Projeto CSP
Depoimento de José Rocha Martins Freitas
Entrevistado por Eliete Pereira
São Gonçalo do Amarante, 30/05/2014
CSP_HV007_José Rocha Martins Freitas
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Maiara Ariadine Leones
MW Transcrições
P/1 – Bom, senhor José, o senhor pode falar o n...Continuar leitura
Projeto CSP
Depoimento de José Rocha Martins Freitas
Entrevistado por Eliete Pereira
São Gonçalo do Amarante, 30/05/2014
CSP_HV007_José Rocha Martins Freitas
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Maiara Ariadine Leones
MW Transcrições
P/1 – Bom, senhor José, o senhor pode falar o nome completo do senhor?
R – José Rocha Martins Freitas.
P/1 – O senhor nasceu onde, senhor José?
R – Na Serra do Baturité.
P/1 – O senhor pode falar novamente?
R – Na Serra do Baturité.
P/1 – Baturité?
R – Sou serrano.
P/1 – Ah! No Ceará?
R – No Ceará. Meu batismo foi em Mulungu.
P/1 – Mulungu?
R – Cartório de Mulungu. Meu registro foi de lá.
P/1 – E que dia que o senhor nasceu?
R – 1943.
P/1 – E que dia?
R – Dia 6 de novembro.
P/1 – Seis de novembro de 1943?
R – Sim
P/1 – Ah! E os pais do senhor também são de lá?
R – Só meu pai.
P/1 – Só o pai do senhor?
R – É. Minha mãe era daqui de Sertão do Canindé.
P/1 – Qual é o nome do pai do senhor?
R – José Martins de Freitas.
P/1 – E o nome da mãe do senhor?
R – Maria Amélia Caetano.
P/1 – E a mãe do senhor era de onde?
R – Daí, do Sertão do Canindé.
P/1 – Do Canindé?
R – Era.
P/1 – E como que era, assim, lá onde o senhor nasceu?
R – Lá no Baturité?
P/1 – É.
R – Lá era ruim demais. Ruim, assim, era bom pra umas coisa e ruim pra outras porque, meu nascimento, né? Naquele tempo não tinha dinheiro nenhum, comecei a trabalhar e tudo. Era bom, eu me acostumei, fui nascido lá, frio fazia demais. Aí, eu comecei a trabalhar mais o meu pai, bem novinho, com oito ano a trabalhar mais ele. Pra aquela, meu pai era pobrezinho, né? Aí, nós tivemos, trabalhemos, tudo. Com 16 anos, aí, eu vim, disse, vou simbora pro Sertão. Lá, eu era gabado no serviço, na portaria, eu trabalho na enxada, na, em moagem, no negócio de carregar cana pra ir pra engenho, tudo eu fiz. E eu achava bom. Adorei muito a minha arte, né? Eu fui nascido dentro daquilo com meu pai, que era agricultor, aí, eu peguei com ele. Aí, ajudei a criar meus irmão, era, somos oito; agora são seis, morreu dois já.
P/1 – E a mãe do senhor também era agricultora?
R – Não era porque ela criava os filhinho dela, né? Era só meu pai. Mas, ela mesmo eu via só em casa.
P/1 – Ela ficava mais em casa cuidando das crianças?
R – Era, né?
P/1 – E o nome dos irmãos do senhor?
R – De tudinho?
P/1 – De tudinho. O senhor lembra?
R – Tem. Eu sei o nome, mas, sei é do começo do nome, né? Tem a mais velha, Vilani, segunda é a Vileine, aí, depois é eu, o Rocha, aí, depois vem a finada Fátima, a Maria de Fátima que foi a que faleceu. Depois vem a Graça, depois vem a Francisca, e o Antônio que também faleceu e o Inácio.
P/1 – O mais novo?
R – O mais novo era o Antônio.
P/1 – O Antônio?
R – Era. O Inácio era encostado em mim. E mora em Canindé. E agora ele tá com 69 ano.
P/1 – Seu José e o que que o pai do senhor plantava, assim?
R – Plantava só roça, teve fava que lá não dava feijão, né? E cana, essas coisas assim. Trabalhava era mais pros outros, alugava, trabalhando pros outros.
P/1 – E tinha muitas terras? Tinha gente com muitas terras lá onde vocês moravam?
R – Tinha. Nós, ele mesmo, nós mesmo, nós tinha, era dono dum sítio lá. O pai dele, meu pai tinha um sítio, era. Tinha um sitio, pra era 11 irmão dele. Ainda hoje tá lá. Nós não fomos atrás de herança. Velho tá lá e nós não fomo atrás de nada, não. Eu falo isso aí, tudinho pros mais velho. Aí, tá na mão dos novo lá, dos mais novo, dos meus primo. Turma dele foi “arrepartindo” e nada não. Tá pra lá. Acabou-se.
P/1 – Ah! Os primos que ficaram, então?
R – Foi. Dos outros, meu tio, que mora lá.
P/1 – E como que era a casa do senhor lá?
R – A ca...
P/1 – O senhor nasceu na casa, então, que vocês viviam?
R – Foi, na casinha de taipa, era.
P/1 – Era uma casinha de taipa?
R – Foi. Nós morava lá na casa dum tio meu que ele era dono do sítio, aí, era o irmão do meu pai. Aí, nós morava, né? Aí, foi, pegou, vendeu o sítio. Aí, nós, papai, foi e fez uma casinha dentro do sítio deles, que ele tinha direito, sabe? Aí, nós saímos de lá num tempo e viemos embora pro Sertão.
P/1 – Por que vocês foram embora pro Sertão?
R – Porque aí, pra nós era melhor. Deus botou nós pra cá e aí, foi mais melhor pra nós. Que terra boa pra nós trabalhar, né? Terra de São Francisco. Lá muita terra e lá era mais melhor, minha fia, não tem nem comparação na Serra.
P/1 – Você lembra quando vocês mudaram?
R – Me “alembro”.
P/1 – E como vocês foram pra lá?
R – Pra de lá da Serra pra aqui pro Sertão? O carro de São Francisco foi buscar, pegar nós lá.
P/1 – Um carro?
R – Foi. A muda, um acordo de pegar a muda do meu pai.
P/1 – Ah! O carro do seu pai? A mula?
R – O carro de São Francisco foi pegar a muda.
P/1 – A muda? Ah!
R – É, a muda, as coisa nossa.
P/1 – Ah! Sim! As coisas de vocês...
R – É, aí, a gente dava pra trazer as coisas pro Sertão.
P/1 – E de quem era esse carro?
R – Era de São Francisco, do convento.
P/1 – Ah! Era um convento?
R – Era. Nunca andou no Canindé, não?
P/1 – Não, nunca andei não. Era o que, era os padres então?
R – Era os padres quem mandavam neste tempo. Hoje, não. Hoje aí, venderam pro INCRA, hoje é do INCRA.
P/1 – Então eram os padres que...
R – Que tomavam de conta.
P/1 – Que tomavam de conta?
R – Era, era.
P/1 – Dessas terras?
R – Dessa fazendona, grande.
P/1 – Dessa fazenda grande, que...
R – Cento e tantos morador. Daí... Pode falar.
P/1 – Essas terras que vocês mudaram então?
R – Foi.
P/1 – Que vocês foram pra lá...
R – Foi, quando vimos morar lá.
P/1 – Então, os padres ajudaram vocês a fazerem a mudança de vocês.
R – Foi. Foi, mandou pegar nós lá. Foi.
P/1 – E você lembra assim do dia?
R – Não, não, isso aí, não “alembro” não.
P/1 – E você lembra quando chegou lá nessas novas terras?
R – Me “alembro” que estranhemos porque ninguém tinha o costume, né? Sertão, seco. Cheguemos já no fim do verão. Aí, depois se acostumemos, mas pronto, achei bom, me criei lá. Acabei de me criar lá com meus irmão, tudinho.
P/1 – Vocês plantavam o que? Vocês começaram plantando o que?
R – No Sertão?
P/1 – No sertão.
R – No Sertão, lá era terra boa. Dava milho, feijão, mandioca. Tudo dava. Jerimum, melancia, tudo dava. O que plantasse, dava.
P/1 – Ah! É, né?
R – Era. A coisa que tinha era muita fartura do tempo que eu trabalhava lá. Aí, num tempo que eu me casei, aí, eu fiquei morando lá, papai foi morar em Canindé, fiquei morando na casa dele. Aí, pronto, aí, eu fui trabalhar. Tão usando, vamos roçar. Roçadão grande, eu todo é gostei de trabalhar muito. Eu, muito trabalhador eu, sou ainda, sou ainda. Tô com uma idade já avançada, mas eu acho bom trabalhar. Tenho saúde, graças a Deus, num sinto dor nenhuma no meu corpo. Aí, foi, eu criei meus filho tudinho, acostumei os braços à custa de Deus. Fazia muito legume, muito feno, muito feijão, muito milho. Todos ano tinha minha farinhada duma semana. Tinha um caixãozão, enchia de farinha. Toda vida tive fartura na minha casa.
P/1 – Ah! E seu José, o senhor chegou lá num, quando o senhor fala “sertão”, seria o Canindé, né?
R – É. Sertão em Canindé.
P/1 – E quando o senhor... tinha um nome o lugar que o senhor ficou lá que tinha os padres?
R – Fazenda São Paulo.
P/1 – Fazenda São Paulo?
R – Era.
P/1 – Vocês ficaram quanto tempo lá?
R – Ah! Nós cheguemos na era de 60, aí, eu vim embora pra cá. E passei mais de 30 ano morando nessa fazenda.
P/1 – Mais de 30 anos?
R – É. Mais de 30 ano.
P/1 – Então os irmão todos do senhor também se criaram lá?
R – Tudo, foi.
P/1 – E o senhor lembra, assim, além do trabalho que vocês ficavam lá na roça, né? vocês tinham algumas brincadeiras, vocês costumavam brincar um pouco?
R – Brincar, brincadeira que nós gostava lá era futebol.
P/1 – Futebol, vocês jogavam?
R – Era, jogava. Joguei muito futebol. Nós tinha um campo lá dentro da fazenda, lá, aí, era bom.
Quando desisti de jogar aí, fui tomar de conta do time (tosse). Aí, foi no tempo que viemos embora pra cá. E aí, aqui, eu ainda joguei, ainda. Faz muito bom. A brincadeira que eu mais gostei mais foi o esporte.
P/1 – Ah! É?
R – Era bom. Negócio, de negócio de beber, bebida, a coisa que eu gostei mais foi futebol e forró. Brincar de forró.
P/1 – Ah! É? Tinha muito forró, lá?
R – Tinha, tinha todo final de semana. A gente até na semana aqueles pessoal inventava um forrózinho, toca um violão mesmo, né? tinha muita moça, muito rapaz, nós ia brincar. Aí, quando era fim de semana nós ia pros inter... pra outros lugar, pra festa de casamento. Festa de dar licença mesmo, festa tudo grande. Passava a noite todinha. E o jeito que eu entrava eu saía, sem beber, sem prova nada de álcool, nem nada. Não gostava não.
P/1 – E o forro era na casa de alguém ou era variado, assim?
R – Era na casa de alguém, sim. Muita gente lá daqueles que gostava de fazer festa, né? Era. Tirava a licença em Paramoti. Nesse tempo, era lá de Paramoti, que era a licença, lá. Que era município de Paramoti. Tinha o Oriente, Imburana, Barreira, São Paulo. Essa coisas assim, tudo era...
P/1 – E tirar licença, o que que era?
R – Que era tirar licença é porque a pessoa vai no delegado, aí, vai e tira uma folha de licença, aí, aquele que errasse ou consegue junta de briga era intimado a ir preso. É, porque tem a licença, né? Aí, a pessoa pode fazer a festa, pode morrer, pode morrer gente que eles não tão nem aí. Já tem um papel de, dado por, autorizado pela polícia, né?
P/1 – Então pra fazer festa tinha que ter autorização?
R – É, tinha que ter, né? Porque tendo, havendo qualquer coisa, uma briga, uma morte, aí, o dono da casa não tem nada a ver, né? Agora, se não tirar e haver qualquer coisa, o dono da casa é quem entra. É, que não tem autorização.
P/1 – Seu José, tinha muita briga no forró?
R – Às vezes, dava.
P/1 – Dava?
R – Mas, eu nunca vi matar ninguém, nunca vi furar, essas coisas eu nunca vi. Sempre era calmo.
P/1 – Mas, no geral as pessoas iam lá pra dançar...
R – É. Pra brigar, né? Pra dançar.
P/1 – E os seus irmãos iam também?
R – Não. Só era mais era eu. E meu pai tinha muita confiança em mim, às vezes, eu num dava preocupação pra ele, aí, às vezes tinha um dinheiro, até me dava um dinheiro. Nesse tempo já era difícil, não era?
P/1 – Aham.
R – Aí, me dava aquele dinheirinho pra eu pagar a cota. Aí, eu ia ficava a noite todinha e no outro dia chegava em casa. Aí, o dia que eu não chegava mais tarde, aí, ele ficava: “Orra, mas não chegou ainda?”. Mas, eu vinha brincando mais meus amigo. Nunca gostei desse negócio de aranha, não. Toda vida eu fui tranquilo, graças a Deus. Pois, é...
P/1 – Seu José, o senhor sempre foi chamado de Rocha desde pequeno?
R – Desde pequeno, se chamava, num tempo que morava na Serra do Baturité, me chamavam de Rochinha. Aí, vim embora aqui pro sertão, ai ficavam me chamando de Rocha. Aqui na praia também, só ficavam me chamando de Rocha. Pra quem me conhece não me chama de outro nome, não, me chama de Rocha.
P/1 – Os pais do senhor também chamavam...
R – Era.
P/1 – ... de Rocha?
R – Era. Foi. Era todo mundo me conhece por Rocha.
P/1 – Seu José, o senhor contou antes pra gente, antes de gravar, que o senhor aprendeu a escrever o nome, né?
R – Ai. (risos)
P/1 – Mas, o senhor não foi à escola?
R – Não. No tempo que eu fui, a primeira vez que fiz meu nome, a minha mãe, a vez pegava a caixa de BC, aí, no fim que dava até a orientação a eu, me ensinava, mas não entrava nada na minha cabeça, eu não sei porquê. Aí, eu fui ali, cresci e inteirei 18 ano, aí, eu vim forçado, deixei minha identidade. Aí, eu já sabia, lá minha mãe mandava eu assinar meu nome, eu assinava, sem conhecer a letra. Assinava, ela fazia meu nome todo aí, legível pra me ensinar, sabe, aí, por ela que eu fiquei, entrou aquilo na minha cabeça, gravado aqueles número na minha cabeça. Aí, foi a mãe disse: “Ai, Rocha, já tua identidade dá pra tu tirar”. Aí, eu vim em Fortaleza, num sei mais quem, num tô “alembrado” mais que foi. Aí, eu fui lá pra mim tirar, nesse tempo no Canindé não tinha. Aí, foi, eu tirei, num errei de jeito nenhum. Que essa identidade que eu tirei. Aí, pronto, aí, fiquei assinando meu nome. Aí, eu faço tudo, aí, faço empréstimo em banco, aí, eu, tudo, tudo eu assino, cartório, em tudo, eu nunca errei. Bem assim.
P/1 – E foi a mãe do senhor então que ensinou o senhor a escrever o nome?
R – Foi, minha mãe quem sempre me orientou. Me dava aquele, né? Ensinava mais escola. No tempo que eu era criança não fui na escola. Aí, depois que eu já sabia meu nome foi que eu comecei a ir à escola, mas também não aprendi nada. Não aprendi nem a ler, nem escrever, nem nada.
P/1 – O senhor foi pra escola, então, depois?
R – Andei em escola, esses...
P/1 – Onde?
R – Essa escola que... não tem essa escola de seis meses? Que chama NOBRAL, não sei como é. Mas, sempre eu fui bem umas três vez, mas não aprendi nada não.
P/1 – Mas, o senhor só foi só uma vez ou senhor ficou vários dias indo?
R – Fiquei, sempre, sempre – Não. Eu fui muitas vezes, eu fui adiante um seis meses, eu ia. Era. Aqui, aqui, tem do outro lado tem um galpão que era da onde tinha a aula. Aí, contratava aquela pessoa seis meses pra ensinar, sabe? Aí, nós, eu ia. Eu ia. Passava seis meses estudando, mas não aprendia, não sei porquê. Não sei não.
P/1 – E, seu José, lá no Sítio São Paulo, o senhor ficou 25 anos, lá?
R – Mais.
P/1 – Mais?
R – É, mais de 30. Foi. Eu cheguei lá com 16 anos, aí, eu vim embora aqui pra praia. E eu tive meus fio tudinho, só, tudinho nasceram lá no Canindé. O mais novo é o Leonardo, ele já tá nos 20 ano. Que ele tá nos 20 ano que eu moro aqui na praia que ele veio de lá com dois mês.
P/1 – E como o senhor conheceu a esposa do senhor?
R – É porque nós já morava tuno numa fazenda só. Foi.
P/1 – Mas, o senhor lembra o dia que o senhor conheceu?
R – Não.
P/1 – Não?
R – Não. Faz muitos anos, né?
P/1 – Aham.
R – Eu me casei com ela, passei 43 ano junto com ela.
P/1 – Qual era o nome dela?
R – Maria de Fátima.
P/1 – Maria de Fátima?
