Museu da Pessoa – Conte sua história
Histórias de Esperança – 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Cristiane Marcondes dos Santos Duailibi
Entrevistada por Tereza Ruiz
Osasco, 09/12/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista HECE_HV_34
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 ...Continuar leitura
Museu da Pessoa – Conte sua história
Histórias de Esperança – 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Cristiane Marcondes dos Santos Duailibi
Entrevistada por Tereza Ruiz
Osasco, 09/12/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista HECE_HV_34
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 – Primeiro, Cris, fala pra gente o seu nome completo, data e o local de nascimento.
R – Cristiane Marcondes dos Santos Duailibi. Nasci em Osasco, 2 de março de 1977.
P/1 – Agora o nome completo do seu pai e da sua mãe e data e local de nascimento também, se você souber.
R – Do meu pai é Osmar Marcondes dos Santos, ele nasceu no Paraná, nasceu em 28 de novembro de 1953. E a minha mãe Sandra Maria de Oliveira, nasceu em Aparecida, interior de São Paulo, no dia 18 de outubro de 1957.
P/1 – O que os seus pais faziam ou fazem profissionalmente?
R – O meu pai ultimamente já está meio parado, mas a profissão dele é sapateiro. E a minha mãe é contadora.
P/1 – Ela trabalha ainda como contadora?
R – Trabalha.
P/1 – Conta um pouquinho como é que eles são de personalidade, descreve um pouco pra quem não conhece. Como é que você descreveria os seus pais?
R – Ah, é difícil. O meu pai principalmente é mais difícil porque como são separados, eu vivi até os nove anos com o meu pai. Então eu vejo, mas não vejo tanto, então é mais difícil de descrever, né? Aí pra mim até alguns meses atrás ele era uma pessoa supercalma, tranquila, agora eu já vim descobrir de onde eu puxei o meu stress, sabe? Às vezes ele é meio nervoso. Então coisas que eu descobri agora, depois de tantos anos, eu sempre achei que ele era a pessoa mais tranquila do mundo. E a minha mãe, minha mãe é mais difícil ainda por conviver com ela eu acho. Então a minha mãe é a pessoa que está ali pro que der e vier, está sempre comigo me apoiando. Ajuda quando eu preciso com os meus meninos, trabalhadora, sempre trabalhou a vida inteira dia e noite pra cuidar de mim e dos meus irmãos sozinha. Então a gente teve muita falta dela e depois de casados, vamos dizer, eu e os meus irmãos, parece que nos aproximamos mais até.
P/1 – Quantos irmãos você tem?
R – Eu tenho três. Somos três do primeiro casamento e tem um caçulinha de 14 anos que é do segundo casamento dela.
P/1 – Qual é o nome dos seus irmãos?
R – Tem a Andréia, que é mais velha que eu. Aí tem eu, depois tem o meu irmão Marcelo e aí tem o Rodolfo que é o mais novinho.
P/1 – Você sabe qual que é a história do seu nome, Cris? Quem que te deu esse nome e por que você tem esse nome?
R – Não sei. Eu sei que é de Cristo, vindo de Cristo, mas como foi a escolha eu não sei realmente.
P/1 – E a sua família é religiosa?
R – É. A maioria toda católica. Tem evangélicos também, mas quase todos católicos.
P/1 – E você frequenta a igreja desde pequena?
R – Sim.
P/1 – E a história, a origem da tua família, você sabe qual que é? Seus antepassados da onde vieram.
R – Pouco. Eu sei pouco. Eu sei que tem muita mistura. Da família da minha mãe o meu avô é descendente de bugre e ele não tem contato com a família dele há muitos anos. Então ele é só. Eu não conheço ninguém da parte dele. Da minha avó são italianos, descendentes de italianos. Já conheci os irmãos dela, tudo. E paterno meu avô é descendente de português e a minha avó também. É uma misturança, né? Tem bastante descendência aí. Não convivi muito porque faleceram cedo também, os meus avós paternos. Os maternos eu tenho graças a Deus até hoje, meu avô com 93 anos e a minha avó tem 80, mas tudo bem.
P/1 – Conta um pouco pra gente como é que é a casa em que você passou a infância. Que lembranças você tem da casa e do bairro em que você passou a infância?
R – Eu passei por muitas casas. O que eu mais me recordo nem era aqui em São Paulo, eu com quatro anos nos mudamos pro Paraná e eu tenho muita lembrança de lá, apesar de ser tão pequena acho que é a fase que eu mais me recordo, quatro, cinco anos. Nós passamos uns dois anos lá e depois voltamos pra São Paulo, pra Osasco, que eu nasci aqui, cresci.
P/1 – Onde que era lá no Paraná que vocês se mudaram?
R – Cornélio Procópio. Lembro-me da cidade, quer dizer, eu acho que eu lembro, pelo menos eu tenho na minha mente certinho a escola que eu estudei, tudo. E é essa fase que o meu filho está agora, então me vem muito a lembrança de quatro anos.
P/1 – E quais que são as suas lembranças de Cornélio Procópio?
R – Muito da escola. Eu não sei se pelo meu filho estar com essa idade e eu lembrar muito da escola do tempo que eu ia. Lembro-me da cidade, lembro-me das casas que nós moramos lá, nós moramos numas três ou quatro casas até meus pais comprarem uma. Lembro-me de todas.
P/1 – E da escola o que você lembra?
R – Da escola em si lembro mais de brincar em parquinho, não lembro tanto... Eu lembro muito da saída na escola, da pracinha que tinha em frente, mais dos locais eu acho que eu lembro mais.
P/1 – Descreve um pouco pra gente. Era uma escola grande, pequena, era próxima ou distante da sua casa. Como é que era?
R – Eu lembro que não era tão próxima da minha casa, era próxima do trabalho da minha mãe. Era uma escola grande, não lembro muito como era por dentro. Lembro-me de uma sala e me lembro do parque, né? Teve uma cena que acho que me marcou que o meu irmão escorregou no escorregador e machucou o queixo, levou ponto e tudo então acho que isso marca. Eu acho que por isso que eu lembro tanto do parque, o escorregador de ferro. É isso que eu lembro mais. Lembro-me da praça que tinha em frente a escola, lembro das casas que a gente morou ali também.
P/1 – Teve algum professor dessa fase que tenha te marcado que você lembre?
R – Não. Professor não lembro. Lembro mais do primário mesmo, dessa fase eu não lembro.
P/1 – E dessas casas que vocês moraram lá tem alguma que a lembrança seja mais forte?
R – Tem. Tinha uma casa que a gente gostava muito, tanto que eu, a minha irmã e o meu irmão a gente não esquece porque era uma casa grande, tinha um quintal. Eu sou apaixonada pela escola aqui justamente por isso, tinha um quintal com muita árvore, tinha galinheiro, tinha fruta, tinha terra, gramado, então essa casa a gente gostava muito dela.
P/1 – Quanto tempo você ficou morando lá?
R – Ao todo foram acho que dois anos. Acho que por aí, uns dois anos e pouco. Eu lembro não tanto, lembro, mas não muito.
P/1 – Aí vocês voltaram pra Osasco?
R – Voltamos pra cá.
P/1 – Você sabe o porquê seus pais foram e depois voltaram?
