Meu nome é Francisco Paula de Medeiros, nascido a 2 de abril de 1925, na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
FAMÍLIA
O meu pai é Francisco Chagas de Medeiros, e minha mãe, Joana Noronha de Medeiros.
O pai do meu pai, Francisco Tertuliano de Medeiros; minha avó, Josefa Medeiros de ...Continuar leitura
Meu nome é Francisco Paula de Medeiros, nascido a 2 de abril de 1925, na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
FAMÍLIA
O meu pai é Francisco Chagas de Medeiros, e minha mãe, Joana Noronha de Medeiros.
O pai do meu pai, Francisco Tertuliano de Medeiros; minha avó, Josefa Medeiros de Oliveira...
O meu avô trabalhava com gado. O avô paterno. O meu avô materno eu não me recordo muito, porque com meu avô paterno eu passei muito tempo depois que ele se aposentou, ficou morando com o meu pai. Então, nós ficávamos muito... tinha muita ligação comigo.
Meu pai era comerciante. E minha mãe doméstica. Nós éramos sete; quatro homens e três mulheres. Hoje, só tem eu de homem e mais duas irmãs.
MIGRAÇÃO
Eu morei primeiro em Mossoró, até 1933, mais ou menos oito anos, para fazer oito anos. Depois eu fui para Natal e em Natal fiquei até 1939, quando fui morar em Salvador.
Eu tenho uma coisa interessante com relação à viagem quando nós fomos de Mossoró para Natal. Papai foi de carro. Contratou um motorista de carro e fomos de automóvel de Mossoró para Natal. Foi uma viagem muito interessante, porque teve um problema sério; o carro quebrou logo o pinhão e coroa, aí passamos quatro dias morando, quer dizer, naquelas casas daquele pessoal que fornece alimentação. Depois de tudo pronto, nós viajamos novamente. Fomos atravessar o rio Açu, ele estava enchendo, quase que não atravessamos.
Interessante, nós fomos levados nos ombros de uns trabalhadores. E o carro, fizeram... Tinha uma balsa, e fizeram transposição do veículo para o outro lado, para a outra margem.
Chegamos em Natal em 1933, e fiquei até 1939. Em 1939 fomos para Salvador. Mudou a família, meu pai, todos os meus irmãos. Em Natal nasceu a sétima, que foi uma menina.
NATAL
A cidade era uma cidadezinha bonita e tem um fato interessante, porque Mossoró e Natal eram rivais. Mossoró porque era um centro rodoviário. Natal, apesar do porto; então cada qual queria ser a mais importante. Isso era interessante, tanto é tem uma piada que vou dizer, não sei se vale a pena, que lá em Mossoró não se dizia “feliz Natal”, só se dizia “feliz Mossoró”.
EVENTOS HISTÓRICOS
Tem um fato interessante, quando eu ainda morava em Mossoró, que Lampião invadiu Mossoró. Não me lembro muito. Sei da história que minha mãe me contava, e que Lampião não entrou porque ele era devoto de Santa Luzia. E Santa Luzia é a padroeira. Mas os de Lampião perderam muita gente. Perderam vários dos “cabras”, como se diz deles.
Minha infância foi em Mossoró e Natal. Naquela época as coisas eram diferentes. A maneira de se viver - não tinha televisão, não tinha um bocado de coisa. A gente não ficava sabida, não é verdade, porque não vai ficar sabida. Hoje você fala com uma criança, ela sabe demais. Você na idade dela, se estivesse naquela época, você não tinha nem conhecimento, não podia nem discutir com ela. Ela já era uma doutora, não é?
EDUCAÇÃO
Em Natal comecei a estudar no primário. Então, como papai tinha viajado muito, eu cheguei ao terceiro ano primário, aí entrei logo para fazer exame de admissão para fazer vestibular... , quer dizer, para entrar no ginásio. Felizmente deu certo. Então eu fiz, consegui e lá na Bahia, fui para o ginásio na Bahia, que antigamente ainda não havia as reformas naquela época. Era ginásio da Bahia porque eram cinco anos de ginásio e dois anexos. Depois veio a reforma. Quando eu passei para o quinto ano veio a reforma, já passei para o primeiro ano científico.
Todos mudamos para Salvador: meu pai, toda a família; meus irmãos, meu pai - e meu avô depois veio morar com meu pai, depois que a minha avó morreu. Porque mudamos é um pouco difícil de lhe responder, mas pelo que eu percebia, que meu pai, ele saía de uma cidade, por exemplo Mossoró, porque achava que Natal seria melhor para ele, para melhor desenvolvimento, a mesma coisa que ele fez indo para Salvador, uma capital maior. E realmente deve ter sido bom para ele. Ele era comerciante. Representante, etc. Ele não tinha loja, ele era representante de várias empresas. Foi lá em Mossoró, depois foi em Natal, depois foi em Salvador.
EDUCAÇÃO
Terminei os estudos em Salvador. Foi. Terminei o ginásio em 1945. O Ginásio da Bahia, depois transformou-se até em Colégio da Bahia. Tinha muitos alunos. Era um prédio bonito, muito bonito. Era um colégio... Olha, basta dizer, era o seguinte; quando eu terminei o científico, eu fiz o vestibular; não precisei de cursinho. Direto. Passei, fiz o vestibular e passei.
Em 1946 entrei na Escola Politécnica na Universidade da Bahia e me formei engenheiro civil. O tempo da universidade foi bom. A gente só acha bom o tempo de escola depois que sai, que quando nós estamos lá dentro, o que a gente sente? “Ah, o trabalho que o professor fez isso, não é mesmo?” A gente reclama, mas depois que sai verifica que foi um grande tempo que a gente teve.
