Projeto Vale do Rio Doce
Depoimento de Yves Dessaune Madeira
Entrevistado por José Carlos Vilardaga e Eliane Barroso
Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2001
Realização Museu da Pessoa
Entrevista CVRD_HV096
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Nós começamos a entrevista sempre perguntando o nome, local e data de nascimento do entrevistado.
R – Ok. Meu nome é Yves Dessaune Madeira, eu nasci em Vitória, Espírito Santo em 22/01/1943.
P/2 – Nome dos seus pais.
R – Ah. Sou filho de Américo Nicoletti Madeira e Eily Dessaune Madeira. Ok? Eu fiz o primário... era isso?
P/2 – Não tem problema. A gente queria que o senhor contasse um pouquinho a origem da sua família. O que o senhor conhece em relação a história: descendência materna, paterna.
R – Tá certo. Bom, minha família é uma mistura, eu acho, de diversos povos, diversas gentes. Então por parte de mãe eu tenho um bisavô chinês que casou com uma brasileira filha de tiroleses com brasileiro aqui, né? Eu tenho um tio que é bem moreno. Então eu acho que esse brasileiro aí tinha sangue negro. Devia ter algum sangue negro, certo? E eu tive um avô francês. Um avô francês por parte de mãe. Por parte de pai eu tinha uma avó italiana e um avô filho de portugueses. Então é uma grande mistura. É como todos os brasileiros, somos bastante misturados.
P/1 – E o nome Yves Dessaune foi em homenagem ao seu avô?
R – Não. Dessaune é nome de família. E Yves foi um nome que minha mãe gostou. Não tem nenhum parente com o nome Yves não.
P/1 – Aham.
R – Eu sou o único.
P/2 – Dessa história de imigração, dos chineses, franceses, o senhor conhece algum detalhe dessa história? Quer dizer, quem veio, quando veio, mais ou menos?
R – Eu tenho algumas informações sim. O pai da minha avó, o velho Nicoletti, Lisandro Nicoletti ele veio para o Brasil mais ou menos na década de 1870 e foi morar na serra, Espírito Santo, ali em Matilde. Que fica na serra perto de Domingos Martins, na serra. Ele ficou lá durante uns 15 anos. Ele comprava café e vendia produtos que importava: vinho, azeite, esses tipos de coisas. Que ele importava, né? Em 1898, 97 ele foi para Vitória e botou um armazém em Vitória e continuava importando produtos da Europa e exportando principalmente café. E ganhou muito dinheiro, aí passou para, fez sociedade com meu avô, casou com a filha dele, né? Minha avó. E passou para trabalhar com indústria. Construiu uma fábrica de tecido que hoje lá em Vitória é, é, acho que até fechou lá. Mas durante um, muito tempo depois eu já conheci fazendo saco de aniagem, já.
P/2 – Pertencia ainda à família ou não?
R – Não, não. Meu avô morreu, italiano, morreu em 1935 e, meu avô não, meu bisavô. E meu avô, que era genro dele morreu em 1911, antes dele. Meu pai era, tinha 7 meses quando ele morreu. Por parte de mãe, meu avô que era filho de francês ele foi deputado, lá, estadual. Foi presidente da Câmara lá do Espírito Santo. Chegou durante um período a substituir o governador lá. Um curto período. Depois nos anos 40 ele veio pro Rio, ele veio para o Rio. E uma parte da família Dessaune veio para o Rio com ele e ficou uma parte em Vitória. minha mãe casou com o meu pai em 1942 e eu nasci em 43. que mais para mim dizer?
P/2 – Seu pai conheceu sua mãe como?
R – Ah, se conheciam, Vitória nesse tempo era muito pequena, né? Vitória nessa época tinha 20 mil, 30 mil habitantes. Era muito pequena. Todo mundo se conhecia. Eles moravam lá e se conheciam desde garotos, né? Então ele casou em 43, em 42, eu nasci em 43. Eu quando nasci eles moravam na cidade mesmo, dentro da cidade. E quando eu tinha 3 anos eles mudaram para um bairro que é a Praia do Canto onde eu fui criado. Em Praia do Canto. Estudei lá na escola Sofia Muller, na Praia do Canto mesmo, até o primário. Fiz o secundário no colégio estadual e no fim do, do, ginásio. Quer dizer, fazia o ginásio depois o científico, né, no colégio estadual. No fim do ginásio eu não sabia o que eu queria ser, o que eu queria estudar. Então o meu pai me trouxe aqui no Rio. Eu fui na Fundação Getúlio Vargas fazer um teste vocacional. Então nesse teste deu que eu tinha tendências à matemática, física, química, engenharia, algo desse tipo. Ou física. Algo dessa área de ciências exatas. Então eu resolvi fazer curso de engenharia. E aí surgiu aquela coisa: curso de engenharia mas fazer o quê? Então na época em Vitória só tinha Engenharia Civil. E eu, depois de muito pensar achei que eu não queria fazer Engenharia Civil. Então eu queria fazer Engenharia Metalúrgica. Então meu pai fez uma pesquisa aí para saber onde era o melhor na época e chegou à conclusão que Ouro Preto era o melhor lugar para fazer. Então eu fui para Ouro Preto, fiz vestibular. Primeiro eu fiz vestibular perdi, aí fiquei um ano. Passei no segundo vestibular que eu fiz lá. E cursei lá a Escola de Minas de Ouro Preto. Na época era Escola de Minas que chamava, não se chamava Federal. Federal depois _______ Federal. E formei em Engenharia Metalúrgica em 1968.
P/1 – E Yves, quando você morava em Vitória quando você era criança, o que é que você costumava brincar?
R – Ah bom. Eu era, eu sempre fui muito ligado ao mar. Então eu todo dia saía para pescar. Praticamente todo dia, tá? Eu pescava de tudo quanto é jeito. Eu pescava de anzol com carretilha e lançamento, eu pescava com varinha normal, eu pescava de mergulho. Mergulhava, pegava lagosta. Então eu sempre, sempre, andava de barco. Minha casa era pertinho do Iate Clube. Então eu participava de regatas. Eu sempre fui ligado ao mar.
P/1 – Você ia sozinho ou com os amigos?
R – Com os amigos, mas... Minha mãe nunca foi de controlar muito filho não, né? Então com 7 anos, 7 anos eu saía de casa ia pro mar, saía de barco. Chegava de noite. Ela nem estava aí. Nunca foi muito de controlar não.
P/2 – E seu pai?
R – Papai também não foi disso não. Também caçava muito quando era garoto. Papai sempre foi, gostou muito de caçar. Papai era aficionado de caça. Então ele quase todo fim de semana saía para caçar. Então a maioria dos fins de semana eu ia muito com ele também. Mas isso até os 18 anos. Depois dos 18 anos eu cheguei à conclusão que matar animal, dar tiro em animal não é uma coisa correta e desisti. Meu irmão até hoje faz isso. Por exemplo, agora mesmo ele foi no Uruguai lá, fazer uma, caçar no Uruguai. Vai em Mato Grosso caçar. Todo ano ele faz uma caçada desse tipo aí. Eu desisti aos 18 anos.
P/2 – Mas caçava onde nesse tempo lá em Vitória? Onde que...
R – Em qualquer lugar. Porque nesse tempo em Vitória era, você tinha floresta. Bem próximo de Vitória você já tinha bastante floresta ainda. A mata atlântica pegava todo o Espírito Santo, quase.
P/1 – E é uma tradição em Vitória, digo, dos descendentes de italianos fazer caça, né?
R – É, e porque naquele tempo, é porque tinha muito. Você tinha bastante caça. Você tinha bastante área de mata, bastante caça. E Vitória era uma cidadezinha muito pequena. Que o pessoal que não gostasse de pescar ou caçar não tinha muita coisa para fazer não, naquela época. Então quase todo mundo gostava disso. Tinha uma turma grande que gostava de caçar.
P/2 – Você lembra de alguma história dessas caçadas com seu pai? Alguma coisa que tenha ocorrido, que tenha chamado atenção?
R – Não. O que eu posso dizer é que eu era um bom atirador. Então quando a gente saía para caçar eu normalmente era dos que tinham mais sucesso. Principalmente tiro ao vôo. Matar, atirar em pato, marreco, esse negócio. Eu tinha um bom tiro, né? Ó, eu disse que nunca mais cacei. Não. Há coisa de uns 5 anos atrás, né, eu levei meus filhos numa fazenda que nós temos lá – nós que temos eu digo a família, eu não, né – no sul da Bahia. Lá tem muita perdiz, né? Então um dia: “Ah, vamos sair para caçar perdiz.” Aí saímos para caçar perdiz. Eu matei logo quatro perdiz, né? Aí foi: “Pô, como é que você...” não errei nenhum tiro, “...como é que você faz isso?” Eu digo: “Olha...”, meus sobrinhos estavam lá, que eles caçam até hoje. Meus sobrinhos caçam. Filhos do meu irmão. Costumam caçar, né? Então eu digo: “No passado eu já atirei muito, né? Mas...” Mas eu não tenho nenhum caso de caçada assim especial não, que me recorde diferente não.
P/2 – E de pesca?
R – Ah, eu tenho muitos casos para contar de pesca.
P/2 – Verdadeiros?
P/1 – É, história de pescador.
R – Verdadeiros. Não, verdadeiros, verdadeiros. Eu... Vitória era um lugar que tinha lagosta para qualquer lugar que você virasse em Vitória tinha lagosta. Então eu desde os 7 anos eu ia pegar lagosta. Mergulhar para pegar lagosta, né? Lá em casa papai tinha uma geladeira que era só para encher de lagosta. Papai adorava lagosta. Então ficava cheia de lagosta. Toda vez que a gente pegava... E nós distribuíamos para os vizinhos, para todo mundo. Porque a gente pegava muita lagosta mesmo. Então meu pai todo dia só jantava lagosta. Só comia lagosta. Todo jantar papai comia, né? Então, e quando nós ficamos mais velhos eu e meu irmão nós começamos cada vez a se afastar mais para pescar, né? Então, quando eu tinha 18 anos, 17, 18 anos a gente pegava... Aliás tinha mais de 18 anos, eu já dirigia carro. Eu devia ter uns 20 anos. A gente pegava o carro, ia até o sul da Bahia, Caravelas, né? Pegava um, aqueles pescadores que saíam para pescar. Combinava com ele, eles pegavam a gente levavam até Abrolhos e nos soltavam lá. E uma semana depois iam buscar. Nós ficávamos uma semana lá mergulhando.
P/2 – ___________
R – É, em Abrolhos mergulhando. E pegávamos muito peixe. Pegávamos 400, 600, 800 quilos de peixe, né? Contratava um pessoal lá para salgar o peixe. Para trazer, né, salgado e trazia o peixe. Fazia isso muito.
P/1 – E como é que vocês preparavam a lagosta?
R – A lagosta normalmente, papai gostava muito de fazer cozida na água e sal e fazia, comia com maionese. Papai gostava assim. Eu não. Preferia uma moqueca. Fazia uma moqueca de lagosta. Mas assada também. Qualquer jeito.
P/1 – Vocês preparavam ou...
R – Mamãe preparava, né? Mamãe preparava sempre isso lá. Eu hoje não gosto muito de lagosta não. Acho que é porque eu comi tanto, eu hoje eu não gosto mais.
P/2 – Sua mãe era boa cozinheira? Fazia ________
R – Mamãe é. mamãe é boa cozinheira até hoje. Hoje ela... Agora ela nunca gostou muito de cozinha. Ela gostava de fazer algumas coisas. Mas ela é muito boa cozinheira, mas mamãe acha que mulher na cozinha não é certo, tudo mais. Então ela nunca gostou disso não. Então ela cozinha bem, mas não gosta de cozinhar. ________ Por exemplo, hoje quando eu vou à Vitória ela vai à cozinha. Eu vou visitar ela lá, ela vai à cozinha. Prepara a comida que eu gosto, aquelas coisas desse tipo. Mas ela cozinhar normalmente ela não gosta não. Naquele tempo ela cozinhava sim porque não, enquanto não tinha, durante o período que não tinha empregada ela cozinhava.
P/2 – Dentro de casa tinha alguma estrutura assim dos filhos ajudarem ou isso não acontecia?
R – Nunca. Meu pai era o cara mais machista que eu conheci. Ele não ajudava em nada e nós fomos acostumados a não ajudar mesmo, né? Agora em casa eu ajudo. Eu sempre ajudei não tem problema nenhum. Mas eu fui criado dentro daquele esquema de homem tem todos os direitos. Mas é assim.
P/2 – Que atividade seu pai exercia lá em Vitória?
