Meus pais são poloneses que migraram pro Brasil devido condições muito difíceis por lá. Minha origem de filho de imigrantes foi bastante importante na orientação da minha biografia e no meu modo de ver o mundo também. O meu nome é Luiz Meyer e nasci em São Paulo, em 10 de junho de 19...Continuar leitura
Meus pais são poloneses que migraram pro Brasil devido condições muito difíceis por lá. Minha origem de filho de imigrantes foi bastante importante na orientação da minha biografia e no meu modo de ver o mundo também. O meu nome é Luiz Meyer e nasci em São Paulo, em 10 de junho de 1938.
Em 1943, a guerra estava no ar, né? Eu, criança, desenhava foguetes voadores pra jogar em cima da Alemanha e fazia vários desenhos detalhados. Uma lembrança que eu tenho é que quando acabou a guerra e os pracinhas voltaram, eles passaram na Avenida São João, ali onde a gente morava. Fui vê-los desfilando por toda Avenida São João. Me lembro bem quando os bombeiros pegaram as escadas e fizeram um V para eles passarem por baixo. Era a alegria do povo! Eu não entendia bem o que era aquilo, mas eu lembro que a guerra tinha acabado. A guerra, o antissemitismo, a imigração é uma nuvem que me acompanha desde sempre, né?
O Getúlio foi deposto em 45 e começou a campanha eleitoral. Por alguma razão, eu não posso entender, se criou entre a criançada um movimento de apoio ao Brigadeiro Eduardo Gomes! Na hora do recreio, alguém arranjou um retrato do Brigadeiro e ficavam circulando com ela gritando: “Brigadeiro, Brigadeiro!”. Tocaram o sino e falaram: “Não é permitido política”, mas era tudo criança de oito anos, nove anos!
Na adolescência, posso dizer que eu estava confuso, mas tinha muito interesse intelectual. Eu não sabia o que fazer. Fiz, então, um teste vocacional, indicado pelos meus pais. Eu me lembro de um detalhe que deixou a psicóloga surpresa: diante de uma lista de profissões, ela falou: “Tem alguma coisa que você quer comentar?”, eu falei: “Falta uma profissão: folclorista!” Eu já estava meio antenado. Ainda que não sabia realmente o que fazer, no fim, acho que um pouco por desafio, um pouco pela ideia de prestígio burguês, um pouco pelo interesse, fui fazer Medicina. Mas com um olho muito na Literatura.
Naquele ano em que eu fiz vestibular, foi o primeiro em que a Escola Paulista instituiu provas de múltipla escolha, enquanto a Pinheiros ainda tinha dissertação. E eu, então, fiquei fascinado pelo exame! A prova, em si, era mais difícil de ser construída do que de resolver! Era um exame muito inteligente, com perguntas muito sofisticadas. Decidi: “Quero ficar nessa escola!” Aos 17 anos, passei na Escola Paulista de Medicina.
Os primeiros anos de Medicina foram muito penosos, porque era tudo muito desinteressante pra mim, anatomia e tal. Pensei: “Vou largar a Medicina e vou fazer Cinema!” Comecei, então, a frequentar cursos onde é hoje a FAAP, um prédio completamente diferente na época.
O cinema no Brasil era muito incipiente, mas tinha o montador, tinha um produtor e eu frequentava ali. Pedi uma bolsa de estudos para uma entidade chamada Centro Sperimentale di Cinematografia, na Itália. Eu não sabia, mas a pessoa que liberava essas bolsas era amigo do meu pai. Ele, então, foi ter com meu pai: “O teu filho vai largar a Medicina? Você tá sabendo?”, daí o meu o pai veio falar comigo: “Vamos fazer um acerto? Você termina o curso e então, se você achar que não deve continuar, você vai para a Europa e eu te pago um curso”. Mas aí eu fui fazendo o curso de Medicina, fui encontrando nichos de interesse e, no fim, deu-se meu encontro com a Psiquiatria.
Quando eu me formei, as minhas tias que moravam em Recife me deram dois presentes: um, me convidaram para passar as férias por lá, inclusive o Carnaval!; outro: uma carteira de habilitação de presente! Em seguida, fui estudar fora, como tanto queria. Cinema continuou um fascínio em paralelo e em primeiro plano, ela: a psicanálise.Recolher