Quinze de outubro de 2018
Depoente Anésio Biancom
Entrevistadora Lia Cristina Lotito Paraventi, Noêmia de Fátima Ribeiro e Lesliane de Souza
Projeto todo lugar tem uma história para contar
Santa Cruz do Rio Pardo, HV 001
P/1 - Senhor Anésio, o senhor sabe quem deu seu nome? De onde surgiu o no...Continuar leitura
Quinze de outubro de 2018
Depoente Anésio Biancom
Entrevistadora Lia Cristina Lotito Paraventi, Noêmia de Fátima Ribeiro e Lesliane de Souza
Projeto todo lugar tem uma história para contar
Santa Cruz do Rio Pardo, HV 001
P/1 - Senhor Anésio, o senhor sabe quem deu seu nome? De onde surgiu o nome Anésio?
R - Não lembro, mas deve ser meus pais, sei lá, não sei.
P/1 - Não conhece?
R - É.
P/1 - Então conta para a gente um pouquinho. Pode falar sobre o seu pai, sua mãe, sua família.
R - Certo. Meu trabalhava no sítio com carroça puxando uma coisa, puxando outra, a minha mãe também ajudava ele trabalhando no cafezal, apanhava café, carpia café. Depois meu pai começou a mexer com gado, tirar leite e nós ajudávamos ele, amarrava perna de vaca, amarrar bezerro, ajudar na roça mesmo também, nós fazíamos de tudo, filha. Nós sofremos que nem sovaco de aleijado mesmo viu, sofremos mesmo, barbaridade. Aí foi indo e eu comecei a aprender a mexer com trator, aí eu aprendi a mexer com trator e vai daqui, ara para lá, ara para cá acabei aprendendo, mexendo com trator de esteira. Trabalhei tempo derrubando árvore, tomando mordida de abelha. Fazia de tudo, filha, sofria mesmo, fazia cada pirambeira dos infernos. Escapei de morrer um par de vezes também com trator. Daí aprendi a mexer com caminhão, com carro, aí vai daqui, vai dali, fui puxar material de construção, aí passei para a usina, puxar cana, aí na usina e puxa cana ali, vai daqui, vai dali, e um domingo eu não quis trabalhar, que era obrigado para ir domingo, e mandaram eu embora. Aí eu fiquei aqui na cidade e inventei de trabalhar de boia-fria, fui trabalhar de boia-fria e todo mundo tirava sarro de mim, “Põe primeira, põe segunda”. Aí peguei e fui para São Paulo, para a casa dos meus primos lá em São Paulo, em Guarulhos, cheguei lá eu falei: “Aqui eu vou trabalhar de varredor de rua, ninguém me conhece, ninguém vai tirar sarro de mim”, e procurei serviço daqui, serviço dali, entrei em uma firma para trabalhar de varrer, limpar, qualquer coisa. No outro dia o cara pega e deu a perua para eu fazer entrega, mas eu falei: “Mas cadê o motorista?”, “Caiu, se machucou aí, mas você é motorista, você vai fazer entrega”, me deram dois rapazinhos que não sabia dirigir, mas conhecia a cidade e eu fui com eles. Aí eles levaram eu, peguei a Dutra, aquele inferno todo, eu fui parar lá na Paulista ainda, aí quando eu cheguei lá na Paulista (inint) [00:02:40] entrar dentro da loja com a perua, quando eu entrei lá dentro a mulherzinha, quase que nem você assim, me deu um café para eu tomar lá naquele copinho, chacoalhei tudo assim e derrubei todo o café fora, tremendo, nunca tinha andando naquele lugar. E saí na rua ali, desci o Cemitério Araçá, passei perto do Pacaembu ali. Nossa, quando eu cheguei na firma fazia assim eu tremia que nem vara verde, a coisa foi feia, viu. Aí trabalhei, depois quando motorista chegou, trabalhei uns dias lá e aí o cara chega, o cara chegou (inint) [00:03:13] trabalhei junto com ele, mas você vai trabalhar com um cara que sabe e conhece a cidade, você acaba aprendendo. Aí deram um caminhão para eles fazerem entrega, para nós irmos lá na Praia Grande, e o cara, quando ia pôr terceira, o carro raspava, eu falei para ele: “Olha, (inint) [00:03:26] sem pisar na embreagem”, era acostumado com caminhão de cinco marchas aqui na usina, ele falou: “Velho, você não sabe merda nenhuma”. Daí eu peguei o caminhão, me deu o caminhão para mim, eu embalei a coisa e passava as marchas tudo sem cambiar o caminhão, ele falou: “Agora você vai descer a serra, a serra é perigosa”, “Que nada”. Eu desci, pá daqui e pá dali, fui e voltei. Aí trabalhei um tempo. Aí diante disso também teve outro tipo de serviço, que eu estava esquecendo de contar para vocês. Fui trabalhar no Rio de Janeiro, lá em Angra do Reis lá no Rio, negócio de pedreira, e vai daqui, vai dali, foi um inferno também, viu. Ainda o meu primo lá, que eu trabalhava com ele, vendeu os caminhões e daí veio para cá, aí chegou para cá, que foi na época que eu entrei para São Paulo, que estava contando a história, tinha esquecido desse trecho. Daí peguei lá de São Paulo, trabalhei tempo lá, nem sei quanto tempo eu trabalhei lá, depois eu vim para cá, vim na conversa dos outros, vim para cá, dancei que nem o Zé Pedro no pandeiro.
P/1 - Senhor Anésio, o senhor nasceu aqui em Santa Cruz?
R - Nasci em Santa Cruz, na Fazenda União, pertinho.
P/1 - Na fazenda?
R - União.
P/1 - União?
R - É.
P/1 - E o senhor ficou aqui... O senhor contou que o senhor trabalhava quando era criança ajudando os seus pais.
R - Trabalhava. Ajudava a carpir café, ajudava a fazer tudo quanto é servicinho. Na época a molecada trabalhava, não é que nem agora não, que é jogado para a rua.
P/1 - E o senhor tem irmãos?
R - Tinha, agora tenho uma irmã agora só, que sobrou só nós dois.
P/1 - Eram em três então?
R - Tinha o Zé, o Guilherme, eu e a Cida.
P/1 - Quatro irmãos, eram quatro filhos.
R - Aí o meu irmão deu nove infartos e aí morreu, deu outros problemas lá e acabou morrendo mesmo. E o Zé, que é o mais velho, deu uns problemas nele e quando levaram para entrar na UTI ele já caiu morto lá e pronto. Aí ficou eu, estou por aqui ainda, não sei até quando, mas nós vamos indo levando a coisa.
P/1 - E escuta, e vocês brincavam lá? Como é que eram as brincadeiras?
R - Era jogar bola lá no sítio, essas coisas, nadava em ribeirão, essas coisas, fazia de tudo.
P/1 - Tinha amigos?
R - É, tinha bastante amigo, colega, caçava de estilingue, essa coiseira de molecada mesmo, Nossa Senhora.
P/1 - Como que era caçar de estilingue?
R - Saía, cada um pegava um estilingue e saía tacando pedra em passarinho.
P/1 - E fazia o que com o passarinho depois?
R - Também comia, conforme o passarinho comia ou então largava lá no meio do mato. Depois comecei a caçar com espingarda também, daí acabou e não podia comprar bala (inint) [00:06:12], acabou em nada.
P/1 - E o que é que o senhor mais gostava dessa época?