R – Bom, meu pai era comerciante. Ele tinha uma loja de caça e pesca. Caça e pesca, né? Ele, ele vendia armas, munições, anzol, varas de pesca. Esses tipos de coisas. Linhas. E ele tinha um grupo lá de amigos dele, caçadores e pescadores, né? Então todo sábado quando eles não saíam para pescar, tudo mais, depois do almoço papai, a loja dele era, era muito bem instalada a loja dele. Que era uma loja rústica. Toda em madeira. E em baixo ele tinha a loja e em cima ele tinha o escritório. Uma área grande que ele tinha o escritório. Mas ele, ele reformou aquilo então botou, tinha um cantinho com uma cozinha, tinha banheiro, tinha negócio. Então sábado o pessoal ia para lá, depois que fechava a loja, eles ficavam cozinhando. Cada um que tinha uma receita lá diferente, ia lá um dia fazia uma comida diferente. Então era muito movimentado aquilo.
P/1 – E onde ficava a loja?
R – Ficava na Avenida Jerônimo Monteiro em frente ao Palácio do Governo. Hoje não existe mais. Agora hoje fizeram um jardim na frente. Onde era a loja fizeram um jardim hoje.
P/1 – E era próximo da sua casa?
R – Não. Eu morava na Praia do Canto. São uns oito quilômetros de distância.
P/2 – Você ajudava seu pai eventualmente na loja?
R – Ajudava. Ajudava. Eu e meu irmão mais velho. Mais velho não. Eu sou o mais velho, né? Mas meu irmão, eu e meu irmão costumava ajudar. Inclusive meu irmão trabalhou com ele muito tempo. Mas eu quando saía do colégio, eu estudava a tarde. Minha aula era de meio-dia às quatro e meia, cinco horas. Eu ia para lá e ficava até sete horas no balcão com ele. E muitas vezes eu fechava a loja para ele, essas coisas. E na época de férias eu ajudava ele lá. Eu ia, ficava lá com ele. Porque eu não tinha nada melhor para fazer, né? Mas eu nunca gostei muito de comércio não. Meu irmão gostou e até hoje ele trabalha nessas, indústria, comércio _______. Mas eu parti para engenharia e acho que me dei bem. Fui feliz na profissão.
P/2 – Foi para a escola com quantos anos?
R – Com 7 anos.
P/2 – Com 7?
R – 7 anos. Naquele tempo não era comum ninguém fazer (CA?), essas coisas não era comum. Não existia. Você entrava, todo mundo entrava na escola com 7 anos.
P/1 – E a escola era próxima da casa?
R – É, ficava a uns três quilômetros de casa. A gente ia a pé e voltava a pé. Mas ia todo mundo. Quer dizer, eu tinha do lado da minha casa o grupo escolar. Mas naquele, já naquele tempo minha mãe achava que o ensino no grupo escolar não era bom. Então ela botou na escola particular que tinha. Chamava Escola Sofia Muller. Que ficava a uns dois e meio, três quilômetros de casa. E a gente ia andando, voltava andando sempre. Ia a turma grande. Porque você tinha muita gente que estudava ali. Nós íamos para lá. Eu, eu lá tive alguns colegas que hoje, hoje trabalham ou trabalharam na Vale. Foram colegas na Escola Sofia Muller. E quando terminou aquilo, em Vitória naquela época o melhor ginásio __ achar na cidade era, era, colégio estadual. Então eu tinha que fazer concurso. Eu fiz concurso, passei. E frequentei colégio estadual.
P/1 – E foi muito diferente da escola primária ou não? Você não sentiu muita diferença?
R – Não, não achei não. Naquele tempo, é o que eu estou dizendo, era bem diferente. Era, Vitória era uma cidade muito pequena. Quando eu tava, quando eu estava nos anos 50, Vitória tinha cinquenta mil habitantes. Era muito pequena. Você conhecia todo mundo. A grande maioria do pessoal de Vitória era funcionário público. Cara, Vitória tinha um pequeno comércio, um funcionalismo público e tinha algumas empresas de exportação de café e cacau. Fora isso não tinha mais nada. Tinha a fábrica de chocolate também aquela época. Fora isso não tinha mais nada. A Vale mesmo nessa época era muito pequena.
P/1 – Você já tinha ouvido falar da Vale nessa época?
R – Ah, eu conhecia porque como eu disse, cidadezinha pequena, você sempre conhece alguém que trabalha na Vale, né? Eu conhecia muita gente que trabalhava na Vale. Por exemplo, eu conheci nessa época lá o Doutor Mascarenhas, trabalhava em Vitória. Eu conheci o General Volmar, que foi diretor da Vale, chegou a superintendente da Vale, foi diretor, trabalhava lá nessa época. Conheci muita gente lá. Que cidade pequena, todo mundo de um certo nível se conhece. E você conhecia, né, conhecia todo mundo lá.
P/2 – O senhor chegou a frequentar as instalações da Vale, nesse tempo de criança, adolescente? Ferrovia, porto?
R – Não. Frequentar não, não. Mas naquele tempo você via. Porque o porto da Vale quando eu era criança era dentro do porto de Vitória mesmo. Então você chegando ali, porque é um canalzinho. Não sei se você conhece Vitória, é um canalzinho. Você vê as instalações. Até hoje se você chegar ali você vê as instalações todas ali. Em frente, né? Então você via, mas... E depois quando estava carregando navio no cais de Atalaia, né? Os trens chegavam, era uma rocha assim, né, fizeram um muro de concreto assim. E tinha os carregadores aqui. Então o trem chegava lá em cima abria a parte de baixo dos vagões e o minério caía. Fazia um barulho danado. Você da cidade ouvia tudo, o barulho caía. Quando caía o minério. Então você, você via, você tinha uma participação muito grande na história da Vale. Quando, ainda me lembro muito bem quando a Vale resolveu fazer porto de Tubarão. Quando comprou a região ali de, de Tubarão, né? A época chamava–se Piraim. Comprou para fazer o porto de Tubarão. Isso eu me lembro bem. Mas eu nunca fui visitar as instalações da Vale. Mais alguma coisa?
P/1 – Não. E nesse curso ginasial já havia o interesse pela matemática?
R – Eu acho que não. Eu quando saí do curso, quando saí do, quando cheguei no, estava no científico, estava no segundo ano científico eu realmente não tinha a mínima, mínima ideia do que eu queria ______. Eu tinha as ideias. Por exemplo, eu quando fiz 18 anos eu tirei o brevê. Então eu pensava em ser piloto. Esse tipo de coisa que todo garoto pensa: “Ah, vou ser piloto.” Esse tipo de coisa, né? Aí eu tirei o brevê só para não servir o Exército. Só por isso. Mas todo garoto pensa nisso. Mas eu realmente eu não tinha consciência do quê fazer. Então ______ para o meu pai: “O que é que eu vou fazer?” Conversava com ele, né, e eu não sabia dizer para ele o que eu queria fazer. Então ele na época sugeriu que eu viesse ao Rio. Porque eu vinha ao Rio todo ano, porque eu tinha a minha avó materna que morava aqui no Rio. Então todo ano a gente vinha aqui. Passava as férias, passava um mês aqui no Rio, essas coisas. Sempre. Então ele sugeriu que quando eu viesse fizesse um teste vocacional na Fundação Getúlio Vargas. E para mim, na época eu me lembro que até eu estranhei à beça. Porque você chega lá, eles mandaram uma porção de, tinha aqueles borrões ______, né? Agora eu até esqueci o nome do teste, mas tem uns borrões: “o que é que você está vendo?” Assim.
P/1 – __________
R – Na realidade é um borrão, né? “O que é que você está vendo?”
P/2 – Rorschach?
R – Mas... É, Rorschach, um negócio assim. Então teve esse teste. Depois teve um teste de você montar coisas. Coisas desse tipo. Então... Eu ainda me lembro que quando eu cheguei em casa, né, aí minha mãe perguntou: “Vem cá. O que é que você achou?” Eu digo: “Olha, eu fiz uma porção de coisas lá mas eu acho que aquilo não vai dar em nada.” Então, aí resolvi, resolvemos ir para Ouro Preto, né? Então meu pai foi comigo para Ouro Preto. E nesse ínterim eu estava com, eu tenho um grande amigo até hoje, que nesse ínterim eu estava conversando com ele e ele tinha o mesmo problema meu, não sei o quê, tal. Eu disse que estava prestando em Ouro Preto, aí ele se animou. E ele morava no Paraná. Se animou. Então nós fomos juntos para Ouro Preto. Nós passávamos sempre as férias juntos em Guarapari. Então fomos os dois para Ouro Preto. Chegamos em Ouro Preto fui morar numa pensão, né? Fiz curso, fui a Ouro Preto, fiz vestibular e não passei. Aí fiz o cursinho durante um ano, lá. No fim do ano eu passei lá e fui fazer metalurgia. Inclusive também eu fiquei em dúvida: era metalurgia ou minas? Fazer o quê? Aí resolvi fazer metalurgia.
P/1 – Era muito difícil a prova?
R – Olha, o pessoal dizia que era uma, uma... é muito difícil você dizer se é difícil ou não é difícil porque eu só fiz lá. Então é aquele negócio: é muito difícil dizer se era difícil a prova ou não. O pessoal dizia que era muito difícil a prova lá. Que vinha muita gente de fora essas coisas, tudo mais, e o número de vagas era restrito. Mas eu não tive muita dificuldade não. Não tive muita dificuldade não. Eu tinha uma certa dificuldade em geometria, mas na prova de álgebra tirei nove e tanto, já. Então só com a álgebra já deu média de passar em geometria. Porque matemática tem uma prova de álgebra e uma de geometria. Então eu tirei nove e tanto em álgebra já deu para cobrir geometria. Geometria eu tirei cinco ou quatro e meio. Quer dizer, eu passei bem até. Ganhei uma bolsa de estudos lá. Porque lá tem uma Fundação, chamada Fundação Gorceix, né? Então para os melhores alunos eles davam uma bolsa de estudo. Então ganhei uma bolsa de estudo para me manter lá em Ouro Preto.
P/1 – Seu amigo passou também?
R – Passou. Ele é formado hoje. Passou. Mora em Belo Horizonte hoje, ele.
P/2 – E por que é que entre minas e metalurgia preferiu a metalurgia?
R – Olha foi duas, por duas razões básicas: é que na época, tá, eu estava, estava havendo bastante notícias nos jornais sobre metalurgia, tá? Porque basicamente a Usiminas, estavam expandindo a Usiminas. Estavam falando, falava-se muito em construir uma usina nova. Só que foram construído muito depois, que era a Açominas. Então tinha, então a mim me parecia que teria maior mercado de trabalho como metalurgista do que como engenheiro de minas. Então eu, eu durante o tempo que eu estive em Ouro Preto eu fui morar em uma república. Chamada república ___________. Porque lá em Ouro Preto o pessoal mora em república, né? E tem umas repúblicas lá que são da própria escola, tá? Então foram construídas algumas em convênio com alguma empresa, tudo mais, foi construída. Então tem as repúblicas e tem algumas que são o pessoal aluga uma casa e faz uma república. Mas tem umas repúblicas que são da... Eu fui morar numa república chamada Pureza. Que é da própria escola. Essa república foi construída pela Votorantim. Então eu fui morar lá. E essa minha república, eu fui, eu passei em 64. Na época da revolução. 64? Foi, 64. Foi época da revolução. E essa república, minha república era esquerdista à beça. O pessoal, todo mundo lá era de esquerda. Todo mundo era do partido, da república, tudo mais. Eu não era. E todo mundo em Ouro Preto sabia que eu não era, esse negócio. Então a esquerda lá em Ouro Preto dominava a política estudantil lá. Diretório, essas coisas e tudo mais. Então a minha república era a mais ativa em política estudantil lá. Era o pessoal da minha república era a mais ativa. Então eu como morava na república, tinha confiança com o pessoal da república e o pessoal, a turma saber que eu não era de esquerda, quer dizer, não era de esquerda ferrenha assim. Esquerda leve todo mundo é, né? Eu tenho um amigo meu que é um padre, ele é reitor do Santo Inácio. Ele é espanhol. Ele disse que existe um ditado espanhol que diz: “Quem na juventude não for esquerdista não tem sentimentos. Quem na maturidade for esquerdista é burro.” Ele disse que é um ditado espanhol. Então eu, quer dizer, eu não era de um partido, não era comunista, não era uma coisa nem outra. O pessoal na cidade sabia disso. Então toda vez que havia alguma composição para fazer chapa para alguma coisa, para eleição, alguma coisa, quando tinha impasse me escolhiam para ser, para ser, fazer parte da chapa, né? Então eu nos 5 anos que eu fui da escola lá, eu 5 anos ocupei cargos lá. Eu fui do diretório, eu fui do centro acadêmico, eu fui do restaurante, eu fui da associação esportiva. Durante 5 anos eu sempre tive um cargo político lá por causa disso. Nunca fiz política, nunca, nunca aconteceu coisa nenhuma comigo.