R – É. Aí, foi numa noite, ela adoeceu, daquela doença na gente que dá, adormeceu, começou a adormecer ela, né? Ela tinha muita fé em massagem, comecei a dar massageada nela. Aí, dessa massagem parece que deu pra derrame na cabeça dela e levamos pro hospital e não gostava. Fomos transferidos pro Hospital de Messejana.
P/1 – Vocês já tavam aqui, então?
R – Já. Já tava há muitos anos. Aí, lá ela não resistiu não e morreu. Era nova ainda, ela tava com 57 ano.
P/1 – E vocês tiveram quantos filhos?
R – Onze.
P/1 – Onze filhos?
R – Nove homem.
P/1 – Quantos homens?
R – Nove.
P/1 – Nove?
R – Era pra, morreu um, era pra ser doze. Era pra ser dez homem, mas morreu um. Que ela num tempo que ela tava gravida desse que morreu, ela tava padecendo de uma doença renal, febre intestinal, que é, negócio de febre – Aí, tinha lá um compadre nosso, aí, tá, aí, foi fazer farinha, gostava de todo mundo, todo mundo gostava dela, aí, chamou ela pra rapar mandioca e ela não me disse nada que tava doente. Aí, foi lá, rapou a mandioca, é veneno, mandioca pra quem tá doente, diz, de febre, né? Essas coisas. Aí, comeu miúdo de criação fresco. Só sei que foi de noite, atacou. Atacou e ela, aí, eu fui chamar a parteira. A parteira era muito boa ela disse: “Isso, Rocha, aqui eu não dou jeito não, melhor levar pro Canindé’. Aí, levemos ela pro Canindé.
P/1 – Ela tava gravida. Então?
R – Tava há oito mês.
P/1 – Oito meses?
R – Oito mês. Aí, quando chegou lá, aí, ela foi operada. (tosse) A criancinha nasceu viva ainda, mas não resistiu, não. Morreu. E era homem.
P/1 – Era mais um homem?
P/1 – Era pra ser mais um homem. Era pra ser dez. E duas mulher.
P/1 – E, seu José, como é que era a vida assim com muita criança em casa? O senhor ficava o dia inteiro na roça?
R – É, todo o dia todinho na roça, aí, eu saía de manhãzinha, chegava meio-dia, almoçava, me deitava. Toda vida gostei de me deitar meio-dia, perto assim. Quando é uma hora eu saía, chegava em casa e via com as luz acesa, ela tava na janela olhando se eu já vinha. Chegava de noite, eu gostava muito de trabalhar. Aí, eu e ela tomando conta da meninada. Criamos tudinho graças a Deus. Sem problema.
P/1 – E o...
R – É tudo sadio, tudo são uns homão, tudo.
P/1 – E o senhor plantava o que, assim?
R – Plantava milho, feijão, mandioca, jerimum. Tudo eu plantava. E dava com fartura, dava pra sobrar mesmo. Eu, toda a vida, gostei de ajudar quem precisa, sempre eu peço a Deus, eu ter pra mim e pro meus irmão que precisar, né? Aí, vinha gente atrás, eu arrumava, dava. E agora mesmo é a mesma coisa. E nisso eu fiz muito feijão, por aqui só quem fez feijão fui eu. Com esses bocado de gente que mora aqui, são 21 morador, mas eles não gosta de trabalhar. Aí, eles tem até raiva de mim ou inveja ou ambição que, porque eu trabalho e faço, aí, eles parece que tem ambição, diz que eu sou o dono da terra daqui, eu não sou o dono não. Porque Governo botou nós aqui, fez as casa, aí, deixou a terra solta pra quem quisesse trabalhar, né? Aí, eu trabalho. Eu trabalho e eles tem raiva, sou nem o dono da terra. Eu não sou o dono não, porque eu gosto de trabalhar, né? E faço meu leguminho, quem pra chegar na minha casa: “Ó, tem um feijão com arroz, que me arruma um litro aí, ou cozinhado?” “Tem”. Arrumo, buscar, uma coisa que eu tenho mais gosto é de dar uma coisa pra pessoa. Na minha casa eu tenho.
P/1 – E lá no sítio vocês vendiam aquilo que vocês plantavam?
R – Vendia, mas era bem baratinho.
P/1 – Era pouco, então?
R – Era. Neste tempo o milho, começava a vender lá na fulô que lá era sempre mais difícil as coisa. O preço era cinco cruzeiro a 5 mil réis, parece que era nesse tempo. Nesse tempo não era real não. Aí, eu vendia muito milho na fulô, quando ele começa a amadurecer.
P/1 – Que que era fulô?
R – Começa a amadurecer. Aí, quando era na quebra, aí, eu fazia um paiol no mato, passava o dia todinho quebrando milho. Aí, nos dia eu ia e batia. Batia dez saco, 20 saco, aí, aqueles dono de buscar lá, né? Que nem animal. Aí, pegava, pagava tudinho. Aí, que sobrava, eu vendia, aí, eu deixava criação, tudo isso eu tinha. Aí, eu deixava o resto pro meu pasto. Enchia os tambor de feijão. Feijão não dava dinheiro, vendia mesmo era barato. Aí, tudo era barato de réis, nesse tempo.
P/1 – E “fulô” é quando o milho tá amadurecendo?
R – É, é quando chama na fulô, né?
P/1 – Na fulô, né?
R – É, quando a pessoa vai e vende e naquele tempo não tá, num pode vender. Aí, tem a pessoa que compra pra receber quando ele seca. É, aí, a gente chama na fulô.
P/1 – Algodão era a mesma coisa, algodão, vender algodão na fulô. A pessoa vende aquelas arroba de algodão quando é na apanha vai e paga aquele que...
P/1 – E o senhor plantava algodão?
R – Plantava. Neste tempo, eu fazia muito, sabe, quando pegava muito dinheiro? Quando, na safra de algodão, porque nesse tempo não tinha, depois já apareceu um tal de besouro aí, esculambou. Num deu mais. Mas, nesse tempo, vai de algodão, aí, eu, pegava...
P/1 – E o senhor vendia pra quem esse algodão?
R – Vendia pras fábrica de Canindé. Tinha uma fábrica de carroçar algodão em Canindé, né? Que eu fui sócio da Cooperativa de Canindé.
P/1 – Ah! Tinha uma cooperativa?
R – Tinha.
P/1 – Era cooperativa de quê? De algodão?
R – É, e a pessoa que é de algodão, milho. O que a pessoa quiser, levava pra lá. Podia levar. Quisesse, mesmo guardar 200 litro de feijão lá na cooperativa, levava pra lá pra guardar lá. Tinha um deposito pra guardar, né? Porque se as pessoas precisasse, aí, “arrecebia” se quisesse vender, vendia. Assim.
P/1 – Então a cooperativa ajudava o senhor a ter, depositar, então?
R – Era. Eu tenho até a minha carteira com retrato e tudo da cooperativa de Canindé.
P/1 – O senhor tinha que pagar alguma coisa pra cooperativa?
R – Não. Não pagava, não.
P/1 – Ah! Então, eles ajudavam, então, né?
R – Era, ajudar, é. Própria pra ajudar os agricultor.
P/1 – E o senhor lá, é, quando o senhor tava no sítio São Paulo, o senhor se casou, o senhor foi morar lá também, né?
R – Fui, fiquei morando lá.
P/1 – O senhor teve que construir a casa do senhor?
R – Não. A casa do meu pai, porque ele morava, saía e me deixou a casa.
P/1 – E o pai do senhor foi pra onde?
R – Foi morar em Canindé, casa alugada, neste tempo.
P/1 – Ah! Já foi...
R – Já foi mais minha mãe.
P/1 – ... pra cidade, né?
R – Foi, foi. Aí. Ele já aposentado, já, né? Aí, foi e eu fiquei na casa.
P/1 – Mas, por que ele decidiu ir pra, sair de lá.
R – Porque, aí, ele, papai e eu, passava lá e ele ia, aí, passava e voltava a semana todinha mais eu. Aí, ele trabalhava ainda neste tempo, né? aí, ele plantava, que ele gostava muito de trabalhar e aí, quando era fim de semana ele ia pro Canindé. Aí, quando era nós voltava e ia embora. Era assim. Aí, foi no tempo que minha mãe faleceu, aí, foi, ele ficou na minha casa mais eu. Morando mais eu. Passava, aí, ele ia pra casa dos filho dele tudo, mas ele gostava mais era lá em casa.
P/1 – Ele gosta mais de ficar com o senhor?
R – É, era. Gostava muito da minha casa.
P/1 – E como era a casa?
R – A casa era grande.
P/1 – Era?
R – A casa que a fazenda fez, casa de tijolo, alpende. Aí, quando eu fui pra lá, fui e fiz uma puxada. Que eu fazia muito legume dentro de casa, não cabia, sabe? Minha safra. Aí, eu fui, fiz uma puxada, aí, fui...
P/1 – O senhor mesmo que fez?
R – Foi, fiz, mandei. Fui fazer os tijolo. Aí, mandei fazer, o pedreiro, eu mesmo não, foi um primo meu que fez. Aí, ficou bom. Aí, comprei um caixão pra botar farinha, que eu pegava 30 saco de farinha.
P/1 – Quando o senhor fala “caixão” é aquelas caixas de madeira, né?
R – É. Aí, era aquele depositão de madeira, bota dentro do quarto, aí, bota, tem uma boca em cima, botava farinha até debaixo de tirar, aí, eu enchia, toda semana eu enchia ele de farinha. Era farinha, aquilo dava pra um mês e vender e tudo.
P/1 – Mas, onde o senhor fazia a farinha?
R – Tinha casa d farinha lá.
P/1 – Tinha casa de farinha?
R – Tinha.
P/1 – Na casa do pai do senhor ou lá no sítio?
R – Não, não. Na fazenda.
P/1 – Lá na fazenda?
R – É.
P/1 – E o senhor fazia farinha?
R – Fazia. Semana todinha, mesmo ele tem aqui. Aqui também eu faço a semana todinha, na passada eu fiz quatro dia, foi. Ai nesse ano eu tô pensando já dá é pra eu fazer a semana todinha. Começa a arrancar a segunda e o sábado, é.
P/1 – Arrancar a mandioca?
R – Arranca, bota pra casa de farinha, paga a rapadeira, né? E aí, a casa de farinha, aí, divido, os pessoal aqui não gosta de trabalhar, aí, comunidade vendeu o motor, vendeu o motor a comunidade, e o forno foi abandonado. Eu que vejo os tanque de tirar goma. Aí, quando foi agora eu ajeito, eu ajeitei tudinho. Já tá ajeitado, vou só dar um reparo pra modo de num saber tirar a goma, né? O forno, ajeitei ano passado, tava bom. Aí, eu fui e comprei um motor, comprei agora, 500 conto. Motor de puxar a mandioca, sabe? Bota lá no roldete, na bola que a farinha sai deste tamanho pra moer a mandioca, sabe? Aí, eu comprei um agora. Tá guardadinho aí, quando eu for fazer eu tenho, é meu, né? Não é de comunidade. Da comunidade teve um presidente, pegou, vendeu o motor e acabou sem nada.
P/1 – Ah! É?
R – Comeu o dinheiro, acabou-se.
P/1 – Mas aqui é o quê? Uma associação que tem aqui?
R – Aqui tinha uma associação, agora não tem mais não. Abandonaram. Num pago mais associação nem nada. Mas, nesse tempo, mais pra quando nós chegamos aqui tinha.
P/1 – Tinha?
R – Tinha. A casa de farinha foi feita, tinha a casa de farinha que foi feita, tinha um coletivo, aí, tem um sitio, um sítio aí. Aí, nós já limpava tudinho. Fim de semana se ajuntava aqueles, aquelas que era sócio. Parece que, não sei se era 11, acho que era. Aí, nós ia tudo, sábado nós ia trabalhar meio-dia, aí, limpava tudinho. Deixava tudo limpinho, né? Mas, agora tá abandonado lá.
P/1 – É, a gente vai, eu vou comentar, daqui a pouco vou perguntar pro senhor sobre aqui, né? Mas, eu ainda tô lá no sítio. (risos)
R – No sítio.
P/1 – O senhor criava animal também?
R – Animal?
P/1 – É.
R – Mas, no sítio, que, no sertão que eu morava?
P/1 – Isso, lá no sertão.
R – Criava. Criava lá, criava de porco, criava criação de bode, criação de ovelha, criava gado. Tudo eu tinha assim, mas era pouquinho, mas tudo eu tinha sementezinha. É, tinha umas vaquinha que era boa de leite, não faltava leite na minha casa. Meus filhos foi criado tudo com leite de cabra, foi, que é o leite mais forte que tem. Aí, eu dava muito leite lá pras criança, elas vinham buscar lá em casa. Aí, eu tinha leite de gado, aí, eu arrumava pros que comia de fora. Pros meus eu dava de criação. Eu tinha umas cabra boa, eu tinha umas cabra que dava dois litro de leite, só uma.
P/1 – Nossa.
R – Era.
P/1 – O senhor chegou a fazer queijo?
R – Não.
P/1 – Não?
R – Nunca fiz não. Comia só o leite com pão, era nossa merenda…
P/1 – E o pão era vocês que faziam?
R – Pão de milho.
P/1 – Pão de milho?
R – É, cuscuz que chama. Assado no moinho que é o mais gotoso que tem. Hoje em dia vende é pacote, né? Aqueles pacote, não tem nem gosto. Aí, lá, nós fazia era moer. Era. Deixava o milho de molho na panela, de noite. Aí, no outro dia ia e moía no moinho. Pra aí, botava, peneirava, fazia o pão, era bom. Era gostoso, né? Pão. Feito assim.
P/1 – E quem fazia o pão? Era a esposa do senhor?
R – Era. Eu moía e ela fazia, peneirava, era. Sempre eu ajudava ela. Quando eu não ia pro roçado eu ajudava.
P/1 – E seu José, que que vocês comiam assim, pela manhã, o café-da-manhã do senhor antes de ir pra...
R – Pro roçado?
P/1 – Pro roçado.
R – Era só o café mesmo. Aí, eu levava pra, farinha. Era mesmo era rapadura com farinha.
P/1 – Rapadura com farinha?
R – Era.
P/1 – Rapadura o senhor comprava ou...
R – Comprava.
P/1 – E a farinha o senhor fazia?
R – Eu tinha, né?
P/1 – O senhor já tinha?
R – É, a merenda mesmo, minha merenda era rapadura com farinha. E era, mas a melhor que tem, era forte. Porque a de hoje, graças a Deus hoje tem saúde e não sinto cansaço nem nada. Porque é, porque eu fui criado assim: com rapadura, com feijão, com pão de milho, umas comida assim grosseira, né? Agora, né? Esses pessoal hoje em dia, a maioria deles são doente. Porque essas comida aí, tudo que vem, tudo é enfeita. É salsicha, é linguiça, é leite daquilo, é não sei o quê, não sei; eu não gosto de nada disso. Às vez, quando eu tiro meu dinheiro vou pro mercado aí, eu compro mais ela, aí, ela compra aquelas coisa. Agora vai fazer o que com isso daí? Por mim, você leva, mas nem que eu queira. Ela compra pra ela e o filho dela, mas por mim. Agora eu falo em rapadura com farinha, feijão, pão de milho, carne de gado ou o de porco, aí, eu acho bom. Mas, essas outras coisas.
P/1 – E o almoço do senhor? Quando o senhor ia pro roçado, que que era? Quando o senhor voltava?
R – Feijão com rapadura.
P/1 – Feijão com rapadura?
R – É. Nesse tempo a coisa não é mais que nem como é agora. Coisa difícil. Eu não tinha emprego fixo, não era aposentado, aí, eu comprava aquelas comprinha feita. Eu ia pro Canindé, comprava, fim de semana comprava carne e, mas e não tinha tempero suficiente pra eu comer a semana todinha. Agora tem. Graças a Deus não falta não, mas também não tinha. Aí, meu foi, minha comida era feijão com rapadura, cuscuz, era. E achava bom e era forte.
P/1 – E a farinha também, né? Vocês comiam farinha?
R – Farinha, farinha, eu como farinha, mas não me dou muito. Não gosto muito de farinha não.
P/1 – Não?
R – Não gosto, não. Mais melhor cuscuz de milho.
P/1 – Por que o senhor também plantava o milho e fazia também, né? O cuscuz.
R – Era.
P/1 – E depois o senhor almoçava, descansava um pouquinho...
R – E voltava pro roçado.
P/1 – Voltava pro roçado e quando chegava em casa?
R – Eu com rapadura de novo, de noite, de tarde.
P/1 – Aí, comia também rapadura?
R – Ah! Era. Achava bom rapadura com feijão. Comia bem mesmo. Tudo, tudo que comia era rapadura. O pessoal: “Ah! Quem come doce dá diabete”. Diabete não dá de doce, não, porque se desse eu já tinha morrido há muito tempo. Quando eu nasci na Serra do Baturité, eu trabalhava lá, às vezes no engenho, sabe? Sou tronqueiro, de botar a cana no engenho e eu ficava debaixo tirando o bagaço. Tirava o bagaço pra modo de não entupir e jogava lá fora. Aí, eu, eu ia, primeira garapa que caía lá, já tava com a cuinha parando. Madrugada fria. Bebia todo dia. Comia rapa de gamela que era a rapadura, porque a gente sabe que faz a rapadura, fica aquela rapinha na gamela. Aí, eu ia e comia. Aí, eu, foi, aí, eu comia, assim, quando era meio-dia tinha aquelas pratadona de que, as fava, que na Serra do Baturité não dá feijão. Fava, aí, vinha aqueles pratão de, com aqueles pedação de toicinho, chegava a dar branco de toicinho e arroz e fava. Aí, era só lá que eu comia. Passava o dia todinho com a coisa do engenho e fruta. É, lá tinha muita fruta: manga, laranja, tangerina, lima; tinha de toda qualidade lá. É só o que tinha de fartura.