A universidade já tinha concorrência, mas a quantidade de pretendentes era relativamente pequena. Quando a gente se formava naquela época também tinha uma vantagem muito grande. Não havia essa dificuldade de se arranjar emprego, tanto que eu comecei a trabalhar como calculista de concreto armado, mas vi que aquilo não dava, não estava dando certo, não entrava dinheiro. Aí ia trabalhar no Departamento Nacional de Estrada de Ferro, no Ceará. Mas, conversando com um amigo meu, ele disse: “Medeiro, por que você não vai para o Conselho Nacional do Petróleo?” Eu disse: “É bem verdade. Eu vou ver isso.” Eu fui, entrei no conselho.
INGRESSO NO CONSELHO NACIONAL DE PETRÓLEO
Da minha turma, para você ter uma idéia de como era difícil, não para nós, não para a empresa ficar com o engenheiro. Dos da minha turma, a maioria deles que foram trabalhar no Conselho Nacional do Petróleo desistiu em pouco tempo. Dois, três meses saíram, iam embora, porque era muito duro o treinamento, o estágio era pesado, entendeu? Mas tem um fatozinho interessante, depois que eu entrei para o petróleo. Estava revendo o meu passado, aí me lembrei; lá em Salvador, na Vila Militar, onde tinha a Polícia Militar, uma sonda de perfuração estava perfurando ali e eu morava pertinho, eu ia assistir o trabalho dessa sonda em1939. Nunca pensei que viesse mais tarde trabalhar na Petrobras.
Era o estágio em que se estava procurando encontrar petróleo, se descobrir. Era uma época de um trabalho exploratório, onde a geologia e a sísmica faziam levantamentos geológicos, etc e procuravam encontrar os pontos possíveis de se encontrar petróleo. Porque é preciso ter umas determinadas características para poder você ir lá fazer o seu investimento, porque é caro e é um investimento de risco. Mas antes disso mesmo já sabia, porque lá em Lobato foi que descobriram o primeiro poço de petróleo lá na Bahia, que era raso. O presidente Getúlio Vargas visitou lá, inclusive tem um retrato - procurar nos jornais - ele sujando as mãos de óleo, não sei se a senhor conhece essa fotografia?
Aí fui trabalhar. Entrei, então, para o Conselho Nacional do Petróleo em 1951, novembro de 1951 ou outubro. Outubro, fim de outubro.
Agora, importante é que naquela época aqui não se formava engenheiro de petróleo, nada. Então a gente entrava no conselho e já era mostrado o que é que nós íamos ter que fazer. Então nós começávamos como operário, estagiário, trabalhando todas aquelas funções de uma sonda de perfuração até se tornar um mestre. Eu passei mais ou menos quase três anos e pouco para ser mestre, para depois ser engenheiro. Era muito bem feito esse... A gente ficava meio irritada no começo e era por isso que a maioria dos engenheiros seguiu embora, não admitia. Por exemplo, havia a cimentação de um revestimento de um poço, nós tínhamos que quebrar o cimento para misturar o cimento. Tínhamos de passar
por todas aquelas etapas. Então você tinha um conhecimento daquilo tudo. Era muito importante. Então comecei meu estágio até me tornar mestre. Depois passei a ser engenheiro de perfuração.
Da minha turma, de todos que entraram permaneceram dois. Um que entrou para o campo da geofísica e outro que ficou na engenharia, mas já veio mais tarde, com a Petrobras, não entrou no conselho não. Não foi da época do conselho não. Foi mais tarde já na Petrobras, com outras condições. Porque na época do petróleo, no Conselho Nacional, a senhora há de convir que o Brasil não tinha esses recursos para o desenvolvimento, não é? Quando veio a Petrobras, então ela tornou-se uma sociedade anônima, e o que foi que ela fez? Colocou ações à venda. Outra coisa, o pessoal que tinha automóvel, para comprar gasolina, etc, pagava uma taxa, que depois era convertida em ações. Aí melhorou, começou a melhorar
Você sabe que a indústria petrolífera, embora quando ela dá certo é fantástica, mas tem muito capital de risco. A Petrobras demorou muito a chegar ao que chegou hoje.
ACIDENTE
Eu trabalhei nas primeiras tentativas. E passei algumas horas... problemas terríveis. Teve um dos problemas mais sérios, que eu mais fiquei triste, foi quando eu comecei a trabalhar como engenheiro de perfuração no campo de Catu. No campo de Água Grande, em Catu, na Bahia. Entrei de férias, e o outro engenheiro que entrou no meu lugar morreu numa erupção de um poço de gás. Explodiu, pegou fogo. Hoje tem lá na Bahia, lá no cemitério, qual é o nome do cemitério? Depois eu me recordo. Tem lá o túmulo dele, que a Petrobras fez; Haroldo Bastos. Formidável. Eu tive um problema desse antes, mas felizmente, graças a Deus, não pegou fogo.
Nós estávamos furando poço em Mata de São João, também na Bahia, no campo lá de Mata de São João. Lá tínhamos descoberto petróleo, e nesse outro poço próximo mais próximo à cidade, quase defronte, assim, à estrada de ferro, na descida do revestimento para a produção no poço, já definido o poço que era produtor, houve não sei o que foi que aconteceu, quando eu cheguei já estava em erupção. 900, 1.200 libras de pressão, botando para fora. Mas graças a Deus nós atarraxamos um tubo. Aí teve um americano, que o americano geralmente não faz isso, eu admirei esse americano, que ele foi com a gente lá e nós conseguimos fechar o poço. Nós fizemos o seguinte; o tubo estava aberto. Então nós pegamos outro tubo, conectamos na ponta uma válvula que podia fechar e abrir e fomos atarraxar nesse tubo com a válvula aberta lá em cima. Foi um trabalho... Na hora que chegou, pareceu que ela puxou, succionou o tubo que vinha, encaixou, atarraxamos os tubos, fechamos a válvula devagarinho. Aí começamos a injetar um fluído de perfuração, que se chama lama de perfuração. Quer dizer, é um fluido, cuja densidade é capaz de exercer uma pressão no poço superior à pressão do gás. Então ele não vem mais. E o homem que fechou esse... que todo mundo queria. O pessoal da Petrobras era uma coisa fantástica. Havia um problema, todo mundo queria ajudar. Então o nome dele, chamei ele de baiano, disse: “Quem vai fechar sou eu.” Ele subiu, logo, logo, na frente. Está certo, ele foi lá, fechou, aí nós... tinha uma saída para depois se conectar um tubo. Conectamos o tubo para entrar, para depois injetar a lama. Não me lembre assim desses detalhes, senão não vai acabar. Não fica puxando por mim.