P/2 – Os estudantes de esquerda lá em Ouro Preto eles faziam, tinha protestos? O que é que se fazia ______?
R – Fazia. O pessoal fazia lá.... O pessoal lá de esquerda participava... Na minha república o pessoal pertenceu ao Partido Comunista, lá. Eu tive inclusive um, não colega meu, porque quando ele entrou eu só tive, foi colega meu durante um ano. Porque eu estava saindo quando ele entrou. A gente foi colega um ano. Esse rapaz, ele inclusive era do Partido Comunista e tudo mais. Entrou em assalto a banco. Entrou ________, foi preso. Eu não sei nem o que aconteceu mais com ele. Depois disso eu não tive mais nem notícia dele. Mas nessa época que ele foi preso eu trabalhava na Vale do Rio Doce, até fiquei esperando. Eu falei: “Daqui a pouco aparece aqui para falar comigo, alguém para falar comigo.” Não apareceu ninguém não, mas…
P/1 – E o que é que se discutia entre os estudantes? Era política estudantil?
R – Não, não.
P/1 – Era questões ligadas à metalurgia brasileira?
R – Não. Comigo era só questão de política estudantil.
P/1 – Hum, hum.
R – Certo? Era, era, vamos dizer, quando eu...
(Fim do Lado A)
R – Professores, contra, esse tipo de coisa que estudante faz, né? Quando eu era do Centro Acadêmico, porque Centro Acadêmico e Diretório lá é diferente. Centro Acadêmico que eles chamam lá é o clube, social, tá? Quando eu era do Centro Acadêmico a preocupação lá é fazer festa. É convidar as meninas de fora quando tinha festa. Então a gente organizava. Convidava pessoas de outras cidades para ir lá. As meninas para ir para a festa. Esse tipo de coisa. A preocupação mais era essa. Quando eu fui da Associação Esportiva, era você, praticava os esportes era, nós tínhamos um time de futebol na cidade. Disputava o campeonato da cidade. Então era ganhar o campeonato, esse tipo de coisa.
P/1 – Hum.
R – Então era, basicamente na política estudantil mesmo a gente não mexia com coisa nenhuma desse tipo, não.
P/1 – E tinha muita festa?
R – Tinha, lá por exemplo, até hoje em Ouro Preto é assim, né? Mas na época por exemplo eu convidava uma porção, todo... Aniversário da escola de minas é 13, 12 de outubro. Então tem uma festa grande lá, tudo mais. _____ festa lá, tudo mais. Eu todo ano que eu tive lá, eu convidava as meninas de Vitória. Ia um ônibus cheio de meninas. Trinta e tantas lá, que chegava lá. E o pessoal das repúblicas convidava em outros lugares. Mas então uma quantidade enorme de mulher ia para lá, né? Fazia, por exemplo, época de férias, quando as repúblicas ficavam vazias, a gente convidava pessoas para ir lá de outras cidades. Então ficava cheia as repúblicas. Hospedava as pessoas lá. Tudo mais. Movimentava bastante. Até hoje eles fazem isso. Até hoje em Ouro Preto eles fazem muito disso, até hoje.
P/2 – Tinha uma vida boêmia, assim ___________?
R – Muito. Bebia à beça. Bebia, fazia serenata. Eu, meu vizinho de república era o João Bosco. João Bosco. Então eu fiz muita serenata com ele. Naquele tempo o Vinicius ia muito lá também fazer serenata. Beber e fazer serenata. O Chico de vez em quando ia. Faziam, boas, boas farras, né?
P/2 – Como é que eram essas serenatas Yves? Como é que eles iam ______?
R – Ah, o pessoal chegava lá, né, assim de, ia sair para beber, pegava o violão. Depois saía cantando nas ruas. Para em frente quando tinha uma mulher, uma menina bonita. Ia lá cantava na porta dela. O pai ficava zangado. Aquela história do, acordava de noite o pessoal. Essas coisas.
P/2 – Balde de água fria.
R – É.
P/2 – Se cantava o quê? Você lembra que tipo de música?
R – Ah, cantava tudo quanto é música, tá? Mas existia as músicas de seresta de Minas. Que são, que o pessoal canta muito. Agora, como o Vinicius ia muito lá, o Chico ia muito, então cantava muita música de Vinícius, de Tom. Esse tipo de coisa também. Eu acho que a seresta era oportunidade para se fazer alguma coisa. Para beber, para conversar, para animar.
P/2 – Yves ________ seu tempo de faculdade, fazendo metalurgia, quais eram um pouco as suas perspectivas profissionais assim? O que é que você vislumbrava um pouco?
R – Olha, para ser franco, eu não vislumbrava muito não, você entende? Aquela estava uma época muito fácil no Brasil.
P/1 – Hum, hum.
R – Estava a época do Brasil grande, né? Então eu via que todos os colegas nossos saíam empregados, ganhando bem. Então a gente não se preocupava. Naquela época não se preocupava com emprego, coisa nenhuma. Porque a demanda era muito maior que a oferta de profissionais na época. Você não tem ideia do que é isso, mas, mas para você ter ideia a época que eu formei lá em Ouro Preto eu tive seis ou sete ofertas de emprego. Mas não de eu sair procurando não. A pessoa ir lá na universidade dar uma palestra, onde convidava o pessoal para ir lá. O presidente da Usiminas foi lá e convidou. Nós éramos trinta dentro da metalurgia. Convidou os trinta para trabalharem na Usiminas. Os trinta.
P/2 – Os trinta?
R – Os trinta.
P/2 – A turma toda.
R – Turma toda. Ele conseguiu treze. Treze. Que, mas com três meses ficaram oito só. E ele não conseguiu engenheiro metalúrgico na época da Usiminas. Então ele foi em Belo Horizonte e contratou engenheiro mecânico e deu um ano de curso de metalurgia em Ipatinga para preparar os caras porque ele não conseguiu engenheiro metalúrgico. Eles não conseguiram. Então era assim. Por exemplo, eu fui convidado na época, esteve lá querendo convidar: Usiminas, Vale do Rio Doce, Metal Leve. Metal Leve não. Metal Leve não. Vale do Rio Doce... deixa eu me lembrar aqui quem...
P/2 – Acesita.
R – Acesita, Votorantim... Bom, isso o pessoal que foi lá convidar pessoas. Explicar como era a empresa, as vantagens que dava. Para conseguir empregado, certo? E eu mandei meu currículo na época, para a Metal Leve, para a Ford, mandei para, para, para outro lugar também vou ver se eu me lembro qual foi. Bom, eu convidado também para a Alcan. Porque eu tinha feito estágio na Alcan lá em Ouro Preto. Eles têm uma usina em Ouro Preto. Eu tinha feito estágio com eles, então eles me convidaram para trabalhar na Alcan mas eu não aceitei. Mas então eu mandei para isso, mandei para o pessoal. E todo mundo queria. Então você podia escolher. Naquela época você podia escolher onde trabalhava, né? E...
P/1 – E o que é que você escolheu?
R – Bom, eu escolhi para a Metal Leve. Por duas razões básicas: primeiro que eu tinha interesse em sair de Vitória, né? E pois Metal Leve pagava mais. São Paulo. Eu tinha interesse, eu não queria voltar para Vitória, tá?
P/1 – Alguma razão especial?
R – Não é propriamente uma razão especial. É que eu estava fora de Vitória já há 6 anos. Morando sozinho, esse negócio, tudo mais. E se eu voltasse para Vitória dificilmente eu conseguiria morar separado. Porque aí papai, ia ter pressão, para voltar para casa, essas coisas, tudo mais. Então eu preferi ficar longe. Estava acostumado já com minha vida longe de casa. Independente. Eu não quis voltar para Vitória. E acabei na Vale do Rio Doce. Não queria ir para a Vale, acabei na Vale do Rio Doce. Mas então eu fui trabalhar na Metal Leve. Eu estive na Metal Leve, aí comecei a trabalhar na Metal Leve acho que em fevereiro. E quando chegou março ou abril, eu me lembro que tinha um feriado. Não me lembro se foi Semana Santa, eu fui para Vitória. Passar o feriado em Vitória. E cheguei lá, meu pai chegou: “Não, aqui tem...” Nós tínhamos, eu tinha, um grande amigo lá, que é bem mais velho que eu mas sempre tive muita afinidade, que é inclusive, deve ter dado até depoimento aí. Porque ele foi 40 anos da Vale. É o Joseph William Morris Brown e ele chegou lá e falou para o papai que a Vale estava fazendo um concurso, não sei o quê. Por que é que eu não fazia o concurso? Então quando eu cheguei em casa estava o circo montado, né? Papai: “Não, porque você tem que fazer o concurso. Porque a Vale está com um concurso aí. Você já recusou uma vez, mas não, a chance é boa. Não sei quê.” Eu digo: “Ó, papai. Lá eu estou trabalhando bem, estou satisfeito onde eu estou. Não quero trabalhar na Vale.” “Não faz. Vai, faz, faz.” Aquele negócio. Aí eu: “Está bom.” “Então liga para o Morris.” Aí eu liguei para o Morris, aí tinha que fazer inscrição aqui no Rio. Aí eu usei aquilo como desculpa para não fazer. Eu digo: “Ó, tem que ir para o Rio. Não vou fazer porque eu moro em São Paulo.” “Não, não.” Aí papai ligou para o Morris, aí o Morris falou: “Não, eu consigo que ele faça aqui em Vitória mesmo.” Aí o Morris me ligou e falou: “Olha, vai para Tubarão. Procura Tubarão.” Nessa época a Vale estava construindo a usina, a primeira usina de pellets. E o concurso que eu estava fazendo era para vaga na usina de pellets lá em Vitória, né? Aí o Morris chegou e falou: “Não, vai lá em Tubarão e procura o Élder Zenóbio e diz que eu mandei. Você preenche a ficha lá que ele manda para o Rio. Não tem problema nenhum, tal.” “Está bom.” Então meio a contragosto fui lá, preenchi a ficha, né, e fui para São Paulo, esqueci. Aí um dia recebi um telegrama da Vale me convocando para fazer um teste aqui no rio, em um domingo. Na PUC. Aí eu resolvi, vim. Fui lá fiz um teste. Tinha umas 600, 700 pessoas fazendo. Fiz um teste e fui embora, né? Estava em São Paulo, aí recebi um telefonema de um rapaz que também deve ter dado entrevista para vocês, o Paulo Augusto Vivacqua. Também deve ter dado entrevista para vocês. “Ô Yves, você foi aprovado no teste.” Eu digo: “Ah, bom.” Mas ele trabalhava no desenvolvimento, não trabalhava na pelotização não. Eu digo: “Está certo.” “Não, mas estamos querendo aproveitar você mas não na pelotização não. Você não quer trabalhar conosco?” Eu digo: “Ô Paulo..”, eu já conhecia o Paulo Augusto de Vitória, eu digo: “...Paulo, eu não estou interessado em trabalhar lá não.” “Não, rapaz. O negócio é bom. Vem aqui, não sei o quê.” Ele diz: “Ó, nós temos três lugares: um em Vitória, um no Rio e um em Belo Horizonte. Vou fazer uma coisa: eu vou mandar uma passagem para você, você vem à Vitória, conversa aqui. Você vai ao Rio conversa com o tal do (Yves Picaud?)...” que eu não sabia que era meu primo, porque era casado com uma prima minha o (Yves Picaud?) “...e vai à Belo Horizonte e procura o Fábio Teixeira.” Que é um dos entrevistados aí que está programado para agora esses dias. Fábio Teixeira. Ele mandou passagem e hotel por conta da Vale. Aí eu achei, achei interessante: “Pô, o cara me mandar passagem e pagar hotel para mim ver se eu quero trabalhar?” Aí eu fui lá. Aí...
P/2 – Você estava arredio em relação a entrar na Vale só por...
R – É.
P/2 – _____ voltar para Vitória ou ________?
