Meu nome é Orfila Lima dos Santos. Nasci na cidade de Parnaíba, no Estado do Piauí, a 15 de novembro de 1924.
CIDADE
A cidade de Parnaíba, no final dos anos 20 e nos anos 30, era uma cidade que, em termos econômicos, era o centro das atividades macro-econômicas piauienses. Os produtos que eram...Continuar leitura
Meu nome é Orfila Lima dos Santos. Nasci na cidade de Parnaíba, no Estado do Piauí, a 15 de novembro de 1924.
CIDADE
A cidade de Parnaíba, no final dos anos 20 e nos anos 30, era uma cidade que, em termos econômicos, era o centro das atividades macro-econômicas piauienses. Os produtos que eram produzidos no rio, quer por agricultura cultivada, quer extraída de arvores nativas, desciam o rio Parnaíba, que tem uma extensão de 1.500 quilômetros e é o segundo maior rio do Piauí, do Nordeste. Os produtos desciam o rio Parnaíba e iam na cidade Parnaíba. Eram devidamente tratados, industrializados e exportados. Era portanto uma cidade que, em termos econômicos, é muito importante no Piauí nos anos 20 e 30.
FAMÍLIA
Meus avós tinham atividades comerciais. Meu avô materno tinha uma padaria. E meu avô paterno era de onde nasceu o meu pai, no estado no Maranhão, proximidade do Piauí, numa cidade chamada São Bernardo. E era um agricultor.
O nome do avô materno era Fenelon Fonseca. E o avô paterno é Genuíno. Não, Genuíno é a avó. João Santos. Meu pai chamava-se Benedito dos Santos Lima, e minha mãe, Neuza da Fonseca Lima. Meu pai tinha atividade comercial. Tinha uma loja comercial. E depois foi - teve atividade de seguros de vida. Era representante da Sul América Seguros lá no Parnaíba. E editava anualmente um livro chamado “Almanaque da Parnaíba”. Esse livro tratava dos assuntos históricos, geográficos e intelectuais, não só da cidade de Parnaíba, mas de todo o Estado do Piauí. Meu pai editou esse almanaque até 1942, quando passou para outro editor, senhor Ranulfo Torres Raposo, que também levou alguns anos até o seu falecimento. E ultimamente o almanaque vem sendo editado pela Academia Parnaibana de Letras.
Bem, meu pai, eu diria que tinha muita atividade intelectual. De forma que diretamente exerceu influência em todos nós. Nós fomos 11 irmãos. A mais velha morreu, hoje somos dez. E evidentemente influiu no curso primário e no curso ginasial. Em termos bons. E minha mãe, indiscutivelmente uma senhora com uma dedicação aos filhos muito grande.
CASA
Ficava numa esquina, na chamada rua Duque de Caxias, próxima ao centro da cidade. O centro da cidade era chamada praça da Graça. Era a um quarteirão da praça da Graça. De forma que era próxima ao centro da cidade. Em minha casa tínhamos duas empregadas. Uma empregada cozinheira e outra empregada faxineira.
INFÂNCIA
Não tínhamos muitas brincadeiras. Tomávamos banho no rio Parnaíba e freqüentávamos o curso primário, que enchia muito o tempo nosso.
EDUCAÇÃO
Naquela época o curso primário era rigoroso. O professor usava até a palmatória quando o indivíduo não cumpria a sua missão. E depois fiz o curso ginasial no Ginásio Parnaibano, que foi um ginásio muito bom lá em
Parnaíba. Essa foi realmente até minha mocidade. Até os 17 anos. A turminha da escola não era de tanta brincadeira, não. A cidade naquela época era meio séria. Não era de tanta brincadeira, não. Eu fiz o primário e o ginásio lá mesmo. Eu terminei o curso do ginásio em 1942, quando houve uma reforma no ensino. E eu fiz a última, a minha turma foi a última que fez o curso de ginásio em cinco anos. E terminado esse curso de ginásio em cinco anos, em 1942, graças ao esforço muito grande de meu pai e de meu primo Zé Tobias Duarte, eu me desloquei para a cidade de Salvador, onde fiz - naquele tempo surgiu o então chamado curso científico. Eu fiz o segundo e o terceiro ano cientifico em Salvador, e em 1943, começo do ano, fiz o vestibular para a Escola Politécnica da Universidade da Bahia, onde durante cinco anos fiz o curso de Engenharia Industrial Química. Tinha muitos alunos de todo o Nordeste nesse curso. Naquela época só existiam três escolas de engenharia no Nordeste. Era Salvador, Recife e Belém. Tanto que numa participação que eu tive, em um seminário sobre o ensino de engenharia lá em São Paulo, eu fiz uma sugestão, que foi aceita. Eu queria que montasse e se instalasse uma escola de engenharia em
Fortaleza. Eles iam para a Bahia e para o Recife também, e lá arriscava, né? O destino era bem variado. Na década de 40, ali, Recife e Salvador; tinha Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Minha escola se chamava Escola Politécnica da Universidade da Bahia. Eu e meus amigos tivemos muito bons relacionamentos nos cinco anos de Escola Politécnica. Tanto que várias vezes nos reunimos para comemorar a formatura. A última comemoração que eu participei foi em 1999, quando fizemos 50 anos de conclusão do curso. Conseguimos, nós que terminamos o curso éramos 69, 28 compareceram a esse encontro em Salvador em 1999. Houve muita dispersão dos membros daquela turma. Mas como eu tinha feito um estágio no Conselho Nacional de Petróleo, no Campo de Candeias, e falavam depois que terminei o estágio lá da escola, falava sobre as atividades do Campo de Candeias. Eu me lembro que seis outros colegas também entraram naquele ano de 1950, colegas de turma em 1950. E entraram também para o Conselho Nacional de Petróleo. E a indústria do petróleo a gente entra como operário. Vai fazer estágio. De forma que todos nós fizemos estágio como operários. Só depois então assumimos a direção de vários serviços como engenheiros.
TRABALHO
No intervalo do ano de 1950, 1949. Nas férias de julho de 1949. E quando terminei o curso, em fevereiro de 1950, fui admitido no Conselho Nacional do Petróleo como engenheiro.
Fiz o estágio, terminei o curso, voltei para terminar o curso. Depois do término do curso voltei a fazer novo estágio complementar no campo de Candeias e em seguida passei a ser responsável por determinados serviços.
É difícil responder como era pra mim naquela época fazer esse trajeto. Mas eu procurei ter dedicação. Sobretudo quando entrei para o Conselho Nacional do Petróleo.
UNIDADE
(UN-BA)
Naquela época os campos de petróleo na Bahia eram isolados. Não havia estradas ligando os campos a Salvador. De forma que a gente ia pra Candeias, ou ia por uma estrada de barro ou ia de trem. Eu normalmente ia de trem. De forma que nós trabalhávamos nos campos de petróleo inclusive aos sábados e domingos, e ao final do mês tirávamos folga de quatro dias. Só nessas folgas de quatro dias é que vínhamos a Salvador. Lá tínhamos acampamentos onde ficávamos alojados. Nós chegávamos do trabalho no acampamento em torno de sete horas da noite. Naquela época não havia telefones ligando, nem havia televisão, em 1950, ligando. É impossível de ser captada. Então a gente ficava conversando, ouvindo rádio e lendo depois do jantar. Os acampamentos não eram tão grandes, não. Esse acampamento de Candeias, onde eu fiquei até julho de 1950, eu acho que cabiam talvez umas 10, 12 pessoas. Tinha um alojamento construído para isto. Como tinha, pouco separado do acampamento dos engenheiros, tinha acampamentos bem maiores para os operários. O Conselho Nacional do Petróleo nos dava café de manhã, almoço e jantar.
Dava pra comer bem. A comida eu não diria que era boa, mas era bem saudável e aceitável.
O dia-a-dia do trabalho, muito intenso. A gente começa às sete horas da manhã e ia. Vinha almoçar em casa, no acampamento, voltava e ficava até o anoitecer.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu não trabalhei propriamente na perfuração. Eu sempre trabalhei na produção. Eu fiz estágio de perfuração de alguns meses, mas meu treinamento foi em produção de petróleo. Desenvolvimento dos campos. Tanto que em julho de 1950 eu fui transferido do campo de Candeias para o campo de Dom João. Então um campo que fica mais internamente
no Recôncavo Baiano. Também absolutamente isolado. Era um campo novo, descoberto depois do campo de Candeias. Em 1949 foi descoberto o campo 50, o campo de Dom João, e começaram a desenvolver em 1950. E eu fui transferido para o campo de Dom João em julho de 1950 para coordenar a completação dos poços e a instalação do sistema de coleta e armazenamento do petróleo.
