Projeto Correios 350 Anos
Depoimento de Therezinha Duche Beltrame
Entrevistado por Isla Nakano
Rio de Janeiro, 22/11/2013
Realização Museu da Pessoa
BRA_CB014_Therezinha Duche Beltrame
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – Bom Terezinha, primeiro eu queria agradecer de você e...Continuar leitura
Projeto Correios 350 Anos
Depoimento de Therezinha Duche Beltrame
Entrevistado por Isla Nakano
Rio de Janeiro, 22/11/2013
Realização Museu da Pessoa
BRA_CB014_Therezinha Duche Beltrame
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – Bom Terezinha, primeiro eu queria agradecer
de você estar sentando aqui pra contar um pedacinho da sua historia pra gente. E para começar e deixar registrado, eu queria que você falasse o seu nome completo, onde você nasceu e quando você nasceu.
R – Ok, pra mim, é muito legal registrar, eu acho a ideia válida, eu já conhecia o trabalho de vocês e é muito bom falar da gente quando escutam a gente, né, o que dirá, se esse material for um dia, usado por uma pesquisa. Significa que eu não estou isolada no mundo, estou sempre em contatos. Meu nome é Therezinha Duche Beltrame, eu sou natural do Rio de Janeiro, sou carioca, minha mãe é gaúcha, meu pai é carioca e eu tenho 58 anos de idade.
P/1 – Qual que é a data do seu nascimento?
R – Eu nasci dia 16 de outubro de 1955, foi no século passado.
P/1 – E Terezinha, você falou que a sua mãe é gaúcha, teu pai é carioca, qual que é o nome dos teus pais?
R – Minha mãe é Zélia Duche Beltrame e meu pai é Roberto Luiz Beltrame da Cunha Brandão. Meu pai, na historia dele, isso foi inclusive tema de análise, né, ele não quis dar a sua família, esposa, o nome do pai dele, porque o pai abandonou a família, abandonou a mãe dele quando ele tinha dois anos de idade, ele foi criado por três tios italianos e a mãe dele também, filhos de italiano, né, a vó dele que era italiana. Então, ele ficou muito magoado com essa historia de pai referencia não ter criado o filho, né, o único filho, então ele não deu para a família que ele criou: mulher… esposa e filhos o nome do pai: Cunha Brandão. E minha mãe é… então, Zélia Duche Beltrame, minha mãe é de Uruguaiana, na fronteira com o Uruguai e a minha mãe foi criada numa fazenda com os irmãos dela e perdeu a mãe muito cedo, com quatro anos de idade, ela foi mais ou menos, assim, mãe dos irmãos, né? Os dois irmãos e ai, ela veio pro Rio pra trabalhar, foi babá de um Embaixador, enfim, arrumou um jeito de sair de lá de Uruguaiana e depois, ela trouxe os três irmãos para morarem no Rio.
P/1 – Você sabe como que eles se conheceram, Therezinha?
R – Por acaso, eu sei. Eles se conheceram no passeio publico, tá, no passeio publico, o meu pai… os tios do meu pai que o criaram, eles tinham uma joalheria na Rua México e eu me lembro muito bem dessa joalheria, porque eu tenho mais dois irmãos, eu era assim, a primogênita, então eu vivia assim, nessa joalheria, eu ganhei muita joia quando eu era pequena e perdi muita joia pelo ralo do banheiro, assim, sabe, brincando… então, o meu pai, ele trabalhou com os tios dele nessa joalheria “Irmãos Beltrame”, que não existe mais, na Rua México.
P/1 – Conta uma coisa Therezinha, fala um pouquinho da sua infância pra gente, do quê que você gostava de brincar?
R –
Olha, eu tive uma infância muito saudável, sabe, eu me lembro muito bem da escola que ainda existe, do meu jardim de infância, que é Escola Municipal Gabriela Mistral, que é uma homenagem a uma poetisa chilena, Gabriela Mistral. E essa escola ainda permanece no mesmo lugar que é na Praia Vermelha. Então, eu me lembro do meu pai me levando pra escola, me lembro da biblioteca, da sala de pintura, dedo, dos cavaletes, me lembro de depois da merenda, a gente… a professora botava uma musica clássica e ai, a gente… cada um pegava uma esteirinha e ia relaxar, sabe, ouvindo musica clássica. Me lembro, às vezes, do cheiro da merenda, me lembro que a gente brincava na Praia Vermelha, sabe? Tinha um dia da semana que tinha uma atividade na praia, que todo mundo ia brincar descalço na praia. Então, foi assim, uma escola publica saudável, muito voltada à arte, à leitura, me traz excelentes recordações.