P/1 – O senhor ficou até que idade lá, mais ou menos?
R – Dezesseis anos.
P/1 – Até os 16 anos aí, o senhor foi pra...
R – Morar no sertão. No Canindé.
P/1 – No sertão?
R – Lá não tinha nada, só sequidão. Lá não tinha essas coisa, fruta, não.
P/1 – Então, você, o senhor meio que ficava ali no engenho? Vocês tinham um engenho?
R – Lá era, lá era. Na Serra...
P/1 – Na serra era um engenho.
R – ... do Baturité. Era, porque lá tinha um engenho e fazia rapadura.
P/1 – Fazia rapadura. E fazia cachaça também?
R – Tinha, tinha mas era fora, na Pindoba. Ficava bem pertinho de Aratuba. Lá tinha uma fábrica de fazer cachaça; chamava Cachaça Pindoba. Ela vinha numas garrafa, né? Não vinha em litro, não, neste tempo. Não sei se ainda tem. Lá era do finado Chico Nunes, que eu cansei de buscar cachaça lá pras bodega lá, a negada dava maior valor era pra cachaça da Pindoba, chamava Pindoba.
P/1 – Pindoba?
R – Era. O nome dela era Pindoba. Era.
P/1 – E no engenho o senhor trabalhava ali na rapadura? Produzindo?
R – Trabalhei em rapadura, era.
P/1 – E desde, o senhor começou com qual idade, mais ou menos, o senhor era pequeno?
R – Doze ano.
P/1 – Com doze anos?
R – Com doze anos comecei a trabalhar carregando cana em animal. E era o melhor cambitero da Serra do Baturité, era eu. Pegava, chamada, daqueles engenho porque eu enchia a casa de cana, ligeiro. E eu sozinho dava conta de botar cana pros engenho que fica, quando era perto, né? eu era chamado mesmo...
P/1 – E o senhor carregava o que? Nas costas?
R – Não, no animal.
P/1 – No animal?
R – Fazia, só. Eu chegava e botava o animal assim na leira, nos cortador, ia cortando, ia ficando na leira, sabe? Cana cortada eu botava ali. Aí, arrumava modo de botava nos cambito, botava do outro lado, botava pro outro até que enchia a carga. Enchia e amarrava.
P/1 – E era o quê? Jumento?
R – Era animal. Burro.
P/1 – Burro?
R – Era burro.
P/1 – E esse animal, esse burro era da família de vocês?
R – Não, era dado do dono do engenho. Era, a gente não tinha não. Era agricultor, nós fazia trabalho pros outro.
P/1 – O senhor lembra o nome do dono do engenho, naquela época?
R – Já faz um tempo que eu trabalhava lá tinha um engenho lá, era do finado Zervaso, o nome dele era Zervaso. Era um homem que tinha lá. E tinha um outro que era o finado Dedé. Tinha dois engenho: tinha um assim, tinha outro lá pra baixo. Aí, eu trabalhava em tosos os dois. Era chamado, aí, eu ia.
P/1 – E tinha um nome, o engenho?
R – Não.
P/1 – Tinha?
R – Tinha, não. Tinha o de lá debaixo chamava o Engenho da Tronqueira. Era, ficava dentro dum buraco com serrote do lado, serrote do outro. Aí, a cana era engenho daqueles alto e lá do outro era o Rei, do Rei do Meio. O Engenho do Rei do Meio.
P/1 – E ficava perto de qual município, ali?
R – Ali no mesmo que nós morava, Rio Nilo.
P/1 – Rio Nilo?
R – Era, era. Um povoadinho que tinha lá, ficava perto.
P/1 – Que era no município de Mulungu, então?
R – Era, o município era Mulungu.
P/1 – Ficava muito longe do centro de Mulungu?
R – Duas légua.
P/1 – Duas léguas?
R – Três pro Baturité. Era. E duas pra Aratuba, também.
P/1 – Aí, lá o senhor trabalhou então no roçado e trabalhava também no engenho?
R – No inverno roçado, no verão no engenho. Dava bom, dava maior valor. Não faltava dinheiro no meu bolso. Eu não gastava com besteira, né?
P/1 – E o senhor guardava esse dinheiro?
R – Dava pro meu pai.
P/1 – O senhor dava pro seu pai?
R – Ficava só com aquela coisinha pra eu ir pro Rio do Meio, aí, eu ia comer, comia um queijo com bolacha, essas coisas, suco. Sempre era assim. Às vez quando tinha festa, todos ano tinha festa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de lá, a padroeira de Mulungu, era Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, já ouviu falar da santa/
P/1 – Sim. Quando que era a data? Qual era a data da festa?
R – Era, tomara eu lembro, não sei se era novembro, 13 de novembro de... não, era uma data de novembro, aí. E aí, tinha a festa de Nossa Senhora de Fátima, do Catolé que ficava perto também. Também, esse era o fim do verão, também não tô “alembrado” não. Eu ia, né? Aí, eu tinha meu dinheirinho pra ganhar bem, né?
P/1 – E o senhor comprava o que com esse dinheirinho?
R – Era suco com pão, era queijo, era essas coisa assim, só bagulho velho mesmo. (risos) Dava valor.
P/1 – (risos) E o senhor ia sozinho?
R – Ia não. Ia mais meus amigo, mas toda a vida eu fui cabreiro, eu sou...
P/1 – O senhor era desconfiado?
R – Era. Eu tinha meus amigo, mas só pra andar mais ele assim, né? Mas, conchegar quando eu queria comer, eu, eu, eu, na minha cabeça coisa de gente novo mesmo, eu disse “Olha, não arrumo”, aí, tinha dois ___00:32:46____ mais eu, aí, eu num vou mais comer esses menino tudinho. Pra que eles quiserem, trabalhe como eu trabalho. Aí, eu ficava pro lado deles e escapulia, me escondia deles, saía e ia comer. Eles ficavam só (risos), eles nunca gostavam de merendar e dar a eles não. Que eu pensava, óia, eles são novo que nem eu, pra que deve ter o dinheirinho deles.
P/1 – E eles não trabalhavam também?
R – Talvez, né? Mas, eu não gostava de dar a eles, não. Que eles trabalhasse que nem eu trabalhava.
P/1 – E o senhor lembra o nome dos amigos do senhor?
R – Não. Tem mais lembrança não, faz muitos anos, né? Nesse tempo eu tinha 13 ano, 14 ano, neste tempo.
P/1 – E o senhor lembra de mais alguma festa que tinha naquela época, assim, festa de padroeiro, de santo?
R – Tinha. Tinha do Mulungu, mas eu nunca fui não porque lá a gente ia no Baturité, Santa Luzia. Mas, também não ia, não. Que era longe.
P/1 – O senhor só ia no Rio Nilo, então?
R – Ia no Rio Nilo, na Pindoba, na Pindoba mesmo, no Catolé.
P/1 – No Catolé?
R – No Catolé, é.
P/1 – Que aí, era Nossa Senhora do Perpétuo Socorro?
R – Do Rei do Meio, era. A do Catolé era Nossa Senhora de Fátima.
P/1 – Nossa Senhora de Fátima?
R – Era.
P/1 – Então, a festa era na igreja?
R – Na igreja, era.
P/1 – Na igreja?
R – Era animado, tinha roda. Me “alembro” que num tempo nós, quando eu era menino, aí, tava eu e minhas duas irmã, era dois mais, os três mais velho, aí, na sala não sei o que aconteceu, aquela roda que chama roda, a espalhadeira. Espalhadeira, não, barão, uma que roda, assim, não sei como é o nome dela, aí, tava...
P/1 – O carrossel?
R – É, era.
P/1 – Uma espécie de carrossel?
R – É, mas era a roda, tinha uma roda, né?
P/1 – Ah! Era uma roda?
R – É. A pessoa de “assentava” naquele banco. Porque tem a espalhadeira, que é outra, né? Aí, tinha essa, né, não sei como era, tinha a gigante que era outra, neste tempo não tinha gigante, não.
P/1 – Tinha um parquinho, então?
R – Tinha. Lá vinha pra lá. Aí, nós se acertava que uma hora encheu demais, aí, quando ela ia começando a rodar, estourou-se bem no meio. Estourou-se, passou uma ponta pela outra, aí, mas aí, não aconteceu nada com nós, não. Caímos, um bocadinho caiu, aí, outro caiu e ficou um rapazinho que me lembrava – como era o nome dele? Esqueci – tinha gente de uma ponta a outra prensada, gente mais feio do mundo, pobrezinho que morreu prensado.
P/1 – Ele morreu então?
R – Não, mas depressa, tiraram ele de dentro. Desmancharam uma parte dela, já tinham arrancado, foi e tiraram ele. A ponta passou pela outra. Aí, prensou ele.
P/1 – Nossa!
R – O pobrezinho gritava com uma dor. Aí, apertou.
P/1 – Ele não sobreviveu, então?
R – Foi internado, morreu não. Agora, tem num canto num bato de terra, aí, morreu um. Mas, aí, foi a espalhadeira. Arrumou uma cadeira daquela, caiu dentro dum arrumo de tijolo, lá longe. Era, parece que era uma mocinha lá. A outra lá mesmo ela morreu. Ela arrumou, já não tinha na espada aquela cadeira mais solta, uma cadeira daquela com ela dentro.
P/1 – E tinha circo?
R – Circo?
P/1 – Circo, nessa época.
R – Tinha, não.
P/1 – Não, né?
R – Não, não.
P/1 – Então, tinha esse parque que tinha os brinquedos, né?
R – É, no Rio do Meio, era neste tempo, né? Mas, nesse tempo era uma pobreza, assim, agora não. Hoje em dia, tem uns “parco”, tudo são uns “parco” rico. Aí, por Siupé, mesmo, aí, toda vez que a gente... Siupé, conhece não?
P/1 – Não.
R – Dê um ando pra tu ver. Aí, em Siupé tão dando a festa da Santa, daí, de Siupé.
P/1 – Ah! Sim, a gente passou por Siupé.
R – Rapaz, eu vou dizer uma coisa, aí, é, tem “parco” aí, de todo jeito. De todo jeito. E enche mesmo, a festa é medonha. Gente que falta não caber.
P/1 – Mas, então naquela época a diversão ali em Rio Nilo era das festas, então? Da igreja?
R – Era boa, era. Tinha leilão.
P/1 – Leilão?
R – Leilão, tinha.
P/1 – De quê?
R – Leilão é a pessoa tirar prenda, né? Tirar prenda. Aí, a pessoa naquele tempo faz, aquelas noite era pra dar dinheiro de novena. Aí, faz aqueles bolo, aí, assa aqueles, mata as galinha, tira de prenda aí, assa. Enche ela e assa. Aí, bota nas mesa lá e assa pra leilão. Aí, tem o leiloeiro lá que vai gritar, aí, vai apurar dinheiro. Aqui em Siupé tem também.
P/1 – O senhor já ganhou algum desses?
R – Não, nunca arrematei. Faz é arrematar.
P/1 – Ah! Arrematar, é o leilão, né?
R – (tosse) É. Ali, quanto mais ele bota mais dinheiro, é quem leva.
P/1 – E bingo? Tinha bingo?
R – Agora, bingo tinha lá na Fazenda São Paulo onde eu morava que tinha festa. A festa de Nossa Senhora. Nove novena, o mês todinho. Novena toda noite. Mês de maio. Acho que ainda tá, ainda lá, nós tamo em maio, né? A derradeira parece que é amanhã. Lá te bingo toda noite. Eles inventam uma coisinha e bota um bingo.
P/1 – Mas, naquela época do senhor, quando o senhor era mais jovem, tinha bingo também?
R – Lá, tinha. Lá toda a vida teve. Aí, lá sempre eu ganhava. Ganhava lata de doce, ganhava queijo, ganhava frango. Sempre eu ganhava. Mas, mais quando eu morava lá, né? agora aqui, aqui não tem isso não.
P/1 – E quando o senhor saiu de lá, né? Que o senhor saiu jovem de lá, uns 16 anos?
Re da Serra do Baturité, foi.
P/1 – Isso. Lá em Nilo.
R – Dezesseis anos.
P/1 – E quando o senhor chegou nesse sítio, né? São Paulo...
R – Isso, é uma fazenda.
P/1 – Na fazenda dos padres, né?
R – São Francisco, é dos padres.
P/1 – Isso, de São Francisco o senhor, houve uma mudança, o senhor tinha, conseguia ir pras festas também ali na região, ou não?
R – Conseguia. Lá era melhor.
P/1 – Era melhor?
R – Era, que tinha mais. Na Serra do Baturité tinha mais era longe uma da outra. Ali, não. Aí, tinha muita festa, festa de santo e tinha de forró e de sanfoneiro. Nesse tempo era sanfoneiro, não era essa banda velha não. Era, tinha muita.
P/1 – E o senhor lembra alguma música, assim, da época?
R – Não.
P/1 – Lembra não?
R – Caía mais era música do finado Luiz Gonzaga, essas coisas.
P/1 – E o senhor ouvia muito Luiz Gonzaga?
R – Ouvia, mas não sei música dele não.
P/1 – E o senhor tinha rádio, naquela época?
R – Tinha, gostei muito de rádio. Dormia com o rádio no pé do ouvido no tempo que morava no sertão. Aí, quando era de noite, era oito hora, já era hora de eu ir me deitar, aí, botava um deles pra me lembrar de botar o rádio e acordar pro esporte, eu não perdia um, que eu sou torcedor do Ceará, aí, não perdia não. Toda noite, toda noite, jogo, não perdia um. Agora não, agora tô assistindo mais pouco. Mas, de primeiro não, não perdia não.
P/1 – E além do jogos, o senhor tinha algum programa que o senhor gostava de ouvir?
R – Tinha, meio-dia. Um pro esporte.
P/1 – De esporte também?
R – É, eu gostava muito de assistir o esporte antes de ir pra roçado, aí, eu almoçava, aí, eu pra dentro duma rede lá me deitar, aí, levava o radiozinho, botava lá. Aí, assistia o esporte. Neste tempo era o Gomes Faria, tinha. Tinha um, aquele, um moço que morreu já e é muito, gostava muito.
P/1 – E quando o senhor tava lá na fazenda de São Francisco, quando o senhor já tava casado, assim, vocês iam pras festas com a família?
R – Ia. Uma vez nós ia, quando tinha umas festinhas mais perto, aí, nós ia.
P/1 – Aí, ia toda a família?
R – Era.
P/1 – Aí, como vocês iam pra lá? Vocês iam a pé?
R – Ia de pé, às vezes deixava aqueles que era maior, já tava grandinho, aqueles que era mais pequeno ficava mais a vó deles. Que era muitos, não era? Começou a nascer muitos.
P/1 – Ficava com a mãe do senhor?
R – Era. A mãe dela.
P/1 – A mãe dela?
R – Era.
P/1 – E tinha igreja lá, tinha capela?
R – Tem, tinha, tem.
P/1 – E tem, né?
R – Tem. Reino do Alto lá, a festa de lá da padroeira lá, São Paulo, é. Uma igreja que tem, Reino do Alto. É bonito lá o lugar onde tem a igreja.
P/1 – E o senhor costumava ir à igreja, assim?
R – É pertinho que nós morava, perto. Não perdia não. Novena, festa, missa de domingo. Nós ia. Era.
P/1 – O senhor tem alguma lembrança dessa época lá na igreja, a capela?
R – Tem. Tem porque é um tempo duma festa lá que eu botei até uma barraca. Aí, teve a festa, depois da festa tem a vaquejada, aí, eu fui e botei uma barraca.
P/1 – Barraca de quê?
R – Barraca pra vender coisa, bebida e bagulho, essas coisas assim. Aí, eu botei, aí, passei a dar de novena, no outro dia teve a missa, aí, quando foi, fui e levei a barraca lá pro padre de onde ia ter a vaquejada, né? Aí, lá tem a vaquejada, passei o dia vendendo, era cerveja, era tudo, toda qualidade de bebida. Lá eu vendia lá. Era.
P/1 – E o senhor conseguia tirar um dinheirinho lá?
R – Tirava, era, tirava.
P/1 – Era bom? Era melhor do que vender alguma coisa do que o senhor fazia, assim? O senhor vendia feijão?
R – Vendia, vendia. Mas, a barraquinha não era melhor não porque lá era pouca não. Da safra do que eu fazia, quando eu apurava, eu apurava mais, né? Negócio de bicho, vendia, criação, porco, então eu apurava mais.
P/1 – Mas o senhor vendia onde? Tinha alguma feira?
R – Não. Vendia, os comerciante lá mesmo.
P/1 – Ah! O senhor oferecia, então, é?