UNIDADE
REFINARIA DE MATARIPE (RLAM)
No final dos anos 40, e no começo dos anos 50, começou a ser montada a refinaria de Mataripe. Foi montada nas proximidades do campo de Candeias, a cerca de cinco quilômetros do campo de Candeias. Quando a refinaria de Mataripe começou a transferir, começou a operar, foi julgado conveniente que esse início de pré-operação fosse feito com o óleo do campo de Dom João. Que era um óleo mais fino e com menos viscosidade do que o óleo do campo de Candeias. Então nós de Dom João, a partir mais ou menos de agosto, setembro de 1950, nós transferimos para a Refinaria de Mataripe, por pequenas embarcações, através da Bahia de Todos os Santos, petróleo para a refinaria começar a entrar na fase de pré-operação. O que de fato ocorreu. Mataripe começou a operar com o óleo do campo de Dom João, um óleo mais fino. E continuamos no campo. E foi a partir dessa refinaria, que normalmente passou a ser abastecida pelo campo de Candeias e pelo campo de Itaparica, situado na Ilha de Itaparica.
PESQUISA/UNIDADE
UN-BA (CAMPOS PIONEIROS)
O terreno do chamado Recôncavo Baiano, onde foi descoberto pela primeira vez no Brasil o petróleo, descoberto por uma curiosidade interessante. Quando se construiu na Bahia, ligando a Salvador algumas cidades nas proximidades da capital, a terraplenagem mostrou, sobretudo numa região chamada de Lobato, mostrou exsudações que indicavam talvez a presença de petróleo. Dois grandes baianos, eu preciso consultar aqui porque eu não estou com o nome deles de memória, mas dois baianos importantes. Um engenheiro, e outro interessado em assuntos gerais, começaram a chamar em larga escala a atenção do público inteiro para esta possível existência de petróleo, sobretudo pela imprensa e por correspondência. Eles mandavam correspondência aqui para o Rio de Janeiro, para as atividades que coordenavam o Departamento Nacional de Produção Mineral, que já existia. E este Departamento de Produção Mineral se deixou influenciar e mandou para a Bahia uma sonda que perfurou o petróleo de Lobato e encontrou de fato petróleo. Mas a região de Lobato não tinha reservas econômicas que justificassem o desenvolvimento nos campos. Os trabalhos que vinham sendo realizados também no Amazonas, na Amazônia, se intensificaram no Recôncavo Baiano. E o geólogo Pedro de Moura trabalhou muito nos campos de petróleo na bacia sedimentar da Amazônia, já estava trabalhando no recôncavo, localizou, ou melhor, indicou a perfuração de um campo de petróleo em Candeias. E com isso foi descoberto petróleo no campo de Candeias, em meados da década de 40. Pedro de Moura realizou grandes trabalhos na Bahia, o jovem Pedro de Moura. E mais tarde, quando foi implantada formalmente em Salvador uma atividade coordenadora da exploração e perfuração nos campos no Recôncavo Baiano, Pedro de Moura ficou como chefe. Ele realizou grandes trabalhos, com bastante dedicação e autoridade. Ele já é falecido. Ele permaneceu trabalhando no Conselho Nacional do Petróleo como chefe em Salvador e coordenando todas as
atividades no Recôncavo Baiano até começo de 1954, quando foi criada a Petrobras.
EMPRESA
A Petrobras se instalou na Bahia, na chamada região de produção da Bahia. E colocou como superintendente geral da região de produção da Bahia o engenheiro Geonísio Carvalho de Barroso. Geonísio Carvalho de Barroso foi outro grande dedicado à indústria do petróleo. Realizou grandes trabalhos na Bahia. Montou uma boa equipe. Já recebeu de Pedro de Moura no desenvolvimento das atividades do petróleo na Bahia. Havia dois administradores e dois superintendentes adjuntos que eram o engenheiro Ivan Barreto de Carvalho, da parte técnica, e o engenheiro Gilberto Franco, na parte administrativa. A parte técnica coordenada pelo engenheiro Ivan Barreto de Carvalho, que foi inclusive diretor também da Petrobras, nos anos 60, era formada por quatro divisões. A divisão de perfuração, a divisão de produção, a divisão de engenharia geral e engenharia de dutos.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu que, em 1953 até metade de 54 havia feito treinamento nos Estados Unidos, nos campos de petróleo dos Estados Unidos, sobretudo no campo de Ventura. E depois realizados dois cursos, dois semestres do curso de engenharia e produção de petróleo da Universidade Sul da Califórnia, em Los
Angeles. Em 1954 já estávamos de volta à Bahia, e fui designado por Geonísio de Barroso para chefe da divisão de dutos da superintendência técnica coordenada por Ivan Barreto de Carvalho. Eu fui para fazer os cursos nos Estados Unidos no final do ano de 1952, eu fui designado pelo chefe do Conselho Nacional do Petróleo da Bahia, João Pedro de Moura. E em começo de 53 me desloquei para os Estados Unidos. No campo de Ventura, na Califórnia, fiquei cerca de uns quatro, cinco meses. Freqüentei vários outros campos e acompanhei com bastante aproximação as atividades de perfuração, produção e transporte de petróleo, sobretudo nesse campo de Ventura. Naquela época a Califórnia era o segundo maior produtor de petróleo dos Estados Unidos. Maior o Texas, ou melhor - o Texas, sim, e a Califórnia. De forma que as atividades nos campos de petróleo da Califórnia eram bem boas. A minha impressão, em primeiro lugar, talvez desviando um pouco a atenção, da administração pública e social na Califórnia. De primeiríssimo nível. E consegui fazer alguns conhecidos, estabelecer conhecimento com algumas pessoas em Ventura. E pude apreciar bem o interior da Califórnia. E quando mudei para Los Angeles, para o curso, aí fiquei praticamente isolado, dedicado ao preparo do curso. Fiquei sem falar bem inglês. Foi um esforço muito grande para acompanhar os cursos. Mas com esse esforço... Mas em termos de trabalho com o petróleo eu não observei nada diferente, porque nós tivemos aquele início da instalação da indústria de petróleo do Brasil, que era no tempo do Conselho Nacional do Petróleo, que era o começo da Petrobras, nós tivemos muitos assessores americanos que nos trouxeram tecnologia de alto nível. Evidentemente, lá nos Estados Unidos a amplitude das atividades é muitíssimas vezes maior; foi o que eu pude observar bastante. Não só campos em início de exploração de desenvolvimento, mas sobretudo já produzindo petróleo em alta escala. Foi bem interessante. Quando eu retornei, procurei sobretudo transmitir às equipes que comigo trabalharam, essa minha experiência nos Estados Unidos. E naquela época eu lhe falei, em 1954, haviam sido descobertos vários outros campos de petróleo além daqueles que eu citei inicialmente, sobretudo o campo de Água Grande, no município de Catu. Eu digo Água Grande para insistir, porque era o nome do campo. Mas era mais conhecido como campo de Catu. E a partir de 1955 construímos, começamos a construir um oleoduto ligando este campo de Água Grande e de Mata de São João, que foi um outro campo descoberto, até o campo de Candeias, onde esse oleoduto se conectava ao oleoduto de Candeias-Mataripe. Mas a Refinaria de Mataripe nessa época foi ampliada e sobretudo nos anos 57 e 58. Mas acontece que o crescimento da produção de Petróleo nos campos do recôncavo da Bahia foi bastante grande. De forma que nós adaptamos, alteramos o projeto e adaptamos o terminal marítimo de Madre de Deus, que estava sendo construído para exportação de derivados de petróleo produzido na Refinaria de Mataripe em sua fase já de expansão. Nós adaptamos o campo de petróleo ao terminal marítimo de Madre de Deus, e foi possível transportar o petróleo produzido na Bahia, sobretudo no campo de Água Grande, via marítima, do terminal marítimo de Madre de Deus até o terminal marítimo de Cubatão.
