Museu da Pessoa – Conte sua história
Histórias de Esperança – 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Francislaine Araújo dos Santos
Entrevistada por Tereza Ruiz
Osasco 18/12/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista HECE_HV_42
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 – Primei...Continuar leitura
Museu da Pessoa – Conte sua história
Histórias de Esperança – 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Francislaine Araújo dos Santos
Entrevistada por Tereza Ruiz
Osasco 18/12/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista HECE_HV_42
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 – Primeiro, Fran, fala pra gente o seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Francislaine Araújo dos Santos, eu tenho 21 anos. Eu nasci em Minas, em Visconde do Rio Branco.
P/1 – E a data de nascimento?
R – É 3 de dezembro de 1991.
P/1 – Agora o nome completo da sua mãe e do seu pai, se você souber também data e local de nascimento deles.
R – Rute Araújo dos Santos, nasceu também em Visconde do Rio Branco. E José Francisco Teixeira dos Santos, também nasceu em Visconde do Rio Branco, Minas Gerais.
P/1 – E o que seus pais fazem profissionalmente, Fran?
R – Hoje meu pai é aposentado, mas ele trabalhava na engarrafadora aqui na Liquigás, aqui no Vila Yara. E a minha mãe tem a sorveteria bombonière em casa, então ela sempre trabalhou assim. Meu pai é aposentado pelas outras empresas que ele trabalhava que eu não lembro o nome, e essa última que eu sei que ele trabalhava na Liquigás tem muitos anos. Aí ele é aposentado por lá.
P/1 – Conta pra gente um pouco como é que o seu pai e sua mãe são como pessoas. O jeito deles, a personalidade.
R – Minha mãe é uma pessoa bem tranquila, gosto muito, amo muito minha mãe. Ela foi a pessoa que me ensinou tudo. O que eu mais gosto e que eu levo pra toda minha vida foi que a minha mãe sempre esteve presente, tanto minha mãe quanto meu pai. Eles foram pessoas muito presentes, era hora de brincar, eles ensinaram muito a gente sempre a brincar, sempre a estar feliz, tem sempre que aguardar o próximo dia que vai ser melhor ainda. Então isso eu levo pro resto da minha vida. Meu pai também trabalhava bastante, ele não permitia que a minha mãe trabalhasse exatamente porque ele queria que a gente tivesse uma boa educação, aí ela aceitou, mas também é uma pessoa bem tranquila também, gosto bastante dele.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho. Tenho três irmãos, dois de sangue e a minha irmã mais nova tem 15 anos, ela é adotada.
P/1 – Qual que é o nome dos seus irmãos?
R – O Paulo Henrique que tem 27, a Ana Paula tem 26 e a Franciele que tem 15.
P/1 – E a Franciele foi adotada desde bebezinha?
R – Desde a barriga. A gente ia pra escola, aí minha mãe levava a gente e tinha uma mulher lá na rua também que precisava muito de ajuda, minha mãe a colocou dentro de casa, cuidou dela, tudo, e ela se envolveu com um rapaz. Ela já tinha outros filhos, ela tinha se envolvido com um rapaz e aí a minha mãe vendo que ela estava doando os filhos, vendo quem aceitasse cuidar, e aí ela engravidou dessa minha irmã, minha mãe falou: “Não, dá pra mim, por favor”. Conversou com o meu pai, aí o meu pai... Eu perdi o colo e aí a minha irmã veio e aí está aí hoje, até hoje, 15 anos já.
P/1 – Você sabe qual que é a história do seu nome, Fran? Quem que escolheu o seu nome e por que você tem esse nome?
R – Olha, eu tenho o meu nome por causa dos meus tios. Meu tio Francisco, ele faleceu perto da semana que eu nasci e minha mão não tinha escolhido o nome ainda, aí ela não queria colocar Francisca. Aí meu pai falou: “Não, Francisca é um nome muito feio”. Nada contra os nomes, mas... Ela falou: “Eu acho muito feio”. Mas aí ela foi pensando e não sei da onde ela tirou Francislaine. E aí ficou Francislaine.
P/1 – E a origem da sua família, você sabe qual que é? Da onde que vieram seus antepassados.
R – Não. Minha mãe fala que a maioria é italiano, mas eu não conheço.
P/1 – Não sabe qual a história.
R – Não.
P/1 – E você nasceu em Minas, né? Até que idade você viveu em Minas?
R – Um ano e pouquinho. Minha mãe conta que é um ano e pouco. Pra mim eu mais nasci aqui do que lá.
P/1 – E você sabe por que seus pais vieram pra São Paulo?
R – Por causa do serviço do meu pai. Ele trabalhava nas usinas e aí às vezes ele precisava vir pra São Paulo e aí quando ele veio da última vez ele conversou com a minha mãe e falou que... Tinha o meu tio que trabalhava aqui com ele, falou: “Tem casa, se você quiser casa, essas coisas pra morar eu arrumo pra você”. Aí eles vieram.
P/1 – E não voltaram mais pra lá?
R – Não. Moramos aqui, morávamos aqui na Nova Osasco na Rua Santos Futebol Clube, em cima da Rua da Treze aqui e aí a gente ficou morando lá um bom tempo. Depois a gente se mudou, aí fomos pra Flora e agora moramos na Gil Conceição.
P/1 – E você conhece a cidade que você nasceu?
R – Lá? Conheço. Gosto de viajar pra lá.
P/1 – Por que vocês têm parentes?
R – Tenho. A família da minha mãe e do meu pai moram todos lá. Minha mãe aqui irmãos ela não tem nenhum, o meu pai só tem um.
P/1 – E quais são as lembranças que você tem da casa que você passou a infância, Fran? Como é que era a casa? Como é que era o bairro?
R – Olha, aqui na Santos Futebol Clube era muito feio. Esgoto passando na porta, eu lembro que a minha mãe não deixava a gente brincar muito ali na frente que ela falava: “Ai, ali é sujo. Não brinca lá que tem muito barro”. Aí a gente ficava mais dentro de casa, mas também brincamos bastante. Aí quando eu vim morar aqui na Flora, não lembro muito, eu acho que eu tinha uns sete, oito anos, e é aí que eu lembro mais. Aqui tinha um campo de futebol enorme pra brincar, eram brincadeiras mais livres.
P/1 – E a sua casa como é que era aqui na Flora?
R – Era maior, cada um tinha o seu espaço. Eu tinha vários amigos. Como minha mãe tinha esse medo de... A rua era muito suja, muito fedida. Eu lembro que a gente não conseguia pisar no chão, era muito barro. Aí depois foi arrumando, mas aí minha mãe conseguiu morar aqui, mas a casa lá era grande, a gente tinha bastante espaço. Eram enormes os cômodos, eu lembro que era enorme.
P/1 – E do que você brincava quando era criança?
R – Brincava muito das brincadeiras populares, tradicionais que era queimada, elástico, eu lembro até hoje, corda, duro ou mole, pega-pega. Tinha outra brincadeira também que a gente brincava, cinco marias, ela mesma que fazia e aí ela ensinava bastante pra gente. Até hoje eu faço com as crianças, eles fingem que não sabem, mas a gente faz com eles.
P/1 – E você brincava com quem?
R – Com os meus irmãos, com os vizinhos da frente. Amigos eu sempre tive bastante, minha mãe nunca proibiu da gente ficar com eles. Conhecido, né? Minha mãe sempre procurou conhecer bem eles e aí a gente brincava bastante.
P/1 – E a escola você começou a frequentar com que idade?
R – Foi difícil a escola. Eu fui pro Emei eu já estava com seis anos. Minha mãe mesmo a gente brincando ela sempre ensinava a gente em casa. Quando eu fui pro Emei eu chorava demais. Eu chorava, chorava. Dei o maior trabalho pra minha mãe pra ir pra escola. Meu irmão já era mais velho, dizem que o irmão mais velho apanha muito, né? Aí o meu irmão ia pra escola pela manhã e eu ia pra escola à tarde e minha mãe tinha que pegar o meu irmão na escola, e ela estava indo me levar. Nossa, eu voltava pra casa, eu não ia. Aí passei um bom tempo com uma professora isolada, que eu falei: “Eu não vou entrar nessa sala”. Eu só chorava, chorava, chorava, chorava. Demorou muito pra eu me adaptar. Mas depois foi passando, amigas minhas caíram na minha sala, que moravam onde eu morava, aí a Maria caiu, quando a Maria caiu aí eu fui continuando. Aí eu fui. Mas eu fiquei o ano inteiro com a professora do meu lado. Ela foi minha referência e aí eu fui tomando ela e aí sim, mas também a minha mãe eu chegava em casa: “Você vai pra escola porque senão você vai apanhar. Você tem que estudar”.
P/1 – E você lembra bastante dessa professora que ficou contigo durante o primeiro ano?
R – Lembro.
P/1 – Que lembranças você tem dela?
R – Assim, dos cuidados que ela tinha, da forma como ela falava. “Ah, Fran, você tem que estudar. Sua mãe precisa ir pra casa. Seus irmãos...”. E aí dali pra cá ela foi falando e aí eu vinha. Mas eu falava pra ela: “Eu não quero. Aqueles meninos vão me bater”. Eu tinha medo. Eu pensava que aquelas crianças iam me bater, então eu tinha muita resistência com eles.
P/1 – E depois, além dessa professora teve algum outro professor marcante durante a sua vida escolar?
