Projeto Vale Memória
Depoimento de Mauro Thibau
Entrevistado por Eliane Barroso (P/2) e Paula Ribeiro (P/1)
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2001.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número CVRD_HV113
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Nataniel Torres
P/2 - Nome, local e data de na...Continuar leitura
Projeto Vale Memória
Depoimento de Mauro Thibau
Entrevistado por Eliane Barroso (P/2) e Paula Ribeiro (P/1)
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2001.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número CVRD_HV113
Transcrito por Marcília Ursini
Revisado por Nataniel Torres
P/2 - Nome, local e data de nascimento, por favor.
R - Você acabou de dizer meu nome, Mauro Thibau, não tenho outro nome intermediário, só esse aí. Comentando com a Paula, tinha dito que meu pai tem o nome comprido, tinha muita raiva de escrever o nome tão comprido. Então, o primeiro filho dele, botou o nome curtinho. Botou só Mauro Thibau e eu fiquei só com isso, mas fiz a minha vida toda com esse nome curtinho. Se você quer saber a data de nascimento, vai ter uma surpresa de ver, que eu sou de 1923. Agora, você tem que fazer uma continha rápida porque mudou de milênio, então complica um pouquinho mais para chegar a sua conclusão, que eu não vou dizer. Você que tira ela.
P/2 - E o dia?
R -
Se você quiser saber o dia e o mês é 10 de julho, 10 de julho passou já um pouquinho, de maneira que o número que existe está arredondado.
P/2 - E o seu pai, o nome completo do pai e da mãe, por favor?
R - Meu pai era Ernesto Zeferino da Costa Thibau Júnior. Por isso é que ele então, ele tinha que escrever esse nome e passou para mim um nome curto e a minha mãe, Sylvia Thibau. O meu pai era médico, o meu avô médico, o meu bisavô médico, então família de médicos. Eu saí engenheiro. (risos)
P/2 - E a sua mãe era...
R - Jornalista.
P/2 - Jornalista.
R - Um tipo de jornalismo que não existia naquele tempo dela, que mulher não trabalhava, muito menos em jornalismo. Era colunista, era escritora, era... Fazia esse tipo de atividade intelectual. Não era o jornalismo investigativo, jornalismo de rua que tem hoje, que existe hoje.
P/2 - Então, onde ela escrevia?
R - Hein?
P/2 - Quais os veículos que ela escrevia?
R - Ah bom, isso naquele tempo, O País, O Correio da Manhã, esses jornais daquele tempo, os nomes, eu nem sei mais. Eu me lembro que tinha uma revista chamada “Fon Fon” e etc.
P/2 - E sobre o que versava os textos que ela escrevia? As colunas?
R - O que é que tem?
P/2 - Do que tratavam especificamente o assunto que ela...
R - Ah, assuntos sentimentais, coisas de mulher, falando sobre as coisas belas da vida, coisas românticas etc., né? Um tipo, você está falando de 1920, 1930, não tem nada a ver com essa conceituação de jornalismo agressivo, informativo... Como é que chama isso? De pronto, ao vivo, né? Isso não existia. Existia... O Rádio estava começando, quanto mais televisão nem existia. Outros conceitos, né? O transporte era bonde, nem ônibus havia. Era bonde. Então, eu mesmo ia para o colégio de bonde, né?
P/2 - Em relação a origem da sua família, senhor Mauro? A origem da família, do seu nome, o senhor conhece?
R - Bom, como eu te disse, voltando para trás, dentro das gerações, vou até a quarta geração de brasileiro e de fazendeiros no Estado do Rio. Então, esse último identificado que era um fazendeiro no Estado do Rio teve um filho médico, que por sua vez teve um filho médico, que por sua vez teve um filho médico, que por sua vez teve um engenheiro, que sou eu.
P/2 - Quantos filhos os seus pais tiveram?
R - Dois. Eu e um irmão que era oficial aviador e faleceu num desastre de avião, avião militar, né? Tempo em que aviação era muito “aventureirismo”, muita... Era muito arriscado. Isso também é dos tempos de 1940, 1942 em que a aviação era pioneirismo, ainda mais aviação militar.
P/2 - E o bairro? O senhor nasceu em que bairro?
R - Eu nasci exatamente na Rua do Uruguai, no tempo em que se nascia em casa. Então, o médico, ou parteira iam na casa fazer o parto. Então, não havia hospital. Já os meus filhos nasceram em hospital, entendeu? Equivale a uma geração, em termos de certos hábitos de... Então, você tem uma mudança muito grande de conceitos, de consciência das coisas. Então, nasci na Rua do Uruguai, morei na Tijuca durante grande parte da minha vida. Aí, me formei, morando na Tijuca e fui para Belo Horizonte. Fiquei 17 anos em Minas, na organização Fundação da CEMIG. Da CEMIG, eu fui para o ministério e, depois terminado o governo Castelo Branco, eu entendi de ir para a iniciativa privada e não participar mais de atividades propriamente de governo e muito menos de política. Ainda assim, tive umas duas ou três funções de natureza pública por solicitação específica. Por exemplo, o governador Rondon Pacheco quando era governador de Minas, me pediu para tomar conta do Banco do Estado de Minas Gerais, o BEMGE, antigo BEMGE, estava numa situação muito grave e praticamente falido. Então, ele precisava de uma pessoa de confiança e que pudesse recuperar o banco. Eu não tinha experiência de mercado financeiro, mas um pouco de administração, bom senso etc., foi possível recuperar o banco. Quatro anos depois, eu entreguei em perfeitas condições, mas disse: “Banqueiro, eu não quero ser. Não é a minha vocação”. Então, eu fui... Nesse período de atividade realmente, uma atividade de natureza pública, mas... E tive uma atividade paralela à coisa pública, mas não é pública. Era a Associação Brasileira de Normas Técnicas. É uma atividade, é uma entidade privada, né? Eu fui também, durante quatro anos, presidente da Associação Brasileira de Normas Técnicas.
P/2 - Agora seu Mauro, voltando um pouquinho... Um momentinho, sim? Gostaria que o senhor contasse um pouquinho, quais as suas memórias da Rua Uruguai, do Bairro da Tijuca na década de 1930, por favor?