R – Não, não. Por duas razões. É porque no primeiro contato que eu tive com a Vale, no tempo, na escola ainda o salário da Vale não era dos melhores. Metal Leve pagava muito melhor do que a Vale. São Paulo pagava melhor do que a Vale na época, né? Então essa, essa é uma das razões. Segundo porque eu não queria voltar para Vitória, na época, né? Aí, fui, peguei falei: “Vou lá ver.” Peguei um avião fui a Vitória. Conversei com o Paulo Augusto mesmo lá em Vitória. Peguei, depois fui ao Rio. Conversei com o (Picaud?) e fui à Belo Horizonte conversei lá com, com o Fábio Teixeira e com o Márcio Paixão. E na época o salário aqui do Rio era bem mais elevado, né? Mas eu não aceitei trabalhar no Rio. Porque eu achava que um, eu tinha menos de, eu tinha alguns meses de formado. Eu achava que o cara engenheiro, trabalhar em escritório? Eu acho que eu tinha que trabalhar um período na profissão especificamente, para aprender. Porque o cara sai da escola, sabe alguma teoria mas não sabe nada de prática. Então eu queria trabalhar um período como engenheiro mesmo para depois voltar a trabalhar em escritório, essas coisas e tudo mais. Parte burocrática, essas coisas. Aí cheguei aqui, tinha a oferta. Aí fui à Belo Horizonte. Cheguei lá, você quando, não sei se é você que vai entrevistar...
P/1 – ______
R – ...não sei quem vai entrevistá–lo. Você vai ver que o Fábio é um cara animado. E o Márcio também. “Não, aqui, o futuro da Vale está aqui.” Era o centro de pesquisa que a Vale estava montando. Não tinha nada ainda. Tinha só um barraco de madeira. Era o centro. “Aqui é o futuro da Vale. Você vem para cá que você não vai se arrepender. Que aqui você vai subir muito rapidamente, tudo mais. Não tem ninguém aqui. Não tem ninguém, você vai ser da primeira leva de engenheiros aqui. Então seu futuro está garantido.” Não sei o quê, tal. Então eles me animaram tanto que eu saí de lá, cheguei em São Paulo, pedi demissão e voltei, fui trabalhar em Belo Horizonte no centro de pesquisa lá. Quilômetro 14 na época. Fui trabalhar lá, cheguei lá, até o primeiro dia de trabalho foi um dia até... O Márcio, né, que era o, porque o, na época esse centro de pesquisa tinha um chefe e tinha duas áreas. Uma de pesquisa geológica e uma de pesquisa tecnológica. E o Márcio Paixão era o chefe da pesquisa tecnológica. E eu fui lá me apresentar, né? Então eu cheguei lá, o primeiro dia me assustou. Porque eu cheguei lá, peguei um ônibus. O ônibus da empresa. Cheguei lá o pessoal entrava as oito horas. O ônibus chegou lá dez para as oito. Eu desço tinham uns senhores conversando assim. Eu olhei, só conhecia o Márcio lá, né? Aí ele chegou lá e falou assim: “Ah, o Yves, vem cá!” Eu cheguei lá, ____ quero te apresentar aqui: “Doutor Fonseca, aqui o nosso superintendente de minas, tantos anos aqui. Foi superintendente da mina, não sei o quê, tal. Aqui o deputado...” agora me esqueci o nome “...Fulano de Tal. ___________. Aqui tem o deputado que está oferecendo uma mina para a Vale comprar.” Aí eu digo: “Muito bem.” Aí ele diz assim: “Ó, escolhe uns homens aqui, pega um carro aqui e vai lá. Faz uma amostragem na mina e vê se vale, se interessa comprar ou não a mina do, do...” Eu digo: “Eu não sou engenheiro de mina...”
P/1 – (riso)
R – “...nunca, nunca tinha...”, quer dizer eu tinha visto a mina porque eu tinha ido à Itabira durante o estágio, essas coisas e tudo mais. Mas eu nunca trabalhei em mina, não tinha experiência nenhuma de amostragem de mina, não tinha nada, né? Eu digo: “O que é que eu faço? Digo? No primeiro dia de serviço aqui digo que não sei na frente de todo mundo aqui? Não digo? O que é que eu faço?” Aí eu estou vendo tinha um ruivo lá, fazendo assim atrás, né? Aí eu esperei um pouquinho fui lá e perguntei: “O que é que é?” Ele disse: “Ó, eu sou supervisor aqui. Você me escolhe para ser seu supervisor que eu faço amostragem tudo lá.” Eu digo: “Está certo.” Aí escolhi. Eu falei: “Ó, posso levar Fulano de Tal.” (Meurer?), na época era o (Meurer?). “Posso levar o (Meurer?)? ” “Ah, pode. Escolhe quem você quiser.” Aí ele escolheu os homens lá e nós fomos lá, fizemos a amostragem. Aí fizemos, quando voltamos eu desaconselhei a compra da mina.
P/2 – Que mina era Yves _______?
R – A Del Rei. Hoje a Vale comprou. Mas foi uma compra mal feita. Mas na época desaconselhei a compra da mina. Mas isso foi o primeiro dia. Antes de mim, né, que eu, aí quando eu voltei, quer dizer, eu viajei para lá, eu me hospedei em Mariana. Essa mina é em Mariana. Na casa do deputado, na fazenda do deputado, eu me hospedei lá. Eu fiz aquele negócio tudo, voltei. Aí primeiro dia de trabalho lá no quilômetro 14 eu chego lá, né, depois desse dia quando eu chego lá o Márcio ia para os Estados Unidos. Tinha que fechar os resultados dos testes que ele tinha feito. Como ele era o único engenheiro lá, ele não tinha tempo de fechar os resultados. Então tinha uns 300 testes com os resultados tudo em aberto. E ele tinha que levar para a Alemanha para... Aí ele falou: “Yves, você tem que terminar isso aqui hoje. Fechar esses testes todos.” Eu digo: “Está bom.” Saí de lá seis horas da manhã. Entrei as oito e saí as seis da manhã do dia seguinte, esse dia. Aí eu falei, fiquei meio apavorado dizendo: “Eu, entrei numa fria.” Mas trabalhei lá 3 anos e pouco. Fui muito, aprendi muito. Foi um período excelente.
P/2 – Tinha algum projeto sendo desenvolvido nesse período?
R – Tinha. Foi quando a Vale estava crescendo violentamente, né? Então por exemplo, para você ter ideia, eu com nem um ano de formado fiquei responsável pelo projeto de concentração de Cauê. Aquele usina de concentração de Cauê, eu que era responsável por ela. Então me deram uma responsabilidade que eu acho que é muito superior que deveriam dar para qualquer pessoa, tá? Porque eu não tinha... um projeto de milhões de dólares. Algumas centenas de milhões de dólares. Me botaram como engenheiro responsável para tomar decisão em relação àquilo e eu era um recém-formado. É bom que eu aprendi muita coisa. Aprendi muita coisa lá.
P/2 – Estavam construindo a usina?
R – Não estavam construindo. Estavam decidindo, estavam fazendo os testes para como constrói a usina. _________ fazer os testes de pesquisa para ver como você vai usar? Que tipo de equipamento você vai usar? Como você vai construir a usina? Fazer essa parte. Então eu fiquei encarregado da concentração de Cauê. Hoje está até lá até hoje trabalhando lá essa concentração. E eu fiquei encarregado disso. Passei durante um período, trabalhei em Itabira quase um ano, lá. Tomando conta da usina. Fazendo os testes lá, né? Aí, mas, e também nesse, eu fiquei encarregado também da parte da gerência de metalurgia. Lá do centro de pesquisa. E quando teve o start-up da usina de pellets aqui, que o pessoal foi contratado para, né? Todo mês eu vinha a Vitória fazer um programa de teste de pellets levava para o laboratório fazia os testes lá. Voltava, discutia. Trabalhamos em conjunto com o pessoal da usina de pellets.
P/2 – Usina Um, ainda?
R – A primeira usina.
P/1 – A pesquisa consistia basicamente em testes ou desenvolvimento de tecnologia?
R – Testes, desenvolvimento de tecnologias, tudo, tá? A...
P/1 – Vocês tinham contatos com o exterior?
R – Muito contato. Nós tínhamos contato. Inclusive nós tínhamos pessoas de empresas estrangeiras conosco lá, dando apoio. Nos tínhamos pessoal da Humboldt.
P/1 – Qual a nacionalidade?
R – Alemã. Inclusive por exemplo na usina de Cauê, foi pela primeira vez utilizado os concentradores magnéticos de alta intensidade de (Jones?). Nunca, existiam só na época concentradores em escala piloto. O primeiro industrial que teve foi aqueles lá, construídos lá.
P/1 – E foi especificamente para esse projeto?
R – Para esse projeto. Especificamente para esse projeto.
P/2 – O senhor que fez os testes para essa aplicação _______?
R – Não, eu fiz parte dos testes. Mas basicamente também foram feitos no construtor dos, que foi a Humboldt, que foram feitos testes lá. Nós tivemos que modificar o formato das placas por causa do produto que a gente fazia. Coisa desse tipo que a gente fez. E eu fui para Itabira. Estive lá tomando conta da usina. Porque _____ nós construímos uma usina piloto com um concentrador só e fizemos um ano de teste para ver se, os resultados enquanto construía a usina definitiva, grande. Então eu estive lá em Itabira um ano. E na época nós éramos conhecidos lá em Itabira como mineronautas.
P/2 – Mineronautas?
R – É. Porque o pessoal lá das minas eles achavam que concentrar itabirito – itabirito é o minério básico da hematita que dá minério de ferro, minério básico; ele tem alto teor de sílica. Então para você poder vender esse produto você tem que tirar essa sílica. Separar. E isso tem um custo – então o pessoal da mina achava que nós tínhamos muito minério de alto teor e não haveria necessidade daquilo. De ficar fazendo aquele negócio. Então eles chamavam a gente de mineronautas. E na época quem dava muito apoio para nós, para fazer esse projeto era o Doutor Eliezer Batista, que estava em Düsseldorf na época e o Doutor Raimundo Mascarenhas que era o presidente da Companhia, né? Então o Doutor Raimundo Mascarenhas ia muito lá visitar o laboratório e a usina piloto, né? Às vezes eu estava lá, ele chegava lá em Itabira e nem parava na superintendência das minas. Ia direto lá na usina. Porque aquilo era a menina dos olhos dele, né? Então ele ia lá e via os testes, perguntava como é que estava indo, aquelas coisas todas. E o pessoal da mina ficava muito com ciúme. Porque o presidente ia lá e não ia olhar as minas, ia, aquelas coisas. Então, quando o pessoal da mina viu que o processo era irreversível e tudo mais eles quiseram assumir. E fizeram campanha lá para assumir rapidamente essa usina, né? Na época lá em Itabira existia uma república que a Companhia fazia para os engenheiros solteiros, e eu morava nela. Chamava Isolado. Alguém deve ter contado sobre as histórias dos isolados. Você não entrevistou ninguém que é de Itabira, não?
P/1 – A gente entrevistou.
R – Bom, era uma república lá, Isolado, chamava. E eu ficava lá. Acabaram me expulsando do Isolado. Dizendo que eles precisavam para o pessoal dos engenheiros das minas, então não podiam me manter lá. Então eu tive que ir para um hotel.
P/2 – Acontecia mesmo esse conflito entre a mina e os outros ____?
R – Existia, existia. Então, mas, e eu fiquei em Itabira até, eu fui para Itabira final de 69 fiquei até novembro de 70. Quando nos... a Companhia resolveu que ia desenvolver a parte de testes metalúrgicos. Porque existiam naquela época estavam sendo desenvolvidos uma gama de testes para você analisar o comportamento do minério. Como se passaria o comportamento do minério dentro do forno de redução. Então foram desenvolvidos um monte de equipamentos para fazer testes, essas coisas e tudo mais. E a Vale resolveu investir nessa área e me mandaram para a Alemanha para fazer um curso lá no (Studieng _________), que era um laboratório, um laboratório muito conhecido e muito considerado pelas usinas alemãs. Então, aí eu saí de Itabira em 70 e fui para a Alemanha. Fiquei numa cidadezinha chamada Goslar. Que é uma pequena cidade mineira que, cercada de muros ainda tudo mais, que ela foi muito importante na área de mineração durante a Idade Média. Mas no século XV, XVI ela, ela, as reservas de minério na região se esgotaram. Então ela ficou uma cidade parada no tempo. Ficou mais ou menos como se fosse uma Ouro Preto lá da Alemanha.
P/1 – É próximo da onde?
R – A cidade grande mais próxima é Hannover. Fica na montanha Harz. Então eu fiquei lá, e para você ver como a cidade é interessante, o melhor hotel da cidade foi inaugurado em 1492. O hotel que eu me hospedei era o melhor da cidade, foi de 1492. A cidade com 8, 10 mil habitantes. Mas cidade desse tamanho na Alemanha é um pouco diferente, né? Porque lá a cidade tinha teatro, cinema, tinha shopping center. Nesse tempo Vitória não tinha shopping center. Mas tinha shopping center, não era muito grande mas tinha um shopping center. Tinha diversos restaurantes. Tinha lugar para dançar com música ao vivo. Quer dizer, a cidadezinha de 8, 10 mil habitantes lá é bem diferente de uma cidade pequena aqui no Brasil, né?
