P1 – Éder, então primeiro eu queria que você falasse o seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Tá. Meu nome é Éder Gomes, eu tenho 44 anos, nasci em 1965 no Rio de Janeiro em Campo Grande.
P1 – Ok. Você veio aqui pra São Paulo...
R – Eu vim ...Continuar leitura
P1 – Éder, então primeiro eu queria que você falasse o seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Tá. Meu nome é Éder Gomes, eu tenho 44 anos, nasci em 1965 no Rio de Janeiro em Campo Grande.
P1 – Ok. Você veio aqui pra São Paulo...
R – Eu vim com um ano de idade, minha mãe disse que eu quase que... Nasci no ônibus, bem dizer, né? Meu pai recebeu uma proposta de emprego, aí nós viemos parar aqui no bairro do Jabaquara. São Paulo mesmo.
P1 – (____?)
R – É. Aí eu virei um paulista adotado diríamos assim. Estou bem familiarizado com a cidade aí.
P1 – Engraçado, você falou Jabaquara e o Jabaquara é bem perto aqui da Avenida Paulista, né?
R – É. Ainda mais com o metrô. O metrô facilitou bastante, então qualquer programa que eu tinha que fazer, lazer, alguma coisa assim, pegava um metrô, descia por aqui, né? Quando não tinha ainda as estações, que eu sou meio velho, quando não tinham as estações eu descia ali na Paraíso, a linha norte-sul que é a mais antiga, aí vinha andando... A Paulista sempre foi muito prática.
P1 – O que você fazia aqui na Paulista...
R - Ah, aí que é legal, né? Porque como a gente... Eu sou professor de história. Então quer dizer eu já me relacionava com o pessoal da USP, da PUC, antes mesmo de estudar história na PUC. Então quer dizer, a relação... Como tinha muita gente que morava na zona oeste, como tinha muita gente que morava na zona norte, a Paulista era um lugar assim estratégico para um encontro, tipo um Bar do Riviera, no Coupes(?), lá mesmo no... Nesses bares aqui da Paulista. Aqui é a prainha mesmo, é o lugar que a gente vinha paquerar, namorar, marcava o encontro com a menina... Marcava com a menina, acabava saindo com a outra porque todo mundo se encontrava aqui, pessoal da nossa época, né?
P1 – Isso foi marcando a sua vida, né? Hoje qual é a sua relação aqui com a avenida?
R – É engraçado. Eu no meu trabalho na escola, eu conheço uma mineira, e mineira mesmo lá de São João da Mata, quatro mil habitantes, então... Eu noto nela assim certo deslumbramento com cidade grande, com prédio. Eu não, como eu comecei a trabalhar com 14 anos de contínuo, eu andava isso aqui, então pra mim é super normalizado. Eu nunca me via morando na Paulista. Quando eu casei com uma mineira, né, que veio morar na Avenida Paulista, esquina Brigadeiro com a... Então ela me conquistou a morar na Paulista e hoje vivo aqui, Paulista com Brigadeiro, e pra mim isso é engraçado. Quando eu me relaciono com ela eu vejo o deslumbramento dela, comigo parece que eu não saí do lazer e muitas vezes do trabalho também.
P1 – Responda pra gente como é que é ser morador da Avenida Paulista?
R – Ah, você quando você mora num bairro, você tem uma relação mais comunitária, né? Vizinho conhece vizinho, você sobe no muro pra falar mal do Palmeiras do... Palmeirense passa lá, vai te chama pra tomar cerveja. Tá faltando açúcar você vai lá no vizinho que você já conhece desde criança, que hoje é avô... Aqui na Paulista é coisa mais individual, nesse termo de cotidiano o pessoal é mais individual, as pessoas são mais individualizadas, mas ao mesmo tempo eu sinto uma relação boa, né? O pessoal é educado, essa classe média é muito educada, um respeita o outro, o espaço do alheio. Mas também você constata a diferença, as mudanças na política, você vê a política... Muda prefeito todo mundo quer mexer na Paulista, um ponto de referência, certo? E você vê muito próximo também as diferenças, você vê um banqueiro e ao mesmo tempo você vê um morador de rua. Isso aí pra quem trabalha com história choca porque você está presente. No bairro você já... O pobre é pobre, entendeu? E o bairro de rico é bairro de rico.
P1 – Você teria assim uma experiência sua aqui na Avenida Paulista que você poderia nos descrever?
R - Tem sim. Tenho, tenho, tenho. Quando eu não era casado ainda marquei um encontro com a menina no Bar do Riviera, você vê como as coisas mudam. Eu tinha vindo ao bar do... Vim ao Bar do Riviera acho que umas três semanas antes e marquei Bar do Riviera tal, né? Aí fui ao Bar do Riviera, tava meia hora atrasado já do encontro, quando eu chego lá o Bar do Riviera não existe mais porque aí veio... São duas coisas, aí veio a história que o Armando me contou... O Armando, quem freqüenta a Paulista conheceu o Armando. Paulista, Vila Madalena... Era um senhor que vinha com a bicicleta, às vezes andando, fabricava os bichinhos, né, na casa dele, a mulher dele e à noite ele vinha vender pra gente que ficava tomando chopinho. E o Armando me contou que o sujeito por problemas fiscais, aluguel, fechou o bar. E o dono que era herdeiro de outro, era um bar tradicional e fechou. A menina ficou me esperando, quer dizer, não deu nada por quê? Cadê o bar? Não existe o bar que você marcou comigo. E o dois que eu sempre que via o Armando, né, isso aí vai ficar... Quem tiver ouvindo vai lembrar do Armando. Tenho até os bichinhos dele em casa. Aí cadê o Armando? O Armando morre, quer dizer, é um sujeito, é uma personagem assim da Paulista pra mim.
P1 – Eu não conheço o Armando.
R – Entendeu? E cadê o Armando? Tô lá na praia: “Cadê o Armando?”. Armando morreu. Aí choca, né? Parece que a Paulista ela vai mudando, essas personagens vão sumindo. Tem um personagem que vende o amendoim, entendeu? Tem uma que vendia a calcinha, você dava pra namorada, que era em forma de flor. A Paulista tinha toda essa...
P1 – Tinha? Você não vê mais esses personagens por aí?
R – Vejo, mas outros agora, né? Outros. Então quer dizer, vai mudando a geração dos personagens.
P1 – Tem algum que seja marcante hoje? Dessa nova geração de personagens da...
R -
Hoje? Tem. Tem um. Um que mora, eu não sei como ele agüenta rapaz, esse aí é um que... Ele mora e ele tá todo dia à tarde na Paulista com a Brigadeiro, embaixo do prédio onde eu moro, né? Então toda vez... Olha, sempre vejo ele deitado lá com as suas coisas, com seus paramentos lá, ele dorme, entendeu? A esquina com a Paulista com a Brigadeiro.
P1 - Já chegou a conversar com ele?
R – Ainda não, mas não falta oportunidade, uma hora dessas quem sabe? Se ele me der essa oportunidade.
P1 – Éder, gostaria de contar mais alguma?
R – Não, por enquanto eu acho que fica por aí mesmo.
P1 – Tá certo. Obrigado.
R – Nada.
P1 – Valeu.Recolher