P/1 – Antonio, obrigado pela participação e por compartilhar a sua história com a gente. Eu vou começar com a pergunta mais básica de todas as perguntas. Fala pra gente o seu nome, o local e a data do seu nascimento.
R – Antonio da Costa Júnior. Nascido em Sorocaba dia 29 de dezembro de 1...Continuar leitura
P/1 – Antonio, obrigado pela participação e por compartilhar a sua história com a gente. Eu vou começar com a pergunta mais básica de todas as perguntas. Fala pra gente o seu nome, o local e a data do seu nascimento.
R – Antonio da Costa Júnior. Nascido em Sorocaba dia 29 de dezembro de 1981.
P/1 – Antonio, e o nome dos seus pais?
R – Meu pai é Antonio da Costa e a minha mãe Célia Regina Guilherme Pintor.
P/1 – Fala um pouquinho deles. O que eles fazem, como eles se conheceram. Conta um pouquinho da história dos pais.
R – Essa relação dos meus pais foi um segundo casamento de ambos. No primeiro casamento da minha mãe ela não teve filhos, ela engravidou cinco vezes e todos eles ela acabou tendo algum aborto espontâneo e isso acabou atrapalhando um pouco a relação mais com a família do ex-marido dela. Ela se separou e conheceu meu pai, que já vinha de um primeiro relacionamento também onde ele tinha outros três filhos. Acho que o mais novo em torno de 20 e poucos anos mais velho do que eu. Eles se conheceram em São Paulo, meu pai trabalhava numa empresa de plásticos, uma injetora de plásticos, e estava abrindo uma unidade nova no interior, em Sorocaba. Então eles acabaram se mudando para lá. Durante esse período minha mãe engravidou mais duas vezes do meu pai e também acabou abortando e quando eles foram pra Sorocaba os médicos disseram para ela: “Bom, agora é interior, menos poluição, menos estresse, menos um monte de complicações, vamos ver se agora consegue vingar”. E eles se mudaram para lá, minha mãe engravidou, os médicos deram uma segurada nela: “Espera pelo menos até o sétimo mês antes de você correr atrás de roupinha, enxoval, quarto e fazer tudo”. Lá pelo oitavo mês eles liberaram pra ela começar a fazer tudo. Deu certo e eu nasci. O meu pai era engenheiro mecânico, minha mãe era técnica em contabilidade, mas exerceu durante pouquíssimo tempo, sempre foi dona de casa, né? Sete anos atrás meu pai faleceu, diabético também, e hoje minha mãe mora sozinha lá em Sorocaba.
P/1 – Fala um pouquinho da sua infância lá em Sorocaba. O que te lembra esse período da sua vida, o que foi mais marcante na sua vida familiar ali?
R – Até os sete anos a minha avó materna morava conosco, nos fundos de casa. Então até essa época eu me lembro bastante dela porque, não que ela ficasse muito tempo comigo, quem sempre cuidou de mim foi minha mãe, mas minha avó sempre estava presente. Uma das coisas que eu mais lembro dela eram as, vamos chamar de histórias pra não chamar de mentiras, que ela contava pra mim, como por exemplo por que o cachorro cheira o rabo do outro. Porque tinha tido uma festa no céu, deu uma briga, chegou a polícia, estava todo mundo com o rabo pra cima, cada um pegou um, levou embora e até hoje eles estão correndo atrás do rabo deles e procurando (risos). Esse tipo de histórias de vó. E no interior 30 anos atrás era muito mais tranquilo, então brincadeiras na rua de pega-pega, polícia e ladrão, esse tipo de coisa que a gente conseguia fazer isso bastante.
P/1 – Descreve um pouquinho a relação que você tinha com a sua mãe e com o seu pai nessa época. Como eles eram, como era o trato com você, a convivência familiar.
R – Quem sempre foi mais próximo foi a minha mãe. O meu pai sempre foi um pouco mais distante. O meu pai ia mais pro lado da educação, com o lado físico. Fez errado tem que apanhar. E eu apanhei uma vez dele só com a fivela do cinto, ele bateu na minha boca, fez um corte e foi a única vez que ele participou de alguma coisa. O restante de toda a minha educação quem fez foi a minha mãe. E a minha mãe sempre muito próxima, sempre me ajudou muito com a escola pra fazer trabalho, pra estudar, sempre acompanhou muito de perto em todos os sentidos, até relação de amizades, que em alguns momentos eu cheguei até a passar vergonha com ela dela ir na casa conversar com a mãe de algum amigo meu que não queria que a gente fosse amigo mais porque o filho da mulher não prestava (risos). Esse tipo de situação eu passei algumas vezes com ela. Mas ela sempre foi muito próxima, toda educação que eu tenho foi ela que me deu, ela que sempre me ajudou com tudo isso, ela sempre foi muito próxima.
P/1 – Você falou das brincadeiras típicas do interior que você fazia ali na sua casa, histórias da sua avó. Mas o que você mais gostava de fazer na infância? O que mais te remete à sua infância? Um hábito, um prazer, uma brincadeira específica. Tem alguma história que você poderia pinçar da memória e compartilhar com a gente?
R – De infância nada que eu gostasse muito assim, eu lembro mais da minha infância estudando mesmo, sentado ali na sala de jantar, estudando, fazendo alguma lição, esse tipo de coisa. E videogame. Como toda criança ali da época eu também jogava muito videogame. Ou estava estudando, ou estava jogando videogame e de vez em quando brincando na rua.
P/1 – Vamos chegar já na escola, mas antes disso deixa eu te fazer uma pergunta ainda no âmbito familiar. E a sua relação com os irmãos por parte de pai? Tinha algum tipo de contato nessa época, vocês eram próximos, não eram, como é que era?
R – O contato era muito pouco porque eles eram de São Bernardo e ao longo do tempo a gente foi se distanciando um pouco mais. Eles acabaram tomando outros rumos. Eles eram, como eu posso dizer? O grau de escolaridade deles era muito baixo, o meu pai quando se separou da mãe deles acabou deixando eles numa situação um pouco complicada financeiramente também. Então não sei até onde gerou algum atrito, alguma mágoa, então eu não tive muito contato com eles. Hoje eu sei que um deles faleceu, fiquei sabendo por Facebook depois de algum tempo, um ou outro estava foragido, depois ficou doente, ficou internado. Na época que meu pai faleceu só dois deles vieram, na época os três estavam vivos, também não me contaram muitos detalhes de como estava esse irmão do meio e depois nunca mais tive notícias de nenhum deles.
P/1 – Voltando à parte escolar agora, como foi a sua primeira escola, como era o ambiente? Teve alguma professora marcante ou alguma passagem especial nesse período?
R – Eu tive uma professora muito marcante no jardim, hoje eu não me lembro mais o nome dela, mas a feição dela eu me lembro muito bem. Não sei exatamente por qual motivo ela acabou saindo da escola onde eu estudava que, por favor não dê risada, mas se chamava Perereca, e ela por algum motivo, até hoje eu não sei porquê ela acabou saindo da escola. Eu não queria ir mais pra escola, eu chorava, eu queria aquela professora, eu só me dava bem com ela. Ela era muito amorosa, muito carinhosa com todos. E ela me defendia muito também porque eu já era gordinho nessa época de escola. Então naquela época não era bullying, era zoeira, mas tinha aquela história, o pessoal não queria ficar lá na escola. Então juntava pra brincar com Lego, aqueles brinquedos de criança: “Ah não, vamos montar um avião e vamos fugir daqui”. Aí sentava todo mundo pra lá, eu ia brincar também: “Não, você não porque você é gordo, o avião não vai subir”. Então eu tinha que ficar de fora. Quem me fazia companhia, quem interagia comigo era essa professora. E quando mudou, nem me lembro da nova professora, se ela tinha as mesmas atitudes ou não, mas eu tinha essa relação de carinho com essa professora. E foi um período muito complicado, dei muito trabalho pros meus pais, até que meu pai encontrou essa professora em uma outra escola e me levou até lá pra conversar com ela. A gente conversou, lógico que eu não me lembro mais dessa conversa nem nada, a partir daquele momento se resolveu todos os problemas, voltei pra escola, me adaptei com a nova professora e tocamos em frente.
P/1 – Teve essa coisa marcante da boa professora mas também do bullying, você disse, que te marcou. E ao contrário, uma passagem que tenha sido especial nesse período escolar, na infância, que você lembre com carinho.
R – As festas juninas, que de festas populares que têm hoje é a única que eu gosto. Carnaval eu não gosto, até as festas de final de ano eu também não sou tão apreciador dessas festas. Mas festa junina pra mim sempre foi muito legal. Até porque em Votorantim, que é uma cidade ali do lado que é onde eu morei efetivamente, até hoje tem a maior festa junina do Estado, acho que essa edição foi a número 103 ou 104. Então as festas juninas de escola, de participar de quadrilha, de participar das danças. De: “Ah, vai ter uma festa junina lá no Sesi”, que era muito divertido, tinha várias quadrilhas, era muito legal. E não só por causa das comidas, mas pela festa em si, pela música, pelos cheiros que tinha na festa, principalmente os cheiros me lembram muito a infância. Apesar de não experimentar na época, obviamente, o vinho quente, o quentão, hoje eu adoro, faço em casa, a minha esposa e minha sogra adoram também, mas principalmente o cheiro. O cheiro me traz muita lembrança dessa infância. E até mesmo nas próprias festas juninas ali de Votorantim, eu lembro que meu pai comprava os ingressos para os brinquedos antecipadamente porque era mais barato. Ele comprava rolos daqueles ingressos e eu gostava muito de carro, na época a gente acompanhava muito Fórmula 1, Ayrton Senna, que é um cara que, sempre que eu toco nesse assunto me emociono (emocionado). Eu gostava muito de carro, então nas festas juninas meu pai me levava no carrinho de bate-bate e às vezes eu arrumava até confusão porque eu simplesmente não saía dos carrinhos, então tinha aquela fila enorme, todo mundo querendo entrar no brinquedo e eu não saía do brinquedo. Meu pai dava até uma caixinha pro rapaz que tomava conta dos ingressos ali e entregava o rolo inteiro pra ele. Eu me lembro de uma vez que quase saiu briga lá, ele quase apanhou, minha mãe entrou lá, me tirou: “Não, vamos embora porque já deu já”. Então são lembranças de festas juninas que eu gosto muito.