P/2 – _____________
R – E eu cheguei lá, fiquei lá 3 meses. Quase 4 meses lá, né?
P/2 – Que idioma que... inglês?
R – Inglês, inglês, fiquei quase 4 meses lá. Nesse estágio lá na _____________________. E cidadezinha pequena assim todo mundo conhecia. Porque é um lugar que quase não vai turismo de fora da Alemanha. Tem muito turista da Alemanha. Mas de fora não vai. E tem um brasileiro aqui na cidade, então todo mundo conhece tudo mais, né? Então eu, por exemplo, comia num restaurante da cidade. Tem três ou quatro ou cinco restaurantes. Eu comia nos restaurantes, né? Tinha lugar para dançar, tinha dois, três. Eu todo, de vez em quando ia lá dançava com um, com outro. Aquele negócio movimentado. Então todo mundo sabia que tinha um brasileiro na cidade. Um dia eu estou no hotel lá, coincidência eu estou no hotel, aí chegam e me avisam de baixo: “Olha, tem um casal aqui de alemães que quer falar com o senhor.” Eu digo: “Falar comigo?” “É.” Aí, está bom: “Vou descer.” Fui lá, era um casal de velhinhos. Vestido de terno, mas humildemente. O cara, você vê um cara humilde. Aí o cara falou: “Ah, meu senhor, nós soubemos, nós somos daqui, nós soubemos que tinha um brasileiro aqui. E viemos aqui porque nós moramos no Brasil. Nós somos daqui da cidade mas imigramos para o Brasil, moramos no Brasil.” Eu digo: “Ah, está certo.” Aí ficamos conversando ali. “Não, porque eu gosto muito do Brasil, não sei quê. Tinha 30 anos que eu não vinha aqui na Alemanha. Agora eu vim para a Alemanha para ver os parentes. Mas eu estou doido para voltar para o Brasil. Porque eu gosto. Eu estou lá, é minha casa. Aqui só para passear mesmo.” Conversamos, né? Aí eu convidei eles para jantar. Eu vi que eles eram bastante humildes, convidei eles para jantar, né? Sabe senhor já de 60 e tantos anos ele. Ela também.
P/1 – Hum, hum.
R – Aí eu estou jantando, eu estou conversando perguntei: “Vem cá: em que lugar do Espírito, do Brasil vocês moram?” “Ah, moramos no Espírito Santo.” Eu digo: “Hum. No Espírito Santo? Em que lugar?” “Não, nós tomamos conta de um sítio de um brasileiro muito conhecido, muito conhecido. Nós tomamos conta do sítio dele lá em, perto de Domingos Martins.” Eu digo: “Espírito Santo, Domingos Martins... Vem cá: esse brasileiro é o Doutor Eliezer Batista?” “Ah, o senhor conhece?” Eu digo: “Conheço. Conheço muito.” “Ah, é? Nós trabalhamos para o Doutor Eliezer Batista.” Eu digo: “Ah, bom.” “Nós estamos aqui porque ele conseguiu pra nós uma passagem no navio da Docenave. Então nós viemos aqui. Tinha 30 anos que a gente não vinha aqui. Ele conseguiu, a gente veio aqui.” Eu digo: “Ah, bom.” Eu falei: “Amanhã eu vou estar com ele, eu vou falar com ele que eu encontrei com vocês aqui.” Porque naquela época quando eu fui fazer esse estágio, como tinha essa má vontade, vamos chamar assim. Não era propriamente má vontade, mas tinha. Quem dava mais apoio para concentração de itabirito, esse negócio, era o presidente Doutor Mascarenhas e o Doutor Eliezer. Então eu tive ordens do meu chefe de todo fim de semana, sexta feira, sair do meu estágio e ir à Düsseldorf conversar com o Doutor Eliezer e com o Doutor Ditzel. O Doutor Clóvis Ditzel. Os dois já deram depoimento aí. Conversar com eles sobre como estavam indo os testes, como estava indo o negócio. Então aquela era minha obrigação. Então todo fim de semana eu ia à Düsseldorf conversar com eles. Eu pegava um trem de Goslar, ia até Hannover. De Hannover eu ia à Düsseldorf. Todo fim de semana. Passava a tarde de sexta feira e domingo voltava para Goslar. Mas...
P/2 – ______________
R – ...quando voltei...
(Fim da Fita 01)
R – Bom eu estava no caminho.
P/2 – No curso. __________
R – Na Alemanha. Bom eu fui lá, fiz esse curso. Aí quando eu voltei para o Brasil aí eu deixei o projeto Cauê. Estava em construção ______ finalmente. E fui cuidar da parte de metalurgia especificamente. E fui fazer testes com pellets, com os minérios da Vale do Rio Doce. Aqueles testes que eu aprendi fui fazer tudo para ver o comportamento dos minérios da Vale do Rio Doce. O comportamento metalúrgico desses minérios, então fiquei cuidando dessa parte lá no laboratório.
P/2 – Você era o único ________ desse...
R – Não. Não. Nós éramos três engenheiros. Mas dessa parte era eu e na época foi contratado um outro que se chama, está até hoje trabalhando lá: Napoleão. Ele está até hoje trabalhando no quilômetro 14. Na pesquisa. Ele hoje é o gerente geral lá da parte de pesquisa metalúrgica. Mas foi para trabalhar comigo. Então eu fazia os testes. Fiquei lá quando fui convidado para trabalhar aqui na comercial do Rio.
P/2 – Quando isso, Yves?
R – Em 72. Fui convidado para trabalhar na comercial. Na época com esse projeto Cauê nós tivemos um número grande de novos produtos que nós estávamos lançando no mercado. Quer dizer, quando eu digo novos produtos é tudo minério de ferro mas com qualidades diferentes. Essas coisas e tudo mais. E...
P/1 – O senhor poderia citar algum desses produtos?
R – Ah, o ___________ A, ___________ B. O (pellet feed?).
P/1 – Hum, hum.
R – Natural pellet. Uma porção de produtos diferentes estávamos lançando no mercado. E o comercial aqui no Rio achava que precisava de um engenheiro que conhecesse o produto para poder conversar com os clientes, os compradores. Discutir qualidade do produto que é mais conveniente para o uso determinado do cliente. Basicamente alguém que tivesse conhecimento do produto. Porque o pessoal da comercial não tinha conhecimento do produto. Eles tinham conhecimento da técnica comercial, tudo mais. Mas não do produto. E me convidaram para vir para cá. Eu na época estava noivo.
P/1 – Hum, hum.
R – E minha noiva morava aqui no Rio. Então, juntou as duas coisas eu resolvi vir pro Rio. Fui trabalhar no, na parte comercial a partir de 72 e inicialmente eu trabalhava na parte de estudos e planejamento e também na parte de atendimento ao cliente, né? O meu gerente na época era o César Câmara. E eu estive trabalhando nessa área aí rapidamente. Por uns 6 meses, menos de 1 ano. Uns 8 meses, 9 meses eu trabalhei nessa área. E nesse ínterim vagou a gerência de exportação. Que na época chamava-se Serviço Central de Vendas no Mercado Externo. Que era encarregado de toda a parte de vendas para o exterior. Exportação. Toda a parte de exportação. E eu fui convidado, para surpresa minha, que eu realmente nunca esperei ter esse convite, eu fui convidado para chefiar essa área. Quer dizer, ser responsável por toda a parte de exportação da Vale e digo: eu não sabia. Eu tinha muito pouca experiência na época com a área comercial. Então quando fui convidado pelo Cury eu falei com ele: “Doutor Cury, você tem certeza que o senhor está me convidando? Porque eu tenho muito pouca experiência. Estou aqui com vocês há 6 meses, 7 meses, 8 meses, não me lembro bem agora exato. Estou aqui há muito pouco tempo.” “Não, não. Nós queremos uma pessoa jovem, com novas ideias, tudo mais. E eu estou aqui vou te ajudar no começo, não sei o quê, tal.” Eu fui convidado para trabalhar nessa área de exportação.
P/2 – Mas para você pessoalmente como é que isso ___________? Quer dizer, você sair de uma área tecnológica de pesquisa e ir para uma área _______?
R – Olha, para mim foi uma, foi uma surpresa que eu nunca pensei. Eu quando entrei na Vale nunca pensei em trabalhar na área comercial. Nunca pensei mesmo, tá? As coisas aconteceram vamos dizer, sem planejamento, né? E agora, eu gosto muito de trabalhar na área comercial. Tanto gosto que eu estou lá há 28 anos. Estou na área comercial há 28 anos. Tanto gosto que já tenho tempo de aposentadoria e não me aposentei. Quando a Vale foi privatizada, logo que a Vale foi privatizada deram um incentivo à aposentadoria e na época eu fiquei em dúvida. Porque eu já tinha tempo de aposentadoria, se deveria ou não aposentar. Fiquei em dúvida, né? Até conversei com o meu chefe na época e perguntei para ele: “Você tem interesse que eu saia?” “Não, não temos interesse nenhum. Se quiser ficar seria até ótimo.” Então eu resolvi ficar. Eu realmente gosto do que faço. Mas nessa época não foi planejado, aconteceu, sabe? E eu, entre as minhas responsabilidades tinha: _______ de navio, discutir navio, essas coisas que eu nunca tinha visto uma coisa dessas, né? Então eu realmente, agora teve uma grande vantagem, né? Meu salário subiu, subiu muito, né, meu salário cresceu muito.
P/2 – Deu para casar?
R – Não, já deu para casar antes. Eu casei antes disso. Eu casei antes. Eu casei quando vim para o Rio. Mas o salário meu dobrou, mais que dobrou. Então nesse ponto foi bom. E aí eu fiquei nesse cargo, nesse posto durante 5 anos e naquele tempo era um pouco diferente de hoje. Porque hoje nós temos escritório em Tóquio. E naquele tempo nós não tínhamos escritório em Tóquio. Então toda a Ásia era tocada aqui do Brasil. Então eu tinha que viajar muito para o exterior. Eu viajava muito para o extremo oriente, Japão, Coreia, Taiwan, Indonésia. Esses lugares todos eu viajava diversas vezes por ano.
P/2 – Esses países todos que o senhor citou no extremo oriente já eram compradores da Vale ou foram se tornando compradores ao longo desse período?
R – Foram se tornando compradores nesse período que eu fiquei encarregado da parte de exportação.
P/1 – E qual era a característica assim, cultural desses clientes? Eram muito diferentes dos clientes?
R – Não, o Japão é muito diferente. Mas o Japão já estava, já era cliente da Vale. Já era cliente da Vale já. Nós já tínhamos uma boa experiência. Na Coréia, em Taiwan, nas Filipinas, não. Mas existe um fator cultural, mas nesses países não é tão grande. Porque esses países quando eu digo Coréia, Taiwan assim, já tiveram uma influência muito grande americana.
P/1 – Hum, hum.
R – Os americanos estiveram na Coréia lá, soldados lutando lá. Sempre estiveram. Então eles já estavam muito, estão muito acostumados com o jeito ocidental. Eles já são bastante acostumados. Existe diferenças culturais mas não são tão gritantes como no Japão, por exemplo. Em Taiwan a mesma coisa. Os americanos estavam lá e tudo mais, então era muito comum você encontrar pessoa na Coréia que estudou nos Estados Unidos. Pessoa compradora de minério lá que a gente ia encontrar. A pessoa: “Ah, morei nos Estados Unidos, formei nos Estados Unidos, estudei engenharia nos Estados Unidos.” Quer dizer, o cara já tinha uma visão de mundo bastante diferente, semelhante a nossa.
P/1 – E qual a imagem do Brasil para eles?
R – Naquele tempo era excelente. Porque precisa lembrar que naquele tempo o Brasil crescia a oito ou dez por cento ao ano. O que aconteceu depois com eles, aconteceu conosco naquela época. Então eles todos ficavam surpresos. Eles achavam aquilo uma coisa fantástica. O sonho deles naquela época era chegar aonde o Brasil chegou. Eles chegaram e passaram. Mas era o sonho deles na época. Então eles tinham uma visão muito, muito interessante do Brasil.
P/1 – E da Vale em especial?