UNIDADE
UN-BA
E boa parte da produção da Bahia passou a abastecer também a refinaria de Cubatão, que já estava funcionando naquela época. E no final da década de 50 e começo da década de 60 a refinaria de Duque de Caxias, aqui no Estado do Rio de Janeiro, entrou em operação. A Bahia também passou a transferir a maior parte da produção para a refinaria Duque de Caxias. Além de abastecer 100% a Refinaria de Mataripe já na época, no final dos anos 50, já processava cerca de 80 mil barris de petróleo por dia. Como a produção de petróleo nos campos do recôncavo da Bahia cresceu muito no final da década de 50 e começo da década de 60, nós também passamos a abastecer a refinaria de Duque de Caxias e Cubatão em maior escala. O desenvolvimento dos campos de petróleo do recôncavo da Bahia, no fim dos anos 50 e começo dos anos 60, foi muito grande. Em 1961 o engenheiro Geonísio Carvalho de Barroso, que era o gerente geral na região de produção da Bahia, foi designado presidente da Petrobras, cargo que ocupou logo em seguida. O Geonísio, ao terminar a sua gestão na Bahia, a produção de petróleo já havia atingido o Recôncavo Baiano cerca, de 200 mil barris de petróleo por dia.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu quando, em 1950, praticamente recém-formado, fui transferido para o campo de Dom João, fiquei coordenando a completação dos poços. Evidentemente um campo isolado, como era o campo de Dom João, as soluções técnicas não eram tão altas e tão disponíveis. Mas completamos alguns tantos poços e instalamos, começamos a instalação de um sistema de coleta e armazenamento de petróleo que é - uma vez o poço completado, levava a produção até um determinado campo, um determinado tanque. Tanque relativamente menor, daí transferia para um tanque relativamente maior, e daí, através de um oleoduto que nós construímos, ligando o campo de Dom João ao campo de Candeias, e conseqüentemente à refinaria de Mataripe e ao terminal de Madre de Deus, é que tivemos parte ativa na instalação.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO
Não se realizavam os trabalhos com a rapidez com que talvez fosse possível, mas com os cuidados necessários. Não, não era tão perigoso, não. Trabalhava com muita dedicação. O Recôncavo Baiano é uma região onde há muito, a superfície do terreno é muito arenosa. De forma que, com qualquer chuva - como no Recôncavo Baiano chovia muito, tínhamos muita lama no campo de Dom João. Onde a área de Dom João era um, nela havia a instalação de uma usina para produção de açúcar. De forma que a área de Dom João era um grande centro também produtor de cana de açúcar. O trabalho era intenso, muito ativo. A gente vivia tão absorvida que praticamente não, a atenção não é voltada para outra coisa a não ser mesmo para o trabalho. O importante foi que nós que trabalhamos no campo de Dom João; recebíamos uma assistência muito grande da equipe coordenadora do petróleo lá em Salvador. E tínhamos que estar, naquele tempo existia telefone. Tinha que falar. A gente tinha que mandar as informações diárias logo cedo. Sete e pouco da manhã a gente começava a transmitir para Salvador as atividades ocorridas no dia anterior. E muitas vezes falávamos com os nossos chefes em Salvador para não só transmitir uma informação mais direta como para receber as informações também mais próximas. Nós transmitíamos essa informações através de rádio. Que eu não diria que funcionava bem, mas funcionava regularmente bem. Tinha manutenção. Tinha serviço de manutenção boa. E tínhamos um operador que ficava o dia inteiro operando o rádio. E comunicando com Salvador, e Salvador se comunicava com o campo de Dom João e com os demais campos produtores. Logo em seguida surgiram as linhas de telefone etc; o trabalho passou a ser bem maior.
FAMÍLIA
Eu não me comunicava com minha família, naquela época eu era solteiro, e a minha família era do Piauí. Eu não tinha muita comunicação com minha família. Mas cartas é certo que eu mandava mensalmente. Minha mãe ficava satisfeita, porque via que o filho estava se realizando profissionalmente.
TRABALHO
Era um bom emprego para a época. Lá na Bahia, tanto que como eu te falei, na minha turma viemos seis, entramos seis. Nas turmas seguintes entraram vários outros que, terminado o curso de engenharia na Politécnica da Bahia, entraram também para a atividade de petróleo. Tanto que nos anos 50 muitos de nós que fomos treinados no Recôncavo Baiano fomos transferidos para outras regiões, para atividades exploratórias em outras regiões.
TRANSPORTE
NAVIOS PETROLEIROS
O petróleo que vinha para Cubatão e Duque de Caxias vinha pelo terminal de Madre de Deus. O terminal de Madre de Deus, como eu mencionei, foi projetado para transportar os derivados para a usina e refinaria de Mataripe e foi adaptado e transformado também num terminal para petróleo.
Então os navios da frota nacional dos petroleiros vinham ao porto de Madre de Deus, recebiam uma carga e vinham descarregar aqui no porto, no terminal da Guanabara, aqui no Rio de Janeiro, e transferida para Duque de Caxias, e iam para Cubatão, e transferida para a refinaria do porto de Santos naquela época. Eram navios pequenos, de 16 mil toneladas, na época era um porte bom. Depois a Petrobras - na época do Conselho Nacional do Petróleo também foram construídos navios de 32 mil toneladas. Porte bruto. Que eram chamados navios supertanques. Isso na segunda metade dos anos 50, 58, 59 por aí. Eram navios de alto porte utilizados no transporte. A frota de petroleiros já estava em crescimento. Mas não era tão grande quanto recentemente. Na segunda metade da década de 50, quando a Petrobras já havia sido instalada, a Petrobras construiu no Brasil, nos estaleiros nacionais, seis navios de dez mil toneladas. Que eram aqueles que eu mencionei que eram utilizados no transporte de cabotagem. E usava também os navios de 16 mil toneladas para cabotagem. E já tinha o chamado superpetroleiro de 32 mil toneladas. Esses navios foram ampliados, aumentados, e passaram para navios de 50 mil toneladas.
ACIDENTE AMBIENTAL
Não me lembro de, nos anos 50, nenhum derrame na costa brasileira tão expressivo, tão grande. Não me lembro.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO
Bem, eu como o chefe da divisão - falando ainda na segunda metade dos anos 50 -, o chefe da divisão de dutos que coordenava a operação do terminal de Madre de Deus, os oleodutos e gasodutos do Recôncavo Baiano, eu tinha muito contato com os órgãos do Rio de Janeiro que coordenavam o transporte, o destino deste excesso de petróleo produzido no Recôncavo Baiano. E além da produção de Mataripe tinha muito contato com os órgãos de transporte aqui no Rio de Janeiro. Do Conselho Nacional de Petróleo, da Petrobras, aliás, já. Do órgão comercial e da assistência de refino também. Lá recebíamos instruções para carregar os navios, e eles que davam a destinação. Se é a refinaria de Mataripe, se é a refinaria de Duque de Caxias ou de Cubatão.
UNIDADE
FROTA NACIONAL DOS PETROLEIROS (FRONAPEE)
Esses navios eram de propriedade da Petrobras. A Frota Nacional de Petroleiros que, quando a Petrobras foi criada, foi incorporada à Petrobras. A Frota Nacional de Petroleiros surgiu no final dos anos 50, quando o então presidente Eurico Gaspar Dutra construiu os primeiros navios para transporte de cabotagem. Aqueles navios que eu mencionei, de 10 mil toneladas. Depois os navios de 16 mil toneladas. E foi, e eu espero que continue sendo, uma instituição do mais alto valor nacional.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu trabalhei no Recôncavo Baiano até novembro de 1961, integrando a equipe do engenheiro Ivan Barreto de Carvalho. Eu era chefe da divisão de dutos e, como tal, era responsável pelos projetos, desenvolvimento e instalação das atividades de dutos na Bahia e das atividades para desenvolvimento e produção dos campos de petróleo. De forma que eram atividades muito intensas, e todos nós, naquele período na Bahia, vivíamos com muitas atividades. E construímos, não tenho mais de cabeça assim os nomes dos oleodutos, mas construímos outros oleodutos ali do Catu-Mata-Candeias.