P/1 – E amizade nessa época? Teve algum amigo que ficou pela vida ou teve algum amigo que era mais presente, que você se envolveu, que brincava mais ou se envolveu em alguma confusão com ele naquele período?
R – Da primeira série até a oitava série eu estudei na mesma escola, então ali eu tive muitos amigos que também estudaram da primeira série até a oitava série. Com um deles eu tenho contato até hoje. A gente não tem mais muita amizade de sair, de se encontrar mas a gente ainda mantém alguma relação. Mas até a oitava série nós éramos em seis amigos que a gente fazia tudo junto. E pra fazer trabalho de escola, ir pra biblioteca, pra ir pra cinema, pra kart que na época começou a ter aquela moda de kart indoor, a gente ia muito correr de kart.
P/1 – Algum momento especial com eles?
R – Eu acho que na própria formatura porque na formatura da oitava série a maioria ia sair do colégio, cada um ia para uma escola diferente. Então ali a gente começou a perder um pouco do contato. E na formatura, a festa, todos nós participamos da comissão de formatura. Então durante o ano todo a gente estava sempre muito envolvido com diversos assuntos. E acabou sendo uma despedida pra todos nós, mas foi um ano inteiro repleto de contatos, mas nada muito pontual. Apesar que foi nesse ano que eu descobri a diabete e eles me deram bastante apoio, ajuda, nesse momento.
P/1 – Conta um pouco mais sobre isso. Como é que foi, qual o contexto, compartilha um pouco qual foi a sensação de receber essa notícia.
R – Foi ruim, mas ao mesmo tempo me trouxe uma coisa boa que há anos eu precisava e eu não sabia. Como que aconteceu.... Eu sempre fui gordinho e aos 13 anos eu tinha 96 quilos. Nunca tinha tentado nenhuma dieta, nenhum regime. Nunca me liguei, nunca fui muito próximo de: “Não, tem que estar bonito, tem que estar esbelto”, nunca me importei muito com isso, mas eu comecei a sentir algumas dores nos joelhos por causa do peso. Então minha mãe encontrou um médico pra gente fazer uma reeducação alimentar. Durante um ano e meio eu fiz essa reeducação alimentar e eu perdi 30 quilos, eu saí de 96 quilos, perdi 30 quilos. Todos os meses fazendo acompanhamento, fazendo os exames, então mudou completamente a minha rotina, passei a ter uma vida saudável, que o médico me convenceu pelo seguinte: “Se você fizer um regime você vai perder dez, 20, 30, 40 quilos. Assim que acabar esse regime, em poucos meses ou em um ano, você vai voltar a comer o que você comia e você vai pesar aquilo que você come”. Então dessa forma, com 13 anos ele conseguiu me convencer. Eu passei a tomar café da manhã, comer uma fruta, o almoço, mais alguma fruta à tarde, mais um lanche e um jantar. Antigamente eu tomava café da manhã e almoçava, à tarde fazia algum lanche. Mas assim, café da manhã eram três pães, três copos de leite, um pacote de bolacha, se eu for estender todo o cardápio a gente vai sair daqui só amanhã. Então eu passei a comer mais vezes ao longo do dia e em quantidades bem menores e isso deu um resultado muito bom. E na época ele já me pegava forte no pé pra fazer alguma atividade física, que eu nunca gostei. E ele não me convenceu. Tanto que esse um ano e meio eu perdi tudo isso de peso sem fazer nada de atividade física. Próximo desse finalzinho dessa reeducação alimentar, quando a gente ia começar a alterar um pouco essa alimentação pra deixar de perder peso, em uma semana eu perdi sete quilos. Não dormia direito, urinava demais e a minha mãe começou a desconfiar, porque o meu pai já era diabético. E o meu pai nunca aceitou a doença dele, ele descobriu, e em 30 dias ele saiu de 120 quilos pra 47 quilos, em 30 dias. Ele praticamente não andava mais e ele já não enxergava mais, quando ele descobriu. No momento que ele descobriu ele fez o primeiro tratamento, deu uma equilibrada, ganho um pouco de peso e simplesmente abandonou o tratamento dele. Ele tomava leite com groselha, tomava refrigerante normal, o café dele era adoçado com adoçante, só, a única dieta que ele fazia era isso, o café dele tinha que ser adoçado com adoçante. O restante ele piorou demais, ele nunca foi de beber, de tomar cerveja, nunca vi meu pai bêbado, mas ele passou a tomar cerveja, eu nunca tinha visto meu pai tomar cerveja. O mês que ele descobriu a diabete ele comprou três engradados de cerveja. Então ele não aceitou, ele não se adaptou com isso. E minha mãe me levou pro hospital nessa semana que ela começou a desconfiar disso. Chegamos no hospital, foi feito o exame e eu estava com 450, que era exatamente o número que eu tinha na cabeça que foi quando meu pai descobriu. Só que lógico, 450 para uma pessoa de quase 50 anos dá um reflexo, para uma criança de 14 anos é outro reflexo, né? Então aquilo me chocou bastante porque eu também não tinha uma certa noção do que era, de como tratar aquilo, porque eu sabia que meu pai tinha, mas eu não via o meu pai se tratando e via ele ficando doente cada dia que passava, então aquele fato me assustou bastante. E no final da tarde, no hospital, depois de tomar bastante soro, o meu pai chegou, antes dele entrar no leito que eu estava, a minha mãe segurou ele fora, deu a notícia pra ele e aconteceu o que eu menos esperava de um pai. Ele entrou no leito, me desculpe pelas palavras mas foi exatamente isso que ele disse pra mim: “Você está com diabete. Você está fudido pelo resto da sua vida”. Virou as costas e foi embora (emocionado). E era um momento que eu esperava algum apoio, alguma palavra de consolo, de amizade, de pai e foi isso que eu ouvi dele. Depois disso, como sempre, quem tomou as rédeas de tudo foi a minha mãe, atrás de outros médicos porque o médico que me ajudou com essa reeducação alimentar não era especialista em diabete, nem nada, acabou me indicando outros médicos, a gente foi atrás. E aí que acabou acontecendo uma coisa boa pra mim porque eu sempre senti muita dificuldade na escola, nas minhas notas não, eu sempre fui muito bem, mas eu sentia muita dificuldade pra enxergar. Mas eu chegava em casa, reclamava disso, as minhas notas iam bem, então pra todas as pessoas que estavam ali olhando aquilo não parecia um problema de visão: “Não, mas geralmente está diretamente ligado o fato de não enxergar ou ter uma dificuldade com ir muito mal na escola”. E era o contrário. Então o médico que iniciou meu tratamento, a primeira coisa que ele indicou: “Vai procurar um oftalmo, a cada seis meses você tem que passar pelo oftalmo pra fazer um acompanhamento”. Eu enxergava muito melhor do que meu pai, obviamente porque ele já tinha problemas de hipermetropia e depois com a diabete isso foi se agravando. Então como eu enxergava melhor do que ele por que eu precisava de óculos? Não, não ia ao oftalmo. A minha mãe também, eu acabava enxergando um pouco melhor do que ela, ela também tinha miopia, e eu ia bem na escola então não tinha motivos pra procurar um oftalmo. Então quando eu fiz a primeira consulta saí de lá com um mega de um óculos e enxergando o mundo inteiro, eu conseguia abrir o portão de casa, olhar pra baixo e enxergar o poste lá na esquina; olhar pra cima e ver qual colégio que tinha na esquina de casa. Eu comecei a enxergar muito melhor as coisas, a ler muito melhor, diminuiu muito a minha dificuldade na escola. Pra mim isso foi um alívio gigantesco. E o fato de ter que fazer as aplicações de insulina, no começo assustou um pouco, mas eu já sabia que aquilo seria pro resto da minha vida. A parte de alimentação na época acabou não tendo muito impacto porque eu já vinha de uma reeducação alimentar, então essa adaptação pra dieta da diabete não foi complicada. Mas essas restrições, esses cuidados numa adolescência, então isso, lógico que teve as suas dificuldades, mas pra mim não acabou sendo nenhum impacto tão grande assim.
P/1 – Queria explorar um pouquinho mais a sua cabeça nessa época. Porque uma criança recebe essa notícia, teve essa reação do pai, o que você pensava na época? Sobre o seu futuro, sobre a sua própria relação com a diabete.
