Projeto Vale Memória
Depoimento de Carlos Augustus Costa Pacheco
Entrevistado por Eliane Barroso e José Carlos Vilardaga
Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2001
Realização Museu da Pessoa
Entrevista: CVRD_HV095
Transcrito por: Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por Leonardo Sousa
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Projeto Vale Memória
Depoimento de Carlos Augustus Costa Pacheco
Entrevistado por Eliane Barroso e José Carlos Vilardaga
Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2001
Realização Museu da Pessoa
Entrevista: CVRD_HV095
Transcrito por: Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Nós começamos a nossa entrevista perguntando sempre o nome, local e data de nascimento do nosso entrevistado.
R – Perfeito. Carlos Augustus. Minha mãe gostava de falar Augustus, porque é difícil, né? Carlos Augustus Costa Pacheco, nasci em Vitória no Espírito Santo, no dia 29 de outubro de 1936. Quer dizer, esse ano eu vou ser idoso. 65 anos.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – Ah, sim. Meu pai chamava-se Filogônio Pacheco. E minha mãe chamava-se Valentina Costa Pacheco.
P/1 – E por que o seu nome é Carlos Augustus?
R – Você pergunte a minha mãe por quem que ela botou esse nome. Porque foi ela que escolheu o nome. Ela viu um navio italiano chamado Augustus. E resolveu botar Carlos Augustus. Só por esse motivo. Não tem mais nada. E me complicou minha vida toda, né? Você imagina os meus documentos como é que são.
P/2 – Esse navio ela viu em Vitória mesmo?
R – Não, não. Ela viu em um filme ou alguma coisa desse tipo. Eu não sei detalhe do como ela viu, mas o navio chamava-se Augustus.
P/2 – O senhor conhece um pouco a origem da sua família, quer dizer, um pouco a ascendência paterna, materna. Um pouco essa história?
R – Sim, sim. Do lado do meu pai a ascendência toda portuguesa. Inclusive meu bisavô nasceu na Ilha da Madeira. E meu avô nasceu em Lisboa. E meu pai já nasceu aqui no Espírito Santo, em Vila Velha que eu falei. Já da minha mãe, o pai e a mãe eram pernambucanos, entendeu? E que se radicaram em Vitória depois que ele se formou em Direito. O pai da minha mãe, quer dizer, meu avô.
P/1 – Eles eram de Recife?
R – Os dois eram. Quer dizer, o meu avô e minha avó por parte de mãe.
P/1 – E o senhor sabe onde os seus pais se conheceram?
R – É, agora eu não sei esse detalhe não. Esse aí eu teria que apelar para outra memória que não é a minha, é a do meu irmão. Que ele tem mais conhecimento disso. Porque houve uma defasagem grande da minha mãe, o meu irmão mais velho, o meu segundo irmão tem quase 10 anos mais do que eu. Quer dizer, foi muito tempo, quando eles saíram de casa eu fiquei sozinho, entendeu? Eles saíram com 19 anos de casa. Cada um foi cuidar da sua vida. E com 19 anos, eu tinha 9, 10 anos, eu fiquei sozinho. Então realmente eu não sei como eles se conheceram não. Mas garanto que foi em Vitória.
P/2 – Qual era a atividade do seu pai?
R – Meu pai era contador. Por acaso ele foi o primeiro contador do Espírito Santo, entendeu?
P/2 – Primeiro contador do Espírito Santo?
R – Ele recebeu até antes de falecer, homenagem de ser o primeiro, que chamava contabilista na época. O primeiro contabilista do Espírito Santo. E minha mãe sempre foi do lar.
P/2 – Seu pai fez a carreira toda em Vitória?
R – A carreira toda em Vitória. Toda ela sim. Ele sempre radicado em Vitória. Sempre.
P/2 – E você nasceu em Vila Velha?
R – Não, eu nasci em Vitória. Ele que nasceu em Vitória.
P/2 – Em Vila Velha.
R – Desculpa. Meu pai nasceu em Vila Velha, e eu nasci em Vitória.
P/2 – Como é que era a sua casa de infância? Descreve um pouquinho como é que era esse ambiente ___________
R – Ah, sim. Era uma casa que existe até hoje na Rua Sete de Setembro. A Rua Sete de Setembro é no centro de Vitória, entendeu? É uma casa que existe até hoje. Hoje é um restaurante. É uma casa bonita. Aliás eu não sei nem porque não foi tombada pelo patrimônio histórico lá. Porque é uma casa feita pelo meu pai. Ele tinha uma habilidade manual impressionante. Então ele comandou toda a execução da construção da casa. E era uma casa, você imagina, eram dois andares. Um andar de baixo, que ele chamava de “o porão”. O andar de cima tinha cinco metros o pé direito.
P/2 – ___________
R – Entendeu? Uma beleza. E a casa toda pintada com pintura à mão. Se você conhecesse a sala por exemplo, tinha pinturas lindas, lindas, lindas feitas a mão por um português que era pintor. Então o cara tinha uma dificuldade louca pra subir lá em cima. Porque cinco metros tinha que ter uma escada alta pra burro, né? E a casa era uma beleza, na Rua Sete de Setembro. E eu vivi até 28 anos de idade lá. Quer dizer, até a minha formatura e o meu casamento, entendeu? Eu vivi na Rua Sete.
P/2 – Essa parte de Vitória mudou muito desde a sua infância, essa região?
R – Não. Em termos de mudança era... porque a rua, por exemplo, era de barro naquela época. Agora ela é asfaltada direitinho e tal. Mas em aspecto de prédios eu acho que praticamente se mantém o que era antigamente entendeu?
P/1 – É próximo do mar?
R – É próximo da baía de Vitória. Essa Rua Sete, ela desemboca numa praça chamada Costa Pereira, no centro de Vitória que tem o Teatro Carlos Gomes, tem o Teatro Glória e logo a frente tem a Baía de Vitória, entendeu?
P/1 – E você ia muito? __________
R – Ah, não. Eu brincava muito ali, jogava futebol ali. E meu lazer era todo ali. Todo mundo conhecido, a gente, né? Os vizinhos todos conhecidos. Eram só casas, não tinham prédios na época.
P/1 – E além do futebol qual era ____________
R – Nadar. Eu gostava muito de nadar. Aí a gente, tinha um bonde que passava, gozado, em frente da minha casa tinha uma, a Companhia Central Brasileira que é hoje a Excelsior que é a geradora de energia lá do Espírito Santo. E a Companhia Central Brasileira era uma Companhia de ingleses e a garagem do bonde era ali em frente de casa, né? Dos bondes. Era uma garagem enorme. Recolhia todos os bondes ali. E na curva lá, passava quase em frente lá de casa, o bonde fazia o circuito nessa praça que eu te falei, Costa Pereira, perto do teatro Carlos Gomes e do Glória. E o bonde subia e ia para um bairro chamado Santo Antonio e o outro bonde que de lá ia pra Praia do Canto que era um outro bairro, outra região. Então a gente usava o bonde pra se deslocar com frequência e também pra brincar. Porque quando o bonde recolhia, a gente ia pra dentro da garagem do bonde. Brincar dentro dos bondes. Bater aquela, inclusive chamava motorneiro o cara que dirigia, o condutor era o cara que recebia o dinheiro. Esses caras ficavam danados da vida porque a gente virava o banco pra lá, fazia um barulho. Era: “Pá, pá.” Era coisa de criança mesmo.
P/2 – Eram bondes abertos?
R –Abertos. Completamente abertos. Só os bancos. Você sentava era fresco à beça. Muito gostoso.
P/2 – Pegava, tinha essa coisa de sair correndo ____________
R – Era pegar e saltar. Pegar e saltar... E não pagar. Porque quando a gente vinha dessa praça que eu falei, até a minha casa, não dava tempo do cobrador chegar lá no fundo Porque a gente ia lá pra trás. O cobrador vinha cobrando as primeiras filas e lá no fundo a gente não pagava e saltava. Era interessante sim.
P/2 – Saltava do bonde.
R – Uhum.
P/1 – E a convivência com os irmãos, sendo mais velhos? _______
R – É, essa aí, essa convivência eu lembro pouco, tá certo? Porque eu te falei, eles saíram de casa. Só depois de que eu, aí também, fui fazer meu curso superior é que eu passei a ter convivência. Porque um irmão meu, que era juiz, ele foi pra São Paulo. Ele ficou 10 anos em São Paulo. E quando voltou aí sim eu já estava estudando engenharia. O outro irmão era dentista, mas casou no interior do Espírito Santo, em Guaçuí. E eu tive também muito tempo longe dele. Depois sim, aí todos os dois foram, voltaram pra morar em Vitória, aí a convivência foi amiúde, entendeu?
P/2 – E dentro da sua casa, como é que era? Quem é que exercia a autoridade?
R – A minha mãe, claro. A minha mãe era danada. Era danada mesmo. O nome Valentina é fogo rapaz, você nem imagina. Ela que exercia tudo lá sim, sem dúvida. Meu pai era tranquilo, mais calmo. Mas a minha mãe ela era chefe da casa.
P/2 – Vocês tinham educação religiosa dentro de casa?
R – Sim, sim. Educação católica e ela procurava encaminhar a gente pra... Não era ferro e fogo. Ela orientava e a gente aí tinha liberdade pra escolher e ficar à vontade.
P/1 – E a escola era próxima _____?
R – Muito perto. A escola primária, né? A escola primária era no fim da minha ladeira, assim. A minha casa era no plano e depois vinha uma ladeira, nessa tal Rua Sete que eu falei no início. Então a escola era lá em cima. Eu fiz todo o meu primário lá. Era uma escola de uma professora chamada Dona Tutu. Ela era uma professora severissima. E era gozado, que eu me lembro agora, ela dava aula de tudo. A gente não tinha negócio de um professor pra português... Ela dava aula de tudo. E depois dali eu saí pro colégio estadual. Aí fui fazer, como era antigamente, a primeira série. Tinha um vestibular, que era o quinto ano antigamente, tinha um, era uma espécie de um pré vestibular pra entrar no ginásio. O ginásio começava na primeira série. Aí tinha até a quarta série, depois tinha o científico. Então todo o meu pré, o primário foi nessa escola lá da Dona Tutu.
