P/1 – Então, primeiro Rosa, fala pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome completo no RG, Maria José da Silva Aguiar, casada. Mas eu fui criada como Rosa. Eu nasci em Recife, numa cidadezinha do interior de lá chamada Timbaúba. Vim para São Paulo pequenininha ...Continuar leitura
P/1 – Então, primeiro Rosa, fala pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R –
Meu nome completo no RG, Maria José da Silva Aguiar, casada. Mas eu fui criada como Rosa. Eu nasci em Recife, numa cidadezinha do interior de lá chamada Timbaúba. Vim para São Paulo pequenininha e abracei São Paulo. Eu me considero cidadã mesmo, paulistana, aqui de São Paulo, mesmo.
P/1 – E a data de nascimento, Rosa?
R – Vinte e três de dezembro de 60. Por quê? Eu nasci 23 de setembro e me registraram 23 de dezembro, também, tem isso, mas isso acho que tem que ficar, porque o Juiz não vai mudar, mas enfim, não tem problema.
P/1 – Conta pra gente qual que é a história do Rosa e qual que é a história do seu registro também?
R – Vamos lá. Quando eu nasci, a minha avó era parteira que me teve e a partir do momento que eu nasci… eu nasci com o cordão umbilical, quem nasce com o cordão umbilical naquela época, tinha que colocar Maria José. Daí foi, como era uma boneca, vovó, daí me colocou que eu parecia uma rosa. Todos os meus amigos, é Rosa. Escola é Rosa, doutor, vulgo Rosa e assim vai. Então, eu fui criada como Rosa. Eu não coloquei em mim esse apelido, como eu fui criada. Então, Maria José, quando me chamam, dependendo só o Aguiar é que me toca que sou eu, entendeu? É assim. Mas o importante é a gente ser feliz, né?
P/1 – Você sabe como que foi a história do seu parto? Como é que foi o seu parto?
R – Então, como teve complicação por causa do cordão, então, eu acho que foi por isso que veio Maria José, por causa do cordão umbilical. Ah, sim, se não colocasse, você poderia morrer afogada, também tem essa historinha. Então, por isso que tem que colocar Maria José, coisinhas, né, dos… mas enfim…
P/1 – E o seu registro? Você sabe por que teve essa diferença da data do seu nascimento e o registro?
R – Demorou. Como é que posso explicar? A demora foi por quê? Ia me registrar como Rosa ou ia me registrar como Maria José? Ganhou o Maria José por causa pra eu não morrer afogada, mas o Rosa continuou a chamar. Foi isso. Foi por isso.
P/1 – Demorou porque eles demoraram para decidir.
R – É, por isso que demorou, eu nasci em setembro e foi me registrar em dezembro. Então, essa foi a demora e não me registraram na data certa, no mês certo. O dia foi igual, mas o mês diferente. Foi isso.
P/1 – Você nasceu em casa?
R – Nasci em casa pela mão da minha avó.
P/1 – Fala pra mim o nome completo da sua mãe e do seu pai e também, o local onde eles nasceram e a data, se você se lembrar.
R – Minha mãe é Elisa Maria da Silva, meu pai é José Herculano da Silva. A minha avó é Severina, não sei data deles lá. Não sei.
P/1 – E o local de nascimento dos seus pais e da sua avó, você sabe?
R – Eu tenho impressão que é tudo lá, porque envolve… comigo aconteceu cirurgia de cabeça, essa cirurgia me apagou, então assim, eu estou reconstruindo a minha vida praticamente toda, entendeu? Então assim, tem coisas que eu não sei, quando eu voltei da cirurgia, eu precisei voltar com tudo, reaprender tudo o que foi apagado, entendeu? O que foi difícil para a minha vida.
P/1 – Isso foi quando Rosa? A cirurgia.
R – Então, eu sofri uns quatro anos, né? E como eu já estava acamada (choro), eu tinha convênio médico, meu marido me levava para os hospitais, mas eles diziam que era enxaqueca, cadeira de rodas e tudo mais. Aí voltava para casa, voltava para casa, era enxaqueca e remédio, e remédio e remédio, chegou uma hora que eu não conseguia mais me levantar. E nisso tudo, as minhas filhas, uma foi embora e eu não sabia, sabe? A outra teve neném e eu também não sabia. Sabia e não sabia, porque apagou, né? Minha filha me levou, diz minha filha que foi até em casa… a minha outra filha pediu pra minha filha ir em casa e me levar no médico porque eu estava muito ruim. Daí, me levaram para o médico, me levaram para o Mandaqui, na Voluntários da Pátria. Lá, eu fiquei a noite toda, às sete horas da manhã é a mudança de plantão, chegou os neuros, como tinha pedido um raio x só, um raio x simples da cabeça, aí deu um tumor. Eu fiquei no hospital dois meses internada para poder acalmar o tumor, para poder fazer a cirurgia, entendeu? Eu fiquei, operei, faz quatro anos, isso que eu operei e 90 dias em repouso, quase que eu não fiquei e assim, era complicado porque você não sabe onde você mora. Você não sabe nada, então assim, eu tive que eu mesma me erguer, me levantar e ir buscando um pouquinho de cada coisa, o que eu podia fazer no meu limite, para ver se voltava o que eu sabia que foi embora. E as buscas assim com os doutores, por quê? Por que o apagamento? Ele falou que como foi frontal, por isso que eu tenho os afundamentos e toda a minha fonte, como tirou o tumor, apagou os meus guardados. Então assim, tem coisa que eu não me lembro, eu tive que perguntar para família como era, como não era. Para você ter uma ideia, eu ia com a minha filha para o médico, eu tinha que ir acompanhada, as pessoas me achavam, me abraçavam, eu não sabia quem eram, então sabe, você não sabe, então eu vou levando, eu vou vendo para ver se eu descubro alguma coisa daquela pessoa, porque é minha amiga, porque chorou: “Rosa, você está boa?”, isso e aquilo. Entende? Mas é isso. Complicadinho.
P/1 – Eu voltar um pouquinho a sua infância, Rosa, mas com essa questão da lembrança, você pode ficar bem tranquila, é aquilo que você se lembrar, o que você não se lembrar, não tem nenhum problema, tá bom? Só aquilo que você for lembrando. E aí, a gente vai conversar um pouquinho mais assim, sobre esse momento que você viveu também, mas vou voltar agora, um pouco na infância. Queria saber o que os seus pais faziam profissionalmente.
R – Os meus pais. A minha mãe era dona de casa, o meu pai eu não sei se trabalhava em lavoura, não sei. Você quer saber a minha vinda para São Paulo, é isso, não?
P/1 – Não, ainda não.
R – Só os meus pais?
P/1 – O que os seus pais faziam profissionalmente e…
R – Eu acho que na época, deveria trabalhar em cana. Eu tenho impressão que é isso, trabalhava em cana e a minha mãe era em casa, mesmo. Porque eu era muito pequena quando eu sai de lá. Eu não fui criada também com os meus pais verdadeiros, entendeu? Eu fui criada por outras famílias.
P/1 – Por que você foi criada por outras famílias?