R – Pra mim sempre foi muito claro que eu poderia ter uma vida normal, os médicos que me atenderam sempre bateram nessa tecla: “Você vai ter uma vida normal. Só que você vai ter que cuidar da sua diabete. Hoje não existe uma cura”, isso 20 anos atrás, não que hoje tenha, mas esse era o discurso 20 anos atrás. “Hoje não existe uma cura, mas o dia que chegar essa cura não vai ser praqueles diabéticos que já tenham as complicações. Então você se cuide, siga seu tratamento, não deixe de tomar insulina, nem nada, pra você estar bem pro dia que chegar essa cura”. Então eu vinha com esse discurso dos médicos e vinha acompanhando o que acontecia com meu pai, então, ao longo dos anos eu fui vendo a visão dele piorando muito e ele não se tratava, eu o via com muitos problemas renais, que ele também não se tratava, problemas circulatórios. Eu via que a doença era muito agressiva desde que você não fizesse o tratamento, então, desde que eu comecei a tomar a insulina eu nunca deixei de tomar uma dose. Tenho que tomar só de manhã? Que foi um determinado período, toda manhã eu tomava. Teve períodos que eu cheguei a tomar oito aplicações de insulina por dia, nunca deixei de tomar nenhuma delas. Então eu sei que isso pra mim não é nenhum inimigo, muito pelo contrário, é uma medicação que me ajuda, que evita trazer qualquer tipo de complicação, é o meu tratamento, eu sou dependente disso e ponto final. Da mesma forma que eu preciso de água pra viver, eu também preciso da insulina, então eu nunca vi isso como uma coisa ruim, nem nada. Até porque eu tinha esse exemplo em casa que era o meu pai, que ele era muito arredio com a doença, ele sobreviveu à diabete mal controlada dele durante 18 anos. Eu sempre tive exemplo em casa do que era a doença mal tratada, mal controlada, então eu sempre tive muito cuidado, nunca tive medo da diabete porque eu sabia que mantendo ela controlada eu poderia ter uma vida normal. Então festa de aniversário minha ou de algum coleguinha, de algum amigo, nunca foi problema pra mim, eu sabia o que eu podia fazer, eu sabia o que eu não poderia fazer. Pra mim isso nunca teve algum impacto ruim, forte, que me trouxe alguma depressão ou alguma coisa do gênero. Depois um pouco mais velho algumas vezes algumas situações de querer desistir, não de suicídio, mas de querer desistir: “Não, eu não quero mais isso”, ou, “O que eu estou fazendo não está dando resultado”. Até porque algumas vezes uma simples infecção atrapalha muito no controle da diabete, você pode se entupir de insulina que não tem resultado. Esses momentos assim são difíceis e eu passei por alguns, mas nunca cheguei a ser internado por causa da diabete, nem nada. Em alguns momentos tive algum descontrole, alguma desidratação, ter que ficar no hospital tomando soro, alguns atendimentos pontuais, mas nada que tenha me atrapalhado muito. Talvez esses fatos tenham acontecido mais já na minha vida adulta.
P/1 – Antes da gente chegar lá eu vou querer te perguntar um pouco nesse sentido. Mas antes de chegar na vida adulta, você mencionou rapidamente os exemplos de festa de criança, adolescência que você sabia o que podia e o que não podia, etc. Tem alguma passagem, antes de virar adulto, que você possa compartilhar com a gente e que o fato de você ter a diabetes tenha influenciado na sua relação com os amigos, com mãe de amigos, fora de casa, algum dilema com o qual você tenha se deparado?
R – Por causa da diabete em si não, nunca passei por nenhuma dificuldade. O que acontecia assim, estava na casa de algum amigo: “Ah, vamos fazer um lanche”. As mães dos meus amigos já sabiam o que eu tinha então elas já se preocupavam, se programavam: “Vamos fazer um lanche, então tem que comprar um refrigerante dietético pro Antônio. Vai fazer um lanche, pão, um frios, requeijão, esse tipo de coisa, pode ou não pode?”, eles ligavam pra minha mãe e perguntavam pra ela: “Pode, não pode?” “Não, pode”. Então assim, nunca acabei passando por algum aperto nessas situações. Tinha, lógico, a questão do bom senso dos meus amigos que eles acabavam ajudando, contribuindo. Às vezes eles ficavam com receio de: “Ah, vou comer um chocolate. Mas o Antônio está aqui, não vou comer”. Mas também não comentavam. Eu nunca dei muita importância pra isso, eu não tenho problema, não sou aquele tipo de pessoa que vê alguém comendo alguma coisa e fica com vontade e quer também. Não, eu sei que eu não posso. E simplesmente
experimentar para mim é o suficiente. Tem épocas que me dá uma vontade incontrolável de tomar uma cerveja, eu tomo. Eu abro uma garrafa inteira, tomo um copo, acabou minha vontade. Então eu tenho vontade incontrolável de comer um chocolate, eu não abro uma barra de chocolate e como o chocolate inteiro, eu como um pedaço. Aquilo ali não vai me matar, não é aquilo ali que vai descontrolar, descompensar a minha glicemia, a minha diabete. Então isso eu sempre tive bem controlado. O que atrapalhou um pouco foi que depois que surgiu a diabete eu fui obrigado a fazer alguma atividade física e eu comecei a pedalar. Tanto que hoje o esporte que eu gosto é ciclismo. Comecei a pedalar, então durante esse período de adaptação ainda da diabete, começar a fazer uma atividade física, esse período foi um pouco complicado porque eu me sentia mal, eu começava a fazer atividade física e me sentia mal. Hoje eu entendo o que é que eu sentia, mas na época eu não conseguia explicar isso pro médico também, ele também não conseguia me dizer o que é que estava acontecendo exatamente, então foi um período um pouco complicado. Mas com o passar um pouco do tempo, com 16, 17 anos me adaptei muito melhor a isso e acredito que tenha sido aí uma das melhores fases de saúde e de controle da glicemia. Eu lembro que todo domingo eu acordava às seis horas da manhã, pegava a bicicleta, saía de Votorantim, ia até Itu, que é uma cidade próxima, eram 45 quilômetros, eu ia até o centro da cidade, comprava um doce que chamava rapadura de doce de leite. Pensa num monte de açúcar prensado, era aquilo lá. Eu comia e voltava. Então quando eu chegava lá eu já estava começando a ter uma hipoglicemia, comia esse doce e voltava mais rápido do que eu tinha ido. Eu chegava em casa minha glicemia estava perfeita, matei a minha vontade de comer o meu doce, almoçava, dormia a tarde inteira. Exausto, obviamente, tinha acabado de pedalar 90 quilômetros. Mas foi uma fase muito boa que eu consegui manter um controle muito bom da minha glicemia.
P/1 – E como é que foi se tornar jovem convivendo com todas essas questões da diabetes? Como isso influenciou a sua vida de jovem? Porque você vai ficando mais velho, você muda as convivências, os hábitos, as rotinas mesmo, né, os prazeres. Como que era essa relação sua com a diabetes?
R – Eu tinha plena noção dos efeitos dela e que eu não poderia abusar de algumas coisas. Então você entra naquela fase ali de adolescência virando adulto, então você vai para uma balada, vai para uma discoteca, vai para um bar, você começa a frequentar esses tipos de locais onde tem bebida, onde tem muita comida. Então às vezes eu acabava me perdendo, posso ou não posso? Não posso, mas não posso nada? Ou eu posso, posso muito, posso pouco? Até onde eu posso ir, até onde eu posso compensar com a insulina, até onde eu posso compensar depois com uma outra refeição ou cortando uma refeição. Isso era bem complicado, até porque eu tentava passar por algumas nutricionistas e até hoje não me dou bem com elas, eu não consigo, foi até um ponto de discussão com meu médico atual, porque até hoje a nutricionista fala pra mim: "De manhã, entre o seu café da manhã e o seu almoço você precisa comer uma fruta”. Eu sou empresário, cada dia eu estou em um cliente diferente, eu estou no meio de reuniões, eu não consigo levar uma fruta no meio de uma reunião, sacar minha fruta: “Dá licença que agora eu vou comer a minha banana”. Não consigo. “Pode ser uma barra de cereal?” “Não, não pode” “Por que não pode?” “Não, tem que ser uma fruta” “Ok, mas por que não pode ser uma barra de cereal?” “Tem que ser uma fruta” “Não tem explicação?” “Não tem explicação” “Então tá bom, muito obrigado, eu estou indo embora. Desculpa, mas você é de uma área de Ciências, você tem que dar explicações daquilo que você está falando. A partir do momento que você não me justificar aquilo que você está me pedindo não tem porque eu fazer”. Então essas sempre são as minhas discussões com nutricionistas. Eu já saí de sala de consultas de nutricionistas, mais de dez, de fazer uma pergunta, ela não me responder. “Ok, muito obrigado, estou indo embora”. Porque é muito difícil pra mim. Se o médico me explica: “Olha, você precisa fazer este tratamento por causa disso assim, assim, assim, assim, assim, assim” “Ok, eu vou tomar essa medicação, eu vou fazer esse tratamento. Agora se você não me explicar o porquê eu não consigo seguir essa metodologia sua”. Até hoje é uma dificuldade que eu tenho, então o meu médico já vem comentando comigo: “Olha, a gente vai precisar ir para uma nutricionista”. Já expliquei pra ele, se ela não me explicar cientificamente o porquê que eu tenho que fazer aquilo eu vou largar ela falando sozinha. “Não, fica tranquilo, eu vou estar com você, eu já entendi o seu perfil”, etc. Vamos ver, eu acho que ele está arriscando a sorte dele (risos), vai levar mais um não e eu vou embora. Dele eu não vou largar, mas a nutricionista com certeza. Essas foram algumas dificuldades que eu tive durante essa adolescência e iniciar a vida adulta. Então, contagem de carboidratos. Todo mundo fala. “Ok, mas quanto que eu posso?” “Ah, uma colher de arroz” “Que tamanho é essa colher de arroz?” “É uma colher de arroz” “Tá, uma colher de arroz na minha casa é assim. É essa?” “Não, mas isso é muito” “Isso é uma colher de arroz pra mim. Quanto é uma colher de arroz pra você?” “É uma colher de arroz” “Tá. Tem colher de café, de chá, de sobremesa, de sopa, de se servir, de qual você está falando?” “Ah, de uma colher” “Tá bom. E de feijão?” “Ah, de feijão é uma concha” “Tá. Que tamanho é a sua concha? Tem concha de 50 mililitros, de 100, de 180, de 200, de 300. Que tamanho é essa sua concha?” “Ah, tem uma concha de feijão” (suspiro) “Quero ir embora. Ah, e salada? Quanto de salada?” “Uma porção” “Quanto que é uma porção?” “Uma porção pra mim é um prato” “Ok, eu compro alface que uma folha cobre um prato inteiro, isso é uma porção?” “Não, aí é muito pouco” “Tá, então quanto que é uma porção? É um pé de alface inteiro?” “É, pode ser” “Tá, tem supermercado que eu vou que um pé de alface vem seis folhas e tem supermercado que eu vou que o pé de alface é desse tamanho. Qual dos dois?” “Não, é uma porção” “Tá bom, tá, ok, uma porção. O que mais?”. Então isso é muito complicado, pelo menos pra mim. As pessoas, pelo menos os profissionais que eu passei até hoje, eles não conseguiram me definir o que é que eu posso e a quantidade exata que eu posso. Então hoje eu tento trabalhar mais com o meu bom senso e com o que eu sei que pra mim não vai me fazer mal ou com aquilo que eu tenho que aumentar ou diminuir a minha dose de insulina para eu poder fazer. Ontem mesmo foi um exemplo. Aonde eu estava, no refeitório tinha peixe e fígado. Não gosto de peixe, odeio fígado. Vou comer o quê? O pessoal: “Ah não, vamos no rodízio do Pizza Hut”. É suicídio, né? “Ok, vamos lá”. Eu sei o quanto eu posso comer de pizza que me satisfaz e eu sei o quanto eu tenho que aumentar a minha dose de insulina pra compensar isso daqui. Vou chegar à noite em casa e comer uma lasanha? Obviamente não. Então essas compensações eu tive que ir aprendendo ao longo do tempo, até conseguir acertar um equilíbrio.