P/1 – E dessa infância, fala um pouquinho da casa que você morou.
R – Nessa época, nós morávamos na Avenida… bom, eu nasci também num bairro bom, nasci em Botafogo, numa casa de saúde em Botafogo e fui criada ali na Avenida Rui Barbosa, meu pai alugou um apartamento lá com a minha mãe e eu acho que nós três – porque eu tenho um irmão e uma irmã – acho que nós três moramos lá. A minha infância, me lembro muito nitidamente, né, então, ali na Avenida Rui Barbosa 280, não me lembro o andar, ele alugou ali um apartamento, depois nós fomos pra Avenida Osvaldo Cruz, no Flamengo também e nessa época da escola, a Gabriela Mistral, eu tava morando por ali.
P/1 – Tem algum fato marcante da região ou da casa, alguma historia marcante?
R – Olha, eu tenho um fato marcante que eu era garota e na Avenida Osvaldo Cruz, a televisão tava começando… era preto e branco, tá, a televisão era preto e branco na minha infância, eu peguei a televisão preto e branco e eu me lembro que o meu pai gostava muito de arte e nós assistíamos o “Teatrinho Trol”, entende? Havia também programas do Cassino da Urca, alguma coisa ligada a programas, assim, Flávio Cavalcante era preto e branco, “Um Instante Maestro”, eu me lembro que a gente assistia juntos, sabe, minha mãe também, programas ao vivo na TV, tudo preto e branco. Me lembro também de um outro programa que foi o inicio da carreira do Daniel Filho, “Times Square”, uma coisa assim, era um programa de… mas uma cena que me impressionou bastante… duas, aliás, que eu posso revelar, que são fatos: uma, a gente tava em casa e a televisão tava ligada e o Brasil tava entrando no Golpe militar e tava sendo televisionado a chegada dos tanques, que se eu não tô enganada, vinha de Minas Gerais, e ai, papai falou assim: “Olha lá, olha lá na televisão, os tanques entrando na cidade”, entende? É assim, o golpe tava chegando, né? E um outro fato também nesse mesmo período, porque eu sou de 55, o golpe é 64, então eu ainda não tinha dez anos feitos, né, eu tinha nove anos, né? e outra que quando o estudante foi assassinado no Calabouço, no Restaurante Calabouço que pertencia ao FRJ e se almoçava lá, né, tinha a UNE, almoçava lá e ai, se rebelaram contra a Ditadura, né, suponho que seja isso, e ai, teve… ele foi assassinado pelos militares e o enterro dele foi no São Joao Batista, né, então ele foi assassinado no centro da cidade e o trajeto após o velório passou pela Avenida Osvaldo cruz e meu pai falou: “Nós vamos assistir”, e aquilo, assim, foi assassinado, né, então foi depois do almoço que ele passou, foi assim, um programa cívico, sabe, que nós almoçamos todos juntos e vamos descer pra acompanhar e todo mundo ficou com a mão no peito assim, e me emociona agora: “Vamos embora, vamos descer” (choro/emoção), minha mãe desceu, um silencio, sabe, a rua inteira tava num silencio, todo mundo com a mão no peito, eu fiquei muito impressionada, tô até chorando (risos), mas foi assim, uma cena que me marcou, sabe? Que o meu pai me deu uma referencia de um fato cívico, né, um protesto, daquela dimensão. Como era hora do almoço, eu não percebi que seria assim, daquele vulto, sabe? Ai, todo mundo desceu pra prestar homenagem, realmente foi um fato marcante.
P/1 – Therezinha, conta um pouquinho, não sei, talvez nessa casa, na sua infância, você lembra de experiências suas com os Correios, enviar carta, receber carta, carteiro…
R – Ah, eu sempre gostei, sempre gostei disso…
P/1 – Fala um pouquinho pra gente.