R - Bom, da Rua Uruguai, praticamente nada porque eu saí de lá com uns três anos, dois para três anos, de maneira que não tenho memória nenhuma, que aliás, conserva um pouco da característica daquele tempo. Aqueles casarões... Agora, tem mais edifícios do que casarões, mas era toda ela de casas e era uma rua tradicional, passava bonde, né? Então, era caminho para Tijuca, mais ou menos, aonde acabava a Tijuca daquele tempo, que acabava mesmo na (Muda?). Alto da Boa Vista era um passeio, um lugar para passear. Dali, nós fomos para outros lugares e depois para a Rua Afonso Pena, onde passei 20 anos da minha vida, morando naquela casa. Então, a Rua Afonso Pena também era uma rua naquele tempo pacata, perto de uma praça, onde a gente ia namorar, passear, aquela coisa de formar os grupos. Era muito interessante, uma vida assim quase de interior e tinha um bonde chamado Asilo Isabel que era em frente ao fim da Rua Afonso Pena, na Rua Morais de Barros, nem sei ainda é, eu acho que é. Era um asilo chamado Asilo Isabel. Então, o bonde chamava Asilo Isabel, ia do centro da cidade até... Corria toda a Afonso Pena ia até Asilo Isabel. Era uma coisa muito pacata porque eu tomava o bonde, ia para o centro da cidade, pegava o bonde, ia para casa e lia ou estudava no bonde. Apenas durante o período de estudo, eu fiz o estudo no Externato São José, que agora está sendo demolido na Rua Barão de Mesquita. O Externato São José era dos Irmãos Maristas, uma ordem religiosa, mas muito boa, muito eficiente, e que me permitiu a base de conhecimentos para poder ir direto para a escola de engenharia. Quer dizer, direto propriamente não, porque tinha obrigação de fazer dois anos de estudo complementar que eu fiz no Instituto Lafaiete, mas foi a base adquirida no Externato São José dos Irmãos Maristas que deu as condições de fazer o exame vestibular, que era dificílimo. Só não tinha escolas de engenharia no Brasil. No Rio tinha uma, Belo Horizonte tinha uma, São Paulo tinha uma... Não, São Paulo tinha duas, Porto Alegre tinha uma e Recife tinha uma. Eram umas seis ou sete escolas de engenharia no Brasil inteiro. Então, entrar na escola de engenharia era realmente um esforço sobre humano para qualquer rapaz e normalmente era necessário fazer um curso de preparação ou então fazer dois exames, duas tentativas para conseguir e, graças a Deus, eu consegui passar direto e com isso me formar relativamente cedo.
P/2 - Mas, engenharia era uma profissão que o senhor sempre desejou como jovem, almejava ser engenheiro?
R - Olha, na verdade, eu queria ser médico como toda a família, mas o meu pai me convenceu que não deveria ser médico porque o médico no conceito de profissão quase sacerdotal, o médico do conceito que ele tinha, era um sofredor muito grande e não fazia uma vantagem na vida ser médico porque ganhava pouco e ia sofrer muita angústia. Também o médico era um clínico, poucas especialidades. Hoje não, é tudo compartimentado. Quem cuida do pé, não cuida da mão. O outro cuida da canela, o outro cuida do não sei o quê. Cada um, pedacinho do corpo da gente é todo dividido, né? Então, você tem um problema num lugar, vai para o especialista daquele lugar. Se aquilo depois não resolve o teu problema de saúde, você tem que ir para outro especialista. Não, naquele tempo não era assim. Era um médico, era um engenheiro, um advogado, eram conceitos genéricos, né? Então, ele me desanimou bastante e eu pensei entre ir para a Marinha ou ir para a engenharia. Acabei indo para a engenharia e para não perder assim, certo desejo que eu tinha na atividade na área militar, eu fui fazer o CPOR. Então, eu fiz o curso de engenharia junto com o CPOR, daí porque eu fui convocado depois e tive uma atividade paralela ligada ao Exército que foi até eu ser desligado.
P/2 - O senhor entrou em que ano na universidade?
R - Entrei em 1945... Não, eu entrei em 1940, você perguntou, entrou, né? Eu sou da turma de 1945. Eu entrei em 1940 e me formei em 1945. Quer dizer, eu peguei exatamente o período da guerra. Começou em fins de 1939, agosto de 1939, então eu fiz o período e quase que fui para Corpo Expedicionário Brasileiro, só não fui por um episódio irônico que agora pode ser contado, sem maiores constrangimentos porque eu fui dado como tuberculoso. Aí, o meu pai que era médico, disse: “Olha, você não tem jeito nenhum de tuberculose. Vamos fazer um exame aí”. Fizeram o exame, não tinha tuberculose nenhum. Era só... “Você não tem tuberculose”. “Eles acham que tem”. “Não querem mandar você para a Itália, está bem”. Na verdade, o que tinha acontecido é que eles tinham trocado a minha chapa, o tuberculoso foi e eu fiquei. (risos) Então, essas são as ironias. Quem sabe, se não tivesse trocado a chapa, eu já não estaria aqui para contar a você essa história.
P/2 - Exatamente.
P/1 - É verdade.
R - Ironias do destino.
P/1 - E o senhor ficou frustrado por não ter ido?
R - Hein?
P/1 - O senhor ficou frustrado por não ter ido?
R - Não, sempre fui muito filósofo, aceito as coisas como elas são, né? Se eu... Eles disseram que eu era tuberculoso e eu não era, problemas deles, né? Muito tempo depois é que eu vim saber do que se passou porque ao invés de eu ir para a Itália, fui fazer uma coisa muito mais interessante. Fui fazer curso de artilharia de costa na Urca, né? Na Praia Vermelha, em que para mim, estudante de engenharia fazer curso de artilharia de costas não tem problema nenhum fazer aqueles cálculos de balística, aquilo tudo, não tem problema. A base matemática que eu tinha, dava perfeitamente para isso, né? E ali, dava tempo para dar um banho de mar na Praia Vermelha que era privativa, né? Era muito mais agradável do que ter ido para a Itália. Quando quiseram reverter a coisa, não dava mais que já estava acabando a guerra. Então, não tinha mais sentido. Aí, eu terminei o curso, fiquei mais um pouquinho no Exército e passei para a Aeronáutica. Fui ser professor da Escola Especialista de Aeronáutica no Galeão, ainda estudante de engenharia. Eu, em 1944, eu estava na Escola de Especialista de Aeronáutica do Galeão que é a antiga Escola de Aviação Naval. Não tinha ponte, você tomava um rebocador em Bom Sucesso para fazer a travessia do braço de mar para ir até a Ilha do Governador. Eu assisti nesse tempo o lançamento dos pilares da primeira ponte que não existe mais, a primeira ponte para ir para... Mas, quando a ponte ficou pronta, já não estava mais. Já tinha me formado, já tinha entrado em atividade profissional e me desliguei da Escola de Especialista Aeronáutica que, aliás foi transferida para São Paulo, para Guaratinguetá, se eu não me engano.
P/2 - Agora no período ainda de faculdade, o senhor participava de algumas atividades, ou estudantis, ou culturais?
R - Não, não tinha a menor possibilidade, nem gosto. Eu nunca tive assim, aquela satisfação íntima de participar, de ideias, conjugar pessoas. Não, nunca fui politizado e, por outro lado você vê, eu estava no CPOR, convocado, fazendo curso de escola de engenharia. Eu não tinha tempo para nada. E depois, quando eu saí, fui para a Escola de Especialista em Aeronáutica, como professor, dava aula e recebia aula na escola de engenharia. Eu não tinha a menor possibilidade de participar de nenhuma atividade estudantil, etc. Nunca participei.
P/1 - Durante o tempo de faculdade teve algum professor, em especial, que tenha lhe marcado? Algum professor da faculdade de engenharia?
R - O que é que tem?
P/1 - Algum professor, em especial, lhe marcou?
R - Me marcou? Ah, marcou quer dizer no sentido de...
P/1 - De...
R - Ah, te deixou...
P/1 - Desculpa, eu expressei mal.
R - No meu tempo tinha muito professor ruim, muito. Eu me lembro de alguns que são pessoas que hoje, acho que não existem mais, não só pelo conhecimento que eles tinham como a dedicação ao ensino, né? Eles eram professores na expressão total da... Eles queriam ensinar. Eu me lembro do professor Azevedo Amaral que era de Cálculo, um talento, um homem, inclusive tinha convivido com Einstein, era um homem que tinha... E correspondia com o Einstein. Rigorosíssimo, quem chegasse atrasado não entrava na aula. A gente ouvia uma mosca voando e aluno de escola de engenharia naquele tempo tinha que usar paletó e gravata. Hoje, você vê nas faculdades, o sujeito tudo de sandália, de alpargata e de short, inclusive professor também assim, né? É um negócio que não dá para... No meu tempo... Bom, professor ia...