R – Também. porque a Vale ela sempre teve uma visão de que o importante é o mercado. Que é uma coisa que eu mais me impressionei quando eu entrei na Vale é o seguinte: eu chegava na mina falando lá com o pessoal lá, com o supervisor, com esse pessoal todos eles tinham a visão que foi implantada pelo Doutor Eliezer ________, que nós sabíamos produzir minério e que nós tínhamos reservas de minério de boa qualidade, o importante era ter o mercado. O foco no mercado a Vale sempre teve. Foi implantada pelo Doutor Eliezer, e a Vale sempre teve. Foi uma coisa que me impressionou bastante quando eu cheguei aqui, porque eu nunca tinha visto uma empresa em que todo o pessoal tinha aquela noção clara de que o importante era o mercado. E a Vale sempre teve essa ideia: o importante é o mercado. Você ter um mercado é importante. Então a Vale sempre deu muita atenção ao cliente. Eu posso até contar uns casos aqui para relembrar isso. Eu, nós tínhamos um cliente importante, que hoje é um cliente importante nosso de novo, mas por um período ele deixou de ser nosso cliente. Que era a __________, na Holanda. Uma empresa holandesa. Ele comprava, quando eu vim trabalhar na área comercial, ele comprava por ano um milhão e seiscentas mil toneladas por ano. Durante um período grande, depois zerou. E nós deixamos de vender para eles basicamente por questão de preço. Porque eles tinham oferta de concorrentes nosso a preço muito baixo que nós não podíamos vender a esse preço. Porque se a gente vendesse para eles a esse preço os outros que compravam de nós iam querer o mesmo preço, então não seria vantajoso. Então nós preferimos não vender a ter que baixar preço, né? E o comprador dele o _________, ele vinha sempre ao Brasil e ele comprava da MBR. Comprava da MBR. E toda vez que ele vinha ao Brasil o pessoal lá do nosso escritório em Bruxelas avisava para nós aqui: “Ó, o __________ vai aí, tem reunião com o MBR dia tal.” Então eu ligava para o hotel que ele estava e dizia: “Ô __________, aqui é o Yves Madeira, tudo bom? como é que vai você? Vai bem? Eu queria te convidar para sair, dar uma volta, não sei quê, e tal.” Então, eu saía com ele. Toda vez que ele vinha aqui eu saía com ele. Às vezes quando ele estava sozinho no fim de semana aí, levava ele para Angra, _____ negócio, né? Então um dia ele falou: “Puxa Yves, coisa estranha: nós não compramos uma tonelada de vocês e vocês toda vez que eu venho aqui vocês me procuram. Você me visita, você vai passear comigo, vai fazer _____________ comigo. Pô, deve ser chato para você à beça, e tudo mais. E vê a MBR. Eu sou comprador da MBR. Eu venho aqui falar com a MBR. Eles me dão a maior mordomia. Botam a disposição, botam a disposição empresas aí com carros excelente para ________ comigo. Alugam para mim hotel em Angra, em Búzios. Me mandam para Búzios e tudo mais. Mas não fazem nenhuma atenção pessoal. Eles fazem tudo mas não, a pessoa não se envolve. Você que eu não compro nada vem cá.” Eu digo: “É. Mas isso não sou eu não. O Doutor Ditzel lá de Bruxelas que pede para mim dar atenção a você, e tal.” Esse tipo de coisa, então a Vale sempre teve isso. A Vale sempre deu uma atenção muito pessoal. Não sou só eu não. Todo mundo da área comercial dá uma atenção muito pessoal ao cliente, não é, e isso agrada. Nós temos uma filosofia de você não tem um cliente, você tem um amigo. Procurar ter um amigo, fazer uma parceria.
P/2 – __________________________ Ditzel?
R – Não, eu não diria que foi ________ pelo Ditzel. Eu diria que foi ________ ao longo da história da Vale. Eu acho que foi ________ ao longo da história da Vale essa filosofia.
P/1 – E esse seu interlocutor em geral, ele tinha uma formação técnica também ou mais comercial, ou seja, no caso __________?
R – Não, normalmente todos eles são, a grande maioria são engenheiros também. não necessariamente têm formação técnica. Isso normalmente não tem não. Mas uma grande parte deles é engenheiro. Um cara que trabalhou na área operacional, depois vem para a área comercial para dar assessoria técnica para o pessoal comercial. Fica ali daqui a pouco ele ocupa um cargo comercial só. Basicamente é isso.
P/2 – E essa relação comercial, produção? Como é que ela funciona?
R – Ah, funciona muito bem. Na área comercial nós usualmente temos uma parte da área comercial que vem, tem sua origem na área operacional. Porque sempre tem duas coisas que são importantes para você vender: primeiro você conhecer a parte técnica de venda, a parte contratual essa parte e tudo mais. E a segunda é você conhecer o produto. Ninguém conhece melhor o produto que o pessoal operacional. É quem produz. Eles conhecem muito bem o produto, né? Então toda vez que vaga um lugar normalmente na área comercial sempre existe oportunidade, quando eu digo comercial eu não estou me referindo só a, a diretoria comercial aqui no Rio, não. Eu estou dizendo das RDs, nossos escritórios no exterior, essas coisas e tudo mais. Sempre que vaga você sempre tem duas maneiras de preencher: você pega um cara da comercial ou você pega um cara da operacional. Então sempre se procurou mesclar, você ter sempre alguém, pessoal. Então nós temos muita gente da área operacional que hoje trabalha na área comercial. Por exemplo: eu. Não sou propriamente operacional mas trabalhei na área operacional, né, eu, o Ditzel por exemplo ele veio da área operacional. Para dar um exemplo. O Doutor Raimundo Mascarenhas que foi presidente, foi superintendente comercial ele também veio da área operacional. Então tem muita gente que vem da área operacional. Então você tem sempre uma mescla desse negócio. Então você, você além de ter o relacionamento funcional você tem a relação de amizade com a pessoa que você trabalhou lá. Então corre muito bem, sem problemas nenhum.
P/2 – E em termos de contrato? O setor comercial fechar um contrato e a produção atender essa demanda mesmo a nível de um produto com especificação diferente. Como é que isso funciona um pouco, assim?
R – Não, bom. Isso não tem muito problema não, né? A ideia básica quando eu vim para o Rio por exemplo, era você ter alguém no comercial que conhecesse a área operacional, conhecesse os produtos para ter uma ideia do que pode oferecer. Basicamente a ideia é essa. Então nós da área comercial temos, já temos uma noção boa. E quando o pedido é muito fora do que a gente produz normalmente, ou seja, a gente tendo alguma dificuldade a gente consulta a área operacional. Não tem problema nenhum.
P/1 – Você tendo trabalhado na pesquisa, agora na área comercial, existe algum tipo de intercâmbio? Quer dizer, você com as viagens chegava a fornecer algum dado mais técnico, conversava com seus colegas?
R – Dava. Eu vim para a comercial para fazer uma coisa que fiz durante muito pouco tempo. Como eu disse eu fui guindado à gerência lá e deixei de fazer. Mas essas necessidades existiam e continuam existindo até hoje. Então foi criado uma área na comercial específica para isso. Então é uma área de, de atender clientes, né? É uma área de você ver quais os problemas dos clientes. Você ver qual a necessidade do cliente. Qual, como o cliente usa o seu produto para você ver qual o melhor produto para o cliente. Para você poder conversar com o cliente, certo? Você procurar fazer sugestões de modificações na carga do forno dele de modo a você ter um custo menor de produção para ele. Esse tipo de coisa. Então é uma área que nós temos, sempre tivemos necessidade e temos essa área comercial. E essa área nós temos um gerente encarregado dessa área, que normalmente, normalmente não, mas no caso é um metalurgista. Uma pessoa que tem experiência em siderurgia. Quer dizer uma pessoa que trabalhou em siderurgia. Nós temos um grupo hoje que trabalhou em siderurgia. Trabalhou na CST, nós tínhamos o chefe anterior, trabalhou durante muitos anos na Usiminas, na Siderbrás. Quer dizer um cara que conhece a operação de forno. Então nós temos esse grupo que está lá para atender os negócios de cliente. Então, e esse grupo é formado, chefiado por essa pessoa e ele tem apoio do pessoal da área operacional, certo? Então qualquer problema que tenha eles analisam junto com o pessoal da área operacional. Então, por exemplo, esse grupo faz viagens, visita pelo menos de dois em dois anos todos os clientes da Vale. Vê os problemas. Se estão tendo problema com o minério se não estão. Se estão satisfeitos, se não estão. Esse tipo de coisa.
P/2 – E a abertura do escritório do exterior? Queria que você desse um pouquinho... quando você entrou quais escritórios haviam e _____________ um pouco esse desenvolvimento.
R – Bom, tá. Quando eu entrei na Vale, nós tínhamos dois escritórios só na época. Um em Düsseldorf, que era Itabira ______________. Na época era chefiada pelo Doutor Eliezer Batista que era, e o José Clóvis Ditzel, tá? E era encarregado da parte toda de vendas na Europa. E nessa época nós vendíamos só Europa, Estados Unidos, Japão e Argentina. Só. E Brasil, né? Só, né, esse era nosso mercado. E tinha um escritório também em Nova Iorque que era chefiado pelo Roni Lírio. Não sei se ele já deu o depoimento dele.
P/1 – Hum, hum.
R – É, e que lá trabalhava um, um rapaz que eu vi aí que ele estava, Valdir Juruena, trabalhava com ele lá, o Juruena. Então nós tínhamos esses dois escritórios. Na Ásia nós não tínhamos escritório. Por quê? Porque naquela época, o único cliente que nós tínhamos na Ásia era o Japão. E o Japão usa, usava e usa para comprar minério trade companies. Normalmente uma usina japonesa não, raramente faz um contato direto com você. Ele sempre usa uma trade como intermediário. Então na época não havia necessidade de escritório, né? Quando nós fomos desenvolvendo mercado na Ásia, e também não existia mercado porque os outros países da Ásia não eram produtores de aço. Então nós só pudemos desenvolver, o pessoal, outro dia eu falei isso aqui perguntaram para mim: “Vem cá, mas o pessoal antigamente não se interessava em ____ vender?” “Não, interessava, o problema é que ninguém...”
P/2 – Comprava.
R – “...comprava porque não tinha produção de aço, o cara não comprava minério.” Então você só pode desenvolver o mercado na hora em que existir o mercado. Enquanto não existir o mercado você não tem como desenvolver o mercado, né’? Então quando foi surgindo as usinas nesses países nós começamos a desenvolver nesses países. Aí começou a ficar difícil você tocar esses mercados aqui do Brasil. Por quê? Primeiro que é muito distante. Então como eu falei eu viajava constantemente para aquela região. Estava viajando sempre. Depois existe uma diferença de fuso horário terrível. São doze horas, né, de fuso horário. E terceiro, naquela época, nós estamos falando aí da década de 70, as comunicações não eram tão boas quanto hoje. Então você muitas vezes para esses países você pedia uma ligação, levava seis horas para fazer a ligação, oito horas para fazer a ligação, certo? Então nós fazíamos contato sempre via telex naquele tempo. Porque era mais rápido, via telex. Mas quando o cara precisava de uma resposta de, por exemplo, não sei se vocês têm noção sobre isso, mas quando alguém, você vende à pessoa eles têm que mandar um navio para pegar o minério. Então eles têm que nomear um navio. Então eles vão no mercado de navio e perguntam: “Ó, eu preciso de um navio para ir carregar um, tantas mil toneladas, para carregar minério de Tubarão para, por exemplo a Coréia.” Vamos dizer, um exemplo. Vocês têm o navio, chega lá bota no mercado, puxa no mercado qual navio que tem. Aí tem lá. Então o cara oferece um navio e o frete. Se ele achar o frete conveniente. Ele apresenta aquele navio para nós. Mas o armador não pode dar muito prazo para você. Porque se você disser: “Não, não quero seu navio.” Ele, navio parado, é navio sem faturar, certo? O custo de um navio por dia é algo, um navio de 180 mil toneladas, 25 mil dólares. Custo por dia desse navio. Então se ele ficar um dia parado com esse navio, é 25 mil dólares que o armador perde. Então não pode. Então normalmente o cara dá um prazo para você responder se aceita ou não aquele navio ___________. E você aqui para o Brasil, você já tem uma diferença de horário de doze horas. Então se ele manda uma mensagem para cá, de dia lá é de noite aqui. Eu vou durante o dia, eu vou verificar aqui e responder. Já chegou de noite lá, já são três dias. Então cansei naquela época, cansei de ser acordado de noite o cara ligando: “Seu Yves....” “Por favor, eu estou dormindo.” O cara: “Eu preciso confirmação se pode aceitar o navio ou não pode aceitar o navio.” Tipo comum, era bem comum. E é difícil. Então se tornou cada, quando foram aumentando essas quantidades lá se tornou necessário você ter um escritório naquela região, né? E na época se pensou aonde fazer. Se pensou na época em Hong Kong, Tóquio, basicamente. E decidiu-se fazer um escritório em Tóquio e foi feito um escritório em Tóquio. Hoje esse contato direto com cliente é feito todo ele via escritório. Aqui no Rio nós só fazemos contato direto com a Argentina. E Paraguai. Mercosul só, certo?
