suporte do movimento sindical. Eu acho assim: ele tem que, a essência não pode ser perdida, que é essa essência sindical. Acho que a nossa sociedade, hoje, embora ela conheça a atualidade do movimento sindical, eu acho que a nossa história se perde muito e as pessoas não conhecem. Então, se você for, no modo geral, ver com a sociedade, as pessoas não conhecem a história dos trabalhadores, do movimento sindical. É uma distância isso. Então, quem são as pessoas que sabem que o DIEESE
é uma organização que é mantida, que é gerida, que é pensada e que foi pensada pelo movimento sindical, prestando o tipo de trabalho que presta hoje pra sociedade? Muito poucos, né? Se você perguntar, vai falar que, de repente, é
um instituto, é um... Eu não sei. Eu estou falando aqui, sem saber. Mas, eu acho que... E isso é ruim, eu acho. Desse ponto de vista, acho ruim. Então, acho que o DIEESE tem que ter essa essência sindical, pra poder se manter, pra poder continuar se consolidando sempre. Porque a consolidação, ela é atual, ela é diária, todo tempo, essa renovação. E, ao mesmo tempo, que eu acho que ele pode dar, contribuir muito mais. Então, fazer isso pra essa sociedade é importante, nesse sentido de você ter um outro olhar. Um olhar que apresenta também uma verdade.
Sob uma outra lógica, mas é uma verdade também. Então, eu acho que o DIEESE tem essa... É a única organização que eu entendo que tem essa capacidade. E que eu acho que a sociedade assimila bem. Então, não fica uma coisa: "Ah, isso aqui é do fulano; ah, isso aqui é sicrano; ah, isso aqui é do beltrano", não. Porque isso não se identifica aqui. O DIEESE tem uma identidade própria e isso é importante. Então, ele não é uma identidade da ideologia A, B, C ou D ou da posição A, B, C ou D. Ela tem uma própria.
P/1 – Da classe?
R/ 1 – Exatamente.
P/1 – Ao seu ver, quais os principais desafios pro DIEESE?
R/1 – Olha, bom, eu acho que primeiro esse fortalecimento que eu acho que é importante, do ponto de vista. Especialmente pra quem viveu as dificuldades internas todas que o DIEESE tem, a gente sabe o quanto isso é importante. Esse fortalecimento e esse, esse maior pra mim, reconhecimento que o movimento sindical deve ao DIEESE, no meu ver, então. E isso – como eu disse anteriormente – é uma tarefa que não devia ser árdua, mas ela é. Ela é extremamente árdua, então, de você ter isso claro pro movimento sindical. A gente tem olhar que é um movimento que se renovou. Então, tem muitas diretorias novas. As pessoas nem sabem o quê o DIEESE faz. Então, é preciso você, de novo... Então, por isso que é constante, né? As diretorias se renovaram, não conhecem o trabalho, acham que o DIEESE só é um órgão de estatísticas econômicas, quando ele tem muito mais a oferecer.
Por um outro lado, o DIEESE trabalha muito mal a sua comunicação e não consegue chegar até todo mundo pra que as pessoas saibam o tanto de coisa que ele pode oferecer. Então, eu acho que esse fortalecimento é necessário. Esse, pra mim, é o grande desafio, agilizar essa comunicação, tornar ela até mais didática pras pessoas entenderem, né, essa importância. Então, eu acho que isso fortaleceria demais o departamento.
P/1 – Qual a sua perspectiva em relação ao DIEESE para um futuro próximo?