R - Eu comecei com negócio de dançar, bater pandeiro, essas coisas, tocar em carnaval, comecei com uma turma aí, e vai daqui... Não sei bater pandeiro até hoje, mas faz barulho.
P/1 - E aí era na festa da cidade que acontecia isso?
R - É, festa na cidade mesmo, ultimamente eu estava tocando na Folia de Santo Reis com a turma aí, depois larguei mão também da Folia de Santo Reis. Agora, de vez em quando a Noêmia inventa um negócio, nós vamos e leva o pandeiro, todo mundo começa a coisar, eu começo a bater pandeiro e a turma gosta.
P/1 - E lá na Fazenda União o senhor estudava? Tinha escola perto? Como que...
R - Não, na União eu não estudava, que eu era muito criança, mas no outro lugar eu estudava, ia na escola assim. Também andava um quilometro, dois quilômetros para ir na escola, era só assim que eu ia.
P/1 - E aí o senhor estudou até que ano?
R - Terceiro ano de escola de sítio.
P/1 - O senhor estudou em escola de sítio?
R - É, sou analfabeto.
P/1 - E os seus irmãos estudaram também, não?
R - Estudou, o mais velho ele tinha segundo anos, mas ele sabia mais que eu que tinha terceiro. A Cida também foi na escola um tempo, não sei qual era a escola dela.
P/1 - O senhor parou no terceiro ano por quê?
R - Parei porque estava muito velho já e enjoei de ir na escola (inint) [00:07:32] não quis mais ir na escola.
P/1 - E o senhor lembra desse tempo da escola?
R - Lembro, escola (inint) [00:07:40] Cebolão, eu trabalhava na escolinha lá, professora muito boa e tudo, eu que era cabeça dura mesmo, viu.
P/1 - Você quer perguntar alguma coisa??
P/1 - Posso?
P/1 - Pode, claro.
P/1 - Nessa infância que o senhor passou com os seus irmãos, Senhor Anésio, qual era o ritmo de brincadeiras? As brincadeiras que vocês faziam?
R - Era jogar bola, essas coisas, brincar de pique, de correr, essas coisas assim.
P/1 - Sempre foi aqui em Santa Cruz? Sempre foi a vida inteira aqui (inint) [00:08:13] a infância toda?
R - É, foi tudo aqui, a infância minha foi tudo aqui em Santa Cruz mesmo, em sítio, fazenda, mas tudo por aqui mesmo. Depois que fui crescendo, ficando gente, aí criei asa e comecei a voar.
P/1 - Senhor Anésio, como é que era, o senhor falou que amarrava para tirar leite, o bezerro, como é que era isso?
R - O pai pegava, amarrava a cabeça dela no pau lá e pegava, jogava uma corda na perna dela e amarrava ela para poder tirar o leite ali, e o bezerro, muitas vezes pegava e soltava lá, depois que ele mamava, ele não queria ir para lá, amarrava uma corda e ia puxar ele lá, e trancava o lugar que ele ficava lá. Outra vez ficava vaca no pasto e a vaca não queria entrar na mangueira, você tem de ir lá com uma corda, um pedaço de pau e tocar ela para dentro da mangueira para entrar no curral para poder tirar o leite dela. Outra já ficava no pasto longe e tinha um piquetinho ali, aí montava nesse cavalo velho lá, era em pelo mesmo, só amarrava uma corda, montava e saía doido lá no pasto e tocar a vaca na mangueira. Eram assim as coisas.
P/1 - E o senhor tinha quantos anos quando o senhor fazia isso?
R - Não lembro, viu, não lembro, era moleque. Estava de calça curta, descalço, porque se você andasse lá no barro, você pisava no barro, quando você tirava o pé para cima, se tivesse de sapato, ficava lá, que o barro puxava mesmo, era barro até aqui assim na perna da gente, era bosta de vaca com barro, aquela coisa toda. Tudo descalço, tudo doido.
P/1 - E o senhor considera que foi uma infância feliz? O senhor gostava de viver no sítio?
R - Eu não gostava muito não, nós vivíamos porque não tinha jeito.
P/1 - Não gostava?
R - Não gostava não, porque a gente morava lá no sítio, não tinha outro lugar para a gente ir mesmo. Coitado do pai, era carroceiro, mexia com gado, essas coisas, o pai fazia de tudo, coitado, era analfabeto também. Ele conhecia todas as letras, mas não sabia juntar letras, a, b, c, d ele sabia, mas se fosse juntar, ele não sabia juntar letra, mas fazia qualquer tipo de serviço.
P/1 - E a sua mãe, Senhor Anésio, fazia o quê?
R - A mãe ajudava quando ir carpir, outra hora ela levava almoço para nós, aí chegava lá ela deixava a cesta de um lado lá e pegava uma enxada e: “Termina logo esse almoço, vai ajudar, vamos trabalhar”, ela ficava (inint) [00:10:29]. Muito boa.
P/1 - E com os seus irmãos, como é que era?
R - É tudo quase a mesma coisa, viu, está tudo junto assim.
P/1 - Vocês brincavam muito, vocês quatro?
R - Brincava, brigava, apanhava, batia, era assim.
P/1 - Apanhava?
R - Eu chegava em casa e a mãe chegava o reio em nós, era assim o negócio.
P/1 - Quem era mais bravo, sua mãe ou seu pai? Quem era o mais bravo?
R - Não me lembro mais.
P/1 - Não lembra, Senhor Anésio?
R - Não lembro. Agora, a Cida, que é a caçula, ela trabalhava na fábrica de doce, depois ela arrumou uma menina lá para criar, hoje já está moça, já está formada, mas é assim.
P/1 - E aí o senhor falou que daí começou a namorar, o senhor tinha quantos anos quando o senhor saiu de lá para a cidade ou começou a namorar lá na Fazenda União mesmo?
R - Acho que foi lá na União, eu nem me lembro o lugar que nós estávamos, que eu larguei mão, falei: “Não vou mais trabalhar nessa encrenca aqui”, daí quando eu falei que eu ia para São Paulo trabalhar de (inint) [00:11:35] dirigir, meu irmão falou assiR - “Você não vai dirigir nem cego lá dentro”, eu falei: “Mas não tem importância, eu vou catar lixo na rua, ninguém me conhece, quero ver agora. Me viro”.
P/1 - E a namorada?
R - Namorada nada, muitas vezes eu tinha uma, outra, largava, ela largava eu e assim ia indo a coisa, namorada nada.
P/1 - Mas tem esposa?
R - Agora eu moro com a companheira lá, muito boazinha, trabalhadeira. Ela tem um problema na mão e no pé, negócio de paralisia infantil quando ela era criança. (Inint) [00:12:09] faz uns cinco anos que eu estou com ela, mais ou menos. Eu morei com outra, mas a outra era um inferno de uma mulher atrapalhada que não tinha nem jeito, muito ciumenta, a gente não podia conversar com mulher, a não podia sair de casa, a bicha era... A coisa era feio mesmo, não era brinquedo não. Daí ela falou: “Vou embora”, “Vai, Deus que acompanha”, pegou e foi, aí deu parte de mim, que a casa era dela, falei: “Aí Cristo, como é que a casa é tua? Se eu comprei a casa eu morava em São Paulo, não morava aqui, comprei com inquilino dentro da casa”, “Arruma três testemunhas?”, falei: “Quer que eu arrumo a rua inteira lá? Eu arrumo”. E na época eu morava no aeroporto lá de Congonhas, trabalhava lá com uma perua lá carregando refeição, marmitex. E ela disse que a casa era dela, a casa é dela coisa nenhuma, eu falei: “A casa é minha, eu comprei com inquilino dentro da casa, caramba”.