RELAÇÕES DE TRABALHO
Havia muitos estrangeiros, porque na época do conselho, quem trabalhava para a Petrobras era uma companhia americana. E também colaborou muito na formação do nosso pessoal. Tem um fato, que eu acho - igual a uma vez, o pessoal: “Não, porque os americanos têm problema, bebem, não sei o quê.” Mas os americanos, eles vinham para cá sem família, sem nada. Viviam isolados. Eu acho que tinham problemas psíquicos, às vezes. Mas eles geralmente tinham muito bons técnicos. Eu aprendi muito com eles, me tornei um técnico bom, mais ou menos.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Fui fazer cursos nos Estados Unidos. Antes, é um fato interessante. Antes de passar para a Petrobras, eu ia largar, eu ia sair da Petrobras, do Conselho Nacional do Petróleo, que eu estava tendo problemas, com problema de família. Não a minha mulher, ela é fantástica, ela não tinha problema. Eu já era casado e com uma filha, que nasceu cinco dias depois que eu entrei para o Conselho Nacional do Petróleo.
É, aí de vez em quando chegava lá, naquele tempo de conselho, um geólogo, um engenheiro formidável, João Neiva de Figueiredo, e eu não sabia que ele era um dos que estavam na organização da Petrobras. Ele conversou comigo umas quatro a cinco horas para eu não sair. Então realmente eu decidi, minha mulher era 100%: “Está bom, vamos ficar.” Nesse ponto ela... não posso reclamar nada. Sempre tudo ela estava pronta para mudar. Mudava de lugar para outro. Aí eu entrei. Quando a Petrobras chegou, em 1955, sou indicado... depois soube que foi João, ele que foi ser diretor da Petrobras, que me mandou para os Estados Unidos.
LOGÍSTICA
Agora tem uma coisa interessante na época do conselho, que o conselho era difícil, não tinha recursos. Olha bem, a lama de perfuração precisa de produtos químicos para se manter em determinadas condições. A gente quebrava a cabeça, encontrava e fazia o poço. O brasileiro tinha grande iniciativa, criador mesmo. Era obrigado o conselho a montar uma oficina enorme para fazer rosca, abrir rosca de tubulação, etc. Fazia mil e uma coisas e era um pessoal craque, vamos dizer, vamos dizer o craque na expressão da palavra, não é? Esse trabalho exploratório na época, mesmo ainda pela Petrobras, até 1961, 1962, para você fazer um pioneiro era um trabalho, porque não existia estrada, não existia nada. Então a gente tinha que construir estradas e montar acampamento para o pessoal com cozinha e etc. Quando era próximo a cidade, que a gente podia levar o pessoal de carro era feito, entendeu? É muito importante.
Em Mata de São João mesmo, cada poço que eles faziam era uma estrada. Água Grande, em Catu, também. Os pioneiros em Mata de São João, para seguir era estrada. O poço pioneiro em que eu fui a primeira vez chefe de uma perfuração exploratória foi o PF1BA, que era Pau Ferro, era o nome da fazenda, Pau Ferro, e eu fui trabalhar nesse poço. Foi um trabalho... Era, é uma fazenda. Outro problema que a Petrobras tinha, indenizar o pessoal. Era um problema sério, porque muitos não queriam, outros queriam mais. Aí fazia a senhora perfeitamente pensar nas coisas. Mas apesar disso eles não impediam nosso trabalho.
Até o Brasil resolver explorar petróleo, era livre, todo mundo podia vir. Faça uma pesquisa nesse campo que a senhora vai encontrar muita coisa boa. Depois acabou. Veio a lei do subsolo.
RECURSOS HUMANOS
Tem coisas que a gente não pode nem estar dizendo, porque existiam muitas dificuldades, muitas dificuldades. Não era fácil, mas o brasileiro realmente é criativo. Aquele pessoal, aqueles operários, eram fantásticos. A mão-de-obra que teve formada. Tinha mestres de primeira linha. Não precisava de americano mais, já estava chegando uma época que não precisava mais. Só depois, quando começou a descobrir petróleo no mar, aumentar o desenvolvimento, que então começou a contratar sondas, que era mais prático a Petrobras contratar uma sonda, uma operação, porque se não tivesse ou tivesse acabado, ia embora. Aí foi que começou a ter mais americano. Depois eles mesmo começaram a contratar brasileiros. Nós tínhamos cursos para a formação dos operários. Todo mundo tinha que treinar. Com a Petrobras foi criado o Cenap. É um centro de formação de engenheiro de perfuração e produção de petróleo, na Bahia. Foi criado esse órgão, e ele fez muito trabalho, formou muitos bons engenheiros, muitos bons engenheiros. A Petrobras realmente é uma empresa que a gente deve sentir orgulho dela. O brasileiro deve sentir, embora muita gente maltratasse um pouquinho a nossa empresa.