R – Meu pai falou que não deu certo pra ele, aí minha mãe trabalhava até lá, eles trabalhavam lá, mas de repente vendeu tudo e veio embora. A minha mãe um dia até falou que não deveria, tal, mas eu acho que a vida está melhor aqui.
P/1 – E quando você voltou como é que era a casa em que você vivia aqui em Osasco quando pequena?
R – Quando eu voltei eu não lembro tanto, mas eu acho que nós fomos morar com a minha avó materna aqui em Osasco mesmo. Lembro que fui pro primeiro ano e eu ia pra escola, ficava na casa da minha avó, ia pra escola que era próxima. Minha mãe sempre trabalhando, meu pai também, minha mãe trabalhava, estudava nessa época. Então eu lembro muito da casa da minha vó que tinha as mesmas características, sempre as árvores lá, então a gente gostava muito de ficar lá.
P/1 – E do que você brincava nessa fase de infância, Cris? Quais eram as brincadeiras?
R – Brincava de boneca, mas o que eu gostava muito de brincar era já de casinha de cozinha, fazer bolinho de terra. Desde pequena sempre fazendo bolinho de terra, espremendo folha pra ver a cor que dava, lembro bastante disso. Sempre gostei de cozinha.
P/1 – E com quem que você brincava?
R – Com a minha irmã, com as outras crianças da rua. Lembro-me dessa fase já com oito, nove anos que nós já mudamos pra nossa casa, já não era mais com a minha avó, mas era próximo e lembro bastante, foi a casa que marcou bastante aqui que foi onde nós passamos mais tempo.
P/1 – Que foi essa casa com quintal ou não? Essa é outra casa?
R – Não. É outra casa. Era uma casa que tinha uma... Era uma rua sem saída, então ali a gente brincava muito. Antigamente a gente podia brincar muito na rua, coisa que não se faz hoje. A gente brincava muito na rua eu, os meus irmãos e a criançada da rua toda, eram brincadeiras mais saudáveis, né?
P/1 – Do que vocês brincavam na rua?
R – De queimada, de vôlei, de esconde-esconde, essas coisas mais de antigamente mesmo. Não tinha vídeo game, nada disso, não tinha celular, não tinha nada disso.
P/1 – Você tinha brinquedos?
R – Tinha brinquedos, mas a diversão era na rua mesmo. A gente passava mais tempo na rua do que dentro de casa.
P/1 – E você lembra nessa fase de infância o que você queria ser quando crescesse? A primeira vez que você pensou numa profissão qual foi a profissão que você pensou?
R – A primeira que eu pensei era ser médica. Eu queria ser médica e pediatra, tinha que ser cuidar de criança. Sempre tive um amor muito grande por criança. Então a primeira ideia foi medicina, mas logo já parei de pensar nisso, eu estava estudando ainda. Mas a primeira faculdade mesmo que eu entrei pra fazer foi pedagogia. Tinha alguma coisa a ver com criança. Até cheguei a fazer um ano, mas também vi que não era aquilo, meu negócio era na cozinha mesmo.
P/1 – Mas medicina foi a primeira lá atrás?
R – Foi a primeira.
P/1 – E você falou que no primário...
R – Eu falava que eu queria ser médica de criança. Nem sabia como chamava pediatra.
P/1 – E você sabe por que isso? Assim, o que te deu a ideia...
R – Por gostar muito de criança mesmo. Eu tinha primos pequenos, eu tenho um primo que eu vi nascer e hoje ele já é pai. Eu o carregava comigo pra cima e pra baixo, eu era novinha, tinha dez, 12 anos. Eu tinha dez anos quando ele nasceu e eu era muito grudada com ele então eu gostava muito de criança. Meus priminhos era eu quem estava ali cuidando, então sempre tive essa relação com eles.
P/1 – E você comentou que você não se lembrava de nenhum professor mais novinha de pré, mas lembrava de primário. Queria saber se tem nessa fase do primário ou às vezes não do primário, mas educação básica, algum professor que tenha te marcado e por que.
R – Eu tenho, o primeiro e segundo ano eu estudei numa escola eu não tenho muita recordação. Eu me lembro da escola, sei onde fica, tudo, lembro certinho como era, mas não me lembro de professores de lá. E logo em seguida eu mudei pra outra escola já no terceiro ano e lembro o nome da professora que era Sandra, era o mesmo nome da minha mãe. Eu acho que talvez por isso e por ser a primeira professora que eu encontrei nessa escola, que me acolheu porque foi uma mudança durante o ano, não foi nada de primeiro dia de aula então ela me acolheu muito bem, recebeu-me bem. Acho que marcou bem dessa outra escola que eu fiquei até terminar o colegial chamava, ensino médio agora. Não. Não é ensino médio, era até a oitava série.
P/1 – Fundamental II que chama agora, né?
R – É. Fundamental. Tenho bastante recordação de lá, que passei mais tempo, foi a escola que eu passei mais tempo, lembro-me de bastantes professores de lá.
P/1 – E foi nessa fase de fundamental I que os seus pais se separaram?
R – Foi.
P/1 – Pelo que você falou nove anos.
R – É. Nove anos.
P/1 – Aí como é que foi isso pra você na época, esse processo, essa mudança?
R – Eu acho que eu não entendia muito ainda. Não lembro tanto, mas lembro, não era bom pra minha mãe estar casada com o meu pai por vários motivos, então nós entendemos. Eu e minha irmã acho que entendemos mais, meu irmão mais novo talvez nem tanto. Mas nós entendemos, ficamos com a minha mãe, sempre a apoiando, mas é uma fase difícil, né? De repente tudo muda na vida. Hoje eu não me vejo separando do meu marido, não me vejo nessa situação, meus filhos... Não passa pela minha cabeça isso, como fica a cabeça deles. Eu acho que a cabeça da criança fica muito confusa.
P/1 – Mas você tem uma lembrança da época de como você se sentiu ou de como que foi o processo pra você?
R – Eu não tenho muita, não. Pra mim era normal, não era nada... Fica aquela confusão, por que meu pai foi embora? Mas não era uma coisa tão assim. E aí meu pai até se aproximou no começo, sempre pegava a gente, levava pra algum lugar, sempre. No começo ele ficou sempre presente até a gente entrar na adolescência, porque adolescente não quer saber de mais nada, mas ele estava sempre ali, levava a gente pra sair, pra viajar. Estava sempre ali.
P/1 – Manteve contato.
R – Manteve.
P/1 – E dessa fase de infância tem alguma memória, uma história, um episódio que tenha te marcado? Essas coisas que ficam na lembrança.
R – Tem de eu ter aprontado. Tem uma que quando eu tinha uns seis anos minha mãe fala, eu coloquei uma bolinha de pérola dentro do meu ouvido e eu sofri com isso a vida inteira. Isso me marcou porque eu fiquei sofrendo com isso apesar de terem tirado a bolinha eu fiquei com aquela infecção no ouvido e só com 17 anos eu fui resolver esse problema. Então isso me marcou e eu fico de olho pra não acontecer com os meus, né?
P/1 – Você disse que aos 17 você resolveu, por quê? O que você fez?
R – Porque eu fiz uma cirurgia porque o meu ouvido não chegou a estourar o tímpano, mas ele ficava saindo uma secreção e eu era sempre com o algodão no ouvido. Aí quando eu fiz a cirurgia resolveu, mas demorou.
P/1 – Demorou.
R – É. Que eu tenha aprontado que eu lembre foi isso.