P/1 - O senhor conheceu ela em São Paulo, isso?
R - Não, essa eu conheci aqui em Santa Cruz, no forró também, conheci lá no forró. Aí comecei a conversar e taratatá, falei: “Eu estou morando sozinho e tal”, acabei trazendo ela para o barraco, não, na casinha dela ali embaixo, aí a casa dela era da irmandade lá, e a minha casa estava alugada, estava o inquilino dentro da casa. Depois o inquilino ficou tempo lá, inventou de sair, saiu uma casa para ele lá para cima, foram para a casinha deles, e a casinha minha parada, eu peguei em vim morar na minha casa. Aí tempo que ela estava aí ela diz que a casa era dela, que ela ajudou a comprar a casa, eu falei: “Como é que você ajudou, Cristo?”. Não tinha jeito, a mulher era um cão chupando manga, viu, Nossa Senhora.
P/1 - E o senhor teve filhos com ela?
R - Não, graças a Deus não. Não quero saber também desse negócio, é outra bucha também, Deus me livre.
P/1 - E o senhor gostava de dançar?
R - Eu gostava de dançar, toda vida eu gostei de dançar e bater pandeiro, dançar quase que eu não sei muito mesmo, falo a verdade, gosto mais de bater pandeiro, bater um triângulo, um escambal assim, mas não... Dançar até danço um pouquinho, uma coisinha muito fácil.
P/1 - E o que tem de divertimento, hoje em dia, que o senhor gosta, Senhor Anésio?
R - O Reviver aqui, depois eu vim para o Reviver depois das histórias tudo eu entrei no Reviver, era lá embaixo perto do campo de bola, aí dali pá, daqui pá, passamos na igreja lá embaixo e ficamos tempo, pá daqui, pá dali, depois não sei como é que eu vim (inint) [00:14:31] Noêmia, andar ali, acho que foi que fez? Aí nós estamos aqui até não sei quando, agora é para nós passarmos para lá, para o outro lugar ali, mas não sei quando também.
P/1 - Como é que foi essa sua... O senhor chegou a morar na cidade aqui de Santa Cruz, saindo do sítio?
R - Não, eu só morei aqui na vila mesmo, aqui só, na vila mesmo. Morava aqui atrás, agora eu moro aqui em cima, escondi lá em cima, pobre não mora, esconde mesmo.
P/1 - E o senhor veio com a sua família ou o senhor veio sozinho?
R - Não, aqui eu estou... Para São Paulo eu vim sozinho, eu juntei com galo de briga e vim para cá.
P/1 - E em São Paulo qual foi a sua impressão assim quando o senhor chegou na cidade?
R - Nossa, fiquei doido, eu vi aquilo, era um formigueiro aqueles carros, falei: “Como é que eu vou andar nisso aqui?”. O primeiro serviço meu, que eu estava contando para você, aí quando o cara falou... Tiramos as coisas, eu falei para homem que eu não conhecia nada, para o encarregado lá, ele falou: “Não, não tem problema não, você vai trabalhar de ajudante aí com o cara”, porque primeiro ele fez um teste comigo, mandou eu dar uma volta com a perua, uma rua que nem essa aqui, peguei, deu uma voltinha, peguei e voltei, e falou: “Está bom”. E quando foi no outro dia, que eu fui para trabalhar, era para eu ficar varrendo lá, passando espanador, era negócio de móveis, e no outro dia mandaram eu fazer entrega, que o motorista caiu, se machucou, aquela coisa toda, aí eu fui, me deram o rojão na mão e eu saí. Vou dizer para você, sofri que nem sovaco de aleijado, a coisa foi feia, mas, graças a Deus, deu tudo certo.
P/1 - Mas o senhor gostou dessa (inint) [00:16:08]?
R - Foi, foi bom. Eu sofri, mas era gostoso, era divertido. Eu, quando cheguei na casa do meu primo, tão apertada que era a casa do meu primo, eu dormia debaixo da mesa, depois a minha prima pegou aquela cama de desmantelar assim, ela pegava, fazia assim e jogava debaixo de uma mesa redonda lá, e eu dormia ali, no outro dia cedo eu levantava. Tinha as filhas dela, umas mocinhas que trabalhava por lá pela cidade, no outro dia cedo, quando eu levantava, eles puxavam aquela coisa, dobrava e punha atrás da porta e eu pegava e ia para o serviço.
P/1 - O senhor veio então morar na casa de um primo quando o senhor veio para cá?
R - É, morei na casa de um primo.
P/1 - O senhor tinha quantos anos, o senhor lembra?
R - Morei tempo, depois de lá, que eu estava puxando... Larguei do coisa lá, aí peguei um caminhão, um basculante lá, acho que era basculante sim, trabalhei uns tempos com basculante. A turma vinha para Bauru, eu falei: “Para Bauru eu não quero ir”, aí nem foi registrado. Aí peguei puxar criança de escola, um cara descobriu que eu era motorista, estava precisando de motorista, falou comigo e eu peguei a perua para carregar criança, mas não conhecia nada também. Aí o filho do homem, um rapazinho assim, conhecia todos os lugares de pegar as crianças, trabalhou comigo uns dias (inint) [00:17:18] aprendeu o (carreiro) [00:17:20] lá, aí aprendi. Tudo criancinha pequena assim, na frente comigo eu carregava cinco, seis pequenininhos assim, ia para o prezinho, a peruinha cheia, na época não tinha limite para você carregar, então, agora não, mais do que quinze não pode carregar, mas na época não tinha, eles iam por cima do banco, outro ia de pezinho ali, aquela coisa toda. Me chama de avó, de tio, eu não estava nem aí, e pau na máquina. Quando eu saí daí veio chorar que nem sei o que, não queria que eu saísse, costuma com a gente. Daí o patrão, que eu trabalhava com ele, ele pegou, ele morava lá em Guarulhos, ele falou assiR - “Quanto que você ganha?”, eu falei: “Eu ganho um real por mês”, seria um milhão,
“Ganho um milhão por mês”, ele falou: “Quer trabalhar comigo”, eu falei: “Eu ganho um real por mês, mas pago quinhentos pau de pensão e o resto do dinheiro fica para mim um pouquinho, o resto eu dou para a minha mãe, mando para a minha mãe lá em Santa Cruz”, aí ele falou: “Olha, você quer trabalhar comigo no aeroporto? Eu te pago um, mas é livre, você não vai pagar para comer, nem para dormir, nem nada, mas só que tem uma, você é obrigado a trabalhar dia de domingo, feriado, tudo, só que dia de domingo você trabalha até meio dia, dia de feriado também até meio dia, já entrega almoço e janta tudo cedo, e de meio dia para a tarde você folgado”. Aí comecei a trabalhar com esse homem, pá dali, pá daqui, trabalhei dez anos com ele. Daí inventei de... A turma falou: “Vem para Santa Cruz, porque para comer você vai em qualquer lugar”, pedi a conta, dancei que nem o Zé Pedro no pandeiro também. Vim aqui, aí não arrumava serviço aqui, ou seja, o dinheirinho que eu tinha foi acabando. Aí peguei, acho que foi com o Honório Forroso, fazendo entrega de panfleto negócio de eleição, fazia entrega lá e já conhecia todos os lugares lá, que lá ele não conhecia quase nada, quer dizer, eu conhecia bem, mas o serviço dele não dava para ele andar. Ia na Assembleia Legislativa, ia lá para o Detran, ia para tudo quanto é lugar, eu andava lá, e ele ficava no escritório, ele não podia sair dali, ele falou: “Se eu ganhar a eleição você vai trabalhar comigo. Para vim de Santa Cruz aqui, daqui voltar para Santa Cruz, andar na cidade, fazer qualquer coisa, você conhece bem aí dentro”, aí eu falei: “Eu conheço bem sim, mas sou analfabeto”, falou: “Mas você entende tudo, conhece todas as ruas aí quase”, e vai daqui. O homem vai e perde à eleição, o velho dançou. Aí o velho dançou mesmo, aí peguei, eu fui trabalhar acho que nesse negócio de puxar comida lá, que eu estava contando para você, aí aquilo foi um rolo que eu não lembro mais. Aí quando eu vim aqui para Santa Cruz, eu já estava em Santa Cruz, peguei um caminhão para trabalhar, tenho até o retrato dele aí, puxar pedra também em uma companhia de asfalto aí. Pá dali, pá daqui, a companhia vai embora para São José do Rio Preto, não quis acompanhar, peguei um carro, quase que nem o de vocês, mas só que é um carro novo, só para carregar engenheiro. Eu estava que nem gente ali, de roupinha limpa e bonita, aquela coisa toda, a turma vai embora lá de Mato Grosso e eu não quis acompanhar a firma, para ficar em alojamento, a coisa mais ruim que tem no mundo é ficar em alojamento, eu já fiquei, eu sei. Aí eu não quis acompanhar a firma, fiquei, fiquei aqui e entrei no Paloma, o restaurante Paloma, não sei se vocês conhecem, passaram por ali. Mas só que ali, ao invés de eu entrar como motorista, não tinha outro serviço, que primeiro apareceu um serviço, mas não quis pegar não. Aí entrei no Paloma, mas no Paloma, ao invés de eu trabalhar de motorista, eu trabalhei de ajudante geral, agora no coisa lá da funerária que mandaram eu trabalhar, que eu não quis, era porque achava morto na estrada, ia lá pegar os pedaços do cara, pôr no caixão, lavar o defunto, fazer barba, achar nego fedendo, trazer, eu falei: “Não, para mim não dá essa boca não”. Aí fui no Paloma, eita lasqueira, viu.