P/2 – E você como aluno como é que era?
R – Não era um aluno ruim não. Era um aluno médio. De médio pra cima. Eu ficava ali entre os quatro primeiros. Nunca fui primeiríssimo, também não fui, fui bem mais da média, entendeu?
P/2 – Essa Dona Tutu, que era severissima, que tipo de severidade?
R – A severidade? A mulher tinha uma flecha. Ela trabalhava com uma flecha do lado. E a garotada, primeiro ano primário, segundo ano primário, quando conversava, porque a sala era muito pequenininha, era uma sala assim. Ela ia com a flecha e “pum” na cabeça da gente.
P/1 – E funcionava?
R – Funcionava. Claro, funcionava direitinho sim. A gente obedecia ela e ela impunha o rigor dela com a flecha. Quando precisava, evidentemente. Mas a flecha não doía não. Era só mais a ação dela pra saber que ela estava zangada com a ação que a gente estava fazendo.
P/2 – Tem mais alguma professora?
R – Não, não. Toda essa parte de primário foi com ela.
P/2 – E depois no ginásio tem algum professor que te marcou?
R – Bom, teve uma passagem interessante porque na terceira série ginasial, meu irmão foi ser meu professor.
P/2 – Seu irmão?
R – É, o segundo, o Renato. E ele dava aula de História. História Geral, na época. E foi muito interessante porque é uma sensação que eu vivi completamente diferente. Um irmão dando aula pra você, os colegas também achando que aquilo era um privilégio meu.
P/2 – Proteção.
R – Proteção, vai te proteger e tal. Esse foi um fato interessante. Ele era chamado professor Pacheco. E eu passei a ser o Pachequinho, porque era o mais novo. Outro professor interessante foi um professor de francês que eu tive, professor Francisco Generoso, porque ele colocava a gente... No colégio eram aquelas mesas, o professor ficava numa mesa alta em cima de um estrado, e ele chamava a gente pra arguir. Botava um aqui e outro aqui. Assim de frente. E começava: “Vamos declinar o verbo tal.” Aí: “Pá, pá, pá, pá, pá”. “Você agora o verbo tal. Presente, passado e tal.” Era interessantíssimo o jeito dele de tocar o francês dele, entendeu? A gente acabou aprendendo alguma coisa.
P/2 – Aprendeu?
R – Aprendeu. Deu pra aprender alguma coisa sim. Já inglês por exemplo, o professor era fraquíssimo e não puxou como deveria pra necessidade que a gente teria mais tarde. Isso foi no ginásio, no científico professores normais. Eu não tenho assim grandes lembranças não.
P/1 – E nessa época de juventude os amigos eram os mesmos?
R – Sim.
P/1 – Os mesmos ______________
R – Sim, os mesmos na minha rua. Porque os amigos se limitavam aos amigos da rua ali.
P/1 – E qual era a diversão __________ da juventude?
R – Até que idade?
P/1 – A partir dos 14, 15 anos.
R – Ah, sim. A diversão era, não tinha outra senão ser futebol e praia. Não tinha outra. Porque você não tinha televisão. Você tinha que se fazer as coisas na rua mesmo. E na rua as brincadeiras de rua, né? Porque tudo tinha uma época lá em Vitória, era interessante. E até, vamos dizer, a gente era mais atrasado na evolução da vida da gente então você tinha uma época que você jogava pião, tinha uma época que você soltava raia. Tinha uma época de jogar bolinha de gude. Tinha uma época que você jogava ferrinho, entendeu? Então essas brincadeiras você tinha época. Por exemplo: estava chovendo e o chão ficava úmido, era barro, então você jogava o tal do ferrinho. O ferrinho era um ferro de ponta pra você acertar no chão e ir caminhando pra cercar uma barca do outro e voltar pra sua, defender a sua. Era um jogo assim. O pião que você jogava com o chão duro, quer dizer, quando não chovia. Bolinha de gude também você jogava quando não chovia. Essas coisas assim. A gente aproveitava bastante, realmente. Não era só o futebol. O futebol era, vamos dizer, a coqueluche nossa.
P/1 – Algum time... ___________
R – Não, só com 15 anos já, um time chamado Fluminensinho. Que era um time da região também. E o dono era uma pessoa chamada Baianinho. Esse realmente nós jogamos lá e foi realmente onde a gente aprendeu muito. Porque ele era interessante, como se faz hoje em algumas escolas você só jogava no time dele se tivesse nota no colégio. Primeiro tinha que estudar, né, e segundo ter nota pra jogar no time.
P/2 – Ele conferia?
R – Ele conferia, conferia. Ele era muito exigente nesse aspecto. É, foi isso.
P/2 – E na praia como é que era a diversão de praia?
R – Na praia era tomar banho de mar mesmo. Ir pra praia tomar banho de mar e não tinha mais nada não. Não tinha outra coisa.
P/2 – E os bailes, os ___________
R – Ah sim, bom, aí já foi mais... A gente tinha os clubes lá em Vitória. Tinha o Clube Vitória que era o clube aristocrático. No centro do Parque Moscoso que é uma região central também. E era o clube mais bem frequentado em Vitória. Lá no lado oposto, quer dizer, no norte, no lado norte da cidade tinha o Praia Tênis Clube. Que era o clube também mais, como o nome está dizendo, mais de tênis. O pessoal que jogava tênis, que era muito pouco na época. Então os bailes gostosos eram no Clube Vitória e o Praia Tênis Clube era mais esportivo. Foi o primeiro a ter piscina, essas coisas. E que a gente frequentava também, era muito gostoso.
P/2 – Aí que ocorriam os bailes _____________
R – O baile mais no Clube Vitória. O Praia tinha também mas os bailes mais, bailes que você botava até smoking pra ir e tal. Festa da Primavera, essas coisas eram no Clube Vitória.
P/2 – Como é que eram as paqueras desse tempo __________
R – A paquera era exatamente nesses bailes, né, era nesses bailes que a paquera começava. Não tinha outro jeito não. Porque você tinha que ter um encontro. Ou era na praia ou então nesses lugares que você encontrava alguém. Porque na rua era muito difícil, muito difícil. Na rua você até passeava, mas era mais difícil realmente. Era onde tivesse uma concentração.
P/1 – E a Engenharia? O senhor fez como opção de carreira nessa época?
R – Eu gostava muito de matemática. E quando eu servi exército, eu fui trabalhar, depois que eu comecei. Eu fui trabalhar na tesouraria do Exército. Eu fui a cabo e aí me chamaram para trabalhar na tesouraria. E na tesouraria eu desenvolvi um bom trabalho, pelo menos o capitão lá achava que eu trabalhava direitinho e ele me incentivou. Ele era um capitão engenheiro do exército, né, ele disse assim: “Por que é que você não faz Engenharia? E tal. A escola está começando aí, dizem que está muito boa e tal.” E aquilo eu acabei fazendo. Primeiro eu fiz a Escola Militar. Eu tentei Agulhas Negras, mas eu fiquei reprovado. Eu não passei. Aí eu aproveitei que eu já tinha feito o cursinho pra fazer Escola Militar de Agulhas Negras, então eu fiz o vestibular Engenharia. Passei e segui Engenharia. E aí foi bom porque logo no primeiro ano eu falei, lá fora eu falei pra você que eu fiz estágio, quer dizer, já no primeiro ano eu fiz estágio no Departamento de Estradas de Rodagem. Quer dizer, a disciplina estradas é dada no quarto ano de Engenharia. Eu no primeiro ano já estava tendo noção, claro, noção de alguma coisa que eu ia aprender mais tarde que era como se constrói estradas. E o princípio de, e por coincidência depois eu fui pra Vale, o princípio de estrada de rodagem é muito parecido com o de estrada de ferro. Quer dizer, o traçado em si. E foi muito bom, por isso, essa primeira parte que eu tive de estágio. Dois anos, o primeiro e segundo ano de Engenharia lá no Departamento de Estradas de Rodagem.
P/1 – E esse estágio foi para a construção de uma rodovia específica ou...
R – Não, não. O Departamento de Estradas de Rodagem ele faz a manutenção das estradas do estado. Lá. Então eu era estagiário de algum engenheiro que projetava essas estradas, entendeu?
P/1 – E durou quanto tempo o estágio?
R – Dois anos. O primeiro e o segundo ano de Engenharia eu passei estagiando lá no Departamento de Estradas de Rodagem. E era muito bom, porque era remunerado. Quer dizer, você ganhava, vamos supor hoje, duzentos reais. Mas te ajudava bastante. Você que nunca tinha trabalhado, te ajudava bastante esse dinheiro que você recebia. Quer dizer, te permitia ir às festas, fazer as paqueras, etc.
P/2 – Nesse tempo no final da adolescência, entrar na faculdade você tinha alguma noção da Vale do Rio Doce, ela aparecia __________
R – Não, não, não. Só, a única noção que eu tinha da Vale do Rio Doce é como eu te falei, a minha rua desembocava lá na Baía de Vitória. Em frente a Baía de Vitória tinha uma coisa chamada Pela Macaco, que era o porto onde a Vale do Rio Doce embarcava minério para o exterior. Era ali em frente a gente mesmo. Era a única noção que eu tinha. Mas agora, dentro da escola de Engenharia, eu tinha porque a maioria dos professores era da Vale do Rio Doce.
P/2 – Eles eram da Vale? Os professores da faculdade?
R – Ah, o (Mansus?) que você falou era professor. O Clodoaldo que já morreu era professor. Arildo Zorzanelli, era professor. É, quem mais? José Himério era professor. França era professor. Então tinha uma porção de gente da Vale do Rio Doce que dava aula na Escola de Engenharia.
P/1 – E era uma turma nova, recente, o curso de engenharia ou...