P/1 – E a parte escolar? Deixando o diabetes agora um pouco mais coadjuvante. Nesse momento, faculdade, escolha de profissão, como é que aconteceu isso na sua vida?
R – Foi um pouco engraçado e eu acho que até um pouco fora do comum porque eu sempre quis fazer Medicina. E em Sorocaba na Faculdade de Medicina eles têm um curso, pelo menos na época tinha, que chamava Sim ou Não. Então você passava sexta, sábado e domingo na faculdade tendo aulas nos laboratórios com os professores, com os materiais deles pra você decidir se era realmente aquele curso que você queria fazer, se Medicina era aquilo que você imaginava. Eu fiz, gostei mas percebi que não era muito bem aquilo que eu queria. E depois eu fiz aqui na USP, tinha um curso parecido só que era de um dia só pra Física. Eu gostava muito de Física e Química. Fiz o curso, fiquei apaixonado pelo curso de Física e Matemática, me preparei durante o colegial todo pra fazer esse curso de Física e Matemática. Fiz os vestibulares, na época eu prestei sete provas e a minha mãe falou: “Bom, presta Fatec que é pública e tem aqui em Sorocaba. Se nada der certo e você passar aqui, você já está aqui”. Eu falei: “Ah, tá bom. Pra quem já está fazendo sete, fazer oito é a mesma coisa, vamos fazer”. Fiz a inscrição, fiz todas as provas e na época a gente estava um pouco sem condições, mas na Federal de São Carlos eu passei em quadragésimo segundo, eram 40 vagas, então se tivesse feito interesse pela vaga provavelmente teria entrado. E na Unicamp eram 80 vagas eu fiquei em 84, também poderia tentar. Mas passei na Fatec. Pô, legal, aquela maior festa. Na época fazia pedágio no farol, aquela bagunça toda, rasparam meu cabelo. Cheguei em casa: “Mãe, passei na Fatec” “Pôxa, que legal”. Na hora que ela falou: “Que legal, parabéns, filho, estou orgulhosa de você”, tudo, começou. “Mas pera aí, que curso foi que eu prestei?”, eu não sabia pra qual curso eu tinha feito. Fui buscar o manual do candidato e descobri: Processamento de Dados. Faz o quê? Aí que eu fui ler o descritivo do curso: “Ah, bacana, vou trabalhar com computador. Tá bom”. Iniciei o curso, na primeira semana eu estava completamente perdido, não conhecia ninguém e via quase metade da turma vindo de colégio técnico. Então o pessoal ali já conhecia, já sabia o que era aquilo. Até que teve a primeira aula de programação, desenvolvimento. O professor deu a explicação dele, era cinco ou seis linhas que você tinha que digitar ali no editor e compilar. O programa não fazia absolutamente nada, ele abria uma tela preta e fechava, era só isso que ele fazia. Mas eu fiquei encantado e maravilhado com o resultado daquilo. E eu sou extremamente ansioso. Então se eu fosse fazer uma faculdade de Engenharia hoje eu já estaria morto de ansiedade com certeza, porque você fazer um projeto civil de construção de um prédio de não sei quantos andares, entre você começar o projeto e você ver a conclusão da obra são anos. E eu vendo aquilo: “Não, mas eu digito meia dúzia de coisa aqui e já acontece”. Muito rápido, eu me apaixonei por aquilo. Então eu executei aquele mesmo programa acho que umas 12, 15, 20 vezes e fiquei maravilhado com aquilo. Até que eu comecei a ouvir alguns barulhos na sala. Naquela época aqueles computadores ainda tinham aqueles alto falantes que você apertava errado e fazia barulhinho, tudo. Eu comecei a olhar para os lados, o pessoal já estava fazendo tela com botão, com função, com um monte de coisas, aí começou a me bater desespero. “Nossa, mas esses caras já estão fazendo tudo isso e eu só sei fazer uma telinha que abre preta e que fecha. Tô ferrado”. Aí começaram a vir outras matérias, outros cursos ali dentro de desenvolvimento de projetos, etc, e eu acabei me apaixonando por isso e continuei, deu certo. No final das contas esse pessoal que vinha de colégio técnico acabou ficando ao longo do curso porque eles eram ótimos desenvolvedores, mas o restante da parte de análise eles não tinham. Acabei me dando bem com isso e já acabei entrando para o que eu trabalho hoje, com o sistema que eu trabalho hoje. Na época a gente não conseguia estágio porque as aulas eram de manhã e duas vezes por semana a gente tinha aulas à tarde, então conseguir estágio era muito difícil. Apareceu o diretor de uma software house muito grande pra dar uma palestra na faculdade e ele ofereceu como estágio um trabalho voluntário. Trabalho voluntário o que era? Você daria aulas de microinformática pra menores carentes de 14 a 18 anos e isso já contava como estágio nessa software house muito grande. E eu me interessei. Fui procurar, fui me inteirar um pouco mais sobre como era esse projeto. Os cursos desses menores carentes eram de seis meses, um curso básico e eu formei duas turmas, fiquei um ano durante esse projeto. E esse projeto acabou me ajudando muito porque eu sempre fui muito tímido, muito fechado, muito introvertido. Para eu fazer uma apresentação de um trabalho na faculdade, nossa, eram dias de desespero de me descabelar em casa, imagina fazer uma apresentação de um trabalho pra algum público. Era triste. Então com isso também acabou me ajudando e ver a realidade de outras pessoas. Tinha aluno que vinha drogado, tinha aluno que vinha passando fome, tinha aluna que saía no meio do curso porque engravidou, tinha aluno que vinha machucado porque levou uma surra do pai bêbado. Todas essas histórias que a gente vê às vezes tão distantes de nós eu passei a conviver muito próximo disso. E a gente via ali que tinha pessoas que tinham capacidade, que queriam, que eram esforçadas, tanto que um dos meus alunos acabou entrando pra trabalhar nessa empresa também depois que ele fez o curso, acabou fazendo faculdade e hoje ele tem uma consultoria dele, desse mesmo sistema. Então foi uma forma de me envolver com coisas que não eram muito da minha realidade e ver essas pessoas crescendo, isso aí foi muito legal. E finalizando ali a segunda turma esse mesmo diretor que fez o convite me chamou pra trabalhar nessa software house. E eu trabalho com isso hoje, já há 18 anos.
P/1 – E depois você criou o seu próprio negócio, como é que foi esse seu trajeto profissional?
R – Eu acabei saindo dessa software house porque essa unidade foi comprada por uma outra unidade e todos os funcionários, todos os consultores teriam que passar a ser PJ, pessoa jurídica. E não era o que eu queria na época, eu era muito novo, eu não queria esse tipo de desafio pra mim ainda.