R – Minha mãe deu mesmo, me deu quando eu era pequena. Ainda essa pessoa que me criou que me levava, porque senão, eu não tinha nem conhecido pai, mãe, porque eu sai pequena de lá. Vim para cá, aqui eram muitos filhos, 15 filhos. Então, ela deu e essa pessoa me levava pra ver a minha mãe e os meus irmãos. Mas assim, eu chegava, a minha… eu chamava ela de tia, ela faleceu nos meus braços também, o Senhor! Eu chegava, sentava, ela me contava, eu falava: “Vamos embora pra casa, tia?”, aí a gente voltava, entendeu? A vida foi… (risos), tem uns lados bons, mas uns lados bem amargos. Eu não queria, esse tumor, eu não queria mesmo, porque eu acho que o pior foi mesmo o tumor, me tirou muita coisa, entendeu? As minhas filhas, mas enfim, eu sou forte, sou uma guerreira.
P/1 – Como é o nome dessa tia que te criou, Rosa?
R – Dona Odila, ela faleceu (choro). Estava esperando só eu para chegar, que o médico tinha liberado. Eu cheguei, conversei um pouquinho, ela olhou pra mim, apertou a minha mão, a gente começa a chamar médico: “Doutor, doutor?”, mas aí Deus a levou. Assim é a vida, né?
P/1 – É recente? Ela faleceu recentemente?
R – Tem quatro meses que ela faleceu. Aí, você fica órfã, né?
P/1 – Que idade você tinha… quando você saiu de Pernambuco e veio para São Paulo, você veio com ela? Foi ela que te trouxe?
R – Não.
P/1 – Me conta um pouco. Eu não sei o que você se lembra, mas você se lembra alguma coisa de Pernambuco? Me conta como é que era lá, a lembrança que você tem de lá e como que foi essa sua vinda para São Paulo, com quem que você veio e porquê que você veio.
R – O meu pai estava morando aqui em São Paulo e nós, com a minha mãe, estávamos lá em Pernambuco. E o meu irmão mais velho teve um acidente na perna, recebeu um dinheiro, esse dinheiro, ele comprou passagem veio todo mundo para cá e foi morar em Itaquera, Vila Chuca, entendeu? Foi isso.
P/1 – Quantos anos você tinha, Rosa?
R – Eu não lembro, eu só lembro que eu era pequena, mas eu não lembro a idade, mas eu era pequena.
P/1 – E você tem alguma recordação dessa viagem?
R – Não.
P/1 – Como é que foi essa viagem, não?
R – Não. Não.
P/1 – E da sua chegada aqui em São Paulo, quais são as primeiras lembranças, assim, que você tem de São Paulo? Como é que era em relação a cidade que você morava, qual que foi a sua impressão?
R – Olha, de lá, eu não tenho impressão de nada, por quê? Eu sai pequena e lá era sitio, então eu até fui buscar no Google como que é a cidadezinha, para você ter uma noção de onde você veio, entendeu? Então eu não tenho comparação, como eu vim de lá pequena, aqui… sei lá, aqui pareci que todo mundo junto é uma coisa que vai crescer, é aquela história, há 45 nos atrás, o nome de São Paulo era uma… como é que se pode falar? Vamos falar assim, é uma cidade que você ganha dinheiro com facilidade, tem emprego. Então, o nome São Paulo, não vem a palavra na minha boca…
P/2 – Prosperidade?
R – É, porque uma vida melhor.
P/1 – Todo mundo junto…
R – Entendeu? Então, é isso.
P/1 – Quantos irmãos você tem?
R – Eram 15. Quinze irmãos. Mas já morreram, já. Morreu já uns três. Mais velho morreu.
P/1 – E eles vieram todos para São Paulo?
R – Vieram. Então, você vê como que é, se não fosse o meu irmão, que o meu pai estava aqui, safado! Desculpa, mas arrumou outra mulher, tem mais filho, você entendeu? E ele ficou com a família dele, nós, não. Quer dizer, a mamãe, ela teve que dar, eu não tive oportunidade de estudar, porque eu tinha que trabalhar para os outros. Então, foi complicado, sabe? A primeira pessoa que a minha mãe me pôs, a pessoa acordava com um balde de água na cara, porque a pessoa era ruim. Eu era pequena, pra mim poder acordar. É triste, sabe?
P/1 – Mas essa, Rosa, deixa eu só entender um pouco melhor. Vocês vieram para São Paulo, veio com todos os irmãos, seu pai já estava aqui, né?
R – Sim.
P/1 – Quando vocês chegaram aqui, vocês foram morar em Itaquera, você me disse, né?
R – Sim.
P/1 – E aí, como é que era essa casa em que vocês foram morar em Itaquera? Descreve um pouco pra gente a casa, o bairro na época.
R – Chama-se Vila Chuca. A casa é uma casa simples, com um monte de beliche, porque tinha um monte de irmãos. Mas em seguida, minha mãe me deu pra uma primeira pessoa, que não é essa que me criou agora. Uma primeira pessoa. Essa primeira pessoa foi onde eu passei a minha infanciazinha, entendeu? Até eu saber que não estava bem para mim, eu acordando com balde na cara e dormindo debaixo de uma escada, e eu não podia nada, não podia comer, não podia nada. Eu não podia, não tinha vida. E foi indo, foi indo, foi indo… olha, antes disso, eu tenho uma prima que trabalhava na cidade e ela me levava… um fim de semana, ela me levou pra cidade e eu saía com a filha da patroa dela para andar na cidade, nos prédios. Era moleca mesmo, chamava o elevador, subia, descia, sabe? E foi assim que eu conheci a dona Odila. Só que eu tinha que voltar, como a minha prima trabalhava na patroa, eu tinha que voltar, porque não morava lá, minha prima que trabalhava, entendeu? Eu ia só um fim de semana para ficar um pouquinho com a filha, que a filha dela gostava de mim, pra gente brincar, pra bagunçar. Mas eu tinha que voltar pra casa e voltar pra casa da mulher. Dai, foi indo, foi indo, eu descobri que ali não estava bom pra mim, eu não podia nada. Eu queria estudar, eu não estudava, entendeu? Aí, eu fugi de lá. Foi tão engraçado, meu Deus! Eu fugi de lá, levantei cedo, abri a porta, a janela dava para rua, abri a porta, fechei. Abri a janela, joguei a chave e fechei. Peguei uma sacolinha… oh meu Deus do céu! Peguei o ônibus, pedi para o motorista me deixar no Parque Dom Pedro, que depois, o meu pai pagava pro homem, sei lá, não pagou nada. Aí, eu fui a pé do Parque Dom Pedro a Rua General Osorio, 97. Aí subi pra encontrar essa dona Odila que foi essa mulher que eu gostei na época dela, sabe, que ela me chamava de menina: “Essa menina branca”. Daí, todo mundo acordou, foi uma alegria. Foi que a minha vida foi melhorando, né? Eu fui para a escola, estudava no Prudente de Moraes, aí foi melhorando. Aí lá, eu encontrei o meu marido.
P/1 – Essa primeira moca que você falou que a sua mãe… foi a primeira pessoa com quem você morou…
R – Foi, foi a minha mãe que me arrumou essa mulher.
P/1 – Isso. Quem que era essa pessoa?