EVENTOS HISTÓRICOS
Em 1956 nós tivemos uma solenidade bem, eu diria, bem importante, do Recôncavo Baiano. Tivemos a visita do presidente Juscelino Kubitschek, que oficialmente inaugurou o oleoduto Catu-Mata -Candeias. E depois tivemos, em outras oportunidades, visitas importantes. Eu estive presente. Eu até, no momento em que o presidente Juscelino Kubitschek abria a válvula, que oficialmente dava como inaugurado o oleoduto, eu estava do lado dele. Foi muito interessante. Mas as atividades foram coordenadas, e pronunciamentos etc foram do chefe da região de produção da Bahia, o engenheiro Geonísio Carvalho de Barroso.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Fiquei na Bahia até novembro de 1961. Neste mês de novembro de 1961, no mês de outubro, o mês anterior, a Petrobras quando tinha, desde fevereiro de 61, o presidente Dionísio Carvalho de Barroso, em outubro o conselho de administração da Petrobras autorizou a construção de uma refinaria em Belo
Horizonte, e evidentemente de um oleoduto ligando aqui a região do Rio de Janeiro a Belo Horizonte. E eu fui designado chefe da obra de construção do oleoduto Rio-Belo Horizonte. Vim em novembro de 1961, quando então me transferi aqui para o Rio de Janeiro e fiquei dirigindo os trabalhos de planejamento geral, anteprojeto, projeto e preparo das equipes para a construção do oleoduto Rio-Belo Horizonte. Tive uma participação bem intensa na escolha do local onde foi instalada posteriormente a refinaria de Betim, nas proximidades de Belo Horizonte, e passei a dirigir uma equipe que eu considero de alto nível, sobretudo na construção do oleoduto Rio-Belo Horizonte, tendo em vista o treinamento que eu fiz em 1958 quando trabalhávamos nos campos de petróleo da Bahia, do recôncavo. Eu fiz um treinamento no Texas. Acompanhei um curso de quatro semanas sobre projeto, construção e manutenção de oleodutos dado extensivamente pela Universidade do Texas. E após esse curso passei a acompanhar várias atividades por mais uns dois meses. Inclusive o acompanhamento da construção de um oleoduto que ligava o campo de petróleo no interior do Texas até a cidade de Houston. Com essa vivência toda que eu adquiri lá nos Estados Unidos, eu pude formar uma equipe para a construção do oleoduto Rio-Belo Horizonte que eu diria muito boa. Acrescentou muito à minha experiência essa estada no Texas. Mesmo porque eu tive a oportunidade de visitar outros campos de petróleo da Califórnia, do Texas. Pude me aprofundar um tanto no chamado tratamento de petróleo para a extração de enxofre. Nós tínhamos este problema na Bahia. Depois a Petrobras instalou nas duas refinarias a unidade para extração de enxofre do petróleo. Isso foi uma experiência boa que eu tive. Eu trouxe de lá porque eu visitei várias unidades lá onde eles realizavam esse tratamento do petróleo para extração de enxofre. E estimulei aqui, e fizemos nas refinarias unidades para a extração de enxofre. Mas fiquei como chefe da construção do oleoduto Rio-Belo Horizonte no período, final de 1961 até começo de 1965.
PETRÓLEO
O petróleo baiano tinha algum conteúdo de enxofre, e o enxofre não pode ser usado nas refinarias.
NEGÓCIOS/UNIDADE
OLEODUTO RIO-BELO HORIZONTE
Evidentemente naquela época os recursos para trabalho, para a construção de oleodutos no Brasil, eram muito poucos. O Brasil já tinha naquela época em operação o oleoduto Santos-São Paulo, através do qual se transferiam os produtos da refinaria de Cubatão para os terminais que foram instalados nas proximidades de São Paulo, e com isto podia distribuir os produtos de petróleo com mais facilidade. De forma que tivemos de ter muito cuidado no projeto do oleoduto, na escolha do traçado. Muito trabalho deu o levantamento de todos os proprietários ao longo do traçado da construção por onde deveria passar o oleoduto. E entendimento com os mesmos para que eles permitissem a construção do oleoduto. Tivemos uma atividade que eu achei muito relevante. É que naquele tempo não eram produzidos tubos de 18 polegadas de diâmetro aqui no Brasil, chamados tubos já de grandes diâmetros. E então propus, e foi aceita, a idéia de importarmos 80% da tubulação do exterior através de financiamento e os 20% do final da linha serem construídos aqui no Brasil. Com isto surgiu a indústria do petróleo, a indústria de fabricação de tubos no Brasil, que foi primeiro uma adaptação de uma fábrica em São Paulo e depois a instalação de outra fábrica aqui nas proximidades de Volta Redonda. Com isto hoje o Brasil é um grande produtor de tubulações de grande diâmetro, inclusive exportador também. Mas tivemos o cuidado de acompanhar a construção destes primeiros tubos aqui no Brasil com bastante cuidado para poder corresponder à qualidade. E os tubos foram feitos no período necessário. Os tubos importados vieram do Japão, financiados, e a construção do oleoduto eu diria que começou com a terraplanagem aqui nas proximidades da refinaria de Duque de Caxias, em Campos Elíseos, onde posteriormente foi instalado um parque de tanques e onde começou a instalação da linha do oleoduto Rio-Belo Horizonte, bem como suas casas de bomba. A construção do oleoduto Rio-Belo Horizonte foi realizada por duas empresas. Uma que construiu a linha daí de Campos Elíseos até as proximidades de Barbacena e outra daí em diante até o final da refinaria de Betim em Minas Gerais.
CASAMENTO
Eu conheci minha esposa quando eu trabalhava na Bahia; ela trabalhava também na região de produção da Bahia. E eu fiquei ainda solteiro por mais uns quatro anos e vim a me casar em 1965. Eu já estava no Rio de Janeiro. Inclusive já havia deixado até o oleoduto Rio-Belo Horizonte, porque praticamente já estava construído.
EMPRESA
Naquela época a Petrobras fez uma reestruturação geral na sua administração. Criou quatro departamentos instalados na sede da empresa com coordenadores das atividades da empresa. Primeiro foi o departamento de exploração e produção. O segundo, departamento industrial. O terceiro, departamento comercial. E o quarto, departamento de transporte.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Em meados de 1965, no final já da construção do oleoduto Rio-Belo Horizonte, eu fui nomeado superintendente geral do departamento de transporte, com sede aqui no Rio de Janeiro. Esse departamento de transporte coordenava a Frota Nacional de Petroleiros, a Fronape, os oleodutos então existentes e os terminais marítimos e era responsável
também pela coordenação, através da divisão de engenharia, da construção das obras de terminais de oleodutos então existentes. Esse departamento de transporte existia com um adjunto e quatro divisões. A divisão de planejamento, divisão de operações, divisão de engenharia, divisão de administração, aliás cinco divisões, e a divisão de materiais. Eu tive a grande ventura de conseguir constituir uma equipe muito boa. E essa equipe foi logo implantada, e logo assumimos os respectivos cargos. E com isto o departamento foi implantado com muita rapidez.
RELAÇÕES DE TRABALHO
Meu horário de trabalho era integral. Ia de 8h até 12h30, mais ou menos. Almoço, e de 1h30 até as 6h, por aí, durante a parte da tarde. Eu, como superintendente do departamento de transporte, eu procurei integrar os órgãos da Fronape, terminais e oleodutos e as obras -
integrar logo à coordenação do departamento de transporte. De forma que trazia muito à sede do Rio os chefes de obras da Fronape e terminais e oleodutos. E realizávamos muitas viagens a diversas unidades. Não só eu, como chefe superintendente geral, mas como chefe de divisões também. Com isto fizemos muita aproximação com todos os novos integrantes do departamento de transportes. Sobretudo da Fronape, porque tem sede aqui no Rio. E não só eu freqüentava muito as estações da Fronape, como o presidente da Fronape vinha semanalmente despachar comigo aqui no escritório do departamento. Meu relacionamento com a Fronape era muito bom. Não tive grandes dificuldades, não. Evidentemente a minha experiência em transporte marítimo exigiu de mim uma dedicação muito grande para me integrar a essa atividade. A parte de terminais e dutos eu era bastante integrado. Mas a parte de transporte marítimo eu tive que ter uma dedicação muito grande e com grande esforço para me integrar. Na época em 1965, quando foi criado o departamento. Na época a Petrobras já estava construindo no Brasil seis navios pequenos de 10 mil toneladas. E estimulou com isto o crescimento da indústria naval no Brasil. Não só a construção destes navios estimulou a construção naval, mas passamos também a realizar trabalhos de manutenção dos nossos navios numa parcela maior dos estaleiros nacionais. Demos grande estímulo, a Petrobras deu grande estímulo ao desenvolvimento da indústria naval no Brasil, sobretudo no final dos anos 60 começo dos anos 70.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
A minha atividade na área de departamento de transporte foi muito útil para a minha atividade profissional, dada a natureza do trabalho no período durante o qual permaneci como superintendente geral do departamento de transporte. Fiquei como superintendente geral do departamento de transporte até meados de 1969. Quando houve a revolução, eu trabalhava na época como chefe do oleoduto Rio-Belo Horizonte.