P/2 – Além desse escritório em Tóquio tem mais algum no oriente?
R – Nós temos em Xangai.
P/2 – Xangai também?
R – Xangai, mas é subordinado ao escritório de Tóquio. Nós temos Xangai por hoje o grande mercado, o mercado que está crescendo é a China. Então nós temos um mercado em Xangai.
P/1 – E existe algum estudo de viabilidade econômica dos países nesse setor?
R – Existe.
P/1 – Prospecção de mercado?
R – Existe. Na área comercial a gente tem normalmente desde que eu cheguei, sempre teve basicamente duas áreas. Uma área de vendas especificamente. É a área encarregada de fazer o contrato, aceitar o navio. De providenciar com a mina de quando o navio chegar o produto esteja pronto para ser embarcado. Esse tipo de coisa toda, toda a parte de vendas especificamente e uma parte, também a parte depois de recebimento, de faturamento, esse tipo de coisa. Toda coisa necessária para você vender. E toda uma parte de pré-venda. É uma área encarregada de estudos, marketing. Essa parte toda sempre teve essas duas áreas bem características na área comercial. Mudando os nomes, mudando um pouco as funções de uma e de outra, mas... Porque são duas atividades bem características da área comercial. Então sempre houve essas duas áreas.
P/1 – E quem, hoje em dia, é um grande cliente da Vale? País.
R – Bom, país é o Japão.
P/1 – E quem pode vir a ser um grande?
R – Não, hoje o Japão é o grande país comprador da Vale do Rio Doce, por quê? Porque lá eles têm seis usinas e compram em conjunto. Então tem um volume grande essas seis usinas, né? Compram da Vale. Mas a China, a produção da China está crescendo muito rapidamente. A produção de aço na China, e hoje a China já produz mais que o Japão. A questão é que o Japão importa todo minério que consome e a China produz a maior parte do minério que consome. É produzido internamente. Mas a qualidade do minério chinês não é boa. E por isso eles estão cada vez mais importando mais minério de melhor qualidade porque permite uma melhor produtividade. E você tendo uma melhor produtividade diminui custos. Esse tipo de coisa. Então a tendência é de crescimento da importação. Então é possível que no futuro a China se torne o maior consumidor de minério da Vale. Mas hoje é o Japão.
P/2 – Yves, o período que você estava na área comercial você acompanhou a entrada do minério de Carajás? O que é que isso representou para vocês que estavam ali, vendendo esse minério?
R – Bom, eu com relação a Carajás eu posso dizer que Carajás na época, eu considerava na época, né, uma questão de sobrevivência para a Vale. Por quê? Na época a Vale tinha reservas limitadas aqui no quadrilátero ferrífero e de qualidade não muito boa. Então a Vale para continuar crescendo e ganhando mercado, se tornando uma empresa de primeira grandeza na parte de exportação ela necessitava de novas minas. Que não tinha. Então Carajás foi um projeto que a Vale tinha necessidade de fazê-lo para poder sobreviver. Quer dizer, era uma questão de sobrevivência para a Vale. Sobrevivência nos volumes que ela, no tamanho que ela era. É lógico que ela podia sobreviver aqui no sul com volumes menores, tudo mais, né, porque as principais minas da Vale aqui no sul estavam se esgotando. Então era uma, quer dizer, estavam se esgotando não, tinham um prazo previsto de se tornarem esgotadas e você precisar substituir essas minas. E Carajás tinha umas reservas muito grandes e de boa qualidade. Então era coisa, questão, eu sempre considerei uma questão de sobrevivência. Desde que a Vale entrou em Carajás para mim pessoalmente, era claro que Carajás ia sair. Era uma questão de tempo porque a Vale precisava de Carajás. Para mim era bem claro isso. Eu, eu fui um dos primeiros a ir a Carajás. Eu fui levar um cliente em Carajás o presidente da _________________, em 1974. Naquele tempo a Vale tinha um geólogo só em Carajás. O resto todo pessoal lá era da Meridional. Que era subsidiária da United State Steel, que encontrou lá, que o Breno trabalhava, ela encontrou Carajás. O resto, todo mundo era _____. Só tinha um geólogo lá. Eu fui lá, levei esse cliente. Esse foi o primeiro que manifestou interesse em conhecer. Eu fui lá com ele. Alugamos um avião em Belém e fomos lá. Pousamos lá na N1 que tinha, o campo lá era assim: tinha uma lagoa no fim e o campo fazia assim e subia assim, era inclinado, né, ele era de ganga. Ganga você sabe o que é? Aliás, canga, era de canga, o campo. E tinha lá só o refeitório. Era um barracão de telhado de zinco e madeira. Então levei o gringo para comer lá. Comemos feijão, arroz e carne assada. E foi a primeira vez que eu fui, em 74, lá. Mas para mim era claro que o projeto sairia porque era uma necessidade de sobrevivência da Vale.
P/2 – E esse...
(fim do lado A)
R – ...em ter uma fonte alternativa, e além disso Carajás para nós trouxe uma porção de vantagens, que eu não conseguiria fazer se tivesse um sistema só. Eu não conseguiria manter o volume que eu vendo com um sistema só. Porque existe a questão de risco. Para o cliente minério de ferro é essencial. Se ele não tiver minério de ferro ele não produz aço e se ele não produz aço ele vai ter prejuízo. Então para ele é essencial a garantia de fornecimento. Então, por isso, nenhum cliente a não ser por circunstâncias especiais compra toda sua necessidade de um só cliente. Por razões técnicas, mas principalmente por razão de segurança. É aquela história de não botar todos os ovos na mesma cesta. Se cair a cesta já viu, né? Então por exemplo, se o cara só compra da Vale, se por exemplo eu tenho uma greve em Tubarão ele ficou na mão. Além disso todo minério tem qualidades e defeitos. Todos eles. Todos eles tem. Alguns tem muito mais qualidades que defeitos, mas todos eles têm qualidades e defeitos para o uso e para as condições que o cliente está usando. Porque, por exemplo, um cliente que usa só para comentar, um cliente que usa no forno dele um carvão, um (cock?) de má qualidade não adianta você mandar um minério super rico para ele, não adianta. Porque ele precisa um volume grande de escória para tirar aquelas impurezas do (cock?). Para jogar para fora do forno. Então não adianta botar um minério muito rico porque ele vai pagar mais caro mas não, não vai ter vantagem nenhuma para ele. Então não, para ele para esse tipo de cliente não interessa. Já para um cliente que tem um forno trabalhando em plena, melhor esquema técnico, com produtos de melhor qualidade e tudo mais, ele pode ter uma quantidade mínima de escória. Com isso ele gasta muito menos energia para fundir essa escória, para ele fazer essa escória. Ele tem um custo muito menor de produção. Então os minérios têm qualidades e defeitos. Então o cliente procura sempre estabelecer um mix de minério que dê para ele dentro da qualidade que ele precisa menor custo. Então essa é ___, e o outro é dividir o risco. Porque se ele tem quatro, cinco clientes. Se ele tem problema com um cliente, por exemplo, caiu uma ponte na ferrovia ele tem problema com aquele cliente, ele tem mais quatro para atender ele. Se ele tiver um só, se cair a ponte ele está perdido. Então esse tipo de coisa é bastante comum a não ser em casos especiais. Por exemplo, Usiminas, certo? Como a única mina que tem próximo dele é a Vale ele compra só da Vale. Qualquer outra que ele for comprar não é competitivo lá. Mas é um caso especial. Mas um cara que recebe, tem opções de mais de um fornecedor, normalmente não fica em um fornecedor só. Então existe um, e com, quando você tem dois sistemas independentes, um no norte e um no sul, é como se fosse duas empresas independentes. Se cair uma ponte aqui no sul não vai interferir em Carajás. Então isso permite que seu volume cresça __________ cliente. Porque você diminui o risco com ele. Então aquele negócio: ele está comprando só da Vale mas não está botando todos os ovos na mesma, todo risco no mesmo saco, na mesma cesta.
P/1 – E esse era um argumento considerado pelo cliente?
R – Foi um argumento considerado, né? Então esse tipo de coisa ________ também. então eu acho que Carajás tem uma mina que tem um custo baixo, minério de alto teor. Não necessita de concentração. Aquilo que eu disse que nós fizemos _____ em, em...
P/1 – Itabira.
R – Itabira. Em Carajás você não precisa. Quer dizer, tem um custo menor de produção. Você tem excelente qualidade, tá, tudo isso é importante.
P/2 – Mais próximo do mercado também?
R – Não. Se considerar o mercado europeu realmente é mais próximo. O europeu. Mas se considerar a Ásia não é. se considerar a Argentina é mais longe. Então, né, é essas coisas.
P/2 – A Vale obedece um pouco aquela estrutura sistema sul mercado interno, sistema norte mercado externo ou não, isso...
R – Não, não tem isso não. O que acontece é o seguinte: sistema sul, todas as usinas siderúrgicas integradas brasileiras estão aqui em Minas, São Paulo e Rio. Espírito Santo, Minas, São Paulo e Rio. Só. Bom, isso é atendido só pelo sistema sul. Se amanhã você tiver uma usina siderúrgica no Maranhão, com certeza vai ser atendido só pelo sistema norte. Porque é questão de logística. Essa de atendimento de usinas nacionais pelo sistema sul é questão de logística só. Não é questão de, de preferência nossa, né? Agora nós vendemos independentemente do sul e do norte para o cliente. Conforme o cliente queira. Acontece que o maior volume de minério de boa qualidade é do norte, não do sul. Agora o sul tem, tem a vantagem de ter a maior variedade. Como no sul eu tenho diversas minas eu tenho maior facilidade de misturar, produzir alguns minérios de qualidade especial conforme a necessidade do cliente, tá? É o que a gente chama de ________________.
P/2 – ____________________?
R – É. feito pelo alfaiate.
P/1 – (riso)
R – __________________ produtos. Você faz aquele produto que é o mais adequado para a condição do cliente. Nesse ponto é muito importante a atuação desse grupo que eu falei de pessoal que é atendimento ao cliente. Pessoal de engenheiros que conhece. Vai lá visita as usinas. Vê o equipamento que a usina tem. Quais as dificuldades que eles tem. Porque aí você pode ver qual o produto mais conveniente para ele. E como no sul eu tenho diversas minas, eu sempre posso misturar duas, três minas diferentes. Eu tenho maior flexibilidade que no norte.
P/2 – E as reuniões de preço _____________ de preço de compra, Yves, como é que... é anual isso?
R – É. O minério de ferro tem por tradição negociação de preços anuais. Então você define um preço que lhe é válido durante um ano inteiro. O que é diferente, do esquema normal para a maioria dos metais e minérios commodities em geral. É diferente. Agora no passado, no passado quando eu comecei a trabalhar na Vale você não negociava o preço. Você fazia um contrato e fixava esse preço que era válido pelo contrato todo. A razão disso é que na época a inflação do dólar era muito baixa. Então você tinha um preço em dólar, você fazia um contrato de 5 anos, ele em 5 anos a inflação não daria, não dava cinco por cento. Dava muito baixa. Quer dizer, não tem, então não havia razão para você ter regras de preço.
P/2 – Hum.
R – Para negociar preço e tudo mais. Nos anos 70, mais para o fim dos anos, da década de 70 depois do choque do petróleo e tudo mais o dólar teve uma inflação altíssima. Vocês são novos não devem lembrar disso. Mas o dólar chegou a ter 14% ao ano, 12% ao ano de inflação. O dólar. Aí numa condição dessa, numa condição dessa, é impossível você fixar um preço por 5 anos porque... E depois, e também você não sabe qual vai ser a inflação, né? Quer dizer, é alta e variável. Então, e você sempre tem aquela dúvida. Ela é esse negócio mas no futuro ela vai baixar ou vai querer continuar crescendo. Aquela história. Então chegou, teve valores muito alto de inflação nos Estados Unidos e isso fez com que se tornasse necessário pedidos de reajuste de preço. Então a primeira vez que se reajustou preço, reajustou preço vale por 3 anos. Depois foi baixando para 2 anos. Depois ficou no anual, tá, ficou no anual e até hoje é assim o esquema.
P/2 – A pressão é muito grande desses compradores em cima do preço?