R – A minha mãe conhecia, porque o marido dela era advogado. A minha mãe era faxineira do DEIC e conhecia esse advogado, mas não achava que a mulher era ruim. Os filhos dela me beliscavam e era tudo pequeno “Se você me beliscar, eu te belisco”, de tanto beliscão que eu levava. Daí, eu comecei, ele me apertava, eu apertava ela e assim foi. Daí, eu fui embora.
P/1 – E você trabalhava na casa dela?
R – Trabalhava, fazia tudo. Eu não saía. Ela não deixava nem eu ir ver a minha mãe. Eu ficava lá, escrava mesmo. Peguei uma sinusite. Mas aí, a minha outra, essa segunda que foi eu que arrumei ela, né?
P/1 – Odila, né, você falou.
R – Dona Odila.
P/1 – E a dona Odila, ela era patroa da sua prima? Não entendi. Como é que você conheceu a dona Odila?
R – Vamos lá. Quando eu morava na casa dessa mulher, na primeira mulher que a minha mãe me arrumou, a dona Odila foi eu que achei ela, né? Eu ia fim de semana, um fim de semana eu ia para a cidade com a minha prima. Daí a gente ficava brincando nos prédios. E nesse prédio, tinha a dona Odila que era a zeladora do prédio. Dai ela: “Essa menina branca, o que está fazendo aqui?” “Viemos passear”. Daí só que a dona Odila ficou lá e a minha prima, porque era o serviço dela. Era outro prédio, vamos explicar assim, a minha prima trabalhava na mesma rua, só que em prédios diferentes. A dona Odila era zeladora de outro prédio, que nós que fomos bagunçar lá no elevador, subir e descer, porque era novidade pra gente, entendeu? Daí, eu voltei para a casa da mulher. E lá, cada vez, foi piorando mais, apanhando. Eu não ganhava nada, não ganhava nada. Nem dinheiro, nada! Nem roupa, nada! Ela fazia lá umas coisas pra mim, era complicadinho.
P/1 – Quantos anos você tinha, Rosa, quando você fugiu da casa dessa primeira moça?
R – Eu acho que eu tinha de 11 pra 12 anos, que eu fui para dona Odila.
P/1 – E aí, como é que foi quando você chegou na dona Odila? Conta pra gente assim, como é que… você chegou lá e fez o quê?
R – Eu cheguei lá e disse: “Esse é o prédio”, peguei o elevador, fui até o último… porque como é zeladora, tem que subir uma escadinha, chegando lá, eu toquei, pensei: “Meu Deus do céu, espero que essa mulher esteja ainda aqui”, porque até aí eu não sabia. Eu fui, a única casa que eu tinha que voltar pra casa da dona Odila, porque a minha mãe não ia voltar, porque eu nem sabia onde era. Aí quando eu cheguei lá, que eu toquei a campainha, daí a minha tia abriu: “A menina branca está aqui”, todo mundo acordou, foi uma alegria, as minhas primas acordaram, aí todo mundo quis me ver. Aí a minha tia teve que me pegar, ir no DEIC para fazer o meu RG porque eu não tinha documento e depois, me pegou pra ir lá na minha mãe pra falar que estava comigo, entendeu, que eu tinha fugido e tinha ido pra casa dela.
P/1 – Quando você chegou na casa dela, você falou o que pra ela, quando ela abriu a porta?
R – “Eu fugi da casa da mulher que me batia”, eles ficaram comigo até eu casar, que o meu tio me levou para o altar.
P/1 – E quando ela foi… a dona Odila foi conversar com a sua mãe, você foi junto, como é que foi essa conversa?
R – Então, ela foi lá falar: “A sua filha saiu da casa da mulher que a senhora arrumou e fugiu de lá e está na minha casa. você quer ficar com a sua mãe, Rosa?”, eu falei: “Eu não quero, não”, que lá eu não queria. Queria ficar lá, mesmo, com a dona Odila, entendeu?
P/1 – E você falou que depois disso, você começou a estudar, né? Queria saber assim, você começou a frequentar a escola, você tinha quantos anos, Rosa?
R – Dezoito… 17 pra 18 anos.
P/1 – Então foi bem mais pra frente? Até os 17, 18 anos, você nunca tinha estudado?
R – Não. Tinha. Tinha estudado, sim, tinha feito o primário, que é a primeira, segunda, terceira e a quarta. Agora não é mais assim, né?
P/1 – E você fez o primário com que idade e onde você estava? Você já estava com a dona Odila?
R – Estava com a dona Odila, estava com ela. Tudo no Prudente de Moraes.
P/1 – Ah, no Prudente de Moraes, você tinha até citado, né?
R – É.
P/1 – Quais que são as primeiras lembranças que você tem da escola?
R – Então, só uma foto que eu tenho com a minha professora. Ela gostava muito… nisso tudo, poucas… eu tenho facilidade de fazer amizade, acho que é porque eu falo, eu explico e tudo mais. E as professoras da escola, que antigamente, era só uma professora que dava aula. Ela tinha muito xodó comigo, então eu tenho foto com ela, entendeu? Por isso que eu lembro, porque eu tenho a foto dela e tenho também, o papel do certificado do Prudente de Moraes.
P/1 – Qual que era o nome dessa professora? Você lembra o nome dela, não?
R – Não lembro.
P/1 – E por que você gostava dela?
R – Não sei. Por ela estar comigo na foto, eu acho, né? É só eu e ela e eu estou com um buquê de flores, eu não sei se entregava para ela, não sei. Entendeu? Essas coisas não vêm, apagou.
P/1 – E Rosa, você morando com a dona Odila, enquanto você estudava ou depois que você parou de estudar, você trabalhava? Por que você parou de estudar? Você sabe?
R – Porque eu tinha que trabalhar na casa da mulher… eu nem sei o nome dela, que eu morava. Eu tinha que trabalhar e ela me passava assim, olha, são coisas agressivas que ficaram: “Mulher não tem que estudar. Tem que aprender a lavar, passar e cozinhar”, entendeu? Então tem coisas que ficou, tem coisas que não ficou, foi embora, apagou. Mas também pra quê, né? Eu só quero lembrar mesmo de coisas boas e pra mim, todo dia é uma luta. Pra mim, todo dia eu aprendo, pra mim, todo dia eu dou graças a Deus de estar viva e estar na luta e lutando por dias melhores, sabe? Porque é muito importante.
P/1 – E na dona Odila, você também trabalhava, enquanto você vivia com a dona Odila?
R – Na dona Odila era diferente, ela comprava tudo o que eu queria, porque eu tinha muita vontade de tomar Nescau (risos), aí ela comprava pra mim o Nescau, não podia. Acabava o leite, eu falava: “Tia, eu não vou comer porque…”, até a minha prima colocou no Face eu falando essas coisas, né, “…porque não tem”, sabe coisinha de criança que é mimada por ela, né? Ela era uma mãezona!
P/1 – E você trabalhava Rosa, enquanto você vivia lá, como é que era?
R – Então, eu ajudava a minha tia a lavar uma louca, arrumar a casa, que eu sempre… como eu fui criada, eu fui criada e quando eu era pequena, eu fui criada a limpar muito bem a casa, porque a mulher, como é que eu posso dizer? Ela me intimava, eu tinha que fazer, entendeu? Então, eu tinha que fazer, porque eu tinha que fazer. Comida, arrumar a casa, e depois o almoço, lavar a louca, tirar a mesa, tudo bonitinho. Então, tinha essas coisas, porque é uma obrigação, se você não fizesse, você apanhava, entende? Então, você tinha que fazer.