Porque você sabe; petróleo é petróleo. Mas a dificuldade era muito grande. Por exemplo, nós tivemos que contratar, que a Argentina tinha professores bons, nós contratamos professores da Argentina e americanos para formar essa equipe para formar os nossos engenheiros de petróleo. A Argentina tinha um pouquinho mais que nós, mas depois de um certo tempo nós ultrapassamos. Hoje, no campo da exploração do mar, a Petrobras já está no topo, no topo. A tecnologia da Petrobras é fantástica, e digo o seguinte: precisa muita coragem para fazer certas coisas, porque é um desafio tremendo, mas a Petrobras foi fantástica.
EXPLORAÇÃO
Não, a sonda não se chegou a fabricar. Houve um período que a Petrobras tinha importação; era mais barata. Então eu fiz parte de uma comissão que foi à Romênia, para verificar as fábricas. Bom, se é para fazer, eu fiz mesmo. Aí eu olhei tudo, descobri só um campinho pequenininho em que eles realmente estavam bons e era o que a gente precisava também. Petrobras comprou e foi operado por brasileiros. A maioria dessas sondas foi trabalhar na produção, no trabalho de limpeza de poço etc.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Olha, na Bahia eu fiquei até outubro de 1955, quando eu fui para os Estados Unidos e voltei em 1957. Aí voltei para a Bahia. Fiquei na Bahia, trabalhando no campo de Candeias até 1961. Depois o chefe da perfuração da Bahia foi para fazer o curso no Instituto Francês de Petróleo, Amílton Lopes, que eu lhe mostrei retrato. Aí então eu fui substituí-lo.
RECURSOS HUMANOS
Entre os Estados Unidos e a França, eu acho que o curso, em termos de formação de um engenheiro, para o que nós precisávamos, o francês era melhor, porque na universidade na França ou nos Estados Unidos ia lhe formar muito mais um engenheiro de petróleo, homem de reservatório, que estudava, digamos, o comportamento do óleo dentro do... como é que eu vou dizer para vocês? Dentro dos poros da rocha portadora, entendeu, que precisava muita gente para isso. Por exemplo, vai produzir um campo, então tem que saber as características da rocha, qual é o tipo de energia que faz esse poço produzir. Então só especialista mesmo, grandes matemáticos.
A geologia é outra coisa fantástica. O Brasil tinha a escola de Minas Gerais, que era formidável, a Escola de Minas de Ouro Preto, grandes geólogos. Aquele geólogo mesmo, Carlos Walter, foi formado lá. Muitos deles. É bom lembrar - quando eu entrei no Conselho Nacional de Petróleo, eu encontrei um cara que eu, no começo, fiquei assim de lado, mas depois comecei a admirá-lo, porque trabalhar no Conselho Nacional de Petróleo sem recursos e fazer o que ele fazia era milagroso, o professor Pedro de Moura, geólogo de Ouro Preto.
Quando eu entrei no Conselho Nacional de Petróleo ele era o engenheiro representante da DNPM, do Conselho Nacional do Petróleo na Bahia, e ele abrangia a área da Bahia, Nordeste até o Maranhão. Já no Amazonas a sede era em Belém, era outra região. Aí já eram outros geólogos que iam trabalhar.
INGRESSO NA PETROBRAS
Nunca me esqueço quando cheguei a falar com ele, porque eu tinha que passar por ele para ser admitido. Ele olhou, disse: “Olha, aqui é para trabalhar. A maior parte do pessoal chega e vai embora.” Eu disse: “Não, eu vou trabalhar.” Aí ele mandou trabalhar no campo de Mata de São João. Aí fui trabalhar em Mata de São João. Quando chego lá, o chefe de campo era um contemporâneo meu da escola, do ginásio e da Escola Politécnica da Bahia, cara inteligentíssimo. Ele foi primeiro do que eu para os Estados Unidos fazer o curso; Haroldo Ramos da Silva.
IMAGENS DA PETROBRAS
É o seguinte: há dois períodos, o da época do conselho ia até um certo período dentro da própria Petrobras. O pessoal trabalhava, não se preocupava com hora-extra. Queria trabalhar, queria produzir petróleo, queria descobrir. Era assim que a gente trabalhava.
Depois, quando a Petrobras veio, aí começou a melhorar, saíram as leis trabalhistas. Aí começou a melhorar, começou a se formar, formar um quadro de pessoal, não é isso? Organizando por categoria; engenheiro de perfuração, engenheiro de produção, geólogo, engenheiro civil etc. Aí o pessoal da perfuração, o plataformista. Então, depois do torrista lá em cima, eu trabalhei lá em cima como um operário mesmo.
Havia entusiasmo. A Petrobras, o petróleo no Brasil eu acho que entusiasmava o brasileiro, quem trabalhava.
EVENTOS HISTÓRICOS
Olha, isso eu não sei muito não, porque, sabe por quê? Porque eu ouvia isso, apenas nos jornais campanha do “Petróleo é Nosso”, mas eu não tive oportunidade para acompanhar, talvez nem chegasse ao ponto de me preocupar com isso. Mas a campanha do “Petróleo é Nosso” permitiu a Lei 2004, graças a Getúlio Vargas. A gente tem que reconhecer que ele foi grande. Todos nós temos que reconhecer que cada um que faz... vai ser presidente da República, vai ser governador, vai ser isso, vai ser aquilo, gerente de uma empresa, sempre ele tem um pouquinho de coisa boa. Você não pode dizer que ele faz tudo ruim.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Quando eu voltei para o Brasil, voltei para o campo de Candeias. Eu tinha ido trabalhar numa área de altos recursos, alta tecnologia, e nós estávamos ainda engatinhando. Então eu tive que me readaptar, passei um período me readaptando. Nesse período eu fui acidentado, quebrei o meu queixo. Sofri um acidente na sonda. Os ossinhos aparecem aqui, as pontinhas por dentro.
