Lembro-me de ser uma das únicas durante a minha infância e adolescência que falava com naturalidade sobre a convivência com minha bisavó. E pra mim ela nunca ficou realmente velha.
Dona Rosa era o nome dela, austríaca vinda menina pro Brasil, preservava não só a austeridade europeia, mas as ...Continuar leitura
Lembro-me de ser uma das únicas durante a minha infância e adolescência que falava com naturalidade sobre a convivência com minha bisavó. E pra mim ela nunca ficou realmente velha.
Dona Rosa era o nome dela, austríaca vinda menina pro Brasil, preservava não só a austeridade europeia, mas as deliciosas receitas aprendidas por lá. Passávamos horas comendo deliciosos apfelstrudels que ela mesma fazia sobre a mesa da sala de jantar especialmente pra mim. Era uma festa.
Posso me lembrar do cheiro como se fosse hoje. Cada maça que hoje corto para meus filhos me lembra das maças dela.
E as panquecas quentinhas? Nem recheio precisava pra me deixar com um sorriso enorme. Era uma deliciosa bagunça de farinha e aprender a quebrar ovos. Volta e meia umas casquinhas fugiam dos nossos olhos e deixavam nossas panquecas com um crocante todo especial.
Mas o tic tac não para e o tempo passou. Os encontros se tornavam cada vez mais raros. Os dias tornaram-se, semanas, as semanas meses e os meses chegaram a se tornam anos. Mas a teimosa Dona Rosa sempre esteve lá esperando por uma visita com um café fresco e um riso faceiro, o problema é que eu sempre tinha alguma coisa inadiável pra ser feita.
Era difícil ir visitá-la, e já não era porque não me sobrava tempo. Era medo de ver o que o tempo fazia com as pessoas. Hoje eu sei que a mestre oficial na confecção das mais perfeitas guloseimas sempre esteve lá, e que as mudanças que eu via na aparência dela não mudavam quem ela realmente era. Agradeço pela paciência dela de ter me ensinado esta lição mesmo sem saber disso.
Hoje tudo que sinto é saudade. Saudade deste tempo maravilhoso que tive ao lado desta linda mulher dos olhos azuis.
(História enviada em abril de 2012)Recolher