P/1 – E durante a sua infância assim, em algum momento sobrava algum tempo para brincar?
R – Não, imagina! Eu não tinha isso não. A minha vida foi melhorar depois que eu fui para dona Odila, foi que daí eu fui para escola, eu tinha carinho, eu não apanhava, então a vida melhorou, né? A tendência foi melhorando. Mas porque eu me arrisquei, também, eu poderia estar na rua, eu poderia! Foi um risco, eu me arrisquei muito. E graças a Deus que a dona Odila estava ainda morando lá. Se ela não tivesse, eu não sei o que seria de mim. Não sei.
P/1 – Você falou que quando você chegou na dona Odila, as pessoas que você chama de primas, né, eram filhas dela?
R – É, são as filhas dela. Todo mundo acordou, era cedo. Porque eu não tinha noção de horas, quando eu peguei aquele ônibus pra ir pra casa dela. E no parque Dom Pedro, eu fui a pé, olha como eu andei, eu soube ir, hein! Misericórdia! Sai do parque Dom Pedro e fui até a Rua General… 97, eu não esqueço!
P/1 – E Rosa, você disse que a sua vida melhorou bastante, quando você foi para dona Odila…
R – Sim.
P/1 – Queria saber assim, quando você mudou para casa dela, como é que era o seu cotidiano, assim, você falou que você estudou, mas você parou de estudar cedo, né?
R – É. Aí, eu voltei, eu fui estudar no Prudente de Moraes. Primeiro, eu tinha que buscar o papel da quarta série para poder voltar a estudar.
P/1 – E aí, você voltou?
R – Eu voltei a estudar no Prudente. Aí, eu estudei, passei, daí eu casei. Aí, eu fiquei grávida.
P/1 – Então, me conta…
R – Porque no mesmo prédio, esse meu marido, ele estudava na mesma escola que eu, ele falava: “Essa menina é metida” (risos) “Olha a menina metida”, eu falei: “Nossa, mora no meu prédio”, daí, aprontei também, aí fiquei grávida, aí já fui morar… desci do décimo primeiro, já fui para o segundo andar, para o apartamento. Nos casamos, a minha tia teve que mudar de lá do prédio, daí ela foi pra zona leste. Eu continuei lá, depois que a minha filha nasceu, ela teve um problema de coração, aí eu parei, nessa época daí, eu parei de estudar, porque eu estava grávida e tudo, parei, tive a minha filha, teve problema de coração, aí começou a correria em hospital. Eu ficava mais no hospital do que em casa, porque ela faz cirurgia de coração, o pediatra dela pediu pra eu me mudar pro Horto. Daí, nós mudamos lá para Santa Inês, próximo ao Horto, né?
P/1 – Por que ele pediu para fazer essa mudança?
R – Porque morava no centro, a poluição. Pra ela, tinha que ir para o ar puro. Então, nós mudamos pra lá.
P/1 – Rosa, seu marido foi seu primeiro namorado? É isso?
R – Não, eu tive namoradinho, só que eu era muito chatinha, eu não namorava qualquer um. Sempre escolhia, não é chatinha, não escolhia qualquer um, entendeu?
P/1 – E que idade você tinha quando você conheceu o seu marido?
R – Dezoito, 19… com 21, eu tive a minha filha. Mais que isso, eu acho que eu tinha 20 anos, com 21 eu tive, logo em seguida.
P/1 – E como é que foi…
R – Eu namorei pouco. Era muito presa. Eu vim namorar depois que eu vim para a dona Odila. Antes, não podia, não, eu não podia sair, né? Tinha que ser com a mulher do lado e os filhos.
P/1 – Como que é o nome do seu marido?
R – Pedro.
P/1 – E como é que foi quando você descobriu que estava grávida, Rosa, como é que você descobriu e como é que você se sentiu? Como é que foi essa noticia?
R – Ah, foi uma coisa, porque tinha que falar com a minha tia, primeiro, eu falei com a minha tia, porque daí, a minha tia e o meu tio desceram para falar com o Pedro. Pra ele ver que eu estava grávida e ver que atitude que ele ia tomar. Então o meu tio se pôs no lugar do meu pai porque eu considerava eles como os meus pais, entendeu? Aí, conversou com ele. Daí, eu mudei pra baixo, sai de cima e fui pro segundo andar.
P/1 – Ele morava com os pais dele?
R – Não, não. Ele é da Bahia e morava com uns amigos, dividia o aluguel e estudava no Prudente, também.
P/1 – Qual que é o nome do seu tio? E com que eles trabalhavam? Ela era zeladora e ele trabalhava com quê?
R – O meu tio era motorista dos Russos, os Russos, ele era motorista dos Russos. Agora, não é mais. Agora já é aposentado.
P/1 – Como que é o nome dele?
R – José Paulo.
P/1 – Motorista dos Russos?
R – Russo, russo mesmo, os russo que vinha para o Brasil. Ele trabalhava para os russos. Eles têm um lugar que… daqui mesmo que eles moram, eu não me ligava nisso, sabe? Como é que se fala? Não me preocupava com esse tipo de coisa. Eu só sei que o meu tio era motorista dos russos.
P/1 – E nessa fase toda, Rosa, você não trabalhava fora de casa, trabalhava só dentro de casa, ajudando?
R – Isso, só ajudando a minha tia. Mas eu ia pra escola. Ela me deixava muito à vontade, passeava, as minhas primas me levavam já para o shopping, entendeu? Shopping Ibirapuera, ia com a minha prima.
P/1 – O que você fazia de passeio nessa época, além do shopping? Quais eram os passeios?
R – Eu ia para igreja (risos), uma igreja que tinha ali na Praça Princesa Isabel, eu ia, não saía também muito, eu saía só para essas coisas mesmo, estudava. Ah, uma coisa interessante, eu ia para o SESC da Doutor Vila Nova, eu ia. Eu nadava, do SESC, eu ia direto para a escola, mas era uma vida de rainha, viu? Era muito bom.
P/1 – E quando você mudou pra casa do seu marido, do Pedro, como é que foi, Rosa, essa mudança pra você?
R – Aí, muda completamente, né? A fase de você sair de moleca pra ser mãe, ser dona de casa, com marido e ainda, uns agregados junto, né? Foi difícil! Tudo é difícil, ou você casa bonitinho, ou se tem isso, você tem que resolver, saber resolver e foi resolvido. Os meninos foram embora, que era complicado um apartamento, um quarto era meu, a sala, aí tinha uma cama que dormia os amigos dele, entendeu? Então, era complicadinho nesse sentido, né? Mas tinha o meu quarto. O banheiro, o ruim é você, quando mora assim, tira a sua privacidade, você tem que levar penhoar para o banheiro, para poder sair…
P/1 – Vocês chegaram a ter alguma cerimônia, assim, de casamento?
R – Tive!
P/1 – E como é que foi?