R – É, eu pertencia a primeira, segunda... quinta turma formada lá em Vitória. Quer dizer, relativamente nova. Tanto que minha carteira CREA é 55D. Quer dizer bem... CREA do Espírito Santo, bem baixo meu número, né?
P/2 – Quais eram suas perspectivas profissionais? Assim, no seu tempo de faculdade o que você esperava?
R – Veja bem, aí depois desse estágio no DER eu fui fazer um estágio na Cesan que era o antigo Departamento de Água e Esgotos, lá. Bom aí eu me entusiasmei, eu digo: “É aqui que eu vou ficar. Eu acho que gostei desse negócio aqui.” E cheguei a ficar durante 6 meses depois de formado, em 61, eu cheguei a ficar... 62 aliás. Eu formei em 61, eu cheguei a ficar seis meses como engenheiro do Departamento de Água e Esgotos. E interessante, porque ali eu estava vendo o plano que se preparava para o estado do Espírito Santo. Na época o Departamento incluía todo o estado. Quer dizer, fornecia água, preparava, tratava a água e distribuía água para todo o estado do Espírito Santo em cada município. E esgoto muito pouco. Então naquela época já se preocupava, por incrível que pareça, com esgoto. O esgoto era um problema em Vitória, porque todo esgoto de Vitória caía na Baía. No caso de Vitória caía na Baía de Vitória, quer dizer, poluindo demais. E já se pensava em esgoto nessa época. Mas aí apareceu uma oportunidade na Vale do Rio Doce, me chamaram pra fazer um teste. E eu fui em julho de 62. Fiz. Quem me chamou foi o Clodoaldo. O Clodoaldo que foi meu professor, porque ele foi professor de economia e estatística, no quarto ano. Aí ele disse: “Você está aonde?” Eu disse: “Eu estou no Cesan” “Você está satisfeito?” “Não, eu estou satisfeito.” “Mas você não quer fazer alguma coisa na Vale? A Vale tem outra perspectiva.” Bom, aí eu já sabia o que é que era a Vale do Rio Doce. Eu digo: “Claro que eu quero.” E fui, fiz o teste e me contrataram. Contrataram por seis meses inicialmente. Era um contrato restrito _________ carteira profissional que eu te mostrei. Fui contratado, fiquei trabalhando com ele na área de custos e depois de seis meses apareceu um problema na Divisão de Materiais e o Clodoaldo disse: “Olha, você é novo e tal, mas você vai acertar um problema que eu tenho lá na Divisão de Materiais.” Porque os homens lá, eram dois senhores já de idade e que brigavam muito entre si, entendeu? “Então você vai lá, você vai ser o chefe deles e vai concertar aquela briga lá.” Eu disse: “Está bom, eu vou. O que é que eu vou fazer?” Fui, e daí eu fiquei nove anos na Divisão de Materiais lá da Vale do Rio Doce. Tentando acertar a briga lá do seu Anísio que era a parte de almoxarifado e de seu Elógio que era a parte de compras, entendeu? Mas graças a Deus correu tudo bem e a gente pôde aprender muito nesses nove anos de Divisão de Materiais. Porque você tinha, você imagina, o contato com o público era muito grande porque você tinha a área de compras. Compras para toda a Vale do Rio Doce. Porque naquela época você só tinha a Estrada de Ferro Vitória-Minas. Você não tinha Porto de Tubarão, você não tinha usina de pelotização, você não tinha nada. Era a Estrada de Ferro Vitória-Minas, transportando minério de Itabira até o porto. Esse Pela Macaco, que era o porto na Baía de Vitória. Então depois é que veio o Porto de Tubarão e depois é que vieram as usinas de pelotização lá em Tubarão. Mas nessa época que eu estou falando, que eu passei na Divisão de Material, de 63 até 70 e poucos, 72, a Vale do Rio Doce era concentrada praticamente na que a gente chama, Porto Velho que é em Cariacica. Próximo a Vitória, é um município da grande Vitória.
P/1 – Era uma função técnica ou administrativa?
R – Não, técnica-administrativa. Você imagina, você tinha naquela época, vamos dizer, 60 mil itens em estoque e você, na Vale do Rio Doce o controle de estoque era muito rudimentar. E a gente tinha que desenvolver alguma coisa nova pra você ter reposições automáticas, etc. Você não tinha computador ainda mas já tinha máquinas que te permitiam algum controle mais avançado para a época, dos materiais em estoque. E aí a parte técnica era exatamente essa: você desenvolver métodos que te permitissem o reabastecimento automaticamente. Ou pelo menos de modo mais inteligente do que era feito, mais no sentimento que era feito, entendeu, pelo pessoal de lá. O pessoal antigo de lá.
P/2 – Se comprava desde material, o setor de compras, desde material corrente até equipamentos especiais __________?
R – Tudo. A gente comprava, vamos supor, basicamente nas estradas, todos os sobressalentes para locomotivas. Sobressalentes esses que tinham uma parte nacional e a grande parte importada. Quer dizer, você participava de todo o processo de importação desses materiais. Você comprava muito no Brasil os componentes dos vagões ferroviários. Você comprava trilhos aqui, trilhos importados também. Porque começou a ser desenvolvido aqui pela Companhia Siderúrgica Nacional os trilhos nacionais e a gente tinha que fazer teste. E você participava ativamente do recebimento do material e a qualidade desse material nacional em comparação com o material que você importava. Então você comprava tudo quanto é tipo. Além disso você comprava papel higiênico, você comprava papel pra escritório. Você comprava tudo que tinha direito. Esses 60 mil itens englobava praticamente tudo isso.
P/2 – E centralizado pra toda a Vale?
R – Centralizado na época para toda a Vale. No início sim. Eu trabalhava no almoxarifado central. Que era a Divisão de Material, mas tinha a parte de compras e a parte de almoxarifado, entendeu?
P/2 – E importar? Como é que era importar nesse período?
R – Era complicado. Bem complicado. Porque você tinha um processamento de alfândega bastante moroso e a gente tinha às vezes, um equipamento estava parado, uma locomotiva parada por falta de uma determinada peça. E às vezes você chegava até a importar de avião. Que era uma coisa assim que você pagava uma nota, muito dinheiro pra importar a peça de avião dos Estados Unidos. O avião chegava, a peça chegava no Porto de Vitória, porque era liberado no Porto de Vitória, e você com o equipamento parado, demorava, daí é que o processo burocrático ia correr. E você demorava uma semana, dez dias pra liberar um material que chegou com um dia e pouco de avião. Um dia de avião. Então era complicado. Mas a gente tentava fazer da melhor maneira possível. O relacionamento com a alfândega era o melhor possível e a gente tinha livre acesso ao porto pra saber da nossa carga, etc. Mas era complicado. Era muito burocrático, sabe? Papelada era muito grande para liberar o material.
P/1 – __________________
R – Por isso chamava-se processo alfandegário, na época.
P/1 – E a comunicação com os fornecedores estrangeiros? Era por telefone, telex?
R – Era via, via telex na época, né? Via telex. A grande maioria.
P/1 – _______________
R – Porque essas compras de importação eram feitas no Rio de Janeiro. A gente transferia a requisição de compra por Rio de Janeiro e o Rio de Janeiro é que comprava. Importado só no Rio de Janeiro. A gente lá tinha o serviço de compra, mas pra compras nacionais. Quando era importado a gente só…
(Interrupção)
R – ...o material que você comprou foi importado assim, assim, chegou. Está tudo ok, tá bonitinho, pode ser usado. Pode pagar. Porque aí a gente liberava, na realidade era o pagamento.
P/2 – Esse período que o senhor estava na Divisão, quer dizer, é o período da construção do Porto de Tubarão, estavam construindo. Pra essas obras, tipo, de grandes obras você que comprava? Era o setor que comprava?
R – Não, não. Para o Porto de Tubarão especificamente foi criada uma, um setor para fazer as compras do Porto de Tubarão. Porque precisava de alguma coisa especial, né? Para a pessoa ter o controle. Quem coordenou Tubarão, que foi o engenheiro Hélio Ferraz, que já morreu também, ele criou essa estrutura lá em Tubarão pra fazer especificamente o Porto de tubarão.
P/2 – Para esses grandes projetos...
R – É, mas as grandes compras importadas sempre no Rio de Janeiro, né? Isso aí nunca deixou de ser.
P/2 – E o senhor fica nessa Divisão até...
R – Até 72.
P/2 – 72. E o que é que acontece?