Com mais dois colegas dessa mesma empresa nós tentamos abrir uma franquia em Sorocaba de uma outra software house de São José do Rio Preto. Eu acabei ficando um tempo lá fazendo os cursos deles, começando a trabalhar com eles pra poder levar o sistema pro interior de Sorocaba. Mas no final das contas a franquia não deu muito certo, fazer a abertura dela lá. Acabei trabalhando pra eles um tempo lá, um tempo em São Paulo. Mas aí foi um período muito ruim da minha vida porque tinha períodos que eu tinha que sair no domingo de casa pra viajar até São José do Rio Preto pra fazer uma reunião na parte da manhã, na segunda-feira, pegar um outro ônibus, ir pra Capão Bonito, mais interior ainda, pra ficar lá na terça, na quarta, na quinta-feira voltar pra São Paulo pra atender mais um cliente na sexta-feira pra voltar pra Sorocaba. Então eu passava mais tempo viajando do que trabalhando, inclusive o controle da minha diabete também ficou extremamente complicado, questão de horários, de disponibilidade de alimentação, de tudo. Até que numa dessas idas e vindas eu acabei tendo uma pneumonia lá em Capão Bonito. Voltei pra Sorocaba muito mal, quase fiquei internado e acabei desistindo dessa empresa e voltei a trabalhar em Sorocaba. Mas aí eu voltei em um escritório de contabilidade. Esse escritório de contabilidade tinha esse sistema que eu trabalhava em vários clientes e eles precisavam de suporte, então eles me contrataram e eu fiquei lá durante um tempo. De lá eu fui para uma outra empresa química, de tratamento de água, fiz um grande amigo lá dentro, que é meu amigo até hoje, ele fazia parte de infraestrutura e eu fazia parte de sistemas. Apareceu uma vaga pra trabalhar em Alphaville, o salário era muito maior do que eu tinha lá em Sorocaba, a proposta foi muito boa e eu acabei aceitando. Então acabei chegando pro meu amigo e falei pra ele: “Estou indo embora” “Não, mas como assim?” “Estou indo embora, vou ficar aqui 15 dias. Eu vou falar com o dono pra ele não contratar outra pessoa pro meu lugar, eu vou te dar um treinamento e vou te dar suporte e você vai ficar aqui sozinho” “Pô, cara, você faz isso pra mim?” “Faço”. Consegui ajudar ele, hoje ele é gerente de uma multinacional em Itu, somos muito próximos ainda, gosto muito dele. Saí de lá e comecei a trabalhar em Alphaville. Lá tinha alguns projetos internacionais, fiz implantação desse mesmo sistema no Chile, na Argentina e em outras unidades do grupo aqui no Brasil também. Aí chegou num ponto extremamente estressante, eu cheguei a ter síndrome do pânico. Ia e voltava todos os dias de carro, eram exatamente 80 quilômetros da porta da minha casa até o meu trabalho. E um dos dias na volta eu cheguei a parar cinco vezes no acostamento com crise de choro sem saber o por quê. Eu não tinha dor, eu não tinha fome, eu não tinha nenhuma angústia, eu não tinha absolutamente nada, mas não conseguia controlar o choro. Chorava, chorava de soluçar. Não entendia o que estava acontecendo, até que eu acabei procurando um psiquiatra: “O que você tem é síndrome do pânico. Quando isso acontecer você põe esse remedinho debaixo da língua, em dois, três minutos a sua ansiedade vai baixar, vai acalmar. É mais ou menos a mesma coisa que você tomar uma taça de vinho, sem o efeito alcoólico, você vai relaxar”. Ok. Tomei três comprimidos daquele e tomei uma decisão: eu não vou viver trabalhando aqui e tomando tarja preta pra conseguir trabalhar, dormir, fazer a minha vida. Esse meu controle da diabete na época estava horrível, foi uma época que eu engordei quase 50 quilos por causa do estresse e por causa do acompanhamento médico que eu vinha fazendo errado. Então eu tomei a decisão de sair. E eu estava disposto a ir pra qualquer lugar, então comecei a mandar currículos, em poucas semanas eu fui contratado. Era um grupo de transportes muito grande e nessa empresa eu vi um japonês passando pelo vidro de onde eu estava fazendo a entrevista, eu falei: “Nossa, japonês é tudo igual, mas esse daí eu acho que eu conheço”. Olhei de novo: “Eu conheço esse cara”. Terminei a entrevista, tentei ligar pra ele, não consegui, mandei um e-mail. E esse rapaz ele era da matriz da software house que eu trabalhava e era ele quem dava suporte pra mim. Eu era um consultor e às vezes eu precisava de algum suporte, algum patch, alguma atualização, alguma coisa do gênero e eu tinha que ligar pra matriz. Quem me atendia lá era ele. Então nós acabamos tendo uma boa amizade. Consegui contato com ele, falei: “Cara, estou indo pra lá” “Mas você tem certeza?”. Eu falei: “Por quê?” “Cara, você vai ficar lá, você vai ganhar um salário mais ou menos, se você quiser ficar sentadinho num canto lá na sala ninguém vai te perturbar, ninguém vai falar com você, ninguém vai te pedir nada e é isso” “Nossa, cara, sério?”. Ele falou: “Cara, eu se fosse você não ia” “Mas é assim mesmo?” “É assim mesmo” “Cara, perfeito, é isso que eu preciso hoje! Eu preciso sair dessa loucura que eu estou aqui”. Ele: “Bom, veja bem, se é isso que você quer vá, mas a hora que você não quiser mais, me liga você vem trabalhar na consultoria comigo” “Consultoria? Cara, eu estou planejando trabalhar numa consultoria só com 30 anos” “Não, fica aí um tempo e depois a gente se fala”. Fui pra lá. Realmente não tinha absolutamente nada para eu fazer porque eu fui contratado como analista sênior, tinha uma equipe de analistas juniors e os juniors conseguiam resolver, fazer toda a parte de sistemas ali tranquilamente. Então o gerente começou a me puxar muito pra ele. Tinha dias que eu chegava, passava pela sala dele: “Ô Antonio, vem cá, por favor” “Só vou colocar minhas coisas” “Não, pode trazer tudo pra cá”. Eu passava o dia inteiro na sala dele. Então ele me fazia perguntas assim: “Olha ,estou com esse problema, o que eu faço?” “Como assim, o que você faz?” “Não, no meu lugar, o que você faria?”. Eu pensei: “No seu lugar eu ia ganhar o que você ganha”. “Olha, eu faria isso assim, assim, assim” “Ah, ok”. Isso começou a virar rotina e ele começou a me levar pras reuniões com a diretoria e com a presidência. Ele não falava nada, eu tinha que fazer tudo e eu que tinha que tomar as decisões. Eu falei: “Não, pera aí, então vamos inverter isso”. Liguei pra esse meu amigo: “Cara, tem vaga aí?” “Tem. Você pode vir amanhã?” “Posso”. Já fui, já fiz a entrevista com o outro sócio dele e acabei sendo contratado. Na época, pelo meu medo de deixar ser funcionário CLT pra virar consultor, eles acabaram fazendo uma proposta onde eu teria oito horas garantidas por dias, independentemente de ir para um cliente ou não. Enfim, eu fiquei um dia no escritório, todos os outros dias eu estava trabalhando em cliente. E aquilo pra mim foi uma outra parte fantástica da minha vida profissional. A primeira foi quando eu descobri o que era o Processamento de Dados, aquela primeira aula que eu fiz aquele programinha, abria a telinha preta e fechava, e esse outro momento de ter essa vivência de consultoria, de cada dia estar em um cliente diferente, uma realidade diferente, um ambiente de trabalho diferente. Então tinha clientes que eu atendia em Alphaville que eram empresas lindas, maravilhosas e cliente onde eu ia que eu praticamente tinha que sentar em caixa de laranja de feira pra poder trabalhar ali no servidor. Eram realidades muito diferentes e você tinha um aprendizado com tudo isso surpreendente. Em uns a gente tinha problemas de custo, que é uma coisa que eu adoro, em outros o cliente estava preocupado em como fazer nota sem pagar imposto, trazendo caixa dois, etc, realidades muito distintas. Com o passar do tempo a gente acabou se desligando dessa consultoria e abrimos a nossa consultoria. Hoje nós temos um projeto pra montar um grupo de consultorias, um projeto nosso um pouco profissional e um pouco pessoal também, uma ideologia nossa, e a gente está trabalhando pra conseguir galgar esse espaço no mercado. Hoje a gente já está com três consultorias, montando e ampliando esse grupo aí.
P/1 – Legal. E agora, pegando uma estrada paralela na sua história e falando um pouco da parte pessoal. Como você conheceu a sua esposa, conta um pouquinho da história do seu casamento.