R – Primeiro vai para a igreja, porque eu casei na Igreja Católica, né? Primeiro, as comadres lá que fazem as rezas viram tudo com o padre, o padre já morreu. Viram tudo com ele: “Ela precisa casar, bonitinha”, aí foi vestido para ser… vê vestido, vê isso, vê aquilo. Primeiro, nós casamos no civil, no cartório de Santana, depois casamos na igreja. Mas o meu tio me levou pro altar.
P/1 – E como é que foi o dia do seu casamento? Como é que você se sentiu? Conta um pouco pra gente.
R – Me senti bem, porque o meu marido pagou maquiador pra me maquiar, foi muito bom, foi gostoso. É divertido, dá um friozinho, né, na barriga, né? A minha filha entrou como dama de honra, a primeira que eu tive, entrou com o filho de uma das madrinhas, né? Entrou, com a minha aliança, ela entrou. Foi muito bom.
P/1 – Com que idade ela tava, sua filha?
R – Sete anos. Depois de sete anos, eu casei.
P/1 – Então, conta um pouco como é que foi o seu parto, como que foi o nascimento da sua filha, como é que foi o parto?
R – Então, o nascimento da minha filha, como eu morava na cidade, ela nasceu na Maternidade São Paulo. Eu sofri um pouco por ser, não sei se faz parte, eu sei que eu sofri muito, perde muito sangue, eu sofri muito da noite pro dia e fiquei a noite sofrendo e dor, e dor e dor. Quando ela nasceu, viram que tinha alguma coisa errada por causa de uma baba que ela punha pela boca. Aí, foi indo, foi indo, daí viu que ela tinha um pequeno sopro e tinha que operar, ficava lá no Dante Pazzanese, eu ficava lá com ela direto, porque toda cirurgia, você tem que fazer um preparo, né? E ela tinha que se preparar, porque era muito magrinha, sabe? Mas aí, operou, graças a Deus, o pediatra dela que… olha, está vendo? Ele é de Pernambuco, hein! Esse médico, ele passeava com ela na mão, assim, ele falava: “Meu feijãozinho” (risos) doutor Evaldo. Aí operou, tudo bem, a manutenção de você ir para o médico, porque depois da cirurgia, você tem que ir no médico pra saber como é que está, pra te acompanhar, né? E foi até aos 15 anos, ele deu… como é que fala? Deu…
P/1 – Alta?
R – Deu alta médica pra ela, né? Agora, está tudo bem. Ela casou também, já tem um filho, né, diferente.
P/1 – Como é que é o nome dela?
R – Alessandra, a minha mais velha. Que eu tenho duas.
P/1 – E você se lembra, assim, qual que foi a sensação de pegar a Alessandra nos braços a primeira vez? A primeira vez que você viu ela, assim?
R – A sensação… eu vou ser sincera, eu não me lembro. Não adianta falar, não adianta querer inventar uma história, né? Eu não me lembro. Isso tudo é porque tudo está gravado, tudo foi falado, porque as coisas que eu não me lembro, eu ficava perguntando pras minhas filhas como foi e como não foi pra eu poder ter vida, saber de mim o que foi apagado, entendeu? Porque se não, você fica sem… só mais um, você não tem vida.
P/1 – Qual que é o nome da sua segunda filha e quanto tempo depois, ela nasceu?
R – Depois de sete anos, nasceu a Carolina, danadinha! Ela é bem esperta essa minha filha. E já tem dois filhos, é a caçula e tem dois filhos. Então, eu tenho três netos, lindos, maravilhosos. Xodó da vovó (risos), agarra no pescoço, oh, meu Deus! Aí liga e fala: “Vó, eu te amo” (risos).
P/1 – Como é que foi ser mãe, Rosa?
R – Foi tudo surpresa para mim, tudo uma surpresa. Mãe, mãe. Eu fui mãe, mãe, mãe de cuidar, mãe de levar, mãe de tudo. Eu deixei a minha vida para cuidar das minhas filhas. Eu sinto muitas saudades das minhas filhas (choro), porque eu penso assim, nós crescemos, deixa pai e mãe, a única coisa foi por causa da minha cirurgia, porque apagou a minha vida delas, entendeu? Eu falo assim, quando eu voltei que tem ainda mais coisa, eu voltei da minha cirurgia, depois de um mês no hospital, e depois de anos doente, depois, eu tive que voltar para o hospital, porque deu goteira no nariz, então, eu fiquei 16 dias porque eu poderia abrir a cabeça novamente. E voltando as minhas filhas, eu penso assim, se eu não tivesse apagado, eu ia saber o rumo que elas deram, dos maridos, o meu primeiro neto teve e eu não lembro como é que foi. A minha filha fala: “Mãe, mas mãe, foi comigo, mãe falou com o médico”, eu fui, mas eu não me lembro disso, entendeu? E a minha outra filha, a mais velha que saiu de casa e o que ficou guardado comigo foi assim: “Quando mãe voltar pra casa, eu volto pra casa”, só isso, mas até aí, eu não sabia onde que ela estava, o que a minha filha me falou e o meu marido foi que ela arrumou um homem e foi morar já na casa dele, né? Mas eu só peço pra Deus, pra todos serem felizes com a vida que escolheram.
P/1 – E qual que é o nome dos seus netos?
R – O primeiro é o Renato (risos), o segundo é o Lazaro e por último, é a Camille Vitória.
P/1 – E como é que é ser avó, Rosa, é diferente de ser mãe? Como é que é ser avó?
R – A preocupação é igual, ou um pouquinho maior, porque você é mãe, você está ali assumindo, você está junto ali, assumindo, indo à luta e resolvendo as suas coisas. Ser avó, o ruim é que moram longe e liga e eu tenho vontade de pegar o carro e ir pra Itaquaquecetuba, pegar todos e… sabe? Mas eu faço assim o que eu posso, eu faço. Mas é gostoso. Faço o que eu puder fazer, eu faço mesmo, eu falo assim: “Se morasse aqui perto, eu ia colocar eles, os meus três netinhos no Externato do Horto”, porque a diretora ia fazer um preço bom pra mim, e é a escola que as minhas filhas estudaram, né? Mas moram longe e não dá. Então, eu falo pra minha filha que precisa ter uma base, creche, onde mora também, você tem que ver, porque o bairro é fogo! Ai! Não tem nada a ver o assunto. O assunto vai puxando o outro, né?
P/1 – Mas pode falar, tranquilo. Eu queria falar um pouquinho agora contigo, você já comentou dessa questão de saúde, já contou uma série de coisas pra gente, mas queria saber assim, quando que isso apareceu, quando é que você começou a sentir que tinha alguma coisa errada, como é que você descobriu o tumor e como é que foi isso pra você?