P/2 - Jaleco.
R - Jaleco... Não, jaleco não. Era bata completa. Era o avental completo, né? E o aluno era paletó e gravata assim... Como eu estou hoje, com blazer não era... Era terno. Eu que estava no CPOR e que ia fardado, tive que pedir autorização especial para poder entrar na escola fardado, mas não dava porque eu acabava o CPOR às 8:00, a minha aula começava às 9:00, não dava para ir em casa. Então, o professor Dulcídio Pereira, por exemplo, de Física, um homem também extraordinário. Tinha um gosto pelo ensino, uma satisfação de ensinar, uma coisa especial, né? Eram professores que tinham a alma do magistério incorporada, né? Eles queriam transmitir o conhecimento e exigiam porque ninguém brincava, nem faltava. Não havia brincadeira em sala, isso não existia, não existia gargalhada. Era um silêncio completo. Uma turma de 60, 70 pessoas, você não ouvia nada.
P/2 - Tinham moças na turma? Tinham mulheres, colegas do senhor?
R - Mulheres? Tinha seis moças e todas se formaram. Duas casaram com colegas de turma e fizeram carreira profissional. Não sei a vida de todas, mas não era muito comum, né? Mas, havia seis.
P/2 - E dentro da engenharia, qual era a área que o senhor tinha o maior interesse?
R - Eu custei um pouco a me definir. Eu quis, a uma certa altura, me dedicar a cálculo estrutural, inclusive porque o ensino que eu fazia na Escola de Especialista em Aeronáutica era a resistência dos materiais que é a base para você fazer cálculo estrutural. Então, era um caminho natural. Entretanto, recebi um convite para ir trabalhar no setor de eletricidade, ainda dentro da escola e ainda ensinando na Escola de Especialista em Aeronáutica. Porque naquele tempo, a procura por um engenheiro era extraordinária. Na escola de Engenharia existia no saguão, na antiga escola, hoje no Largo São Francisco, tinha... Como é que se diz? Um quadro de anúncios grande onde as empresas fixavam as propostas e havia um grupo da nossa turma e da turma que estava mais na frente que liam as propostas. Quando a proposta não era boa, amassava a proposta e entregava para o portador, “vai devolver isso para o teu patrão, que isso daqui não é coisa que se coloque... Não se faz!” é uma coisa assim, você recusava. Até que nos dias de hoje, esses rapazes e moças se formam, ficam mendigando emprego, mendigando estágio, não é? Estágio mendigado para trabalhar sem ganhar ou para ganhar... Naquele tempo, você era caçado a laço na rua.
P/2 - Quais eram as empresas na época que requisitavam engenheiros?
R - Eram as empresas que estavam surgindo no Brasil que mudava de uma atividade eminentemente agrícola para começar uma atividade industrial e de infraestrutura. E como a formação de engenheiros era muito limitada, a procura era muito grande. Nós éramos pagos para sermos estagiários para aprender nas empresas a trabalhar. Eu quando saí da escola de engenharia, eu era estagiário na antiga CAEB, Companhia Auxiliar de Empresas Brasileiras, já tendo largado a Escola de Especialista em Aeronáutica e já com a promessa de ser contratado quando eu me formasse. Garantia de ser contratado quando formasse. Não tinha esse problema de procurar emprego não. E quando, por qualquer razão, um engenheiro saía do seu emprego, tinha dois, três outros esperando por ele. Eram tempos muito diferentes, né?
P/2 - O senhor se forma em que ano?
R - 1945, 1945. Então, você vê que esses problemas começaram a surgir na década de 1970, né? Que até eu me lembro bem, na Fundação da CEMIG, ainda foi preciso procurar engenheiros com bastante dificuldade ou profissional com bom currículo, com... Tendo sido bom aluno, etc., não era fácil de encontrar. Então, nesse tempo, por exemplo, a Vale do Rio Doce era um pouco anterior a CEMIG, já era um local onde a gente roubava engenheiros da Vale do Rio Doce para ser engenheiro da CEMIG.
P/1 - E quando o senhor participa da Fundação da CEMIG, data, em que ano o senhor...
R - Eu... A CEMIG foi fundada em junho de 1952, mas eu fui trabalhar... Primeiro, organizaram uma estrutura de empresas regionais que não se chamavam CEMIG, se chamavam Empresas Regionais; Médio Rio Doce, Alta Rio Doce etc. Depois, foi feita a fusão de todas elas com o nome CEMIG. Essa fusão foi em 1952 e eu fui para lá em fevereiro para ajudar o preparo dessa fusão das empresas regionais e fui então para a primeira diretoria da CEMIG em 1952. E fiquei até 1964 na diretoria de Operações da CEMIG até ir para o Ministério. Aí, é que houve então, um período em que eu tive contatos com as atividades industriais de uma maneira geral porque no meu setor da CEMIG é que se negociavam os contratos de fornecimento de energia para as indústrias e principalmente quando faltava energia na época de racionamento. Porque naquele tempo, a dificuldade de fornecimento de energia era muito séria. Então, vivi um período, por exemplo, de 1959, que foi muito mais crítico do que esse agora, em que era corte de circuito, apagão mesmo. E tudo em cima de mim porque eu era o diretor da área, né? Então, eu sofri muito.
P/1 - Era um período de crescimento no Brasil?
R - Muito grande. Era um período de crescimento. Realmente, o Brasil começou a despertar na faixa de 1942... Durante a guerra teve para o Brasil um aspecto positivo que foi a “surgência” da atividade produtiva que não podia ser importada porque a atividade produtiva dos outros países em guerra estava voltada para as necessidades de guerra. Então, nós tivemos que, da noite para o dia, produzir as coisas aqui no Brasil, nós mesmos. Depois, as empresas que se constituíram ou as estrangeiras que vieram para cá começaram a produzir as coisas aqui. Houve muita necessidade do profissional de natureza técnica e administrativa. Então, foi o período em que a proporção entre os profissionais que se formavam e os empregos que eram gerados era uma proporção...
P/1 -... Fornecimento de energia no país?
R - Era muito isolado, mesmo porque o Brasil tinha duas frequências. Eram 50 ciclos no Rio, uma parte de Minas ou 60 ciclos em São Paulo e Paraná, e 50 ciclos no Rio Grande do Sul. Então, os sistemas eram isolados, não havia um sistema interligado como existe hoje. Então, isso tinha um aspecto muito interessante que era o problema de um não afetar o outro. Quando houve essa crise seríssima lá em Minas, o Rio não teve nada com a coisa. Tempos depois, houve uma grande crise no Rio e não houve problema nenhum em São Paulo, por exemplo. Então, com essa interligação dos sistemas começou quando eu fui para o ministério. Aí é que eu então procurei unificar a frequência, fazer uma lei. Precisou fazer uma lei para unificar a frequência do Brasil e escolher 60 ciclos porque também era controverso. Argentina 50 ciclos, Paraguai 50 ciclos, Chile... Toda América Latina é 50, menos Venezuela. E aí nós ficávamos sem condição de interligação futura com esses países, era o argumento contrário. Por outro lado, nós éramos muito mais 60 ciclos em termos de potência, quer dizer só São Paulo 60 ciclos, é a metade do consumo brasileiro, né? Então, o Rio com 50 ciclos era mais fácil mudar o Rio do que mudar São Paulo. Em Minas, nós já tínhamos modificado com a CEMIG, nós modificamos em 60 ciclos. Então, São Paulo 60, Minas 60, Rio 50, unificamos tudo em 60 e foi a “possibilitação” do sistema interligado brasileiro.