EMPRESA
As mudanças ocorridas por causa da revolução trouxeram um grande impacto na Petrobras,
porque trouxeram um dos maiores presidentes que a Petrobras já teve até hoje, que foi o marechal Ademar de Queirós, porque era dedicado e formava boa equipe. Sobretudo porque formava boa equipe. Montou bons diretores. Botou como diretores Leopoldo Migueiz de Melo, Adolfo Horta Diegues e Geonísio Carvalho de Barroso. E havia deixado a Presidência da Petrobras ainda em 1962. Todos eles eram. Dois eram técnicos. Geonísio
Carvalho de Barroso e Leopoldo Migueiz de Melo. Geonísio da área de exploração e produção, Leopoldo de Melo da área de refino e petroquímica. E o outro, Adolfo Horta Diegues, também tinha experiência, apesar de ser coronel. Ele foi superintendente da Refinaria Duque de Caxias. E com isso, nos meados dos anos 50, e com isso ocupou a diretoria da Petrobras com conhecimento dos assuntos de petróleo. Mas Ademar de Queirós conseguiu desenvolver a Petrobras no ponto de vista sobretudo de reagir às pressões para que as atividades da Petrobras não se desenvolvessem muito. Ele, ao contrário, superou estas atividades e permitiu que a Petrobras se desenvolvesse, o que ocorreu em larga escala nos anos 50 e 70, e em todos os outros até agora. Houve muito desenvolvimento. Ademar de Queirós ficou como presidente da Petrobras por dois anos e em seguida passou a ser ministro da Guerra, do Exército. Eu que fiquei até 1969 na chefia do Detran. Quando Ademar de Queirós, eu acredito no final de 65 ou começo de 66, ele foi nomeado Ministro do Exército. E outros diretores vieram na Petrobras. Um deles foi o general Candal da Fonseca, e o outro foi o marechal Levy, Waldemar Levy Cardoso. Foram também dois grandes diretores da Petrobras. Eles permitiram o crescimento e desenvolvimento da Petrobras. E que foi bastante. A Petrobras foi muito mudada ainda na época do marechal Ademar de Queirós, quando foram implantados os departamentos. Os departamentos foram implantados em 1965, quando o marechal Ademar de Queirós era o presidente da Petrobras. E com a saída dele vieram uns dois ou três presidentes intermediários, mas o general Candal ficou por um período de três anos, e o marechal Levy Cardoso ficou até 69. Em 69 o general Ernesto Geisel foi nomeado - no final de 1969 - o presidente da Petrobras. Houve a alteração das diretorias. Ficaram como diretores. Mais tarde um pouco. No final de 1969, da década de 60, o consumo de petróleo no Brasil começou a crescer bastante. E a projeção para a década de 70 era bem maior mesmo. Então a Petrobras resolveu aumentar o seu parque de refino no final da década de 60 e evidentemente construiu unidades operacionais de infra-estrutura para o abastecimento deste parque. E resolveu construir uma refinaria no Planalto Paulista, e foi escolhida a chamada região do município de Paulínia, que fica próximo à Campinas, para a instalação da unidade de uma refinaria com capacidade para cerca de 120 mil barris de petróleo por dia. E para construir essa refinaria, evidentemente a Petrobras teve que projetar a ampliação do terminal de São Sebastião e a construção do oleoduto de São Sebastião até a futura refinaria de Paulínia. Mas além dessas três obras, a Petrobras projetou com muito êxito a modernização e ampliação da refinaria de Cubatão. O projeto foi ampliado bastante. E mais ainda, a construção de uma unidade para produzir óleos lubrificantes básicos aqui na Refinaria Duque de Caxias. Essas obras tinham de ser construídas com certa rapidez, e foram chamadas obras prioritárias. Como a Petrobras havia também conseguido para estas novas obras um financiamento na Inglaterra, essas atividades puderam ser incrementadas ainda mais. E a Petrobras, quando era o presidente da Petrobras o marechal Waldemar Levy Cardoso, por indicação do então diretor Adolfo Horta Diegues, resolveu criar um órgão especial chamado Grupo Executivo das Obras Prioritárias para dedicar-se integralmente a estas obras e construí-las para que em 1962 estivessem em operação. Foi então criado este Grupo Executivo das Obras Prioritárias, e eu passei de superintendente geral do departamento de transporte a ser o chefe desse Grupo Executivo das Obras Prioritárias. E foi em meados de 1969. E como eu havia me referido, a Petrobras tinha a necessidade de ampliar as suas refinarias. O Grupo Executivo de Obras Prioritárias, como eu disse, criado para tal, recebeu poderes além dos normais que eram dados aos departamentos. Passou a responder diretamente ao presidente da Petrobras e tinha o poder de decisão sobre tomada de preço no mesmo nível do diretor. E ao presidente da Petrobras o Conselho de Administração deu o poder para decidir sobre tomada de preço de qualquer valor. Por outro lado, como eu mencionei, nós tínhamos um financiamento recebido e assinado com bancos ingleses.
NEGÓCIOS
NEGÓCIOS NO EXTERIOR
A Petrobras tinha um escritório em Londres. Então esse escritório foi ampliado, e o engenheiro Anglisani
foi transferido - trabalhava na época em Nova York, foi transferido para Londres. Ficou com o chefe do escritório de Londres. E o escritório de Londres passou a ficar respondendo diretamente à chefia do Geop. Quando nós chegamos, tivemos que implantar na chefia do Geop, na estrutura do Geop, uma série de divisões. Trouxemos para adjunto o engenheiro Maurício Alvarenga. Para chefe da divisão de engenharia, o engenheiro Heitor Moura Estevão. Para a divisão de compras o senhor Cláudio Walter Vilela, e para a divisão de planejamento, Elias, e para a divisão de administração, Luis Brenha Filho.
RELAÇÕES DE TRABALHO
Com esses poderes maiores que o Geop passou a ter, e com a dedicação de toda esta equipe, foi possível implantar equipes nas diversas obras, em diversos canteiros de obras, também de alto nível e que realizaram grandes trabalhos. No início do Geop surgiu a idéia de trazer dos Estados Unidos um especialista em planejamento de obras. Então o nosso escritório em Nova
York localizou o senhor do Texas de alto valor e veio aqui e ficou conosco aí uma semana. Reunimos então durante quatro, cinco dias, as diversas equipes de obras e da sede. E esse senhor fez uma ampla explanação sobre o planejamento de obras. Essas explanações foram de alto valor para todos nós. Com isto conseguimos ganhar algum tempo. Mas sobretudo o que nós tivemos de fazer foi estabelecer curto prazo para todas as atividades. Cada obra foi devidamente detalhada, e planejada a seleção de firmas que haviam de trabalhar e realizar o trabalho de construção e montagem.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO
E a divisão de compras na sede do Geop teve que se estruturar com a devida capacidade para ela própria realizar as compras. Não era então o serviço de material que realizava as compras para as obras do Geop. Era a própria divisão de obras do Geop. E o escritório de Londres ficou com poder para fazer a tomada de preços, realizar as compras de todos os equipamentos para as refinarias que foram compradas, financiadas em Nova York. Nós passamos a realizar mensalmente em cada obra uma reunião aonde levávamos o chefe de divisões da sede do Geop e em conjunto a chefia e a equipe das divisões da obra. Nós realizávamos uma reunião que levava aí umas três, quatro horas, quando analisávamos etapa por etapa de todos os trabalhos em andamento e - como tínhamos determinado poder - tomávamos decisões que poderiam acelerar determinadas necessidades. Com isso bons trabalhos foram realizados. O terminal de São Sebastião foi ampliado. Novo píer, novo parque de tanques. O oleoduto de São Sebastião teve que atravessar, subir a Serra do Mar ali defronte de São Sebastião, numa região muito difícil. Foi construído com duas firmas. Uma até a metade, outra até o terminal, até a refinaria. As obras a serem realizadas na refinaria de Cubatão foram bastante complexas, porque a refinaria teve de ser modernizada. E a modernização exigiu muitos detalhes no projeto. Mas conseguimos no prazo determinado construir mais uma unidade de destilação atmosférica, uma unidade de vácuo, adaptar as outras duas unidades de destilação atmosférica que já existiam. E, com estas três novas unidades, nós ficamos em condições de abastecer uma unidade nova que foi construída na refinaria de Cubatão, que foi a unidade de craqueamento catalítico. A unidade de craqueamento catalítico foi um verdadeiro impacto na refinaria, porque antes o craqueamento era feito em termos técnicos, ou seja, o craqueamento catalítico é feito com catalisadores, o técnico, através de aquecimento. De forma que a refinaria de Cubatão foi devidamente ampliada e no final de 1962 já estava praticamente operando com capacidade básica da ordem de 110 mil barris de petróleo por dia. Nas obras da refinaria de Cubatão nós instalamos também as unidades para a produção de coque de petróleo e uma outra para tratamento do petróleo para a extração do enxofre.