R – É assim, descobrir, não descobri, primeiro, sofri! O médico falava que era enxaqueca, eu ia de cadeira de rodas. Olha, quando eu voltei que me falaram tudo isso, teve hospital que eu tive vontade de explodir pelos médicos. O que eu sentia era muita dor, era muita dor. Dor, dor, só dor. Dor na cabeça, dor na cabeça, só isso. E a dor foi me matando aos poucos. Em relatório médico, o médico fala assim: “Se tivesse descoberto cedo, ela não ia ter um monte de sequelas”, porque eu estou aqui falando e tudo, mas eu tenho um monte de sequelas e ainda faço tratamento no hospital. Eu ainda não fui liberada pelo neuros do Hospital do Mandaqui. Então, pra mim foi… o que pesou mesmo foi o tumor, de descobrir… dos médicos… agora você veja, médicos particulares não descobriram e o público descobriu e foi no público onde eu operei. Então…
P/1 – E como foi Rosa, quando você recebeu a notícia? Quando vocês descobriram que era…
R – A família abalou muito, eu não, porque eu estava com dor e eu tenho impressão que sempre sedada, porque pra mim, tanto faz, eu estava caída, entendeu? Só com os acessos, que ainda tenho marca e sempre na cadeira, quieta, não falava muito, você entendeu? Por causa da dor. Muito quieta, não. Nada, não falava nada. Então, o abalamento foi com a família de não saber que todos esses anos com dor, ia para médico, e os médicos particulares não descobriram, entendeu? E o público descobre, tem um tumor, e aí? A família… não adianta chorar, bom, quem quer chorar, chora, né? Mas a pior parte ficou pra mim, entendeu? Quando eu voltei, tudo foi muito difícil, pra mim resolver tudo, pra mim saber o que eu não sabia, tudo mudado, tudo diferente, tudo, mudou tudo! Uma das minhas sequelas, o meu olfato foi embora, né? Então, no começo, eu falava para o médico assim: “Doutor, eu não estou sentindo o meu paladar”, foi quando começou: “Mas vai voltar” “Mas doutor, não voltou. Doutor, não estou sentindo nenhum cheiro, não estou sentindo, não estou sentido”, bom resultado, ele chegou pra mim e falou assim: “Não vai voltar mais não. Vamos explicar o porquê. A sua cirurgia demorou 12 horas, a cabecinha aberta, as veinhas frontal todas arrebentaram”, eu falei: “É doutor? Mas não dá para emendar?” “Não dá não”, então assim, foi difícil para mim, porque comida na minha casa, eu faço fresquinha ou se eu fico em dúvida, meu marido tem que cheirar, entendeu? Para eu não comer comida azeda, porque pode acontecer isso, eu não cheiro. Eu fico em dúvida, daí eu não como, daí eu faço outra coisa pra eu comer. Agora, é mais difícil quando você tem uma coisa e é tirado de você, entendeu? Aí, eu falo: “Aí, meu cheirinho”, não tem mais. É complicado, é doído mesmo, mas o doído é em mim.
P/1 – E essa questão da memória, Rosa, quando é que você percebeu que tinha afetado, como é que foi esse processo?
R – Porque quando eu saí do hospital, pra começar, eu nem sabia que eu ia operar, pra você ter uma ideia, você está no hospital que… sabe uma pessoa quando toma um remédio que fica… sabe uma pessoa que tomou uma injeção, que está dormindo, sabe tipo assim? Tanto faz. Tanto faz estar ligado como estar apagado, tanto faz. Tanto faz para você. Fiquei no hospital, são lances que vêm em mim. A equipe entrou e eu falei assim: “E eu, quando é que eu vou operar?”, de tanto ouvir as pessoas falar, as colegas falar. Quando o doutor chegou e gritou. Eu falei assim: ‘Quando que eu vou operar?”, que eu falava… não era tumor que eu falava, coagulo. Ele gritou e falou assim: “Você não tem coágulo, você tem um tumor”, nossa, mas aquilo me abalou. Aí, o doutor que tem um carinho assim por mim, ele veio e falou: “Calma, você vai operar”, eu fiquei assim meio tonta e em seguida, eu operei. Aí, me avisa assim, aí chega a mulher com a maca, primeiro não é assim, primeiro ela chega e fala assim: “Tira isso, tira aquilo”, tudo… primeiro ela chega e fala assim: “Olha, tire calcinha, tire sutiã, se tiver dentadura, tire dentadura, tire tudo, você vai subir para cirurgia”, é assim mesmo que fala. Aí eu subi, o que eu me lembro da cirurgia, que eu entrei assim e vi só uns negócios assim, redondo, só, não vi mais nada. Não vi mais nada. Quando eu acordei, eu acordei na UTI, mas acordei gritando de dor, que tinham me machucado a minha cabeça. Quando a mulher foi me enfaixar, porque meu cabelo é raspado, é tudo, né? O doutor Dener chegou, que é o meu doutor, sabe, doutor Dener chegou, aí já coloca tudo, quando eu tive alta, eu desci, meia-noite e meia eu desci, aí já tinha operado. Aí eu desci meia-noite e meia pra cama, no dia seguinte, o doutor veio, nesse meio tempo, estavam acontecendo coisas piores com a minha família, com uma das minhas irmãs, eu percebi que não vinha mais ninguém me ver, falei: “Nossa, não vem mais ninguém me ver, o que está acontecendo, hein?”, Ai a minha filha chegou, a mais velha, a Alessandra: “Mãe, está com alta”, eu falei: “Estou nada, menina, não estou não” “Mãe, está com alta”, aí veio a outra minha colega que é a enfermeira: “Está com alta, meu amor”, e eu: “Ah, tá”. Voltei, mas eu não sabia nem onde eu morava, pra você ter ideia, porque o meu marido tinha que vir para poder assinar a papelada e eu de cadeira de rodas. Quando você opera, você não sente nada, é complicado isso, só quem passa é que sabe como é que é, sabe? Eu até tentei ir no banheiro, eu quase que eu caía, isso ficou gravado, falei: “Meu Deus do céu, já pensou se eu bato a minha cabeça?”, daí fui pra casa, “Vamos ver para onde eles vão me levar” porque eu não sabia, eu não sabia onde eu morava, eu não sabia nada, meu Deus do céu! Eu falei: “Nossa, aqui é a minha casa”, agora eu dou risada, sabe? Eu falei: “Gente, onde que eles vão me levar? Não sei onde eu moro, não”, essa casa… Aí eu falei: “Minha filha, essa casa aqui, quem foi que achou?”, porque nós temos uma casa, só que eu vim pra… eu moro na serra, na serra, o acesso é ruim, eu estava cansada de subir e descer serra. Meu marido já estava ficando doente já, meu marido alugou uma casa próximo de tudo, sabe? E ai, eu falei: “Carolina, e essa casa aqui?” “Foi mãe que achou”, eu falei: “Foi eu que achei, foi? Minha filha, não lembro, não”, ela: “Foi mãe, foi mãe que achou e alugamos”, eu falei: “Então tá”. Ai ficamos, mas agora não, agora já mudamos. Aí, a minha filha, essa caçula, a minha mais velha já não voltou, já não estava mais em casa, eu fiquei quieta, vai voltar? Eu não sei o que tá acontecendo. Ela tinha arrumado um homem. A minha filha solteira, que tinha tido um menino, que disse que eu tinha participado e falado com o doutor e tudo, eu não me lembrava, eu não sabia que eu tinha um neto. Aí, quando eu cheguei que eu vi o menino, aí o marido da minha filha caçula, Carolina, marido dela estava na minha casa. Aí foi indo, foi indo. Depois, eles tiveram a casa deles. Aí eu fiquei só, eu e Deus, eu falo. E continua, né?