P/1 - (Inint) [00:21:21] eu perdi um pedacinho...
R - Eu trabalhei um pouco também sabe onde? Mas foi pouco tempo, foi lá em Angra do Reis, lá no Rio, lá em Barra Mansa, Rezende, Parati, com a minha basculante também. Aí trabalhei pouco tempo lá, aí o meu primo vendeu os caminhões, pegamos e viemos para cá. Mas vamos dizer, é tanta coisa que a gente não lembra toda a história da gente certinho.
P/1 - Senhor Anésio, mas o senhor saiu da sua casa, deixou os seus pais e foi viver em São Paulo?
R - É.
P/1 - E até que o senhor casou, o senhor nunca mais voltou para a casa dos seus pais? O senhor viveu tanto tempo...
R - Não, eu morei com eles quando eu vim de São Paulo, eu fiquei uns tempos na casa deles, quando eu vim de lá, que eu acertei, fiquei morando junto com eles tempo, até eu que ajudava na casa mesmo, porque o dinheirinho que eu tinha lá em São Paulo, eu ajudei esse tempo. E todo mês que eu estava em São Paulo eu mandava dinheiro para eles, todo mês quando eu vinha aqui, muitas vezes dia da minha folga eu vinha, daí tinha mais motorista. Aí eu, por exemplo, hoje era a minha folga, eu combinava com os homens lá e eu vinha aqui pegar ônibus lá onze horas da noite e vinha, chegava cinco horas aqui. Vinha em casa, deixava um dinheiro para a mãe, almoçava e de noite, meia noite e quarenta eu pegava, vinha, voltava para São Paulo. Chegava na firma, só deixava a sacolinha minha de lado lá assim, e entrava na cozinha lá, bebia um golinho de café, ajudava, pegava a perua e ia correr para a cidade fazer entrega. Dez horas, dez e pouco eu saía e ia fazer entrega, que era muito entrega que eu fazia.
P/1 - Mas quando o senhor retornou a Santa Cruz, o senhor voltou a viver com ele ou não?
R - Não, morei com eles sim, mas no tempo, mas (inint) [00:22:56] na casa, daí que eu arrumei aquela encrenca lá de baixo, aquela mulher que eu estava falando com vocês, aí que eu fui morar com ela lá na casa da dona encrenca lá embaixo. Aí morei muito tempo lá, depois que o cara desocupou a casinha minha aqui, entrei na casinha junto com ela ali, aí ela ficou uns tempos: “É, porque eu vou embora para São Paulo para casa da minha filha, para casa do chapéu”, falei: “Então vai, Deus que acompanha”, a gente que dá mais (inint) [00:23:18] ainda. Aí ela pegou e foi para o ônibus, aí deu parte de mim, que a casa era dela, eu falei: “Mas não é possível uma coisa dessa”. A coisa foi feia.
P/1 - E aí dessa época que vocês se separaram, aí o senhor só se casou agora depois de cinco anos (inint) [00:23:37]?
R - Aí depois arrumei outra companheira, viu. Aí fiquei dez anos sozinho mesmo, só eu e Deus, eu mesmo fazia tudo, fazia comida, um short, uma camisa, assim, eu mesmo lavava, agora roupa de coisa pesada a minha irmã, lá embaixo, roupa assim de sair dia de domingo, a minha irmã que lavava, que ela mora aqui embaixo, dia que eu não levava ela ficava brava comigo, a Cida, se eu não lavasse ela até batia em mim, no caso eu corria.
P/1 - Eu perdi um pedacinho da história, porque passou um ônibus. O senhor saiu de São Paulo, porque é que o senhor saiu de São Paulo e veio para Santa Cruz?
R - Porque a turma fala: “Olha, para comer você vai em qualquer lugar, não precisa ficar aqui. Vem para cá”, que eu escapei de morrer mesmo em São Paulo um par de vezes. Uma vez lá foi um negócio de um assalto sete horas da noite, então tudo era do dono mesmo que eu trabalhava. Acabamos de jantar, ele falou: “Vai lá, vamos tomar um café lá, vamos tomar uma cerveja”, falei: “Não, acabei de jantar agora, vou tomar um café lá então”, e fui, estava de short, chinelo havaiana, mais um colega meu que mora, não sei onde é que ele mora aí. Aí ele junto comigo e mais outro rapaz lá, não sei quem que era, nós estávamos tomando café, chega três caras com um revólver na mão “É assalto, ninguém se mexe”, e o velho do português inventa, que era o irmão do patrão, tirou o revólver do bolso, um 38 cano curto, e atirou no bandido. Foi um tiroteio desgraçado, aliás, não acertou em ninguém, mas acertaram ele, deram dois tiros no peito dele e um debaixo do sovaco, ele caiu no meu pé assim, o outro correu para lá. Eu estava com copo na mão, nem sei para onde é que o copo foi parar.
P/1 - Aí o senhor resolveu vir embora?