UNIDADE
REFINARIA DE PAULÍNEA (REPLAN)
Mas o grande trabalho mesmo foi realizado, como estávamos falando, na refinaria de Paulínia, onde a terraplanagem começou em aproximadamente outubro, novembro de 1969 e logo em seguida diversas atividades foram iniciadas. Estação do parque de tanques e as unidades de operação e as unidades chamadas auxiliares. As unidades de infra-estrutura para a produção de eletricidade e a produção de gás. Fizemos grandes trabalhos no ano de 1970 e 71, de forma que ao final de 71 o oleoduto São Sebastião-Paulínia estava concluído. E no começo de 72 a refinaria de Paulínia começou a entrar em
operação. Num tempo recorde de nível internacional. Desculpem a expressão, mas o fato foi esse. A refinaria foi inaugurada com a presença do presidente de então, Medici. Não me recordo exato, mas acredito que mais ou menos em maio de 1972. A refinaria de Paulínia vem funcionando desde essa época com muita capacidade e foi posteriormente ampliada. Hoje é a maior refinaria do Brasil. Aqui na Refinaria Duque de Caxias nós tivemos de implantar uma unidade de destilação atmosférica e uma unidade a vácuo, bem como unidades para produzir os sete óleos lubrificantes básicos que estavam então projetado para construir. Tivemos a construção, no decorrer dos anos 71 e 72, e no final de 72 estava pronto e começou a operar. No final de 72 todas as obras do chamado Grupo Executivo das Obras Prioritárias estavam concluídas. Basicamente em três anos.
TRABALHO
O regime de trabalho era normal. As empresas construtoras e de montagem às vezes tinham trabalhos noturnos também. Que os nossos profissionais tinham que fazer inspeção. Trabalhavam também noturnamente. Mas não era o regime normal. O regime normal era durante o dia mesmo.
ENTIDADE
GRUPO EXECUTIVO DAS OBRAS PRIORITÁRIAS – GEOP
O Geop foi uma grande experiência para a Petrobras. Uma experiência muito grande. Não só porque construiu uma equipe de alto nível como eu lhe falei. O crescimento de consumo de petróleo do Brasil no final dos anos 60 e nos anos 70 era muito grande. E a projeção para o final dos anos 70 era também muito grande.
Enfim, em 1972, quando estávamos coordenando o encerramento do Geop, a diretoria da Petrobras resolveu transformar o então serviço de engenharia num órgão para a construção e montagem de obras de alto nível. E usou a experiência do Geop para essa atividade. O então presidente da Petrobras, engenheiro general Geisel, me indicou como chefe desse novo órgão de engenharia. E eu solicitei que a minha atividade profissional tivesse uma interrupção por algum
tempo, o que foi aceito pelo general Geisel, e eu indiquei o engenheiro Maurício Alvarenga para chefe do Geop. O engenheiro Maurício Alvarenga levou uma grande parte da equipe da Geop, entre outros órgãos, e constituiu, implantou o atual serviço de engenharia, que vem desenvolvendo ao longo desses longos anos, desses últimos quase 30 anos, realizando um grande trabalho de montagem. Construiu duas grandes refinarias nos anos 70. Uma no Paraná (refinaria de Araucária) e outra no Vale do Paraíba, aí no Estado de São Paulo. Com essas duas refinarias o parque de refino nacional ultrapassou toda a sua capacidade de consumo nacional, e o Brasil passou até a exportar derivados do petróleo. Como foi já mencionado aqui, no ano de 1972 o Geop foi encerrado.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu então solicitei o intervalo, após deixar o Geop, e passei uns três meses trabalhando no serviço de planejamento da Petrobras. Logo após, o diretor Faria Lima me trouxe para ser seu assistente, no gabinete dele, diretor Faria Lima.
SUBSIDIÁRIA
PETROQUISA
Meados de 1973 a Petroquisa que havia sido já implantada, sido criada quando o presidente da Petrobras era o general Candal da Fonseca, ela já estava bem desenvolvida e tinha uma participação bem ampla já na Petroquímica União, que tinha a sua primeira fase de montagem concluída. Estava já em operação a sua primeira fase da unidade. A Petroquímica União entrou numa crise econômica muito grande, com dívidas muito grandes e sem condições econômico-financeiras de prosseguir com a rapidez com que eles precisavam concluir a segunda fase da Petroquímica União. Por esse motivo a Petroquisa passou a ter uma participação muito maior, majoritária, no capital da Petroquímica União. E em agosto e setembro de 1973 eu fui indicado para ser presidente da Petroquímica União com a assembléia realizada. Eu fui então nomeado presidente da Petroquímica União. Nós tivemos que fazer alterações muito grandes. Para tal eu me mudei para São Paulo. Tive que fazer alterações muito grandes da Petroquímica União. Mas sobretudo com a participação do engenheiro Paulo Lontra, a quem eu levei para ser diretor industrial. Nós conseguimos dar prosseguimento com muita eficiência nos trabalhos operacionais de construção e montagem na segunda fase da fábrica da Petroquímica União. Mas a economia da Petroquímica União só conseguiu se consolidar quando nós conseguimos no então Ministério da Indústria, quando o senhor Pratini de Morais era ministro, nós conseguimos um reajuste para os produtos fabricados pela Petroquímica União, que na época estavam sendo vendidos por um preço muito baixo. De forma que o reajuste conseguido foi um reajuste correto e justo. A Petroquímica União fabricava produtos petroquímicos básicos, sobretudo eteno, propeno e outros hidrocarbonetos que eram vendidos para as chamadas unidades de segunda geração. Mas com essas condições toda a Petroquímica União entrou numa fase econômico-financeira muito melhor, porque nós concluímos a sua segunda fase e já no ano seguinte ela passou a ter lucros, passando em 1974 a distribuir lucros, dividendos. E incrementamos as equipes da Petroquímica União, porque ela teve um amplo desenvolvimento abastecendo as chamadas unidades de segunda geração normalmente. Em 1975, começo do ano, fevereiro, o diretor da Petrobras Leopoldo Migueiz de Melo faleceu. O Leopoldo é bastante conhecido. Foi um dos grandes profissionais e executivos da indústria de petróleo do Brasil. Começou a trabalhar ainda no Conselho Nacional do Petróleo nos anos 40, final dos anos 40, por exemplo quando Plínio Catanhede era o presidente do Conselho Nacional do Petróleo. Eu conheci o Leopoldo quando ele era o executivo junto ao presidente Plínio Catanhede das atividades do petróleo, do Conselho Nacional do Petróleo. Leopoldo, com a criação da Petrobras, passou para a Petrobras, onde teve grande atividade. Ainda no Conselho Nacional do Petróleo teve a atividade junto à refinaria de Cubatão. Com a criação da Petrobras teve bastante desenvolvimento, criando uma unidade de, implantando a unidade para produção de produtos agrícolas. Estava nas proximidades da refinaria de Cubatão. E no começo dos anos 60 exerceu grande atividade na Petrobras como consultor. Em 1964 foi designado diretor da Petrobras na gestão do marechal Ademar de Queirós. Algo que ficou por mais uns dois ou três anos. Em 1969, quando o general Geisel assumiu a Presidência da Petrobras, o Leopoldo Migueiz de Melo voltou a ser novamente diretor da Petrobras, cargo que ocupou de 1969 até 1975, quando faleceu de ataque cardíaco. Eu então fui designado - era presidente da Petroquímica União - para substituir o ilustre diretor Leopoldo Migueiz de Melo como diretor da Petrobras. Isto ocorreu em março, abril de 1975. Eu ocupei a diretoria da Petrobras por decreto do então presidente da República, general Ernesto Geisel. Naquela época, pela lei 2004, os diretores eram nomeados por decreto do presidente da República. Ao ocupar a diretoria da Petrobras eu procurei manter aproximadamente o mesmo esquema e a mesma diretriz de trabalho de Leopoldo. A minha área de contato incluía o departamento industrial, com todas as refinarias e o centro de pesquisas, que passou a ser chamado Leopoldo Migueiz de Melo, e o serviço de engenharia. De forma que eram três áreas coordenadas por mim como diretor. Subordinadas à minha diretoria. Procurei conviver bastante com o superintendente dos órgãos de então, tanto do departamento industrial, que era o engenheiro Maurício e Silva, e muita aproximação tive com o departamento industrial, não só realizando reuniões na sede do departamento como visitando as diversas obras das diversas refinarias então em construção. Na época, nós estávamos no auge da crise do petróleo que havia começado em 1973. Cresceu bastante em 74 e 75. Então a Petrobras, como eu lhes mencionei, procurou desenvolver, crescer o parque de refino construindo as refinarias lá de Paraná e a outra em