P/1 – Os médicos te avisaram da perda de memória? Alguém conversou com você?
R – Em cada consulta minha, eu faço um relatório de tudo, porque esse tumor é só convulsão. Então, tinha muita convulsão, muita, muita! Mesmo na escola, ela pegando na minha mão, descendo comigo, vai direto pro hospital, porque já vai começar a convulsão, entendeu? Ele falou assim, que os guardados – eles falam bem assim – foram embora. Então, pra eu começar tudo de novo e a família vai contando o que aconteceu e assim vai, entendeu? Os guardados foram embora. Então, eu tenho que reaver todos. Mas eu queria que voltasse outras coisas em mim, eu queria, mas não volta não. Mas deixa, fazer o quê? Entendeu? Fiz uma cirurgia também de isso aqui, bateram no meu carro parado na escola, eu fui de ambulância pro hospital, a turma é fogo. Vamos lá!
P/1 – Rosa, deixa eu só perguntar uma coisa, você perdeu uma parte da memória, mas não foi tudo, foram algumas coisas, é isso?
R – Olha, de 100%, o que eu me lembro, eu não me lembro de nada, pra mim apagou foi tudo, pra mim foi embora foi tudo, que é isso o que eu acho, eu não sei, eu tenho que perguntar, eu tenho que eu ir buscar. Mas eu dou graças a Deus de eu querer saber e buscar, pesquisar, entendeu? Eu mesma voltei para a escola. Como é que é você não saber, você precisa, pelo menos, ter o básico, ter o básico para você poder viver. Como é que você não vai ler, meu Pai do céu? É complicado, mas não tinha. Eu comecei a pesquisar escola, escola, escola, fui pra uma, não deu certo porque era noite, eu morava na serra. Aí, eu saí, fiquei uns anos… voltei à luta, fui ver outra, era lá no Belém, mas não deu certo. Aí eu achei o CIEJA, que é bem mais perto e onde eu já conheço tudo, né? E lá quero continuar a estudar, se Deus quiser. Por isso eu tenho essa forca de vontade, de aprender. Pelo o que eu passei, estou sendo sincera, depois você corta, lógico, alguma coisa. Pelo o que eu passei, era pra eu ficar em casa num sofá e não sair. Pelo o que eu passei, entendeu? Não tinha vida, mas não, não tenho algumas coisas, é muito engraçado, no começo, eu chorava muito porque não tenho cheiro, aí você quer ver, você vai em qualquer lugar que for pra vender cremes, perfumes, eu já vou com o nome já: “Não, meu bem é esse aqui”, porque ela fica com o negócio no meu nariz, entende? É complicado eu ficar falando também: “Não tenho olfato, não tenho olfato”, que chega uma hora que não vamos ficar falando muito, sabe? Então, eu já vou com o nominho: “Não, é esse aqui, meu bem, muito obrigada”. Teve uma que eu fui falar, a menina chorou junto, quer dizer assim, chora uma de um lado, outra do outro… não dá certo. Então, é assim, eu tenho que aprender, eu tenho que saber dos meus limites que o meu médico fala isso muito bem comigo: “Você pode fazer tudo, dentro do seu limite”, então eu estou fazendo tudo dentro do meu limite, entendeu? E sou assim, sou uma pessoa que adora… e assim, eu coloquei pra mim, pra minha vida: ser feliz, dar muita risada, ter pessoas maravilhosas do seu lado, entendeu? Tudo passa e viver bem, comer o que você quer agora, fazer o agora, não amanhã, depois, não quero não, é assim, vamos ser feliz, sabe?
P/1 – E como é que tá sendo o CIEJA, Rosa? Como é que tá sendo…
R – Pra mim está sendo ótimo, maravilhoso, né? Tudo novo, os professores são um espetáculo, nossa! Eu fico assim, babando por eles. Nossa, são professores formados, professor que sabe passar bem a matéria, ensinam muito bem, sabe? É uma pena que nós estamos indo embora, não tem Ensino Médio no CIEJA, tem só o Fundamental. Quem sabe aí, não vou estudar, fazer uma faculdade. Eu tenho muitos amigos de faculdade, doutores porque eu faço amizade, porque eu converso. Elas falam pra mim: “Rosa, você podia entrar aqui, você podia fazer junto comigo”, eu falei: “Calma, minha filha, eu preciso chegar lá ainda, tenha calma”, se Deus permitir e o meu esforço porque não adianta nada você ficar sentada esperando, né? Você tem que ir a luta, você tem que acordar cedo, trabalhar que faz bem, né? Eu não trabalho, eu dependo do marido.
P/1 – Você está terminando o Fundamental esse ano?
R – É. Nossa formatura é dia 17, mudou de 12 pra 17, aí os meninos já falaram assim: “Vai ser no carnaval”, e eu: “Aí, gente!”.
P/1 – E você tem alguma matéria preferida, Rosa?
R – Eu gosto de todas. Todas! Eu não separo matéria, vamos dizer assim, “Ah, eu não gosto de Ciências, mas eu gosto mais de Matemática”, eu não penso assim. Eu tenho que gostar de todas, porque todas eu tenho que aprender, entendeu? Então, todas eu gosto.
P/1 – E quando você pensa assim, na possibilidade de fazer alguma faculdade…
R – Me dá ânimo!
P/1 – E você pensa em alguma profissão especifica? Tem alguma vontade, assim?
R – Eu tenho. Mas é pra delegada. Mandar, ir para rua, mesmo! Mas não, não quero também, não. Não sei se é isso mesmo, entendeu? Porque agora, a gente tem que pensar sempre os prós e os contras, né? Eu tenho muito amigo também da polícia, esse negócio todo, então, não sei. Vamos ver. É tanta coisa que eu quero, mas eu acho que primeiro, deixa eu chegar lá. Eu ainda tenho três anos, né? Mas o importante é aquilo que eu falo, você ter força de vontade e ir à luta, se você não for à luta e não tiver força de vontade, você não aprende, não sai de casa. Eu no começo, eu estava pensando assim, já, de não fazer nada, só estudar só. Muita convulsão, muito ter que ir correndo para o hospital, entende? Direto, direto, de chegar e falar assim: “Minha linda, você não vai poder mais dirigir, você não vai mais poder fazer isso, aquilo outro” “Misericórdia, meu Deus do céu”, e eu estava ainda em trajeto da convulsão, porque começa a me dar umas coisas que eu já sei como é que é que começa. Essa daí me pegou, essa professora aqui é de Português, ela já para começar a sala, já abriu, tirou todas as cadeiras, deram espaço, ela me desceu, fazendo um carinho… eu fui de táxi pro São Camilo, que eu já sabia porque eu nem vou para o Mandaqui, porque no Mandaqui já demora e eu sozinha, eu tenho medo de me machucar, entendeu? Aí, eu já vou direto, mas chegando no São Camilo, a minha cadeira de rodas, já me leva já… que eles já sabem o acontecido, né?
P/1 – E Rosa, voltar a estudar mudou alguma coisa na sua vida?