R – Os outros também, mas que mais me marcou foi quando eu fui no primeiro ano, primeiro colegial, a professora de história. Eu não gostava de história, estudava, mas não tirava notas más, mas nossa, ela me incentivou bastante, tanto que eu já estava trabalhando, com 14 anos eu entrei no McDonald’s e tudo que era curso ela arrumava pra mim, tudo quanto era... E eu sempre me esforçava pra fazer. Aí ela falava pra mim: “Fran, você vai ver, você vai ser...”. Daí eu já falei pra ela: “Professora, eu quero ser professora, mas eu quero ser que nem você”. Então eu me espelhava muito nela. Tanto que hoje eu trabalho na área exatamente por causa dela.
P/1 – E por que você acha que você se espelhava nela? Que qualidades que ela tinha que você admirava?
R – Então, a forma dela permitir, de deixar a gente sempre livre, de deixar a gente dar as nossas opiniões, saber exatamente o que a gente queria e correr atrás dos nossos interesses. Então isso foi mais marcante pra mim. Então eu levo a professora Lígia, ligo pra ela, falo pra ela: “Hoje eu estou fazendo isso”. E os incentivos que ela dava, porque às vezes você até tem a força de vontade, mas você precisa daquela empurrada e essa era a professora, tanto que a nossa sala ganhava prêmio de tudo exatamente por causa da professora Lígia, e ela só queria a nossa sala pra coordenar, pra fazer tudo.
P/1 – E quando você era criança ainda antes dessa fase você lembra o que você queria ser quando crescesse? A primeira vez que você pensou numa profissão.
R – Eu falava pra minha mãe que eu não ia ser nada. Falava: “Não, mãe, eu não vou ser nada”. Aí depois eu nem pensava, nunca passava pela minha cabeça. Aí depois que eu fui... Quando eu fiz 14 anos, estava numa época de política e o vereador aqui de Osasco estava fazendo uma propaganda dele lá pra ganhar o povo e aí ele fez uma bancada de empregos. Aí eu fui lá fazer, aí foi que eu consegui trabalhar no Mc. Eu fiz numa semana, na outra semana eles já me ligaram pra eu ir. Só que eles falaram que eu ia fazer um curso, ia receber pra esse curso pra depois eu trabalhar. Aí eu falei pra minha mãe: “Mãe, eu vou, vai saber”. Aí meti as caras e fui. Aí quando eu fui ver cheguei lá no Walmart, no Walmart aqui de Osasco, que eu trabalhei lá no Mc de lá, eles: “Não, você vai trabalhar no McDonald’s, você aceita? O salário é baixo.” “Eu aceito”. Meu pai não queria. Ele ficou bem resistente, ele falou: “Não. Você está muito nova pra trabalhar. Deixa pra você trabalhar depois.” “Não, pai, deixa-me trabalhar. Vou te ajudar, não sei o que.” “Não. Não precisa me ajudar”. Ele é meio rígido. Ele: “Não, quem cuida dessa casa sou eu. Pelo amor de Deus, não está na hora. Deixa pra vocês trabalharem depois, fazer a faculdade de vocês, cansarem-se mais pra frente”. Aí eu fui contra, fui trabalhar e minha mãe passando a mão na cabeça e falando: “Deixe-a ir. Às vezes ela precisa disso”. E aí eu fui.
P/1 – E como é que foi essa experiência no McDonald’s?
R - Aí quando eu entrei no Mc, nossa, foi tudo novo, muito diferente. Muita gente não gosta de trabalhar lá, eu acho que foi um caminho muito bom, eu aprendi muita coisa. Aprendi a trabalhar em equipe, porque eu antes tinha aquela resistência de vir pra escola, ver aquele monte de pessoas, monte de criança. Lá eu comecei a ver que a vida era diferente e cada centavo que entrava no meu bolso eu: “Mãe, esse é seu.” “Pelo amor de Deus, guarda esse dinheiro.” “Então guarda a senhora, porque eu não vou guardar. Guarda a senhora”. Aí ela guardava o dinheiro pra mim, pegava as minhas coisas. Aí eu fui criando responsabilidade de comprar o que eu tinha que comprar, estudar e além de eu fazer isso eu tinha os cursos que a professora Lígia me passava. Eu queria ter entrado no Instituto... Esqueci o nome do Instituto. Instituto Unibanco que tinha uma parceria com a escola de trabalhar, tudo, mas eu falava: “Professora Lígia, mas eu não tenho cara de ficar sentada no computador. Não é minha cara.” “Ai, Fran, eu sei, mas vai ser bom, você vai ganhar muito dinheiro.” “Olha, não quero”. Daí foi que eu fui me interessando e aí eu fui. Trabalhei no Mc, fiquei lá um ano e oito meses, depois eu saí de lá. Aí eu fiquei grávida. Quando eu fiz 17 anos, eu estava terminando o terceiro ano do colegial e eu namorava um rapaz que eu conheci no McDonald’s. A gente namorou bastante tempo, eu entrei lá, aí a gente ficou namorando um ano e seis meses e aí eu fiquei grávida.
P/1 – E aí como é que foi quando você descobriu que estava grávida?
R – Nossa, eu queria me matar porque a minha mãe ia me matar. Eu falei: “Agora eu vou ter que aguentar essa bucha”. E eu namorava, ele ia em casa, tudo. Aí minha mãe falava: “Fran, pelo amor de Deus, toma cuidado, todos os cuidados possíveis”. Sempre me alertava. E aí teve o dia que eu falei: “É hoje. É hoje”. Decidimos e pronto. Aí eu fui pra contar pra minha mãe. Só que eu tinha contado pra ela que eu já tinha tido relação com ele, aí ela falou: “Você teve coragem de me contar, né? Então agora você vai ter coragem de arcar com as suas consequências”. Eu falei pra ela: “Agora eu não sei o que eu faço, não sei se eu tomo remédio, o que eu faço, mãe?” “Você vai bem tomar remédio, você vai se cuidar e ele também vai cuidar de você, entendeu? Só que agora tem regras. Você entra tal hora, sai tal hora”. Tudo bem que eu já tinha, eu sempre obedecia bastante. E aí passou um tempo, quando eu fiquei grávida aí a gente conversou, tudo, ele foi na minha casa, foi falar com a minha mãe e com o meu pai. Aí minha mãe: “Não, tudo bem. O que vocês decidirem”. Eu falei: “Mãe, eu vou morar com ele. Eu não vou ficar na casa da senhora.” “Não, vocês vão ficar aqui.” “Não, mãe, vou pra casa dele”. Que minha sogra não gostava muito de mim, então quando eu fiz 17 anos foi assim... Eu ia fazer 18 já, faltavam três meses pra eu fazer 18 quando eu descobri que eu estava grávida. Aí eu fui e pedi as contas do Mc. Falei pra ele: “Eu vou pedir as contas do Mc mesmo eu grávida, porque não vai dar pra eu vir trabalhar pra cá”. Eu passava muito mal e aí eu resolvi pedir as contas, mas também não falei pro meu patrão, pro seu Erisvaldo, que eu estava grávida. Pedi minhas contas, falei quero sair mesmo, aí saí. Ele perguntou por que eu estava saindo, eu falei: “Opção minha. Não arrumei nada ainda, mas eu quero sair”. Aí decidi que ia sair, quando eu fiquei na casa dele com dois dias aí eu falei pra ele: “Felipe, você quer casar?”. Ele falou: “Se você quiser eu já casaria.” “Eu não quero casar”. Na hora que a gente estava conversando à noite aí a mãe dele chega e eu morava na casa dela. Aí ela chegou, ela falou: “Vocês vão ter que casar”. Ela era de outra religião, ela falou: “Eu não aceito isso, já que vocês já pularam tudo que tinha que pula, passou páginas em cima de páginas, eu quero que vocês casem que senão eu não vou aceitar vocês na minha casa”. Aí eu liguei pra minha mãe, falei: “Mãe, a dona Graça aqui falou assim, assim, assim”. Aí ela falou: “Não. Você é quem sabe. Você quer casar, você casa, a mãe aprova. O que você decidir está decidido.” “Deixa-me falar com o pai. Pai, a dona Graça falou que eu tinha que casar.” “Você quer casar mesmo? Tem certeza? Pensa bem. Não é fácil”. Aí começou a falar um monte de coisa, colocou pedra no meu caminho. Eu fiquei pensando, né, falei: “Felipe, eu não tenho que casar com você porque eu estou grávida, tá?”. Aí eu já falei pra ele: “Quer casar comigo, a gente vai casar, mas eu não sei. Tem necessidade da gente casar?” “Eu acho que era melhor”. Passou uma noite, passou outra noite, três dias depois eu fui e falei com ele. Falei: “Eu não quero casar, não, mas já que tem que ser assim vamos. Estou fazendo por você”. E fui e casei. Só que na hora que era pra eu ir lá com a juíza, marquei, aí quando foi dia dez do mês seguinte eu ia casar. Liguei pra minha mãe, aí ele chamou uma pessoa lá pra ser padrinho dele e eu chamei a Rita, minha madrinha. Falei: “A gente vai casar, mãe, mas eu não quero casar, eu vou falar não”. Ela falou: “Você vai bem falar sim. Você não vai me fazer passar essa vergonha”. E eu falei não. Bem na hora, da última hora, falei que sim, comprei tudo, fiquei maior feliz, fui lá, busquei meu vestido e depois eu falei, a hora que a juíza perguntou eu: “Não”. Ela falou: “Não?”. Eu estava com barriga já. Eu descobri que eu estava grávida eu já estava com três meses. Ela falou: “Olha, tem certeza que você está falando não?” “Não, é sim”. Depois eu... Aí eu falei: “Não, não vou falar não. Eu vou casar sim. Eu vou casar sim”. Na hora que eu saí de lá, foi, colocou a aliança, aí eu falei: “Felipe, eu queria falar não.” “Você é doida? Tá maluca? Tem um monte de gente lá em casa esperando a gente.” “Come”. Aí eu caí na real, saí de lá chorando, falei: “Olha o que você colocou no meu dedo”. Estava parecendo que eu estava enfiando, sabe? Aí que foi que me caiu a ficha, falar: “Agora eu sou casada”. E eu já tinha feito minha casa, tudo, construindo na casa dela.