Depois de um certo período eu assumi o trabalho, comecei a dirigir o trabalho de lá, depois o chefe, como eu falei anteriormente, o Amílton, foi fazer o curso no Instituto Francês de Petróleo; eu o substituí. Depois aí, quando ele voltou, assumiu o cargo dele, eu fiquei na parte de estudos, programação de perfuração. Por exemplo, você vai perfurar um poço, você precisa calcular a velocidade que a lama precisa ter para trazer o cascalho lá debaixo até a superfície. A velocidade, a pressão do jato no fundo do poço para limpar a broca e um bocado de coisas dessas que eu fiquei fazendo. Quer dizer, para mim foi ótimo porque cada dia mais eu tomava conhecimento. Aí depois disso fui para o Rio trabalhar no Departamento de Produção. Passei lá uns poucos meses, aí o superintendente
me convidou para ser o adjunto dele. Aí eu não queria, mas a minha mulher queria voltar para a Bahia, então eu vim. Daí eu fui para a diretoria. Fui responder por um período na diretoria. Terminou o período, fui, acabou. Aí eu voltei para a Bahia. Lá fui chefiar o Escritório da Petrobras na Bahia, mas aquele negócio não estava dentro de mim. Aí eu pedi para sair. Então o diretor precisava de uma pessoa para ser superintendente na região de produção do Nordeste. Cheguei, eu disse: “Eu vou”. Minha mulher nunca se negava a ir. Aí eu fui para a região de produção do Nordeste. Então lá nós organizamos, estruturamos, ainda descobrimos campo na plataforma de Sergipe. Mas quem faz o trabalho é o Departamento de Exploração. Eu apenas era o superintendente na região. A gente colaborava. Quem fazia esse trabalho era a geologia e a geofísica.
Fiquei na superintendência de Alagoas três anos e meio. Aí voltei para a Bahia, que o Amílton tinha morrido, aí vim substituir o superintendente da região de produção da Bahia.
A superintendência do Nordeste tinha sede em Alagoas, mas depois, quando eu fui ser superintendente geral, voltei para Sergipe, porque lá é que era a área onde estava o maior volume de trabalho, não justificava você ter aquela despesa.
RECURSOS HUMANOS
Naquela época, para você fazer um poço pioneiro, você precisava de carpinteiro, precisava daquilo tudo. Depois acabou. Aquelas casas, aqueles acampamentos passaram a ser pré-fabricados. Você já levava um caminhão e montava. Quando eu estava na Bahia, então foi o que aconteceu, isso. Então foi um problema porque tinha que fazer. O que é que eu vou fazer? Eu não vou precisar dos carpinteiros, então eu vou fazer concurso para admissão de pessoal. Então o pessoal que estava lá dentro ia fazer curso para mudar de função, para não ser demitido. Isso foi feito. Aproveitei o próprio pessoal que já estava trabalhando, para não demitir pai de família e tudo.
EXPLORAÇÃO
BAHIA
As grandes descobertas foram Bahia primeiro, depois Sergipe, Alagoas, depois Rio de Janeiro. Sergipe e Alagoas eram administrados por uma superintendência única, em função do volume de trabalho...
Já em 1966, 1967, veio a exploração no mar. A equipe de geólogos, de geofísicos, tudo, era no Rio. Então lá havia os equipamentos, computadores para fazer, um negócio bonito, que a gente tem que olhar e reconhecer que é fantástico. Aí vieram os primeiros poços. Aí descobriu o primeiro poço no mar. Depois vários poços lá na Bahia, em Dom João. Quando entrei na Petrobras, no Conselho Nacional de Petróleo, Dom João já perfurava, já produzia no mar. Um dos grandes problemas de produção era a qualidade do óleo, reservatório a essa profundidade. E pior de tudo, no mar. Tem uma parte de terra e ela se prolongou pelo mar. Foram furados mais de 800 poços. A Bahia chegou a produzir 160 mil barris. Hoje Bahia parece que é o terceiro lugar. Primeiro é Campos, depois Rio Grande do Norte...
Dom João era difícil a parte terrestre, porque era um massapé, era canavial. Ali chovia, você transportar uma sonda, se não tivesse cuidado ela se enterrava no massapé. Tinha coisas fantásticas.
Eu não vou dizer o nome. Um geólogo, que era muito gordo - lá em Mata de São João tinha uma área de massapé, ele se atolou, ninguém conseguiu tirar ele. Tiramos ele com um guindaste. Foi em 1952, parece.
Tem mais casos, tem. Tem um que é interessante; tinha um mestre de sonda que ele, de noite, tinha de sair de Mata de São João para ver um problema em
Catu. Na estrada um boi saltou do barranco em cima do pára-brisa dele. Acabou com o carro, mas ele não teve nada.
E outro que eu achei maravilhoso, importantíssimo, quando eu chego na Bahia para ser superintendente, em outubro de 1968, aí tinha lá um problema, chegam os advogados com a questão de um proprietário de um caminhão que moveu ação contra a Petrobras porque o carro da Petrobras estragou o carro dele. Olha, eu só acreditei depois que vi a fotografia. Um Volkswagen entrou pela cabine de um FNM. Como é que foi aquilo? Deve ter descido do barranco, ou qualquer coisa. Eu só acreditei porque vi a fotografia. A fotografia não nega, não mente. Ah, tem muita coisa. Aí tem histórias lindas. O meu sondador, com quem eu treinei para ser sondador, baiano, ele disse que brigou com o diabo. Tinha tido uma briga lá, ficou cansado, mas ganhou.
Tem coisas fantásticas, coisa natural. Você pense bem, você trabalhando lá naquele fim de mundo, vamos supor que a sua sonda pare, você não tem o que fazer, não é? Aí você vai dormir, pode ser que tenha sonhado. Sabe o que ele fez comigo? Eu estava trabalhando nesse poço que deu essa erupção que eu trabalhei com ele, estava trabalhando, recondicionando o fluido de perfuração a lama. Aí cochilei na cadeira, quando eu levantei, me chamou, eu levantei, eu não podia. Eu estava amarrado na perna. Ele tinha me amarrado.