R – Aprender é tudo, gente! Abre caminho, abre a sua mente, nossa! Eu graças a Deus, eu tenho, meu marido comprou pra mim um computador, então eu tive que aprender e eu tenho aula também no CIEJA de computação, né? Então, você abre, é um espetáculo! É muito bom você aprender, né? Aprender não ocupa espaço na sua mente, é muito bom, aprender dentro do seu limite, do meu. Cada um aprende do seu jeito, né, vocês devem ser todo mundo já formado, “facul”, oh, coisa boa, né?
P/1 – Rosa, eu vou encaminhar para as questões finais, vou primeiro perguntar se eles querem fazer alguma pergunta. Você quer fazer alguma pergunta?
P/3 – Eu queria saber se os médicos passaram alguma coisa assim: “Rosa, faz alguma coisa assim para melhorar a se lembrar”, um exercício?
R – Os médicos não falaram, eu que fui buscar com outros médicos particulares, eu mesmo fui buscar pra ver o que voltava, não. Não tem. Amenizar a dor, porque é muita dor que eu sinto. Acupuntura que é bom, então assim, eu faço porque o meu marido tem o convênio particular que me pôs, eu que busco tudo pra ver o que eu consigo de bom para mim, entende? Eu vou à luta nesse sentido, mas da equipe mesmo, do neuros que eu me trato, não. Eu mesmo que fui buscar. Eu achei, mas tem coisa que não tem como voltar, não tem como reconstruir, entendeu? Foi isso que o outro médico particular… além do que eu faço muito exame, eu sou muito investigada. Eu tenho qualquer coisa, é tomografia, ressonância, tudo o que você imagina, é muito tudo! Chegou uma hora que o médico falou pra mim: “Chega de tanto tirar sangue”, muito furada, chega uma hora que não dá mais, dói muito, o corpo, né? Mas eu fiz isso, viu, meu bem. Eu fiz. Porque tudo o que eu faço, essas coisas, é tudo para o meu bem estar, entendeu, pra dar uma luzinha para ver se tem alguma coisa, né, porque nós temos… ainda mais quem está com problema, ir à luta e perguntar e se informar, mas não tem jeito, não.
P/2 – Assim, quando você fala que você perdeu a memória, com certeza, perdeu mesmo, muita coisa você não lembra mesmo, mas eu acho que a essência da tua vida, que é a motivação que você falou de continuar, você não perdeu, suas filhas e seu marido, estão ali presentes te acompanhando na sua própria história. Mas acho que quando você fala assim, que dói, que dói, algumas memórias que você não tem, eu acho que é a memória assim, da felicidade de algumas coisas, da sensação do nascimento, né, sensação do nascimento do neto…
R – De cuidar, principalmente de cuidar.
P/2 – Momento do primeiro banho, acho que é a sensação. Claro que você fez parte, claro que você esteve ali, mas é tudo racionalmente falado, né, não ficou a emoção em você. A emoção da sua emoção. Sem saber que aquilo ali saiu de você e como você viveu aquele momento. Esse teu momento, mas você criou tantos momentos, você tem tantos momentos depois disso, você está sempre vivendo novos momentos, então é aprender a viver desses momentos também, né?
R – É isso mesmo. Eu queria relembrar, é aquilo que eu falei das meninas… como eu fui uma mãezona (choro) de cuidar disso tudo, eu queria ter lembrado delas, quando saíram, tá certo que depois, casou, tudo, mas eu queria ter acompanhado o sair, saiu! Mas é isso mesmo.
P/1 – Eu vou fazer pra você duas perguntas finais, Rosa, mas antes de fazer essas perguntas, queria saber se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado e que você gostaria de falar.
R – Resumindo, eu sou uma pessoa abençoada por Deus, tenho um marido maravilhoso, que tá do meu lado, que tudo assim, que eu peço, eu nem peço muito, porque senão é capaz que ele faça mesmo (risos), tenho as minhas duas filhas casadas, os meus netos, os meus três netos que eu adoro, minha paixão, né? E sou feliz. Eu acho que o acontecido, alguma coisa era para acontecer, aconteceu isso, eu não queria, sinceramente, não queria e repito, pode ser até egoísmo meu, mas eu não queria. Tudo bem que eu poderia até ter operado a cabeça e tudo, ter sofrido, porque foi um sofrimento mesmo, para todos, mas essas coisinhas, o meu olfato, porque se é dor, eu tomo remédio, mas é isso, é o olfato, esmo. A turma fala assim: “Rosa, mas aí você não vai sentir o fedor do Rio Tietê”, eu falo: “Ai, menina”, e é assim, é isso mesmo, mas eu tenho que… eu agora, choro menos e essa minha cirurgia também, como é cabeça, mexe muito, então se eu já era… foi o que os médicos me falaram: “Você já era manteiga, ficou derretida” (risos). Mas é isso. Os meus doutores assim, tem ciúmes comigo, não deixam qualquer um encostar em mim, sabe? Coisa de doutor, se apega à paciente, acho que é porque ele viu, como eu entrei e como eu sai, né? E assim, uma cirurgia muitos morreram, entendeu? Muitos… pouquíssimos ficaram vivos. Então, eu acho que também essa preocupação deles, né? De estar viva a paciente que entrou, eu acho que é por aí, porque muitos morreram, nossa, meu Deus!
P/1 – Vou te fazer a ultima pergunta, então, quais são os seus sonhos, Rosa?
R – Meus sonhos? Eu quero estudar em primeiro lugar… feliz eu já sou, mas… olha, os meus sonhos, estudar dentro do meu limite, dar muita risada, ter pessoas boas perto de mim, tudo passa e vamos ser feliz, né? Quero estudar, porque estudando, eu quero ver se eu faço alguma coisa para o futuro e eu quero, não importa. Vamos estudar, vamos esperar o passar o tempo, dos meses, dos dias, dos anos, você vai ver como é que você vai estar para enfrentar o ano que começa, né? O que você escolher pra fazer, né? Mas eu quero continuar a estudar. Ser feliz. Bastante saúde para todos nós.
P/1 – E como é que foi contar a sua história?
R – Foi bom, porque pelo menos é um desabafo também, né? Porque não é todo mundo que entende. As pessoas estão muito bisca, elas só olham pra si, e daí que você operou a cabeça? E daí que você tem sequelas? Problema seu. Entendeu? Então assim, também a minha vista, que nem eu falei pra você, eu não trouxe os óculos, foi tudo muito corrido, eu não fico sem os óculos, eu não consigo, afeta também a vista, afetou a minha vista, entendeu? Então, são todas sequelas do tumor, né? Não é da cirurgia, a cirurgia é feita por causa do tumor, né? Mas tudo faz parte, agora eu tenho que saber lidar com tudo isso, porque eu sei que não vai… a pergunta dele, que ele falou, fiz isso tanto, fui no médico, ele pediu uma ressonância também, nova pra ver “Doutor, o cheiro? Tem algum tratamento para identificar o cheiro também?” ‘Não tem”, já fiz tudo isso já, porque é pro meu benefício, né, a preocupação era comer comida podre, comida azeda, mas aí, cheira, faço tudo… e o meu marido, agora, tudo de pouquinho e tudo naquela observação, né? Entendeu? Mas eu fiz tudo isso, porque é ótimo você sentir o cheiro (risos).
P/1 – Tá bom, Rosa, muito obrigada, viu? A gente encerra aqui.
R – Ok.
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