P/1 – Vocês construíram onde?
R – Nos fundos da casa dela, que ela não tinha nada, tinha a casa dela feita e ela tinha um quintalzão. Aí eu construí dois cômodos lá no fundo da casa dela. E aí estava terminando de fazer, continuei morando na casa dela... Eu sabia que era uma menina. Fomos lá fazer o...
P/1 – Como foi quando você descobriu que era menina? Conta um pouco.
R – Eu fui lá, marquei o... Eu casei no sábado, quando foi na terça-feira eu tinha ultrassom pra fazer. Aí eu fui lá, descobri que era uma menina. Eu tinha uns exames pra fazer e mais um ultrassom uma semana depois. Aí nessa semana o Felipe estava ainda trabalhando no Mc e ele saiu cedo nesse dia e aí eu fui lavar roupa, eu que lavava as roupas dele, fazia tudo dele, que também minha sogra largou ele de mão. Quando minha sogra fez isso eu fui lavar essas roupas e subi pra pendurar essas roupas, e eu tinha que passar pelos fundos da casa dela. Aí aconteceu uma bela de uma tragédia. Eu estava subindo com o balde daqueles cestos grandes cheio de roupa preta, quando eu estou subindo ela dá um berro gritando lá, falando: “Não, você não vai colocar essas roupas aqui, entendeu? Não vai colocar, se você quiser você que faça o varal na sua casa”. Quando ela empurrou com a mão e com o pé eu caí com a minha barriga e tudo da escada. Hoje eu tenho dores nas costas... Só essas coisas que eu tenho, graças a Deus não me deu enxaqueca, não deu nada. Voltei pra casa, desci chorando, fui pegando roupa tudo molhado, tudo sujo do chão. Entrei, liguei pra ele, liguei pra minha mãe, falei: “Mãe, eu caí da escada, aquela...”. Xinguei ela e aí eu falei: “Mãe, está vendo? Por isso que eu não queria casar. Eu sabia a sogra que eu tinha, não era nem pelo filho, era pela sogra que eu tinha. Mãe, vem me buscar agora”. Quando eu desliguei o telefone minha barriga começou a doer, minha barriga começou a doer e eu estava com a barriga grande já, minha barriga foi toda pro lado esquerdo. Ficou roxa, roxa, roxa. Quando eu ia saindo, peguei minha bolsa pra ir pro médico, aí eu liguei pra ele: “Felipe, me encontra lá no Montreal que eu estou indo pra lá.” “O que aconteceu?” “Sua mãe me jogou da escada”. Não, eu falei: “”Eu caí.” “Por que minha mãe está gritando?” “Porque ela me jogou da escada”. E ela gritando lá: “Pra onde você vai?”. Aí me chamou de vagabunda, de um monte de coisa. Meu sogro trabalhava na CPTM, ele estava dormindo, aí ele levantou, ele saiu, ele escutou o barulho, ele falou: “O que foi? O que foi?” “Eu estou indo embora. Eu vou pro médico que a dona Graça me...”. Eu sem querer ainda falava: “Eu acho que ela me derrubou sem querer, eu acho que não foi por que ela quis”. Mas eu queria ver o diabo, mas eu não queria ver ela lá naquele hospital quando eu cheguei lá. Aí foi chegando o Felipe, foi chegando todo mundo. Cheguei o médico passou um objeto na minha barriga e eu fiquei doida lá: “Ai, doutor, eu não estou ouvindo nada. Antes eu escutava o coração do neném. Não estou ouvindo nada”. Ele falou: “Você sabe o que é?” “Sei.” “É uma menina?” “É.” “Tem alguém da sua família lá fora responsável por você? Porque você é menor de idade.” “Tem. Minha mãe está lá, meu sogro e o meu esposo também está lá fora”. Aí ele saiu. Quando ele saiu ele falou: “Espera aí. Você vai ficar uns minutinhos aqui, qualquer coisa você aperta aqui que a enfermeira vem te atender”. Aí ele foi lá fora avisar que a neném tinha entrado em óbito, não dava pra salvar mais. Eu sangrei muito, eu vim de Carapicuíba até Osasco correndo, mas também ele falou: “Só tem um problema, tem que levar ela urgente”. Porque ainda lá em cima eu apertei um negócio que eu falei: “Está sangrando demais”. E eu estava ficando roxa. Ele falou: “Ela pode morrer a qualquer momento. Só tem um problema, o hospital não está fazendo curetagem. Vai ter que sair com ela daqui”. Eu fui pra Vila Mariana ainda. Eu cheguei lá desacordada, não estava vendo mais nada, a hora que eu vi o bebê estava dentro de uma garrafa. Eu falei: “Nossa, que horror”. Eu posso contar essa história?
P/1 – Lógico. Pode.
R – Que eu estou contando e aí eu ia perguntar.
P/1 – Não, você pode contar, claro. Você pode contar o que você quiser.
R – Daí eu fui, fiquei casada depois desse tempo dez meses. Então eu ia fazer um ano de casada aí eu falei pra ele, já estávamos indo comprar as coisas, eu já tinha ganhado muito presente e aí eu falei: “Não. Não quero mais saber. Felipe, segue a sua vida e eu não quero mais”. Eu dormia querendo matar a minha sogra. Fiquei transtornada, não podia ver uma criança, um neném na rua, um chorinho. Eu escutava choro de criança. Fiquei muito transtornada.
P/1 – De quantos meses você tava?
R – Quatro meses e 15 dias. Eu estava com um barrigão enorme, eu tenho foto. Tenho não, eu já descartei as fotos. Então eu fiquei muito triste, falei: “Deus me livre. Não, não quero mais passar por isso nunca mais”. E aí meu divórcio veio sair esse ano, porque ela falou não vai dar nada. Compramos carro, tudo. Falei: “Você pode ficar com tudo, eu não quero uma moeda do seu bolso, nem um tijolo que eu coloquei na sua casa, nem a areia eu não quero. Muito obrigada. Pode dar tudo pra sua mãe de presente. Deixa pra ela”. Fui muito rígida, falei: “Guarda pra ela o dia que ela morrer, porque se ela não morresse na minha mão, Deus vai leva-la bem rápido”. Aí passou isso aí, graças a Deus já superei.
P/1 – Quantos anos faz isso, Fran?
R – Cinco. Seis anos já vai fazer agora. Seis anos.
P/1 – E como é que o seu marido reagiu ao divórcio?
R – Ele não queria que eu desse o divórcio e eu falei pra ele: “Você acha ainda que eu vou ficar com você com essa sua mãe aí? Não. Ela é capaz de matar você e eu junto.” “Não, minha mãe estava nervosa.” “Problema. Ela não devia ter feito isso comigo. Jamais. Não, não aceito isso”.
P/1 – E a sua família como é que ficou com isso?
R – Minha mãe ainda foi lá, bateu, brigou. Eu briguei muito com ele também no dia de eu sair. Eu até falei pra ele, briguei tão feio, estava tão fora de mim, eu pegava as coisas, eu jogava nele, tudo que eu via eu... Panela, dentro do banheiro ele ia tomar banho, ele tinha uma raiva, aí comecei a ter uma raiva dele. Falei: “Felipe, não dá. Segue sua vida, eu estou com muita raiva”. Aí minha mãe arrumou um psicólogo, terapeuta, tudo que ela pode fazer ela fez. E aí depois disso eu falei: “Não. Não quero mais, mãe, não vou mais ficar com o Felipe”. Se eu ia pra casa da minha mãe era motivo dela falar alguma coisa, então eu falei: “Mãe, estou saindo dessa vida. Eu não quero mais isso pra mim”. Saí, demorou pra sair meu divórcio, depois disso eu fiquei três anos sozinha mesmo sem arrumar ninguém, só trabalhando, fazendo os meus cursos.
P/1 – Você voltou pra casa dos seus pais, foi isso?
R – Aí eu voltei pra minha mãe, fui lá, perguntei se ela me aceitava de novo, ela falou: “Lógico, você nunca saiu daqui, pelo amor de Deus, essa casa é sua”. E aí eu voltei, fiquei lá com ela, fui trabalhando, fui estudando.
P/1 – Quando você voltou pra casa dela você voltou a trabalhar imediatamente? Como é que foi isso?
R – Voltei.
P/1 – Com o que você foi trabalhar?
R – Depois que eu ganhei a bebê eu continuei morando lá e aí eu trabalhava de balconista numa Casa do Norte, lá perto da onde eu morava. Ele trabalhava na filial, ficava no centro de Carapicuíba e eu trabalhava na Vila Dirce, foi ele também que arrumou pra mim. Ele falou: “Seu Medina está precisando de uma pessoa pra trabalhar lá na Casa do Norte.” “Fala com ele”. Eu comecei dia 1º de abril a trabalhar lá, que era a semana da Páscoa, ele precisava de alguém pra trabalhar. Aí eu fui, quando eu saí eu voltei pra minha mãe, eu pegava a Raposo, descia até a Raposo e pegava o ônibus pra ir direto, pra não pagar duas conduções. Eu ia e o carro lá com ele, deixei, não quis nada, falei não. E ele: “Não, leva o carro, que não sei o que...” “Eu não quero. Eu não quero pra não ter que dar motivo pra sua mãe”.
P/1 – Você continuou trabalhando na Casa do Norte então mesmo depois quando você saiu?