R – Era. Às vezes eu levava pro Canindé, aí, às vezes eu vendia lá mesmo. Aí, eu tinha um bodinho bom de 20 quilo, 30 quilo, eu oferecia, o cabra comprada, matava. Criação de bode, criação de bode eu fazia mais era comer, que eu gostava muito de criação, aí, em 15, 20 dias eu matava uma criação lá em casa, aí, chamava a família da minha mulher, a minha, aí, era uma festa, aquela meninada. E ela era muito ajeitosa, fazia aquelas comida. Aí, quando era hora do almoço aí, ela botava a comida das criança, aí, sentava no chão naquelas mesa, sabe? Dá pra eles comer pra depois os grande ia comer. Era desse jeito. Aqui era a mesma coisa. Aqui, teve uma época aqui que ajuntou a família, a nossa família tudinho. E filho e nora e neto e outros amigo que eu tinha, nós tinha, que eu sei que a gente tudo deu 60 e tantas pessoa. Aí, eu matei, parece que foi um porco, foi nesse tempo, um porcão grande, tinha galinha. Que eu sei que foi, passou bem dois dia, uma festa de, da casa não coube não, dormia com os debaixo, que ali pra dentro ali tinha um bruta plantio, sabe? Aí, amarrei de noite, aí, dormia fora. Era bom nesse tempo.
P/1 – Muita gente?
R – Era, todo mundo gostava de nós.
P/1 – Seu José e quando o senhor se casou, o senhor fez festa, teve casamento? Foi casamento na igreja?
R – Foi. Nós “casemo” no Canindé, aí, teve, foi um dia que nós “casemo”, foi eu e outro colega meu com uma prima dela. Foi dois casamento num dia só de uma família só, sabe? Aí, o outro até morreu, o finado compadre Valdemar que era o marido da comadre Ana, né? Prima legítima da finada Maria. Aí, foi, nós casamos tudo num dia, foi no dia, aí, fizeram a comida deles lá na casa deles lá, do pai deles e eu foi na casa do meu sogro. Muita comida lá. (tosse) Quando foi de noite teve a festa.
P/1 – E como foi a festa?
R – Festa de dança, né? Um sanfoneiro lá e tinha muita coisa.
P/1 – Foi um sanfoneiro pra tocar então?
R – Foi, tinha muita gente. Aí, fez a festa, né?
P/1 – A noite toda?
R – A noite todinha. Foi.
P/1 – O senhor dançou também?
R – Foi, neste tempo gostava muito de festa, foi demais de brincar.
P/1 – O senhor gostava de dançar?
R – É, mas depois que eu me casei, abandonei. Aí, não quis mais ir de jeito nenhum. Aí, que eu ia, eu ia, mas as menina já tavam grande, mocinha, aí, já existia num forrózinho lá, uma brincadeira pra modo de “ah! Rocha, mas, as menina não vão nada”. Não venho no forró, não danço mais. Se as menina quiser ir elas vai, aí, ela ia mais as menina, mas eu ficava em casa com os outro pequeno. Eu sempre gostei, mas depois que casei eu não gostei mais de dançar não.
P/1 – Por que, Seu José?
R – É porque eu não gostei mesmo. Dizia, “Olha, casei”. Sempre quando eu, me “alembro” quando era jovem que eu ia pra festa, eu ia dançar e namorar. Passava a noite dançando e namorando, eu era muito namorador quando eu era jovem.
P/1 – Ah! Sim...
R – Era. Gostava das menina e as menina gostava de mim porque eu não fedia à cachaça, né? Cigarro, sarro do cigarro, não fedia. Aí, eu tinha muita sorte pra arrumar namorada, mas toda a vida eu fui meio cabreiro, eu era meio experiente. Não gostava quando eu pegava uma doidinha, eu caia fora era cedo.
P/1 – Era?
R – Era. Eu não gostava dessas coisa perigosa não porque...
PAUSA
P/1 – Pode começar, tava falando que não gostava das doidinhas.
R – É, eu não gostava, aí, sim, eu gostava de brincar e namorar, gostava demais. Eu era namorador, já. Quando era novo.
P/1 – E as mulheres chegavam, assim, elas queriam?
R – Era, era. Toda moça que eu namorava, a maioria quando eu já tava na idade de 18, 20 ano, elas tinham vontade de casar comigo, mas eu sempre, eu não queria me casar lá. Com as boa é brincar, né? Aí, eu ia pro forró, tinha uma casinha do forró que eu tive de três namorada. Três.
P/1 – Eita!
R – Cansei de fazer isso. Enganando todas as três. Foi pecado, Deus me perdoe.
P/1 – (risos)
R – Aí, eu tava com uma, namorava com uma, ela não, dançando, aí, as outra num dava, num via, né? Aí, acabava pro final.
P/1 – Elas não ficaram com ciúmes, não?
R – Tinha delas que tinha. Aí, você vai, eu me “alembro” de uma conta, que eu era, eu tava neste tempo, não tô lembrado da minha idade. Aí, essa dita mulher que eu me casei com ela, que Deus guardou ela, ela bem bonitinha, uma mocinha nova, ela tinha assim, mais ou menos 12 ano. Que ela tinha? Não. Era 12 ano. Aí, foi, um dia eu fui cortar meu cabelo lá num barbeiro que tinha lá, que ela morava vizinha. Aí, quando eu tava cortando o cabelo, aí, foi, ela chegou, né? Aí, ela entrou, foi disse uma prosa. Aí, eu Toinho Fera “Vou esperar essa menina pra me casar com ela”. Ela era pequenininha, ela. Aí, pronto! Aí, passou, nem tinha intensão, aí, fiquei, o tempo passando, o tempo passando. Aí, foi só o que deu, me casei com ela.
P/1 – O senhor se apaixonou por ela? Quando o senhor viu, o senhor falou: “essa daí” ...
R – Quando... Não, não, eu disse uma prosa. Eu disse pra Toinho Fera, o barbeiro que tava cortado meu cabelo: “Toinho, vou esperar pra essa menina pra me casar com ela porque ela é tão bonitinha, ela”. Aí, ele achou graça e eu também. Mas, eu disse por brincadeira, né? eu lá pensava que eu ia casar com ela? Aí, pronto. Foi, passou-se o tempo, foi crescendo, aí, ela começou a namorar, parece que eu fui o segundo ou terceiro namorado dela, foi eu. Ela com 13 ano. Aí, quando nós “casemo” ela tava com 14 ano.
P/1 – Ela tava com 14 anos?
R – Era.
P/1 – E o senhor tinha quantos anos na época?
R – Tava com 25.
P/1 – Vinte e cinco?
R – Quando eu me casei com ela, que ela tá pra, vivi, passei 43 ano com ela. Graças a Deus, muito bem casado.
P/1 – E quando vocês tiveram filhos?
R – Foi, o mais velho, é o Francisco. Graças a Deus fui muito bem casado, nós nuca brigou, nós nunca eu traí, ela, nunca nem ela eu. Foi um casamento guiado por Deus, mesmo. Pois, é.
P/1 – E os filhos do senhor? Aí, foram crescendo, ali em São Francisco.
R – Foi, na fazenda lá.
P/1 – Lá na fazenda.
R – Carregando no encosto de jumento, meia légua lá de casa pro açude. Carregando água, nós tinha meu jumento, carregava dois jumento, aí, carregava num barril com caneca, que chama. Era quatro caneca, era oito caneca a carregar porque eu tinha criação pra beber lá e aí, porco e tudo e nós, gastar.
P/1 – Vocês moravam perto de um açude?
R – Era meia légua.
P/1 – Meia légua?
R – Meia légua e os menino, meus menino quando começava a crescer era quem carregava a água. De jumento.
P/1 – De jumento?
R – É, eles vinham buscar um comboio d’água. Quatro, oito caneca.
P/1 – Aí, a água era pra tudo?
R – Era pra tudo, pra beber, pra gastar e pra, pros animais.
P/1 – Pros animais também?
R – É. Pras cabrinha que eu tinha. Porco. Quer dizer, tinha uma bomba lá dum poço profundo, sabe? Mas, a agua só prestava, nenhum bicho queria beber, era salgada que só.
P/1 – Era salobra?
R – Era salobra demais. Era ruim.
P/1 – E vocês viveram algum período de seca forte lá?
R – Vivemos.
P/1 – E como o senhor fazia, então? Como a família fazia pra água?
R – Não, os açude resolvia isso de água.
P/1 – O açude nunca secou?
R – Não, não. Nunca secou. Aí, o trabalho não teve neste tempo todo. Toda vida eu fui “escarracador”, esse negócio de “percurar” coisa pros meus filho. Nunca deixei eles passarem fome não. Aí, o Governo mesmo, fez pra gente (bocejo) repiquete, aí, eles botavam os registro pra nós, né? Fincava cacimbão ou fazia açude, num sei que, aqueles homem mais rico. Fazia açude na fazenda aí, eu me alistava aí, eu ia trabalhar. Ia trabalhar pra ganhar. Aí, eu ia trabalhava no sítio do Governo e trabalhava pra mim. Aí, veio inverninho fraco, mas eu tinha muito cuidado, aí, eu plantava. Aí, às vezes acontecia de só eu fazia legume. Muito feijão, milho. Fazia. Eu trabalhava numa terra muito fresca, que é lá e dava feijão, milho. A gente fazia. E ganhando dinheiro do Governo, trabalhava todo dia, mas não deixava faltar nada. Eu toda a vida fui cuidadoso, nunca gostei de tá parado não.
P/1 – E um trabalho que o senhor fez assim pro Governo, que que era assim? Era construir? Era a construção, então?
R – Não, é. era negócio de açude.
P/1 – De açude?
R – Era.
P/1 – Como que era o trabalho? Fala pra gente.
R – O trabalho era carregando carro de mão. Era manual.
P/1 – Era manual? Vocês iam abrindo mesmo, escavando?
R – Tinha. É, cavando barro e carregando tona na parede. Porque era as turma, não era? Aí, nós ia pro “empeleita”, nós. Ia de manhã bem cedinho, aí, de lá tinha o gerente, aí, nós pegava o carro de mão, uma pá e uma chibanca. Aí, nós ia pro barreiro. Aí, nós ficava arrumando um bocado de barro e tinha o dador de “ficho”, ficava assim na entrada que nós passava na riba da parede, aí, ele ficava dando a ficha a nós. Cada carrada que nós botava ele dava a ficha. Aí, na vez tinha que dava duas ficha pra ajudar nós.
P/1 – A ficha era o quê? Era o pagamento de vocês?
R – É, não. Fichinha era uma quantidade de carrada que nós botava pra ganhar o dia, né?
P/1 – Ah! Então, vocês com essa ficha é que vocês iam receber, então?
R – É, não. Não recebia nada, recebia as ficha pra tá valendo um dia, o dia.
P/1 – Pra contar o dia de trabalho de vocês?
R – É, bem. A quantidade eu botava era mesmo 20 carrada. Botava 20 carrada era 20 ficha que ele me dava, né? Quando eu enterrava aquelas 20 ficha aí, eu parava. Aí, ia embora. Podia ser dez hora, podia ser, o dia tava ganho.
P/1 – Tinha que completar 20 fichas então?
R – Era. 20 fichinha, que nem ficha de sinuca, mesma coisa.
P/1 – Aí, essas fichas contavam o trabalho de vocês?
R – Era. Aí, a gente entregava a ficha lá, aí, o apontador apontava, né? nosso dia, a gente ia-se embora. No outro dia, ia de novo. Era assim.
P/1 – E o pagamento?
R – O pagamento era por quinzena, de 15 em 15 dia. Tinha, às vez, era do finado Antônio Monteiro era rico, os açude era dele. Aí, tinha o fornecimento, aí, a gente comprava lá. Quando era no dia do pagamento, a gente tirava aquele, pagava o lá, o coiso, o fornecimento
e levava o resto do dinheiro pra casa.
P/1 – E era muito dinheiro?
R – Era nada.
P/1 – Era pouco?
R – Naquele tempo era, assim, mixaria que a gente ganhava.
P/1 – E que que dava pra comprar?
R – Agora, dava, porque neste tempo as coisa era barata também, né?
P/1 – Mas, dá pra comprar o que por exemplo?
R – Dava pra comprar o feijão, o açúcar, comprar o arroz, um tempero, rapadura. Essas coisa tudo dava. Bolacha pros menino. Era.
P/1 – Então dava pra comprar alguma coisa, então?
R – Dava.
P/1 – E o senhor chegou a trabalhar mais em outra coisa, assim...
R – Não, não.
P/1 – ...dessas de, além de trabalhar com a carrada ali no açude? Outras coisas o senhor fez?
R – Não. Trabalhava só em roçado mesmo, no campo mesmo. Eu trabalhei muito assim com, em tempo ruim, quando havia seca.
P/1 – Agora, Seu José, quando a gente fala assim no Nordeste, né, que o verão, o verão seria quais os meses assim pra gente poder registrar.
R – O verão?
P/1 – É.
R – O verão era no começo de julho.
P/1 – No começo de julho?
R – É. Até dezembro.
P/1 – Até dezembro?
R – São seis mês.
P/1 – E o inverno seria de janeiro...
R – Começa em janeiro.
P/1 – ...até junho?
R – Até junho.
P/1 – E o que que se plantava, por exemplo, no inverno? Que que vocês plantavam no inverno?
R – No inverno nós plantava o que nós queria, o que nós...
P/1 – Tudo?
R – Tudo. Se quisesse plantar uma batata, feijão, milho, mandioca, jerimum, melancia, pepino. O que quisesse plantar.
P/1 – O inverno era o momento de plantar, então?
R – O momento de plantar, o tempo do verde, né? No tempo que as menina lá, num tempo que eu morava no sertão, vou contar essa história. Sempre eu pedia a Deus: “Meu Deus não me esquece...”. Um dia Deus me dê um canto que eu viva mandioca e que eu viva aqui no sertão. Aí, quando foi um dia que eu vim forçado, que eu tinha uma irmã lá que era forçada e tinha o meu cunhado, era gerente de uma padaria. Sempre, todo fim de mês, eu vinha pra ajudar a limpar a padaria e aí, ele me dava um sacão de pão desse tamanho, no tempo tinha os menino lá. Levava um saco de pão, era bolo, era frango.
P/1 – E a padaria era em Fortaleza?
R – Era em Fortaleza. Aí, eu levava pra lá pro interior. Levava lá era uma festa, chegava em casa era uma festa, animação. Me “alembro” como se fosse um eco, era um dia, eu vim, aí, na minha volta, uma amiga minha que morava ali vizinha duma fazenda que nós morava, ela foi-se embora pro Horizonte, pro Horizonte de Fortaleza pra lá. Tomei conta dum sítio lá dum Lustrosa. Esse, esse homem, ele era da mesma fazenda que eu morei, fomo criado junto, mas ele quando ficou grande lá em Fortaleza, aí, enricou. Era rico que só a peste. Aí, tinha essa fazenda, esse sítio lá e tinha outro ali no Gregório. Aí, o cara que tomava conta do sítio dele no Gregório, aí, tava roubando dele, né? ele foi e botou ele pra fora, aí, mandou essa Maria pra modo de arruma alguém pra tomar conta do sítio dele. Aí, a Maria foi. E foi justamente no dia que eu ia voltando com o sacão de pão. Aí, Maria: “Pra onde tu vai?” “Acho que eu vou pra São Paulo arrumar...”. Meu outro menino já era casado, o Francisco, o mais velho. “Vou chamar o teu menino, o Francisco ou o outro Francisco”. Tinha outro Francisco lá que morava no sítio, lá no sítio. “Ou o Francisco Rodrigues”. Aí, eu falei: “O meu não vem não, comadre”, falei: “O meu tem aí, o meu tem um gadinho e umas coisinha lá e não vai deixar pra nós pra tomar conta do sítio”. Aí, foi: “Vou chamar você.” Falou com o Francisco e ele disse que ao ia não, foi falar pro outro e o outro: “Não, eu não vou não que eu vou tomar conta do outro aposento do meu pai, da minha mãe, não dá pra eu ir não.”, aí, a Maria chegou lá em casa. Neste tempo, neste dia a Maria, a minha esposa tava pra operar com dois mês. Com dois mês que era justamente do caçula. Aí, foi a Maria: “Ó, Rocha, mas nenhum vai”, aí, eu fui me virei assim: “Bora, Maria, morar lá?” Perto das coisas, tá por Deus mesmo. Aí, foi: “É, que se você for, eu vou”. Aí, nós fomos, né? Viemos. Aí, ele foi buscar nós lá na entrada do ano pra morar em Gregório. Aí, eu tinha, eu tinha esse inverno na véspera de nós vim, foi um inverno muito bom, aí, eu tinha uma semente de gado de criação, aí, eu fiz um terreno grande assim, na minha casa, na frente da cozinha, né? Cerquei. Aí, já tinha um cercado, fiz, aumentei mais. Dava mais ou menos como um hectare de chão. Aí, fui olhar, espalhei o estrume dentro, estrume de criação de gado pra aí, dentro, aí, quando foi inverno, veio o inverno, aí, fui e plantei. Plantei...
PAUSA
P/1 – Isso, pode falar.
R – ... aí, foi menina, aí, eu plantei jerimum nesse coisa, carreguei um assim na frente, plantei outro. Saí, plantando, né? É, nela.
P/1 – Isso no terreno do senhor, né?
R – É, onde eu morava.
P/1 – Isso, onde o senhor morava?