R – Ah, tem uma coisa que me emocionou muito, muito bem lembrado. Não sei que idade eu tinha, mas eu sempre gostei de viajar e eu viajava sozinha. E uma vez, eu viajei com uma amiga pra Saquarema, onde ela tinha alugado uma casa lá, um barraquinho, uma coisa assim, e ai, eu fui passear, sabe, assim, de vez em quando, eu gosto de sair sozinha, como eu cheguei aqui, né? E ai, eu fui… a casa, ela… não me lembro onde era, mas tinha uma colônia de pescadores, e ai, eu caminhando assim, fui andar num dia assim, não tinha sol, não tinha praia, eu fui andando assim pela colônia e ai, eu me deparei com um menino, assim, muito entusiasta do que ele sabia fazer, ele sabia desenhar. E ai, lá em Saquarema, ou… era Saquarema… e ai, ele começou a me mostrar assim, que ele estudava técnicas de desenho e a técnica de desenho animado, você faz vários desenhos, né, e quando você pega e folheia assim, dá o movimento, né, o desenho é sequenciado no outro e ele tinha aprendido essa técnica e ele começou a me explicar muito assim… e eu fiquei impressionada, porque numa área pobre, de pescadores, ele tinha um talento que não foi revelado pela profissão do pai, pelo ambiente familiar, era um talento nato, que ele tava com pequenas… com pequenos recursos sendo incentivado e fecha ai, eu peguei o endereço dele e quando eu voltei pra casa, eu fiz questão que o meu pai me desse dinheiro pra eu botar uma coisa… eu botei cadernos pra ele, mandei cadernos, entendeu? Eu mandei cadernos de desenho pra ele, mandei lápis colorido pelos Correios, entende, para que ele continuasse aquela arte, sabe? Realmente (risos), é um fato que sinceramente, lembrar hoje assim, realmente, me dá uma certa emoção, porque eu era bem jovem, claro que eu já era maior de idade, não me pergunte a idade, porque eu vou ter que fazer uma sessão terápica, mas foi uma coisa que me… eu falei assim: “Vou mandar pelos Correios”, entende, claro!
P/1 – Therezinha, você tinha alguma ideia do que você queria fazer profissionalmente, assim, conforme você foi crescendo?
R – Eu sempre fui muito incentiva a ler, entende? Eu sempre fui muito incentivada a ler, por varias razoes e uma delas, eu morava nesse apartamento, eu sofri um acidente muito sério, que eu… eu quebrei a bacia e o médico ficou com pena de me engessar toda, então eu me lembro que a minha irmã me amarrava na cama toda noite, eu não podia me mexer e papai sempre chegava assim com uma revista, sabe, e eu fiz duas coleções que eu praticamente lia inteira. Uma foi uma Coleções Diorama, sobre os países do mundo, entende, sempre adorei ler. Então, tinha vários números, assim, e eu lia aquilo de cabo a rabo, capital, como é que era o povo, inclusive, naquela época, era a união Soviética ainda, né, ainda não havia tido a queda do muro de Berlim, né, então era a União Soviética, então você via assim, Berlim Oriental, as fotos eram mais devagar assim, e Berlim Ocidental já tinha uma vida mais coisa… e nessa época, pois é, eu me lembro disso tem uma coisa da Coca-Cola também, tinha um anuncio da Coca-Cola, da TV preto e branco que ai, chegava o cara na piscina assim, como é gostoso tomar Coca-Cola, ele chegava assim, na piscina, mergulhava no trampolim, assim, dentro da piscina, em preto e branco, ‘ah, como é gostoso viver’, e eu chorava, porque eu tava numa cama amarrada, né, entende, coisas de criança, assim (risos).