R – Continuei. É. Aí tinha vez que eu trabalhava com ele, tinha vez que não, mas quando eu trabalhava com ele era: “Bom dia, boa tarde”. Não queria papo com ele e ele querendo conversa, eu nem aí, me poupe.
P/1 – Como é que você foi retomando a sua vida, recuperando-se?
R – Então, o difícil era quando eu via criança. Nossa, era terrível. Eu via criança aí vinha a bebê, eu ficava: “Nossa, que bonitinho. Ó, meu Deus, era pra eu estar assim”. Eu ficava lembrando, já era pra estar com tanto tempo. Aí depois passou, depois foi passando, eu já não sentia mais falta. Quando eu saí... Pronto. Eu voltei pra minha mãe, trabalhei lá um ano, na Casa do Norte, fiz um ano aí eu preferi sair, falei: “Eu vou pegar um ano lá, depois eu saio”. Eu conversei com o senhor Medina, falei: “Senhor Medina, eu estou pedindo as minhas contas, eu estou saindo. É muito longe”. Dei essa desculpa, falei: “É muito longe, não vai ser bom pra mim. Estou saindo”. Aí eu saí, ele aceitou de boa e aí com uma semana eu arrumei na prefeitura pra trabalhar numa ONG, era conveniado também com a prefeitura, mas o pagamento era direto com a prefeitura. Aí também tinham vários projetos lá e também trabalhava com criança.
P/1 – O que era essa ONG? Explica um pouquinho pra gente e qual que era o seu trabalho.
R – Lá era a Associação Camila, fica aqui no Jardim Conceição, também era pertinho da minha casa, era só descer a rua estava lá. A minha madrinha que é a fundadora da ONG. Minha não, do meu sobrinho, depois que a amiga dela virou minha madrinha. Aí essa ONG tinha os projetos do Computer Clubhouse, tinha o Brincando e Aprendendo, tinha o Telhado Cultural e a de música, que eu não lembro agora como era o nome do projeto. O de música era violão, percussão e canto. Eu também fazia parte de todos os projetos, tudo quanto era projeto eu fazia.
P/1 – E aí o que você fazia nessa ONG? Qual que era a sua função?
R – Então, aí lá eu trabalhava como orientadora social. Entrei como orientadora social de crianças de três a sete anos e todas essas crianças tinham que participar desse projeto. Depois eu fui pro Computer Clubhouse que era de dez anos a 18. Dos 18, depois como eu trabalhei bastante lá foi sempre seguindo, mas eu trabalhava com essas crianças durante o dia inteiro, eram três períodos. À tarde de novo trabalhava com o Projovem, aí o Projovem também era dos jovens, os jovens tinham que ter 15 até 18 anos.
P/1 – E aí como é que foi essa experiência pra você, de trabalho lá?
R – Então, lá era mais difícil, as crianças eram mais carentes. A gente já conhecia algumas crianças que tinham necessidades em casa, que passavam por problemas familiares, abuso, drogas, prostituição. Então eram bem vulneráveis as crianças. Eu comecei a me apegar demais. Então eu fiquei lá bastante tempo.
P/1 – Tem uma criança que tenha te marcado, ou uma história?
R – Tem uma adolescente. Nossa. A Taís. Ela tinha 15 anos, ela participava comigo no Projovem, eu participava com eles e teve um dia que ela... Eu trabalhava com crianças de medidas socioeducativas. Tinha que fazer liberdade assistida, então eles tinham que cumprir essas horas também lá comigo. Eu tinha mais receio com os crimes deles, mas de resto eles eram bem tranquilos, respeitavam tudo, a proposta que eu pedia eles faziam. E a Taís se envolveu com alguns alunos fora do projeto, adultos e jovens da comunidade e aí ela usou drogas. O primeiro dia que ela usou droga ela veio correndo na minha casa, então começou a misturar muito a coisa. Eles sabiam onde eu morava, eles sabiam a quem eles procuravam. Aí eu fui aquele braço da Taís e eu ficava naquele desespero, ficava: “Taís, você vai sair desse lugar, você não vai fazer isso”. A história dela também me comovia pela mãe e pelo pai que ela não convivia, tudo isso, então eu falava: “Meu, você tem que levantar a cabeça. Bola pra frente”. Graças a Deus, passou, ela ficou... Aí eu fui ao CRAS, fui procurar ajuda, fui ajuda-la, falei: “Não. Você não vai, eu não permito que você faça isso”. Contei a história pra ela que eu tinha perdido a filha, que eu não era muito de comentar, e aí ela falou, eu falei: “Você acha, daqui a pouco você usa droga, daqui a pouco você vai fazer coisa pior, Taís. Pelo amor de Deus, larga essa vida”. Ajudei a Taís, a Taís hoje graças a Deus faz faculdade, é casada, tem a casa dela. É nova, mas está supertranquila, bem da vida. Mas foi difícil. Ela fazia alguma coisa a mãe dela dizia que ia mata-la. Gente da rua falava: “Eu vou matar essa menina, ela está roubando as coisas de dentro da minha casa pra comprar droga”. E não era droga pesada, ela usava maconha e cocaína. Eu falei pra ela: “Você vai largar essa vida. Não, você não vai ser mais uma, você vai ser menos uma”. E aí ela largou, foi muita conversa, ela precisou tomar bastante remédio porque ela ficava transtornada e a droga mexia muito com o corpo dela. Quando eu sentia que a Taís vinha, que ela já tinha passado lá na biqueira pra pegar, eu sentia quando a Taís chegava. Aí eu fui treinada pra ver como que era, se ela vinha com as unhas sujas, o corpo, o rosto. Assim que a Taís chegasse eu já identificava a Taís, falei: “Taís, vai pra casa tomar um banho senão você vai tomar um banho aqui”. E ela vinha toda suja, eu ia lá, dava banho. Piolho, ela pegou muito piolho porque ela dormia na rua. Eu cansava de acordar de noite, ia lá com cabo de vassoura, batia nela. Eu fiquei muito nervosa com ela. Aí minha mãe: “Agora quem vai apanhar é você. Porque você não tem filha pra você ficar cuidando dessa menina, ela tem pai e não sei o que”. Várias vezes quiseram chamar o conselho tutelar pra ela, eu falei: “Se você for pro conselho tutelar, Taís, é um dedo meu que eu cortei e joguei fora. Taís, eu gosto muito de você”. Quase criei aquela menina que eu falei: “Mãe, eu vou leva-la pra casa.” “Não. Eu não quero. Eu não quero, ela vai dar trabalho”. Hoje está lá, graças a Deus.
P/1 – Fran, deixa-me entender uma coisa, quando você começou esse trabalho, antes de começar esse trabalho você falou que você fez bastante curso, tal, eram cursos nessa área? Nessa ONG também? Não?
R – Não.
P/1 – Não tinha nada a ver?
R – Nada. Eu fazia curso de administração, fiz curso de inglês, fiz curso de contabilidade. Tudo que eu não queria eu fiz. Aí eu falava: “Não vou fazer”. Chegou uma vez que eu fiz um curso de telemarketing, eu esqueci o nome, Office sei lá o que, e aí eu falei: “Não. Não quero isso”. Fiquei trabalhando um dia de telemarketing, no outro dia eu falei: “Não dá, não. Esses clientes aqui ficam me xingando no telefone, eu não tenho paciência de ficar aqui escutando ou falando. Não dá”. Ai eu saí.
P/1 – E nessa ONG você ficou quanto tempo?