R – Bom, aí eu fui para, foi criada, tinha a Divisão de Engenharia Industrial e achava que eu já tinha dado o meu tempo bastante lá. E queriam me promover. Antigamente para promover você tinha que mudar de área. E eu fui para uma Divisão que tinha um status maior em termos financeiros. Ela tinha um nível maior que a Divisão de Material. Então eu fui para a Divisão de Engenharia Industrial. Aí também foi uma época muito boa. Porque um trabalho completamente diferente,né? E logo depois que eu fui para a Engenharia Industrial eu coordenei um projeto com uma empresa americana. O Doutor João Carlos Linhares era Diretor de Operações no Rio de Janeiro. A Diretoria de Operações englobava a minha superintendência da estrada. Aí ele perguntou se eu gostaria, dentro da Divisão de Engenharia Industrial, de coordenar um projeto de Engenharia Industrial em oficinas. Eu falei que gostaria. E então ele fez um contrato com a empresa (Mainard?) nos Estados Unidos. Então os gringos vieram para cá para ensinar a gente a estabelecer padrões, tá? Então nós criamos uma, uma estrutura chamada Projeto (Mainard?) que a gente chamava Projeto (Mainard?). Dentro da oficina de vagões ferroviários em Itacibá. Itacibá é município de Cariacica ao lado de Vitória. Então nós fomos deslocados para lá. O que é que eu fiz? Era o coordenador e eu tinha seis engenheiros, os do Porto. Dois do Porto e quatro da Estrada de Ferro mesmo. E um de Itabira. Eles vieram para cá para Vitória e ficaram um ano e meio com a gente. Dentro da oficina. O que é que nós fizemos? Nós cronometramos todas as atividades da oficina de manutenção de vagões, entendeu, e estabelecemos padrões de acordo com a metodologia da empresa americana. Da consultoria americana. E foi um sucesso realmente, porque foi uma novidade aquilo. E a oficina passou a trabalhar com Ordem de Serviço. Por exemplo: você ia trocar um truck de um vagão. A parte inferior do vagão. Então você tinha uma ficha: “troca de truck do vagão”, tantos homens, gastando tanto tempo. Assim você fazia uma Ordem de Serviço para aquele serviço e você automaticamente já tinha o padrão estabelecido. Quanto tempo eles iam gastar. O supervisor da oficina era muito mais fácil ele trabalhar. Você está entendendo? Porque ele pegava a ordem de Serviço, separava os homens dele, já sabiam quanto tempo. Dava a ordem lá, em quanto tempo eles iam fazer aquele serviço. Porque já tinha o padrão estabelecido. E aferia o padrão inclusive. Verificava. O supervisor passava a ser supervisor mesmo. Porque antigamente quando nós chegamos na oficina o supervisor fazia. E aí ele passou a supervisionar realmente depois. Ele também aprendeu as técnicas e como se estabeleceu, por quê se estabeleceu um padrão, tá certo, de tempo. E ele então aprendendo aquilo, quando ele recebia uma Ordem de Serviço, ele facilmente sabia comandar os homens para fazer a troca, por exemplo de truck do vagão com aquele tempo pré-estabelecido. E ele ao mesmo tempo dava feedback pro pessoal da coordenação porque ele aferia se aquele tempo era realmente passível da execução do serviço, ou se podia até melhorar. Até ele fazia isso. Então foi um período que nós estabelecemos padrões de todas as operações dentro da oficina de vagões. Todas as operações existentes. O vagão chegava lá, né, eles tiravam a carcaça do vagão. Esse vagãozinho aí ó. Tirava a carcaça dele, a parte de ferragem. Tirava a parte inferior dele, que é chamado os trucks, né, os engates que é onde eles se acoplam um com o outro e faziam todas operações de manutenção do vagão. Às vezes você fazia até um novo. Quando tinha um acidente que o vagão chegava com a parte de cima toda estragada você fazia um novo mas aproveitava aquele número dele. Mas você tinha padrão para isso tudo. Trocar uma chapa, trocar todas as chapas, trocar os engates. Tudo você tinha padrão dentro da oficina.
P/1 – E quando esse padrão era ultrapassado, havia algum tipo de ___________? Era __________?
R – É, esse é o que eu te disse que era o feedback que o supervisor dava. Porque ele passou, depois que nós fizemos os padrões lá dentro da oficina, ele passou a ter um instrumento na mão que ele não fazia mais. Ele mandava fazer. Mandava fazer dentro daquele padrão. Mas ele, ele fazia aferição daquele padrão, entendeu? Se ele pudesse melhorar daí para a frente, depois nós largamos a oficina e fomos para Tubarão. E eles continuaram com o trabalho deles. Se ele pudesse melhorar, ele melhorava o padrão e comunicava a central da oficina, quer dizer, à chefia da oficina que o padrão tinha sido implementado, tinha sido melhorado por isso, por isso, por isso. Permitia a ele fazer isso, entendeu?
P/2 – E essa ideia da oficina era um piloto? _______________
R – Ah, foi, foi um projeto piloto lá na oficina. Como deu certo na oficina, nós fomos para Tubarão. Para fazer lá nas instalações de Tubarão, já no Porto, entendeu? Fazer também padrão lá. E gastamos mais um ano lá no Porto. Depois, porque o pessoal que fez na Estrada foi também para o Porto. E foi incorporado também gente do Porto. Quando eles aprenderam a mecânica da coisa aí eles passaram a desenvolver e eu voltei para minha engenharia industrial da estrada. Mas aí já não era mais Engenharia Industrial. Eu passei para um setor chamado Apoio Operacional. Porque aí englobava economia, englobava material, englobava relações humanas, né, relações do trabalho e englobava apoio. Porque nessa época a estrada fornecia alimentação. Então essa parte de apoio também na minha gerência. Isso por volta de 76 mais ou menos, 77.
P/1 – O acidente da foto, foi nesse período ou não?
R – Não, a foto do acidente foi em 79, se não me engano eu teria que puxar um pouquinho pela memória mas acho que foi 79. Aí eu estava nessa gerência de Apoio Operacional na Estrada de Ferro, e como ela englobava toda essa área de apoio, essa gerência de apoio operacional, então nos coube a responsabilidade de dar solução ao problema. Contratar, essa contratação que nós fizemos em São Paulo de helicóptero, entendeu? E olhar no local o que é que estava acontecendo. Dar condições a que as áreas operacionais, no caso era Via Permanente e Transporte. O Transporte que transportava e a Via Permanente é que preparava o leito da linha. Então dar condições à essas duas áreas operacionais de desenvolver o trabalho. Quer dizer, recuperar a linha no caso do acidente e colocar no mais rápido tempo, no menor tempo possível os vagões trafegando lá. Então o que é que a gente fazia? Contratava, se precisasse de equipamento de terraplanagem para fazer o serviço de reestruturar a linha, o leito da linha, a gente fazia isso. E deixava com a Via Permanente o acabamento. Quer dizer, o acabamento da Via Permanente era a parte de brita, os dormentes e os trilhos propriamente dito, né, que desapareceram nesse acidente, nessa enchente que houve em 79 e consequentemente com os acidentes. Porque a linha sumiu e os vagões trafegavam. Você não tinha jeito de saber o que é que estava acontecendo. Inclusive aquele acidente da fotografia foi a noite aquilo. O vagão, a locomotiva e os vagões caíram lá no buraco feito pela chuva. A linha desapareceu na realidade.
P/2 – O senhor ia pessoalmente nos acidentes? O senhor acompanhava?
R – Não, nessa eu fui. Nessa eu fui. Porque a minha função exigia isso. Para eu transmitir para o superintendente, que era o doutor Beleza, o que estava acontecendo lá na linha.
P/1 – E era um momento de tensão? Como é que...
R – Ah, era sim. Era, porque veja bem, a gente trabalhava sob muita pressão em termos de quantidade para exportar, ou seja, o minério que tinha que vir lá de Itabira e do ramal de fábrica para chegar no Porto de Tubarão. Os navios estavam lá esperando. Então você, o que se temia na época é paralisar a linha. Você não podia deixar de... Todo dia, 24 horas por dia o minério estava descendo. E você com uma interrupção dessa, você complicava a vida todinha. Então você tinha que dar solução o mais rápido possível. E a solução era o trem voltar a trafegar.
P/1 – E as equipes trabalhavam ininterruptamente?
R – Ah, ininterruptamente. De dia e de noite, entendeu? As equipes de manutenção no caso da Via Permanente trabalhavam de dia e de noite.
P/1 – Teve alguma história marcante nesse sentido?
R – É, deixa ver se eu lembro alguma história marcante. Acho que marcante mesmo é você levar uma pessoa com você, o próprio piloto, e ele olhar aquelas máquinas enormes caídas num buraco de lama, e ele se emocionar. Ele não tendo nada com a Vale do Rio Doce, entendeu, mas ele passou a participar do nosso problema com tal intensidade que ele chegava a chorar. Chorar assim, de se emocionar em ver aquilo que estava acontecendo e ver a dedicação que a gente tinha. Porque na realidade a gente participava intensamente. A gente dizia que a gente usava a camisa da Vale do Rio Doce nesses, e em todos os aspectos, né? E quando você tinha um acidente desse que te paralisava a Estrada de Ferro, a tensão era muito grande. Você participava muito mesmo. E ver um piloto de helicóptero, contratado, que não tinha nada a ver com a Vale do Rio Doce se emocionar com aquilo que estava acontecendo e com a dedicação que a gente tinha era interessante para nós, entendeu?
P/1 – E a que você atribui, por exemplo, esse “vestir a camisa”? Quer dizer, vocês sabiam dessa produção que precisava chegar a tempo para ser exportada? Quer dizer, haviam comunicados internos?
R – É, sabia, a essa altura, a gente participava dos programas da Vale do Rio Doce. Quer dizer, programas de exportação e do ______, que esses homens na época que pertenciam a diretoria da Vale, eles tinham origem, por exemplo, doutor Eliezer, doutor João Carlos Linhares, eles tiveram origem lá na Estrada de Ferro. Então eles sabiam transmitir muito bem para a gente, que éramos mais novos que eles e em função inferior, eles sabiam transmitir muito bem as necessidades, os compromissos que a Vale do Rio Doce tinha. O que era um contrato de exportação firmado pela Vale do Rio Doce com o Japão por exemplo. De chegar o minério numa determinada data lá. Então você participava daquilo totalmente. Você tinha noção exata de que aquele material que está sendo embarcado lá em Itabira ou no ramal de fábrica ele vai demorar um dia e meio para chegar no Porto de Tubarão. Vai ser carregado durante um dia num navio para aqui a 30, 40 dias chegar no Japão. E você participava muito desse cronograma todo necessário. E sabia da importância de chegar lá para você não ser multado. Você ter o seu contrato sempre em dia e não ter problema nenhum. Quer dizer, eles transmitiam isso muito bem para a gente, tá?
P/2 – E soluções tecnológicas, Pacheco, como é que elas chegavam? Fazia parte desse setor que você trabalhava?
R – Não, não. Esses não. Esse a gente só recebia informações. Porque toda solução tecnológica e em termos históricos você teve, na ferrovia eu estou falando, você teve a evolução locomotiva, que era uma locomotiva a vapor e passou a ser uma locomotiva diesel com outras características, com outras potências. E os vagões, que eram vagões menores. Que eram destinados naquele porto que eu falei lá...
P/2 – Pela Macaco.