R - É, depois nós ficamos um pouco lá, depois eu resolvi vir embora para cá. “É, você fica no meio de bandido”, contei a história, eles sabiam também, “Não, você fica no meio de bandido, então você vem para cá, porque para comer você vai em qualquer lugar, não fica em meio de bandido, aquela coisa toda”. Aí foi a história, acabei pedindo a conta e vim embora para cá. Mas se eu fico mais um pouco na firma, mais uns dois anos, eu tinha saído melhor, porque os caras lá, os patrões com o outro sócio dele, venderam lá, acabaram em nada, eles encrencaram, mandaram todos os funcionários embora, se eu estivesse lá eu tinha pegado uma nota boa até, porque eu fazia dez anos que eu estava na firma, com mais dois anos eram doze anos que eu estava na firma. E não queria que eu saísse de jeito nenhum, “Nossa, você conhece tudo aqui, porque é que você vai embora? Você não pode ir embora. Como é que nós vamos fazer?”, e falei: “Se vira”, e peguei e vim para cá, aí foi quando eu dancei.
P/1 - Aí o senhor veio para cá, e aí o senhor encontrou o primeiro emprego como?
R - Foi com o Honório Forroso, negócio de entregar panfleto lá em São Paulo.
P/1 - Foi esse que foi o primeiro?
R - Esse foi o primeiro.
P/1 - E aí depois do panfleto o senhor foi para?
R - Daí do panfleto eu fui para... Ver se eu me lembro. Acho que fui trabalhar na...
P/1 - Mas sempre como motorista?
R - Era tudo motorista.
P/1 - Motorista e depois como ajudante, que o senhor colocou.
R - É, o último serviço foi como ajudante aí no Paloma, de varrer o pátio lá, aquela coisa toda, mas tudo foi de motorista.
P/1 - E o senhor se aposentou?
R - Aí aposentei, mas a aposentadoria pifou, porque como eu estava de motorista, o ordenado é uma coisa, você passa de ajudante geral o ordenado caí, filha, o negócio é esse. Eu ganho um salário, que nem os outros estão ganhando aí.
P/1 - E aí o senhor veio trabalhar aqui no Reviver como?
R - Aí eu entrei no Reviver eu nem sei de que jeito, acho que foi o meu irmão que ajeitou para eu entrar no reviver, nem lembro, falo para você a verdade. Nós começamos lá embaixo, quando eu comecei, lá na beira do campo lá, andava em roda do campo (inint) [00:27:22].
P/1 - E o senhor faz o que aqui?
R - Aqui eu fico com a turma jogando dominó, essas coisas aí, que eu não sei fazer outra coisa mais.
P/1 - O senhor não trabalha aqui, o senhor participa do projeto?
R - É, eu participo do projeto, eu jogo dominó, daí saio por aí, essas coisas, e faço a caminhada cedo aí também no... Como é que é? Aquele Projeto Caminhar, aquele negócio aí.
P/1 - Mas essa sua participação no Reviver...
R - É, o meu negócio mais aqui é Reviver.
P/1 - Então, mas essa sua participação que o senhor tem no Reviver, e essa que o senhor disse que vem aqui só para jogar, para o senhor, o senhor se sente bem? Como é que é para o senhor?
R - Não, aqui para mim é bom demais, moro pertinho, o pessoal tudo bom, tudo gente boa, eu estou aí, nós jogamos dominó, nós brincamos, dá risadas, nós saímos de vez em quando, que ela ajeita aí e nós vamos por aí negócio de piscina e a turma dança, eu bato pandeiro, essas coisas tudo. Nós fomos até na Barra Bonita andar no barco lá, assim.
P/1 - E o senhor tem filhos agora?
R - Não, não tenho nada.
P/1 - O senhor não tem filhos?
R - Graças a Deus não, deixa para lá isso aí. Essa parte eu não quero não.
P/1 - E a sua esposa agora, a sua companheira ela acompanha o senhor? Vai (inint) [00:28:41]?
R - Agora começou a acompanhar aqui o Reviver, começou a acompanhar eu. Ela tem problema, negócio de costurar as coisas ela não sabe, que a mão não ajuda. Mas a casinha minha lá, pode ir lá para você ver, um brinco a casinha lá, eu até falei para ela ir lá para ver a minha casa lá.
P/1 - (inint) [00:28:59].
R - Nossa, (inint) [00:29:01] tem um luxo com a casinha lá.
P/1 - Senhor Anésio, como o senhor aprendeu a tocar o pandeiro?
R - Hein?
P/1 - O pandeiro, como é que o senhor aprendeu a tocar?
R - Eu comecei, eu via no baile, eu via os outros bater pandeiro, eu pedi o pandeiro para os caras para bater um pouco, e começava a bater, a turma achava bonito a brincadeira e foi desse jeito que eu comecei. Aí meu tio uma vez falou para mim assiR - “Você vai no carnaval, está faltando um pandeirista”, eu peguei e fui no carnaval com ele lá no Suarema, lá embaixo, era carnaval mesmo, eram quatro noites de dança e uma matinê. E foi assim, aí foi bailes de sítio, essas coisas, todo mundo chamava eu, achava bonito eu bater padeiro e foi para o pau, a coisa foi mesmo, aí uma coisa foi puxando a outra e vai. Agora o triângulo, comecei a bater triângulo foi lá na Praça da Sé lá em São Paulo.
P/1 - E o senhor tem mais algum instrumento que o senhor aprendeu?
R - Tem, o triângulo o trouxe aí, mas é um triângulo que eu mandei fazer, o cara fez para mim o triângulo e lá em casa eu tenho aquele negócio de chacoalho, aquele negócio, mas se você está batendo pandeiro, (inint) [00:30:10] pegar essas outras não tem jeito de fazer, se você está com o coisa não tem jeito de bater pandeiro, se você está com triângulo, não tem jeito de bater pandeiro, então... (inint) [00:30:17] o cara pega um pandeiro lá e eu pego o triângulo é está, ela pega o triângulo, se eu pego o pandeiro, eu pego outro negócio qualquer.
P/1 - E todos eles o senhor aprendeu sozinho, Senhor Anésio?
R - Tudo isso sozinho. Agora sanfona e violão já lidei, mas não consigo nem afinar aquela encrenca. Eu tenho lá um cavaquinho, novo até, mas não sei nem afinar. Quando eu vou em lugar que o cara sabe tocar aquele troço, eu falo: “Então você pega esse negócio e eu pego esse aqui”. A senhora quer ver o retrato? Tem aqui de quando eu trabalhei com o trator, e trabalhei em São Paulo.
P/1 - Como o senhor se sente quando o senhor toca o pandeiro?
R - Eu gosto, viu, nossa, eu gosto muito, eu gosto de bater pandeiro. Nossa, (inint) [00:31:00] batendo pandeiro, você tocando uma sanfona ou outro troço qualquer, aí eu bato pandeiro, faço cada presepada danada. Ela já viu como é que é o esquema.
P/1 - Ele tem uma performance para tocar o pandeiro.
P/1 - É? Como que é isso?
R - Porque para bate pandeiro sozinho não tem graça, não tem jeito aqui, a gente bate, mas não tem graça. É facinho bater pandeiro, mas tem que ter o ritmo, senão não tem jeito.
P/1 - O senhor trouxe o pandeiro?
R - Trouxe, trouxe para mostrar para vocês, está aí. Pega lá para mostrar para eles.
P/1 - Muito bom. E o triângulo?
R - Agora a batida do xote é assim.
P/1 - Muito bom. Esse triângulo o senhor que fez? O senhor que mandou fazer?
R - (Inint) [00:33:57]. Mas tem para comprar, mas eu comprei esse aqui. (inint) [00:34:03]. Quer ver.
P/1 - O que acontece (inint) [00:34:43]?
R - Não, ele segura aí.
P/1 - Nossa, de novo. Como o senhor faz isso?
R - É que é fácil.
P/1 - É cheio de truque.