R – Fiquei lá três anos. Aí foi o tempo que eu saí do Felipe, que é o primeiro esposo, e aí eu saí de lá, fiquei uma semana em casa, arrumei lá e aí eu fiquei lá bastante tempo. Depois que eu saí de lá fui trabalhar um ano e pouco numa loja de material educativo. Eu saí de lá meu avô faleceu e aí a minha mãe ficou depressiva, que ela não tinha as irmãs, já não vinham visitar, deixava meu avô sozinho e aí minha mãe era muito sentimental, sabe? É que nem eu, vejo aquela criança, aquela pessoa que está precisando de ajuda, eu não consigo medir esforço pra não ajudar. Eu vou lá e faço, vou junto, acompanho. E aí tinha uma amiga dela da rua que deu câncer de mama e eu acredito que foi isso que levou a minha mãe a ficar deprimida, não querer mais saber da vida, sabendo mesmo que a gente estava ali, os filhos estavam lá, o meu pai. E os filhos dessa moça, dessa amiga dela, da Gorete, desprezavam. Ela ficou careca porque ela fazia quimioterapia, radioterapia. Aí ela ficou já sem um seio, depois teve que tirar o outro e ela não quis colocar, não quis fazer nada pra... Mas ela era feliz, só ficava mais triste quando os filhos chegavam, os filhos dela chegavam em casa e falavam: “Ai, mãe, como você está feia. Credo, você está careca”. Riam da cara dela. E minha mãe lá a ajudando e ela vendo aquilo, ela não aguentava, ela vinha pra casa um caco. Ela falava: “Como tem gente que não tem amor”. Então daí o meu avô também estava ruim, ligaram falando assim... Minhas tias moram uma cidade na frente e elas não iam lá ver. Aí minha tia, irmã da minha mãe, morava com o meu avô. Ela deixou meu avô sozinho, um dia ela pediu dinheiro pro meu avô, meu avô não deu, ela colocou fogo na casa com o meu avô dentro. Aí ligou, ligaram lá, a vizinha ligou pra minha mãe, falou: “Dona Rute, seu Belmiro está queimando aqui dentro. Está pegando fogo a casa dele”. Aí minha mãe falou: “Não, eu vou viajar. Estou saindo daqui”. Aí minha tia, quando foi à noite minha tia ligou: “Rute, você tem que vir que pai está doente”. Minha mãe falou: “Pai está doente? Pai está doente nada. A Diana colocou fogo lá na casa porque o pai não queria dar dinheiro pra ela.” “Não, Rute, não foi isso, não. A Diana está aqui em casa”. Aí minha mãe chegou lá, meteu porrada nelas, bateu nelas lá. Que minha mãe não é nem a mais nova, ela é a do meio e ela... Nem é a mais nova, nem é a mais velha, e aí ela pegou e cuidou, trouxe o meu avô de lá pra cá e elas não queriam deixar. Falou: “Não, vocês não estão cuidando dele. Vocês não estão nem aí pro seu pai. Pois pai, eu estou aqui, eu vou levar o senhor embora”. Ele falou: “Leve-me embora. Leve-me embora”. Aí minha mãe falou: “Mas eu vou pra São Paulo, o senhor vai pra São Paulo?” “Vou”. Foi todo mundo. Todo mundo lá de casa foi, minha mãe, meu pai, meus irmãos, foi todo mundo. Aí fomos embora, chegamos lá, ela trouxe, conversou lá com o pessoal pra cuidar da casa lá um pouquinho, pagou uma moça pra limpar, tirar toda a sujeira que ficou, mas queimou tudo, queimou sofá. Ele saiu com o cabelo queimado, o braço queimado. Tadinho. Aí ele veio, de lá pra cá ele não quis comer mais, ele só chamava pela infeliz da minha tia: “Rute, cadê Diana? Cadê a Diana, Rute?” “Pai, a Diana não está. Ela foi embora, ela não está aqui, não”. Aí ela foi embora, o trouxe, ele ficou aqui, aí ele ficou três anos na sonda, só comendo pela sonda, não queria comer. Ele gostava muito de mim, eu também gostava muito do meu avô, nunca deixei de ir lá visita-lo. Aí ele parou de comer, começou a tomar remédio, a pressão foi aumentando, aí veio diabete, essas coisas. Depois criou ferida na perna dele, que ele ficou muito tempo deitado em cima da cama, ele não queria andar. Se ficasse em pé ele não tinha forças porque a gente gastava muito dinheiro com as comidas pra colocar na sonda, porque arroz e feijão ele não queria, comida batida no liquidificador também ele não queria e aí a gente falou: “Não, mãe, vamos ter que ver o que a gente vai fazer com o avô”. Aí compramos aquelas latas de comida, leite, tudo pronto, né? Aí depois ele... Foi pro hospital, melhorava, voltava pra casa, e minha mãe indo e voltando de hospital. Fora isso ela ainda ia ver as amigas dela, as amigas estavam tudo com câncer. Minha mãe não foi criada com a mãe, só com o meu avô, as irmãs dela já foram criadas junto com a mãe dela, com a minha avó. Aí elas sempre ficaram bravas porque se a minha mãe chegar na casa da minha avó é bem recebida, as meninas que ficaram lá não são bem recebidas. Minha avó não faz muita questão. Aí elas ficaram muito bravas, minha mãe ficou depressiva, começou a tomar remédio, queria sair. Aí meu pai aposentou nessa época também, minha mãe largou a doceira, meu pai continuou. Hoje ela não trabalha mais, ela não quer mais, não tem força mais pra fazer aí ela... Hoje ela está bem, mas uns três anos atrás era difícil. Eu não conseguia trabalhar, eu ficava em casa, falava: “Não. Eu vou ficar com a minha mãe”.
P/1 – Você ficou um tempo ajudando ela em casa então?
R – Falei: “Não, eu vou ficar com a minha mãe”. Aí o meu irmão trabalhava e eu falava pra ele: “Você dá um jeito”. Aí eu comecei a fazer bolo, vender as coisas dentro de casa. Falei: “Vou vender as coisas dentro de casa pra poder ajudar”. E meu pai aposentou, também ficava na sorveteria e aí minha mãe começou a pegar raiva porque antes ela conseguia tudo que ela queria pelo dinheiro que ela tinha. Aí ela queria fazer alguma coisa, tinha que falar com o meu pai: “Pai, dá o dinheiro. Pai, faz isso”. E quando eu não estava ou os meus irmãos não estavam tinha que ser ele. Aí ele pedia dinheiro pro meu pai, meu pai falava: “Pra que? Deixa isso aí pra lá. Não sei o que.” “Pra comprar uma calcinha tenho que pedir dinheiro. Eu não aguento essa vida”. Aí ela foi se deprimindo, deprimindo também, ele começou a deixa-la de lado, sabe? Aí o que era passado pra ela antes foi voltando, tipo, meu pai traiu minha mãe, eu que peguei meu pai traindo a minha mãe eu tinha oito anos. Meu pai pegou a amiga da minha mãe na porta da geladeira. Ela foi lá de manhã cedíssimo e a minha mãe estava dormindo. Aí ele se esfregando na geladeira lá com ela. Aí eu fui lá, voltei correndo, levei uma baita de uma surra, nunca tinha apanhado do meu pai, foi a primeira vez. Aí ele negando, falando que não era, eu falando: “Foi sim que eu vi, eu não estou mentindo pra minha mãe. Eu não estou doida de mentir, não, que eu não quero apanhar”. Aí naquele dia minha mãe falou: “Se você tocar um dedo nela você vai ver o que eu vou fazer com você”. Aí foi uma briga danada naquele dia. Depois a gente foi cuidando da minha mãe, meu avô faleceu tem quatro anos e ela vai. Só que hoje tem remédio que não faz mais efeito pra ela. Isso é o que mais me deixa triste, dá dó da bichinha, mas eu saio, igual agora vou tirar minha carta, falei pra ela: “Pode ficar tranquila que eu vou tirar minha carta. Se é pra andar eu vou, se precisar ir a pé daqui lá no centro de Osasco, mãe, nós vamos. Debaixo de chuva, nós vamos, vamos andar, vamos sair”. Que o meu pai às vezes ele fala: “Ah, não. Hoje eu estou com pouco dinheiro pra colocar gasolina no carro.” “É o dinheiro? Tô” “Não.” “Tô. Vai levar minha mãe pra sair agora”.
P/1 – Fran, e quando é que você chegou aqui no Quintal? Você ficou um tempo parada, você falou que trabalhou na loja de brinquedo educativo, depois parou.
R – Então, pra eu voltar a trabalhar na loja de brinquedo educativo foi porque estava feio em casa. Estava só o salário do meu pai, meu irmão estava desempregado aí eu falei: “Vou trabalhar”. E ele falou: “Vou trabalhar, não.” “Então o problema é seu. Você não vai comer uma bala do meu dinheiro”. Aí minha mãe falou: “Não, Fran, não pode ser assim.” “Mãe, ele é folgado”. Aí eu conheci o meu esposo.
P/1 – Como é que vocês se conheceram?
R – Eu trabalhava na loja e aí eu saí da loja, fui numa pizzaria e o namorado da minha amiga o conhecia. Aí o Jerônimo já tinha me visto várias vezes, aí me apresentou pro meu esposo, que é o rapaz que eu vivo hoje.
P/1 – Como que é o nome dele?
R – É Amarílio.
P/1 – E aí como é que foi que vocês começaram a ficar juntos?
R – Aí demorou bastante porque eu ficava com medo. E outra que eu sempre tive receio porque eu não era divorciada ainda. Minha mãe já olhava pra mim e falava: “Está na hora de casar, né, Fran?” “Não, mãe, eu não vou casar mais, nunca mais”. Aí ela pegou e falou: “Veio um rapaz aqui atrás de você.” “Que rapaz?” “Um rapaz muito bonito, dos olhos azuis, muito lindo.” “Mãe, coloca ele pra correr. Tira esse homem da minha porta”. E aí ele já sabia onde eu... Eu o deixei um dia me levar embora, não estava rolando nada ainda porque eu não deixava, eu era ruim, não deixava então ficava: “Não. Não”. Eu era muito difícil pra ele, aí ele foi, a gente foi conversando, foi se conhecendo até o dia que rolou da gente sair. Aí a gente ficou juntos, depois desse dia nunca mais a gente se separou. Já tem dois anos e nove, dois anos e dez que a gente está junto. Aí eu fiquei com ele um ano, eu engravidei da minha filha hoje. A Alicia hoje vai fazer dois anos já.
P/1 – E aí como é que foi quando você descobriu que estava grávida?
R – Nossa, ele ficou muito feliz. Então, quando ele descobriu que eu estava grávida, eu já tinha falado pra ele na primeira semana, falei: “Eu fui casada, não sou divorciada ainda, estou correndo...”. Eu falei pra ele: “Não estou correndo atrás ainda, mas ó...”. Ele falou: “Eu acho que é bom você correr atrás porque já pensou se você precisa casar, se ele morre, essa família vai vir buscar as coisas, sabe? Eu acho que é bom você já se desligar”. Eu olhava pra ele: “Já quer casar. Não”. Falava: “Mãe, ele já quer casar, com certeza, pra ele falar.” “Não, eu acho que ele está bem certo, você devia bem divorciar”. Aí eu peguei e falei: “Está bom”. Fui lá, tive que ligar pra ele porque eu tinha que pegar um documento com ele, ele falou: “Eu bem precisava falar com você”. E ele me procurava no Facebook e eu não queria ser amiga dele. Aí o irmão dele foi que eu fiquei amiga pra poder pedir o documento que eu precisava. Eu precisava do comprovante de endereço de lá pra poder ir as cartinhas lá pra casa dele pra ele, pra ele não ter que ficar levando. Aí eu peguei, falei com ele, falei: “Pede pro seu irmão me mandar aqui. Se ele quiser me mandar só o endereço também não tem problema. Eu só preciso do endereço certinho”. Que eu não lembrava, não lembrava número, não lembrava a casa. Tentei ir lá na rua pra ver se eu pegava o número e nem lembrava mais andar ali. Aí passou esse dia minha mãe falou assim: “Recebeu uma mensagem no Facebook pra você aí. Vê lá”. Aí eu fui ver era o dia que eu falei: “Então vou lá”. Aí eu peguei e pedi pro irmão dele me dar o número dele. Aí a moça ficou me perguntando um monte de coisa, eu não sabia dizer. Eu falei: “Moça, eu não tenho o telefone dele, tem cinco anos que eu não tenho convivência, não sei. Eu fui na rua, não sei nem a rua que eu estava indo”.