P/1 - Mas, por exemplo, a opção pela criação de hidroelétricas era uma coisa já pensada nos anos 1950 ou não?
R - Era, era por uma decorrência natural, era o que tinha porque o Brasil nunca teve combustível, nem carvão, nem óleo em quantidades suficientes, como também mesmo o gás agora não é em quantidades suficientes, tem que importar. Então, nós não tínhamos outra opção, se não a energia de origem hidráulica. A CEMIG se fez na base da energia hidráulica e depois o crescimento de todo o sistema brasileiro foi feito dentro daquilo que nós temos que são os recursos hídricos. É verdade que se pode, deve suplementar com recursos não hídricos para poder dar uma diversidade na hora em que a carência do regime pluvial. Mas, basicamente, nós temos que manter o que temos. Então, vamos fazer agora essa suplementação a gás, mas com gás importado da Bolívia ou da Argentina. No passado, poderia ter sido feito usinas a óleo combustível ou a carvão, mas com o carvão importado porque o nosso carvão é muito bom. Serve para queimar na boca da mina lá no Rio Grande do Sul, mas não serve para muita outra coisa. E também o nosso petróleo nunca foi suficiente para as necessidades brasileiras. Neste momento, por exemplo, nós estamos com o que? 80% das necessidades atendidas pelo petróleo brasileiro, mas no passado, nós tínhamos 20, quando muito, né? Quando eu estava no ministério, nem 20% davam, não chegava. Nós importávamos mais de 80% do petróleo. Então, fazer energia elétrica na base de insumo importado, chama-se energético, um energético importado era absurdo.
P/2 - Bom, senhor Mauro, gostaria que o senhor nos contasse como é que se deu esse convite para participar do Ministério das Minas e Energia, por favor?
R - Bom, eu não tinha nenhuma pretensão política e estava extremamente envolvido na consolidação da CEMIG. O sistema de usinas da CEMIG estava crescendo bastante. Não é que eu não tinha nenhuma pretensão, nem tinha nenhum objetivo, mas me preocupava muito a evolução da política nacional e principalmente das consequências que poderia surgir de um regime comunista no Brasil que, aparentemente, era o objetivo de forças bem poderosas que se alinhavam dentro do governo do presidente João Goulart. Então, isso preocupava muito pela subversão conceitual da vida da gente, dos valores que nós cultuávamos e que tinham sido criados, nascidos e criados dentro do culto desses valores. Por exemplo, direito de propriedade, você ter o direito da posse das suas economias, ter o direito de investir suas economias. Enfim, todo o conceito de natureza socioeconômica no qual nós estávamos inseridos. E a transformação disso num regime tipo cubano ou semelhante, para nós seria um... Para nós que tínhamos alguma coisa a perder, seria realmente o conceito de acabar, fazer a minha casa em Belo Horizonte. E se eu ficar sem o direito de propriedade, eu que fiz um esforço muito grande, um sacrifício muito grande, sacrifiquei a família para fazer uma boa casa, ia ficar sem ela, e assim por diante. E principalmente em Minas, estes conceitos tradicionalistas da estrutura social e econômica conservadora, isso foi muito sério. O fazendeiro em Minas morria, mas não entregava a fazenda dele para... E o número de fazendeiros dispostos a resistir a qualquer invasão de sua propriedade era muito grande. O problema estava se tornando angustiante. Diante disso, era quase contingente, nós todos estávamos de alguma maneira engajados no processo de contenção de algum modo dessa evolução dos acontecimentos, acompanhando essa evolução e também participando dos outros movimentos de preocupação nacional que, no meu caso, não era da área militar, era na área civil, mas que havia paralelamente os procedimentos na área militar sobre coordenação do então General Castelo Branco, que era o Chefe do Estado Maior do Exército. Então, a revolução veio ser para todos nós uma espécie de consolidação dos nossos anseios e da eliminação dos nossos temores. E dentro do conceito que depois ficou bem claro para mim nas conversas com o Marechal Castelo Branco, a ideia era fazer uma transição democrática para... Tão rápido quanto possível uma eleição presidencial e voltar à normalidade democrática. Os problemas que depois surgiram e que se caracterizaram como Governo Militar, como Ditadura Militar, como Regime Autoritário etc., vieram depois com o Ato 5. Quando o presidente Castelo Branco já tinha passado o governo para o Marechal Costa e Silva. Até o momento em que houve a transição de governo do presidente Castelo Branco para o presidente Costa e Silva, a ideia era fazer tão pronto quanto possível, uma eleição nacional de presidente. O Ato 5 é que mudou tudo. Há certa confusão em fazer o conceito em Regime Militar ser iniciado por o que eles... Passou a ser uma certa maldade até, chamar o Golpe Militar de 1964, que na verdade, o que houve foi uma medida de força para impedir um golpe de esquerda comunista, que estava todo montado. E foi então, eliminado o governo que acolhia, aceitava, permitia, esse processo de “comunização” do Brasil e que era preciso ser eliminado porque do contrário, não havia como segurar. Enquanto ele fosse governo, não ia permitir que as coisas se fizessem. Quando ele começou a desmoralizar a disciplina nas Forças Armadas, aí é que a coisa não era possível mais admitir porque na hora em que havia uma estimulação para que os soldados, cabos... Enfim, os militares de posto inferior, desafiassem os superiores, pô, aí não havia Força Armada. A Força Armada é baseada na disciplina. No momento que você destrói a disciplina, você destrói a Força Armada, acabou com ela. Isso, eles não podiam conceber em hipótese alguma. Então, o presidente Castelo Branco montou um esquema estritamente democrático. Nós, ministros dele, éramos obrigados a submeter ao Congresso Nacional tudo quanto nós queríamos fazer. E isso vai ser importante quando nós abordamos a relação política no caso da Vale do Rio Doce, política de minérios etc. Agora, esse momento em que em Minas se articulou e, na verdade, a revolução eclodiu em Minas por uma ação que não era propriamente programada assim, mas era um desejo de segurar, vamos dizer, o anseio que estava alucinado. Inclusive, houve