R – Eu sempre tive a vontade de ser pai, sempre tive, mas o fato da diabete às vezes me freava muito nisso porque o que eu pensava e ainda tenho um pouco de medo disso. O meu pai teve diabetes, meus cinco tios tiveram diabetes, todos eles morreram do coração, eu sou diabético, meu filho também vai ser. E eu queria muito uma menina. Por que eu queria uma menina? Porque na minha família o gene da diabete está só nos homens, as minhas outras quatro tias, nenhuma delas tem. Os meus dois irmãos também tiveram diabete, a minha irmã não. Então eu quero uma menina. Eu sempre planejei e projetei isso: “Eu quero ter um filho, mas vai ter que ser uma menina”. Eu tive uma ex-namorada, o nosso relacionamento foi em torno de 12 ou 14 anos, e chegou num determinado ponto que eu queria casar, eu queria ter filhos: “Vamos, né?” “Não, mas espera só mais um pouquinho pra acontecer tal coisa”. Tá, acontecia isso: “Então agora vamos?” “Não, mas agora eu só preciso que aconteça mais tal coisa”. Acontecia mais aquilo. E aquilo começou a se enrolar muito, começou a demorar demais, e eu desisti. Não dá, já estava com mais de 30 anos e nos meus planos eu queria ser pai com 35 anos, era isso que eu queria. E eu vi que aquilo não ia acontecer mais. “Então acabamos por aqui”. Terminamos o nosso relacionamento, eu fui morar sozinho, na época a gente morou junto uns três ou quatro anos, uns três anos, fui morar sozinho e acabei conhecendo quem hoje é a minha esposa. Na época ela já era mãe, ela tem uma menina de nove anos, então aquilo pra mim acabou ficando um pouco mais confortável porque o meu desejo nunca foi ter um filho, meu desejo sempre foi ‘quero ser pai’. Então eu via a possibilidade com ela, porque eu gostei muito dela, o perfil dela, como ela agia, o que ela fazia, sempre admirei ela muito e o fato dela já ter essa filha, e essa filha não tem muito contato com o pai dela, nem nada, eu falei: “Bom, aqui está uma oportunidade boa, uma pessoa que eu gosto, me dou muito bem com ela e tenho aqui a oportunidade de ser pai”. Fizemos um planejamento, com um ano de namoro ficarmos noivos e com mais um ano de nos casarmos. Completamos um ano, fizemos uma viagem pra Argentina, pra ficarmos noivos, ficamos noivos e alguns meses depois ela foi demitida do emprego dela. E na semana que ela ia fazer a homologação dela, ela me veio com a notícia que estava confirmado que ela estava grávida. Eu fiquei, acho que foi o ápice da minha vida de felicidade, dela chegar pra mim com uma caixinha de presente, eu abri e tinha dois sapatinhos ali. Eu fiquei, eu não consigo descrever em palavras a sensação que eu tive, foi mágico aquilo. E o irmão do meu sócio é obstetra, então ele já me indicou o próprio irmão dele, nós fomos lá, começamos a fazer o pré-natal, fizemos os exames, tudo ok, ela muito bem, tudo dentro do esperado e: “Bom, então vamos contar pra sua família”. Sentei com a minha sogra, expliquei pra ela o que tinha acontecido, muito emocionado, muito feliz ainda com toda aquela novidade. Ela gostou muito, nos casamos e a minha mãe já tinha começado a comprar as roupinhas do enxoval, tudo rosa. Fomos fazer os ultrassons, era um menino. Ali naquele momento eu fiquei um pouco chateado porque eu sempre planejei uma menina, sempre quis uma menina, sempre tive na minha cabeça: “Não, eu vou ser pai da Ana Clara, eu vou ter a minha Clarinha”. Fiquei um pouco decepcionado, mas depois acompanhando a gestação, que eu chegava em casa e ele reconhecia a minha voz, que ele se agitava quando eu estava perto, eu fui me apaixonando por isso, até que ele nasceu. Aí minha vida mudou completamente. Dizem que filhos não mudam a gente, mudam, não mudam o caráter, mas trazem algumas mudanças profundas pra gente. Antes eu não tinha muitos planos: “Ah, viver até os 50, até os 60 anos pra mim é mais do que o suficiente, eu não quero viver mais do que isso”. Hoje vendo o meu filho crescendo, se desenvolvendo: “Não, quero acompanhar e quero ver muito mais. Não quero mais ir só na formatura do meu filho, quero ir no casamento do meu filho. Mas eu não quero ver só o casamento do meu filho, eu quero ver os meus netos. Não quero só ver os meus netos, eu quero ver os meus netos se formando”. Então isso tudo acabou mudando bastante. E no meio do caminho piorou um pouco o quadro do problema que eu tenho nos olhos. Por causa da diabete eu tenho uma retinopatia que eu já trato com laser há oito anos, mas nesse último ano se agravou um pouco mais esse problema. Em setembro do ano passado eu estava no meio de um projeto e durante esse projeto eu senti um sangramento no olho, dentro do olho. Então aquilo tudo foi ficando opaco, escuro, escuro. Corri pro médico, eu tinha tido um sangramento dentro do olho. Começamos a intensificar um pouco mais esse tratamento de laser, durante um período deu algum resultado, mas a doença continuou evoluindo até o ponto que o médico chefe da equipe falou: “Não, vamos ter que operar” “Tá, mas e o olho direito, o que é essa cirurgia?”, ele explicou, explicou os riscos, etc, ele estava um pouco arredio pra fazer a cirurgia também, mas não tinha mais como. Pelo risco da própria cirurgia, pelo risco de cegueira de um dos olhos, foi um impacto muito grande. O meu filho estava pra completar dois meses. Fiquei bem assustado com isso, muito preocupado, mas fizemos a cirurgia, deu tudo certo, a cirurgia foi um sucesso, hoje já recuperou 100%. Recuperou 100%? Ok. Apareceu o mesmo problema no olho direito e agora um pouco mais grave. Há dois meses eu não consigo enxergar com o olho direito. Tem uma névoa muito grande, simplesmente eu não consigo. Então algumas questões como a questão de profundidade, se você colocar a sua mão para eu colocar, acertar o dedo ali eu vou errar. Então pra escrever, para eu trabalhar, eu trabalho com computador, com desenvolvimento, está muito difícil, muito complicado. É uma das minhas paixões. Dirigir, eu adoro dirigir, não posso dirigir. A minha esposa está aqui aguardando, tem me ajudado muito em questão de médico, de tratamentos, de cuidados com diabete também, de me levar, de me buscar, de me trazer, porque até pra transporte público está complicado. Eu entro no metrô eu não consigo ler as placas, eu não sei pra que lado eu tenho que ir. Então isso está bem complicado. Daqui dois sábados eu devo fazer a mesma cirurgia no olho direito, então isso assusta, assusta bastante.
P/1 – Você disse mais pro meio da entrevista que você tinha tido alguns problemas no acompanhamento do diabetes, quando você estava falando ainda da infância, você falou: “Mas isso foi lá na fase adulta”. Conta um pouquinho desses problemas, desses episódios mais difíceis.
R – Os problemas que eu tive foram relacionados aos médicos que eu passei. Não sei te dizer se eles eram ruins ou se eles não eram tão especialistas assim, enfim, mas o tratamento que eu fazia, o que eles orientavam? “Bom, quantidade de insulina que você está tomando é insuficiente, vamos aumentar essa insulina”. Ok. Aumentava a insulina, durante alguns meses a glicemia ficava aparentemente bem controlada, só que eu ganhava peso. Eu
ganhava peso e aquela insulina que eu tomava passou a ser pouco, voltava nas consultas: “Vamos ter que aumentar um pouquinho mais a sua insulina pra poder equilibrar esse controle da diabete”. Ok. Aumentava essa insulina, eu ganhava mais peso. E sempre nesse ritmo, até que eu cheguei próximo dos 140 quilos. Não dá mais. E foi nessa fase que eu tive essa síndrome do pânico também, esse estresse todo, mas foi ao longo de seis anos que eu aumentei tanto assim de peso por causa desses tratamentos. Então trocava a insulina, trocava a dose, aumentava a quantidade de aplicações, passei a tomar dois tipos de insulinas diferentes, a basal e a rápida, diversos ajustes. Todos eles davam resultado, mas resultados muito momentâneos, coisas rápidas, de três, quatro meses estava controlado, no quinto mês já não estava mais legal, no sexto mês tinha que mudar tudo. E quando eu tive que fazer essa primeira cirurgia no olho esquerdo o médico chefe da equipe me disse: “Eu só vou operar com a autorização do seu endócrino” “Ok, mas no momento estou
sem nenhum, você pode me indicar alguém?” “Posso”. Ele me indicou, minha esposa entrou em contato. Quando ela me retornou passando o valor da consulta, 720 reais e ele não atendia convênio, eu falei pra ela: “Ok, procura outro”. Isso porque no meio do caminho foi até engraçado porque ela já vinha procurando algum endócrino pra mim, só que ela vinha procurando do convênio, conseguiu marcar um, lá em Osasco, nós fomos, chegamos na consulta ele simplesmente já estava com o bloco dele de pedido de exames na mão. “Ah, qual é o seu problema?” “Eu sou diabético” “Ok”, já começou a riscar as solicitações deles de exames. Então ele não me pesou, não mediu a minha pressão, não ouviu nada do meu histórico, não perguntou há quanto tempo eu era diabético, nada, foi uma consulta de três minutos. A minha esposa saiu de lá animada: “Não, porque daí amanhã a gente já vai, já colhe os exames, já volta rápido”. Eu olhei pra ela e falei: “Desculpa, mas esse médico não vale o sangue que eu vou tirar pra fazer exame. Não que eu tenha medo de tirar sangue, mas não vale o tempo que eu vou gastar pra isso. Esse médico é muito ruim”. Ela ficou chateada comigo porque ela levou muito tempo procurando, tentando, rápido e tudo, ela ficou muito chateada. Até que eu consegui ir nesse outro médico indicação, ela me passou o valor eu falei não, ela falou: “Não, eu vou pagar e você vai, depois a gente se vira com convênio” “Tá bom”. Como ela já tinha ficado chateada com esse outro episódio eu falei:
“Tá bom, deixa ela”. E em 20 anos de diabete foi a primeira vez que o médico pediu para eu tirar as calças para ele poder examinar as minhas pernas, para ele poder examinar os meus pés. Foi uma hora e meia de consulta. Ele conseguiu mudar todo o conceito que eu tinha sobre diabetes, sobre o tratamento, ele passou a me tratar como diabetes do tipo 1 e do tipo 2, que acabou desenvolvendo o tipo 2 por causa da obesidade. Então ele fez todo um planejamento de tratamento comigo, diversas propostas, apresentou diversas tecnologias que já estão disponíveis e outras que estão saindo no mercado agora. Essa própria tecnologia do Libre, acredito que muitos médicos, principalmente os que eu já me tratei nenhum deles tem o conhecimento disso. Ele mudou muita coisa. Então em quatro meses de tratamento eu perdi mais de dez quilos, a minha glicemia se estabilizou, hoje eu não tenho nenhum problema com ela, hoje está muito mais tranquilo, as coisas estão muito mais claras pra mim do como tratar. Por que um e por que não o dois? Por que fazer do jeito A e por que não fazer do jeito B. Então às vezes é essa questão do trato do médico com o paciente. Uma coisa que me chamou muito a atenção quando nós saímos da primeira consulta, minha esposa ainda estava grávida, meu médico me abraçou, falou: “Cara, você vai ver a vida inteira do seu filho”. Abraçou a minha esposa também. Então hoje eu tenho uma relação com ele não de médico-paciente, mas de amigo. Isso facilita muito porque você já tem uma doença que vai te acompanhar pro resto da vida, que você vai precisar fazer esse acompanhamento próximo de um médico, de uma equipe, do que for, pro resto da sua vida, aonde você tem uma série de restrições, uma série de cuidados, uma série de regras, mas que apesar de tudo isso você tem e deve levar uma vida normal. Então depois que eu conheci o médico que faz o meu tratamento hoje mudou completamente o meu conceito, principalmente dessa relação médico-paciente. Que a relação que eu tenho com ele hoje eu nunca tive com nenhum outro médico, era sempre assim: “O que está acontecendo?” “Está acontecendo isso” “Ah tá, então...”, nem terminava de ouvir o que eu tinha pra relatar, já saía fazendo a lista de exames: “Daqui a três meses você volta”, mudava a quantidade de insulina, eu ganhava peso, dizia que uma coisa não tinha relação com a outra e vamos embora. A impressão que eu sempre tive: “Não, é só mais um paciente, é só mais uma consulta que eu recebi mais um valor do convênio ou mais um valor do paciente”, ponto final. Sem nenhuma relação mais próxima. Então eu sempre senti muita falta disso, do médico estar próximo, porque querendo ou não é ele que vai me tratar durante anos, espero. Então um tratamento frio, distante: “Faz isso, faz aquilo e daqui x meses a gente se vê”, é ruim pra nós também porque a gente também tem muita dúvida, tem muita coisa que acontece com a gente no dia a dia. Isso é reflexo do quê? É um novo problema que eu tenho? É uma alguma coisa da diabete que está evoluindo? O que é que está acontecendo? São coisas que a gente passa que a gente precisa conversar, que a gente precisa discutir com um profissonal que te dê atenção e que saiba aquilo que você está falando, que entenda a sua linguagem. Então hoje isso eu tenho.