P/1 – A moça que você diz é a advogada?
R – É. Aí ela falou: “Vamos ter que tentar dar um jeito”. Eu falei: “Não, faz assim, eu vou entrar agora no Face”. Aí online lá mesmo eu peguei e falei: “Deixa-me entrar aqui, eu vou pedir o telefone dele, eu tenho certeza que o irmão dele vai me passar”. Ele falou: “Não, está bom, eu te dou o divórcio agora. Pode falar pra ela que agora eu dou o divórcio.” “Graças a Deus”. Aí eu fui, eu já estava com Boy, já estava grávida, que eu também precisava registrar minha filha e eu não queria registrá-la como meu nome de casada.
P/1 – Você e o Amarílio foram morar juntos?
R – Fomos. Eu fui morar com ele eu tinha ganhado a Alicia. Eu ganhei a Alicia, eu falei: “Não, depois que eu ganhar a Alicia eu vou pra sua casa”.
P/1 – E aí como é que foi então a coisa do divórcio? Ele te deu o divórcio, o Felipe.
R – Aí ele me deu o divórcio, com um mês o meu divórcio saiu. Foi bem rápido porque eu não falei que eu tinha carro, eu não falei nada, eu deixei tudo pra lá. Aí foi bem rápido, até o meu marido foi no dia, ele ficou muito bravo, o Felipe, porque ele queria voltar, eu olhei pra cara dele: “Meu filho, esquece. Acabou. Acabou naquele dia que eu estava na sua casa, que a gente brigou, que você disse que ia à delegacia fazer um monte de coisa. Acabou naquele dia. Acabou. Eu não tenho mais nada com você”.
P/1 – E aí quando você descobriu que estava grávida pela segunda vez como é que foi sua sensação?
R – Que eu ia perder de novo. Eu fiquei assim, eu falei pra ele: “Eu não fiz tratamento. E agora?”. Ele falou: “Não. Você não vai perder. É a nossa filha. Esquece o seu passado.” “Não, não dá pra esquecer. Só tem uma coisa, você prefere menino ou menina?”. Ele falou: “O que Deus mandar, filha, está bom.” “Eu bem prefiro uma menina.” “Se você colocar o nome da criança que você tinha, ah não.” “Não. Não vai se chamar o nome da menina. Vai ser um nome bem lindo, bem lindo mesmo.” “Então tá bom”. Aí eu descobri...
P/1 – Quem que escolheu o nome? Foi você ou foi ele?
R – Eu.
P/1 – Conta qual que é o nome e por que você escolheu esse nome.
R – Alicia é o nome da minha filha. Eu estava procurando no livro dos nomes, eu queria um nome forte, que também parecesse com a letra A porque era o nome do meu esposo, tudo. Aí é Francislaine e Amarílio, eu falei: “Não, eu quero um nome diferente. Eu quero que seja um nome que a minha filha possa ser a filha mais feliz do mundo, a melhor de todas”. Aí eu fui pesquisar naqueles livrinhos de nome, aparecia lá que Alicia era verdadeira, a palavra era verdadeira, e que ia ser uma pessoa muito esforçada, que ia saber guardar seu dinheirinho, fazer bem sua vida, ia ser muito bem resolvida. Falei: “Essa vai ser minha filha”. Personalidade da mamãe e do papai. Aí eu fui e coloquei.
P/1 – E como é que foi essa sua gravidez? Essa segunda gravidez durante.
R – Foi bem tranquila. A família ficou muito feliz, a gente já... Com uma semana que eu estava com o meu esposo eu nem sabia que eu ficar junto com ele, ele já foi me apresentar pra minha sogra, pros irmãos dele. Também era o último que precisava casar, então eu acho que tinha uma pressão em cima disso. Aí a gente juntos, o dia que eu fui anunciar lá que eu estava grávida a família inteira veio com abraços, beijos, sabe? Festa. “Vamos fazer uma festa agora”. É a neta dos dois lados, minha mãe tem meu sobrinho, mas ele já tá com dez anos hoje e eles, a minha sogra teve sete filhos, uma só é menina e os irmãos, os filhos da minha sogra também, meus cunhados, todos eles têm menino. E aí veio a Alicia e a Elen, que ela já tem 16 anos, que é uma sobrinha deles também, mas que vive em Minas. Meu esposo também é mineiro, ele é um pouco mais longe, mas é pertinho ali, só quatro horas a mais.
P/1 – E como é que foi o seu parto, Fran?
R – Foi bem tranquilo. Eu tive um parto normal. Ele estava lá. Assim, foi tranquilo, eu fiquei brava com a médica porque eu fui ganhar a Alicia na quinta e eu tinha até o dia 17 de fevereiro pra ganha-la e eu a ganhei dia 15. Então eu já estava achando que já estava na hora da Alicia nascer. Aí eu cheguei no hospital, a doutora falou que eu não ia ganhar a Alicia naquele dia, eu já estava sentindo muita dor e tinha sangrado, tudo. Estava uma chuva naquele dia que eu estava desesperada. Acabou a luz na Paulista, eu saí daqui do Jardim Conceição, fui ganhar a minha filha na Vila Mariana. Meu marido perdeu a placa do carro na enchente, lá no Morumbi, e aí ele demorou a chegar, mas também tinha muita gestante na minha frente, muita gestante. As médicas olhavam pra minha cara, falavam: “Nossa, como você é novinha. Você tem certeza que você está sentindo dor?” “Estou”. E eu sentada, tranquila lá, respirando lá e a dor vinha e eu quieta. Um monte de menininha nova lá berrando e o grito delas me deixava nervosa, eu: “Ai, mãe, mande-as virem logo, pelo amor de Deus”. E minha mãe ali do meu lado porque eu subi a rua da minha mãe, duas ladeiras acima. Eu cheguei lá na minha mãe, falei: “Mãe, sangrou, eu preciso ir pro hospital agora. Está doendo a minha barriga. Vem uma dor, passa. Daqui a pouco vem outra dor, mãe, passa. Vamos logo, chama o meu pai, fala pra ele tirar logo”. E eu já tinha ligado pro meu marido, ele falou: “Filha, está uma chuva...”. Eu toda molhada, peguei uma baita de uma chuva e aí eu cheguei lá no hospital... Eu liguei pra ele, ele falou: “Eu estou aqui no Morumbi, eu vou direto pro hospital”. Aí no meio do caminho acabou a luz na Paulista, tudo escuro. Quando faltavam 15 minutos pra eu chegar lá no hospital aí eu falei pra minha mãe: “Mãe, eu estou com muita ânsia de vômito e está me dando muita sede.” “Você não pode beber água. Você não pode comer, você não pode fazer nada se você entrar em trabalho de parto”. Eu falei: “Mas está doendo muito, mãe. Eu quero água”. Entrei no hospital a médica falou: “Não, você não vai ganhar a Alicia hoje, viu? Você pode ir pra casa, toma um Buscopan que até domingo você a ganha”. Domingo era dia 17. Eu falei: “Não.” “Você só está com quatro dedos de dilatação”. Quando eu saí do hospital, era 11 e pouco da noite, voltei pra casa. Cheguei em casa, tomei um banho, fui deitar aí as dores continuavam, as dores continuavam. Falei: “Mãe, eu não sei mais se eu vomito, eu não sei se eu vou ao banheiro, eu estou muito nervosa”. Aí o meu marido foi deitar, ele falou: “Você não vai comprar o Buscopan pra tomar?” “Não. Eu estou sentindo muita dor, mas eu acho que eu vou ganhar a Alicia”. Minha barriga desceu e ficou aqui embaixo. Eu: “Viu?”. Ele: “Calma”. E beijava. “Eu não quero beijo”. Jogava-o longe. Falei: “Sai daqui.” “Não quero”. Estava impaciente, suava, eu nunca suava daquele jeito. Aí eu fui e voltei pro hospital. Liguei pra minha mãe, falei: “Mãe, estou muito nervosa aqui, estou indo pro hospital.” “Tá, eu estou descendo”. Não deu nem tempo da minha mãe descer, o Boy me enfiou dentro do carro, deu tempo dele pegar uma toalha e uma garrafa de água gelada na geladeira, entramos no carro e saímos. Como minha mãe morava na avenida bem em cima ela viu a hora que a Doblô passou aí ela falou: “Aquele carro ali é a Fran”. Ela pegou, desceu. Quando eu estava entrando no elevador, porque eu tinha que chegar no quinto andar, eu estava sentindo tanta dor, a médica perguntando pra mim: “O que você está fazendo aqui? Meu, você só vai ganhar essa menina fim de semana, está muito cedo. Deixa eu fazer exame de toque em você”. No que ela enfiou a mãe ela falou: “O que é isso?”