R - É truque, (inint) [00:35:03] é truque. E lasqueira, filha.
P/1 - Cheio de truque.
P/1 - Nossa, olha só.
R - Quer bater triangulo? Vocês querem bater?
P/1 - Não sai nada aqui, viu, Senhor Anésio.
R - É coisa simples, filha.
P/1 - Como é que é? Não sai.
R - É facinho, você quer ver. Você bate o xote assim, vou bater só.
P/1 - Muito bem. Meninas, mais perguntas? Querem saber mais alguma coisa do Senhor Anésio?
R - (Inint) [00:36:26].
P/1 - Para fazer a performance tem que estar...
P/1 - Senhor Anésio, hoje o senhor com oitenta anos, hoje o senhor se sente bem? Bem melhor do que a sua infância, do que foi antigamente?
R - (Inint) [00:36:45] quando chegava de noite nem dormir você não dormia.
P/1 - Não entendi, como é que é?
R - De noite você nem não dormia, de cansado, aquela coisa toda, negócio de serviço.
P/1 - O que é que o senhor faz hoje, Senhor Anésio? O senhor está aposentando, mas o que mais que o senhor faz?
R - Não faço nada, só venho no Reviver, do Reviver em casa, cuido do meu quintalzinho lá, que eu tenho um quintal, lá eu planto uma coisa, carpo e é assim, faço aquelas cestinhas de papel e triângulo, que eu fiz um para vocês aí. Você viu aquela que eu dei para vocês? Aquela coisa do...
P/1 - Mas o senhor tem vontade de trabalhar ainda, Senhor Anésio em um...
R - Não tenho mais vontade de trabalhar mais não.
P/1 - Sei como é.
R - Não, trabalhar nada. Você vai trabalhar, só se for por tua conta, você trabalhar, na hora que você quiser parar, você para, se você trabalhar para os outros não, se você não está aguentando mais e o cara quer que você faz o serviço. Que nem quando eu trabalhei fazendo entrega, você encostava a perua lá “Tem que levar vinte sacos de cimento lá na casa do chapéu”, também tem um cara para ajudar, quando não tem você está sozinho, você pegar o cimento e pá na perua, chega lá na mulher ou cara “Não, põe naquela casinha lá no fundo”, e você saí com o saco de cimento passando debaixo de varal de roupa, e cheio de roupa, aquela coiseira tudo. Você entendeu como é que é? Aí chega lá e você põe. Quando você chega, pensando em vir embora, já está na hora de você vir embora “Não rapaz, mas faz outra entrega lá que o rapaz está esperando lá”, você tem que carregar e sair.
P/1 - Então chegou na melhor idade e está bom assim?
R - Chega em uma certa idade e não aguenta mais, pode parar. Que nem eu estou no meu quintal lá, se eu ver que não dá certo, eu jogo a enxada em um canto lá, tomo um banho e eu corro no ponto do circular, pego o circular, que eu não pago nada, vou para a cidade, venho. Assim é a vida da gente, vai levando até quando Deus quer, mas eu sofri sim.
P/1 - Gostaria de falar mais alguma coisa? Contar mais alguma coisa?
R - Não, acho que agora já não tem mais nem o que falar. Se vocês perguntarem alguma coisa e eu puder responder, eu respondo.
P/1 - Você tem? (Inint) [00:38:46].
R - Fiz aula de ônibus em São Paulo, passei também, tem até o papel tem marcado, fiz aula de ônibus, fiz tudo, passei em tudo também. Andava com um bitelão lá na rua, a câmbio dele era aqui, o câmbio ia lá atrás, mas o câmbio vem assim aqui a cabeça do câmbio, você faz aqui e puxa primeiro, aí empurra para cá, marcha ré. Assim como é.
P/1 - O senhor tirou carta para dirigir?
R - Tirei, tenho carta, tenho tudo, tenho, muito bom.
P/1 - Então, mas o senhor tirou aqui mesmo, quando o senhor fez dezoito anos, é isso?
R - Tirei aqui mesmo, é, eu terei carta aqui mesmo. Até o meu irmão, quando eu tirei carta, o meu pai falou: “Você logrou até o delegado, rapaz, você não sabe nada”, sabia mexer com trator.
P/1 - Mesmo sem ter muito estudo, o senhor conseguiu tirar carteira?
R - Tirei, tirei. Hoje, se fosse para tirar carta, eu não tirava, porque hoje tem não sei quantos anos do negócio lá, não sei como é que fala, é quarta série, é quinta série, é não sei o que lá mais, eu tinha terceiro ano de escola de sítio e tinha aquelas plaquinhas todas para você estudar. Eu estudava, está daqui, está dali, e não sei como é que... No primeiro dia eu repeti mesmo, foi verdade, eu repeti, porque eu saí na rua e tinha aquele escrito no chão “Pare” e eu chegava e passava, só dava uma maneira e passava, o cara pá, reprovei. Daí o cara: “Não, mas quando está escrito “Pare” você tem que parar, rapaz”, falei: “Puta merda, então é hoje”. Aí o negócio do motor, quinze anos de motor também. Mas uns dias, antes tinha um cara que era policial, conhecido meu, eu falei com ele, ele falou: “O delegado vai estar uns dias de folga, você vai lá para eu dar uma explicação para você”, e tinha uma mesa assim, e na parede assim cheio de peça dependurada e em cima da mesa cheio de peça ali, ele falou: “Aqui o negócio é o seguinte: o coisa, o Chiquinho (inint) [00:40:38], que era na época”, ele falou: “Ele vai pegar e vai mostrar que ele conhece a gente, conhece você, conhece todo mundo aqui e mostra ele uma peça mais fácil, mas se for o tal de Bronquinha, você vai repetir, o Bronquinha é coisa feia. Mas eu vou explicar para você”, e ele explicava: “Essa é essa peça, essa...”, e foi explicando. Fui uns três, quatro dias lá, decorei as peças, aí cheguei lá o Chiquinho não estava lá, quem estava lá era o bendito Bronquinha, que ele mancava de uma perna, mas decorei as peças tudo, não sabia para que é servia também. O delegado: “Que peça é essa?”, eu falava, “E essa?”, começou a mostrar salteado eu fui falando, ele pôs a varinha em cima do lugar lá e pegou na minha mão: “Parabéns, você passou em tudo”. E foi assim a minha história. E o meu irmão falando assiR - “Mas você logrou até o delegado, rapaz. Você é enrolão mesmo”. Ei lasqueira.
P/1 - O senhor lá na fazenda então, Sítio União, Fazenda União.
R - Fazenda União, filha.
P/1 - O senhor dirigiu trator, mas sem carta?
R - Sem nada, lá não precisava, trator não precisa.
P/1 - O senhor aprendeu...
R - Foi assim, eu carpia café junto com o pai e tinha o cara que trabalhava com o trator, longe, estava trabalhando com o trator longe assim, primeiro comecei em um tratorzinho daqueles de gasolina, o cara andando com o tratorzinho para lá e para cá, eu falei para ele e ele deu uma explicação para mim e eu andava com aquele tratorzinho de gasolina. Aí passei, depois fomos morar no União e tinha um cara mexendo com um diabo de um trator lá e eu fui lá, tinha amizade com cara, aí quando o meu tio, que era o administrador da fazenda, passava a cavalo quatro horas da tarde, três horas ele passava. Meu tio passava e meu tio era (inint) [00:42:24] do outro, que a gente passava aqui e ia embora assim, eu saía, falava para o pai, “Larga a mão, rapaz, de ser besta”, eu saía cortando no meio do cafezal e ia lá onde é que o cara estava trabalhando, eu falei para o cara: “Olha, dá uma explicação para mim desse negócio, que eu te dou uma groja para você”. Aí ele pegou e sentou de lado, o banco do trator é largo assim, tudo cheio de alavanca o bagulho lá, não tem direção, não tem nada “É assim o negócio” e pá, pá. Ele deu umas voltas comigo, aí ele sentou de lado e eu enterrava o trem no chão, o trator afogava, funcionava, daí afastava, e vai daqui, vai dali acabei aprendendo com aquela encrenca.