SEGURANÇA DO TRABALHO
Não havia muitas mortes não, não tinha muito não. A segurança é levada muito a sério. Desde o início. É levada muito a sério. É um trabalho muito perigoso, é sério.
Tem risco constante, você viu essa plataforma que afundou? Acontece. Todo mundo toma cuidado. Um avião cai aí. Agora mesmo caiu um avião da FAB, os dois pilotos não conseguiram se ejetar da cadeira.
EXPLORAÇÃO
Quando uma equipe acha o petróleo... Ave Maria! É grito, banho de petróleo... Ah, mas é todo mundo sujo! Se a senhora conseguir, que acho que as bibliotecas guardam revista do Cruzeiro, da Manchete, que muito dessas épocas, dessas condições, tirava-se a fotografia dos engenheiros todos sujos, técnico, todo mundo tomava banho de petróleo.
Olhe, quando eu estava em Londres, que soube a notícia de Urucu, para mim foi uma coisa fantástica, uma alegria tremenda. Vamos ver como é que o Brasil vai fazer agora. Se encontrou petróleo ali, deve ter mais. Agora, é a floresta - não é fácil. As árvores, elas atraem raios, não é? Sabe disso, aquelas árvores, corta ela assim, de cima embaixo. E depois o seguinte: mata, não, é selva mesmo. Para se fazer estrada, fazer tudo, para se trabalhar ali.
Mas com o desenvolvimento dos levantamentos através de radar, que não depende mais da nuvem, de nada, então foi assim que saiu Urucu. Foi tirado mapa, foi feito um estudo de... como é o nome - encontrar uma elevação aqui na selva que possa ser avaliada como uma possibilidade, um reservatório com óleo. As árvores, quando caem, não vai desenhando.
Então, foi feito um levantamento de drenagem. Aí furou-se Urucu. Foi muito bom aquilo. Fiquei feliz da vida. Ouça, o Brasil precisa o quanto antes entrar mais ali. É que precisa de muito dinheiro.
Quando eu saí da Petrobras, eu saí da Petrobras, não ter o que pensar na Petrobras para não querer me envolver, mas no fundo você se envolve, está sempre pensando. Quer que aquilo aconteça, torcendo.
MEIO AMBIENTE
Bom, no petróleo sempre pode ocorrer um acidente. A senhora vê de vez em quando um petroleiro, que nem é da Petrobras, derrama óleo, não é isso? Um poço, por exemplo, que perde o controle, como aconteceu uma vez em Campos, começa a produzir óleo para o mar. Mas a tecnologia da Petrobras hoje é muito boa, é muito grande. Aqueles equipamentos para cercar o óleo e remover. A Petrobras está muito avançada...
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu fui superintendente da região de produção do Nordeste, depois vim para ser superintendente da região de produção da Bahia, depois fui ser superintendente geral do Departamento de Exploração, no Rio, quando o presidente era o Geisel, general Geisel. Então o que você tinha? A exploração geofísica, toda aquela produção, perfuração, a engenharia, tudo ficava subordinado a mim. Hoje é dividido, foram divididos em três ou quatro porque o Brasil inteiro estava sob as minhas ordens. Isso foram sete anos. Eu entrei em 1970, janeiro de 1970, e saí em fevereiro de 1976, 1977, 1977.
Depois fui trabalhar no Escritório de Londres. Trabalhei dois anos, aí voltei. Quando ia voltar para o Brasil, eu solicitei, queria voltar para ser professor. Aí me deram para eu ir trabalhar na Bahia, no Setor de Ensino da Bahia. Aí eu fui ser professor dos engenheiros que entram na Petrobras e vão fazer um curso. Lá é onde se prepara, ainda continua lá na Bahia.
Em Londres trabalhei no Escritório de Compras da Petrobras. Eu era o adjunto, entendeu? Não era esse trabalhão todo, não. Era aquele trabalho de procurar e comprar o melhor e mais barato para a Petrobras.
INTERBRÁS
Existia ainda em Londres nessa minha época o escritório da Interbrás, que depois o Collor fechou. Nesse escritório tinha um setor que era para a compra de petróleo, para negociação de petróleo, e nesse escritório tinha um engenheiro que era da Marinha, que era responsável para tratar dos assuntos da Fronape.
BRASPETRO
A Braspetro foi criada quando eu estava lá no Rio, trabalhando com o Geisel - foi quem criou. Aí veio Braspetro, veio Intrebrás, veio a Petrofértil, veio a Petromisa, que era para a exploração de potássio em Sergipe, veio o que mais, meu Deus? A Braspetro. A Braspetro descobriu um grande campo de petróleo no Iraque, mas depois de descoberto teve que vender. Eu acho que foi, não sei como e que foi não. O Iraque comprou o campo. Procura alguém que sabe, viu?
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Quando eu voltei de Londres, fui para a Bahia para ensinar, para a formação dos engenheiros de petróleo. Foi uma experiência boa e também não foi. Foi boa porque eu fui para lá, fiquei estudando, aproveitava, estudava muito, fazia muitas apostilas para a parte de nível médio. Devia ter juntado, 34 apostilas dava um livro formidável. E me satisfez. Aumentou o meu conhecimento, melhorei muito. Depois chegou a época, digo: “Bom, agora vou querer descansar. Não vou mais.” E depois disse: “O que eu posso fazer mais?” Achei que não tinha mais nada para fazer. Então eu saí.
Aí me aposentei.