R – Foi, isso eu tinha botado no roçado 40 litros de milho, bloquei sozinho e só sei que plantei, aí, foi invernão bom. Aí, como botar feijão e milho, jerimum mais milho, menina era que que você visse. Às vezes, vinha gente lá pra casa, sempre passava gente lá em casa. Chegava, a calçada ficava mais baixo, assim, a calçada mais alta, aí, chegava na porta e olhava. Ai só o dono do ofício, contava 70 jerimum, bicho que era, deste tamanho.
P/1 – Oh!
R – Jerimum, era, lá tinha demais. Quando foi num tempo que ele emagreceu, comecei a plantar jerimum. De lá e dos ossados, quando as apanhadeira de feijão ia apanhar feijão, de cada quatro dá um jerimum pra trazer pra casa. Aí, menina, eu tinha essa pancada que eu fiz, quarto cheinho de jerimum. Aí, comecei a botar no outro. Aí, só sabia que jerimum era 40 centavo neste tempo. Aí, eu, de besta, pensando que ia aguentar o peso ou dar mais, vou esperar pra quando ferrar de dar um real. Olha, quando fui, fui abaixar.
P/1 – Oh!
R – Abaixou pra 30 centavo. Aí, foi, eu fui bater lá num homem chamado Ferré, diz que era, tinha uma Mercedão, um caminhãozão. Aí, ofereci a ele, ele: “Vou comprar, mas eu compro a 30 e eu escolhendo”, eu disse: “Tá bom”. Aí, ele veio, né? Pensando que era pouco jerimum, né? Enfeitar o quartão cheio mesmo, que tu visse a fartura medonha. Aí, começou a pesar jerimum, botar isso, botando dentro do carro, aí, quando eu fui olhar o carro tava cheio. Mercedão cheio de jerimum, só jerimum grande, né? Aí, foi, ele me pagou, aí, foi-se embora. Aí, o resto que ficou, eu tinha um azar que comecei a cortar jerimum que botava na calçada, numa calçada pra elas comer. As menina, começaram a comentar o leite, me davam o leite dela, três vaca tinha. Aumentou, tinha uns porco, bicho chega que era redondo. Aí, eu fui aproveitar. Aí, que eu vim embora aqui pro Gregório, na entrada do ano de – não tô “alembrado que ano foi, meu Deus – aí, eu ainda trouxe, eu trouxe dois tambor de feijão; deixei um lá que não prestava de tudo. Deixei um tambor foi lá na casa do meu menino, lá. Jerimum ficou um bocado, eu trouxe outro. Comi o jerimum. Só sei que era jerimum demais. A safra era medonha.
P/1 – E o senhor deixou a casa, quem que ficou morando na casa do senhor?
R – Ninguém. Hoje em dia, tá só o canto lá. Ainda hoje passou um conhecido meu lá: “A casa que o Rocha morou”. Um tempo que ele me veio e me disse. Aí, Santos, lá passa lá na minha sala e lembra de mim.
P/1 – Então, ficou vazia?
R – Ficou vazia, aí, não morou, foi morar porque lá é deserto. Morava era meia légua de casa pra outra, sabe? Longe. Aí, derrubaram a casa. Derrubaram geral…
P/1 – Seu José, quando o senhor plantava o senhor usava algum tipo de produto pra praga, essas coisas?
R – Não, não. Eu nunca gostei.
P/1 – Mas, existia a época do senhor?
R – Existia, existia.
P/1 – Que que existia, tinha um nome?
R – Era veneno, era.
P/1 – Era veneno?
R – Não sei como era o nome, meu Deus! Era um veneno de litro. Ainda hoje, tem.
P/1 – Mas, o senhor já chegou a usar alguma vez?
R – Já, eu já usei já, mas não gostava não.
P/1 – O senhor usou pra quê?
R – Ah! Pra peste, negócio de besouro no feijão.
P/1 – No feijão que você usou?
R – É, é pra negócio de dar, sabe?
P/1 – Uhum.
R – Foi.
P/1 – Mas, hoje o senhor não usa mais?
R – Eu não gosto, não porque fica envenenado o legume. Depois, porque se é hoje em dia os pessoal são tudo doente, é. Porque esses feijão mais de ligação que você vê no verão, né? Aí, aquele ali é tudo é envenenado, é pulverizado com aqueles veneno. Negócio de verdura, horta, cebola, pimentão, tomate, tudo é pulverizado com veneno. Aquilo ali faz mal pra pessoa, faz mal é na hora, né? Pessoal vai ficando na velhice e vai aparecendo doença.
P/1 – Mas, sempre existiu essa coisa de usar?
R – Existiu.
P/1 – Sempre existiu? Na época do pai do senhor...
R – Existia.
P/1 – ...o pessoal também usava?
R – Sempre existia.
P/1 – Usava veneno?
R – É, eu nunca gostei de usar não. Meu feijão sempre é do jeito que Deus me dá mesmo sem precisar de eu tá pulverizando.
P/1 – Mas, o senhor conseguia ter uma boa safra assim?
R – Conseguia.
P/1 – Com...
R – Conseguia.
P/1 – E...
R – Ainda esse ano, ainda esse ano tenho feijão. Tô com um bocado de feijão pra baixo. Bem limpinho, graúdo e não foi pulverizado não.
P/1 – E, Seu José, quando o senhor foi pro Gregório, que o senhor aceitou lá trabalhar, né? Pra cuidar do...
R – É. Lá eu tava trabalhando, aí, quando o sítio lá do homem lá, era meio ser meu. Quando eu vim morar lá, lá o sítio era meio ser meu. Lá, eu tinha bananada, um bananeiral, banana casca-verde, do cacho que era deste tamanho. Eu podia de chegar lá e dar um cacho a um. Aí, eu comia lá, uma banana faz destruir. Manga, coco.
P/1 – E onde que ficava o sítio Gregório?
R – Fica, hein?
P/1 – E onde que ficava Gregório?
R – Ficava bem pertinho de Pecém.
P/1 – Ficava bem pertinho de Pecém?
R – É, hoje é. Sabe onde é que ficava? Ficava assim, ficava menos de dez minuto as outra fazenda. Justamente, assim. Dez minuto da fazenda que foi o primeiro que foi sair que foi a nossa, a nossa turma de lá, sabe?
P/1 – Então, lá se chamava Gregório? Lá?
R – É. Gregório.
P/1 – De Gregório?
R – Do Gregório.
P/1 – Do Gregório?
R – É.
P/1 – O Gregório era o dono?
R – Era o nome do lugar.
P/1 – Ah! Era o nome do lugar?
R – É.
P/1 – Era o que? Era sítio?
R – Era sítio.
P/1 – Sítio do Gregório?
R – É. Sítio do Gregório. É lá a donde tão acendendo a luz, tão fazendo luz agora. Mas, a donde que o primeiro que foi sair foi nós, de lá. A estar no primeiro assentamento fui nós.
P/1 – Então, assim, o senhor foi pra lá, o senhor lembra a época mais ou menos? O senhor já tinha todos os filhos do senhor?
R – Tinha, tinha. Não tô mais lembrado da época não. Mas, tá com uns 20 ano.
P/1 – Uns 20 anos?
R – É.
P/1 – Que o senhor foi pra lá?
R – Quando eu fui pra lá.
P/1 – E, antes, voltando assim um pouco antes, o senhor falou que uma irmã do senhor morava em Fortaleza.
R – Ela morava.
P/1 – Ela morava?
R – Sim, duas.
P/1 – O senhor conhecia...
R – Duas morava lá já.
P/1 – O senhor lembra quando o senhor foi a Fortaleza pela primeira vez?
R – Me “alembro”, não. No tempo que eu fui tirar minha identidade.
P/1 – Ah! É?
R – Foi. Faz muitos anos.
P/1 – Mas, Fortaleza era grande como era hoje? Não, né?
R – Não, mais pequeno.
P/1 – Mas, era uma cidade grande?
R – Era uma cidade grande, mas uma cidade mais de, não era violenta como tá agora e não era grande que nem tá agora, né? Porque tem muita favela, muita coisa lá de Fortaleza cresceu muito. No tempo que eu andava ali, Parancaba, aí, foi a donde eu comecei, andei, minha irmã morava lá, aí, era mais simplesinha. Agora, tá muito adiantado. Era.
P/1 – Mas, o senhor tem alguma lembrança, assim, de lá de Fortaleza? Assim, alguma história?
R – Não.
P/1 – Não? De quando o senhor ia pra lá.
R – Era perto. Eu ia num dia e voltava no outro, era.
P/1 – E o senhor ia de que? De ônibus?
R – De ônibus de Canindé. Toda vez teve o ônibus de Canindé a Fortaleza.
P/1 – E quanto tempo era de Canindé a Fortaleza?
R – Hora e meia, duas hora.
P/1 – Uma hora e meia. Era perto, então, né?
R – É, é perto.
P/1 – Aí, o senhor dormia na casa da irmã?
R – Da minha irmã, era. Eu ia sábado, voltava segunda. Eu ia sábado, domingo eu ia pra padaria, fazia a limpeza lá mais um sobrinho meu e o gerente lá que é o cunhado meu. Aí, quando era segunda-feira, aí, voltava de tarde, aí, me arrumava, aí, era segunda-feira, voltava pra casa. Era.
P/1 – E, Seu José, foi bom ter ido lá pra Gregório?
R – Foi bom, eu achei bom. Melhor que lá no sertão. As coisa foi mais fácil pra mim. Aí, eu fui, quando eu cheguei lá, aí, os menino, os troço que era dono do sítio, o salário nesse tempo era 80, aí, ó: “Vou pagar mais que um salário, vou pagar 100”. Aí, pagava 100, né? Aí, depois subiu o salário pra 100, ele pagou 120. Foi até na época que eu me vim embora pra cá, né, eu tava ganhando 120 reais por mês. Aí, tinha direito o sítio tudo que tinha lá, era o mesmo que ser o dono meu, só não tinha o direito de vender.
P/1 – O senhor podia plantar e ...
R – Podia plantar.
P/1 – ... a produção e vender também?
R – Era. Aí, eu tomava de conta de uma pocilga que a gente tinha, aí, limpava o sítio e ajeitava tudo, deixava tudo limpinho, né? Aí, ganhava o meu salário, aí, eu ficava, nas hora eu ficava trabalhando pra mim, plantando e assim era. Plantando uma batata, as wanda que eu tinha lá. E macaxeira, essas coisa.
P/1 – E a esposa do senhor trabalhava também no sítio, assim?
R – Não. Ficava só em casa.
P/1 – Ficava só cuidando das crianças?
R – Toda a vida ela trabalhava em casa. No tempo que, antes de nós vir pra cá, começou aconteceu lá nas coisa, a primeira que veio foi terraplanagem. Lá, nós não ganhamos nada não que era só as máquina trabalhando lá. os pó que cobria, eles tavam desmatando, né? Bem pertinho de onde nós morava. Aí, depois, veio acender a luz, deixou a subestação. Aí, subestação, aí, ela fazia merenda pros peão lá. Era muita gente trabalhando lá.
P/1 – Ela foi contratada?
R – Foi. E aí, ela morava, nós morava bem pertinho, aí, foi o gerente lá em casa e falou pra ela. Ela fazia bolo, ela fazia um bolo muito bom e suco e aí, todo dia ia deixar, café. De manhã e de tarde, deixava merenda, né? aí, foi num tempo que aqui já tava feita, aí, começou a se mudar gente pra cá, eu fiquei lá morando sozinho, o Inácio: “Rocha, aqui é seu, enquanto você tiver morando aqui, o que tiver aqui pode comer que é seu. Coco, o que tiver”. Aí, tinha um sítio do Antônio Gilberto, tinha um que eu tomava de conta e tinha um do finado Zé Severiano. Três tudo junto, né? agora, aquele sítio era adubado com adubo, aí, a terra era muito forte. Aí, foi, eu peguei, aí, foi num tempo que tiraram arame, tiraram, ficou tudo abandonado. Aí, o gado invadiram, comeram tudo, ficou tudo limpo, né? Aí, foi, peguei, cerquei aquele terreno, aí, fui e plantei feijão e milho. Menina, mas pense, deu foi feijão, a terra forte, adubada, né? Adubada, deu feijão e milho. Era um milho mesmo. Eu comecei a vender feijão pra subestação, levava pro Pecém. Eu sei que nós ganhamos muito dinheiro.
P/1 – Esses animais que entraram na terra era do sítio ou não? Eram de outras propriedades?
R – Era. Eram de outras propriedades, mas tava tudo já abandonado, né? Que era do Governo, né? Aí, foi soltar os animais, gado, aí, começaram a comer as bananeiral, tudo já tinha sido pago. Nós já tinha sido pago.
P/1 – Mas, Seu José, e a família que era dona do sítio, os “Troça”? Como é que chama a família?
R – De quê?
P/1 – Que era dono do sítio que o senhor foi lá.
R – Era Lustrosa.
P/1 – Ustrosa?
R – Lustrosa.
P/1 – Lustrosa?
R – É. Eu chamava ele de Dudé, mas o nome dele era Francisco.
P/1 – Lustrosa?
R – É o nome, sim, eu não sei direito não se o nome dele era esse não, conheci ele por Lustrosa.
P/1 – Mas, e aí, a família Lustrosa, quando...
R – Era a família que morava lá no sertão que eu morava, que é a Chaga, família Chaga. A mãe dele era Maria Chaga que era, essa família era muito grande. Família, parece que era 18 irmão, era.
P/1 – E, assim, quando surgiu essa história da construção do porto do Pecém? O senhor lembra quando surgiu isso, assim, quando começou a conversa de que...
R – Não. Eu do porto do Pecém eu ficava mais isolado, não pertencia a nós. Agora eu sei mesmo é da “sideluz”.
P/1 – Isso. Da siderúrgica.
R – Agora que tão fazendo.
P/1 – Ah! Mas, da siderúrgica como é que surgiu?
R – Ah! Surgiu que nós um dia nós tava lá bem tranquilo, nós tomando com nós cada caldo no seu lugarzinho lá, bem sossegado, né? Aí, chegou uma equipe lá do IDACE, né? Aí, começou a fazer, conversar. Foi logo lá pra casa, sempre toda a vida eu fui assim, gostava de ver todo mundo, né? Aí, eles começaram conhecimento com nós, começaram a fazer reunião, aí, pronto. Abriu esse negócio lá da “sideluz”, né? Aí, nós comecemos a trabalhar mais eles, né? Eles convidou eu e a minha mulher pra nós trabalhar, andar mais eles, “corregendo”, fazendo reunião. Desde o começo era nós. Aí, eles contando, fazia reunião no Pecém, tinha um, não sei como é o nome do coisa lá, tinha só doutor lá que vinha de fora, sobre esse negócio de acender a luz do posto. Aí, nós ia e só escutando mesmo as conversa dele. Aí, foi e aí, pronto. Aí, teve um bocado lá que era contra, não queria aceitar não, viu. Dado, deu questão lá, teve gente lá, que deu até bala lá um tempo. Tinha lá o Vicente, o Vicente Gilberto, que não aceitava não. Ele era da polícia, ele morava no Mato Grosso, ele tinha uma fazenda lá. Aí, ele veio, não aceitava não.
P/1 – Ele não queria sair de lá?
R – Não queria sair de lá. E não saiu, saiu? Não sei nem se ele já recebeu o dinheiro, que o dinheiro dele foi botado no banco. Aí, todo mundo saiu e ficou por lá até que eles levaram fim, saíram de lá também. Mas, que o Antônio Gilberto tá morando na Catuana. Antônio Gilberto sempre era a favor, né? Não dizia nada não. Agora ele era contra.
P/1 – E o senhor, que que o senhor pensava na época?
R – Aí, sim, aí, quando o IDACE começou a fazer essa reunião com nós, aí, contando como é que ia pra ser, nós tinha é que escolher uma equipe pra ir andar mais pra “percurar” uma fazenda, um lugar pro Governo comprar pra nós fazer o assentamento pra poder morar, né? Aí, um dos escolhido fui eu. Aí, depois já tava já bem começado, aí, foi, ele, nós saímos, né? Ele chamou nós pra nós ir “percurar” terra. Ah! Eu andei nuns lugar. Nós ia, eu ia, tinha terra que eu achava até bom, dentro de uma fazenda que tinha do Hernani Viana, fica do São Gonçalo pra lá, na beira da 0-20, 222, passa ali a linha do trem que era o bem dentro. Era muito bom, muita água lá, açude. Mas, eu e mais três acho que gostou, mas as três outro não queria. Esse pessoal de praia queria morar aqui a praia, né? não queria ir pro sertão, que lá era sertão. Eu, acostumado em sertão, né? Foi por isso que eles chamaram eu, porque eu era agricultor do sertão, conhecia terra boa. Aí, eles não aceitaram e pronto. Aí, de lá, aí, pá, teve o Zeferino, daí, de Siupé, aí, eu conversa mais ele, foi pra lá do Gregório, fez uma reunião com nós que tinha este terreno aqui que era do pai dele; pai dele tinha falecido e ele tinha esse terreno aqui que é grande, 75 hectare – Daqui vai você vai pro morro, pro lado do morro, ele descamba pro lado do morro, pra lá. Aí, foi o pessoal, nós viemos olhar. Foi fretado um ônibus, o homem rendeu um ônibus cheio de gente, aí, vinha pra cá. Aqui, só, não tinha nada. Não tinha casa, não tinha nada. Só tinha uma pocinha lá e umas casa velha de azulzinha, bem baixinha, reta. Não tinha outra casa de morar, não tinha aqui dentro. Aí, foi, nós olhemos, aí, todo mundo se animava: “Ai, nós quer aqui, aqui é bom”. Central, perto de Siupé, perto de tudo. Aí, só sei que balançaram, foi o Governo e comprou.