R/1 – Olha, eu olho pro DIEESE da mesma forma que eu tento olhar e vislumbrar o movimento sindical brasileiro. [RISO] Ou seja, o próprio movimento sindical brasileiro tem que sofrer mudanças muito grandes. E eu defendo essas mudanças. Eu defendo que é necessário um movimento que se fortaleça
pela sua representatividade. Eu acredito nisso. Eu acredito na representatividade. Eu acredito... E a representatividade, ela se dá por um caminho, pelo trabalho. As pessoas te reconhecem, te vêem como uma liderança ou como uma referência na medida que olha pro trabalho e fala: "Não, isso aqui está comum às minhas
idéias, isso aqui me atende..." Então o movimento sindical vai passar por essas mudanças, querendo ou não...vai passar...Eu acho, acredito nisso. E acho que aí, no caso do DIEESE, é exatamente ter essa, manter essa habilidade de passar por esse processo de mutação que vai haver com o movimento, sem sofrer alteração na sua identidade. Acho que ele tem que crescer, tem que buscar sempre também fazer parte dessa representatividade, sem mudança ali. No caso do DIEESE, não pode haver a mudança da essência. No movimento sindical, não. No movimento sindical, acho que está precisando mudar um pouquinho, inclusive a essência. Está precisando um ar novo que possibilite pros trabalhadores realmente se identificar com essa organização.
P/1 – Mônica, agora, voltando a uma outra questão. A gente viu que você é casada, tem filhos, né? Quantos filhos você tem?
R/1 – Eu tenho um e está vindo, está chegando mais um. [RISO]
P/1 – Quantos anos tem esse primeiro?
R/1 – Meu filho tem 20 anos, já. Tiago tem 20 anos.
P/1
– O quê que ele faz?
R/1 – O Tiago, ele trabalha numa empresa de... Na Net, ele trabalha. E ele faz a Faculdade de Engenharia da Computação e um rapaz calmo. [RISO] Rapaz calmo.
P/1 – E como foi pra você, combinar a sua relação familiar, essa sua questão pessoal com toda essa militância?
R/1 – Pois é, essa parte, assim, eu me considero uma pessoa de sorte, porque eu tive um apoio muito grande da minha família quando eu decidi enveredar pra esse caminho. Tive um tempo pra pensar, pensei e tive esse apoio, né? Então, não houve, assim, uma... Ao contrário, né? Eu tenho uma família que se orgulha muito de eu ter... De eu estar no sindicato, das coisas que eu pude participar. Pôxa fui a primeira mulher presidente do DIEESE. Então, tudo isso cria um orgulho legal, né? De você ter isso. Eu me orgulho também, então. Então, assim, apesar de ser um trabalho que merece muita dedicação. Então, assim, internamente, você vive conflito. Como toda mulher, eu acho que como toda pessoa, mulher é um pouco mais acho que por conta dessa coisa da maternidade, ela coloca muito essa responsabilidade como se fosse só dela. Mas, então, você sofre ali aqueles conflitos, da distância, de não conviver todo o tempo. E o meu filho, eu não posso dizer que ele não tenha sofrido ausências minhas, ele sofreu algumas. Graças a Deus, nada que tenha influído muito na personalidade dele, muito pelo contrário. Então, assim, hoje eu posso dizer, bom, o sacrifício valeu por que ele tem esse entendimento, acha bonito, se orgulha do meu trabalho. Então, mas não foi tão fácil. Eu tive esse apoio. Então, esse apoio foi fundamental pra que eu pudesse fazer tudo o que eu fiz, pudesse me dedicar tudo que eu me dediquei. teve um ano que foi, assim, eu fiz as contas, falei: "Meu Deus do céu, eu..." Pô, o ano tem 365 dias, eu tinha ficado 156 fora da minha casa. Ou seja, metade do ano, quase, eu fiquei, assim, fora de nem dormir em casa. Viagem pra cá, pra lá. Então, não é todo mundo que consegue isso. É difícil, a gente sabe. E quando consegue também, o que você tem de pôr na balança... Mas, eu acho que eu fiz com propósitos. E como eu consegui não me desviar muito dos propósitos, só de vez em quando [RISO], então acabou valendo a pena. Mas, nesse sentido, eu sei que teve algumas festinhas da escola que eu não fui. Teve algumas atividades da família que eu não estava. Então, no fim, quem perdeu mais fui eu, eu acho, nesse sentido...de me privar um pouco disso.
P/1 – E quais foram as principais lições que você tirou dessa atividade, dessa militância sindical?