RELAÇÕES DE TRABALHO
Um caso que eu gostei muito, que fiquei muito feliz, estava explicando a ela, quando eu cheguei como superintendente geral do departamento, cheguei na Bahia, tinha um ceguinho que enrolava bobina de motor. Era o melhor enrolador de bobina, e mandei admiti-lo. Ficou admitido. Foi em 1973, não me lembro. Aí foi admitido. Ele era estagiário. Se ele era o melhor, por que eu vou admitir outro? Vai admitir ele, porque eu reparei, ele tinha sensibilidade, você sabe como é uma bobina de um motor? Ele enrolava aquilo no tato e era perfeição.
RECURSOS HUMANOS
Como professor, eu procurava dar o melhor de mim, certo? Queria, procurava sempre dar um pouco mais e levantar o nível, dentro do meu conhecimento.
Os alunos estavam interessados. E quem não estava? Primeiro, vou dizer por que estavam interessados. Primeiro: ele entra com concurso. Segundo: vai ganhar como engenheiro estagiário, que é um bom salário, não vai querer perder esse emprego. Então ele vai ter que estudar, não é isso? Então o pessoal estuda. Tem sempre algum ou outro que não dá certo, vai embora. Mas é raro. O pessoal estudava mesmo. Tinha ano ter 100, 200 alunos, engenheiros, que na época, quando nós começamos, descobrir Campos, essas coisas, nós tínhamos que formar um engenheiro por antecipação. Entendeu? Quando eu era ainda o superintendente do departamento, então eu fiz lá um estudo com o meu grupo de pessoal e de técnicos, pedi que cada um fizesse uma avaliação do que era possível, ele precisava para o futuro. Fizemos um trabalho. Aí foi aluno que foi brincadeira. Quando eu voltei vim ajudar a fazer os engenheiros.
EXPLORAÇÃO
BACIA DE CAMPOS
Quando descobrimos Campos, o Garoupa foi o primeiro poço, depois de umas lutas tremendas, vários poços se furavam, tinha problemas, aí resolvemos furar mais profundo: “Vamos furar mais fundo, vamos furar mais fundo.” Aí, quando veio a descoberta, aí o diretor meu, que eu levei a ele, ele ficou alegre - Haroldo Ramos da Silva. Aí disse: “Nós temos que levar isso para o presidente.” E fomos para Brasília. Aí levamos isso ao conhecimento dele. Veja bem, era o primeiro poço que nós já tínhamos. Tinha certeza que Campos era uma grande província, e o Brasil nunca pode deixar de estar fazendo pesquisas exploratórias, porque está sempre precisando de uma nova província produtora, porque o petróleo, você tira, ele acaba, não é verdade? Tem que ser isso.
Eu era o superintendente. O Carlos Walter era o chefe da divisão de exploração. Eu era o chefe dele.
A pesquisa em Campos já estava dentro da nossa programação, que a gente estava fazendo um levantamento completo. Nós temos que fazer muito ainda. Temos que fazer muito ainda, porque, quando começasse a se descobrir numa região, você já reparou Campos? Já tem poços já lá perto de Vitória, um campo enorme.
Mas só depois de perfurar é que tivemos noção da quantidade. Isso não há jeito. Porque quando você perfura o petróleo, ele fica dentro da rocha, a rocha é porosa, e o volume de petróleo e aquele que cabe dentro daquela rocha e dentro daquela rocha também tem um percentual de água, que é água de formação. Então você tem que calcular o volume da rocha, a permeabilidade, quer dizer, a permeabilidade é a facilidade com que o fluido, o óleo ou gás corre dentro da rocha, que pode ser porosa mas não ter comunicação. Fica tudo preso, não sai. Então, isso é importante. Aí o engenheiro de produção, aquele engenheiro de reservatórios, então ele recebe os dados, tira um testemunho da rocha, leva para o laboratório do Cenpes, lá vão fazer, vão determinar porosidade, permeabilidade, água de formação e tudo. Aí depois é que se chega aos valores, se estimam os valores, porque ele tem o valor provado - é aquele que você já definiu. Tem o provável, não é, que é o que pode vir. Da reserva total, se você produzir 50% é bom. Se o mundo conseguisse produzir a reserva de óleo existente em todos os campos do mundo e que não foi possível produzir, acabava essa briga do Iraque, que tem petróleo lá dentro.
Da maioria dos poços, geralmente se tira 20, 30 - e dê graças a Deus. A primeira produção é a primária; qual é a primária? É aquela que vem pela força natural, a energia própria do fluido do óleo, do gás, que pode ser o gás que esteja empurrando o óleo. Pode ser uma água que esteja por debaixo empurrando o óleo para cima. Então, antes de terminar isso, hoje ninguém espera mais. Já faz um plano de injeção de água para manutenção dessas forças. Já está se fazendo desde quando esse outro campo está fazendo.
Estava se discutindo muito onde ia ser a base da Bacia de Campos. Eu fiz um grupo de trabalho em Vitória para procurar naquela região. Aí eles estudaram Vitória, e teve um bocado de problema. No começo foi tudo, governador, todo mundo facilitou. Quando, depois: “Vamos embora começar”, aí começou a ter dificuldade. Então eu saí de casa, domingo - como eu morava no Rio -, fui para aquela região de Macaé, fui de carro, eu e minha mulher; quando eu chego lá, digo: “Pronto”. Aí fiz um documento para a diretoria da empresa, para aprovar Macaé, e foi aprovado.
Achei as condições ideais, principalmente inicialmente. Por exemplo, se você descobrir agora petróleo na região já próxima de Vitória, você vai ter que fazer uma nova base de... Não pode, não há alternativa. Tem que haver. Espírito Santo ainda vai dar petróleo, Amazônia tem que ter petróleo, não pode deixar de ter. E é difícil a bacia do Amazonas, porque é uma bacia paleozóica. Eu estou sendo geólogo aqui. Paleozóico foi uma fase em que o magma penetrou no sedimento e fez as camadas. Então, para se perfurar é muito difícil, porque atravessar essas rochas - são muito duras, mas se consegue furar. Ganhou bastante técnica o pessoal do Amazonas em furar nessas rochas.