P/1 – E dessa passagem da infância pra adolescência então um pouquinho mais tarde, Cris, o que mudou na sua vida em termos de passeio, amigos, escola? Que mudanças você lembra que foram mais significativas da infância pra adolescência?
R – Ah, eu nunca fui de ter muitos amigos. Eu sempre tive poucos e sempre junto. Então eu tinha algumas amigas, tenho até hoje essas que eu conheci com 13 anos, eu tenho contato até hoje que foi na hora que eu tava entrando nessa fase. Tenho contato até hoje com algumas, com a maioria, mesmo que seja por internet, mas a gente ainda... Então não tive muitos, mas era intenso vamos dizer.
P/1 – E o que você fazia pra se divertir? Você ia às festas ou saía pra cinema, bares?
R – Eu não gostava muito de sair, sempre fui muito caseira. Mas a primeira vez que a minha irmã me levou pra sair não era nem o local pra mim, eu tinha 12 anos, ela me levou pra uma balada que ela ia sempre, ela já tinha 15 e quando eu entrei eu olhei aquilo, falei: “O que é isso? O que eu estou fazendo aqui? Isso aqui não é pra mim”. Eu já não gostava de sair, cheguei, aquele lugar todo escuro com algumas luzes pequenas, baixas, tranquei-me no banheiro. Falei pra ela: “Eu não quero. Eu quero ir embora.” “Ah, agora você vai ter que ficar até a hora que eu for embora”. E eu a deixei lá e fui embora sozinha. Isso me marcou porque ela não quis nem saber. Só que depois de um ano uma amiga minha me levou lá e eu gostei.
P/1 – Onde era esse local?
R – Aqui em Osasco mesmo. Hoje é uma academia, mas era uma danceteria, era bem grande, era a mais famosa de Osasco, e conheci o meu marido lá. Depois de um ano uma amiga me levou e aí eu gostei, foi uma reação totalmente diferente.
P/1 – Mas você conheceu o seu marido nessa segunda vez lá ou foi...
R – Nessa segunda vez.
P/1 – Então conta pra gente como é que foi. Conta a história.
R – Ah, foi assim, eu era supernova, tinha 13 anos, mas já começou aquela olhadinha daqui, olhadinha dali. Ele tinha 16 anos e aí eu comecei alguns... Era domingo que a gente ia, era das sete às 11 da noite. Comecei a ir alguns, mas como eu não gostava, não era uma coisa que me satisfazia, eu acho que eu fui só pra conhecê-lo mesmo porque parei de ir e nós continuamos namorando, ele também parou de ir e namoramos até hoje. Passaram 24 anos.
P/1 – Depois desse dia que vocês se encontraram a primeira vez como é que foi até vocês começarem a namorar? Conta um pouquinho a história de vocês.
R – Começou um namorinho, uns beijinhos e aí ele começou a me levar na minha casa porque era tarde. E a gente começou a se ver não só aos domingos, eu estudava, ele ia me buscar na escola e a gente começou a se ver todo dia praticamente. E aí começou. A gente começou a namorar nessa fase mesmo.
P/1 – Qual que é o nome dele?
R – Marco Aurélio. E aí a gente namorou bastante tempo. Namoramos seis anos e aí ficamos noivos, daí ficamos noivos quatro anos e com dez anos foi o casamento finalmente.
P/1 – Vou querer que você conte um pouquinho do casamento, mas eu vou voltar um pouco antes pra essa fase de escola ainda. Você está contando um pouco então essa coisa de dançar e cinema, filme, música, você gostava de alguma coisa?
R – Tinha uma amiga que era a melhor amiga eu ia com ela no shopping. A gente gostava muito de passear, às vezes o pai dela levava no cinema, ia tomar um sorvete. A gente ia passear, passear no shopping mesmo. Passear na rua, a gente gostava de ficar andando, não tinha uma coisa certa pra fazer. Ficava andando, perambulando.
P/1 – E música? Você gostava de ouvir?
R – Gostava. Gostava sim. Até hoje eu gosto.
P/1 – O que você ouvia nessa época?
R – Ah, eu ouvia de tudo. Eu só não gosto muito de rock, mas eu gosto de vários tipos de música. Só o rock que deixei pros meus irmãos.
P/1 – Tem alguma canção que tenha marcado um momento da sua vida ou que você goste em especial, que tenha marcado um relacionamento?
R – Tem a que eu conheci o meu marido, né? Tem. Até hoje se a gente ouvir no rádio um olha pra cara do outro, porque não tem como, foi bem quando a gente se conheceu, mas tem várias músicas.
P/1 – E qual que é a canção?
R – É Sinéad O’Conner, sabe? Nothing Compares To You. Foi essa. A minha irmã me levava muito pra sair. Fui a show de Information Society, de Noel, sem nem saber o que era, mas eu gostava e ia junto. Alguns, ela saía muito mais. Hoje ela ainda é baladeira, eu nunca fui disso muito, sou mais caseira mesmo.
P/1 – E filme? Tem algum filme que tenha te marcado dessa fase?
R – Tem. Com essa minha amiga eu fui ao cinema assistir Ghost, quase morremos de chorar. Tem outro filme que eu assisti com ela também que eu não lembro o nome agora, mas que marcou bastante. Era um filme bem antigo e o pai dela que levou, agora não lembro o nome, mas eu me lembro do Ghost que eu assisti com ela no cinema. Com namorado não ia muito porque ele dormia então não tinha graça, não ia muito com ele no cinema, não, era mais com ela.
P/1 – Você lembra o nome dessa danceteria que vocês se encontraram?
R – Rhapsody. Era lá. Agora é uma academia. Tinha três andares, tinha três ambientes, então tinha um dos jovens lá que era onde a gente ficava e tinha uns mais reservados, tinha acho que sertanejo e nós ficávamos no primeiro mesmo que era o dancing lá.
P/1 – E depois na fase de colegial, do que era colegial na época, você continuou na mesma escola? Teve uma mudança de escola?
R – Eu mudei porque não tinha na mesma escola. Aí eu já trabalhava, eu comecei a trabalhar com 16 anos, então quando eu fui pro colegial eu já trabalhava. Era levantar cedo, ir trabalhar, ir pra escola, chegar em casa meia noite, aquela vida de trabalhador estudante. Comecei com 16, por aí.
P/1 – Qual que foi o seu primeiro... Por que você...
R – Na verdade eu comecei a trabalhar mesmo com 14, só que eu fiquei pouquinho tempo, trabalhei numa clínica que o meu cunhado conseguiu pra mim, mas trabalhei pouquinho tempo lá. E aí eu comecei a trabalhar mesmo com 16.
P/1 – Nessa clínica qual era a sua função?
R – Recepcionista. Era uma clínica de hemodiálise. E era bem sofrido, então eu não gostei por ver cenas que são tristes demais eu acho. Então eu não fiquei muito tempo lá, não.
P/1 – Quanto tempo você ficou lá, você lembra?
R – Eu fiquei meses. Uns três, quatro meses. Acho que não tenho nem registro na carteira.
P/1 – E você lembra por que você foi procurar registro na carteira?
R – Porque precisava. Queria ajudar minha mãe, vou falar, não ajudei tanto quanto hoje eu ajudaria, queria ter minhas coisas porque eu sabia que a minha mãe... A gente sempre explorou minha mãe, vai, ela sempre fez tudo pela gente. Então eu queria ter as minhas coisas também.