um episódio muito curioso que nunca foi relatado, nas vésperas em 31 de março, houve uma passeata. As donas de casa de Belo Horizonte, você precisava ver! Todas as senhoras de Belo Horizonte, a rua ficou... A Avenida Afonso Pena, que é a principal da cidade, ficou cheia de senhoras fazendo uma passeata, coisa que eu nunca tinha visto na minha vida. Um movimento das mulheres de Minas, mais ou menos, dizendo: “Se vocês homens não são homens bastante para segurar isso que está sendo montado aí, nós mulheres vamos assumir!” Coisa impressionante! Havia... Sei lá, milhares de mulheres. A avenida estava cheia, a avenida da largura da Presidente Vargas, cheia de mulheres. Todas donas de casa, senhoras etc., suas filhas, suas mães, todo mundo. Então, este movimento foi bastante popular, não necessariamente de entusiasmo de classe. Não da parte da classe pobre, mas da classe média. Houve um movimento muito respaldado na classe média e houve também uma manifestação dessa em São Paulo e aqui no Rio, mas aí já foi depois do movimento. Então, eu era diretor da CEMIG, tinha contatos com os industriais, tinha contato com os políticos que era a minha função na empresa. Havia sempre um presidente e era, em geral, um homem de bom relacionamento com o governador, mas as atividades da empresa eram basicamente divididas em áreas de engenharia e construção, área técnica, área financeira administrativa e área de operação e comércio. Então, a área de engenharia de construção foi inicialmente doutor John Cotrim, que depois fundou Furnas e veio para cá e ficou o doutor João Camilo Pena, que depois foi ministro da Indústria e Comércio, um homem hoje de grande reputação, grande valor. A área de compras administrativo financeira ficou com o doutor Mário Bhering, que depois foi presidente da Eletrobrás, durante muitos anos diretor da Eletrobrás. E eu tinha o resto. Nesse resto que era operar as usinas, vender energia e fazer o relacionamento da empresa com o seu mundo exterior. Esse mundo era comercial, político e social. Então, aconteceu o seguinte: em Minas, o homem de relação política era eu e não era político. Mas, por isso mesmo, eu podia me dar com todos eles. Eu juntava os elementos da antiga UDN com o antigo PSB na minha sala e conversava, fazia um acordo entre os dois porque eu não era nem de um, nem de outro, eu queria ajudar a todos. Então, foi uma relação de nomes sugerida pelos políticos da Câmara dos Deputados daquele tempo, você vê como o governo não era militar. A relação de nomes era feito em grande parte, a não ser uns tantos críticos. Eram feitos pelos deputados, sugerindo ao presidente a relação de nomes. E nessa relação, eu fui incluído porque eu era o homem que eles conheciam e por eliminação dos outros, eu sobrei, fui convidado. (risos) Então, eu não conhecia o presidente Castelo Branco, não tinha atuação política pessoal. Era voltado para a empresa, mas tinha contatos que me deram uma, vamos dizer, motivação para ser colocado como candidato porque eu não era, mas relacionado e ser escolhido que não tinha nada contra mim. Então, a verdade é que eu fui escolhido nessa base e o presidente mandou me chamar e, na mesma hora, convidou. Não tinha condição de dizer “não” porque era mais uma convocação do que um convite. Eu saí do gabinete dele para tomar posse. Então, depois da cerimônia da posse, eu fui então, tomar assento no prédio do ministério. Quer dizer, foi uma coisa muito rápida. Agora, acontece que nesse setor, eu estava razoavelmente bem situado porque em termos de energia, eu vivia 100% do problema. Como eu fazia relação com as indústrias, todos que consumiam energia basicamente, eu tinha um bom conhecimento de todas as atividades industriais. Eu sabia o que era uma fábrica de cimento, uma fábrica de... Uma usina siderúrgica, uma empresa de mineração e tinha muita ligação com a Vale do Rio Doce onde existiam muitas ligações de interesse societário de atividades entre a Vale do Rio Doce e a CEMIG. A Vale do Rio Doce não era essa potência que é hoje, mas já era um... Por exemplo, um estudo de eletrificação da Vitória Minas, tinha que conversar com a CEMIG. Nunca foi feito, mas o estudo de eletrificação da Vitória Minas era uma coisa que tinha que ser conversado com a CEMIG. Ou então, ia fazer uma usina própria, mas tinha que trocar ideias com quem fazia usina, que éramos nós da CEMIG, além das relações pessoais, não é? Eu conhecia o setor de mineração porque os mineradores das empresas de mineração eram consumidores de energia da CEMIG e dos momentos de racionamento, nós tínhamos que discutir os detalhes da vida de cada um para ver o que é que elas podiam cortar ou a maneira de conciliar as possibilidades de fornecimento com as necessidades de cada um. Então, quando eu cheguei no ministério, a parte de mineração não era uma desconhecida para mim e a parte de petróleo, um pouco menos, mas por outro lado, a Petrobrás era uma estrutura já muito bem constituída, muito... E era a Petrobrás, quer dizer, todo o petróleo era Petrobrás. Não era o caso da mineração que era difusa em várias e muitas companhias.
P/2 - Desculpe, o percentual da Vale do Rio Doce entre essas mineradoras, quer dizer o que representava a Vale diante das concorrentes?
R - Depende de que mineral...
P/2 - Ferro.
R - Você vai falar em ferro, nessa altura a Vale era metade ou um pouco mais da metade, uns 60%, mas era dominante porque as outras eram separadas. Havia só de mineração de ferro em Minas um... Sei lá, uma centena de minerações. Grande parte delas, pequenas minerações. Mas, mesmo considerando as 10 ou 12 maiores, já era uma divisão de... A outra metade, os 40% restantes eram divididos em 10 ou 12. Então, a... E a Vale tinha a Vitória-Minas e quem quisesse exportar minério tinha que ser pela Vitória-Minas por causa do embarcador de minérios de Vitória, né?
P/2 - E quais eram as outras companhias mineradoras?
R - Ah, você tinha muitos, você tinha (Ferferro?), tinha a Samitri, tinha aquela... Do doutor Antunes, que era segunda maior depois da Vale, tinha duas ou três sociedades, mas era das maiores. Você tinha a (Botelho?), depois foi comprada pela Hanna e deu problema que você depois...
P/2 - Mas, eram mineradoras brasileiras?