. Eu sem querer empurrei a Alicia, porque veio uma dor muito forte. Ela falou: “Nossa”. Aí eu já fui correndo pro hospital, nisso a médica tinha que voltar porque ela tinha mandado outra pessoa pra casa, outra menininha jovem e essa menina ganhou a criança dentro de casa, a criança caiu dentro da privada. Minha mãe falou: “Você mandou a minha filha também pra casa. Pois eu vou abrir outro boletim de ocorrência contra você”. Aí todas as mães daquele plantão que a pegaram, ela não trabalha mais lá no hospital, a gente pediu pra ela ir. Ela ficou, fez o meu parto, tirou a minha filha. Pra completar ela pegou a Alicia que ela fincou as quatro unhas dela aqui. Eu levantei igual uma leoa que vai em cima da sua presa. Eu acabei com a raça dela dentro daquele... E eu já cansada, não sei da onde eu arrumei forças pra bater naquela médica. Quando eu olhei minha filha com isso aqui sangrando, com aquela pele fininha, eu quis mata-la naquela hora. Eu falei pra ela: “Olha, eu demorei muitos anos pra colocar um filho no mundo pra você fazer isso”. Acabei com a raça dela ali, rasguei-a inteirinha nas unhas. Minha mãe falou assim... E meu marido, meu pai separando, chamou o segurança do hospital, chamou tudo, falou: “Olha o que ela fez com a minha neta. Olha o que ela fez”. Ela trouxe a minha filha aí o meu marido falou: “O que é isso no rosto dela?”. E ela: “Eu precisava falar isso, foi a forma como eu a tirei”. Meu marido falou: “Você está pensando que é o que?”. E aí foi aquela bagunça no hospital, sabe? Fora que a minha mãe tinha falado que ia fazer boletim lá porque ela tinha me mandado embora e aí já ia ajudar o povo lá. Quando ela tirou minha filha, pronto. Nessa hora eu não consegui amamentar a minha filha. A enfermeira veio, foi limpar, tudo, estava lá limpando e a gente derrubou um monte de coisa. Na hora eu só peguei um negócio lá, um objeto que era de corte, eu ia matar aquela médica. Falei: “Obstetra, eu vou acabar com a sua raça aqui. Some da minha frente”. Aí a levaram, minha mãe, ela estava com isso aqui tudo ensanguentado que a minha mãe tinha batido nela, eu fui lá pra bater nela. E eu não podia levantar, estava tudo aberto. Não levei nenhum ponto, graças a Deus não precisou. E aí a Alicia veio, nasceu. Fiquei muito brava no hospital porque eu fui ver a minha filha depois de 12 horas porque ela não estava amamentando, eu estava muito nervosa, então meus peitos ficou empedrado o leite. Aí ela não mamou naquele dia, ela foi mamar... Não. Mamou naquele dia, ela mamou cinco horas da tarde. Aí foram, deram aquele leite Nan pra ela lá do hospital e aí só depois eu fui ver a minha filha. Depois ela apareceu na maior cara de pau lá pra me pirraçar, aí o meu marido não saiu do meu lado porque ele falou assim... Não, ele falou: “Fran, eu vou ter que amarrar nessa mesa porque você está muito nervosa”. Deram remédio e eu não dormia, fizeram um monte de coisa comigo e eu falei: “Eu vou acabar com a raça daquela doutora se eu não me chamo Fran. Olha o que ela fez com a minha filha”. E aí vinha, toda vez o pessoal vinha, passava um negócio no rosto dela, usou uma pomada que a gente usa aqui pra mordida nas crianças. Aí só ficou a marca, ficou uma marca só aqui, mas eu fiquei transtornada naquele dia, eu queria acabar com a raça dela.
P/1 – Fran, e quando você voltou com ela pra casa, como é que foi a sensação de voltar com a sua filha pra casa?
R – Só de eu ter pegado ela lá depois, como lá eu ficava no apartamento ela ficou o dia inteiro comigo. Aí a hora que eu falei: “Agora a gente vai pra casa, filha. Vai ter sua casa”. Eu fiz o quarto da minha filha, que a casa que eu morava era enorme, agora eu moro na minha mãe de novo, ela tem casa de aluguel. A moça pediu lá pra sair, eu falei: “Mãe, dá pra mim porque eu estou pagando muito caro de aluguel. Eu pago 800 reais”. Aí ela deu pra eu morar lá, eu sou a única filha também casada. Eu fui pra lá morar com ela. E quando eu voltei pra casa que eu falei: “Nossa, que legal”. Sabe, eu me senti a melhor pessoa naquela hora. Eu ficava ciumenta, eu: “Vai lavar a mão. Amarra o cabelo. Faz isso. Tira o chinelo. Faz isso”. Sabe, eu me senti outra pessoa. Daquele dia em diante eu me transformei completamente.
P/1 – O que mudou na sua vida ser mãe?
R – Mudou muito. Mudou a rotina, a forma de eu levantar de manhã e falar: “Agora eu tenho...” “...não só a minha família, mas eu tenho a minha filha”. Então, acordar de manhã e saber que eu tenho tudo. Eu tenho minha filha que é tudo, o meu esposo, a minha mãe. Mas ela é tudo na minha vida. Tudo. É tudo mesmo.
P/1 – Fran, e aí eu queria conversar um pouquinho sobre o Quintal Mágico. Em que momento... É depois que você tem sua filha que você vem pra cá, né?
R – É.
P/1 – Queria que você contasse como é que você descobriu ou se você já conhecia como é que você conheceu o Quintal e como é que você começou a trabalhar aqui, como é que foi a sua entrada?
R – Eu conheci o Quintal pelo meu esposo, ele é amigo do Erick, que é o esposo da Jú. Ele falou que estava precisando de professores pra trabalhar aqui, aí eu liguei aqui pra conversar e aí me contrataram, a Ju me atendeu super bem, tudo. Eu vim pra trabalhar, eu vim, fiz a entrevista, eu estava levando a minha filha no médico e aí meu marido falou: “O Erick pediu pra você ir lá rapidinho, não vai demorar, aí a Ju vai te atender”. Eu vim, conversei com a Sheila que é a coordenadora também e aí ela me chamou e falou: “Amanhã você começa, sete horas da manhã você está aqui”. Gostou bem do meu perfil. Eu achei até que aqui só aceitava quem tinha registro em carteira, tudo isso, tanto que no dia que eu liguei, que ele pediu pra eu ligar, aí a Sheila falou: “Então, você tem experiência na carteira?” “Não, mas eu tenho um contrato da onde eu trabalhei, que eu fui orientadora social, trabalhava com criança de tal idade a tal idade, tudo, tal.” “Não, tudo bem”. Falou que depois ligava, esse dia morreu e ela não me ligou. Eu estava indo pro médico aí foi que o meu marido ligou e pediu pra eu vir. Iniciei no Quintal, iniciei no berçário com os bebezinhos que eu já nem gostava tanto, né? E aí quando eu entrei eu falava, eu falei pra minha mãe: “Mãe, eu vou trabalhar já amanhã e eu vou ficar com as crianças...” a Sheila já tinha falado qual sala que eu ia ficar “Eu vou ficar com as crianças da idade da Alicia, mãe.” “Mentira.” “Verdade”. Eu já tinha parado pra fazer faculdade, mas eu namorava o Boy, o Boy estava fazendo a faculdade, que Boy é o meu esposo, e aí eu ia fazer a faculdade também. Aí foi que eu descobri que eu estava grávida, falei: “Agora não vou fazer faculdade, não, porque é eu entrar e vou sair”. Aí a Alicia nasceu, quando foi esse ano também eu ia fazer faculdade, não deu porque minha mãe queria voltar pra Minas. Deu um surto nela que ela queria voltar e tudo. Aí quando eu entrei aqui eu falei: “Ju, eu vou ficar, mas eu vou fazer faculdade, tudo, pode ficar tranquila”. As meninas, algumas meninas já estavam fazendo faculdade, então eu ficava: “Elas têm faculdade. Ai que legal”. Eu queria aquilo pra mim também. Aí com o Quintal, trabalhando aqui, eu conheci mais pessoas, experiências diferentes, sempre conversei com as meninas, até com as que ficavam mais quietas eu ia lá pra conversar.
P/1 – Quanto tempo faz que você está aqui agora?
R – Tem 11 meses que eu trabalho aqui.
P/1 – A sua filha frequenta também o Quintal?
R – Não. Ela fica com a minha mãe. Minha mãe não a deixa vir pra creche, meu marido também não e eu também concordo porque ela tem que ir quando ela tiver maiorzinha, três anos, sabe? Eu penso muito, ela brinca muito. Igual minha mãe, tudo que eu precisava aprender eu preferi aprender em casa. É bom a gente ter um espaço, a escola, conhecer pessoas diferentes, tudo, mas eu prefiro ainda reserva-la e deixa-la até o começo do ano que vem pode ser que ela vá. Eu fiz a inscrição só por fazer, pra ver se vai, mas eu acho que vai sair.
P/1 – E aí como é que é o seu trabalho aqui? Conta um pouquinho pra gente, Fran.
R – Então, aí eu fico no berçário com as crianças, a gente faz bastante atividade. Eu sou uma pessoa que eu tenho um perfil muito livre. Eu não sou daquela que fica: “Ah, não, não faz isso. Não, não vá lá que você vai cair”. Eu não sou muito protetora, eu sou mais livre, deixo a criança descobrir. Até as meninas têm meio receio comigo porque elas falam: “Duvido que você faz isso com a Alicia.” “Não, eu deixo”. Cair a gente vai lá, pega, levanta, acolhe. Está chorando a gente acolhe.
P/1 – Qual que é a faixa de idade que você trabalha?