P/1 – E ai, me conta um pouquinho então, da tua trajetória profissional, como que você chegou nessa coisa de…
R – Então, é ai que… então, o papai comprava o “Jornal do Brasil”, que acabou, né, hoje só tem o site e ele gostava muito… sabia que eu gostava de cultura, falou assim: “Filha, esse aqui é pra você”, ai tinha o Caderno B, o famoso Caderno B, que tinha cinema, teatro, poesia, artes plásticas. Eu sempre adorei esse universo, então eu lia todo o caderno, teatro, artes plásticas… e eu me lembro uma vez que mais tarde, morando em outro apartamento, eu falei assim: “Papai, eu acho que eu vou ser jornalista” “Ah, isso é profissão de vagabundo” (risos), aquela coisa de querer uma ‘patricinha”, que a vida não me deu… não me deixou ser patricinha. Ai então, eu gostava muito de escrever poesia, eu tinha uma máquina, que não existe mais, eu tive uma máquina Olivetti, aquela tchãtã, tchãtã, você botava a folha em branco com carbono e depois, botava… enfim, depois eu ganhei uma Remington, apareceu lá em casa uma Remington, coisa mais moderna, né, aprendi datilografia, né, fiz dois cursos de datilografia, meu pai me pagou um curso de secretaria e eu queria ser jornalista, eu sei que eu antes de ser jornalista, eu estudei… bom, eu passei o ano… tem uma fase assim que eu não… eu fiz vários vestibulares, eu sou formada em Ciências Biológicas, eu adorava mergulho, aliás, eu ainda adoro vida marinha, sabe, a fauna, a flora e comportamento animal, os pássaros, eu sempre fui muito ligada a isso também e ai, meu pai falava assim… foi uma grande referência, ao mesmo tempo, meio castradora, né, porque aquelas coisas, né, pai quer sempre o teu bem, né, ele falava: ‘Isso não tem ramo”, naquela época, realmente, não havia a expansão como hoje tem, a verdade é que eu não tenho assim, o perfil do biólogo de ficar com a cara no microscópio, entende? Aquela coisa, tenho amigos biólogos, entende, fiz amizades, eu terminei o curso, me lembro a minha mãe falava assim: “Pô, teu pai tá pagando”, né, ai eu terminei o curso, entende? Depois eu tinha um telefone, eu aluguei o telefone e com o aluguel do telefone, pagava mensalidade, quando veio Plano Real… não, Real? Eu acho que não era nem o Real, foi o Cruzado, acho que é, não sei. Ai, se estabeleceu a moeda, ai eu aluguei, com o aluguel, eu já tinha o curso superior, não precisei fazer um segundo vestibular, entende, isso ajuda, né, pô, fazer vestibular duas vezes é um saco! Ai, fiz o curso, pagava com o aluguel do telefone, entende? Malandra (risos), estudava… eu estudava muito porque eu me lembro que… ai, varias sequencias de família, de apartamento, de não sei o quê, meu pai não queria mais morar de aluguel, comprou um apartamento menor, e ai, cada um gosta de uma coisa e não gosta do que o outro faz, né, família assim, meio doida, eu sou a mais velha e os meus irmãos se rasgam de ciúmes de mim, porque eles acham que eu fui muito paparicada, né, e ai, eu numa crise existencial falei assim: “Vou fazer”, e tinha essa condição de fazer a faculdade, mas eu não rinha condição de me bancar sozinha. Então, eu ia para área de serviço, levava a minha maquina de escrever, botava tábua de passar roupa, assim, montava um escritório, ficava lá, às vezes, tinham tantos trabalhos pra fazer fim de semana, que eu ficava… já fazia estágio na Radio Nacional, aqui, entende, já é uma outra fase assim, Rádio Nacional, depois enfim, me ajudou bastante aqui.
P/1 – Therezinha, eu queria que você falasse um pouquinho do começo da sua trajetória, formação no jornalismo, coisa marcante e agora, eu queria que você falasse um pouquinho de você hoje.