R - De minério de ferro. Agora, tinha mineradoras, outras minerações; de calcário, de manganês, de ouro, outras atividades que a Vale não entrava naquele tempo. Ela veio entrar em ouro muito tempo depois. Então, naquele tempo, era basicamente minério de ferro que se falava. E minério de ferro de alta concentração natural, não era minério de ferro beneficiado. Só também depois que veio o início da atividade de beneficiamento de minério e principalmente pelotização que não se falava naquele tempo. Mas, do essencial era que nós tínhamos ali uma estrutura diversificada. Então, você querendo passar a parte de política mineral, essa foi o pano de fundo em que o problema da política mineral se defrontou quando eu fui para o ministério. Porque você tinha uma estrutura governamental extremamente competente e capaz, e vamos chamar dominadora, que era a Vale do Rio Doce já bastante consolidada a essa altura, como uma atividade industrializada e rentável. E você tinha uma série de minerações particulares, algumas estrangeiras, outras nacionais, que davam uma espécie assim de difusão conceitual da exploração do recurso mineral do Brasil. Que é para você não esquecer que você tem um conceito de recurso que, às vezes, é confundido com riqueza e que tem que ser devidamente esclarecido. Recurso é aquilo que a natureza nos proporciona. Riqueza é esse recurso transformado em bem de valor comercial. Quer dizer, se você tem algo que não beneficia, não vende, não é riqueza, é recurso. Para você ter valor, você tem que ter o bem comercializado. Então, isso quer dizer o seguinte; se eu tenho uma mina e sento em cima dela, não faço nada, eu tenho um recurso, não tenho a riqueza. Se eu quero uma riqueza, eu tenho que explorar essa mina, tirar a terra de cima, chegar no corpo de minério, desbastar esse corpo de minério, beneficiar, transportar e vender. Para isso, eu tenho que investir. Então, essa característica que você tem que ter investimento, tem que ter uma atividade de natureza industrial para você transformar recurso em riqueza, criava um conflito de interesses entre a ação estatal e a ação privada. O que nós encontramos na hora em que fomos estudar no ministério a questão mineral, questão energética, era complicado. Mas essa não tinha tipo de controvérsia de natureza fundamental ideológica. No caso do minério tinha. No caso do petróleo também não tinha porque era de lei, era Lei 2004, a Petrobrás é que tomava conta etc. Não se discutia o assunto. Então, o que é que se discutia? Era a política mineral. Os grandes assuntos de controvérsia foram os assuntos ligados à política mineral, porque assim como havia uma Eletrobrás para cuidar da energia, havia uma Petrobrás para cuidar do petróleo, muitos achavam que tinha que haver uma “Minerobras” para cuidar do assunto de minério e a Minerobras já era... A Vale do Rio Doce já era o embrião da Minerobras. Então, havia um grupo, mas não era de comunista só não, era de pessoas ligadas a conceitos nacionalistas de atividade econômica, de preocupação em conservar os benefícios de recursos naturais para dentro do país. Quer dizer, tinha muito oficial das Forças Armadas, engenheiros etc., que tinham honestamente opinião de que deveria ser criada uma espécie de recíproca da Eletrobrás para o setor mineral. Agora, a coisa não era fácil porque no setor de energia elétrica, você tem um produto; a energia, a eletricidade. No caso da Petrobrás, você tem um pequeno grupo de produtos mais ligados a um fundamental que é o petróleo. Então, você tem conceitualmente um universo definido. O minério não. Eu vou fazer uma Minerobras para cuidar de quê? Essa é a outra pergunta dos outros que faziam o contraponto. Você vai fazer uma Minerobras para cuidar de ouro, de chumbo, de calcário, de manganês, de cobre, de zinco. Você tem uma centena ou centenas de produtos minerais, alguns dos quais são classificados como produtos minerais e, na verdade, são produtos corriqueiros; areia, por exemplo. Areia é produto mineral. Você vai fazer uma empresa de governo para cuidar de areia? Não, areia não. Está fora de... E barro? Barro para tijolo para fazer... Barro também não. Daqui a pouco, “mas isso também não”, “também não”. Aí, o que é que sobra? Então, eram conflitos conceituais bastante complicados. Na verdade, a coisa foi mais convergindo para fazer uma empresa estatal de minério de ferro, que seria então, uma Vale do Rio Doce ampliada. E de outro lado, havia o conceito. Aí sim, conceito econômico teórico, em que você só deve privatizar, estatizar o que não pode ser entregue à energia... A iniciativa privada. Então, você teria, vamos dizer, no caso da energia foi preciso estatizar porque as empresas privadas não quiseram investir no setor. Então, tendo que produzir energia, o governo tinha que entrar. No caso do petróleo foi uma decisão superior da legislação brasileira e você não discutia mais o assunto. Mas, no caso da mineração, você teria uma opção livre de estatizar ou não. Mas, você ia estatizar uma mineração que está funcionando bem, que está exportando, que é de boa estrutura industrial ou financeira? Estatizar por estatizar. Aí, entra no problema conceitual de você estabelecer um princípio diretor. Se você economicamente só vai estatizar o que não for possível atribuir à iniciativa privada, ou você vai estatizar com objetivos de natureza, conceituação estratégica, conceituação de otimização de benefícios dos recursos. Outros conceitos que não, necessariamente, os macroeconômicos.
P/2 - Só um minutinho. Será que o senhor poderia então explicar depois um pouco, o que é que foi o episódio da Hanna Company?
R -... E a Samitri era uma mineradora de ferro, você tinha Krupp, que era dona da Ferteco, que era uma empresa de mineração alemã. Então... E você tinha minerações brasileiras, né? Com a MBR, que é Minerações Reunidas Brasileiras, era essa empresa que eu falei do doutor Antunes, que é um símbolo da estrutura mineral brasileira e era um cidadão de alta respeitabilidade. Então, você... Foi feito uma, uma decisão ainda dentro do governo do presidente João Goulart, uma decisão unilateral de fazer uma estatização forçada dessa empresa Hanna, que entrou na justiça para dizer que ela não poderia ser estatizada sem indenização. E isso, acho que é um princípio que é aceito universalmente e todos os governos têm direito de estatizar atividades nos seus países. Agora, tem que indenizar a empresa privada que está trabalhando naquele bem estatizado. Então, a Hanna foi para justiça, estabeleceu-se um processo muito complicado, estava no Supremo Tribunal Federal e acabou uma... Curiosamente, nesse depoimento que está aí na Vale, não sei como, foi dito que nos últimos dias do governo do presidente Castelo Branco foi dada a decisão de desistir da estatização e deixar a Hanna continuar o seu trabalho. Mas, nessa altura, já se sabia que ela ia se compor com o doutor Azevedo Antunes para fazer a conjugação das duas atividades sobre o comando do doutor Antunes. Mas não foi... Foi nos primeiros dias do governo Costa e Silva, não nos últimos dias do Castelo Branco.
P/1 - No do Castelo Branco.
R - E, no entanto, o livro da Vale está que é os últimos dias... É o que eu disse, aquele... Embora, às vezes, me elogie, tem outras horas que me aperta. (risos) Não deixa uma versão, vamos dizer, suave, não. Mas é porque essa controvérsia era realmente muito arraigada, muito feroz naquele tempo, porque era uma definidora de vertentes, né? Se você ia caminhar para uma vertente liberal e estava já se começando a fazer a Constituição Brasileira que acabou saindo em 1967 e eram definições básicas para o espírito da Constituição que estava em elaboração. E o espírito que prevaleceu era o de que a atividade é, em princípio, privada, podendo se tornar estatal na inviabilidade da iniciativa privada tomar conta dela. Então, essa é a chamada égide liberal que depois predominou até a Constituição de 1988. A Constituição de 1988 reverteu o conceito para ser uma atividade privada uma atividade supletiva. E depois foram feitas inúmeras reformas constitucionais, desde o governo Collor até agora, continua se fazendo reforma constitucional para novamente reverter, via emendas sucessivas, o conceito de predominância estatal para predominância privada.
P/2 - Gostaria de lhe fazer outra pergunta, quer dizer em relação a episódio da Hanna Mine, como é que a Vale do Rio Doce se portava nessa época, qual era os embates com o ministério?
R - A Vale que, nesse entrechoque de opiniões, se tornasse a detentora do monopólio estatal de minério de... Pelo menos, minério de ferro. Era uma pretensão, eu diria até uma pretensão justa, porque embora você tivesse grandes empresas, Hanna Mine é uma grande empresa, a Samitri é uma grande empresa, a Arvedi, a acionista majoritária lá na matriz na Europa, é uma grande empresa, o grupo que então controlava a Ferteco, o Krupp, um grande grupo, todas eram grandes empresas, Mas no Brasil, a predominância da Vale era muito grande. A Vale era, de longe, a mais eficiente, a mais bem estruturada, a que fazia as grandes coisas. Quer dizer, a estrada de ferro Vitória-Minas, o porto de embarque de Tubarão, o novo Tubarão, né? Nova instalação de Tubarão, uma grande obra da Vale no meu tempo...