R/1 – Ah, eu... Eu, uma vez, no PCDA, quando estava terminando, o pessoal fez uma pergunta. Então, a gente fez uma atividade lá de grupo e tal. E você tinha que pegar alguma coisa que simbolizasse qualquer coisa que desse uma simbologia ali da importância do seu trabalho na atividade sindical. E, bom, eu acho que, assim pra mim, foi o que eu disse lá naquele dia, a possibilidade de você trabalhar... Porque a atividade sindical, ela é uma atividade que lida muito com a necessidade das pessoas, no meu entendimento. Você está falando do direito da pessoa, ali, todo o tempo. Então, você está lidando com pessoas. E o que você faz, influi na vida das pessoas. Então, é uma responsabilidade isso, assim, tremenda. Se você for olhar por esse lado. Então, eu acho que, exatamente pelo fato dessa atividade dar essa oportunidade de você, realmente, mudar a vida das pessoas, é que traz essa importância pra mim. Então, assim, se não fosse... Se não fosse um instrumento pra ajudar, eu acho que eu não estaria. Nem acho que tudo, toda nossa, minha trajetória, ou seja, nem do meu grupo, ou de grupos que eu tenha visto, a gente conseguiu tudo. Muito pelo contrário. Não conseguimos, não. Mas, quando você consegue, é indescritível o que você sente, entendeu? Se um dia você fala: "Pô, eu participei disso aqui. Isso aqui, eu estava ali também. Eu ajudei, eu construí, eu estava ali." Então, eu não fui uma mera espectadora, eu fiz alguma coisa para, né? Então, acho que o sindicato, nesse sentido, ele permite isso. Como outros espaços também. E hoje, eu também trabalho com organização não-governamental e trabalho comunitário, então eu... Que é outra coisa que eu adoro, me apaixonei nos últimos anos, de 1999 pra cá. Então, eu acumulo essas duas coisas. E, enfim, eu acho que as vitórias podem não ser muitas, mas as que conseguem se efetivar mesmo, elas, assim, não têm preço, entendeu? É uma coisa importante assim. Às vezes, nem de você usufruir daquilo, mas de você ter feito aquilo. Então, isso é o diferencial, isso é o que me... É o meu motivador ainda, né? Ainda que dizem: "Ah, mulher é discriminada no movimento, não ganha igual", ou, tem poucas colegas que estão ali, junto. Às vezes, você vê amigas que não estão mais. Eu procuro não olhar por esse lado. Ah, não tenho amigas, mas também tenho amigos. A gente vai seguindo, eu acho que tem que ser isso. Aqui, no DIEESE, eu só fiz amigos. Então, quando eu terminei o mandato, eu posso até não ter começado bem [RISO], mas eu terminei de uma forma, nossa, que, assim, foi... As pessoas reconhecerem que você ajudou, você sair dali com o carinho, não só da direção, mas dos próprios funcionários, dos colaboradores, da equipe. Então, toda a vez que eu venho, eu sou muito bem recebida. É caloroso, você sente que é verdadeiro. Então, pra mim, é isso que motiva. Faz você continuar.
P/1 – E lições dessa passagem pelo DIEESE?
R/1 – Conviver com a diferença é a principal, eu acho. E, claro, eu tive outras oportunidades de convivência, mas numa envergadura como essa. Com a gente já conversou aqui. Então, esse é um exercício de extremo crescimento pra gente, quando a gente consegue mesmo olhar pra isso e isso não influir. Eu, como eu sou uma pessoa de um temperamento bastante forte, então isso foi um aprendizado pra mim. De eu conseguir, foi interno mesmo isso... De você rever inclusive coisas minhas, assim, então essa... Por ter essa convivência, por ter sido como foi... Essa história toda que eu contei aqui. Não ter sido aceita, depois ser aceita e a gente ter uma convivência boa e viver o que era ruim, o que era bom. Tudo junto ali e de uma forma extremamente, altamente, de uma qualidade, de um nível, assim, que isso foi só crescimento mesmo. Teve coisas ruins, claro, de decisões que às vezes você tem que tomar e tudo. Mas, que consolidou um grupo... Hoje não... Que não está mais aqui, mas é assim: Não está, mas a gente não se identifica de outra forma que não seja por aqui. Então, fica uma coisa que você sai, mas nunca sai. Você sai, mas está dentro todo o tempo. Então, hoje não estou mais... A gente, no sindicato, também tem um rodízio pra... Então, outro companheiro está vindo aqui porque também tem que ter a oportunidade de ter essa experiência de convivência. Como vai ser lá na Central e como vai ser nas outras coisas. Eu acho que o crescimento da gente é exatamente isso. Você ser capaz de... Você fez, participou, agora você vai pra uma outra etapa e assim vai...