P/1 – Você lembra o que você comprou com os seus primeiros salários?
R – O primeiro eu lembro, tudo em roupa. Todo em roupa o primeiro pagamento.
P/1 – Como é que foi? Você saiu e foi pra algum lugar...
R – Saí direto do trabalho, já fui ao shopping e gastei tudo. Eu recebia pouquinho, era recepcionista também, então foi tudo. O primeiro eu lembro, os outros eu não lembro tanto.
P/1 – E esse segundo emprego com 15 anos o que era?
R – Era recepcionista também. Era uma agência de publicidade. Lá eu fiquei um ano, um ano e pouquinho eu acho.
P/1 – E aí isso o que, dos 16 aos 17, 17 e pouco?
R – É. Por aí. Até quando eu fiz essa cirurgia que eu te falei do ouvido eu trabalhava lá. Fiquei até... Antes dos 18 eu já não estava mais lá. E aí sempre eu estava mudando de emprego, eu ficava um ano, um ano e meio e já mudava, mais um ano, um ano e meio, já mudava. Sempre recepcionista, telefonista, até eu me achar.
P/1 – E quando é que você decidiu o que você ia fazer de faculdade? Quando é que você tomou essa decisão e por que você tomou essa decisão?
R – Então, como eu sempre desde pequena gostei muito de cozinha, com nove, dez anos eu já fui pra cozinha fazer bolo, ficava aqueles bolos horríveis, mas eu estava lá. Minha mãe não estava em casa eu ia pra cozinha, eu e a minha irmã, mas eu gostava mais que ela. Aí eu comecei a fazer bolo, bolo, bolo, comecei a fazer arroz, feijão, com 12 anos eu já cozinhava tudo. E aí com 16 anos, por aí... Não. Foi mais. Com uns 18 anos eu lembro que eu saí de um serviço e o dinheiro que eu recebi lá eu comprei tudo de chocolate e comecei a fazer chocolate. Fiz bombom, fiz ovo de Páscoa e ali que eu comecei. Isso foi em 96, então eu já tinha 18, 19 anos. E dali eu não parei mais. Aí comecei no chocolate, passei pra bolo, passei pra salgado, até que um dia minha irmã chegou e falou: “Cris, tem uma faculdade pra isso”. Eu nem sabia que existia. Ela: “Tem uma faculdade, gastronomia.” “Mas como é que é isso? Conta”. Aí eu comecei a buscar informação, tudo, demorei um pouco, em 2003 eu entrei na faculdade e aí eu fiz gastronomia e é o que eu... Aí eu me encontrei mesmo, né?
P/1 – Quando você terminou então o colegial, o ensino médio, você ficou um tempo só trabalhando?
R – Fiquei. Diretamente eu já entrei pra fazer pedagogia. Fiz um ano e não era aquilo, falei: “Não quero. Não vou fazer. Não vou continuar”. Aí eu parei. Fiquei um tempo parada de estudo e só voltei mesmo depois. Fiquei trabalhando, mesmo trabalhando fora eu fazia os meus ovos de Páscoa, fiquei bastante tempo só no chocolate até eu começar a fazer de tudo.
P/1 – E aí você fazia e vendia pra fora? Como é que era isso? Fazia em casa.
R – Vendia. Fazia. Vendia pra amigos, né? Primeiro os que compram são amigos e familiares e aí um vai falando pro outro e vendia até, não tanto, mas vendia.
P/1 – Mas você trabalhava em paralelo com outra coisa também?
R – É. Sempre trabalhando.
P/1 – E aí com o que você trabalhou nessa época?
R – Então, sempre eu fui recepcionista, telefonista, depois trabalhei com telemarketing, até me encontrar. Sempre fazendo isso.
P/1 – E qual que é o momento que você decide que vai trabalhar exclusivamente com gastronomia?
R – Então... Eu nunca parei, né? Desde que eu comecei com chocolate nunca parei. Quando eu ficava desempregava o que me salvava era ali, meus bolos, meus salgados, mas era mais pra conhecido, não tinha tanta... E aí eu acho que em dois mil pra cá que eu peguei mesmo pra fazer tudo. Aí em 2004 eu entrei na faculdade e aí eu comecei a trabalhar com festa. Eu não queria me tornar uma chef de cozinha, eu queria ir lá, aprender as técnicas, minha área sempre foi mais a confeitaria, que é a parte que eu gosto mais até hoje, falei: “Não quero trabalhar em hotel, não quero trabalhar em restaurante chique, não quero nada disso. Eu quero aprender as técnicas e quero ser confeiteira”. E é isso. Aí eu comecei, depois que eu saí eu comecei... Aí trabalhei em alguns restaurantes, peguei uma experiência legal e agora eu trabalho por conta.
P/1 – Você trabalhou em alguns restaurantes durante a faculdade de Gastronomia, foi isso?
R – Quando eu estava na faculdade ainda eu trabalhei em um, só que como eu estudava de manhã o horário nunca dava pra conciliar e o meu marido sempre me ajudou a pagar a faculdade e eu fazia essas coisinhas pra ajudar. Então ele que me deu uma força maior pra pagar a faculdade. Eu trabalhei em um, só que era superdifícil o horário, então eu vim trabalhar mesmo depois que eu... Porque são dois anos só, né? Depois que eu terminei que eu comecei a trabalhar mesmo em restaurante.
P/1 – E como é que foi a faculdade de Gastronomia pra você? Conta um pouco pra gente o que você achou, era o que você esperava? Como é que foi a experiência?
R – Foi maravilhosa. Eu faria tudo de novo. É demais, a faculdade ensina muito e eu estava ali me realizando mesmo. Na época que eu fiz foi a época que deu o boom da gastronomia, então tinha muita gente ali porque era moda. Eu não, eu estava ali porque era o que eu queria mesmo, encontrei-me mesmo.
P/1 – E aí essa experiência em restaurante como é que foi?
R – Então, o meu primeiro trabalho mesmo foi como confeiteira em um restaurante terceirizado, ele tem dentro de várias empresas. E eu comecei ali. Eu lavava banheiro, eu lavava chão, eu fazia de tudo e aí o chef de cozinha chegou, falou: “Você tem faculdade, você é formada”. Eu falei: “Mas e aí? Eu tenho que começar de algum jeito. Eu não me importo de estar aqui fazendo isso. Fazer o que? Eu tenho que passar por isso? Eu tenho que passar, a gente tem que começar de baixo”. Então eu não me importava, não. Lavava, fazia tudo e fazia os meus doces também e todo mundo gostava. Trabalhei legal ali acho que uns dois anos e meio mais ou menos. Eu morava em Barueri nessa época, que eu me mudei pra lá com a minha mãe, nós saímos de Osasco e fomos pra lá. Acho que eu pulei essa parte.
P/1 – Em que momento você se mudou pra Barueri?
