Projeto BNDES: 50 anos de história
Depoimento de Irani Rodrigues de Almeida
Entrevistada por Bárbara Tavernard Thompson
Rio de Janeiro, 11/04/2002
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: BND_CB013
Transcrito por Jurema de Carvalho
Revisado por Natália Ártico Tozo
P/1 – Boa tarde! Po...Continuar leitura
Projeto BNDES: 50 anos de história
Depoimento de Irani Rodrigues de Almeida
Entrevistada por Bárbara Tavernard Thompson
Rio de Janeiro, 11/04/2002
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: BND_CB013
Transcrito por Jurema de Carvalho
Revisado por Natália Ártico Tozo
P/1 – Boa tarde! Por favor, diga seu nome, local e data de nascimento.
R – Irani Rodrigues de Almeida, eu nasci no Rio de Janeiro e minha data de nascimento é 18 de fevereiro de 1938.
P/1 – Por favor, conte para nós quando se deu e como se deu seu ingresso no BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social].
R – Foi em fevereiro de 1964, um pouco antes da Revolução.
P/1 – Em fevereiro?
R – Em fevereiro de 1964, um pouco antes da Revolução. Entrei na carreira de Auxiliar Administrativa, fiz dois concursos para essa carreira. O primeiro eu não quis, quando o banco me chamou esnobei um pouco. Pedi final de classificação, que não foi aceito. Fiz um segundo concurso, depois que eu vi o que realmente era o banco, aí eu me interessei em vir para essa casa, e vim.
P/1 – Mas isso então você não entrou em 1964?
R – Entrei em 1964. O primeiro concurso foi em 1961, depois eu fiz outro em 1963. Tomei posse realmente em 6 de fevereiro de 1964.
P/1 – Você acha que por ser o primeiro ano da Revolução, o ano da Revolução afetou de alguma forma sua vida no BNDES, alguma coisa mudou, como que foi?
R – Não mudou não, não mudou. Foi um ano problemático, ainda eu afirmo hoje que eu não compartilhava com os vencedores, então, aqui no banco, sendo um órgão do governo a gente sempre sentia os reflexos, alguma perseguição aos funcionários, alguns foram presos até.
P/1 – Foram presos?
R – Foram.
P/1 – Teve algum amigo seu que desapareceu?
R – Que desapareceu não.
P/1 – Mas que foi preso?
R – Só foi preso.
P/1 – E quais eram as atribuições da sua área?
R – Eu fui logo trabalhar na área administrativa, no gabinete do Chefe de Administração. Naquela ocasião era uma área prestigiada no banco, porque a estrutura era outra, não era como é hoje, com mais departamentos. Era uma área importante do banco, na época. Tinha uma certa importância, porque tudo passava por ali, certos assuntos e a gente tomava conhecimento do que acontecia.
P/1 – Conte para nós algum projeto que você participou que você considera importante. Projeto ou projetos. Alguma coisa que você fez que considerou importante, que você fez parte, assessorando...
R – Como eu disse para você, eu entrei como Auxiliar Administrativa. Somente em 1976 que eu galguei a carreira técnica no banco, através de um concurso. Então, minha experiência era administrativa. A minha vocação também era mais para a área administrativa, embora eu tenha me formado em Ciências Contábeis. Mas na área operacional eu visitei boas empresas, participei de uma análise de financiamento pra Dedini, pra Marcopolo, de carrocerias no Rio Grande do Sul. Está com esses dois porque eu fiquei pouco tempo nessa área. Em 1978 que eu fui assessorar a área de representação do BNDES. Na área operacional mesmo, eu não fiquei muito tempo, embora nessa época fosse a área nobre.
P/1 – Conta uma lembrança marcante do seu dia-a-dia, as lembranças marcantes do seu dia-a-dia no BNDES.
R – Eu tenho muitas, eu fui muito participativa. Eu fui Diretora da Associação de 1980 a 1982.
P/1 – Que associação?
R – Associação do BNDES. Eu fiz parte de todas as olimpíadas realizadas aqui no banco. Eu fui sempre muito ligada ao esporte, então fiz muitos amigos por isso. Era muito festeira, participava de todas as festas. Aliás, o banco era muito festeiro no passado.