P/2 - Porto de Sepetiba não...
R - Não, não existia.
P/2 - Nesse momento não.
R - Não, não se falava nisso. Não, havia uma intenção de outros, principalmente, Minerações Unidas Brasileiras, doutor Antunes, essa Ferteco, esses que estão ligados mais área da bitola da linha central tinham grande dificuldade porque encarecia o produto deles, devido à bitola da Vale não ser a bitola da central. Então, teria que haver uma transposição em minério de vagão da central de um metro e sessenta para a bitola da Vale de um metro e quarenta. Então, você tinha um custo envolvido nisso que, em um produto baixo de valor agregado, como minério de ferro, isso significava um encarecimento. Então, eles queriam um embarcadouro deles e independente da Vale com acesso para central. Isso era um projeto, mas não era ainda uma realidade. Veio a ser realidade muito tempo depois. Então, a posição da Vale era de uma espera com certa ansiedade, certo posicionamento para que ela tivesse esse monopólio. Quando o governo definiu, dentro de uma diretriz política de governo, que a égide era liberal, quer dizer não haveria no campo da mineração o conceito de predominância estatal e sim de liberdade de ação houve certa comoção dentro da Vale e, inclusive, eu tive a triste contingência de ter o presidente que eu nomeei, o Paulo Vieira, escolhido por mim dentro dos quadros mineiros de homens de valor, de talento etc., chegar para mim e dizer: “Olha, eu infelizmente, me associei a esse grupo que queria colocar a Vale nessa posição de monopólio. Então, eu não posso continuar”. Então, eu tive que aceitar a demissão do doutor Paulo Vieira e escolher um outro. Felizmente, achei Oscar de Oliveira que também era um homem ligado a Vale, mas aceitando essa posição, que a posição não era contra a Vale. A posição era de que poderia ser qualquer um que quisesse trabalhar direito e a Vale teria a sua vez nesse ambiente. E até havia uma certa estimulação para trabalhar melhor, e fazer um resultado melhor, e ampliar a sua conquista de mercado porque ela tinha competição interna. Nessa hora, então se afirmaram com as diferentes minerações particulares, as maiores, e todas elas passaram a competir pelos mercados e aumentou muito a exportação de minério brasileiro. O que também foi objeto de outro tipo de controvérsia, esse já meio no âmbito mais limitado porque não tinha muito cabimento. Era um grupo desses extremados nacionalistas que entendiam que os recursos de um país deviam ser preservados para uso do país. Então, você não devia exportar matéria-prima, não podia exportar minério porque você podia precisar desse minério para fazer aço para o Brasil. Agora, aí havia um contrassenso total, porque a quantidade de minério e ferro que o Brasil possui é de tal ordem que não havia Brasil para gastar internamente essa quantidade fantástica de minério e mais ainda você deixando de fazer divisas em um país que sempre teve que importar insumos que não tinha. Nós não tínhamos carvão, não tínhamos petróleo. Então, nós tínhamos que importar produtos como recursos criados pela exportação de produtos.
P/1 - Uma pergunta, nessa época, já se sabia de Carajás, do potencial da Amazônia?
R - Não.
P/1 - Nem se suspeitava?
R - Não. Havia um objetivo e isso sim foi uma coisa que eu lutei muito para estabelecer que foi o plano mestre decenal de recursos minerais do Brasil. É um amplo programa de pesquisa que incluía todo o território brasileiro, avaliando tudo quanto já era conhecido e estabelecendo um programa de pesquisa para o que não era conhecido. Esse é um programa decenal, eu fiquei três anos. Então, depois que eu saía, esse programa continuou. No bojo desse programa veio a descoberta do potencial de Carajás. Essa... Foi um resultado que me deixou muito feliz porque dentro das limitações de recursos que você tem nesse país é muito difícil você fazer programas que envolvam gastos elevados por muito tempo. Então, um plano mestre decenal, você tem muita dificuldade em fazer passar através de atualidades fazendárias, de planejamento, de congressos, tudo isso. Mas, foi possível convencer todo o mundo que tinha que haver um mapeamento de profundidade e rigor de toda a capacidade mineral brasileira. E esse foi um trabalho que, até hoje, dá resultados. Foi desdobrado depois em vários outros trabalhos, mas a quantidade de informações que ele proporcionou é fantástica. E ainda hoje nos beneficiamos muito do que foi levantado nesse período, né?
P/1 - Senhor Mauro...
R - Não é um trabalho da Vale do Rio Doce bem entendido, embora Docegeo, subsidiária de pesquisa da Vale, fizesse um trabalho dentro desse contexto que foi muito importante. Mas, esse é um trabalho do departamento nacional da produção mineral porque era um trabalho para todo o Brasil e para todos os recursos minerais. Agora, permitiu que a Vale tivesse oportunidade de conhecer recursos em minérios que ela não trabalhava e que passou então a interessar a trabalhar. Quer dizer, a diversificação da atividade mineral da Vale veio muito dessa fase. Por exemplo, ouro é típico. Não havia nenhuma perspectiva de ouro no Brasil, fora, aquelas conhecidas de Minas Gerais etc. Quando, de repente, você abriu o mapa do Brasil e viu a quantidade de ouro que nós tínhamos espalhados pelo Brasil inteiro, aí a coisa tomou outro aspecto, né? Ou aspecto, tipo atividade industrializada, ou a tipo de garimpagem. Serra Pelada, por exemplo, não era nem suspeitado nesse tempo. Então, muito recurso mineral desconhecido, né? Foi... Por exemplo, estanho, né? Cassiterita. Nós éramos importadores de cassiterita, né? Até que se descobriu que grandes áreas da Amazônia é um leito de cassiterita, né?
P/2 - Senhor Mauro, eu que queria fazer uma pergunta, quer dizer o senhor teve uma atitude bastante louvável de doar à Companhia Vale do Rio Doce, vários documentos, eu gostaria que o senhor contasse por que teve essa atitude, que tipo de documentos o senhor doou?