R – ...o Pela Macaco, tá certo, que eles abriam por baixo. Eles eram, basculava em baixo para cair no Pela Macaco, dali cair no navio. Para cair no silo do Pela Macaco e cair dentro do navio, trocados por esses aí. Que eram vagões que basculavam no car dumper no Porto. Eles viravam para o minério cair numa correia transportadora para ir para o navio. Quer dizer, a evolução tecnológica foi tremenda nesses aspectos. E nos trilhos também, os trilhos passaram a ter um perfil maior exatamente para suportar a locomotiva maior. E a duplicação da linha que também foi feita de 68 pra frente ela te permitiu duplicar a linha e sinalizar a linha. Aí você já tinha outro tipo de operação na ferrovia, porque era uma linha dupla. Então os trens se cruzavam, os descendo com o minério, e os subindo vazio ou com carga. Porque tinha os trens de carga também e alguns trens de passageiro que eram dois por dia. Você tinha a linha duplicada então e sinalizada, quer dizer, eles cruzavam sem você ter a interferência como era antigamente. A interferência entre duas estações: esse aqui liberando para o trem que estava nessa estação aqui: “Pode subir!” Você passou a fazer tudo isso através de um centro de controle que era lá em Cariacica, em Porto Velho, que eu falei. No prédio da superintendência da estrada. Então a gente participava, quer dizer, eu não tinha ligação direta, eu só participava. Porque inclusive eu precisava saber, como eu era o gerente também da área de material, não era mais chefe da Divisão de Material. Mas também essa Divisão pertencia ao meu Departamento, eu tinha que saber quais eram as novidades tecnológicas para efeito até de reposição dos materiais.
P/1 – Quantas pessoas trabalhavam no, nesse transporte de...
R – Na estrada de ferro toda?
P/1 – É.
R – É, em torno de oito mil pessoas na estrada de ferro toda. Quando eu saí de lá para vir pro Rio de Janeiro já tinha um, já estávamos em 5700. Realmente você tinha, isso eu estou falando 8000, 8500 quando eu fui pra lá, tá? E depois se diminui para uns 5500 quando eu fui para o Rio de Janeiro em 87. É isso mesmo. E diminuiu exatamente pela evolução tecnológica da coisa.
P/2 – Tinha muitas pequenas mudanças, Pacheco, de peças, pequenos reparos na locomotiva, no vagão, pequenas mudanças? Uma pastilha, um freio. Esse tipo de coisa se alterava muito internamente, quer dizer _________
R – Você diz evoluíam tecnologicamente?
P/2 – Isso, tecnologicamente, é.
R – Muito pouco, muito pouco. Sabe por quê? Porque, esse material, a locomotiva sempre foi importada, então você dependia da evolução tecnológica lá de fora. O que você tinha, aí é diferente, eram os cabeças, aqueles empregados brilhantes que bolavam soluções técnicas para uma tirada de cabeçote da locomotiva ou uma colocação de filtro. Então eles bolavam uns equipamentozinhos na própria estrada ferro para facilitar o trabalho. Isso era muito interessante, a criatividade do empregado. Isso tinha muito, realmente.
P/2 – E havendo uma solução adotada isso se incorporava ao procedimento padrão para toda a empresa.
R – Ah, certo. Claro, claro.Vale dizer o seguinte, que nós estávamos conversando sobre engenharia industrial, sobre os padrões, ficou restrito à oficina de vagões, depois passou para Tubarão e o pessoal de Itabira implantou lá nas oficinas de manutenção dos caminhões grandes, também implantou padrões. Depois realmente eu não me lembro de ter mais padrão em lugar nenhum.
P/1 – E que mudanças tecnológicas são essas, não sei se você tem isso em mente, que ocasionaram essa redução de pessoal?
R – Você vê bem, a própria sinalização da linha com a duplicação, você tinha homens em cada estação. As estações, vamos supor, eram distantes uma da outra. Você tinha quinhentos quilômetros de ferrovia até Itabira. As estações eram distanciadas, da outra trinta quilômetros, quarenta quilômetros. Então você tinhas vinte estações ao longo da ferrovia. Nessas vinte estações você tinha o chefe da estação, você tinha o teletipista, você tinha isso. Pra funcionar 24 horas por dia, quer dizer, você tinha vários teletipistas, o chefe da estação, o substituto dele. Esse monte de gente que completava o contingente de uma estação com a outra estação vinte quilômetros distante, você tinha esse ______ por quê? Porque esse pessoal aqui liberava o trem daqui pra chegar aqui. Com a sinalização da linha e a duplicação você não dependia, esses homens não precisavam mais. Simplesmente eles desapareceram. Porque a estação, se era uma estação secundária que não tinha passageiro, porque as estações que tinham passageiro continuaram. Ou seja, simplesmente esse pessoal desapareceu. Ou foi aposentado ou, entendeu, saiu, etc, etc. Foi remanejado para as outras áreas, mas já eram pessoas idosas também, se aposentaram, saíram. Então você enxugou muito ao longo da ferrovia esse povo que, vamos dizer, que era o contingente de uma estação ferroviária. Porque essa estação passou a ser simplesmente passagem dos trens, as secundárias. E as importantes como Valadares, a estrutura dela continuou com o mesmo pessoal. Mas se você imagina vinte, trinta estações aí perdendo o seu contingente, realmente você diminuiu muito. A manutenção da via era feita manualmente, quer dizer, os caras pegavam o trilho, levantavam o trilho, aquele monte de gente para fazer troca de trilho, etc. Depois você já tinha equipamentos novos. Equipamentos importados e que eles faziam essa manutenção muito mais rápido e com muito menos gente. Porque o próprio equipamento levantava o trilho, tirava o trilho e substituía, esse tinha guindaste e botava o trilho no lugar. Quer dizer, você tinha pouca gente pra na realidade fixar o trilho. Antigamente você tinha gente para tirar o trilho, etc. Então tudo isso foi diminuindo o contingente da estrada de ferro, entendeu? Com esses avanços tecnológicos. A locomotiva mesmo, outro exemplo, ela tinha o maquinista, o auxiliar do maquinista e uma terceira pessoa dentro da cabine. Depois de muito tempo se verificou que o auxiliar e o outro que ficavam na cabine não precisava mais. Só o maquinista resolvia o problema. Então você já perdeu dois em cada trem. Ou o pessoal ia embora, a Vale pagava os direitos de cada um ou era remanejado para outra área.
P/1 – Sempre dentro da ferrovia?
R – Sempre dentro da ferrovia.
P/2 – Essa mão de obra da ferrovia ela tem algum perfil? O senhor citou que estava __________
R – A mão de obra mais, no contingente de 8000 e pouco?
P/2 – É, tem um perfil de __________
R – É, tinha um perfil de pouca instrução. A que fazia manutenção da via tinha um perfil de pouca instrução, mais braçais. E o pessoal de estação, não. O pessoal de estação tinha que ter um certo conhecimento de telégrafo e depois as comunicações melhores de telex, né, que depois foi implantado telex. Basicamente o que você tinha era isso. Depois, bom, depois vieram as telecomunicações. Tinha uma área própria de telecomunicações. A telefonia, fax e não sei o quê. Fax, ainda não. Mas telefonia e telex, e que era um pessoal mais especializado ao longo da ferrovia. Você tinha basicamente o pessoal da operação ferroviária que era um pessoal que dirigia trem e que se preocupava com todo o movimento ferroviário. Você tinha o pessoal da Via Permanente, que é o pessoal que mantinha a linha férrea. Você tinha o pessoal de Apoio que era o meu pessoal, nessas áreas todas de economia, relações humanas, etc, etc. Você tinha o pessoal de eletrotécnica que dava apoio já quando a linha foi sinalizada. E só. Porque quando tinha o porto tinha o pessoal portuário. Mas depois que Tubarão apareceu aí esse pessoal foi para Tubarão. Tubarão passou a ser uma superintendência independente. Superintendência do porto. Aí ficou: superintendência do porto, superintendência da estrada, e superintendência das minas. Eram as três que eram mais ou menos iguais. Antes de Carajás. Então foi mina, porto, estrada. E depois veio a pelotização. A superintendência de pelotização com as usinas de pelotização.
P/1 – A relação entre as superintendências todas, como é que funcionava?
R – É, os três chefões, né?
P/1 – Três _______________
R – Doutor Beleza que foi superintendente até morrer, no porto Hélio Ferraz que foi superintendente depois de Zé Carvalho. Eu não sei se o Zé Carvalho já veio aqui. Que Zé Carvalho é uma figura que eu recomendo porque... Ele já veio?
P/1 – Vai vir.
R – Vai vir, né? O Zé Carvalho é uma pessoa que sabe, aquele sabe contar os casos da ferrovia e do porto também, porque ele tem jeito para isso. Ele é muito gozado mesmo. É um, ele é do Rio Grande do Norte. Então ele é muito, muito interessante. Meu amigo, meu amigo particular. Ele mora em Guarapari atualmente. Descansa lá em Guarapari. Mas então era o porto com o seu superintendente, o senhor, o Hélio Ferraz que foi o criador de lá, e depois o Zé Carvalho, depois outros superintendentes. A estrada sempre com o Doutor Beleza e Zé Himério na cola dele. Criaram até uma superintendência adjunta e botaram o Zé Himério lá. Porque o Zé Himério era o homem da Via Permanente, era quem conduzia toda a parte de infraestrutura da estrada de ferro. E a mina que era o Hélder na época, era o superintendente. Depois o Schettini que foi presidente da Vale. Diretor da Vale e Presidente. Então as três superintendências eram equivalentes. E o Doutor João Carlos Linhares que era o diretor de operações, era o chefe dos três, no Rio de Janeiro. Às vezes pegava as coisas, mas eles se davam muito bem. Depois veio a pelotização aí ficou mais dividida a coisa. Porque Tubarão ficou uma área com duas superintendências, um peso grande, Tubarão, né? Até que hoje por exemplo, está tudo lá em Tubarão. Não tem praticamente nada da estrada de ferro antiga onde era.