P/1 – Antonio, e episódios de hipoglicemia?
R – Tive um episódio grave, que até acontecer comigo eu não sabia como era. Porque eu sempre ouvi dizer que num episódio de hipoglicemia você pode desmaiar, então, você pode estar andando na rua e simplesmente desmaiar no meio da faixa, no meio da rua ou no meio do transporte público, andando de carro você ter uma hipoglicemia e você apagar. Sempre que eu tive as minhas hipoglicemias, a maior parte delas foi dormindo e dizem que é a hipoglicemia mais perigosa porque você já está dormindo, você tem a hipoglicemia, diminui a sua consciência, como você já está dormindo a tendência é que você continue dormindo até você entrar num coma hipoglicêmico. Só que comigo sempre que eu tive hipoglicemia eu sempre acordei, sempre. E um dia trabalhando eu tenho lembranças até por volta de dez horas da manhã, depois disso eu não tenho lembranças mais, eu só sei o que aconteceu aquele dia porque as pessoas me contaram. Eu perdi a consciência mas eu não desmaiei, eu continuei ativo. Então os meus colegas de trabalho começaram a achar estranho mas não chamou a atenção deles porque eu sentei no meu computador, eu fui fazer o desbloqueio da minha máquina e o monitor estava desligado. Então eu teclei a minha senha, dei enter, não aconteceu nada, obviamente (risos). Eu tentei de novo, não aconteceu nada. Depois a terceira vez existia uma regra onde o usuário era bloqueado. Eu dei um tapa na mesa e reclamei pro pessoal: “Essa porcaria aqui está bloqueando sem eu digitar a senha errada”. Eles olharam assim, acharam estranho, estava mais ou menos próximo do horário do almoço: “Não, vamos almoçar, depois que a gente almoçar eu desbloqueio pra você”. Ok, peguei meu celular e eu não conseguia desbloquear o meu celular. Desisti, deixei meu celular lá na mesa e fomos almoçar. Nesse momento começou a chamar um pouco mais a atenção porque eu peguei uma folha de alface, uma concha de feijão, coloquei em cima, peguei uma colher e sentei pra almoçar. Eles falaram: “Ah não, você está de brincadeira”, eles achavam que eu estava brincando com eles. Nós fomos até a copa tomar um café e próximo ali da copa ficava a sala de uma das secretárias. Dizem que eu fui até a mesa dela, ela não estava lá, eu mexi nos papéis dela, mexi na gaveta, tudo, eles começaram a ficar preocupados. Ligaram pra minha ex-namorada dizendo que eles estavam me levando para o hospital, que eu não estava bem. Eu começo a ter lembranças a partir desse momento, eu lembro de alguns flashes de estar no táxi com um dos meus colegas, alguns flashes dele me segurando pelo braço, andando no corredor do hospital e lembro deles começarem a injetar glicose na minha veia. E lembro da enfermeira falando: “Sua glicemia está baixa, está em 47”. Depois que ela começou a aplicar a glicose que eu comecei a perceber onde é que eu estava, o que é que estava acontecendo. E aquilo assustou muito porque como é que eu cheguei até ali? Eu não lembrava de absolutamente nada, nada. Então tudo o que aconteceu entre as dez horas da manhã e as duas horas da tarde eu só sei porque me contaram. E eu não desmaiei, eu não caí no chão, eu não andava cambaleando, nem nada. Eles falaram: “A gente olhava você, você estava normal, fazendo coisas incomuns, mas você estava normal”. Então imagina se eu estou dirigindo, fazendo uma viagem ou qualquer coisa assim e tem um episódio desse? O que eu faço? Recentemente eu tive um outro episódio parecido, mas não a esse ponto, saindo do consultório do meu médico eu percebi que eu não estava muito legal: “Eu devo estar com hipoglicemia. Eu já vou pegar o carro, eu passo ali embaixo, já compro o refrigerante, tomo e já está tudo certo”. Saí, não achei nenhum lugar. “Bom, ok, chegando na Marginal eu paro em algum posto e compro um refrigerante, tomo e está tudo resolvido”. Continuei indo, fui, eu tinha que ir até Alphaville. Fui indo, eu falei: “Bom, a hora que eu chegar no shopping eu compro alguma coisa”. Entrei no shopping, entrei no estacionamento onde eu sempre paro, cheguei no andar dentro do carro: “O que eu estou fazendo aqui? Onde é que eu estou? O que é que está acontecendo?”, eu já não tinha mais noção do que eu vinha sentindo, que aquilo era uma hipoglicemia, já não tinha mais noção exatamente de onde eu estava, tinha alguns flashes. Eu falei: “Bom, já que eu estou aqui, eu vim fazer alguma coisa aqui”. Estacionei o carro. “Bom, devo estar no shopping. Vamos descer no shopping”. Desci no shopping, aí consegui perceber que eu estava no shopping e que eu estava passando mal, que eu precisava comer, eu precisava beber alguma coisa com açúcar pra tentar voltar essa glicemia da forma mais rápida possível. E comecei a andar perdido pelo shopping e não achava a praça de alimentação. Passei por vários seguranças, mas não me passou pela cabeça de pedir ajuda, de perguntar, não me passou nada pela cabeça, só de continuar andando, procurando, procurando. E depois de um tempo que eu voltei naquele shopping que eu percebi, se eu tivesse andado mais 50 metros eu tinha chego na praça de alimentação. “Bom, não sei o que eu estou fazendo aqui, eu estou perdido, vou voltar pra casa. Onde eu parei o carro? Mas eu vim de carro?”. Aí eu comecei a procurar em mim se a chave do carro estava comigo, eu bati a mão: “Ah, vim de carro. Mas onde é que está o carro?”. Aí passei por uma Lojas Americanas, comprei um chocolate, comi e fiquei sentado, esperando. Também não sabia esperando o quê, também quando estava na metade do chocolate: "Mas por que eu estou comendo chocolate? Eu não posso comer chocolate”. Então eu entrei numa confusão mental gigantesca. Eu não cheguei a perder completamente a consciência como aconteceu da outra vez, mas foi uma confusão mental grande. Depois começou a passar esse efeito, a minha glicemia voltou ao normal. “Não, eu vou voltar pra casa, eu não vou trabalhar, vou voltar pra casa”. Cheguei em casa, estacionei o carro, subi, encontrei com minha esposa, estava chorando, nervoso, tremendo de nervoso porque como aquilo aconteceu de novo? Aí conversando com o meu médico ele me explicou, o problema não é a hipoglicemia em si. Porque eu falei pra ele, isso me aconteceu com uma hipo de 47 e agora nem sei exatamente de quanto porque eu nem pensei em medir a minha glicemia, mas era uma hipo. E eu já tive hipoglicemias de 27, muito mais baixo, e isso não aconteceu. Então ele me explicou, o problema não é o número, o quanto ela está baixa, mas por quanto tempo você fica com essa hipoglicemia. Muitas vezes você pode ter uma hipoglicemia de 50 e nem perceber e ficar uma, duas, três, quatro, cinco horas com essa hipoglicemia, mesmo que ela não continue baixando, mas o tempo que você fica com ela pode causar essa confusão mental. Então isso foi uma outra coisa da doença que me assustou muito, foram esses dois episódios, principalmente o primeiro.
P/1 – E você me faz lembrar de uma pergunta que é pergunta sobre o seu monitoramento de glicose. Como você faz?
R – Hoje eu faço de três a cinco destros por dia, faço antes de cada refeição porque é com base nesse destro que eu aplico numa tabela que meu médico me passou de quanto de insulina que eu tenho que tomar. E se eu sinto qualquer coisa adversa, muito sono, uma dor de estômago, uma dor de cabeça, qualquer coisa adversa, eu faço um destro também pra saber se não tem nenhuma relação com a glicemia. Porque às vezes dá alguma dor de cabeça, é a glicemia que está um pouco alta. Então não adianta eu ir lá tomar uma dipirona, um anador, um lisador, um qualquer coisa que ele vai resolver a dor de cabeça mas eu vou continuar com a minha glicemia alta. Ou então estou com uma dor de estômago, pode ser alguma coisa que eu comi ou pode ser minha glicemia que está fora de controle, então não adianta tomar alguma coisa pra dor de estômago que vai resolver aquela dor mas não vai resolver a glicemia. Eu faço meu destro, se não é nada disso eu tomo um remédio pra dor de cabeça, um remédio pra dor de estômago, ou o que tiver acontecendo foi um fato isolado. Não, está descontrolado, faço um ajuste da insulina, regride essa glicemia, resolve o que eu estava sentindo.
P/1 – Você tem algum incômodo nesse monitoramento, tem alguma coisa que te incomoda ou alguma saia justa, ou alguma situação adversa que você já se viu envolvido por causa dessa prática do monitoramento da glicose?