P/1 - Senhor Anésio, então o senhor é da época do famoso terreirão na fazenda (inint) [00:43:02]?
R - É, tinha o terreirão de café ali.
P/1 - O senhor chegou a trabalhar ali?
R - Não, eu ia levar as coisas lá, ajudar lá, mas no terreirão não. Tinha um terreirão de café grande mesmo assim, tinha um lavador do café, aquela coisa, tinha vagoneta, eles enchiam aquela encrenca de café e levava lá. Você viu hoje lá? Tem a vagoneta, tinha tudo essas coisinhas lá.
P/1 - Senhor Anésio, e segundo uma história, a Fazenda União ela é assombrada. O senhor chegou a (inint) [00:43:27]?
R - Eu não vi assombração nenhuma, eu vi que a turma falava, mas eu nunca vi mesmo, falar a verdade, nunca vi.
P/1 - Mas o que é que eles falavam, Senhor Anésio?
R - A turma falava que via as coisas, eu nunca vi nada, pedrada eu escutei, muitas pedradas mesmo, dizem que é o Saci que tacava pedra na gente, mas eu não via nada não, cada torraozão assim, mas não pega na gente. Escutava eles assobiarem, escutei um par de vezes os bichos assoviarem mesmo.
P/1 - A história da noiva então.
R - É, ele gosta de pegar criança, o diacho do Saci, que ele chega, tem uma criança brincando, ele mostra um brinquedo para a criança e vai, a criança vai entretendo naquilo, quando vê o menino está perdido. Que nem uma vez lá de tarde, tinha um homem que morava lá, assim que nem você moreno assim, ele tinha um menino, até aleijadinho da perninha, o menino tinha a perna meio estrambeta lá, aqui tinha uma bica d'água e aqui tinha um barrancão, aí até a gente que era bom das pernas era difícil de subir ali. E o menino foi lá na bica, foi com a mãe dele, a mãe dele voltou para cima e esperando o menino vir atrás, o menino não aparecia, o menino sumiu e a mulher ficou apavorada. A mulher ficou apavorada, aquela coisa toda, chamou os vizinhos para procurar o menino por ali, mas ninguém não achava o menino. O meu tio, que era o administrador, depois que achou no cheiro do menino, ele estava aquela coisa toda e vai daqui, vai dali, foram achar o menino lá em cima no cafezal em uma moita de espinho ainda muito grande. Aí o meu tio chamava, aí foram lá e acharam o menino, aí foram perguntar a mãe... Deixa ele passar. Pode começar ou não?
R - Pode começar (inint) [00:45:13].
R - Pois é, a mulher foi buscar água lá na bica e o menino foi junto, um menino assim meio aleijadinho da perna, depois a mulher chegou em casa e o menino não aparecia, foi lá procurar e não achava mais o menino. Chamou todos os vizinhos para procurar, o menino todo mundo conhecia ele, e vai daqui, vai dali, avisaram o meu tio lá embaixo na fazenda, ele veio com a turma lá da fazenda, que morava tudo por lá mesmo, com cachorro, aquela coisa toda e vai daqui, procura esse menino e chama, todo mundo ali, assim, não era muito grande o negócio até. E o cachorro pegou o rastro lá para cima, acho que era o rastro do menino, e foi, chegou e não tinha uma moita de espinho, de arranha gato, eu não sei do que é que era lá, e o menino lá no meio da moita chorando até. Depois tiraram o menino de lá, aí eles perguntaram para o menino o que é que foi, ele falou: “Foi o moleque, um molequinho pequeno com um carrinho bonito e queria dar um caminhão para mim”, falei: “Eu quero é pegar o carrinho”, “E como é que você subiu o barranco?”, “Ele que me subiu”, o Saci que subiu ele lá em cima, “Ele me pegou e levou lá em cima”. Você a pé, você do jeito que nós estamos aqui tudo bom das pernas quase não conseguia subir, subia segurando em galho de rama de mato, mas para você subir, você não sabia, ele tinha problema na perna, ele quase não andava.
P/1 - Então, e a Fazenda União, onde o senhor trabalhava, no caso, era uma fazenda que tem várias lendas, várias histórias.
R - É, tem várias coisas.
P/1 - O senhor ouviu muitas histórias ali?
R - Ouvi, ouvi muitas histórias, eu ouvi sim, mas eu mesmo nunca vi, só vi essa do menino que eu estou contando para você. Mas eu escutava assoviar, essas coisas, mas a gente não via mesmo, mas...
P/1 - Quem é que contava essas histórias assim de assombração lá na fazenda?
R - A turma contava que via, eu mesmo, graças a Deus, nunca vi nada não. Eu escutava assoviar, tacar pedra, eles tacam pedra na gente mesmo, mas não acerta, pega no chão assim, só esborracha, aqueles torrões grandes subiam. O Saci, assim, diz que se você assobiar, começar a remedar ele, daí que ele bate na gente mesmo.
P/1 - A história da noiva então não é verdadeira, Senhor Anésio?
R - É, isso mesmo, a história da noiva, agora você me lembrou, eu não estava lembrando mais da história, mas é verdade sim. Tinha um primo do meu pai, morava aqui na fazenda, ele namorava uma moça aqui embaixo, na outra fazenda que eles têm ali, tinha, agora acho que vendeu, a fazenda aí do Senhor Ercílio, e era tudo cafezal na época aí para cima. E ele namorava a moça aí, aí todo dia vinha namorar a moça, aquela coisa, estavam para casar mesmo, aí a moça vai e morre. A moça morreu e ele vinha no terço rezar lá, aquela coisa toda, e um dia eu acho que ele vinha vindo, diz que ele olhou assim diz que viu a noiva que vinha vindo vestida de noiva, diz que ela não pisava no chão, ainda dessa altura assim, vinha andando assim. Aí agarrou no braço dele, aquela coisa gelada, e ele gritava, acho que a voz não saía, e veio nessa folia e quando chegando quase na colônia que ele conseguiu soltar o grito. Aí a turma, quando escutou aquele grito, aquele berreiro, a turma saiu tudo correndo da fazenda, falou: “Alguma onça”, que tinha onça de primeira. A negada juntaram espingarda, cachorro e foram de encontro com o homem, aí encontraram ele, que ele vinha, aí ele: “A noiva, aí ela aí”, e ninguém via, estava uma lua clara, falou: “A noiva aí, a noiva aí”. Isso foi verdade também, essa que contaram para mim, o rapaz mesmo é que contou para mim, era primo do meu pai. Que ele vinha vindo, que ele foi no terço da mulher, que eles estavam rezando, que a mulher tinha morrido, e vinha vindo, parece que tinha um galho de uma peroba caído assim, diz que ela estava sentada em cima, quando ele chegou, ela levantou e foi assim e pegou no braço dele, diz que ele berrava e gritava, é.