R – Em Barueri foi em 2000. Minha mãe conseguiu comprar a casa lá e aí nós fomos. Nós saímos daqui de Osasco... De Osasco a gente morou sempre na região aqui próximo do Vila Yara, do Jaguaré, e aí ela comprou ali em Barueri. E quando ela comprou eu estava na faculdade... Não. Eu não tava na faculdade ainda, não. Foi em 98 que ela comprou lá. Quando eu cheguei ao lugar falei: “Minha mãe está louca”. Era no meio do nada, era só mato. Minha irmã também falou: “O que acontece? Como que ela veio parar aqui?”. Mas era o que ela podia fazer, era o que o dinheiro dela dava pra comprar, mas nós fomos juntos, claro. Hoje em dia tem o shopping do lado da casa dela, o bairro cresceu bastante e aí ela fala isso pra gente. Mas eu morei lá acho que uns seis anos eu devo ter morado lá, ou mais, seis a oito anos, por aí, e daí eu voltei pra Osasco porque aí eu comprei minha casa aqui, daí vim pra cá.
P/1 – Mas você voltou pra cá você já estava casada? Como é que foi?
R – Já. Nós moramos um tempo casados com a minha mãe e aí nós compramos aqui em Osasco e viemos pra cá.
P/1 – Em que ano que você se casou?
R – Em 2000.
P/1 – Em 2000.
R – É.
P/1 – Conta um pouquinho então como é que foi. Eu queria saber como foram esses dez anos de namoro. Fora dez anos de noivado e namoro.
R – É. Foi bastante.
P/1 – E aí quando é que vocês decidiram se casar, se teve um pedido, como é que foi isso?
R – Olha, a gente foi muito assim sempre levando, deixa a vida levar, a gente nunca ficava parando pra pensar, pra planejar. Nós nunca planejamos nada, acho que uma coisa que a gente deveria ter feito. Então nós namoramos seis anos, do nada: “Vamos ficar noivos?” “Vamos.” “Tá. Que dia?” “Tal dia”. Pronto. Dia do aniversário dele ficamos noivos, sem falar em casamento, só colocou a aliança no dedo sem falar em casamento. Passaram três anos e pouco mais ou menos: “Vamos casar?” “Tá na hora, né?”. Porque ele já tinha vindo pra casa da minha mãe, ele já veio de mala e cuia pra casa da minha mãe, então nós dois entramos num consenso, chegou a hora da gente ter a nossa vida porque a gente já está morando junto, então vamos oficializar isso aí. E eu queria, era o meu sonho, eu não queria só juntar, ir embora pra uma casa, queria casar mesmo. Então nós decidimos em outubro de 99, em maio de 2000, eu tive seis meses quase pra fazer tudo. Mas fiz tudo do jeito que eu queria, casei na igreja, fiz tudo. Fiz festa, foi tudo como a gente queria mesmo.
P/1 – Como que foi o dia do seu casamento? Conta um pouco pra gente.
R – Como foi?
P/1 – É. A cerimônia, a festa.
R – O meu marido é muito... Agora ele é mais calmo, mas ele era muito nervoso, muito agitado, então eu o fiz tomar um vidro de Maracugina no dia do casamento. Eu lembro que eu saí logo cedo de casa, fui passar o meu dia da noiva lá, levei minhas daminhas comigo então passei o dia inteiro lá. Eu sei que eu me atrasei por causa da cabeleireira que atrasou e aí o padre acelerando ele: “Sua noiva não vai chegar...” depois ele me contando “Sua noiva não vai chegar”. E ele já desesperado lá achando que eu não ia chegar mesmo, mas cheguei, 40 minutos depois, mas cheguei. E foi assim, eu não me lembro de ter nada de reação, sabe? Eu olhava pras pessoas, mas eu não lembro. Era tanto nervoso, tanta coisa, eu não conseguia sorrir, eu não conseguia nada, eu fiquei paralisada. Entrei, mas paralisada de tão nervosa que eu fiquei. E aí foi tudo lindo e maravilhoso como a gente quis.
P/1 – E a festa?
R – A festa também foi bem legal, minha família inteira, pessoas que eu achei que não vinham, então eu fiquei muito feliz, muito legal. Aquela correria de não dá tempo de fazer nada porque tem que dar atenção pra todo mundo. Aí fui em casa, lembro que nós fomos em casa eu só tirei o vestido e um casal de amigos levou a gente pra praia, só levou e voltou. Aí nós ficamos uma semana mais ou menos na praia.
P/1 – Onde vocês passaram a lua de mel?
R – Em Mongaguá. Pertinho.
P/1 – E aí como é que foi a lua de mel?
R – Detalhe, no meu casamento, no dia do meu casamento era pro meu irmão ter nascido. Minha mãe foi com a barriga enorme e aí o médico falou pra ela: “A gente vai marcar a sua cesárea pro dia 27 de maio”. E ela: “Não. É o dia do casamento da minha filha”. Foi pra uma semana depois, nasceu uma semana depois, mas foi bem legal aquele barrigão, minha mãe, né? E aí marcou bastante a gente. Eu com a minha mãe, o meu padrasto de um lado e o meu pai do outro. Então todo mundo ria muito da cena, que marcou de engraçado, o pessoal falar muito.
P/1 – Foi o teu pai que te levou até o altar?
R – Meu pai que me levou. E ele não esperava que eu quisesse que ele me levasse. Quando eu falei, quando fui até a casa dele tudo, até a esposa dele falou: “Mas seu pai vai te levar?” “Claro, ele é meu pai, ele tem que me levar”. E levou.
P/1 – E o nascimento desse seu irmão temporão, você lembra? Como é que foi?
R – Lembro. Eu corri pro hospital. Não consegui chegar a tempo, quando eu cheguei minha mãe já tinha ido pra sala de parto, mas eu e meu outro irmão a gente foi correndo pro hospital, mas quando chegou lá ela já tinha ido e não deu tempo de encontrar com ela antes, só depois. Lembro-me do meu padrasto feliz da vida que é o primeiro filho, lembro-me dele pelo corredor e foi o xodózinho, né? Mimado por todos.
P/1 – E como é que foi pra você ter um irmão tão mais novo?
R – Ah, eu adorei. A minha mãe fala que eu tinha ciúmes dele, ela fala que eu morria de ciúmes dele. Coisa de irmão, né? Ela: “Porque o Rodolfo tem tudo, a gente não tinha”. Mas é claro que a gente não tinha, era outra época, era outra situação, era a minha mãe sozinha praticamente, minha mãe que sustentava a casa, o meu pai estava um pouco presente, mas nunca ajudou financeiramente, foi minha mãe que levou tudo. Mas foi bem gostoso ter um irmãozinho com 23 anos. Foi bem legal.
P/1 – E depois de casada quando é que vieram os seus filhos?
R – Ah, os meus demoraram bastante. Eu tinha obesidade mórbida, então eu fiz redução do estômago, eu não conseguia engravidar, por isso que eu fiz a redução. Então eu não conseguia de jeito nenhum. Depois de dez anos de casada que eu tive o meu primeiro filho, que foi depois que eu fiz a redução. E aí passaram dois anos o médico falou: “Você pode optar, abdominoplastia ou o bebê?”. Eu falei: “O que vier primeiro está bom”. Veio o bebê. E aí logo em seguida já veio o outro. Eles têm dois anos de diferença. Demorou tanto e já veio um atrás do outro e os dois estudam aqui.
P/1 – Qual é o nome deles?
R – Mateus, que tem quatro anos e o Felipe tem dois anos.
P/1 – Quando que você teve que passar pela cirurgia do estômago?
R – Eu fiz em 2008, que eu fiquei na fila de espera, muito demorado, eu fiquei quatro anos esperando. Consegui eliminar quase 60 quilos, aí foi bem legal. Não me arrependo nada, foi muito sofrido, mas não me arrependo nem um pouco.