R – É lógico que é grande. O minério, o mercado de minério de ferro é um mercado um pouco diferente dos mercados que você vê aí. Porque é um mercado em que você tem um pequeno número de grandes empresas vendedoras e um pequeno número de grandes empresas compradoras. Porque normalmente quem compra, nem quem compra, mas quem define preço são grandes grupos siderúrgicos. Então são empresas que faturam bilhões de dólares. São mega empresas. E quem vende, quem define preço de venda são grandes empresas. É a Vale, a BHP, hoje BHP Billiton, né, e a Rio Tinto. Que são empresas, a Vale é a menor delas. Bem menor que as outras. Então são empresas muito grandes. E depois é um mercado em que todo mundo conhece todo mundo. Um pequeno número de empresas dos dois lados, então todo mundo se conhece. Então é um mercado que, de vez em quando você às vezes quando você contrata algum pesquisador ou alguém, um cara para dar uma assessoria nos negócios aí o cara vem cá: “Não, fazemos uma campanha publicitária!” Isso para nós não funciona. Não funciona. Porque quem compra minério sabe que, sabe o que é minério. Sabe quem são, que tem três ou quatro que fornece para ele ou cinco. Sabe quem vende, sabe quem compra. Conhece pessoalmente. Então esse tipo de coisa não funciona. Então eu me lembro que no passado nós tivemos aí um... durante uma mudança aí dessas políticas que de vez em quando no tempo de estatal acontecia. Aí um novo diretor queria contratar uma pessoa para a área comercial. Aí trouxe para cá um gerente da Gillette, para vender lá. Porque o cara era especialista em comércio. O cara, a primeira sugestão do cara era uma campanha publicitária. Aí nós dissemos para ele: “meu amigo, isso não funciona para nós.” “Está totalmente... isso para vender Gillette funciona, mas para vender minério não funciona.” Então essas coisas são bem diferentes, né? É o tipo do mercado em que é importante você conhecer as pessoas.
P/2 – Esse contato pessoal?
R – Contato pessoal é muito importante.
P/1 – É um corpo a corpo, né?
R – É, então. Bom, então que mais que nós vamos falar?
P/2 – _________
R – Bom, eu fui até onde eu fui convidado para ser gerente. Então eu fui gerente ali da parte, responsável pela parte de exportação da Vale durante 5 anos mais ou menos. E após esse período houve uma modificação na diretoria da Vale, e o José Clóvis Ditzel veio para o Brasil para ser responsável pela área comercial. Ele trabalhava em Bruxelas, veio para o Brasil isso em 77, 78 mais ou menos, sei lá. Agora eu não me lembro bem, por aí. Ele veio para ser, 78 acho eu, para ser responsável pela área comercial. E me convidou na época para ser o assessor dele. Então eu deixei essa área e fui ser assessor dele e o Camilo Flamarion veio para esse lugar que eu ocupava sendo responsável por toda parte comercial e vendas aí. E eu fiquei como assessor dele. Aí eu fiquei como assessor de diretores da Vale durante muitos anos. Eu fui assessor do Ditzel. Quando o Ditzel voltou para Bruxelas, o Doutor Raimundo Mascarenhas veio ser diretor da Vale comercial e eu fui assessor do Doutor Raimundo Mascarenhas. Depois o Raimundo Mascarenhas foi ser presidente e veio ser vice-presidente o Bernardo Szpigel. Eu fui assessor do Bernardo Szpigel. E no tempo que eu fui assessor eu sempre... eu gosto da área comercial. Então uma das condições que eu sempre quando fui convidado para ser assessor de alguém eu ponho, é o seguinte: “tudo bem, sou seu assessor mas vou mexer com tudo. Eu não quero ser assessor só para assuntos aleatórios, né?” Então todo mundo combinou. E desse pessoal todo que eu fui assessor, talvez o que eu tivesse mais contato foi o Bernardo Szpigel. Porque nós trabalhamos junto muito tempo, tudo mais. E ele quando era assessor ele pegava e quando eu era assessor dele, ele não usava o assessor dele para assuntos comerciais. O assessor dele era só para assuntos de pessoal, administrativo esse tipo de coisa. Então depois que eu era uns 2 anos assessor dele eu falei: “O Bernardo, ó, vou pedir demissão. Não quero ser mais seu assessor não.” “Ah, por quê? Você vai deixar de ser assessor do vice-presidente para trabalhar em quê?” Eu digo:“Eu arranjando uma área qualquer na comercial para trabalhar.” E voltei à comercial para ser candango lá. Para ser responsável por alguns clientes europeus. Aí trabalhei lá algum tempo, aí fui convidado para assessoria do, na época superintendente comercial que hoje é o diretor comercial, o Eduardo Faria. Aí eu disse para ele: “Pô, eu recusei a assessoria do vice-presidente, para ser assessor do superintendente aqui?” “Não, mas aqui você vai ser meu assessor mas você continua cuidando dos seus clientes aí. Você continua com seus clientes.” Eu digo: “Está bom.” Então eu fui assessor dele 5 anos. Depois fui assessor do Armando Santos. Depois, quando o Armando Santos saiu eu fui assessor do Armando Curado, até que pouco antes da privatização resolveram que não tinha mais assessor. Aí eu voltei a trabalhar com cliente de novo. Fiquei trabalhando com cliente até o ano passado quando o novo diretor me convidou para ser assessor do diretor. Eu voltei a ser assessor do diretor. Estou lá.
P/2 – E esses clientes que você comentou são clientes daquele tempo?
R – Não, não. Atualmente eu não mexo mais não. Eu quando vim para cá larguei meus clientes todos. Mas eu já mexi com todos os clientes da Vale, praticamente, né? Eu fui responsável por todos os clientes da Vale.
P/2 – Em um momento ou outro da sua trajetória o senhor já lidou com todos. Como é que é o dia hoje, seu cotidiano?
R – Meu cotidiano hoje é um... Vamos dizer, hoje eu faço o que é preciso fazer. Então basicamente eu vejo, eu vejo os assunto que tem para ser resolvidos pelo diretor, eu analiso. Eu converso com o pessoal, eu proponho, eu proponho como responder, certo? Eu participo de reuniões. Eu coordeno algumas coisas. Eu faço o que me mandam, basicamente.
P/1 – E o lazer? Continua pescando ou não?
R – Olha, eu, até uns 4 anos atrás, 5 anos atrás eu todo ano ia para o sul da Bahia pescar na região de Abrolhos. Eu até... mas ultimamente eu não tenho ido, faz uns 4 anos eu não tenho. E agora eu gosto de pescar de mergulho, sabe, mergulhar. Caça submarina. Mas eu tive um enfarte há um ano e pouco atrás, então eu estou proibido de mergulhar não sei por quanto tempo ainda. Preciso fazer um exame agora mas por enquanto eu estou proibido. Então eu não tenho ido não. Mas eu, por exemplo, eu tenho um sítio em Maricá. Eu gosto muito de ir ao sítio, tenho ido muito pouco agora também mas eu usava, era comum eu ir todo fim de semana para lá. Os filhos cresceram, ninguém quer mais ir, aí eu desisti de ir.
P/1 – Quantos filhos você tem?
R – Tenho três.
P/1 – Que idade eles têm hoje?
R – Eu tenho uma engenheira, tenho, com 26, tenho uma casada que parou de estudar porque casou voltou a estudar agora, com 24. E tenho um garoto com, vai fazer 22. Esse garoto está no quarto ano de medicina, o garoto.
P/1 – E só uma que fez engenharia?
R – Só. A outra está estudando Direito.
P/2 – Tem netos?
R – Tenho um, tenho um neto com 2 anos de idade. Mas está tudo correndo bem. Bom, eu já tenho tempo para aposentadoria mas enquanto o pessoal achar que eu posso contribuir eu estarei contribuindo. Porque eu não tenho pretensão de me aposentar novo, não. Eu acho que pelo menos mais uns 3 anos eu vou ficar ainda. Esse é o meu plano de vida. Eu gosto muito de teatro, gosto de cinema. Vou menos do que eu gostaria de ir. Porque eu não gosto muito de shopping. Então, eu não gosto muito de cinema em shopping. Então fiquei, ficou meio restrito a minha opção de cinema fora do shopping, fica meio. Hoje aqui no Rio é meio restrito. Mas... Eu gosto muito de ir em barzinho beber com os amigos. Esse tipo de coisa eu gosto bastante. Mais alguma coisa?
P/2 – A gente podia fazer uma última perguntinha então.
P/1 – Terminando.
P/2 – Perguntar o que você acha desse projeto Vale Memória e o que você achou de ter prestado esse depoimento?
R – Bom, eu acho que foi uma boa ideia esse projeto, tá? Porque uma coisa que eu me lembro eu sempre conto para o pessoal aí é quando eu vim para a comercial tinha um senhor aqui que chamava Doutor Brito. Doutor Brito ele era, ele tinha sido superintendente da ferrovia quando foi fundada a Vale. Então naquele tempo quando eu, 72, todas as pessoas e que eram importante na Vale tinham sido subordinados dele, né? Doutor Eliezer, Doutor Mascarenhas, Doutor João Carlos Linhares, todos eles tinham sido, né? Então, mas o Doutor Brito já tinha 60 e poucos anos, 64 sei lá, por aí. E naquele tempo a Vale não tinha planos de aposentadoria. Então o pessoal se aposentava pelo INSS. Então ninguém se aposentava. Porque o cara tinha uma despesa. O Doutor Brito estava muito doente já. Então o Doutor Brito estava idoso, doente. Então botaram ele numa salinha lá na comercial. Ele ia lá chegava as onze horas, ia embora as três horas da tarde ele ia embora. E ele tinha a sala enorme e ele tinha um monte de caixa de papelão que eram coisas da ferrovia que ele guardou ao longo da vida, então eu me lembrei disso. Então ele ficava ali, quando alguém passava no corredor ele: “Fulano, vem cá!” Aí contava sempre uma história, contava sempre uma história. E quando alguém perguntava alguma coisa ele ia escarafunchar as caixas. Pegava um documento, mostrava, essas coisas. Então quando eu vi esse negócio me lembrei dele. Eu falei: “Ele era um cara que poderia ter dado uma contribuição incrível.” Porque ele está desde a fundação da Vale. Antes da fundação da Vale. Ele conhecia tudo. Ele tinha prazer em contar as histórias. E perdemos tudo. Porque ele já morreu, né? Ele foi o primeiro cara que aposentou pela Valia. Então, quer dizer, já morreu perdeu todo aquele conhecimento da história da Vale, morreu com ele. Então eu pensei na hora, quando eu vi esse _______. Falei: “Pô, se o Doutor Brito fosse vivo, seria o primeiro que deveria ter vindo dar o depoimento dele.” Então eu acho importante porque eu sou relativamente novo de Vale do Rio Doce, comparado com esse pessoal que vocês entrevistaram aí. Mas o pessoal novo agora vive me perguntando coisas do passado. Vive perguntando. Então eu conto histórias para ele. E eu acho que se tiver algo que o cara possa ver, que seja organizado, de fácil acesso, tudo mais, é uma maravilha, né? Eu acho muito importante. Eu acho que isso é um dinheiro bem investido. E uma empresa forma uma cultura. E a maneira de você formar a cultura da empresa é você sabendo sobre o passado da empresa, das pessoas que trabalharam lá, tudo mais. Eu acho muito importante. Eu acho que... Inclusive já dei os parabéns lá ao Embaixador sobre esse assunto quando foi apresentado lá. Porque eu acho que não poderia ser melhor. Eu acho que... O que me parece é o seguinte: vai ser difícil todo mundo ler tudo o que está nesse Vale Memória, eu dei uma passada de olhos, lá tinha muita coisa que eu gostaria de ver e que não tive tempo para ver.
P/2 – Esse é um problema mesmo.
R – É, é. Eu falei, eu vi do Ditzel, que é grande à beça. Eu vi a do Ditzel que é grande à beça. Eu dei uma folheada na do Eliezer, li os tópicos do Eliezer. Agora eu queria ver a pessoa que trabalhou, que eu trabalhei com ele o Doutor João Carlos Linhares está lá. Eu gostaria de, o Doutor Mascarenhas. O Doutor Mascarenhas não está, ele morreu antes. ______ negócio mais... O Pitela deu negócio lá. Então eu gostaria de dar uma... Roni Lírio, ver o que é que o Roni falou, que eu tive muitos contatos com o Roni. Então eu gostaria mas eu realmente não tenho tempo para ver. Então é aquelas coisas. Então para mim que vou dizer, dos que deram depoimentos tem poucos que eu, quer dizer tem bastante que eu conheço mais pessoal... Agora o pessoal novo que tem, vamos dizer, um número muito maior de depoimentos que ele gostaria, talvez gostaria de conhecer vai ser difícil eles fazerem isso. Mas... Então é isso.