P/1 – Mais uma história nessas histórias.
R – Como assim?
P/1 – Uma história interessante, alguma coisa engraçada, uma coisa que te marcou.
R – É difícil. Muita coisa marcou aqui no banco, destacar uma assim... Realmente, de pronto, muitas coisas me marcaram aqui no banco. Eu sou muito apaixonada pelo banco. Destacar uma? Uma colega... Essa eu não vou dizer não, é uma coisa muito passada. Uma colega minha que encontrou comigo ali queria que eu falasse, é uma coisa bem passada.
P/1 – Não quer falar?
R – Nem me marcou, foi o Concurso da Rainha do BNDES.
P/1 – Você ganhou?
R – Não, não, não, não fui eu. Ela perguntou por que eu não concorri. Eu era casada e só podia concorrer solteiras. Mas isso aí não é nada importante.
P/1 – Em que ano foi esse concurso?
R – Foi em 1966.
P/1 – Você queria concorrer?
R – Não, não, não.
P/1 – As pessoas achavam que você devia concorrer?
R – Não. Essa amiga minha... Hoje que ela me perguntou por que eu não concorri.
P/1 – Depois de não sei quantos anos.
R – Na ocasião eu era casada e casada não entrava nesse concurso.
P/1 – Da Rainha do BNDES?
R – Mas esse é um papo que não tem importância nenhuma na minha vida funcional. Outras coisas muito mais importantes aconteceram. Eu depois cheguei à assessoria da Presidência. Aliás, uma coisa que me marcou, que eu posso dizer, foi quando eu ia me aposentar; meu chefe chegou pra mim e falou: “Por que você vai se aposentar tão cedo?”. Eu falei: “Eu não queria que me aposentassem”, insisti, “meus pais estão velhos, tenho que dar uma assistência em casa, minha filha...”. Ele achou que eu não ia, eu falava que eu ia me aposentar e ele achou que eu não ia. Num belo dia, na semana seguinte, ele me aparece com um trabalho falando: “Nós temos uma reunião com o Presidente agora na segunda-feira. Você vai fazer esse trabalho assim, assim, assado”. Eu falei: “Chefe, eu não posso, eu me aposento quarta-feira”; “É mesmo?”. Foi uma surpresa, porque ele achava que eu não ia me aposentar. Ele me pediu: “Você está nova, não precisa, não devia se aposentar”; “Mas eu vou, chegou a hora, eu vou”. Eu achava também, que tinha cargo de comissão, quando chegava o tempo de se aposentar, já tinham pessoas querendo o lugar da gente, peruando o lugar da gente.
P/1 – Mas o seu chefe queria que você ficasse?
R – Quando eu falei com ele que um dos motivos era esse, soube que já tinha alguém querendo o meu cargo. Ele falou: “Você pode ter certeza que essa pessoa não vai ter o seu cargo”. Depois eu nem tomei conhecimento; saí e não procurei nem saber. Eu não devia nem estar entrando nesses detalhes aqui não (risos). Isso marcou.
P/1 – O que é o BNDES para a senhora?
R – O BNDES para mim é uma entidade elite. Eu, sempre, no meu convívio familiar, de amigos, eu sempre enalteço muito o BNDES, eu digo sempre que eu fui muito feliz aqui. Eu digo que o BNDES foi pai, foi mãe, foi tudo pra mim. Eu tenho recordações boas desta casa.
P/1 – Nessa avaliação final, o que a senhora achou de ter participado dessa entrevista e contribuído para o Projeto 50 anos de BNDES?
R – Olha, essa entrevista mesmo eu nem ia participar. Fui pega de surpresa. Uma colega: “Vai, vai, você tem muito o que dizer”, mas eu mesma não queria. Mas foi uma ideia muito boa essa, de resgatar a memória do BNDES, achei a ideia maravilhosa. Acho que os 50 anos tem que ser bem comemorado, estou aguardando agora as festividades.
P/1 – Muito obrigada.Recolher