P/1 – Eu ia te perguntar isso, como é que foi, porque é uma cirurgia bem agressiva.
R – É. E a minha ainda foi aberta então foi bem difícil. Bem difícil mesmo. A recuperação... Mas no primeiro mês é o mais difícil.
P/1 – Aberta, você quer dizer o que?
R – Aberta é que abre a barriga toda porque tem por vídeo. Minha irmã fez por vídeo, fez cinco cortinhos pronto, estava beleza. A minha não, abriu bastante a barriga então é mais difícil a cicatrização, até fechar todos os pontos, tudo. Foi muito sofrida, mas eu não me arrependo e eu faria tudo de novo.
P/1 – E quanto tempo depois você engravidou?
R – Dois anos. Depois de dois anos.
P/1 – E aí como é que foi quando você descobriu? Como é que foi que você descobriu que estava grávida? Qual foi a sensação?
R – Ah, eu comecei a sentir uma dor no peito, no bico do seio, né? Mas eu não achava que aquilo era um sintoma. E eu comecei a ter uma dor... Eu trabalhava num restaurante em Moema e eu tava com muita dor na coluna aí o meu marido falou: “Então eu vou te levar no hospital”. Aí fui. Quando chegou lá o médico falou pra mim, pediu um raio X. Não sei por que eu falei: “Doutor, minha menstruação está atrasada, tem dez dias.” “Ah, então é melhor não. Vou pedir então primeiro um exame de urina”. E deu. Quando a enfermeira falou pra mim positivo eu olhei pra ela, sabe, sem acreditar. Eu falei: “Não. Tem certeza?” “Tá positivo. Pode ir lá falar com o médico.” “Escreve aqui pra mim”. Aí fiz ela escrever num papel e aí cheguei pro meu marido, os dois já chorando porque era um desejo muito grande nosso, nossa, a gente não via a hora. Então a família inteira fez uma festa tremenda. Gritava, as minhas cunhadas gritavam na rua e minha mãe não estava perto, minha mãe estava no interior na casa da minha avó, eu tive que falar por telefone porque eu não me aguentei. Mas foi uma alegria muito grande mesmo.
P/1 – E aí como é que foi essa gravidez, a primeira gravidez?
R – Foi meio complicado porque eu tive descolamento de placenta, né? Com 11 semanas eu tive um sangramento e até o médico falou pra mim que eu estava perdendo o bebê. Aquilo pra mim acabou comigo, acabou com nós dois. Só que no mesmo dia ele já pediu um ultrassom, tudo, e a médica falou: “Não. O bebê está bem, tá super bem, vocês vão criar o barco aí”. Aí aquela choradeira e eu trabalhava nessa época num restaurante. Aí eu fiquei três semanas em casa de repouso, aí voltei. Depois de uma semana eu tive de novo o sangramento e aí foi mais séria a coisa, tive que ficar três meses em repouso absoluto, não podia nem varrer minha casa, nem nada. Não saía pra nada, nada, só pra ir ao médico, fazer exame, só. Só que aí depois colou, tudo, voltou pro lugar tudo certinho, voltei a trabalhar de novo e aí foi tudo bem o restante até o final. Meu sonho era ter parto normal, mas eu não tinha nada, nenhum sintoma, não tinha contração, não tinha nada e aí teve que fazer uma cesárea. Com 40 semanas eu fui como quem estava indo passear no shopping, eu saí de casa, fui e aí nasceu lindo e maravilhoso.
P/1 – Como é que foi vê-lo pela primeira vez?
R – Muito emocionante. Não tem como descrever. Não tem sensação melhor, tanto de um como de outro. É diferente, mas é um momento único. A hora que eu vi, todinho a cara do meu marido, todinho. Loirinho, branquinho, todinho ele. Foi demais! E o meu marido me acompanhou no parto, tudo. E aí depois eu vi rapidinho, tive que ficar no pós-parto até passar o efeito da anestesia, tudo, então só fui pegá-lo mesmo depois de umas cinco horas que ele nasceu. E aí grudei.
P/1 – E o segundo como é que foi?
R – O segundo veio meio de surpresa. Não foi planejado, eu me descuidei e aí eu tive a mesma sensação do primeiro, aquela dorzinha, um incômodo. Eu falei: “Eu senti isso na primeira vez, mas não é possível, não pode ser”. Eu estava num momento muito difícil financeiramente, então falei: “Não, agora lascou”. E aí fiquei enrolando, enrolando, enrolando pra fazer o teste. Quando eu descobri eu já tava com dois meses já e tava mesmo, fiquei feliz, claro, filho é benção. Mas pegou a gente de surpresa. Só que aí foi uma gravidez mais tranquila, eu trabalhava mais só que não tive nenhum problema, não tive nada. Também fui pro hospital como quem vai passear. Fui de ônibus, de metrô lá pra Paulista e também nasceu super bem. Ao contrário do outro já saiu de mim, já ficou comigo, não foi pra berçário nem nada, então já ficou comigo desde a hora que ele nasceu.
P/1 – E o que mudou na sua vida, Cris, a maternidade?
R – Tudo. Virou de ponta cabeça. A casa nunca mais é a mesma, mas eu também sou outra pessoa porque muda muito. Eu falo que antes a minha vida era branca e preta, agora está coloridíssima, inclusive as paredes de casa, tudo pintadas. Mas muda muito, era o que faltava mesmo. A gente era feliz? Era. Mas faltava e aí completou.
P/1 – Deixa-me voltar um pouquinho nessa coisa profissional, você falou que você trabalhou em alguns restaurantes, citou esse primeiro que era terceirizado pra empresa, esse de Moema. Queria que você falasse um pouco mais que outras experiências você teve na área profissional.
R – Então, esse que eu trabalhei primeiro que eu era confeiteira lá eu fiquei uns dois anos e meio mais ou menos e aí eu fiquei um tempo parada de restaurante. Na verdade eu trabalhei nesse, depois eu fiquei um tempo parada, trabalhei em casa de novo e aí apareceu essa oportunidade lá de Moema, que até hoje eu não sei como me encontraram, mas era pra assumir o restaurante não como chef, mas como uma supervisora. Eu ia tomar conta de duas cozinhas dentro do Hospital do Servidor Público, era um desafio imenso pra mim. Eu nunca tinha passado por aquilo, eu sempre fui subordinada e eu teria que tomar conta de 70 funcionários, mas eu falei: “Eu vou encarar. Se me veio a oportunidade eu vou encarar”. E foi ótimo. Lá eu aprendi muito, também ensinei, mas eu acho que eu aprendi mais do que eu ensinei lá. Foi uma experiência única, incrível, era loucura. Trabalhava de segunda a sábado lá e foi nessa época que eu engravidei, eu trabalhava lá, que eu tive o meu primeiro filho eu trabalhei lá.
P/1 – E como é que era? Você lembra, você falou que foi um desafio, você se lembra de alguma situação que você tenha vivido?