P/1 – O senhor também concordava que aqui era um lugar bom?
R – Ah! Concordava, né, porque eu tomei aqui de bom, né? Aí, foi, eles começaram a fazer a, contrataram a firma pra fazer 21 casa. Eu fui o primeiro que saí, de lá, justamente da siderúrgica, de onde tão fazendo agora. Aí, fizeram as casas, né? quando fizeram as casas nos veio morar aqui. Achei ruim porque quando cheguei não tinha nada, era tudo pelado.
P/1 – Mas, tinha a casa de vocês ou não?
R – Tinha as casas. As casas com energia.
P/1 – Só as casas?
R – E água, que tinha, né? Que tinha aquela caixa d’água ali, alta. Ali tava funcionando. Tinha uma pessoa, empurrava aqui o poço ali, é daqueles canão grosso, é 70 metro de fundura, mas não era boa não a água. Tem outro lá do outro lado, também tem um lá do outro lado. Aí, se quedou o prega, aí, a comunidade começou a furar poço nas casa, todo mundo furou um poço, aí, abandonaram o poço lá.
P/1 – Aí, o senhor diz aí, que fizeram o esgoto também? O poço pra pôr o esgoto do banheiro?
R – Tem não. Tem só as fossa.
P/1 – Isso, as fossas.
R – Tem, tudo tem.
P/1 – Então vocês receberam a casa já prontinha, com tudo?
R – Pronta, pronta. Com tudo. Agora, não tinha alpende, só a casinha com a, acho que já foi mudado dali, mas era só a casinha com uma areazinha pequena.
P/1 – Cercado também, a casa?
R – Não, não. Tudo no aberto, tudo num tempo sem ter nada. Não tinha coqueiro, não tinha nada. E tudo foi nós que plantemos, tá, essas árvores que tem.
P/1 – E no Gregório, era praia que vocês chamam?
R – Era praia, também.
P/1 – Era praia também?
R – Era bem pertinho de Pecém, era. Lá onde eu morava pra Pecém é mais perto que daqui pra Taiba, era.
P/1 – E a família que era dona do sítio, então, os Lustrosa, eles receberam indenização?
R – Recebeu. Recebeu e foi muito dinheiro. E era grande, né, e era bom, cheio de dedo. Aí, um dia eu tava com três, três ano ou era mais que trabalhava pra ele, aí, foi ele disse: “Olha, Rocha, preciso te dar nada não, vai ganhar uma casa, não sei o quê”. Sabe que gente rica é meio mão fechada? Aí, eu disse: “Não, Antônio, não vou atrás disso não”. Conhecido meu, nós fomos criados juntos. Aí, quando foi um dia, aí, andou um advogado lá em casa. Tinha um vizinho meu, né, eu gostava, o Fernandes. Aí, ele veio lá no Fernandes, o Fernandes gostava muito de ir lá em casa e foi lá em casa mais ele. Aí, nós comecemos a conversar por ali, aí, eu dizendo que ia sair, aí, perguntou quantos anos que eu tava lá. Eu tava com quase quatro ano, mais de três ano. “Mas, tu vai, ele vai te dar alguma coisa?”, digo: “Rapaz, um desejo nada não”. Aí, foi e pregou com a máquina que ele tinha os coisinho: “Rapaz, tu tem direito de 3 mil e tanto da indenização dos ano que tu passou aqui”, aí, disse: “Não, não vou atrás de botar na justiça, atrás disso não”. Aí, ele me deu muita coisa, né? Me deu a casa que eu morava, me deu material todinho de madeira, me deu um bocado de coisa, aí, eu: “Não vou atrás disso, não”. Dia, da coisa, que eu vim me embora já pra cá ele chegou lá em casa, esse homem. Aí, também não falei nada. “Rocha, desculpando, aí, né?”. falou comigo, tudo, “Não, Lustrosa, tá bom demais. Também não falei nada, também não foi homem pra meter a mão no bolso, dar bem de cem real, não. Também não falei nada.
P/1 – Ele não pagou o senhor, então?
R – Pagou não.
P/1 – O Lustrosa?
R – Não fui atrás, nem me deu nada.
P/1 – Mas, ele que, o tempo que o senhor ficou lá no sitio o senhor recebia esse salário?
R – O salário recebia, tudo bem direitinho.
P/1 – O senhor recebia?
R – Recebia, pagava tudo direitinho.
P/1 – O senhor ficou quanto tempo lá, mais ou menos lá?
R – Mais de três ano.
P/1 – Mais de três anos?
R – Trabalhava pra ele, foi.
P/1 – E o senhor recebeu também algum tipo de indenização do Governo?
R – Não.
P/1 – Não?
R – Não “arrecebi” que eu não tinha nada lá.
P/1 – Ou da siderúrgica?
R – Eu ganhei a casa, só a casa.
P/1 – Só a casa o senhor ganhou?
R – Só a casa. Foi. Esses pessoal que tem aqui, quase todos eles morava na casa dos outros, nas terra dos outro. Muito pouco que ganhou, que tinha um pedacinho, que ganhou alguma coisinha. No tempo do trabalho lá (tosse) quem tirava de 11 mil pra cima não tinha direito à casa. Nem tinha direito à casa e nem tinha direito à bolsa-alimentação que me deram pra, passaram perto, bem dois ano dando, todo mês isso aí, vinha pra nós, aquela bolsa.
P/1 – Que que vinha?
R – Botavam tudo, vinha tudo, por enquanto, era boa. Arroz.
P/1 – Era boa? Que que vinha?
R – Arroz, feijão, açúcar, macarrão, café, era tudo, tudo. De tudo vinha um bocadinho. Aí, fiquei.
P/1 – O senhor achou bom ter mudado pra cá?
R – Achei, achei. Porque aqui eu não tô trabalhado pros outros, né? lá, eu trabalhava pros outros, era. Não era meu sítio, não era? Aí, eu ganho essa casinha, essa casinha eu aumentei ela do material que ele me deu. Fiz outra, que eu fiz uma puxada, fiz um alpende grande, enfiei uma coisinha lá. Só sei que eu fiz muita coisa lá, ali. Aí, o meu menino tá morando lá, que já é dele mesmo, eu já tenho essa daqui, aí, ele tão ajeitando lá. Tão fazendo o acabamento, sabe? Rebocando a cozinha que não fizeram. Tão ajeitando lá, tá ficando bem boazinha.
P/1 – E os filhos vieram também pra cá? Os filhos do senhor?
R – Vieram neste tempo que eu vim pra cá, ainda tinha quando solteiro o Vanderlaine, é só o Vanderlaine, o Lucivandro, o Lucilando, o César e o Leonardo. Era tudo, era solteiro, morava mais eu. Aí, os outro não, os outro já era casado. Cada qual morava o seu lar.
PAUSA
P/1 – Agora, senhor José, o senhor tava contando aqui que os filhos do senhor também veio, vieram né, por aqui?
R – Neste tempo, neste tempo curto que eu fui coisa papeado lá, aí, que os filhos que morava mais nós tinha direito de lote, de fazer a casa aqui dentro, né? aí, só morava mais eu, seis, neste tempo. Seis era solteiro, os outro cinco era casado. Aí, foi, nenhum quiseram, falei. Em casa tão fazendo, mas é fora.
P/1 – Eles não quiseram ficar aqui?
R – Não, eles não gosta daqui.
P/1 – Por que que eles não gostam?
R – Não sei. Eles não gosta. Eles casaram, tem dois morando na Taiba, tem um morando lá no Bolso que foi desapropriado agora também, ele o Vanderlaine. Ele fez uma casinha boa lá, recebeu um dinheirinho até bom, comprou dois lote aí, na Taiba, fez duas, vai fazer duas casa, uma mais uma. E vai ganhar uma casa com terreno lá no, ali da Caucaia pra cá, no Garrote. Que é ganhou um terreno aí, sei lá, da família dele tudinho. O Governo comprou um terreno, aí, faz uma casa só pra família mesmo, só um alpende, só pra família. Não vai ser assentamento como nós aqui, misturado, não.
P/1 – Vai ser um terreno maior, então, que ele vai receber.
R – É, porque a sogra tem um terreno, é dela, sabe? Aí, mora os filho tudo dentro daquele terreno. Aí, vão comprar um pra fazer as casas tudo dentro do terreno também e mora tudo ali, no Bolso.
P/1 – E assim, o senhor recebeu o terreno, o senhor sabe me dizer quanto era a metragem do terreno que o senhor recebeu aqui?
R – Da casa?
P/1 – Do assentamento?
R – Do assentamento é 20 por 50.
P/1 – Vinte por 50?
R – É.
P/1 – E o senhor planta também, né, aqui?
R – Agora, planto fora, né, aí, as terra...
P/1 – Onde o senhor planta?
R – A terra fora é do Governo. Não teve não, não foi assim, repartido pra ninguém, né? Ninguém tem documento dela, nem nada. Aí, eu planto, só que planto mais é eu aqui dentro.
P/1 – Mas, o senhor pode plantar lá?
R – Posso. A donde eu quiser plantar.
P/1 – Mas, eles fizeram essa área pra vocês aqui do assentamento, pra plantarem lá?
R – Não, a donde eu planto se eu quiser, a área é grande. É, a donde quiser plantar.
P/1 – É pra quem quiser plantar?
R – É, pra quem quiser, sendo assentado, pode plantar, né?
P/1 – Mas, o senhor começou a plantar, que que o senhor tá plantando agora lá?
R – Agora eu planto feijão, roça, milho. Milho é pouco, não dá.
P/1 – Mas, só o senhor sozinho ou tem filho também?
R – Sozinho. Eu trabalho sozinho. Toda a vida eu gostei de trabalhar. Sempre eu trabalho só, não pago trabalhador, não pago nada, porque não adianta pagar trabalhador. Pagar um dia por 40 real, aí, aqui, o legume aqui é pouquinho que dá. Aí, agora no inverno eu plantei um bocado de feijão, tanto é que eu tinha feito uns 80 litro de feijão, por causa de boiado, uns 80 litro. Milho, não tem. Aí, agora em junho vai aparecer um pouquinho, dá pra eu comer uma canjica. E agora vai dá mais é a roça pra fazer farinha, né? Aí, eu planto roça, a rocinha tá toda ali deste tamanhinha, boazinha. Que o inverninho foi até, não foi bonzão não, mas dá pra criar. Aí, tá tudo limpo, eu deixei isso.
P/1 – O senhor tava comentando no início, antes, que no começo aqui o pessoal era mais organizado.
R – Era, era.
P/1 – Era mais unido?
R – Era. Era mais unido assim, porque nós trabalhava, nós trabalhava junto, né, de comunidade, hoje agora não tem mais. Vai pagar uma associação, todo mês era um real que nós pagava, todo mês, agora não tem mais, acabou-se. Nós se reunia de dia de sábado, ia trabalhar tudo junto, parece que era dez ou era onze pessoa, pra ter direito no sítio. O que o IDACE botou aqui dentro pra ser, não foi cumprido. Por que no tempo que ele fazia, tinha reunião toda semana, do IDACE. Eu era, tinha que estar toda semana com eles. Aí, dizia e todo mundo sabia isso.
P/1 – Que que eles prometeram, o IDACE e não cumpriram?
R – Eles prometeram umas coisa, a praça, nossa praça aí, foi prometida pra botar aí, frente, sabe? Onde tem a caixa d’água aí. Foi feito o fio de pedra todinho, que nem na rua. Arredou todinho, botado decibal vermelho, por trás de fora, aterraram pra fazer a praça, né? Era uma aqui, outra do outro lado. Aí, quem tinha de conta dessa aí, era a doutora, não tô “alembrado” como é que é o nome dela, comeu o dinheiro. Esse dinheiro, essa praça não foi feita. Ela, aí, quando foi um dia...
P/1 – Ela era do IDACE?
R – Era. Aí, um dia ela veio pra aí, pra reunião que teve aí, e nós cobremos dela, “Ah! Vocês já podem limpar lá, já podem limpar o canto das praça”, que tava um matinho, sabe? Daí, limpemos, fizemos tudinho que ela ia mandar encostar o material. Até hoje nunca veio. Nunca, ai não foi feita. Ele prometeu foi isso.
P/1 – E vocês não cobraram depois?
R – Cobraram, mas não veio nada não. Não fizeram não. Tá aí, só o canto aí. Se a pessoa quiser fazer a casa, pode fazer a casa lá. Do outro lado fizeram uma igreja, do outro lado. Igreja evangélica. E aí, tá aí, o terreno aí. Ainda fizemos a casa de farinha, lá foi feito com um dinheiro eu o Governo deu, foi 50 de mil pra nós aqui.
P/1 – E o senhor lembra quem é que deu? Foi o Governo Federal?
R – Foi o Governo, aí, foi o Federal?
P/1 – Foi o Federal?
R – Foi o do que pertence ao assentamento, sabe?
P/1 – Ah! É, então foi o Governo do Estado?
R – Foi o Governo do Estado, é. Aí, foi veio 50, a primeira vez, veio 13 mil. Neste tempo, quem era o administrador aqui, neste tempo tinha comunidade, era a mulher, ela quem era a presidente, passou quatro ano. Então, o pessoal abusava muito ela, ela chorava, chorava que só fazia chorar. O pessoal daqui são ruim também, tem muita gente ruim aqui dentro. Aí, foi, ela deixou, entregou pro Careto. O Careto que era outro assentado, sabe? Aí, acabou o que tinha, vendeu o motor, vendeu o que tinha, aí, era o que eles queriam, isso aí, e pronto.
P/1 – Acabou o quê? A casa de farinha? Ou tudo, a organização?
R – Não. Acabou a organização não fizeram, nem era pra ser, né? Gente só queria vender as coisa já que tinha, porque o Governo tinha dado. Tinha o motor aí, que não vendeu aí, porque eu não deixei, o motorzão de “echar” óleo. Que ele puxava água lá debaixo daqui pra cima, o pessoal ficava tudo feliz que puxou a água. Queira vender os poste pra uma rede de energia que foi botado daí pracolá, aí, queria vender os poste, eu também não deixei.
P/1 – Ele queria vender os postes?
R – Era. Mas, agora porque tinham roubado os fio tudinho, sabe? Roubaram, aí, tava só os poste, é, quatro poste. Aí, queria vender, eu também não deixei não. Não vai vender não porque isso aí, não custou nosso dinheiro, é coisa que o Governo botou aí, se nós vender aí, que um dia que o IDACE vem aqui atrás desses, porque ele que botou, que história que nós vamos contar? Você vem, parte duma mixaria a um, parte uma mixaria a num, acaba de nada, que nem um uns cano de duma ligação que foi feita lá, foi vendido os troçalzinho de aguar, sabe? Ele vendeu uma carrada aí. Aí, cada caro perdeu dez real, parece que foi, nem ___01:25:10__ se tivesse que guardar dinheiro, um dia podia até precisar. Aí, tem uns outros cano, aqueles cano do motor ficando de plástico azul, daí, tá na casa de farinha, né? É.
P/1 – Mas a casa de farinha é utilizada ainda?
R – É, é. Lá eu mando fazer minha farinhada todos os ano. Mas, faz eu, outro não faz não. Eu e um rapazinho aqui que tem bem aqui também faz, o João. Um bocadinho. Aí, os outro não faz não, não planta roça.
P/1 – E o que que o pessoal vive daqui? De quê?
R – É, a maioria é aposentado, né? Aí, os que não são aposentado, aí, tem gente trabalhando, aquele do Francisco de Assis, ele não é aposentado não, mas ele trabalha, teve já até desempregado um dia desses. Aí, só eu, agora ele tá trabalhando fora, né? Aí, ganha aquele dinheirinho, aí, os outros são aposentado. Tem o Antônio, o Zé, tem esse velho aí, tem esse outro velho aí. Tem a velha aí, tem a outra velha lá em cima, tem eu. Tudo são aposentado.
P/1 – Mas, o senhor não é aposentado?
R – Eu sou aposentado.
P/1 – Ah! O senhor é aposentado?
R – Mas, eu trabalho do jeito que eu trabalhava quando eu não era. A mesma coisa, não tem diferença; do jeito que eu trabalhava quando não era aposentado, tô trabalhando agora. Aí, eles chega: “Rocha, trabalhar? Mas, sem eu trabalhar tô ganhando dois salários, pra que tu trabalhar?”. Eu digo: “Mas, eu acho tão bom ter meu feijãozinho, ter minha farinha sem eu comprar. Faz muito tempo que eu não compro feijão, farinha.
P/1 – E o milho, também o senhor...
R – Agora, milho não dá não.
P/1 – Não dá, dá pouco, então?
R – Pouquinho.
P/1 – E frutas, assim, o senhor tem frutas aqui?
R – Caju. Tem cajueiro, muito cajueiro. Quando é no tempo da safra de caju, vai caju mesmo que sobra (tosse).
P/1 – O senhor chega a vender essas, aquilo que sobra?
R – Castanha.
P/1 – Castanha?