R – Pois é, sou solteira, os meus relacionamentos não deram muito certo, não que eu não venha a ter, eu adoro a liberdade, entende, eu acho que um relacionamento hoje, ah tem que gostar de cultura, de viagem, tem que deixar a pessoa assim, mais ou menos meio solta, eu sou uma pessoa relativamente fiel, então eu sou sozinha. Eu decidi fazer, porque a profissão de jornalismo, ela é uma atividade freelancer, entende, você tem que criar, entende, hoje em dia, as empresas são muito pequenas, entende? Você ir para um “O Globo”, você pode até ir, entendeu, você pode até fazer um estágio lá, mas dificilmente, você será contratada, entende? Por questões… então, quando eu fui morar em Brasília, eu conheci um… eu queria trabalhar lá, fui morar lá enfim, uma época, depois que terminou o estagio aqui na Rádio Nacional, eu fiz um estágio de um ano, deu pra terminar, ai fui morar em Nova Friburgo, trabalhar numa televisão pequena, não deu certo, afetivamente, eu misturei as coisas, não deu certo também. E ai, eu fui morar em Brasília, fiquei na casa de um amigo e ai, eu descobri lá um jornal de meio ambiente, que aliás, tem uma ótima relação com os Correios, que é “Folha do Meio Ambiente”, que ele é de distribuição gratuita em instituições relacionadas a meio ambiente, graças ao Correios, olha o Correios entrando na minha vida de novo. E Silvestre Gorgulho é uma pessoa muito bem relacionada em Brasília, e ele com certeza, é um excelente contato lá que eu tenho, profissional, e ele tem uma parceria muito seria com os Correios, não é de hoje, ele sofreu assim, como se diz… então, eu resgatei um conhecimento que eu tinha. Eu, ao chegar na redação jornalística para apresentar pautas de meio ambiente, eu tinha um cabedal, eu tenho curso em Ciências Biológicas, eu tenho Bacharelado em Primatas, “Oh! Bacharelado em Primatas?”, né, meio ambiente começava na década… eu morei em Brasília em… eu nem me lembro mais, na década de 90, mas tivemos a conferencia de 92, né, quando todos os países vieram para o Brasil, meio ambiente passou a ser… ganhar visibilidade na mídia, né, para se ter uma expressão mais correta, e esse jornal… eu fiquei em Brasília, não deu pra viver em Brasília, porque ganhava-se muito pouco, mas então, não se pagava, assim: “Você vai ser contratada…”, entendeu? Porque o jornalista, assim como o guia, ele tem que confiar muito em si, tem que saber que tem um texto legal, eu tenho uma biblioteca em casa, assim, de livros técnicos, de técnicas, tenho assim, Manchete, catálogos, entende, da historia da Manchete, da historia da Globo, como escrever um bom texto pela Folha de São Paulo, pelo Estadão, sabe? Fui sempre… Alberto Dines é um ícone pra mim, entende, do jornalismo não comprometido, entende, entre outros. Então, eu tenho uma biblioteca que eu preservo isso como um acervo que eu conquistei na minha vida. Mas você tem que ter a autonomia de não saber… não apenas saber escrever um texto com os cinco lides, né, os cinco Ws: Who, Where, What, When, Why, How, entendeu, na verdade são seis. Para você começar um texto, você pega uma pessoa e você já vai em cima disso, entende? Saber o que é noticia, entendeu, a noticia, por exemplo, é difícil até de saber, se você… o Pão de Açúcar tá lá, entendeu, mas se chega uma pessoa lá e bota uma bandeira da Cracóvia: “A Cracóvia vai dominar…”, isso é uma noticia, entendeu, porque chegou um fato estranho, eu… você vai pegar em cima desses dados: quem foi, por que… e você faz um texto que é bizarro, porque o Corcovado tá lá para ser visitado, então ele tá lá, ele não é a noticia, a não ser que ele complete 100 anos de bondinho, ou que apareça alguém botando uma bandeira lá: “Liberem os ativistas da Rússia”, entendeu? Então, a noticia, ela se transforma noticia, entende? Então, isso tudo foi… eu estudei, então: “A gente não assina carteira”, então, você tem que ter um faro, sabe, eu trabalhei com cultura e trabalhei com meio ambiente, então você tem que ter uma boa rede de contatos e saber: isso aqui vai gerar uma noticia, entende? Esse evento vai ter alguém nesse evento que vai falar alguma coisa que possa gerar uma reportagem, entende? Então, o jornalista, ele não pode deixar morrer em si essa ideia de que isso vai se transformar numa noticia, isso vai atrair um leitor, se eu falo no jornal local, é uma noticia local, mas se eu tenho, como eu tive, o jornal de Brasília que pegava o Brasil inteiro, eu tenho que saber se aquele fato vai atrair a pessoa que tá lá no Maranhão, entendeu, que possa gerar… eu gosto de noticias positivas, entende, ou um quilombola, ou resgate de uma cidadania, ou os favelados no Morro de Santa Marta, que fizeram curso de guia, assim como eu, que hoje são pequenos empreendedores, entende, montaram uma pequena agência e levam as pessoas, diariamente, até o topo do Santa marta e explicam que foi pacificado, entendeu? Eles têm orgulho disso, então isso é uma noticia positiva, entendeu, eu fui… sábado passado teve o African Food lá, fizeram, as pessoas conheceram a trilha, lá em cima do Santa Marta, almoçaram, turistas. Então, isso é legal, tá?
P/1 – Muito bacana seus conceitos do negocio jornalístico. E agora, pra gente finalizar, você talvez, contar pra gente quais são os seus sonhos, aspirações para o futuro, fala pra gente o que vem pela frente ai…
R – Em termos de Brasil?