R – Todo dia. Era muito intenso lá porque era muito movimento, é dentro de um hospital. Não era do hospital o restaurante, terceirizado, dentro da dependência do hospital. Mas passavam quatro mil pessoas ali geralmente e eu era responsável por tudo ali. Eu tinha uma nutricionista comigo que também era responsável, mas eu tinha que fazer cardápio, eu tinha que elaborar, eu tinha que estar ali junto, tinha que estar lá no fogão com a cozinheira. Eram duas cozinhas, então tinha que subir e descer, lá em cima era o pré-preparo, eu tinha que estar lá com elas e vendo, orientando e aí eu tinha que descer pra ver como é que tava o andamento. Era todo dia, cada dia muito intenso ali, por isso que eu falo que eu tive muita experiência ali, eram 400 quilos de comida diariamente. Às vezes eu colocava a mão na massa, se precisava de mim eu estava lá, eu ajudava, eu ia pro fogão, muitas vezes fui pra socorrer. Então o que eu gostei mesmo ali era difícil a chefia, a dona era bem complicada de trabalhar com ela, mas aprendi muito com ela também. Muito.
P/1 – Aí quanto tempo você ficou lá?
R – Lá eu fiquei dois anos porque o aí meu filho nasceu e eu não consegui voltar. Voltei, trabalhei um mês, mas não consegui deixá-lo. Aí eu voltei ele tinha seis meses, eu trabalhei só um mês e aí eu saí de lá e fui tentar, eu e meu marido a gente foi tentar um negócio nosso. Também fiquei dois anos só.
P/1 – O que era o negócio de vocês?
R – Era uma rotisserie. Aí lá eu falo que eu não tinha vida porque como era nosso a gente tinha que estar ali, dar o sangue. Então éramos só nós dois. Eu trabalhava todos os dias, saía cedinho de casa, voltava à noite e eu levava ele bebê. Ele tinha sete, oito meses. Levei-o e aí fiquei grávida, eu falei: “Não vou dar essa vida pro outro também”. Aí a gente resolveu sair mais por causa disso, falei: “Vamos ver, vamos vender e seja o que Deus quiser. Vamos ver o que vai dar”. Realmente, o meu pequeno é muito sapeca, não ia dar certo lá então a gente fez a coisa certa mesmo. E nós trabalhamos em casa hoje, os dois juntos, continua trabalhando junto, e a gente está com eles.
P/1 – E qual que é o trabalho que vocês fazem juntos hoje?
R – A gente trabalha com festa, né? Então ele fica na parte de salgado e eu fico com bolo, doce, porque eu faço muito personalizado, bolo de pasta e personalização. Mais infantil. Pega o casamento também. Se vier me falar: “Faz uma festa de casamento pra mim”. Eu faço. Eu vou, sabe, eu não sou daquelas que: “Ah, não. Tenho medo”. Não. Eu encaro tudo. Se eu vejo que dá pra mim eu encaro tudo e aí minha mãe me socorre nessas horas, minha mãe me ajuda muito com eles, apesar de ela morar em Barueri ela me ajuda bastante. Então a gente está nesse ramo agora de festa. Está meio louca a nossa vida, mas a gente está em casa, está melhor.
P/1 – Vocês abriram uma empresa, alguma coisa?
R – Então, eu até tenho só que ainda não consegui... Como que fala? Licença tudo da prefeitura porque eu tenho que fazer algumas reformas, não pode ser junto, porque eu uso a minha casa, a minha cozinha. Então eu tenho que fazer reformas pra não ser a mesma entrada, tudo. A gente está planejando pro ano que vem.
P/1 – E qual que é o nome? Tem um nome já?
R – Dedo de Moça. Aí a gente trabalha bastante. Graças a Deus está assim, o boca a boca está ajudando bastante a gente.
P/1 – Ele cozinha também, o seu marido?
R – Não. Ele faz a massa dos salgados, mas eu faço os recheios, tudo. Ele é bom de fazer salgado, de modelar tudo. Então ele passa o dia inteiro fazendo coxinha, bolinha de queijo, essas coisas e eu fico mais nos doces. Eu faço os recheios dele, fico mais na parte de doce.
P/1 – Queria conversar um pouquinho contigo agora aqui sobre a creche. Como é que você encontrou, como é que você conheceu o Quintal?
R – Eu vi saber do Quintal Mágico depois de muito... Eu morava aqui já há cinco anos e nem sabia da existência porque eu não tinha criança, então eu não procurei nunca saber. Quando eu tive o meu primeiro filho, indo trabalhar eu encontrava algumas... Fiz amizades no ponto de ônibus ou dentro do ônibus mesmo e muitas falavam daqui pra mim e tinha acabado de mudar pra cá, que era em outro local, eles tinham acabado de ganhar o terreno, fazer o prédio, tudo. Era muito recente. Eu lutei um ano pra conseguir colocá-lo aqui. Eu ia na secretaria da educação e não conseguia vaga, até que eu consegui, foi bem na semana do aniversário dele, foi o presente dele quando ele fez dois anos. E eu amei a escola. Vim aqui conhecer, falei: “Não quero outra. Se arrumarem outra eu não quero. Eu quero aqui”. Eu acho que o trabalho deles aqui é muito importante. Essa parte do quintal me deixa maravilhada. Eu amo essa escola! É uma pena que ele está saindo já esse ano, eu estou muito triste por isso. Mas eles ensinam muito essa parte de plantar, de cultivar, de colher e ele leva isso pra casa. O pequeno ainda não participa porque está no berçário ainda, mas o Mateus que já tem quatro anos, não por ser meu filho, mas ele é muito inteligente, ele é ativo. Então o que ele aprende aqui ele leva pra casa e como o meu marido tem costume ter a plantaçãozinha dele lá nos vasinhos, tem florzinha, tem tempero, tem tudo, então ele vai: “Pai, eu aprendi assim. Eu trouxe sementinha”. Então tudo que ele aprende ele quer levar e ensinar a gente em casa. Planta: “Papai, vamos molhar as suas bebezinhas”. Então aprende bastante. E ele fala pra mim: “Mãe, eu plantei, eu colhi, eu comi”. Então é muito legal isso, eu acho que não sei quantas escolas tem isso, pouquíssimas eu acho.
P/1 – Qual que você acha que é a importância pra criança, pro seu filho em específico, ter contato
com essa coisa da natureza?
R – De dar valor. Eu acho que dá valor pra pequenas coisas. Outro dia o meu marido estava jogando uma garrafinha pet, ele: “Não, pai. Não joga isso no lixo. Você pode plantar. Eu não posso cortar porque eu sou criança, mas você corta, a gente coloca terra e planta”. Então deu valor pra uma garrafinha de nada. A água, dá valor pra água, ainda mais nessa época de chuva, ele já está entendendo, ele já sabe que a gente está sem chuva, que a gente está sem água e já entende isso. Então está dando valor pra muita coisa, coisa que a gente não teve quando era pequeno, né?
P/1 – Você se lembra de algum outro exemplo além desse da garrafinha pet, de alguma informação que ele levou pra vocês pra casa nova, uma coisa que ele aprendeu na escola?
R – Ah, ele sempre fala alguma coisa, mas que me veio na memória, foi esse da garrafinha que eu achei incrível da parte dele, de estar reciclando que pra gente era lixo e pra ele era importante aquilo. Mas ele aprende muito, tudo que ele aprende... É que agora não me veio nada, deu um branco.
P/1 – Ah, não tem problema. É ótima a da garrafinha mesmo, era só saber se você se lembrava de algum outro exemplo.