P/2 – E que tipo de pega acontecia? Que tipo de situação que acontecia?
R – Ah, cada um queria mandar mais que o outro, não tinha dúvida disso. E era cada xerife de todo tamanho. O Hélio sempre foi uma pessoa espetacular, mas a posição dele era dele. Ele tomava a decisão e acabou. O Doutor Beleza já era um homem vivido, e conhecendo aquilo tudo. Muito amigo do Doutor Eliezer Batista. Muito amigo, amicíssimos. Então a pessoa tinha medo de mexer com o Doutor Beleza nesse aspecto, sabia que ele tinha costas largas. E não precisava disso não. Porque ele era uma pessoa que ele se impunha naturalmente. Até pelos anos que ele tinha naquela Companhia. E lá na mina era mais afastado, quer dizer, a gente não tinha muita... Só em termos de integração assim: quando tinha OliVale, essas coisas. Mas a mina ficava mais separada, em Itabira. Não tinha muito contato com a gente.
P/1 – O que é que era OliVale?
R – OliVale era a Olimpíada da Vale.
P/1 – Quanto tempo o senhor _______ da OliVale?
R – É, a OliVale foi uma ideia nossa também. E foi particularmente desse pessoal que era de apoio operacional. Por que não a gente fazer um intercâmbio com mina e com porto, fazendo jogos, né, então se criou a OliVale. Olimpíada da Vale do Rio Doce. E houve pelo menos umas quatro ou cinco, entendeu? Hora era em Tubarão, hora era em Valadares, hora em Itabira. Se pensou até numa OliVale lá no, já existia Carajás. Mas eu acho que não houve essa OliVale, não. Mas era muito gostoso, muito mesmo. Porque a integração era muito grande. Você não tinha, todo mundo participava. Desde que fosse esportista participava. Homem e mulher.
P/1 – E quais eram as...
R – Os esportes?
P/1 – __________ de esporte?
R – Futebol, vôlei, basquete, natação. É, esses esportes mais difundidos e que você tinha condição de numa área confinada, como Itabira por exemplo, que tinha essas quadras todas, ginásio etc, de fazer. Tubarão também, a gente tinha lá e Vitória também tinha. Que a gente alugava clubes, entendeu, pra fazer. No caso de Vitória.
P/1 – E você participava de que modalidades?
R – Futebol. Eu gostava de futebol. Eu jogava minha peladinha lá com o pessoal.
P/1 – E em algum momento o seu time ganhou, _________________?
R – Eu acho que nós fomos vice-campeões na primeira OliVale. Vice-campeões. Perdemos pra Itabira. Itabira tinha um time forte mesmo. Agora nosso time de basquete era muito bom, da estrada de ferro. Muito bom mesmo. E o time de voleibol muito bom mesmo. Esse eu tenho certeza que foi campeão em pelo menos duas OliVale.
P/2 – E o Desportivo Ferroviário, tem uma relação?
R – Ah, sim. Aí o Desportivo era um troço interessante. O Desportivo foi fundado em 63. Era um time da Vale do Rio Doce. Foi interessante essa história porque a Vale tinha um time chamado...
P/2 – Valério Doce?
R – Não, não. Valério era em Itabira. Em Itabira só tinha um time. Mas em Vitória, quer dizer, entre Cariacica, grande Vitória, né, e Vila Velha tinham três times da Vale do Rio Doce. Se diziam da Vale do Rio Doce. Aí eu, a Diretoria da Companhia disse: “Não, vocês vão fazer um time só, junta esses três faz um time só que nós vamos dar o apoio.” E aí em 63 surgiu a Associação Desportiva Ferroviária Vale do Rio Doce. A Desportiva Ferroviária. E aí fez-se um time, a Vale cedeu um terreno, onde é o estádio da Desportiva hoje e o time, os outros times acabaram e fez a Desportiva. Mas a Desportiva era nomeada pelo João Carlos Linhares, ele que era diretor e dizia: “Você vai ser o presidente, você vai ser o presidente.” E em 75 como eu tinha muito contato com ele por causa do projeto (Mainard?), que eu te falei que ele me convidou para isso, eu falei aqui, aí ele disse: “Agora é sua vez de ser presidente da Desportiva.” Eu não tinha jeito, né, porque você trabalhava o dia inteiro e depois do expediente você dava a sua cota para a Desportiva Ferroviária. Contratar jogador, técnico, era umas coisas assim malucas. Mas eu fui dois anos, 75 e 76.
P/1 – Mas chegava a disputar campeonato?
R – Campeonato Brasileiro, minha filha.
P/1 – É.
R – Eu fui com a Desportiva, eu fui a Porto Alegre jogar contra o Grêmio, entendeu?
P/2 – Ganhou?
R – Perdemos de cinco a um. Fizemos um a zero no primeiro tempo, depois o Grêmio fez cinco. Fomos à Caxias do Sul jogar contra o Caxias. Lá houve empate. E com o Santos na Vila Belmiro. Isso numa turnê do campeonato brasileiro. Que a gente viajava e aí tinha que fechar a viagem para aproveitar a passagem. Então jogamos com o Santos em Vila Belmiro e também empatamos de um a um. Mas a Desportiva se classificou lá em décimo sexto, décimo sétimo. Mas era primeira divisão nessa época. Nós, o presidente antes de mim foi o Donaldo, que eu falei. Donaldo Fontes. E o Donaldo levou para lá na época o Fio Maravilha. Jogou na Desportiva. Foi uma época interessante. Eu particularmente levei o Suingue. O Suingue era jogador do Fluminense, era um belo jogador. Depois ele gostou tanto de Vitória que entrou na Vale do Rio Doce. Ele trabalhou. Ele foi agente de segurança industrial.
P/2 – ___________
R – Se aposentou na Vale, e mora lá perto, lá de Vitória?
P/2 – É mesmo? Ele _______________?
R – É, é. Trabalhou na Vale, o Suingue. E era um belo jogador, belo jogador mesmo. Então eu passei dois anos como presidente da Desportiva trabalhando normalmente. Isso aí não tinha escapatória não. Você tinha que tirar do seu tempo de lazer ou da sua família para dar à Desportiva.
P/1 – ________
R – Isso era regra certa. E atender imprensa, essas coisas todas. Você marcava uns horários doidos. “Olha, a partir de seis horas pode vir aqui que a gente atende.” Os jornalistas ficaram danados da vida. Porque aí a notícia era só para o dia seguinte. Não tinha televisão. Quer dizer, se tinha era muito incipiente ainda, em 75, em termos de você estar botando notícia na televisão. Os programas locais por exemplo eram poucos. Então era jornal mesmo que tinha que sair a notícia. E o cara te entrevistava à noite, queria saber das novidades e tal, principalmente em época de campeonato brasileiro. Contratação de jogadores e tal. Aí queria a notícia mas só podia dar para o dia seguinte. Porque a entrevista era depois de seis horas da tarde. Era interessante.
P/1 – E depois da estrada de ferro, o senhor foi para onde? O senhor foi ____________?
R – Ah, sim. Depois dessa maratona toda me chamaram para o Rio de Janeiro. Eu já tinha recebido um convite. Na minha carteira profissional tem até que eu fui transferido para o Rio em 67. Mas é mentira, eu não fui não. Depois eles anularam a transferência, que eu ia para a área de compras lá. Mas aí eu não fui. Eu fui convidado, o presidente da Companhia era Raimundo Mascarenhas em 86. E no final de 86 ele me convidou para ser... o Paulo Augusto Vivacqua, que eu não sei se ele já veio aqui, o Paulo Augusto ia sair porque ele ia fazer um projeto específico em Carajás. E eu fui para superintendente de planejamento e orçamento da Vale. Aí passei 87, 88, 89 e 90, quando eu me aposentei. Fiquei 4 anos lá nessa superintendência. Aí foi uma experiência fabulosa porque nós participamos. Primeiro de um projeto de, chamava “redução de despesas” da Vale do Rio Doce. Muito interessante. Você se envolvia com toda a Companhia e elaborava projetos na área de material, na área de pessoal, na área de serviços diversos, de contratos. Tudo para, com o objetivo de diminuir aquelas despesas. Aprofundar naquilo para verificar o que é que era excedente ali que você podia capar. E o outro aspecto esse projeto foi um sucesso. Nós passamos três anos nele.
P/2 – Economizaram? ______________
R – Economizamos. Houve bastante economia, entendeu? Eu de cabeça não sei os números mas tenho isso registrado. E depois a oportunidade que me surgiu foi de fazer o planejamento, o primeiro planejamento estratégico da Vale do Rio Doce. Nós passamos um ano e meio para fazer o planejamento de 89 a 2001, entendeu? Vinte anos. Vinte anos?
P/2 – _____________
R – Não, a 2009. 89, 99...
P/2 – 99, 2009.
R – 2009. A 2009 entendeu? E esse planejamento estratégico foi um documento que foi distribuído em toda a Vale do Rio Doce. Em várias, tinha o completo, né, com os detalhes todos.
P/1 – __________
R – Um menorzinho que pertencia aos superintendentes e o resumo, que aí foi distribuído a todos os empregados da empresa para ter ideia de que é que a Vale pensava em vinte anos na frente. Foi uma experiência muito boa porque nós tivemos contratação de consultorias aí diversas, entendeu? E você pode então trocar opinião e sentir as técnicas para fazer um planejamento estratégico. Eu acredito que foi um sucesso, ou talvez o trabalho mais interessante que eu participei na Vale. Mais até que o, que eu considerava o de engenharia industrial da (Mainard?), porque era uma novidade para a gente, mas o planejamento estratégico da Vale realmente foi um... E esse planejamento com uma condição de ser atualizado de dois em dois anos, né? Quer dizer, eu saí em 90 ele estava em pleno vigor. E depois eu fui para o conselho de administração. De 90 a 93 eu fiquei no conselho de administração da Vale. Aí já é escolha do presidente da república. Ele escolheu, queria botar um capixaba, entendeu, no conselho de administração. E aí pelo meu currículo fui escolhido. E passei três anos lá com, com o Agripino na presidência e depois com o Wilson Brumer na presidência da Vale.