R – Ah, claro que não, eu não estou nem aí. Eu estou no shopping, preciso medir, eu saco minha bolsinha ali, das minhas coisas, furo meu dedo, guardo meu algodão e a minha fitinha pra depois jogar no lixo de casa. Faço a minha aplicação no braço ou na barriga, eu não me importo com quem está em volta, se: “Ah, mas o que ele está fazendo?”. Meus amigos até falam: “Vamos almoçar?” “Vamos” “Então já toma suas drogas aí já e vamos”. Então eu não tenho problemas com isso. Mas tem algumas situações que começam a ser chatas, ou algumas situações que você vive no momento e que depois você começa a evitar. Como por exemplo, eu faço meu destro, eu não jogo meu algodão com sangue em lixo público ou na casa de alguém onde eu estiver, eu guardo pra jogar na minha casa. Por que? As pessoas não, sempre tem aquele problema com sangue: “Não, o cara deixou o sangue aqui é porque é aidético e quer me passar alguma coisa”, esse tipo de coisa. Então, não precisa. Então o mesmo cuidado que você tem que ter em casa quando você vai jogar um lixo com lâmpada quebrada, com copo quebrado, etc, coloca numa caixinha, coloca num saco, coloca um aviso pro lixeiro, pro coletor, ele vai se machucar com aquilo, ele vai se ferir, ele vai ficar afastado do trabalho dele. A mesma coisa eu faço com as minhas agulhas também. Troquei agulha, coloco dentro da caixinha, da que eu tirei a minha caneta de insulina, guardo ali dentro, fecho, ponho no lixo. Então isso eu evito. Não vai trazer nada pra ninguém, mas assusta. Se eu vejo isso na rua eu já fico preocupado: “Mas por que fizeram isso? Por que deixaram aqui? Por que esse descuidado?”. Então esse tipo de coisa é evitável. Mas tem algumas situações que passam a ser chatas. Por exemplo, passei por uma situação dessas quando foi aniversário de uma pessoa ali da empresa. Essa pessoa levou um bolo pra lá, o pessoal cantou parabéns, tudo, cortaram esse bolo e passaram distribuindo os pedaços entre os departamentos. Então a moça entrou na sala, entregou um pedaço para um dos rapazes que estava lá, entregou pro outro, foi até a minha mesa, olhou pra mim: “Ah, Antonio, você não pode, né?”, virou as costas e foi embora. Eu olhei. Eu não ia aceitar, de qualquer forma, mas eu olhei aquela situação e falei: “Nossa, que chato”. Não pelo meu problema, mas pela falta de educação da pessoa. Mas fiquei tranquilo, fiquei em paz, aquilo pra mim não me ofendeu de forma alguma. Mas um dos rapazes que estava na sala ficou extremamente bravo com aquilo. Foi atrás dela: “Não, mas por que você não deu pra ele?” “Porque ele é diabético” “E daí se ele é diabético? Se ele quiser comer ele pode” “Não, mas...” “Foi falta de educação sua. Dá aqui que eu vou levar lá sim” (risos). E ele voltou com esse pedaço de bolo e deixou na minha mesa. Eu falei: “Mas eu não queria” “Não, mas não é porque você não queria que ela tem que fazer o que ela fez. É uma questão de educação, você entra numa sala, você está oferecendo isso, você tem que oferecer para todos, independente de você ser diabético ou não”. Quem tem que saber se eu posso ou se eu não posso sou eu. Se eu quiser eu posso pegar um pedaço de bolo, experimentar o bolo até como educação com o aniversariante. Você vai numa festa de aniversário, você é convidado: “Não, vamos lá, vamos lá em casa comer um bolo do meu aniversário”. Daí chega lá: “Desculpa, eu não vou comer um pedaço do seu bolo”, também é falta de educação minha. E também chegar pra pessoa: “Então, eu não posso comer, eu sou diabético”, você também deixa a pessoa constrangida. É aquela história, eu ofereço ou não um copo de cerveja pro alcoólatra? Se eu oferecer ele vai enxugar o copo, vai ficar bêbado, vai ter uma recaída. Mas faz parte da educação, eu vou oferecer, quem tem que saber se ele pode ou não é ele mesmo. A minha esposa no começo do nosso relacionamento ela se sentia incomodada porque a gente saía pra jantar, jantávamos: “Ah, vamos escolher uma sobremesa?” “Ah não, acho melhor não, não quero” “Não, a gente pode pedir” “Não, não, não. Não quero”. Aí depois de um tempo eu comecei a perceber, esse “não, não quero” é por minha causa, ela quer. Comecei a explicar pra ela: “Olha, eu não tenho problema, você pode comer na minha frente, eu não vou ficar com vontade. Eu não vou pedir um para mim, eu vou experimentar um pedaço do seu, se você não se incomodar. Pode ser?” “Ah pode, mas você não vai ficar com vontade?” “Não, não vou ficar com vontade. Eu sei que eu não posso. Vou ficar com vontade se eu ver que está muito bonito, que está muito gostoso, eu não vou nem experimentar. Aí é ruim também, né?”. Aí comecei a fazer esses testes com ela. Hoje ela come o que ela quiser na minha frente, se eu quiser experimentar eu experimento, se eu não quiser eu não experimento. Então não é a diabete que me regula isso, não, eu sei o que eu posso e eu sei o que eu não posso. Então eu não vou deixar de ir numa festa de aniversário e deixar de comer um pedaço de bolo ou deixar de pelo menos experimentar, eu vou fazer. Vão me oferecer? “Não, muito obrigado”. Também não preciso explicar: “Poxa, eu sou diabético”, você constrange a outra pessoa também. Ela sabendo ou não. Melhor opção? Pratique a sua educação, isso não constrange ninguém.
P/1 – Qual você acha que é um dos principais ou o principal desafio de se viver, conviver com a diabetes?
R – A vida moderna. Por que a vida moderna? Hoje você vai ao supermercado, tudo é muito industrializado. Ou então você tem aquelas falsas imagens, onde: “Não, isso aqui é light”. É light mesmo? A quantidade que tem de carboidrato aqui está correto, vai me fazer mal, não vai fazer, será que esse é o melhor? Ou é o pior? Esse tipo de coisa atrapalha bastante porque é a vida moderna não no sentido só da comida, mas a vida moderna em relação a trabalho, em relação a estresse, em relação à falta de tempo que a gente tem. Como eu comentei eu pedalei durante dez anos, uma boa parte desses dez anos na estrada, então isso era muito prazeroso, me ajudava no meu controle, me ajudava na minha ansiedade, ajudava no meu estresse, ajudava em tudo. Quando eu passei a trabalhar em São Paulo isso simplesmente acabou, eu não consigo mais fazer isso, por falta de tempo, por violência, por trânsito, por falta de lugares pra fazer isso. Mas por que você não faz uma academia? Porque não gosto. Pra mim, Antonio, ir na academia é mais estressante do que ficar no escritório trabalhando, eu não gosto. O que me traz prazer é pedalar, pedalar me traz prazer. Mas aqui você tem que sair do seu trabalho, do seu cliente, do seu escritório, você tem que ir até a sua casa, pegar a sua bicicleta, colocar a sua bicicleta no carro, ir até um lugar, fazer oito orações pra Deus me livre ninguém me mata, ninguém me assalta, que não aconteça nada comigo pra praticar a sua atividade física. Hoje eu simplesmente não consigo.
P/1 – Pra você o que seria viver plenamente?
R – Plenamente? Conseguir exercer o meu trabalho de forma não exaustiva, mas até o limite do prazer, sentir só prazer naquilo que eu trabalho, conseguir aproveitar um tempo com a minha família e conseguir fazer a minha atividade física. Hoje disso tudo a minha atividade física eu não consigo, passar o tempo com a minha família é complicado e trabalho hoje tem sido um pouco exaustivo, passando um pouco do limite ali do prazer, mas ainda consigo sentir prazer no meu trabalho e consigo, na medida do possível, aproveitar a minha família. Pelo menos a minha esposa sempre diz que eu sou muito companheiro, que eu sempre estou presente, então pra mim é um balizador. Mas ainda não é o que eu poderia chamar de vida plena, de vida satisfatória.
P/1 – E os seus sonhos?
R – Os meus sonhos, acho que o maior dele é ser pai. Hoje eu estou exercendo meu sonho, não posso dizer que eu concluí porque esse meu sonho vai ser de anos, né? E o meu lado profissional sempre fez parte dos meus sonhos, então eu sempre planejei a minha vida pra dali cinco anos e sempre pra conseguir atingir meus objetivos no limite de quatro. E nos últimos anos eu tenho conseguido atingir meus objetivos bem antes daquilo que eu queria. Então, tenho mais alguns objetivos, hoje o meu objetivo é esse sucesso desse grupo de consultorias, a gente está trabalhando e está conseguindo atingir alguns desses objetivos. Mas hoje um sonho que eu tenho a longo prazo é conseguir aproveitar bastante o meu filho e o sucesso desse meu trabalho, então, hoje eu tenho que trabalhar pra realizar esse primeiro sonho do profissional pra depois conseguir usufruir um pouco desse sucesso, de tudo que der certo.
P/1 – O que você achou de contar a sua história pra gente?
R – Legal, me trouxe algumas recordações boas e ruins. Funciona um pouco como desabafo, de alívio, de situações que eu já passei, coisas que eu não comentei com ninguém até então, situações do dia a dia. Eu gostei, bem legal.
P/1 – A gente te agradece, então, pelo seu tempo, pela sua disponibilidade e pela generosidade em compartilhar sua história com a gente.
R – Eu que agradeço pela oportunidade.
P/1 – Foi um prazer, viu, muito obrigado.
R – O prazer é todo meu, obrigado.
FINAL DA ENTREVISTARecolher