São Paulo. Mas também estimulou possíveis fontes alternativas de energia. Eu próprio me dediquei muito à possibilidade, que não foi possível pelo custo operacional, da produção de gás de carvão em Santa Catarina, onde nós temos a produção de carvão mineral. E demos grande incremento, toda a Petrobras, ao crescimento da produção de petróleo no Brasil. Não só recebendo das refinarias o petróleo, como tratando de distribuí-lo misturando com a gasolina. A própria Petrobras construiu em Minas Gerais uma fábrica para a produção de álcool a partir de mamona. Identificamos depois que é preferível aumentar a produção a partir de álcool, o que ocorreu. Hoje a produção de álcool no Brasil, a produção de cana de açúcar no Brasil, é de alto nível internacional. Os agricultores brasileiros produzem
um pouco mais de 100 toneladas de cana de açúcar por hectare por ano. Outra atividade intensa na época foi procurarmos desenvolver as pesquisas que vinham sendo realizadas na área do xisto betuminoso. Os trabalhos de tecnologia que a Petrobras desenvolveu começaram no Conselho Nacional do Petróleo; os que a Petrobras desenvolveu na época estavam bem incrementados no Paraná. E foi desenvolvido um próprio projeto para a instalação já duma unidade produtora em escala comercial de óleo de xisto no Paraná. Procurei dar muita atenção ao assunto. A diretoria da Petrobras e o Conselho de Administração também deram muita atividade. Foi possível no final dos anos 70 montar as primeiras unidades para a produção de óleo de xisto no Paraná. Evidentemente, com o fato dos anos 80, não teve o incremento necessário.
CHOQUE DO PETRÓLEO
Mas com a crise do petróleo a Petrobras passou por, o Brasil inteiro, por duas crises. A primeira e a segunda. Por crises econômicas muito difíceis. Porque o preço do petróleo, com a segunda crise, que em 1973 era da ordem de 3 dólares por barril, com a segunda crise do petróleo, no começo dos anos 80, ultrapassou 30 dólares por barril.
UNIDADE
UN-BC
GECAM
Felizmente com a grande atividade, como eu disse, que a Petrobras estava desenvolvendo na segunda década, vinha desenvolvendo e continuou desenvolvendo na segunda metade da década dos anos 70, foi descoberto petróleo na Bacia de Campos. Trabalho de grande destaque do geólogo Carlos Walter, que foi depois o diretor da Petrobras. A descoberta de petróleo na Bacia de Campos recebeu da Petrobras uma atenção toda especial. À época o general Geisel já havia deixado a Petrobras, a Presidência da Petrobras. O presidente Faria Lima também já havia deixado a Presidência da Petrobras. E o presidente nesta época de grande desenvolvimento da Bacia de Campos era o general Araken de Oliveira. Quer no trabalho de geologia e geofísica, quer nos trabalhos para a implantação de plataformas na Bacia de Campos para começar a produção de petróleo, em todas estas três atividades, a Petrobras desenvolveu grandes trabalhos. Foram implantadas as chamadas plataformas iniciais, plataformas temporárias, quando se começou a produção do petróleo. E foi desenvolvido um projeto geral para a Bacia de Campos em vista de novos campos descobertos. Aí então foram projetadas as plataformas fixas. Para a construção dessas plataformas fixas a Petrobras estimulou muito as empresas brasileiras. E criou - foi uma sugestão que eu fiz - o chamado Grupo Executivo da Bacia de Campos, o Gecam. E com o Gecam muitas concorrências foram realizadas e várias plataformas foram construídas no Brasil. E já a partir de 1981 essas plataformas começaram a ser implantadas na Bacia de Campos. Com a implantação dessas plataformas e a perfuração de novos poços, novos campos foram descobertos. Então as grandes atividades da Petrobras no final da década de 70 e começo da década de 80 foram orientadas para a Bacia de Campos. Em 1979 houve mudança na presidência da Petrobras. O general Araken de Oliveira foi substituído pelo ex-ministro Shigeaki Ueki. Houve algumas alterações na diretoria. O serviço de engenharia, que respondia a mim, passou a responder a outro diretor. E o departamento industrial, que também respondia a mim, passou a responder a outro diretor. E ficou o serviço de engenharia e passou para minha coordenação o departamento de produção, que havia sido dividido em dois departamentos. O departamento de exploração e o departamento de produção. Para coordenar o departamento como engenheiro e como diretor, para coordenar o departamento de produção, foi designado, surgiu mais um cargo de diretor na diretoria da Petrobras. E foi nomeado para este cargo o engenheiro Carlos Walter. E tivemos grandes atividades neste fim da década de 70 e começo da década de 80. Eu passei a me dedicar intensamente aos trabalhos de construção e montagem das novas plataformas e da implantação dos serviços complementares da Bacia de Campos. E houve vários desenvolvimentos de projetos na Bacia de Campos. Mas sobretudo foram perfurados vários poços em águas mais profundas, e novos campos em águas profundas foram descobertos. Descobertas estas que foram bastante aumentadas na segunda metade dos anos 80 e começo dos anos 90. Mas com muita atividade em 81 e 82 e primeiro semestre de 83, as atividades de implantação da bacia sedimentária da bacia fixa da Bacia de Campos cresceram bastante. E pudemos iniciar a própria produção de petróleo da Bacia de Campos em maior escala, bem como construir oleodutos até o continente e oleoduto de Macaé até a Bacia de Campos, até a Refinaria Duque de Caxias. A Bacia de Campos cresceu bastante e hoje é um dos maiores potenciais de produção de petróleo do Brasil. É o maior.
NEGÓCIOS
Mas eu queria voltar um pouco atrás, aos anos 70, e me referir à fase onde foi, a Petrobras foi autorizada a realizar os chamados contratos de risco. Na segunda metade dos anos 70 realizamos várias tomadas de preços, e foram selecionadas algumas firmas para realizar os chamados contratos de risco, ainda dentro do período do monopólio estatal. A seleção, o estabelecimento, o preparo da chamada tomada de preços e do contrato a ser assinado com estas firmas que vieram a construir, a realizar o trabalho de exploração do Brasil, o preparo dessa tomada de preços dos contratos deu bastante trabalho porque tivemos de ter a atenção voltada para muitas outras possibilidades. Felizmente conseguimos, sob a coordenação do presidente Araken de Oliveira e do diretor de produção na época, o engenheiro Aroldo Ramos da Silva, realizar um bom trabalho. E preparamos bons contratos, que foram assinados posteriormente por algumas firmas que ganharam as concorrências para realizar o trabalho de risco. Foi outra grande atividade da Petrobras na segunda metade dos anos 70. Esses contratos de risco permitiam que, se descobrissem petróleo, poderiam produzir. Uma das coisas que nós fizemos foi botar no contrato de assinatura, no contrato que fizemos com essas firmas que vieram explorar petróleo no Brasil, que elas poderiam, como queriam, exportar o petróleo. Porque nós estávamos vivendo a segunda crise do petróleo. Mas a prioridade seria o comércio, o mercado interno brasileiro. Isso ficou registrado nos contratos assinados com essas firmas que vieram fazer estes contratos, fazer os trabalhos chamados de risco, de exploração. O acordo feito entre a Petrobras, o Conselho Nacional de Petróleo, que existia na época ainda, o governo brasileiro e a firma.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Mas fiquei na Presidência da diretoria da Petrobras até terminar meu terceiro mandato. Porque eu fui eleito, eu fui designado pelo presidente da República para concluir o mandato do Ministro, do diretor Leopoldo Migueis de Melo. Depois fui reeleito, fui renomeado para mais um período de três anos. E em 79, 80 fui renomeado para um terceiro mandato. Esse terceiro mandato terminou aproximadamente em abril de 1983, quando o meu mandato foi terminado e eu não fui reconduzido. Deixei então a diretoria da Petrobras. De forma que em 1983 terminou meu segundo mandato. Eu então me aposentei como engenheiro da Petrobras.