Se tem petróleo eu não sei. Digo Urucu, se pegou isso eu não sei. Não posso dizer, que a maior área brasileira vem do Terciário. Ai Meu Deus, e Cretáceo. Ainda estou me lembrando.
Vou dizer uma coisa bastante interessante. Pega o mapa do Brasil e verifica os paralelos. Veja como o fica o Rio de Janeiro e fica São Paulo aqui. Quando o paralelo veio aqui é São Paulo. Muitas coisas de Campos já estão na área, já tem poços, com certeza. Então o Rio de Janeiro está aqui, vamos dizer. O poço pode daqui defronte praticamente do Rio, mas paralelo já está em São Paulo. Eu não sei como é que está isso, mas deve ter. Eu acho que tem muita coisa por descobrir. Sempre é uma surpresa. Agora, você não chega lá se não procurar. Se não fizer nada, não chega.
IMAGENS DA PETROBRAS
A Petrobras, eu admiro a Petrobras, quando eu saí não quis me esquecer. Quer dizer, não quis me esquecer, eu quis me desligar para evitar que eu vá para discutir. Eu tive tantos cargos na empresa, podia ser que vá discutir comigo, eu querer dizer alguma coisa que não devesse. Então...
LAZER
Hoje eu pinto, para me distrair. Pinto quadros a óleo, para me distrair, e estudo economia. Já fiz até um estudo para o Brasil. Só para mim.
FAMÍLIA
Eu tenho um casal. Tenho quatro netos e uma bisneta. Está pequenininha, com um ano e meio. O meu filho mora aqui, trabalha na Petrobras, na produção, e minha filha... O meu genro é engenheiro civil, trabalha lá como engenheiro civil no Maranhão. Por isso que eu fui morar no Maranhão, porque a minha filha estava lá, então fui morar. E minha filha é formada em nutrição e também trabalha, tem consultório. Aí eu fui para lá. É bom porque de noite a gente vai jogar um buraquinho, se distrai, não é?
Eu sou uma pessoa... qualquer lugar é bom, desde que a gente queira. Com certeza isso é verdade. Qualquer lugar que foi sempre encontrei uma maneira de gostar. Se você for e desgostar é melhor você ir embora porque senão você vai ficar doente, não é mesmo?
AVALIAÇÃO
Se eu mudaria alguma coisa na minha vida? Essa é uma coisa mais difícil do mundo da gente dizer, porque aquilo depende do instante, não é verdade?
Você nunca pode dizer que vai fazer uma coisa por antecipação. Eu fiz uma coisa, por exemplo, eu me formei num dia e me casei no outro sem emprego, sem nada. Para você ver que eu era ousado. Graças a Deus, já tenho 52 anos de casado. Fazer 53 esse ano, mais oito de namoro.
SONHO
Ah, eu sonho muito, mas sonho demais, penso muito. Tem noites que eu passo a noite pensando, encontrando soluções para esse problema no Brasil. Eu cheguei a pensar um programa para resolver o problema... para Lula - porque eu nunca votei nele; não vou dizer que votei que seria mentira da minha parte. Você fica... hoje eu estava vendo o jornal; a popularidade dele caiu.
Mas, rapaz, já estamos entrando em política. Acho que não devemos.
Então é isso. Eu gostaria de ver o Brasil numa situação muito boa, sem violência, com a formação técnica que ela está fazendo, mas está muito atrasada, ao meu ver. Tem muito o que fazer, tem muita coisa boa, adiantada, mas tem muita coisa por fazer. E não vá pensar -
nenhum político, nem presidente, nem governador, nem ministro - que o Brasil vai resolver seus problemas se for auto-suficiente de petróleo. Petróleo sabe o que é? É uma das fontes de energia. Se o Brasil for crescer, quanto precisa descobrir, quanto petróleo precisa ser descoberto? Hoje os Estados Unidos consomem 16 milhões de barris e já estão importando 65%, e o Brasil já está produzindo 80%, mas onde é que nós estamos? Dez vezes mais eles consomem do que o Brasil. E vai ver a quantidade de energia que eles têm, energia nuclear e etc. Hidráulica também, que é fantástica. Eu visitei algumas represas nos Estados Unidos, usinas hidroelétricas, a Roosevelt por exemplo. Então é energia, nós temos que trabalhar nisso. Tem que haver tecnologia, tem que botar, criar tecnologia. Essas universidades, recursos para elas, porque o brasileiro é competente, para evitar que a gente perca, o brasileiro. Então eu vou lhe contar um fato que eu me recordei por causa disso. Quando eu estava em Stanford, tinha um brasileiro que estudava física nuclear. Ele pertenceu, parece que era ao Conselho Nacional de Pesquisa Nuclear, e está fazendo o doutorado dele, mandaram buscar ele.A universidade não deixou ele voltar para o Brasil. Ele era um gênio, ficou lá. Não vai deixar esse negócio sair para depois pessoal dizer, para eu ter que dizer, provar quem foi. Eu estou falando besteira já. Vou mudar de assunto.
ENTREVISTA
Bom, eu acho que o brasileiro é um povo que não... memória meio fraca. Brasileiro é apressado, mas não sabe por quê. Você vê os carros, todo mundo correndo, mas não sabe por quê. Então, o que nós precisamos, que eu acho, se nós conseguirmos mostrar ao povo brasileiro, ao Brasil o que é que ele tem, fazer ele se convencer da competência dele, isso para mim seria fantástico. O brasileiro tem condições. O brasileiro é inteligente, criador. Você sabe quem inventou o carro automático? Foi um brasileiro, que vendeu para os Estados Unidos. Depois gastou o dinheiro nos cassinos da Europa. Acho que está na hora da gente ir terminando, não é não?Recolher