R – Castanha. Nesse ano eu fiz perder foi uns seis saco, foi sete, castanha.
P/1 – E o senhor vendeu aonde?
R – Eu vendi aí, a mulher que compra pro Zé Maia, pro Chico Maia, lá de São Gonçalo e a mulher lá de Siupé. Tem muito comprado em Siupé. Eu já tinha, cartão um dia até hoje, pesava 130, acho que foi o quilo esse ano, 140. Um preço bom.
P/1 – Agora, Seu José, das pessoas que vieram pra cá, é, que foram assentadas aqui, eram quantas famílias, mais ou menos?
R – 21.
P/1 – 21? Essas famílias continuam aqui?
R – Não. Saiu quatro. Justamente, aquelas que foi vendida, essas daqui, essa daí, a outra lá e a outra lá. Essas quatro casa junto aqui foi vendida. Só desse lado.
P/1 – O senhor sabe por que que as pessoas venderam as casas?
R – Porque quiseram vender. É, quiseram vender e bem baratinho. Essa aqui foi vendida por 5 mil, aquela outra ali o cara tinha feito um, essa aqui tinha só a casa mesmo, não tinha nem poço, não tinha nada. Aquela outra, essa daí, foi vendida por 5 mil, a outra lá foi vendida por sete, que o cara lá tinha feito uma benfeitoria nela já, né? e era do sobrinho da mulher que comprou, a Lucimar. E a outra de lá foi vendida por cinco, um cara lá do Pecém, aí, vendeu com dois ano, vendeu por 11. Olha, eu sei do Giba, o cara que vendeu por cinco e comprou por 11. Era as quatro casa.
P/1 – E hoje a rotina do senhor qual é?
R – Rotina de?
P/1 – É, o que o senhor faz hoje, assim, de dia o senhor se levanta mais ou menos que horas?
R – Cinco horas.
P/1 – Cinco horas? Aí, o senhor vai pro roçado?
R – Aí, eu faço o café, que todo dia eu faço o café, faço desde, pode-se dizer, desde eu criança.
P/1 – O senhor que faz o café?
R – É. De um tempo que eu era solteiro, fazia o café, eu fazia o café aí, eu não gostava de café não. Eu fazia chá pra mim. Aí, eu pegava, botava na xicara e deixava pra papai e mamãe lá na cama quando amanhecia, todo dia. Aí, me casei, fiquei nesse mesmo jeito, né, fazendo café e agora já tomei o jeito, agora faço café.
P/1 – O senhor que faz o café?
R – Aí, eu bebo, aí, eu vou pro roçado, né, nem merendo. Aí, deixo, quando é oito hora eu venho e merendo, aí, volto.
P/1 – Aí, o que que o senhor merenda hoje?
R – Rapaz, é o que tiver (risos). É merenda é pão com leite, café, é.
P/1 – Aí, o senhor termina?
R – Bolacha.
P/1 – Bolacha. Aí, depois o senhor volta de novo pro roçado?
R – Pro roçado. Venho 11 hora, aí, almoço, me deito, aí, é uma hora dormindo, aí, volto pro sítio.
P/1 – Aí, o senhor volta de novo?
R – Aí, eu volto. Isso. Aí, chego de tarde, uma hora dessa, quatro hora, quatro e meia venho embora.
P/1 – O senhor tá voltando?
R – É.
P/1 – E o senhor, assim, o que sobra do que o senhor faz, assim, do que o senhor planta, o senhor vende?
R – Não, aqui eu não vendo nada não.
P/1 – O senhor não tá vendendo mais nada, assim, do que sobra?
R – Não. O que eu, não sobra, porque eu dou meus milho, né? Às vez, eu faço aí, dou feijãozinho pra um, dou farinha pra outro. Tudo eu tenho eu dou pra eles. Eu gosto de não é só pra mim não o que eu faço. Eu gosto de dar, igual, uma pessoa vem na minha casa, uma amigo, alguma coisa, eu dou um punhado de feijão. Eu sou assim, eu tenho gosto de dar as coisa as pessoa. Deus mim dá, eu tenho que gosta de dar também.
P/1 – Tá certo.
R – Toda a vida fui desse jeito, né, porque, coisas que eu fui, eu tô muito abençoado de toda a minha vida, que, desde eu criança eu não tenho nada ruim pra eu contar. Só conto coisa boa na minha vida. Eu nunca fui dessas pessoa vivendo em hospital, doente, viver, nunca fui, nunca andei apanhando de ninguém, nunca andei levando queda desastrada, nunca levei corte. Deus me defendeu toda a vida e eu trabalhando pesado toda a vida, é machado, é foice. Eu roço no sertão, do tempo que eu era mais novo, botava, passava o verão todinho brocando mato, na foice, a cana eu ia derrubando no machado, os pauzão, aí, quando era menino eu andava desse jeito.
PAUSA
R – Pois, é no tempo que eu era, era, vou voltar numa outra parte do lado minha vida.
P/1 – Pode contar.
R – No tempo que eu era rapazinho novo e morava na Serra do Baturité, sabe? Aí, lá um dia eu carregando cana em animal – eu era cambitero – aí, apresentou uma dor aqui no meu estomago. Sabia que era dor de rapazinho novo. Aí, pronto, aí, passou, aí, foi lá pro terreno, lá pra eu apresentar. Aí, quando foi, eu já tava, fui crescendo, quando tava com 15 ano, o fim me começou a aumentar, aí, pronto, aí, quando foi com uns ano, eu já tinha me casado, aí, eu já tava muito doente com aquela dor aqui que tomava remédio, ia pro medico, aí, foi, eu tenho duas irmã que mora em São Paulo, do Sul, aí, tinha o meu irmão que sempre ia pra lá, né? Aí, foi, me levou, eu fui mais ele, né? Aí, foi o primeiro exame que eu fiz de endoscopia. Aí, lá deu úlcera fechada e gastrite. A dor toda disso, aí, foi e passaram remédio. Me tratei e passei três mês lá, aí, vim porque já tinha deixado minha família aqui no Ceará. Aí, quando eu tava lá, toda a vida eu fui muito inteligente, trabalhador no pesado, aí, arrumei serviço lá num colégio, foi em dezembro, o pessoal tava de férias das criança, tal, aí, eu comecei a trabalhar. Trabalhei três dia de uma semana, trabalhei uma semana, trabalhei outra semana, aí, ganhando mais, eu que ganhava mais do que o que tinha lá, que tava com dois ano que trabalhava e eu ganhava mais que ele porque fazia o serviço mais ligeiro e mais melhor, sabe? Chegava quebrando aquelas parede que era fofa com martelo de punção velho e de, chegava aqueles doutor que eu ficava olhando e perguntava: “De onde tu é? Tu mora onde?” “Rapaz, eu sou cearense.” “A há, eu logo vi que esse cearense é desse jeito aí, duvido mesmo, daqui nós faz um terço que vocês tão fazendo.”. Aí, pronto, eu comecei a trabalhar, aí, foi duas semana a minha irmã tinha comprado a passagem pra eu voltar. Foi na véspera de ano. Aí, foi, eu disse pro gerente lá: “Rapaz, eu vou voltar, vou embora quarta-feira, minha passagem tá comprada pra quarta-feira.” “Ah! Não, cearense, não faça isso não, deixe nós não, eu assino sua carteira.”, que eu nunca tinha assinado carteira, “Não, não quero não que eu deixei a minha família lá.” “Não, você, a gente arruma uma casa aqui e você manda buscar sua família, você fica trabalhando na minha firma aqui direto.” “Não, fico de jeito nenhum.”, aí, foi, “Vamos fazer isso, isso, venha trabalhar segunda e terça”. Óia, que já tava pra vim embora quarta, né? Aí, eu digo, digo: “Venho.” “Que eu tenho um serviço pra você fazer tem só tem você mesmo.” Aí, era a casa duma mulher que tinha pegado uma empreitada, mulher rica, quebrar um piso de cerâmica que tinha na rua, na calçada e fazia outro fio de pedra, só isso mesmo. Gente rica que ser muito importante, né? Aí, a casa dela toda vidraça de “vrido” pra frente, né? Aí, eu cheguei de manhãzinha, foi eu mais ele lá: “Aí, cearense, faz esse serviço, aí”. Aí, foi, ele me deu uma marreta reta. Serviço pra dois dia que eu fui na segunda-feira que quando foi de tarde eu entreguei pronto o serviço que era pra fazer, dois dia, né? aí, tinha, foi, aí, ficou, ele pediu pra eu ir dois dia pra ensacar pra levar pra fora, né? Aí, pra entregar nos dois dia, eu fui, aí, trabalhei até umas hora e terminei.
P/1 – Eita!
R – Aí, foi, pediu pra eu ficar de novo, seu quero, digo: “Fico nada, de jeito nenhum”. Aí, depois, você quando for amanhã, você me espera sete hora que eu vou pegar você lá na tua casa pra ir deixar você na rodoviária, no centro. Falei: “Está certo”. Aí, quando foi, não me pagou nada, eu fui embora pra casa que era longe.
P/1 – E não pagou o senhor?
R – Não, os dois dia não, né? aí, foi, quando eu cheguei lá ele me pagou, tinha pagado os outro, tava com meu dinheiro tudo pronto já, aí, foi me buscar sete hora, ele chegou lá. Ele pegou eu, minhas coisa, a sacola, foi pra rodoviária. Chegou lá, pediu pra eu desmarcar a passagem, pagava a passagem e me dava o dinheiro da passagem, mas eu não vinha. Aí, eu disse “Fico de jeito nenhum”. Aí, foi, só fez meter a mão no bolso e me deu o dinheiro dos dois dia. Aí, acabou, pegou mais 5 mil, 5 mil reais nesse tempo 5 mil reais era dinheiro, faz, tá com mais de 20 ano atrás. Aí: “Meu filho, vai seu presente pra mais tarde pra você ir tomando um refrigerante na sua viagem”, mais cinco real, 5 mil, hoje tá valendo, era cinco real, antes, mas era 5 mil. Falei, bom, vai. Aí, pronto, aí, já disse: “Já desde que você chegar lá, se tiver ruim, aí, você pode ligar pra mim que eu mando os dinheiro das suas passagem pra você ir mais sua família, assim, na hora que você chegar você assina sua carteira”. Nunca mais voltei lá.
P/1 – Qual era o nome do lugar?
R – São Paulo, no Sul.
P/1 – São Paulo do Sul?
R – Era São Paulo, assim, São Paulo.
P/1 – Ah! Em são Paulo lá? Em São Paulo, na capital?
R – É.
P/1 – E como o senhor foi pra São Paulo?
R – É porque eu tinha uma irmã lá, morava lá, eu tenho uma irmã que mora lá. A caçula, a mais nova, é.
P/1 – E qual foi a impressão que o senhor teve quando o senhor foi pra São Paulo?
R – É porque eu ia fazer um exame, endoscopia, que eu já tava doente, né? Aí, quando eu cheguei, aí, a doutora, aí, eu vim embora.
P/1 – Mas, qual foi a impressão que o senhor teve da cidade, quando o senhor chegou lá?
R – Foi boa demais. Eu acho que gostei de lá. Gostei da cidade lá e aumentei, né, no tempo que eu tava lá, né? e eu cheguei lá pesando 55 quilo, peso bem magrinho, saí, de lá pesando 62. Foi, aumentei um rodinho de quilo. Aí, sim, ai comecei a tomar o remédio que a doutora passou, aí, ela disse: “Quando você chegar lá, chegar a voltar, você vai lá no doutor a mostrar a consulta a ele”. Aí, foi, fui ver um em São Paulo, que eu tava trabalhando, só trabalhando e sentindo. Aí, voltou de novo, eu sentindo as dor, mas tinha dia que quando eu tava de madrugada, dava mais de madrugada e de tarde. Quando eu acordava dava aquela dor que eu me encolhia, ficava só o bolão arriba da cama, não aguentava, passei mais de 40 anos sentindo isso.
P/1 – Oh!
R – Não sei como foi, eu vivi isso, não desisti mesmo.
P/1 – Mas o senhor não sente mais essa dor?
R – Ah! Não, peraí, aí, eu fui trabalhar, que eu trabalhava ajudando no roçado, trabalhando desesperado, mas nuca deixei de trabalhar. Aí, dava aquela dor, me fica, me coloca num pé dum toco lá, num pau com aquela dor medonha no estomago. E aí, era bem magrinho, um raio que ficava apertado. Um dia, eu comi um arroz às nove hora do dia, arrozinho branco que a Maria fez, quando foi com 24 hora eu botei ele pra fora do jeito que eu comi. Meus intestino não tava mais destruindo nem água; até agua que eu bebia eu ficava com aquela zuada no meu intestino. Aí, eu vim, foi num tempo que eu vim embora pra cá, mas eu aguentando, intestino, nunca gostei desse negócio de deixar de trabalhar não, nem me “aprostar” não. Eu era forte. Aí, eu cheguei aqui, eu comecei a fazer, fiz em Caucaia, fiz três exame de endoscopia, né? Aí, o doutor passou, foi e disse “Olha”, que nesse tempo era o doutor Bezerra que me botava aí, em Siupé, “Ó aí, doutor, há muito tempo que eu o venho doente dessa coisa, dum tempo e o produto não “ageu”. Já até morreu, aí: “Vou pensar numa maneira de lhe ajudar que você vai ficar bom com o remédio que vou lhe passar”. Aí, foi, eu digo assim: “Quem vai é me curar é Deus, vou ficar bom mas por intermédio de Deus, minha fé eu botei nele”. Aí, foi, ele passou uma caixa de remédio, comecei tomar, uma semana, quando foi a outra não sentia mais até hoje. Fiquei bom, como é tudo. Num tem prós de toda comida, meu intestino agora faz mal a eu mais não.
P/1 – Então, o que curou o senhor foi o remédio?
R – Foi, o remédio e Deus, primeiramente.
P/1 – O senhor fez alguma promessa?
R – Fiz, não. Eu sempre, eu sempre quem fez foi minhas filha. Nós tinha a Vanda, que ela fazia no São Francisco, né? Eu até paguei essa promessa pra ele lá do altar na porta do principal, até lá no altar de joelho. Aí, paguei.
P/1 – De qual igreja?
R – São Francisco.
P/1 – São Francisco?
R – Foi. Eu sofri muito, viu, mas graças a Deus tô aqui contando a história.
P/1 – Com certeza.
R – Foi, porque eu tava trabalhando direito, não tinha esse negócio de parar não. Eu era, eu era forte.
P/1 – Agora, seu José, foi a única vez que o senhor foi pra outra cidade fora do Estado do Ceará?
R – Foi.
P/1 – Foi quando o senhor foi fazer esses exames em São Paulo?
R – Foi, foi.
P/1 – E depois o senhor não viajou mais?
R – Mais não. As menina.
P/1 – O senhor não ficou pensando em ir, morar em São Paulo?
R – Não, eu não fiquei pensando. Se num tempo que eu era rapaz, solteiro, eu tinha vontade de ir pra lá pra São Paulo, sabe? Tinha uns primo meu que foram, aí, quando foi no outro ano eles vieram passear, aí, eu me arrumei pra ir, né? peguei pra ir, já tava, como se dizer, com a mala arrumada, né, qualquer coisa ir mais ele, né? Era rapazinho novo neste tempo, 19 ano, 20. Aí, neste instante eu imaginava: “Mas, ir embora e deixar papai sozinho?”, que eu era muito apegado com meu pai, né, “Não vou não. E minha mãe?”. Não fui não. Arrumei duas vezes pra ir pra São Paulo e não fui. Aí, depois que eu me casei que eu tive os meus filho, um bocado de menino já, que eu fui lá fazer exame que voltei e eles me chamaram pra eu voltar pra lá, aí, eu também não pensei de ir porque eu tinha muito filho pra ir morar lá, era duro lá. Aí, eu também não fui não.
P/1 – Senhor José, como o senhor se tornou evangélico?
R – Eu, é, é porque eu, eu, eu era muito gastador de fumo, né, no quê, sabe? Eu mascava fumo.
P/1 – Ah! O senhor mascava fumo?
R – Era, negócio de...
P/1 – O senhor não fumava mas só mascava?
R – Não, eu só mascava desde criança que eu trabalhava mais meu pai na agricultura. Aí, quando era no final do verão pra entrada do inverno na Serra, sempre quando é em dezembro começa a dar aquelas neblinazinha, né, aquela garoazinha. Aí, nós tava queimando aquele que papai fazia, queimando essas coisa que eu toda a vida fui danado pra negócio de trabalho, aí, quando vinha aquela neblinazinha, papai era gastador de fumo e neste tempo não era pacote, não, era uns rolinho. E aí, papai tirava aquela pelinha, aí, sempre chamava eu de nego: “Pega, nego, bota essa coisa na boca, porque a neblina chegou e isso não vai fazer mal”, aí, foi e eu me acostumei. Me acostumei, me acostumei mesmo, era viciado.
P/1 – E como é que era mascar o fumo, assim?
R – Pessoa coloca na boca e fica só cuspindo.
P/1 – Coloca na boca e fica só cuspindo?
R – É.
P/1 – Mastigava um pouquinho e depois cuspia?
R – Mastiga e fica cuspindo.
P/1 – E que que o senhor sentia? O senhor sentia que ficava mais...
R – Não, parece, é que nem a pessoa que bebe cachaça. Quem bebe cachaça, quem não bebe quando bebe, duas, três fica esperto, né?