P/1 - Aquela casa da Fazenda União, Senhor Anésio, aquela casa onde moravam os fazendeiros mesmo, ela é uma coisa que, infelizmente, hoje ela foi derrubada.
R - É.
P/1 - Mas o senhor chegou a conhecer aquela casa, Senhor Anésio?
R - Eu fui, andei lá um par de vezes, mas direito eu não conheci, entrava um pouco assim e já saía.
P/1 - Porque o senhor trabalhava ali?
R - É, muitas vezes chamava, qualquer coisinha ia lá, mas já saía (inint) [00:49:27], nem sei quantos cômodo tinha a casa, nem sei nada. Mas vou dizer para você viu, o negócio ali, aconteceram assim umas coisinhas lá. Que nem você falou da noiva eu lembrei, se você não fala, eu não lembrava mais da história. Ele contava, ele chamava Zico, ele já morreu também. Depois disso aí ele foi para São Paulo, acabou morrendo por lá, gostava de beber muito.
P/1 - Senhor Anésio, e aqueles forros que eles faziam nos terreirões de café, também o senhor chegou a pegar isso? O senhor chegou a vivenciar isso?
R - Eu fui umas vezes na dança lá, até então morava na colônia tinha, então aqueles panos que batiam arroz, eles faziam a barraca de lado assim. Então na hora que estavam colhendo o arroz, punha o pano no chão para o arroz não saiu fora e aqueles carrapichos espinho juntava no pano, aquele panão grande, eles faziam barraca para pôr (neguinho) [00:50:16] dançar, por causa do vento. E também as moças que também gostava lá, que o espinho pegava nas costas dela, você ia dançar, punha a mão nas costas, daí espinhava a mão. É verdade, ei lasqueira. Um dia nós fomos também em um baile lá no Cardoso, na Fazenda do Cardoso, a turma daí também foi lá e chuva que Deus mandava, mas a chuva já tinha passado, a gente escondeu em um barraco velho lá. A chuva passou, nós chegamos lá, a água passava assim por dentro, ali era a casa, aqui é uma estrada que passava carroça, trator, passava tudo, mas eles faziam a barraca ali, não tinha outro lugar. Nós estávamos dançando, a água por aqui assim, nós arregaçávamos a calça e dançando ali, que nem porco naquele barro, e o sanfoneiro lá sentado, punha a cadeira em cima de uma mesa e ficava lá com a sanfona. É cada uma, viu. E quando nós moramos, está contando de baile aí lembrei, nós maramos aqui na Fazenda Aliança e tinha baile lá no Cardoso, muitas vezes tinha cafezal que tinha mato, aqui já não tinha, que já tinha carpido, e nós tínhamos aqueles trios para pegar o carreador, passar (inint) [00:51:26] nós conhecíamos o trecho aí, que nós morávamos por aí. E aí o que é que nós fazíamos, tinha saco de plástico, nós tirávamos a roupa, punha no saco de plástico e vinha só de sapato, de bonitão e pelado, com a roupa dentro do saco. E quando chegando na fazendo, tinha um lugar que era um negócio assim, tinha uma coisa que vinha lá da fazenda de cima, onde os cavalos bebiam água era coberto assim. Nós chegávamos ali, entrava ali, lavava a mão, as pernas, pegava, vestia e ia lá no baile. “Vocês não tomaram chuva?”, “Não, nós não tomamos chuva nenhuma”, e aquele saco nós deixávamos enroscado ali, que na volta a gente chegava lá, tirava a roupa também e punha lá e ia pelado. Você pisava assim, o barro corria. Se contar ninguém acredita, mas foi verdade.
P/1 - O senhor não tocava pandeiro nesses (inint) [00:52:27]?
R - Não, não tocava não, eu gostava só de ir lá para dançar, que era moleque novo, acompanhava os outros mais velhos. É coisa de louco, mas era verdade. Nós arrancávamos a roupa e punha a roupa dentro do saco plástico, para não molhar a roupa, que estava meio chovendo que nem agora “Vai chover”, punha a roupa lá e pá nas costas e chegava o reio. Tirava até o sapato e punha ali, quando chegava lá aquela... Tem uma água que vem lá de cima, até engraçada aquela água, ela vem lá de cima, atravessa a estrada, aquela estrada que vai para Ourinhos ali, a água atravessa ali e mais para baixo, o terreno é mais caído um pouco, ela caí em um cocho, um cocho para os cavalos beberem água lá, o troço, e é coberto, tem uma cobertura por cima assim, os cavalos chegam, bebe água e vai embora. Aí enche de água o cocho, aí aquela água fica caindo, derramando tudo assim e nós punha a roupa ali, embrulhada naquele saco, e enfiava ali, já estava no saco. Mas primeiro, quando nós chegávamos, deixava o saco lá e se lavava todo certinho, depois vestia a roupa, dava uma maneirada e nós íamos lá, (inint) [00:53:38], “Não sei, nós viemos”. Aqui o pé da gente ficava puro barro, você pisava naquele barro, o barro fazia assim no dedo assim, melecava tudo.
P/1 - E o senhor, ainda nessa convivência, da Fazenda União, que o senhor tinha trabalhando lá, o senhor foi um dos vários pescadores da boca da Bica da União?
R - Eu fui lá pescar sim, mas nunca peguei nada.
P/1 - Não pegou?
R - Não, só pegava assim, mas não pegava nada não. Um dia eu fui pescar com o meu cunhado, não faz muito tempo não, pergunta para ele se ele vir amanhã aí ou outra hora você... Eu joguei uns (inint) [00:54:08] e eu fisguei, o peixe foi embora não sei para onde, no fisgar o anzol veio para trás, enroscou na camisa aqui, aí o Zé precisou sair de lá com canivete para eu cortar a camisa para tirar. Opa, pergunta para ele que ele te conta. Depois um dia eu fincar o pauzinho no chão assim para pôr a vara em cima, quando eu fui fincar assim o pau quebrou e foi de ponta dentro da água, tibum. Aí o Guilherme estava comigo, juntou ele pelo pé.
P/1 - Muito bom, Senhor Anésio.
R - Fiz cada presepada, filha, você nem calcula.
P/1 - É. Olha, a gente gostou muito da sua história, muito obrigado por compartilhar, viu. A gente riu bastante.
R - Mas é gozado mesmo, filha.
P/1 - E o senhor contou muita coisa, assim, eu que não sou daqui eu consegui...
R - Capturar mais ou menos o negócio.
P/1 - (inint) [00:55:00] os lugares, imaginando, claro.
R - Não, mas vou dizer para você...
P/1 - Mas é por conta da forma como o senhor contou. Muito obrigada.
R - Aconteceu já cada coisa comigo também que você nem calcula.
P/1 - Obrigada.
R - Agora, uma vez lá em São Paulo, eu parado, eu vindo, eu não me lembro se era cidade Universitária, eu não sei de onde, eu parei para entrar na pista, que eu ia lá para a cidade de Alphaville, quando eu parei, dei uma olhada assim e nada, quando eu fui olhar no retrovisor assim para ver se vinha mesmo algum atrás de mim, se passa, tinha um pontião assim, eu passei em cima do pontião, fiz isso aqui para ir lá para Alphaville, um negócio assim. Aí quando eu parei assim, dei uma olhada no retrovisor, já costume do motorista, você olha no retrovisor, olhar ali, quando eu fui olhar aqui, um caminhão desce com tudo e tum na rabeira da Kombi e eu pam com a cabeça na direção, aí olha, foram nove pontos.
P/1 - Muito bem.
R - Vou dizer para vocês...
[00:55:56]Recolher