R – Ah, mas ele sempre, sempre leva. Ele lembra muito e ele sempre está contando as histórias lá. Ontem ele chegou em casa: “Mãe, a nossa árvore de natal não está bonita, a da escola que está porque tem hiena”. Eu falei: “Não é hiena. É rena.” “Não, mas tem bolas coloridas, a nossa é só azul”. Então tudo que ele faz aqui ele quer fazer lá também. Ele aprendeu a escrever o nome dele, ele foi o primeiro da turma que escreveu o nome dele. Teve uma reunião de pais aqui que elas colocaram no projetor lá: “Mateus”. Eu chorei quando eu vi aquilo. E elas até colocaram na internet. Quando eu vi eu falei: “Meu Mateus”. Já sabe escrever o nome com quatro anos. Ele sabe todas as letras, só sabe o nome, mas já é uma grande coisa.
P/1 – E o seu menorzinho está com quanto tempo?
R – Dois anos, está no berçário, vai passar pro maternal ano que vem. Ele ainda tem dois anos aqui, o Mateus já está saindo, vai pra outra escola. Uma pena.
P/1 – Como que é o processo pra entrar aqui na escola, pra conseguir uma vaga?
R – Tem que ir na secretaria da educação fazer a inscrição e esperar. É que eu fui fora de época. Tem uma época do ano, começa em outubro, que vai lá, faz as inscrições. Não sei se todas as crianças conseguem, não sei como é o processo lá, mas como eu fui fora dessa época desse período de inscrição, pra mim foi muito difícil porque eu fui no começo do ano. Então eu vinha aqui, eu chorava aqui na porta: “Eu quero vaga pro meu filho.” “Vai na secretaria.” “Mas tem vaga?” “Tem”. Eu ia lá: “Não. Mas não tem vaga”. E foi um sufoco pra conseguir. Eu tive que ir a defensoria pública aí em uma semana saiu a vaga dele, porque aqui elas falavam que tinha e lá falavam que não. Não estava encontrando a informação aí eu consegui já em agosto, já era quase final de ano, mas falei: “Ele vai. Não posso perder a vaga só porque é final de ano”. Foi legal.
P/1 – Eu queria falar um pouquinho contigo sobre a relação do Criança Esperança com o Quintal. Primeiro saber o que você sabe do Criança Esperança, se você conhece o projeto, o que você conhece, como é que você conheceu.
R – Pela TV, mais pela TV mesmo do apoio que dá pras crianças, tudo. Sei que apoia o Brasil inteiro, entra tudo. Quando eu fiquei sabendo que começou a apoiar aqui, nossa, foi super legal, importantíssimo eu acho o apoio que teve porque juntou a ideia que já se tinha aqui do Quintal com esse projeto que o Criança Esperança apoiou. Esqueci o nome agora... Uma Floresta em Nosso Quintal. Então deu um salto enorme porque a escola mudou, está muito mais bonita, tem um jardim aqui na entrada da secretaria que não tinha antes, o Mateus fala muito do professor Pedro que planta. Foi tudo depois do Criança Esperança. Já tinha, mas depois que entrou o apoio do Criança Esperança com certeza melhorou muito.
P/1 – E qual que você acha que é a diferença pras crianças de ter acesso a um quintal com planta, essa transformação que o recurso do Criança Esperança possibilitou pro projeto? Qual que você acha que é o ganho mesmo, se as crianças têm algum ganho com isso?
R – É porque hoje o mundo está muito de internet, de celular, então desliga disso, de TV. Ele gosta de TV, se deixar ele fica o dia inteiro na TV. Então desliga desse mundo de informática aí e coloca num mundo que eu acho que é deles mesmo. Eu acho que é isso que vale, que é importante. É claro que tudo tem sua importância, mas eu acho que o acesso tá muito e aí eu acho que voltando pra esse lado eles vivem como criança mesmo, como tem que ser.
P/1 – Em contato com a natureza.
R – É. Então, do contato com a natureza. Eu acho que é isso que é o mais importante, de ser criança, de estar ali, de se sujar mesmo. Chega em casa com os pés cheios de barro. Vamos tomar banho. Ele fala: “Mãe, desculpa.” “Não tem que pedir desculpa. Não tem problema nenhum. Você tem que deitar e rolar na terra mesmo, você só não pode se negar a tomar banho”. E aí então é importantíssimo esse contato com a terra, com a natureza.
P/1 – Tá certo, Cris. Eu vou encaminhar então pras perguntas finais. Eu queria saber antes se tem alguma coisa que eu não tenha perguntado que você gostaria de deixar registrado. Qualquer coisa.
R – Ah, eu acho que eu falei tanto, né? Falei da vida inteira eu acho. Eu acho que não.
P/1 – Não teve nada que você acha que ficou de fora e você gostaria de...
R – Eu acho que é isso. Não sei. Você acha que faltou alguma coisa?
P/1 – Não. Eu acho que foi ótimo. Só se você achar que tem alguma coisa.
R – É. Eu acho que eu falei tanto.
P/1 – Vou fazer as duas perguntas finais então. A primeira é quais são os seus sonhos.
R – Meus sonhos? Tenho alguns. Meu maior sonho hoje é ir morar perto da minha mãe. Porque eu vim morar pra cá, não sei, num impulso, era o que dava, tipo era o que tinha pra hoje, mas eu quero voltar pra perto da minha mãe, apesar de eu estar a meia hora dela. O que eu mais quero hoje é isso.
P/1 – Aqui você comprou o seu imóvel, você falou?
R – É.
P/1 – Como é que foi isso, a compra da sua casa própria?
R – O meu marido já tinha muitos anos na empresa, então ele tinha fundo de garantia, eu tinha alguma coisa também, juntamos tudo e... Eu morava com a minha mãe e eu já pagava aluguel antes. Quando eu casei eu fui morar de aluguel, aí minha mãe falou: “Vem pra cá, a casa é grande, dá pra vocês ficarem”. Fomos pra casa da minha mãe. Aí passaram alguns anos, foi nessa época que aconteceu tudo, da minha cirurgia e tudo, nós conseguimos comprar a casa, procurando apartamento, nem imaginava que eu ia encontrar uma casa aqui, nunca imaginei morar aqui nesse bairro. Queria vir pra Osasco porque eu gostava de Osasco e é onde eu nasci, onde eu cresci, mas analisando hoje eu acho que eu não deveria ter saído de lá por ser uma cidade bem mais desenvolvida do que aqui, mais valorizada. Então o meu sonho agora é esse. E dar uma vida boa pros meus filhos. Eu me preocupo muito com o futuro deles porque a gente tem um trabalho que é incerto. Eu vivo de encomendas, então eu não... Então a preocupação é, será que eu vou conseguir dar o melhor pros meus filhos? Acho que isso é o que mais a gente pensa, de dar o melhor pra eles sempre.
P/1 – E por fim como é que foi contar a sua história? O que você achou?
R – Foi legal. Eu não esperava, não achava que era, imaginava outra coisa totalmente diferente. Já achei que a gente ia lá pro meio do mato lá e foi legal, gostei.
P/1 – Tá bom, Cris. Muito obrigada.
R – Não sei se me saí bem.
P/1 – Se saiu super bem. Tranquila. Tá aparentemente tranquila.
R – Até que foi. Segui suas instruções.
P/1 – Obrigada. Foi ótimo.
R – Então tá bom.
FINAL DA ENTREVISTARecolher