P/1 – O senhor ficava mais esperto então?
R – Aí, quando eu bebia um café ou ia pro roçado eu tava...
P/1 – O senhor ficava como fosse então?
R – É, eu botava aquela coisa na boca, me alegrava, ficava com aquela... É droga, é que nem se fosse uma droga, era, mascar fumo. Aí, eu tinha muita vontade de deixar, fazia promessa, botava pacote de fumo no mato, mas nunca fui atingido. Aí, quando foi um dia que a minha mulher já tinha falecido, aí, eu trabalhando lá nos cajuzeiro lá, me lembrando, né, dela e lembrando do negócio do fumo, sabe? Aí, eu pedi a Deus que me ajudasse que eu deixasse de mascar fumo. É nojento, às vezes eu ia pro banco, botava fumo na boca antes de ir pro banco, aí, quando por lá a minha boca mais lavada ainda ficava com gosto velho, né? Às vezes, tava no banco com o gosto velho na minha boca, às vezes até eu engolia o cuspe porque não tinha donde cuspir, né? E eu já tinha lavado a boca, às vezes até eu ia no mercado, pois é, aí, foi, eu pedi a Deus com aquela fé, aí, foi, chega deu vontade de chorar mesmo, disse que se eu deixasse eu ia ser evangélico. Aí, que sei que quando foi no outro dia já não me lembrava de fumo mais. Deixei de uma hora pra outra. No outro dia, tinha uma sinuca ali, que eu gostava de brincar de sinuca, numa bodeguinha que tinha ali. Negada ia ali beber, eu ficava por lá. “Vai, Rocha, uma mãozinha de sinuca?”, eu jogava até bem, aí, eu começava a jogar mais ele, aí, tinha um homem que cheguei nesse dia. Aí, tinha um cara, gostava de fumar pé-duro, né? Eu comprei um pé-duro: “Pega, velho, bote coisa de fumo na boca” “Eu não, mas tô com vontade de deixar desde hoje, eu não boto isso mais não na minha boca” “Ah! Mas, ninguém deixa de uma vez não”. O cão atentando, viu. “Bota uma coisinha a boca que não pode deixar de uma vez só, não”. Eu fui peguei, botei na boca, deixa eu botar, a hora quando eu botei, eu senti aquela coisa velha ruim na minha boca, joguei fora aquela lá, mais dessa praga, pronto, até hoje esqueci de uma vez. Aí, foi, foi, eu ia pra igreja ali, sempre até do tempo da minha mulher que ela era católica também, aí, nós sempre, nós ia pra igreja, né? E ela gostava de ler muito a Bíblia, todo dia de manhã cedo ela lia, de tarde ela lia a Bíblia de noite quando ela dormia. Aí, quando fui eu, um dia que ela faleceu, foi, tinha uma igreja e eu comecei a ir e deu foi uns quatro, uns cinco culto. Tinha um homem lá, toda vez que eu ia ele me oferecia, me convidava pra eu ser crente, né? “Não, quando você quiser ir não precisa me chamar, não”. Aí, quando foi um dia, aí, foi eu decidi, né? Decidi, eu fui, eu fui. Aí, fui, tô muito bem, deixei de mascar e tudo essas coisas velha que eu não gostava de coisa do mundo não, não gostava de jogo. Jogo que eu gostava era de futebol. Bebida, fumar. O vicio que eu tinha era só mesmo gastar fumo no queixo. Daí, fui “aviciado” mesmo.
P/1 – Só foi com o fumo, então, mascar?
R – Então, masquei muito. Passou desde os oito anos de idade, de oito ano que eu masquei. Comecei mascar com oito ano. Aí, deixei, tá com três ano, mais ou menos, eu deixei.
P/1 – E há três anos o senhor é evangélico?
R – Sou.
P/1 – E a esposa atual do senhor é evangélica também?
R – Era não.
P/1 – A Graça?
R – Essa daí?
P/1 – Isso.
R – É. Ela é dum tempo que ela que eu a na igreja, ela tava lá. Muita gente diz: “Ah! Isso aí, não tem jeito”, eu fui apedrejado pelo pessoal daqui. Fui atrás dela. Atrás dela não que eu fiquei, eu tinha vontade de casar com ela porque eu sei que ela é mulher direita, né? e, eu já conhecia ela. Aí, sempre eu ia pra lá. Aí, quando eu entreguei a Jesus, aí, eu falei, muita gente: “É, porque ele quer pegar a besta. Bicho aí, com um rodo de filho, ela não sabe nem onde vai se meter, vai se enganar todinha”. Graças a Deus, eu, ela tá muito satisfeita comigo. Eu sou um velho, mas trabalho ainda, dou conta de uma mulher ainda. (risos)
P/1 – O senhor tá bem, Seu José, o senhor tá bem.
R – Não, eu tô no 70, eu tô com 71 ano.
P/1 – Ah! Mas, o senhor nem parece que tem 70 anos.
R – Todo mundo diz. Aí, eu vou pro banco receber o dinheiro, tô lá, quando eu vou pagar, fazer uma prestação, umas coisa lá sem ser no banco, aí, não tem as coisa dos velho, né? Modo de uns velho paga na frente? Aí, tem gente que: “Ah! Diz que tu não é velho não, que que tu quer aqui passando por velho?”. Aí, eu disse: “Vou, num é velho mesmo não, tenho 60 ano, 70 ano, mas não sou velho não”. (risos)
P/1 – Seu José, vocês fizeram algum culto na igreja pra celebrar o matrimonio de vocês?
R – Fizemos. Nós “casemo” no civil, aí, quando foi no outro, foi na mesma semana, aí, teve o culto de domingo, aí, veio o pastor lá de Taiba, aí, foi e foi feito, né?
P/1 – Aí, o senhor veio morar com ela aqui nessa casa?
R – Foi, foi.
P/1 – E seu José...
R – Aí, muita gente disse: “Ah! porque nada que ela tenha uma casa, tem um carro”. Ai, eu disse: “Não, eu não me interesso por nada disso”. O que eu quero é a minha farração e o meu viver. Com o que eu comer, com o meu alimento que Deus me der todos os dias, negócio de carro, casa, quando eu morrer eu não levo. Nunca tive interesse por nada disso.
P/1 – Seu José, e voltando aqui pro assentamento, quais seriam os problemas que existem hoje aqui no assentamento?
R – Os problema que existe aqui é porque não é mais que nem era antes, sabe? Antes, tinha a associação, os pessoal trabalhava junto e cuidava de alguma coisa pra farinha, no galpão lá, muitas coisa. Ajeitava, limpava a pracinha aí, muitas coisa, né? fazia cerca, tudo por conta da associação. E, hoje em dia, não tem nada disso. Hoje, acabou-se, não tem nada disso. Aí, nós, por isso que eu digo, não tem é união aqui dentro. Se aqui fosse uma comunidade que houvesse união, aqui era outra comunidade, nós tava pagando associação, tudinho, em dia, tinha dinheiro na caixa, é? Tinha dinheiro no caixa lá, no banco, o dinheiro da associação tava botando lá pras precisão, nada disso tem. Aí, por isso é que nunca foi controlado aqui.
P/1 – Não tem mais um presidente da associação?
R – Tem. Essa Antônia neste instante é, mas o pessoal não faz conta dela, né? Socorro.
P/1 – E as pessoas não se reúnem mais também?
R – Não.
P/1 – Não tem mais reunião?
R – Não tem mais reunião, depois que o IDACE abandonou aqui, saiu, aí, pronto, aí, bagunçou. Mas, no tempo que o IDACE tava aqui dentro tinha reuniões, chamava atenção, levava pro galpão, lá. Aí, tinha reunião, mas agora não tem mais.
P/1 – E o que o senhor mais gosta daqui?
R – O que eu gosto mais daqui é eu viver no meu trabalhinho, tá na minha casa. Isso que eu gosto. Eu nunca gostei de tá na casa de ninguém, eu não gosto de tá conversando “pararara”, não. Quando eu vou numa casa, converso um pouquinho e vou embora. Não gosto de tá, porque há gente que vai pra uma casa pra passar horas e horas conversando, até falando da vida dos outros, né? não gosto disso não.
P/1 – E como o senhor imagina o futuro daqui?
R – Sei lá. (risos)
P/1 – O senhor já chegou a pensar alguma vez?
R – O futuro daqui é vai ser do jeito que é daqui; do jeito que tá pra pior. É, porque se fosse pra ajeitar. Logo um que, se eles que tinham raiva de mim quando eu vim morar aqui, eles tinham raiva de mim porque às vezes eu combatia, né? Aí, eles tava e começava a falar: “É, o Governo tirou nós de lá e botou aqui”.
P/1 – Mas, quem ficava com raiva do senhor?
R – É um pessoal, quase todos.
P/1 – Quase todos daqui?
R – Quase todos tem raiva de mim aqui, tem inveja, porque eu toda a vida eu sempre defendi, sabe? Sempre defendi que: “Ah! Essas casa não é nossa, que é do Governo” “Porque que não é nossa, nós não tá morando nela? O Governo não tá recebendo aluguel, não tá recebendo nada, é nossa! O Governo não precisa de casa”. Aí, eles dizem o mesmo com a terra, né? “A terra aqui, não é, né? Pra quem quer trabalhar, é, pra quem não quer, não é mesmo não”. Aí, é: “Ah! Mas, porque você quer ser o dono daqui. Vai trabalhando, caça um pedaço daqui, outro pedaço acolá, caça umas terra melhor”, eu disse: “Ah! Vocês não quer trabalhar, gostava do trabalho que tem terra, ‘percura’ as terra de vocês trabalhar também, igual eu ‘percuro’”. Eu tenho que “percurar” as terra melhor mesmo. Aí, eles tem, eles tem raiva de mim.
P/1 – O senhor tem o título da terra daqui?
R – Não, não tem quem tenha. Tem um documentozinho, mas não é documento mesmo, daqueles bom mesmo, não. É feito, é “peba” mesmo, perto de dez em dez ano renova ele, é? Não é documento mesmo, da pessoa ser o dono mesmo, assinado mesmo pelo cartório, não é a mesma coisa.
P/1 – E, Seu José, o que o senhor achou dessas transformações que vieram com a siderúrgica, com o porto? Como o senhor vê, o senhor sendo aqui da região, né?
R – É, ficou assim muito bom, né? Bom, assim pro Estado. É bom pro Estado porque aí, fica rico, né, o Estado, mas pra nós, vai ser bom também pra nós, né? Nossos filho também tem emprego.
P/1 – Os filhos do senhor, algum deles tá trabalhando lá?
R – Eles são tudo, eles são tudo empregado.
P/1 – Todos? Que que eles fazem lá?
R – Eu tenho dois que trabalha nessas firma de cata-vento e são vigia, né, do coiso. Tem outro que trabalha numa outra fábrica lá, não sei pra onde, nesse negócio de tinta, não sei o que, lá na siderúrgica que é o mais novo.
P/1 – Que que ele faz lá na siderúrgica?
R – Eu não sei. É numa firma lá, eu não sei o que que ele faz. Tá com sete mês que ele entrou. E esses pessoal daqui eles são tudo empregado desses pessoal. Quando eles sai de uma firma, depois entra numa outra porque tem muita, né, muito serviço, muita firma.
P/1 – Tem mais emprego agora?
R – Tem muito emprego, tem sim, tem muito emprego. Tem e vai ter. E vai ter.
P/1 – Mas, e assim pro trabalho do senhor que sempre trabalhou na terra, assim, mudou muito? Assim, o senhor acha que, por exemplo, se o senhor tivesse um pouco mais de feijão, né, se sobrasse e o senhor não consumisse, só o feijão...
R – Sei.
P/1 – O senhor teria, assim, um mercado pro senhor vender?
R – Tinha, tinha. Agora mesmo no verão, esses tempo, eu trabalho no inverno. Aí, no verão tem a terra molhada, sabe? Passagem molhada que é um coiso. Aí, tem um terreno que um cara me deu, lá em baixo, um amigo meu, três légua. Aí, eu cavo terra todo dia, aterro mato, planei, eu planto feijão e milho. Aí, no ano passado eu fiz isto, eu fiz foi feijão, fiz 80, fiz 80 de feijão, fora os maduro que eu comi e dei. Fiz 80 litro. Aí, tinha uma mulher lá no Siupé, soube, né? Aí, foi me falou, eu levava uns 15 feijão pra ela, ela comprava, aí, eu não queria vender, né? Fui e levei pessoalmente, três quilo, aí, cobrei do preço que ela compra mesmo. A hora que eu fui, ela falou que eu podia trazer mais, devia levar pra vender mais, porque o feijão era bom, ela, eu falei é desse que eu tenho, porque o feijão era muito bom, “maciinho”, um feijão gostoso, aí, eu quisesse vender todo, eu vendia, mas o negócio é vender pra eu comprar, né? Aí, eu faço pro meu gasto.
P/1 – E, seu José qual o sonho do senhor hoje?
R – Meu sonho?
P/1 – É.
PAUSA
R – Rapaz, sei lá. Meu sonho é viver bem do jeito que eu tô vivendo, graças a Deus, eu tô bem. O meu sonho é esse, Deus me dar muitos anos de vida, pra eu viver trabalhando na vida que eu vivo, né? Pra emprego eu não tenho mais idade, pra me empregar. E eu viver, Deus me dando minha saúde pra eu viver trabalhando na minha vida que eu vivo, tô satisfeito demais, esse é meu sonho era esse, ter minhas coisinha que graças a Deus, Deus tá me dando. Graças a Deus, esse carro é dela aí, mas esse carro logo antes de ela casar comigo, um outro marido dela deixou, ele já tava meio baqueado já, os pneu ruim, já. Um cara aqui, foi engambelou ela, trocou com um Gol inventou que tinha comprado por 13 mil, depois, nós “subimo” tinha sido comprado por sete. Aí, pegou, sei que trocou mais ela, levou ela pra lá, deu dívida, ela chorava, se arrependeu, ainda deu ainda a justiça, pra delegacia três vez. Sei que ela botou o carro no nome dela e recebeu o carro de volta que foi a maior alegria dela. Aí, foi pá, eu, calcei ele, botei quatro pneu, comprei tanque do óleo, comprei tanque da água e botei umas peçazinha nela, tá toda bem legalzinha, tá passando só botar só o forrado mesmo dela e dá uma pintura nela e qualquer coisa tá bom. Pois é, aí, às vezes ela manda: “Rocha, vamos andar de carro ver os amigos”. Ela sabe andar de carro, mas eu não. Eu pra andar de moto passei muitos ano que meu filho tinha moto, chegava aí, em minha casa: “Pai, vamos dar uma voltinha”. Eu digo: “Não, vou não”. Tinha vontade, mas neste instante ficava nervoso, né? Até que um dia, aí, meu filho comprou uma moto, aí, o outro que mora, aí, comecei a andar, aí, fui e aprendi. Aí, foi, Deus me deu uma, me deu uma aí, novinha, pouco eu andava, tava com 5 mil, poucos quilômetro rodado. Aí, eu ando pra todo canto. Agora, o que eu não posso é andar assim, num tenho carteira e não posso tirar, né? Se eu soubesse ler ainda, né? Daí,
ia tentar tirar minha carteira, que a pessoa não sabe ler, não pode tirar a carteira, mas eu sei lá. Eu vou pra São Gonçalo, meio escondido, quando os homem vão me procurar aí, vou pro Taiba, vou Pecém, coisa que eu vou botar, pra descer pra botar gasolina eu vou pro Pecém até bem. Não sou profissional não, mas dá pra andar.
P/1 – Tá certo.
R – Eu aprendi. Aí, se eu for eu digo, se eu sair nesse carro aí, primeiro tempo que eu der, no segundo já ando, já ando. Com moto foi assim. Moto eu saí, mais um sobrinho meu, eu deixando ele na garupa, na volta eu deixei lá, já fui foi só. Aí, pronto, fiquei andando sozinho, nunca caí, graças a Deus.
P/1 – Ah! Que bom.
R – Aí, aprendi bem ligeirinho. Aí, mesmo jeito no carro. O dia que eu resolver sair nele, ó, eu dou uma voltinha por aí, eu dou uma voltinha por aí, fhui, depressa eu aprendo. (risos)
P/1 – Tá certo. E Seu José, o que que o senhor achou de ter contado a história do senhor?
R – É bom, achei bom.
P/1 – O senhor gostou?
R – Achei bom, e é bom que a gente renova as coisa que a gente passou num tempo da vida da gente, né?
P/1 – É.
R – É bom. Não sei se eu contei foi bem.
P/1 – Contou.
R – Aí, prosar bem.
P/1 – Nós que agradecemos.
R – O que eu tinha, mas o que eu fosse contar muita coisa da minha vida, desde eu criança, eu tinha muita coisa pra contar. Agora, tem que é ser muito tempo e já tá bom o que nós conversou.
P/1 – Tá certo, senhor José. Muito obrigada senhor José.
R – (risos) De nada.
FINAL DA ENTREVISTA
Dúvidas:
[…] “Olha, não arrumo”, aí, tinha dois ___00:32:46____ mais eu, aí, eu num vou mais comer esses menino tudinho. – Página 17.
Aí, cada caro perdeu dez real, parece que foi, nem ___01:25:10__ se tivesse que guardar dinheiro, um dia podia até precisar. – Página 41.Recolher