P/1 – Não, pra você mesmo, na sua vida pessoal…
R – Olha, eu desejo na minha vida pessoal… eu não quero ganhar milhões e nem na Mega-sena, mas eu quero ter, continuar tendo meu apartamento, sabe, que eu possa, como eu já fiz no inicio do ano, alugar um quarto pra intercambio, como eu fiz, que eu possa viajar, conhecer mais do meu país, que eu tenho uma loucura para conhecer o Pantanal e a Amazonas, eu tenho uma loucura pra conhecer Nova York, entendeu, Londres, eu tenho amigos lá, eu quero ter possibilidade de fazer uma viagem, que não seja uma vez por ano, mas que seja de vez em quando que eu possa trazer amigos, meu marido em casa, entendeu, que a gente possa ter uma vida… não é rica, mas um classe média, sabe, saudável, que você possa ir ao teatro, ao cinema, o apartamento próprio, é básico (risos).
P/1 – Tem mais alguma coisa que você queira deixar registrado?
R – Ah, eu quero que honestamente, que o Brasil… sabe, que o brasileiro possa honestamente exercer a sua cidadania em todos os rincões desse país, que eu acho que o Brasil é muito (choro) injusto, e eu fico muito triste com isso (risos). Eu quero mais justiça no país, sabe? Um povo tão maravilhoso, sinceramente, que chega de corrupção, isso é muito, muito triste, eu fico muito enojada, isso me dá vergonha, entende? O teu país tão corrupto e as manifestações que tiveram recentemente, que isso… eu tenho certeza que isso vai acabar, sabe, que a gente possa… a internet hoje, talvez, a internet, ela tenha sufocado um pouco o desejo de escrever uma carta. Eu acho que isso aconteceu, assim como a internet também mexeu com o jornalismo, principalmente o impresso e o televisivo também, entende, se você grava um programa pra passar daqui a três horas, daqui a três horas tem a mídia lá botando na internet e você vê o fato, acabou, de repente o que você tava falando, que tá gravado vai contradizer com o fato real, então as mídias, elas estão todas ai, nesse século XXI, o homem e a distancia é muito menor, o mundo realmente é globalizado, facilitará, exatamente uma justiça e não hierarquicamente de cima pra baixo, as relações, elas são mais horizontais, os fatos são mais horizontais, as pessoas criticam e podem se ajudar contra alguma coisa que seja grave, né, então isso favoreceu as relações hoje, elas estão mais olhando nas horizontais, nas relações… favoreceu a mídia, entende, talvez os Correios tenham perdido um pouco, tenham ficado mais abalados nas suas… nas suas bases de relações em função de você ter uma mídia mais espontânea, o Tweeter, né, você pega, liga uma câmera, sabe, esqueci o nome daquele outro, que você fala em tempo real… você fala com uma pessoa, como é que é o nome?
P/2 – Skype?
R – Skype! Você fala com uma pessoa por Skype, pronto! Entende? Então, se você tem esses recursos na sua casa, você… eu ontem, fiz um… esse navio que ancorou e saiu, né? Embarcaram e desembarcaram ontem, eu fiz o Corcovado, a cidade com eles, era um grupo de diferentes nacionalidades, mas estava um grupo muito harmonioso e
me surpreendeu que havia dois casais franceses e ai, eles compraram postais, né, ai eu falei: “Pô…”, de repente, comprar postais, entende, ai eles: “Therezinha, Therezinha, onde é que eu posso ver os Correios?”, ai eu falei assim… depois que terminou, né, eu falei assim: “Aqui no centro da cidade, essa parte mais histórica – eles compraram o mapa – aqui deve ter para botar…”, eles estavam no Pão de Açúcar, escreveram postais lá, tomando um drink, entendeu, felicíssimos, quer dizer, eles usaram o recurso, apesar de toda essa estrutura que o ser humano conquistou para si mesmo (risos).
P/1 – Therezinha, pena que não dá pra gente conversar mais, mas eu queria agradecer muito…
R – Mas foi maravilhoso! O prazer foi todo meu…
P/1 – Parabéns pela sua trajetória.
R – Ah, imagina! Quem sabe daqui 15 anos a gente se encontra (risos).
P/1 – Parabéns.
R – Obrigada vocês.
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