R - Bom, quando eu saí do ministério, eu tinha acumulado através da minha vida uma quantidade grande de documentos que eram meus, não eram do ministério. Eram documentos dirigidos a mim, encaminhados a mim e catalogados, arquivados por min. E nessa coleção de documentos havia uma grande parte relativa à energia elétrica, né? A parte toda relativa à formação e a estruturação da CEMIG e depois a parte referente à política de energia que foi traçada naquele tempo. Havia outra área de documentos justamente dessa fase das controvérsias de conceito, conceituais sobre mineração. Tinha muito documento nesse sentido e decisões, cópias. Por exemplo, ofícios que eu dirigia de um órgão para outro, respostas que vinham para mim e que eu tinha cópia. Uma grande parte desses documentos não são os originais, são cópias que eu tinha para o meu uso pessoal. Então, havia esses documentos e havia outros aí de menor volume que representavam a área de petróleo. E eu fiquei... Eu tinha uma casa grande, né? Aqui no Leblon e quando eu tive que mudar para um apartamento, tinha um cômodo mais ou menos como esse com a parede toda de arquivo, o que eu ia fazer? E também me ocorreu que eu ia morrer um dia. Eu pensava até que eu ia morrer antes do que eu ainda não morri, né? Então, eu não tinha assim muita ilusão de que eu ia viver muito mais. Mas, bom, eu morrendo, os filhos vão fazer o que com isso? Eventualmente isso vai ser dispersado. Nesses documentos, os pesquisadores podem descobrir algumas coisas interessantes. Então, fiz o seguinte, chamei a Memória da CEMIG, ela deu uma primeira olhada naquilo, “o que interessa a CEMIG, você leva”. A minha memória da Eletrobrás, “que você interessa na área de energia elétrica, pode levar”. Chamei a Vale do Rio Doce, eu devia até certo ponto ter chamado o departamento da produção mineral porque tinha muito de política mineral que não era política da Vale do Rio Doce. Mas, eu acho que a estrutura da Vale é muito superior e, vamos dizer, a confiança que ela inspira que vai tratar bem o patrimônio intelectual, fez com que dissesse... Eu não colocava assim: “Pega isso e leva!” Não. “Olha isso aí e vê o que vocês querem”. Selecionavam as coisas que... Eu chamei a Petrobrás, a mesma coisa. Quer dizer, então, eu dividi o meu acervo pessoal entre essas entidades e isso, mais ou menos, coincidiu com os depoimentos que cada um pediu que eu dar a cada passo, né? Eu fiz um depoimento para a CEMIG, que é o livro que eu vou dar para vocês, fiz um depoimento para a memória da Eletrobrás, esse que foi junto com CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, que eu também... Está em um livro que eu dou para vocês e o depoimento para a Vale, vocês agora estão estruturando minuciosamente a coisa pelo que eu estou vendo. A Vale não teve, não sei bem porque, não era na fase da transição para a privatização não. Isso foi uma fase anterior. Você vê que esses livros da Vale que eu trouxe, são anteriores a decisão de privatização. Mas, a Vale não consubstanciou na forma que a Eletrobrás e a CEMIG fizeram. E o CPDOC fez um documento lá de uma espécie de uma espécie de _______ e arquivou lá, também não sei. É uma coisa condensada que... Mas, então, vocês vão ver nesses documentos o conceito que eles deram a um depoimento que é diferente do que a Vale fez no passado.
P/2 - O que o senhor está achando de deixar o seu depoimento para o Projeto Vale Memória?
R - Eu acho muito bom, uma grande ideia porque você hoje tem o conceito da privatização do liberalismo econômico, vamos dizer, consolidado. Não pode haver mais uma expectativa de uma estrutura estatal monopolista de uma atividade... Nem a Petrobrás mais é monopólio. Então, dentro deste conceito de política econômica liberal, você tem que ter na estrutura da empresa uma capacidade de ação extraordinariamente flexível, grande, competente. Porque quem não tem competência, morre. Quer dizer, criou-se uma situação que não há mais proteção que, antigamente, uma empresa estatal podia ser incompetente porque ficava sendo sustentada pelo governo. Lembra que a Siderúrgica Nacional, hoje siderúrgicas estatais acidentais, consumia um milhão de dólares por dia para sobreviver. O governo tinha que dar o dinheiro todo mês para pagar a folha. Hoje, estão todas lucrativas. Por que? Porque quem não é lucrativa, fecha e vai embora. Quer dizer, é um conceito, vamos chamar de modernidade, mas é diferente do conceito do patrocínio estatal. Então, essa série de depoimentos permite estabelecer os fundamentos pelos quais as políticas são traçadas. No nosso caso, por exemplo, a síntese do depoimento é no sentido de que a égide era liberal, a estatização era supletiva, ao contrário de outro conceito de uma égide que foi a Constituição de 1988. A égide era estatal e a privatização supletiva. Então, é essa a importância que vejo que esses depoimentos permitem cristalizar os conceitos e dar convicção as ideias, né?
P/2 - Bom, para finalizar gostaria de fazer uma pergunta, quer dizer, o senhor tem uma trajetória profissional intensa e de atuação, se o senhor de alguma forma pudesse mudar algum trajeto, a sua trajetória, teria mudado alguma coisa dos rumos que deu a sua vida profissional, intelectual, ideológica?
R - Bom, vamos definir da seguinte maneira; sempre fui fatalista. Eu sou árabe, mesmo porque é meio perigoso ser árabe no dia de hoje, mas o conceito árabe do Maktub, do “estava escrito” etc., foi sempre a minha linha mestra. Eu sempre deixei acontecer. Curioso, nunca desejei nada na vida. Aí, eu escolhi a profissão, a mulher com quem eu casei, acho que nem o nome dos filhos... (risos) E muito pouca coisa mais do que eu queria, eu poderia querer fazer. Tudo quanto eu fiz, devo ter ocupado umas 50 ou 60 posições na minha vida, né? Cheguei a... Em geral, durante toda a minha vida, eu tinha duas, três coisas ao mesmo tempo que eu levava, e cheguei até seis, até me aposentar mais recentemente. Eu nunca pleiteei nada. Eu era chamado, ou para um almoço, ou para uma reunião e convidado. Aceitava ou não. E nunca me arrependi. Então, dentro dessa conceituação é muito difícil de dizer outra resposta de que eu não poderia mudar nada porque o destino estava... Eu fui para o ministério, como eu te disse, sem ter nenhum movimento da minha parte. Eu fui... Meu nome foi colocado na lista, eu fui escolhido, eu fui chamado, eu... Se você vai a ministro... Eu não fui diretor da CEMIG com 28 anos porque eu pleiteei ser diretor da CEMIG. Eu fui chamado pelo doutor Lucas Lopes que tinha as suas razões de acreditar que eu podia ser um colaborador de valor para ele e fui convidado para ser diretor da CEMIG. Quer dizer, eu não pleiteei nada, eu nunca pleiteei nada, desde o tempo de escola, não é? Eu não fui ser professor da Escola de Especialização da Aeronáutica porque eu quis ser, porque eu fui convidado. E assim por diante. Talvez eu... Eu não fui para o Banco do Estado de Minas porque eu quis ser banqueiro, que eu nunca pensei e não queria ser, porque me chamaram e convidaram. O governador Rondon Pacheco está vivo, é só perguntar a ele como é que foi, porque eu também não sei dos detalhes. Ele me telefonou e me convidou para ir lá e eu fui. E todas as posições que tive na vida, que se for fazer a relação, eu não saio daqui hoje, foram assim. Eu tive... Eu fui presidente de seis conselhos de administração de seis empresas. Não pleiteei nada. E a única vez que eu vou dizer, fui obrigado a pleitear por causa da estrutura da indicação que era a presidência da ABNT, foi para ajudar a salvar a ABNT, que não se ganha nada, só se ganha trabalho, para ajudar a resolver um problema crítico, a ABNT estava afundando. (risos). Então, aí então eu botei meu nome para ser eleito e fui, mas não era uma pretensão, mesmo porque o sujeito lutar para ter trabalho sem remuneração é ser masoquista. Então é isso, não mudaria nada porque eu não tinha o que mudar.
P/2 - Está bom. Gostaria de falar mais alguma coisa?
R - Não, acho que vocês estão de parabéns. Acho que a Vale do Rio Doce está de parabéns e espero que no contexto final destes depoimentos e informações que vocês obtêm, surjam as convicções necessárias para perseverar nas atividades empresariais que necessitam desses calços de convicção para que façam as coisas certas, de que estão fazendo a coisa devida na hora certa.
P/1 - Então, muito obrigada pela sua participação senhor Mauro, muito obrigada.Recolher