R – Então, agora eles já estão com dois anos, mas quando eu entrei aqui eles tinham 11 meses. Quando eu entrei aqui foi incrível porque eles não andavam, eles tinham a carinha de bebezinho e aí acompanhar esse crescimento dessas crianças foi incrível. Eu falava: “Gente, eu me sinto a mãe deles”. Porque eu tenho crianças que eu falava: “Gente, o David aprendeu a andar aqui”. A gente colocava obstáculo pra ele passar e ele vinha. “David, vem. Pega”. E ele vinha. Então tinha muitas crianças. Tinha criança que durou o ano inteiro, agora, setembro que a minha aluna veio se adaptar. Mas também foi casos da mãe também, não trazia, tudo, sabe? E também não queria perder a vaga do Quintal. Mas a atividade pra eles fazerem era muito bacana, a gente sempre pesquisava, sempre queria trazer alguma coisa nova. Às vezes também eles não estavam dispostos a fazer, eles estavam com mais sono, eles iam fazer tudo bem lento. Então a gente foi lapidando e a gente foi criando a sala. O vínculo com as crianças é muito grande, eu gosto muito de trabalhar com os pais, apesar de ser muito difícil aqui a gente falar com um pai ou outro. Aqui não, em todo lugar, porque eu sempre trabalhei e queria conversar com os pais, era muito difícil. Muito difícil.
P/1 – Por que difícil?
R – Tem muitos pais que não são muito presentes, então fica mais difícil. Às vezes você precisava conversar uma coisa específica com um pai, pro pai se atentar mais e às vezes eles não aparecem, a gente marca e eles se desinteressam. Às vezes você manda um recado na agenda e eles nem te respondem. É bem difícil lidar com os pais. Foi o meu maior desafio aqui na escola, falava: “Gente, como é difícil lidar com os pais”. Mas o ano que vem vai mudar.
P/1 – Fran, eu queria saber um pouquinho agora sobre o espaço mesmo. O que você sabe sobre esse espaço que é o Quintal, que se transformou numa horta e não só em horta, mas vocês têm várias plantas hoje? Então de que forma você vê esse espaço, se você acha esse espaço importante, se você gosta e se você acha que tem alguma importância pras crianças.
R – Quando iniciou o projeto do Floresta, antes a gente tinha muito receio de levar as crianças lá pra baixo por causa das pedras que tinham no chão, as plantas a gente tinha medo deles arrancarem as plantas que eram plantadas. E como tinha aqueles pneus, no começo, antes de plantarem a gente falava: “Eles vão destruir isso, mas a gente tem que ensinar que eles não vão destruir”. Aí a gente foi fazendo com que essas crianças, tanto a gente quebrando essa barreira, descemos, pegamos algumas plantas, sentamos com eles e mostramos as plantinhas, como eles poderiam cuidar, a forma como eles poderiam jogar a água, não tirar terra dali, porque a gente os deixa brincar com muita terra lá embaixo. Com o projeto eles gostam bastante, o berçário que é a sala que eu trabalho não acompanhou muito, mas as outras salas, nossa, como eles gostam. Eles gostam de ver plantar, eles querem plantar, eles querem cuidar daquela planta. Se eles veem subindo eles dão um alerta pra criança: “Não, não, não.” “Tia, olha, vem ver isso”. Então eles começam a entender a importância de tudo aquilo. Então eu acho que o projeto é bem bacana, eles gostam bastante, é grande, mas eu acho que podia ocupar mais, encher aqui de bastante coisa pra eles, eu acho que seria bem interessante. O berçário fica mais assim porque eles são bem bebês, eles levam muita coisa na boca.
P/1 – E qual que você acha que é a importância pras crianças de ter esse contato com a natureza, com planta? Você acha que é importante pra eles?
R – Eu acho que sim. A natureza é vida, então eu penso assim, se eles sabem, vão saber cuidar do amigo, eles vão saber cuidar da plantinha, eles vão poder incentivar, eles vão poder cuidar que é o mais necessário. Então eu acho que é bem importante pra eles.
P/1 – E aí eu queria saber um pouquinho o que você sabe sobre o Criança Esperança, pra falar um pouco dessa parceria. Desde quando você conhece e como que você conheceu o Criança Esperança e o que você sabe sobre o Criança Esperança?
R – Bem pouco. A Amanda que está à frente do projeto, o Pedro, eu tenho pouco contato com eles. Eu sou muito curiosa, então às vezes se eu vejo criança reunida assim eu quero saber o que está acontecendo. E aí o Criança Esperança eu penso que essa parceria vem beneficiar essas crianças pra que eles tenham uma visão melhor da vida, das coisas que acontecem, tanto esse projeto que está acontecendo do Floresta no Quintal, pra um incentivo de trazer a comunidade, de fazer esse vínculo, sabe? Da escola. Deixa-me ver mais assim... É bem pouco o que eu sei.
P/1 – Mas o Criança Esperança você já conhecia antes do Quintal?
R – Não.
P/1 – Nunca tinha ouvido falar do Criança Esperança?
R – Só os projetos que eu vejo quando passa na TV. Tem música, essas coisas pra incentivo. Não só pra tirar a criança da rua, essas coisas, mas pra que eles entendam qual a importância disso, o quanto é bom pra eles, o quanto eles podem levar isso pra frente.
P/1 – E aí qual que você acha que é a... Isso assim, bem pessoal mesmo, é aquilo que você pensa. Qual que você acha que é a importância assim de existir um projeto como o Criança Esperança que dá esse apoio pra instituições como o Quintal e pra outras que trabalham com criança?
R – Qual é a importância?
P/1 – É. Se você acha que é importante e, se você acha, por que você acha que é importante?
R – Olha, eu acho importante exatamente porque essas crianças às vezes precisam não só dessas atividades propostas que a gente tem sempre, mas pela inovação. Floresta no meu Quintal, quantas escolas não têm uma árvore, não têm um balanço, sabe? Não é só uma floresta, a gente aqui vê que é um espaço livre que tem árvores num canto, uma coisa mais arejada. Os outros projetos, música, dança, capoeira, essas coisas, já são mais tradicionais. O Floresta eu acho já mais importante, é um incentivo pra cuidar, mas eu acho também que deveriam ter mais projetos assim, não só esses tradicionais. Mas o Floresta eu achei mais interessante, a importância pra eles é de eles poderem levar isso pra frente, como é que eu diria? Ah, não sei se seria exatamente plantar, sabe?
P/1 – Você acha que esse apoio, recurso do Criança Esperança, que veio aqui pro Quintal Mágico, você acha que ajudou no projeto?
R – Ajudou. Ajudou. Olha, não só nesse projeto, eles fazem passeios, tanto que eu fui num ontem. Eles mandam pra cá, a gente vai acompanhando, vai fazendo esses passeios que eles trazem esses recursos.
P/1 – Que tipo de passeio?
R – A gente já foi, que eu lembro que teve, mas eu não participei, eu só participei de dois. A gente foi pra... No começo do ano eu não fui, teve, mas eu não participei porque eu era do berçário, o da Disney que era pra ver o pessoal, Mickey, Minnie, o pessoal da Disney lá no gelo, patinação no gelo. Aí teve esse do... A gente fez até uma apresentação aqui também com os pais, com a comunidade, também o Criança Esperança ajudou a fazer aqui nesse dia. Teve o passeio agora pro museu do Catavento, pras crianças também de ciências, essas coisas, pra eles saberem bastantes coisas sobre os animais. E teve outro passeio também esses dias da Xuxa, que eu lembre também.
P/1 – Onde vocês foram ver a Xuxa?
R – Eu não lembro.
P/1 – Mas era o programa? O que era? Era uma gravação?
R – Era uma gravação de Natal, as crianças iriam cantar e eles também participaram desse projeto com as crianças.
P/1 – E qual que você acha que é a importância pras crianças desses passeios, de ter acesso, conhecer esses lugares?
R – Eles tendo esse acesso são coisas bem diferentes pra eles. Eu fui só nesse último, eu não sei se teve mais alguma coisa assim, pra nós também, que as meninas do maternal também não passam muita informação pra gente. Mas esse último que eu fui falava sobre esse do Catavento que foi agora, era sobre ciências, então trabalhou muito a questão da biologia e da ecologia. Então muitas crianças lá sabiam bastante coisa de como cuidar das plantas, não só das plantas, da água, daí qual é essa importância. Fora aqui projeto, aqui dentro, lá fora eles também puderam dar essa parte desse conhecimento deles. Então eu acho que o projeto aqui vai retransmitindo fora. Então eu achei bem bacana.
P/1 – Tá bom, Fran. Obrigada. É um pouco isso mesmo que eu queria conversar contigo, eu vou encaminhar agora pro final, tudo bem?
R – Tudo.
P/1 – São duas perguntas finais que a gente faz pra encerramento. A primeira é quais são seus sonhos.
R – Quais são meus sonhos? Ser professora, bem formada. Eu não quero cargo de nada, quero sempre ser professora até ficar velhinha, que eu gosto bastante. Eu também tenho um sonho da minha casa própria, do meu carro. Fora isso, são só esses mesmo, mas o mais importante é da minha profissão, porque daí eu vou encaminhando tudo e aí é assim.
P/1 – Que faculdade você quer fazer?
R – Pedagogia.
P/1 – E aí você vai tentar começar em breve.
R – Já. Fevereiro está aí já.
P/1 – E por fim então como é que foi contar a sua história?
R – Foi bacana. Eu gostei bastante, lembrei muito, trouxe bastante lembrança porque eu não sou muito de ficar contando. Até eu acho que falei bastante, mas foi bem bacana. Bem legal.
P/1 – Tá bom. Muito obrigada.
FINAL DA ENTREVISTARecolher