P/1 – Qual que é o seu maior sonho hoje?
R/1 – Ah, meu maior sonho, hum... [RISO] Nossa. Bom, eu se for olhar pro meu trabalho, bom, do ponto de vista pessoal é agora é o meu bebê... É meu projeto principal. Eu adiei bastante. Essa é a parte que às vezes a gente tem que dar... Eu adiei bastante. Agora chegou o momento da, vamos dizer assim, da maturidade do meu trabalho e da capacidade de eu conseguir fazer tudo e, ao mesmo tempo, ter tempo pra mim de tomar a decisão de ter um outro filho, depois de tanto tempo. Então, esse é o meu projeto pessoal agora, está sendo meu bebê, Gabriel, que vai chegar. Do profissional, agora eu tenho que ligar muito isso com o político, porque eu não consigo me desvincular mais disso, depois de tantos anos. Nossa, eu quero, eu quero só continuar o que eu já faço. E a gente, hoje, eu desenvolvo uma ação comunitária. E esse, eu, do ponto de vista profissional e político é nisso que eu estou dedicada hoje. Um trabalho com uma área livre lá no Jardim Rochdale, do qual o nosso sindicato é mantenedor. Então, as ações se articulam com o sindicato, ONG e o poder público, que hoje também tem uma ação muito boa lá com a gente. Depois de tanto, todos os anos, na verdade, de existência do sindicato, nunca houve essa possibilidade. Hoje está tendo, então a gente está conseguindo transformar algumas coisas que eram de ação privada, numa ação pública. E se isso realmente se consolidar nesse trabalho que eu estou fazendo... Meu sonho hoje está nisso, hoje. De eu conseguir fazer dessa ação que a gente faz lá, com as famílias, que é de desenvolvimento humano, uma ação de transformação mesmo pela política pública, esse... Estou nisso agora. Eu vivi um sonho de cada vez. [RISO] Sonhos pequenos, nada...
P/1 – O que você achou de ter participado desse projeto Memória do DIEESE 50 anos?
R/1 – Ah, eu acho importante, muito... Importante porque possibilita a gente falar, né? E eu não falo nada pouco, né? Falo pra caramba. Então, mas... Acho que deixar, deixar essa experiência da gente. E que outras pessoas possam ver isso depois, de alguma forma. Eu acho isso importante. Acho que o DIEESE é uma organização que, pelo que fez e pelo que faz, como se constitui, é merecedora de um trabalho, de um investimento disso, de juntar as memórias. Como eu estava te falando, eu gosto de história, então... Mas, não tem muito lugar aonde você vá e consegue ver ela num conjunto. Piorou no que diz respeito ao movimento sindical. Você vai ver muita coisa. Às vezes, você vai ver uma tendência aqui, às vezes você vai ver uma tendência lá... Mas, não é algo que mostre o que esse trabalho vai possibilitar, acho que não tem. Então, ele é importante por isso. Ele é único. Vai mostrar uma ação que é uma vida. 50 anos é uma vida inteira de uma pessoa. Então, essa é uma vida de uma instituição de várias pessoas e cada figura, assim, extraordinária, que passou aqui. Tenorinho, nossa, Paixão. Pôxa, esse pessoal todo é... Ofélia, Bartô, né, então, vocês têm que falar com o Bartolomeu, gente. [RISO] Porque o Bartolomeu, eu acho que ele parte patrimônio disso aqui. Então, é uma pessoa muito especial que gosta muito daqui. E tantos outros. Então, assim. Esse resgate vivo. Que tomara depois a gente possa se beneficiar da boa leitura, do ver, de poder lembrar isso, aquilo. De ter, né? Eu acho que o DIEESE tem que ter isso aqui.
P/1 – É isso. Obrigada.
R/1 – Então, tá.
P/2 – Obrigado.
R/1 – Obrigada vocês.Recolher