PETROS
Fiquei aposentado, e em 1985, final de 84, quando o presidente da Petrobras era o Telmo Dutra de Oliveira, eu fui designado presidente da Fundação Petrobras de Previdência Social. Fiquei como presidente da Petros até 1988. Fiquei aproximadamente três anos e meio. Acima de tudo nós procuramos que a Petros se aproximasse o mais possível das patrocinadoras. Não só a Petrobras aqui no Rio, mas a Petrobras das diversas unidades. Me lembro que eu realizei muitos trabalhos e fiz palestras em muitos órgãos da Petrobras em diversos Estados.
Procuramos também nos aproximar, porque já estávamos com outras subsidiadas, outras patrocinadoras, nos aproximar das outras patrocinadoras. Procurei fazer uma reestruturação da Petros. O que houve foi realmente uma reestruturação da Petros. Procurei intensificar o treinamento do pessoal e em conjunto com os diretores termos também dedicada a atividade do exercício dos cargos. Mas ocorre que a Petros teve grandes problemas patrimoniais nos anos de 80. Eu apresentei uma proposta para a reformulação desta deficiência, deste déficit patrimonial, porque não foi possível implementá-la, ou seja, o petróleo, o conselho de administração da Petrobras não conseguiu implementá-la. E eu achei então que deveria passar o cargo para outra pessoa e pedi - na época o presidente da Petrobras era o Ozires Silva - eu pedi então exoneração do cargo de presidente da Petros.
Eu não consegui diminuir o déficit, porque a diminuição do déficit depende da contribuição que as patrocinadoras e os associados dão. Eu não consegui que o conselho de administração aprovasse o aumento dessa participação da Petrobras e nem tampouco dos associados. De forma que o déficit continua. Mas a Petros vem realizando bons trabalhos. Esse equilíbrio orçamentário já foi praticamente equilibrado. No final dos anos 80, começo dos anos 90. E hoje a Petros está basicamente com equilíbrio patrimonial admissível. Tem alguns valores, algum déficit pelo que eu sei, mas não assim tão elevado. Um outro fator que dificultou muito o déficit patrimonial da Petros foi o grande estímulo que a Petrobras deu na segunda metade dos anos 80 à aposentadoria dos seus empregados. A Petrobras estimulou a chamada aposentadoria voluntária. Tem um nomezinho assim corriqueiro. Fora que muita gente recebia na ativa já com mais de 30 anos de atividade. Os masculinos, e os femininos mais de 25. E alguns até mais de 30. Mas ainda com a idade relativamente baixa. Com este estímulo que a Petrobras deu - chamava sopão, um apelido. Com este estímulo que a Petrobras deu, muita gente aposentou e como tal, em vez de ser contribuinte, passou a ser recebedor de benefício. Isto aumentou mais o déficit técnico da Petros. Mas nos anos 90 isso foi devidamente equilibrado, sobretudo quando a Petrobras entrou, se eu não estou enganado, na gestão já do Sr. José Rennó como presidente da Petrobras, mas sobretudo pela ação do diretor, um diretor da Petros daquela época que foi chefe do serviço financeiro da Petrobras. Notavelmente não estou me recordando do nome agora. Mas um funcionário de alto nível da Petrobras. Sobretudo na gestão dele. Ele como diretor da Petrobras, e a quem a Petros respondia no momento, passou, ele conseguiu que a Petrobras desse à Petros um auxílio financeiro muito bom, e com isso a Petros melhorou financeiramente muito bem e hoje tem um pequeno déficit técnico. Nada muito difícil não.
RELAÇÕES DE TRABALHO
Eu acredito que, com dedicação, eu realizei um trabalho que eu diria bom e procurei acima de tudo estimular a todos aqueles que trabalhavam comigo a também realizar bons trabalhos.
ENTIDADES
ASSOCIAÇÃO DOS APOSENTADOS DA PETROBRAS – AMBEP
Quando terminei, deixei a Petros, eu procurei junto ao Instituto Brasileiro de Petróleo criar uma comissão técnica de dutos. Essa comissão foi criada, e eu participo desta comissão técnica de dutos. Passei a ter bastante atividade também junto à chamada Ambep, Associação dos Aposentados da Petrobras.
ENTIDADES
ASSOCIAÇÃO DOS ENGENHEIROS DA PETROBRAS – AEPET
Existe uma outra de que eu também sou sócio chamada Associação dos Engenheiros da Petrobras, que é Aepet. Essa a que estou me referindo primeiro é Ambep.
ENTIDADES
FUNDAÇÃO DE TECNOLOGIA DE SOLDAGEM
E evidentemente a minha idade ultrapassou os 70 anos e eu procurei, eu que havia sugerido nos anos 60 que a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro criasse um órgão de pesquisas, a Fundação de Tecnologia de Soldagem. Esse órgão foi criado, e eu fiquei como conselheiro desse órgão, participo das reuniões dessa Fundação de Tecnologia de Soldagem e continuo.
FAMÍLIA
Eu estou atravessando um momento difícil, porque minha mulher está adoentada. Ela tem problemas de rins e vem fazendo hemodiálise. São três vezes por semana. Isso é uma atividade muito sacrificante. Eu evidentemente estou dando a ela um grande apoio. A trago até a clínica, espero que o trabalho de quatro horas de hemodiálise seja realizado. Depois a levo em casa etc. Estou dando uma atenção muito grande a ela e ajudando evidentemente minha mulher nas atividades domésticas. Tenho uma filha chamada Isabel Melo dos Santos, que é casada, e tenho uma neta chamada Giovanna dos Santos Vasconcelos.
SONHO
Eu tenho um sonho, que possa não só minha mulher se recuperar mas que minha saúde seja mantida. Meu grande sonho é que a Petrobras continue a desenvolver as grandes atividades.
IMAGENS DA PETROBRAS
Olha meus amigos, nós temos que nos lembrar: não fossem as atividades da Petrobras nestes últimos quase 50 anos, o Brasil hoje estaria gastando cerca de 14 bilhões de dólares importando derivados de petróleo. Isso é um valor muito alto. Lembremos que hoje a balança comercial brasileira já tem saldo. Com essa importação de derivados de petróleo dificilmente teríamos saldo. A Petrobras montou boas refinarias, construiu uma frota de petroleiros, bons oleodutos ao longo de todo o Brasil, criou uma subsidiária de alto valor, que é a Petrobras Distribuidora Br.
SUBSIDIÁRIA
PETROBRAS DISTRIBUIDORA - BR
Essa Petrobras Distribuidora vem realizando grandes trabalhos, pois mantém cerca de 33%, 34% do comércio de distribuição de petróleo no Brasil. Se não fosse a Petrobras ter essa Petrobras Distribuidora, as empresas estrangeiras estariam exportando a mais, estariam transferindo a mais por ano cerca de U$400 milhões de lucro. O que mostra que a Petrobras Distribuidora presta um grande serviço ao Brasil.
CULTURA PETROBRAS
A Petrobras como um todo presta um excelente serviço. Meu sonho é que a Petrobras continue a ter grandes desenvolvimentos e no momento volte a realizar grandes trabalhos da área de treinamento de pessoal. Quer do nível superior, quer do nível médio.
RELAÇÕES DE TRABALHO
A Petrobras ta precisando, tendo em vista a grande aposentadoria que ocorreu nesses últimos 10, 15 anos. Sobretudo que nesses 10, 15 anos o treinamento pessoal ficou limitado a um nível, a um número bastante baixo. Eu apelo para que a Petrobras realize um grande trabalho, um treinamento de pessoal, tanto do nível superior quanto do nível médio. E que esse treinamento tenha grande desenvolvimento.
ENTREVISTA
Muito obrigado pelo convite que me fizeram.Recolher