P/1 – Agora nesse plano orçamentário, né, as metas vêm sendo cumpridas? Essas expectativas, quais os prognósticos?
R – Você diz no planejamento estratégico?
P/1 – ________, é no planejamento estratégico?
R – Eu realmente a partir de 93 eu não sei o que é que, como é que foi feita a atualização, o que é que mudou. Agora que a Vale privatizou eu sei que mudou bastante. Porque o que a gente pensava em termos de celulose a Vale não pensa mais, não quer mais ter celulose. Está vendendo toda a celulose dela. Toda a fábrica de celulose. Já vendeu a participação na Bahia Sul, já vai vender aqui a Cenibra. Então na época você tinha uma parte de planejamento estratégico na parte de alumínio, tinha lá suas metas, suas coisas direitinho. Na parte de celulose, na estrada de ferro, na mina, etc, etc. Mas realmente com ela privatizada eu não sei em que pé anda o planejamento estratégico da Vale.
P/2 – O senhor entrou nesse planejamento como era por setor, então ___________
R – Não, porque a minha superintendência que coordenava. Mas é o planejamento da Vale como um todo, inclusive DoceNave, entendeu? Quer dizer, as subsidiárias também entravam no... as coligadas, controladas e subsidiárias entravam no planejamento estratégico da Vale como um todo.
P/1 – E esse planejamento é, na verdade é um planejamento das atividades, do orçamento?
R – É um planejamento dos investimentos da Vale do Rio Doce, entendeu? O que é que ela ia investir na área de celulose. Então aquilo levantava até o ano 2010. 2009. O que você vai fazer ano a ano, por que vai fazer, entendeu? A justificativa econômica de por quê vai fazer. Mesma coisa na mina. Por que é que vai fazer na mina. Então o planejamento de cada área da Vale do Rio Doce a longo prazo.
P/2 – Quem que levantou essa ideia dentro da Vale? Como é que surgiu? Foi o primeiro planejamento, né?
R – Foi o primeiro planejamento.
P/2 – Como é que surgiu essa ideia de...
R – Deixa eu ver. Bom, eu me lembro que o Raimundo Mascarenhas morreu em 87, eu acho. Outubro de 87. Você pode dar uma olhada e conferir. Ele, quando nós fizemos esse programa que eu te falei de redução de despesas, foi feito na época dele logo que eu cheguei no Rio em 87. Janeiro de 87. E nessa época já se sentiu necessidade de alguma coisa mais ao longo prazo. Porque aquilo tudo era pra ver num instante. Reduz aqui, reduz ali, reduz aqui. Mas para você ter uma visão mais na frente, e aí se começou a trazer para fazer palestras. Quem mexia com planejamento estratégico. E na época eu me lembro que a Petrobrás tinha planejamento estratégico.
P/2 – ___________________
R – Nós visitamos a Petrobrás para ver como é que era, quantos anos. Porque sempre se pensou em fazer coisa longa, né? Vinte anos. Para você ter um horizonte bastante longo de tal forma que aquilo era condição sine qua non de dois em dois anos você passa a atualizar. Porque as coisas mudam, né? Então eu acho que a ideia foi do Mascarenhas mesmo.
P/1 – E no ___________ como a ________ inflacionária ela era calculada, ela era prevista? Ou isso não....
R – É, você tinha o problema inflacionário todo ele equacionado dentro do planejamento estratégico. Como você fazia toda a despesa, todo o investimento em dólar isso pouco influenciava no planejamento em si. Você tinha: eu vou expandir a fábrica de alumínio do Maranhão ou da Serra Norte lá, eu vou expandir a capacidade de um milhão de toneladas para dois milhões de toneladas antes de 2000. Eu vou investir dez milhões de dólares. Então era dólar. Como a Vale também faturava, 70% do que ela faturava era em dólar, então a coisa ficava mais ou menos fácil de fazer. Mas era tudo em dólar realmente.
P/2 – Em linhas gerais é possível o senhor traçar o espírito desse planejamento? Um critério? Qual que era um pouco essa direção da Vale ________?
R – Bom, é assim. O básico era o seguinte: em cada atividade da Vale você se reunia com especialistas daquela área. Vamos supor: pelotização, você se reunia com especialistas passava um, dois, três, quatro meses e você definia os pontos fortes e os pontos fracos. Nos pontos fracos como é que você podia fazer ao longo tempo para quebrar esses pontos fracos. E ao longo do tempo no pontos fortes como você poderia melhorar esses pontos fortes. Basicamente o planejamento estratégico era em cima dessas duas análises, entendeu? E como os caras eram especialistas da área eles tinham muita coisa para te fornecer. Muito material mesmo. E tinha um grupo como vocês estão fazendo aqui comigo, que anotava, gravava. Gravava não, porque não gravava. Mas anotava tudo, tal. E depois que você fechava vamos dizer o horizonte da pelotização, vai crescer, vai ter mercado, vai ter isso, análise de tudo, você fechava e apresentava para as pessoas. “O que é que você acha?” “Não, tá bom. esse aqui não, tal.” Você ajustava. Então você partia então, primeiro planejamento estratégico do ano de 89 até 2009 da pelotização. Da superintendência de pelotização. Então ali tudo, dentro daquele documento todo, estava o que a gente pretendia, o que se pensava o que era bom para a Vale do Rio Doce em planejamento a longo prazo para a área de pelotização. Mas sempre baseado primeiro nas técnicas que você recebia de fora, segundo os especialistas da área. Então você tinha certeza de que a coisa era boa. Porque você estava calcado em informações. Primeiro você tinha a técnica para fazer a coisa. Segundo, você estava calcado em informações e pessoas que eram especialistas no assunto. Terceiro, você discutia com outras pessoas da cúpula da Vale do Rio Doce aquele assunto. Uma visão mais na frente. E voltava para essas pessoas mostrando o que é que você achava daquilo que foi conversado. E eles aprovavam e você então imprimia. Quer dizer, passava para o papel dizendo: “Esse é o planejamento da pelotização.” Isso você fez para alumínio, para celulose, para madeira de um modo geral. Você fez para minério de ferro. Você tinha áreas de negócio que era chamado na época.
P/2 – Foi feito por área de negócio?
R – Por área de negócio. Exatamente.
P/1 – E quanto tempo durou para...
R – O planejamento, esse primeiro, um ano e meio. Para sair o documento. Ele saiu em 89. Nós começamos em 87.
P/2 – Em algum momento se vislumbrava já a privatização? Nesse momento, ou...
R – Vislumbrava. Porque a gente tinha umas cabeças muito boa. Eliezer Batista na presidência. Nós sentimos que o governo... O primeiro momento foi quando o governo pela primeira vez colocou um presidente lá. Que foi o.... meu Deus, morreu ele... me fugiu o nome dele. Foi em 75, ele era presidente da Vale. Um mineiro.
P/2 – Não é o Roquete?
R – Roquete! Roquete Reis. Então quando o governo, quer dizer, para nós aquilo foi intervenção. Porque o presidente da Vale era natural. Era da Vale mesmo. Técnicos da Vale, que conheciam a Vale. Por isso que eu falo da camisa, entendeu? Porque você sempre tinha que... você estava acostumado já. Aí de repente vem um cara de fora, com a estrutura de fora, com a confusão danada de fora. Aí passou a se preocupar, né, depois que ele saiu voltou o Eliezer, tudo bem. Mas passou a preocupar. Tinha uma preocupação. Em 87 nós já conversávamos sobre possível privatização. Conversávamos nas reuniões de superintendentes da Vale, entendeu? Que eu já era, já estava no Rio nessa época.
P/2 – Era um papo mas era informal _____________
R – Informal, só entre nós. Da conveniência e como ficaria a Vale privatizada. Até que saiu a privatização mas aí eu já não estava mais lá não.
P/2 – No seu tempo de conselho isso foi discutido em algum momento?
R – Não, não foi não.
P/2 – No seu tempo de conselho quais são os grandes debates? O senhor lembra os grandes debates do conselho?
R – Bom, na época a preocupação do Wilson era realmente aumentar a receita, isso aí... Duas preocupações eu acho que o Wilson tinha: aumento da receita e contratos em outros países, que não o Japão que era firme, a competição com a Austrália que era muito grande; e a melhoria tecnológica do empregado da Vale, entendeu, ele tinha uma preocupação muito grande em dar capacitação cada vez maior ao empregado da Vale. Isso eu lembro que era um programa muito levantado por ele.
P/1 – __________________________
R – Exatamente, exatamente. E dar capacitação mesmo ao empregado. Intensificar o treinamento dele nas áreas de computação, etc, etc. Informática, né?
P/2 – Como é que eram as reuniões do conselho nesse período? Como é que elas funcionam?
R – Você tinha representantes do Governo. Você tinha representantes dos Estados. Tinha o estado de Minas que era um peso grande. O Governo tinha dois conselheiros na época indicados pelo próprio Governo. Ministério de Minas e Energia. E então o bom é porque as pessoas conheciam pouco da Vale. Eles mesmos diziam: “Nós estamos aqui para aprender.” E você que foi superintendente. Porque eu fui superintendente na época do Wilson. Depois eu fui pro conselho logo depois e o Wilson era o presidente, então para mim era muito fácil, ajudar o Wilson. Ajudar conversando com os conselheiros, que a gente se reunia. Um debate de, a pauta da reunião vai ser essa aqui. Então alguma coisa que tinha que decidir e que necessitava de um apoio maciço a gente conversava antes com esses conselheiros dizendo: “Isso aqui é importante para a Vale, por isso, por isso, por isso.” Você dava um auxílio bom. então era fácil. A reunião em si transcorria muito tranquila. Eu nunca tive nenhum problema nesses três anos que eu fiquei no conselho, de discussões mais acaloradas ou qualquer coisa. O conselho era um conselho produtivo. Sinceramente produtivo, tá?
P/2 – Mesmo os homens do Governo?
R – Mesmo os homens do Governo, porque eles, a gente mostrava para eles fatos que não tinha jeito, né? A Vale do Rio Doce o que era, a mentalidade da Vale. Esse negócio da camisa que eu sempre achei muito importante. Então você convencia as pessoas com os argumentos e com os fatos que você tinha à mão.
P/2 – E depois que você sai do conselho qual que é um pouco a sua trajetória?
R – Bom, aí eu fui para, voltei para Vitória em 93. Não, em 90 eu fui para Vitória. Eu fiquei no conselho 3 anos mas como eu te falei eram viagens esporádicas, reuniões todo mês. Ou quando necessário. Aí eu fui para Vitória, eu fiz uma empresa de construção civil. Voltei a ser engenheiro civil com um amigo meu lá. Trabalhamos uns dois anos construindo prédio e fazendo reforma, essas coisas todas.
P/2 – ______________________
R – É. Exato. Lá em Vila Velha mesmo, fizemos a prefeitura de Vila Velha. Depois, aí essa filha minha Carla se formou em turismo e minha atual esposa ela trabalhava numa empresa do Albuíno. Albuíno Azeredo que foi governador do Espírito Santo e trabalhou na Vale muitos anos também. Essa empresa chamava Enefer, chama ainda mas ela em 1994, 95 começou um período de vacas magras e botando todo mundo para fora. E ela trabalhou lá durante onze anos e saiu. Então ficou ela desempregada e minha filha formada em turismo. Então o que é que nós... “Vamos fazer uma agência de turismo, pô.” Aí fizemos a Pachetur.
P/2 – Pachetur?
R – Pacheco Agência de Viagens e Turismo Ltda. E que nós estamos até hoje com ela lá. E para mim é ótimo. Porque eu sou o gerente da Pachetur, me divirto muito. Meu filho, o Sérgio, trabalha lá comigo e minha esposa Valéria trabalha lá também, entendeu?
P/1 – E qual a...
R – E a Carla é a consultora técnica porque é a única formada em turismo nessa brincadeira.
P/1 – E qual é a especialização das atividades _____________________
R – Nós fazemos tudo. Menos turismo receptivo, tá?
P/1 – Han.
R – Nós temos excursões e vendas de passagens, pacotes etc, etc. Aluguel de carro, aluguel de.... Tudo, tudo que uma agência de turismo faz.
P/2 – Tem o, o turismo incrementou nos últimos tempos? Existia alguma diferença ___________
R – Não, o que você, ela tem 6 anos, né? Fez agora. Porque foi em 95, é 6 anos. O que você nota é o seguinte: o que eu noto muito lá é a vontade do brasileiro ir para os Estados Unidos e para Portugal. É impressionante, entendeu? Porque a gente, a gente tem também _______ de visto, né?
P/1 – Han, han.
R – Do passaporte. A gente manda o visto através da Associação, manda o passaporte através da Associação Brasileira de Agentes de Viagens, que a gente é associado. E a gente vê que o cara quer ir para os Estados Unidos, entendeu? A gente manda, vamos dizer, uma média de vinte passaportes por mês. Garanto que quinze são de pessoas que querem ir para os Estados Unidos ficar. Ou para Portugal também, mas Portugal não tem visto. É só ter dinheiro para ir, vai e fica. É interessante isso. Essa tendência.
P/1 – _____________ faixa etária desse __________
R – Ah, faixa etária de 22 até 30 anos, a maioria. São jovens, né?
P/1 – Você atribui isso a quê? A falta de emprego?
R – A falta de emprego. O brasileiro ele é... Bom o que eu converso com eles, quando eu converso, eles dizem que “vamos ganhar cinco dólares, seis dólares, sete dólares por hora. Fim do mês dá 1200 dólares.” Eu falei: “Mas tem o custo, né? Você ganha 1200 dólares, mas você paga lá um aluguel de 400 dólares, 500 dólares, 600 dólares.” Mas mesmo assim a pessoa; “Não, mas eu tenho um parente lá que está muito bem, não sei o quê. Já tem carro, já tem...” Então não tem jeito: “vai com Deus e seja feliz.” Muita gente mesmo. Homem e mulher entendeu? Não tem distinção não. Homem e mulher.
P/1 – O que é bastante diferente da sua época, quando você se formava...
R – Não, não tem. Ninguém pensava em ir para os Estados Unidos, entendeu? Pensava era em começar a trabalhar logo, e tal.
P/1 – É, bem diferente.
P/2 – Pacheco, e seu cotidiano hoje como é que é? como ________
R – Meu cotidiano é esse, eu vou para lá. Bom eu fui eleito agora também, voltei para a Vale. Conselho de curadores da Valia. Do nosso, eu sou representante do, um dos aposentados representantes no Conselho de Curadores. Que é o Conselho que comanda a Valia, né? Eu falo “Vália”, né, porque todo mundo Valia mas o certo é “Vália.”
P/2 – “Vália” ou Valia, isso que eu ia perguntar?
R – É “Vália” mesmo. Então eu fui eleito agora em maio, vou passar três anos no Conselho. Mas essa também é atividade uma vez por mês, quando é. Às vezes é até mais espaçado. Mas eu tenho a agência lá, é pertinho da minha casa. Quer dizer, a qualidade de vida melhorou muito. Eu posso ir a pé, vou do jeito que eu quiser pra lá. Eu tenho o escritório lá e fico lá praticamente o dia todo. Jogo um futebolzinho às quartas e sábados, a minha peladinha num clube que nós temos. E essa é a vida da gente lá. Viajando quando pode. Porque aparece muita, no nosso caso aparece muita oferta: viajar para Miami por 200 dólares. Isso é, na baixa temporada aparece muito. E a gente aproveita e quando tem dinheiro vai. Agora está difícil. É isso, é vida normal.
P/2 – Quantos filhos você tem?
R – Eu tenho cinco?
P/2 – Cinco.
R – Sendo que esses quatro, um trabalha comigo como eu te falei, né? E o menor é que é do segundo casamento, é o Bruno. Tem 11 anos. Vai fazer 11 anos agora. Esse é que dá trabalho.
P/2 – Dá trabalho?
R – Dá trabalho porque é pequeno.
P/2 – Tem neto já?
R – Não, não tenho. Não tive neto ainda não. Tenho duas filhas que estão casadas mas não resolveram ainda não, pô. Diz uma...
P/1 – Eles moram todos em Vitória?
R – Não. A Carla que é a mais velha das mulheres mora aqui no Rio. O Fábio que é o mais velho de todos mora aqui no Rio. Dois. A Cláudia mora em Guarapari. Ela é responsável pelo _____________ lá em Guarapari. Essa que diz que em novembro vai engravidar. Eu não sei porquê novembro, mas ela disse que vai engravidar. Ela é casada também, e o Sérgio é solteiro é esse que trabalha comigo. É o terceiro da fila. E o Bruno, né, que a gente, mora lá em, nós moramos junto.
P/2 – Pacheco, eu queria te fazer uma pergunta de, se você pegando a sua trajetória de vida, tanto profissional como pessoal,.se você tivesse que começar de novo, ou pudesse mudar alguma coisa, você mudaria?
R – Ah, sim, sim. Porque foi tudo divertido, foi tudo. Mas você não tem, você não ganhou dinheiro nenhum na realidade. E tem outras formas de ganhar dinheiro. Se eu fosse para ser como colegas meus de turma que foram para a iniciativa privada na época, ter a sua empresa etc, você estava milionário hoje em dia. Eu não tenho arrependimento, veja bem, mas se eu tivesse opção agora? Se eu pudesse fazer isso de novo? Ah, eu não ia trabalhar na Vale não. Apesar de ter sido uma experiência espetacular, muito boa, mas eu optaria por ter o meu negócio, né? Que eu fui ter depois de velho. Que é divertido até a viagem, a agência de turismo.
P/2 – E sonhos? Sonhos de futuro?
R – Não, não. Não tenho grandes sonhos não. Netos, né? Que devem vir por aí. Criar esse Bruno, porque como o caçula ele é o xodó da casa, né, e viver a minha vida tranquila até quando puder.
P/2 – Então uma última pergunta: o que é que você acha desse projeto Vale Memória e o que é que você achou de ter prestado depoimento?
R – Não, aqui eu achei excelente. Eu não sei se vocês acharam alguma coisa boa de mim, mas vocês dois, a evolução da coisa, eu acho muito bom. Eu acho que é um projeto que a Vale como uma grande empresa que é tinha que pensar nisso mais cedo ou mais tarde. E pelo que eu estou vendo está se confirmando. E eu espero poder ver isso pronto, né? Para assistir, sei lá. Vídeo. Não sei como é que vai ser a, como é que a gente vai ver esse projeto. Se vai para um museu. Eu gostaria de ver isso. Sem dúvida alguma. Mas que é muito bem bolado, é. Vocês estão de parabéns.
P/2 – Eu vou fazer só, então eu ia pedir uma última coisa: __________ contar um pouquinho a história desse, mostrar e contar um pouco a história desse projeto.
R – Ah não. Esse vagãozinho aqui foi uma lembrança que nós fizemos no primeiro bilhão de toneladas transportada pela estrada de ferro. Foi uma marca assim, hoje ela sai. Porque você exporta 100 milhões por ano, então em um ano você completa um bilhão. Mas isso aqui? Demorou de 42 até 83.
P/2 – 40 anos.
R – 41 anos para se fazer o primeiro bilhão. Esse vagão chamava MI, entendeu? E distribuímos para as pessoas que compareceram às festas, às festividades do um bilhão de toneladas. É isso. O nosso vagãozinho aí.
P/2 – Bom, então está ótimo, obrigado.
P/1 – Muito obrigada.
R – Obrigado a vocês.Recolher